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Artigos

Monstruosidades Imensas

Um breve levantamento das fitas de monstro



King Kong (King Kong, 1933).  Fonte: Wallpaper Abyss, 2013

Desde os primórdios do cinema vemos o crescimento de distintas tecnologias a nos permitirem a delícia da manipulação de imagens e sentidos para ideias cada vez mais absurdas. Nesta seara entra a mitologia monstro, que é o nosso tesão cultural e explicar o inexplicável através de mitos, lendas e bestas. Algo discutido brevemente por mim num artigo sobre a saga alien: Trilogia Alien, A Necessidade de Monstros. Mas agora o foco é na feitura dos filmes destas criaturas diante da complexidade de suas presenças que, ordinários ou não, se utilizavam dos anseios humanos no medo do descomunal desconhecido. Algo já pertencente à literatura e fora introduzido na sétima arte com o vislumbre do público em mente, afinal era a forma mais óbvia de se ver a atuação dos bichões legendários de perto.


 Inferno (L'Inferno, 1911). Fonte: MUBI

A evolução do cinema caminha abraçada com a vanguarda instrumental e técnica, e foi exatamente isto que proporcionou o avanço destas fitas desde o demônio em Inferno (L’inferno, 1911) aos trabalhos de um Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla – King of Monsters, 2019), passando por diversos estágios, e com os mais variados métodos de produção. Por décadas. A minha intenção não é fazer uma arqueologia monstro completa, mas, sim propor uma conjuntura de textos acerca do que já fora escrito no site (e daquilo a ser escrito) sobre as mais variadas feras ignominiosas, além de citar uma porrada de filmes e comentar sobre alguns dos muitos que são destacáveis. O trabalho é no grosso dos colossais destroçadores. Monstros da Universal, Hammer, Amicus, vampiros, lobisomens e similares pertencem a outras categorias e merecem um artigo somente para elas [regra arbitrária de minha autoria]. Alienígenas e bestas outras serão citadas aqui e ali.

DÉCADAS DE 20, 30 E 40. PRIMORDIOSOS.


O Mundo Perdido (The Lost World, 1925). Fonte: Pretty Clever Films, 2011

O interesse nosso acerca destas criaturas é devidamente atendido nas fitas que buscavam, nas primeiras décadas do século 20, nos mostrar mundos distantes e inexplorados, habitados por seres colossais e como isto era fascinante. Desde os sensacionais dinossauros do pioneiríssimo O Mundo Perdido (Lost World, The, 1925) e no filme do gorilão King Kong (King Kong, 1933). Ambos desenvolvidos com a técnica do stop motion – além doutros artifícios como a sobreposição de imagens, através das projeções, em várias camadas como numa animação – a cargo do mestre Willis H. O'Brien, com a construção dos cenários e marionetes em parceria com seu homem de confiança, o artista plástico Marcel Delgado. A dupla intencionou montar uma marionete dos dinossauros e do Kong que fosse completamente adaptada ao movimento, e isto se faria através de uma armação interna de metal que serviria para manter a segurança (através de juntas articuladas[1]) da movimentação. Além de truques pra simular a musculatura e respiração dos animais, entre tantas outras trucagens. Tudo isto numa labuta pesada a 24 quadros por segundo. Um trabalho assombroso.

The Monster Walks (1932), King Kong (1933) e O Gorila Branco (1945)

O grande choque do fantástico, que traz à baila uma gama de projetos que iam de homenagens a imitações, aproveitando-se do filão alijado pelos dinossauros e bichos outros. Inspirou fitas tais como O Despertar do Mundo (One Million B.C., 1940), A Volta ao Mundo Pré-Histórico (Dinosaurus!, 1960), e tantas outras. Ainda sobre gorilas perigosos temos o primordial The Monster Walks (The Monster Walks, 1932) que trata sobre o animal a executar pessoas depois de se soltar de sua prisão. Nos primórdios do horror das feras perigosas. O Gorila Branco (The White Gorilla, 1945) por sua vez, é uma fuleiragem gaiata dos anos 40 na qual usa de imagens duma película muda de floresta selvagem dos anos 20[2] para se encaixar com as filmadas em 1944. Uma bagaceira com a presença de gorila assassino numa fantasia marmotosa. Pela putaria da ideia merece a menção. O grosso viria a partir do dos anos 50. Seguiram esse movimento apostando em universos excêntricos que só tinham espaço no imaginário coletivo, alguns deles sendo ainda refilmados em cores como o próprio Mundo Perdido (Lost World, The, 1960), ou ressignificados em décadas posteriores atrelados a novas tecnologias e progressões políticas e sociais como em King Kong (King Kong, 1976).

DÉCADA DE 50. PARTE 1. MONSTROS PARANOICOS.


Escorpião Negro (Black Scorpion, 1957). Fonte: Gruesome Magazine, 2020

A percepção de um mundo incrivelmente barbarizador estava em voga quando a intenção em criar bestas matadoras, com o perigo delas sendo um foco crescente, começara a aparecer. Temos O Monstro do Mar (Beast from 20,000 Fathoms, The, 1953) – com efeitos especiais sensacionais em stop motion, do Ray Harryhausen (um cara pupilo do pioneiro Willis O’Brien, que ainda aperfeiçoou a técnica e ficou conhecido pelo sagaz trabalho ao trazer estes paquidermes à vida, desde bichos pré-históricos à lendas gregas. Vários trabalhos nos quais cito aqui tem a presença desse cara) –; Monstro Submarino (Behemoth the Sea Monster 1959) [efeitos do Willis O'Brien, sempre ele]; Gorgo (Gorgo, 1961) – estes três, inclusive, dirigidos pelo mesmo cidadão, o ucraniano Eugène Lourié, um ótimo artificie deste tipo de fita –; Tarântula (Tarantula, 1955) – com ótimas técnicas de sobreposição de imagens (Rear Projection) com a paranoia sobre a guerra fria na pista –; as formigas mortais de O Mundo em Perigo (Them!, 1954), que versa muito decentemente sobre o delírio político coletivo do período; o Louva-Deus insanamente barulhento de The Deadly Mantis (1957); e O Escorpião Negro (Black Scorpion, 1957), que reúne algumas das melhores cenas concatenadas com efeitos em stop motion, na criação tanto de um covil sensacional dos animais quanto pela qualidade de seus ataques aterradores (efeitos de Willis O’Brien e Pete Peterson), com destaque para o acachapante final – estes quatro últimos filmes inclusive seguiram o esquema dos filmes big bugs, que consistia nas ameaças dos grandes insetos e artrópodes em geral. O mito de King Kong ainda fazia vulto nos materiais de gorilas como O Fantasma da Rua Morgue (Phantom of the Rue Morgue, 1954) pode atestar, no qual tem um símio perigoso e assustador como matador de várias figuras dentro duma investigação policial.


Robot Monster (1953), O Monstro do Mar (1953), The Deadly Mantis (1957)

Seguindo adiante temos O Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea, 1955), polvo gigante de Ray Harryhausen; os monstrengos alienígenas num vermelhão estourado – que chamaram de CINEMAGIC, e era um puta filtro de vermelhidão exagerada, que conta com o sensacional Rato-aranha gigante (uma delícia) – em Viagem ao Planeta Proibido (Angry Red Planet, The, 1959); O Robô Alienígena (Robot Monster, 1953), bagaceiríssimo conto de Bela e a Fera brega com um anormal peludão aloprando no nada; A Ameaça Vem do Polo (The Giant Claw, 1957) – esse é especial pela feitura absurdamente ridícula de sua criatura, muito por conta da pilantragem do seu produtor Sam Katzman que resolver meter uma marionete avulsa na pós-produção, já que stop motion era caro pra fazer (isto sem o consentimento do resto da equipe do filme, diretor incluso); A Ilha do Pavor - Ataque dos Caranguejos (Attack of The Crab Monsters, 1957) sobre caranguejos gigantes destroçando numa ilha, material estre dirigido pelo mestre Roger Corman, que aqui já trazia a sua gaiatice operacional com muita força de vontade, traballho pesado, marmotas a rodo e baixo orçamento, além de um corte mínimo pra longa-metragem (motivação básica pra meter monstro e segue o barco, uma beleza); O Ataque das Sanguessugas Gigantes (Attack of the Giant Leeches, 1959), nome bem auto-explicativo em divertida produção de Roger Corman e de seu irmão mais velho Gene Corman; Reptilicus (Reptilicus, 1961) – um raro caso de monstro gigante dinamarquês, feito com um fantoche seboso, mas uma joia –; entre tantos outros. São frutos políticos de um movimento dos anos 50 a focar na conjuntura da Guerra Fria e seus ares altamente paranoicos. Grande parte destas aberrações tinham suas origens envolvidas com acidentes nucleares; ou eram acordados após centenas de milhares de anos; cresciam barbaramente; saiam de algum laboratório do exército; ou eram alienígenas da casa do cacete que vinham pra cá tocar o terror, o que não deixa de ser um puta pensamento cismado no delírio. Partiam do pressuposto originário do bichoso e sua motivação de aparecer – primeiro ato –; então o descomunal punha em perigo uma determinada localidade (por vezes de culpas humanas) e a partir disso havia a pesquisa e os planos para lidar com a(s) fera(s), com várias aparições escabrosas dela(s) – segundo ato –; seguindo assim para o embate final com o ataque do monstro em alguma cidade contando com a destruição de algum ponto turístico, com os protagonistas levando a trama adiante com muita pseudociência altamente divertida, e o salvacionismo beligerante de sempre na pista – terceiro ato. Partiam desta construção básica que viraria padrão dali em diante tendo reverberações até em contemporaneidades mais próximas como a versão estadunidense do Godzilla (Godzilla, 1998) e Cloverfield – Monstro (Cloverfield, 2008). É uma virada de chave política e cultural interessante onde outorgar-se-iam grandes destaques às feras como vilãs de uma era, seja por paranoia de sua população, expiação política ou – principalmente – entretenimento bruto. Bestas menores em tamanho, mas com certa relevância foram criadas na década, como O Monstro do Ártico (Thing from Another World, The, 1951) ou na primeira versão do moscoso no filme A Mosca da Cabeça Branca (The Fly, 1958) que possui um final perturbador. Estes trabalham com algumas doidices dedicadas à época, como o medo do incógnito científico, e propuseram oportunidades de continuação de legado com refilmagens sensacionais nos anos 80.

DÉCADA DE 50/60, PARTE 2. CINEMA KAIJU


Godzilla (Gojira, 1954). Fonte: Encyclopedia Britannica, 2021

É possível caminhar com entretenimento ao lado da política, mas poucos exemplos foram tão invocados e densos quanto o tratamento dado ao japonês Godzilla (ゴジラ, Gojira, 1954) – fita esta que iniciara o subgênero kaiju de materiais de monstro (dentro de outro subgênero – o tokusatsu, que consistia grosseiramente em projetos que abarcassem elementos de sci-fi e efeitos especiais com questões culturais do oriente asiático, principalmente o Japão). Esta peça rara [criação nipônica dos estúdios cinematográficos Toho] reúne todo o arcabouço sociopolítico de um país em reconstrução pós-segunda Guerra Mundial com as bombas atômicas reboladas por lá. Este mosaico propiciou um terreno propício de terra em reconstrução com corpos se arrastando em lenta decomposição, afinal a radiação além de matar milhares infectara parte daquela terra. Nisso aparece o gigante Godzilla. O maior monstro do cinema nos mais variados aspectos, seja no ajuste com geopolíticas em seus comentários sagazes (pelo menos no primeiro e mais noutros a frente), e um ícone gigantesco das fitas e da cultura pop. Construído mediante a técnica de suitmation, que consiste num dublê fantasiado contracenando com maquetes filmados por vezes em câmera lenda para induzir a proporção de imensidão dos bichosos (que no Japão fizera escola na mente do grande artífice de efeitos especiais Eiji Tsuburaya - considerado o pai do cinema tokusatsu -, um mestre), que funciona tenazmente. Também por conta das escolhas de direção e iluminação do grande Ishirô Honda que escolhe uma estrutura de contrastes em preto e branco, dando tom sombrio ao filme e usando muito bem das trucagens ali desenvolvidas. Criou escola.


Cozzilla (Godzilla, 1977), Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964), Varan - O Monstro do Oriente (1958)

Gojira teve direito a dezenas de sequências e refilmagens norte-americanas (a já citada de 1998 e outra em 2014) dando o peso prodigioso do animal desde sua criação, além dalguns materiais sequenciais do cinema Kaiju - na maioria japoneses - como Varan - O Monstro do Oriente (大怪獣バラン, Hepburn: Daikaijū Baran, 1958)[estúdios Toho]; Rodan, o Monstro dos Céus (空の大怪獣 ラドン, Sora no Daikaijû Radon, 1956)[Toho], Mothra, A Deusa Selvagem (モスラ, Mosura, 1961)[Toho], Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (三大怪獣 地球最大の決戦, San Daikaijū: Chikyū Saidai no Kessen, 1964)[Toho], Gamera (大怪獣ガメラ, Daikaijū Gamera, 1965)[estúdios Daiei]; e escusas imitações – algumas delas sensacionais pela sua canalhice, e como amostra temos a fita Cozzilla: Godzilla (Godzilla, 1977). Esta foi desenrolada mediante uma compra de direitos de distribuição macarrônica capitaneada por Luigi Cozzi, que adquiriu os direitos da versão norte-americana do próprio Godzilla, no caso Godzilla, O Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters!, 1956). Nem era o original de 1954, mas uma montagem estadunidense deste [calma que melhora], e Luigi o remontou da forma que bem lhe deliciasse, com direito a enfiar cenas doutros filmes de criaturas escrotas (ou não) [alguns até citados aqui]. Para completar o serviço, o negócio fora colorizado com a técnica fuleiragem do SPECTORAMA 70[3] (deixa as cores com uma cara de bad trip de LSD vencida), além do prólogo escroto sobre os escombros de Hiroshima. Uma cópia remontada e colorizada de uma cópia remontada do original (o que ainda justifica eu ter posto a fita num parágrafo dos anos 50, afinal as imagens vêm exatamente desta década. Serve com um sarro). Cozzilla: Godzilla. Se liguem aí no tamanho pop dessa figura. Caminhara do terror com fundo político ao mais frontal entretenimento de raias infantis, passando por várias fases de acordo com os anseios populares [e sacanas] procurados.

DÉCADA DE 60. LISERGIA


O Lodo Verde (The Green Slime, 1968). Fonte: Syfy, 2019

A década seguinte seguiria um caminho voltado ao excesso de cores mais adquiridas em profusão do apelo que o tal colorido trazia. Mesmo com alguns materiais outros de baixo orçamento a replicar na década anterior, como o divertido, e estupendamente chavascado, The Creeping Terror (1964); e o igualmente foda Criaturas do Fundo do Mar (Creature from the Haunted Sea, 1961), que já começa a apostar no tom de paródia ao gênero assim como luta pra se vender. Este pela batuta novamente do produtor e diretor genial Roger Corman, que já estava a crescer como um nome altamente proeminente no cinema bagaceiro, criando vários personagens abusivos e colecionando alguns monstros de borracha com um crescimento de oportunidades de filmes pela violência e nudez. O abuso das cores era partir pra lisergia que o tempo pedia. O tom de seriedade paranoica começa a dar espaço (mas não some, que fique bem claro) para o entretenimento mais objetivo pelo sarro visual com apostas eróticas que só cresceriam dali em diante.


Criaturas do Fundo do Mar (1961), O Monstro do Inferno (1968), e Mil Séculos Antes de Cristo (1966) 

Assim nasceram crias como Mil Séculos Antes de Cristo (One Million Years B.C, 1966) onde o destaque fora vendido entre os fabulosos dinossauros e a mínima roupa da atriz Raquel Welch. Sintoma duma busca mercadológica menos trágica e mais apelativa que fora levada a cabo em partes do oriente como nos filmes Kaiju pós-Godzilla (citei alguns deles no parágrafo anterior), onde agora abrir-se-iam as portas para um entretenimento mais juvenil, por vezes sem a carga dramática anterior, com algumas exceções. Dentro da temática sexual levada a cabo nesta década fico com a monstra sedutora de O Monstro do Inferno (The Blood Beast Terror, 1968), que se alimenta dos caras para saciar de imensa fome. Erotismo leve, cores e desgraça. Derradeiramente acrescentando à década temos O Lodo Verde (The Green Slime, 1968), sci-fi raspa do tacho do fim de 1968 onde carrega a tentativa de urgência de dez antes, mas com um tom mais solto e fuleiro (co-produção entre Japão e EUA, que conta com um promissor Kinji Fukasaku que faria de filmes de guerra a um material foda sobre a Yakuza nos anos 70). Fora um estágio de transição, para este tipo de horror servir de base para um desbunde mais radical em seguida. Funcionara dentro do âmago do experimentalismo do período, sem falar noutros subgêneros do horror que propuseram ir mais longe na mesma época.

DÉCADA DE 70. ECO-HORROR


APE (A*P*E aka King Kong Eui Daeyeokseup, 1976). Fonte Doblu.com, 2017

O fim da década de 60 e a entrada nos anos 70 propuseram mais monstruosidades. Além do que nos era conhecido, havia o ensejo de personas mais tácitas aos humanos, num morticínio mais próximo de nossa realidade, por assim dizer. Um esquema pré-slasher com facínoras psicopatas tomando conta das ações escrotas. Os bichosos ainda fazendo participações, sejam elas ainda desprimorosas e/ou dentro do âmbito da ficção científica. De início temos pequenas fitinhas com seus pequenos-grandes bichos: Calafrio (Willard, 1971) e sua sequência Ben, O Rato Assassino (Ben, 1972) tratam desses roedores que ao terem uma amizade com um garoto, partem para o terror [no Ben inclusive, o rato é líder de uma comunidade de ratos assassinos de humanos, não sem a música tema do Michael Jackson, manca]; mais avacalhado é o A Noite dos Coelhos (Night of the Lepus, EUA – 1972), que é uma incursão desses animais no terror, com técnicas de montagem e maquetes com sobreposições que dificultam a enganação por conta dos coelhos serem inofensivos e as maquetes altamente pobres. O que deixa tudo uma maravilha. Mas aí veio o sucesso estrondoso de Tubarão (Jaws, 1975) do Steven Spielberg, que escancarou uma porta para uma geração do eco-horror que percorreu décadas. Tubarão segue a cartilha em mostrar o protagonista-criatura aos poucos para aloprar com tudo em seu terço final, escolha feita por dificuldades com o trato para com o tubarão mecânico que fez o Spielberg suar e acertar plenamente mediante estas vicissitudes. Mantém um elenco de primeira impondo suas personalidades trazendo uma empatia fenomenal por aquelas figuras, além dos ótimos ataques de tubarão altamente bem arrumados. Além disso foi um arrasa-quarteirão com uma noção nova de produto onde criara todo tipo de apetrechos vinculados a ele para se vender o quão plenamente fosse possível. Sucesso absoluto. Daí em diante as imitações foram se multiplicando ao infinito. Algumas delas: Bacalhau (Bacalhau ou Bacs, 1975) – sim, um filme brasileiro pornochanchadesco copiando tubarão (e tirando um sarro do mesmo) filmado em Santos, dirigido por Adriano Stuart com um bonecão de bacalhau impagável –; Tentáculos (Tentacoli, 1977); Piranha (Piranha, 1978) – da referência Joe Dante; O altamente famigerado O Último Tubarão (L'ultimo Squalo, 1981); Orca, A Baleia Assassina (Orca, 1977); Alligator – O Jacaré Gigante (Alligator, 1980) e mais uma porrada. Os efeitos do Jaws ainda reverberam, como as décadas de 90 e 2000 podem atestar.


O Incrível Homem que Derreteu (1977), Bacalhau (1975) e Tentáculos (1977).

Seguindo os mastodônticos temos a volta do King Kong por diversos formatos. O Primeiro é o já citado King Kong (King Kong, 1976) de John Guillermin e produzido pelo Dino de Laurentiis. Com gordo orçamento usa das mais variadas técnicas para montar o seu gorila gigante, desde o uso de sofisticadas fantasias [com diversas máscaras num rebuscado trabalho de maquiagem, feitas pelo genial Rick Baker] aos braços mecânicos imensos, culminando noutro bom trabalho de animatrônico dum robô King Kong de 12 metros criado pelo grande Carlo Rambaldi[4.] Uma beleza. Mas é bom salientar sua imitação (uma das várias) oportunista saindo ainda primeiro que o próprio. Sim. Estou escrevendo sobre APE: O Super King Kong (A*P*E aka King Kong's Great Counterattack, 콩의 대역습; King Kong Eui Daeyeokseup, 1976). Lançada no mesmo ano, esta, altamente safada, fita sul-coreana usou do marketing ao redor do filme rico para se montar [o Roger Corman faria isso com seu Carnossauro, como explicitarei o caso adiante] e se vender. Mas obviamente é uma obra altamente escrota em sua feitura com um orçamento avulso de 24 mil dólares. Aguçada pelo oportunismo. Mas tem suas delícias claro. Bonecão altamente mal-ajambrado detonando cidades de papelão e isopor, humor nonsense, efeito sonoro de destruição de casas único (sim, só tinham 1), sangue e falta de noção, com dedo médio apontado pra câmera/plateia atestando isso. Entre outras cópias cito Queen Kong (Queen Kong, 1976) – coprodução francesa, inglesa e alemã –, com uma gorila fêmea e tom de paródia no talo; O Monstro de Pequim ou "Rei Orangotango" (猩猩王, The Mighty Peking Man, Xing Xing Wang, 1977) de Meng Hua Ho, uma versão de Hong Kong da mesma estória; e finalmente a versão brasileira Costinha e o King Mong (Costinha e o King Mong, 1977) de Alcino Diniz, que é uma esculhambação de perambulações do gorilão e do humorista Costinha[5].

Nem as frutas escapam. Já que a década ainda assente termos até para o Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of the Killer Tomatoes!, 1978) para a fina putaria. Como as novas formas de aterrorizar estavam passando por transformações tanto de cunho técnico quanto de agressividade, cito uma pérola dos 70 abarrotada de tensão, brutalidade e uma puta final acachapante: O Incrível Homem que derreteu (The Incredible Melting Man, 1977). Possui uma das bestas mais trágicas do cine trash: o cara que literalmente derrete até o final [novamente o monstro Rick Baker como responsável pela sinistra maquiagem em seu contínuo e seboso derretimento]. Com cinismo e o sentimento de nada valer ao encerramento. Filmão. A proeminência de um radicalismo político em várias searas autorizava aos realizadores trashs mais estofo em seus rompantes mais desbundados. Este é um puta exemplo.

DÉCADA DE 80. VIOLÊNCIA


Basket Case (1982). Fonte: Sessão do Medo, 2018

A anormalidade dos seres por vezes diminui de tamanho, mas aumentam em nojeira e bestialidade. Aí entram os anos 80 na sua mais decidida ressaca e exagero habituais. E com o advento da maquiagem prostética tiveram acesso a todo o tipo de desmantelo carnal apostando no que ficaria conhecido como Gore ou Splatter. Violência braba com muito destroçamento da carne. Nesta seara entra a obra-prima O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), do exímio John Carpenter, que possui técnicas de construção de criaturas através do grande artista Rob Bottin, que demonstra uma capacidade altamente diversificada para cada criatura que aparece. Filme extremo e peça duma década ainda na vertente da paranoia – bem atualizada – criada lá atrás. Houveram outros com monstros diminutos, mais não menos gigantes ao proporcionarem o horror.

Uma fita lançada em 1979 alimentaria a tendência do medo do tenebroso alienígena. Seria a obra prima Alien, O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) do mestre Ridley Scott, que pode não ser um bicho de 40 metros, mas tem uma capacidade feroz de exterminação e deixou escancarado que o obscuro espacial deveria ser ainda mais bem explorado neste tipo de horror. Este, com contornos políticos e sexuais atualizados, veio pra ficar. Com composições altamente elaboradas e cuidado excessivo em sua decupagem. Filmaço. Nisso tivemos um misto do eco-horror já citado da década anterior com as cópias descaradas desse Alien, como Alien 2 – Sulla Terra (Alien 2 – Sulla Terra, 1980) – sim, os caras meteram o nome e fizeram uma continuação não oficial e sem avisar ninguém [os italianos não brincam, e os sensacionais criminosos foram Ciro Ippolito, Biagio Proietti e Angiolo Stella[6]] –; Alien – O Monstro Assassino (Contamination, 1980), do maroto já citado Luigi Cozzi a usar do ambiente fechado duma fábrica e dos ovos alienígenas pra aloprar seus monstrinhos, é mais uma cópia; A Criatura (Creature, 1985) é mais uma mangofa de monstro no espaço com atuações canastronas e um monstro do bagaço; Galáxia do Terror (Galaxy of Terror, 1981), que contém uma cena inacreditável de verme gigante estuprando uma mulher num abuso que os anos 80 deixava rolar; e XB: Galáxia Proibida (Forbidden World, 1982), os dois últimos produzidos a toque de caixa apressadíssimo de um oportunista maroto tal qual o Roger Corman, que fazia estas fitas baratas e com uma personalidade canalha própria aproveitando-se de um subgrupo fílmico a clamar por mais. Chegando a culminar no melhor filme de piranhas voadoras já feito (o único até então). Piranha II: Assassinas Voadoras (Piranha Two The Spawning, 1981) com um dos diretores sendo o próprio James Cameron, que trabalhava com o próprio o Roger Corman (lançou várias outras grandes figuras do cinema) como assistente, chegando a diretor de arte e chefe de efeitos [cargos ocupados em Galáxia do Terror; Cameron ademais meteria outro grande monstro na pista com a Alien Rainha de Aliens – O Resgate (Aliens, 1986)]. Tudo isto regado com muita selvageria, nudez, sarcasmo e sensacionalismo.


A Mosca (1986), Galáxia do Terror (1981) e Razorback - As Garras do Terror (1984).

Trabalhos de variados diretores, produtores e artistas outros empregariam seu talento no aniquilamento coletivo. Entre alguns deles temos A Bolha Assassina (The Blob, 1988), refilmagem altamente satisfatória de material dos anos 50; A Mosca (The Fly, 1986), do grande David Cronenberg que cria um dos melhores estudos sobre destruição da carne no horror e com muita seboseira, a cargo da estupenda maquiagem e prostéticos de Chris Walas, que descasca lentamente o protagonista numa transformação de homem em mosca e une perfeitamente técnica e conteúdo para destruição física; Predador (Predator, 1987), de John McTiernan, une Rambo com Aliens para esbagaçar com um dos personagens de visual e modus operandi mais fodas do terror-ação; Do Além (From Beyond, 1986), do sacana Stuart Gordon, aposta tenazmente em texto do H.P. Lovecraft e seus monstros interdimensionais para criar uma trama de nojeira e tensão sexual suicida de primeira; Basket Case (Basket Case, 1982), uma produção bizarra de criaturinha siamesa abusada que saíra de um corpo dividido com irmão pra tocar o terror em nome da vingança. Sebosamente. Mesmo com o baixo orçamento, Basket Case ainda usa de várias trucagens para a perambulação de seu monstrinho, desde stop motion a um boneco asqueroso. O sarro dos anos 80 abriram para a curtição de criaturinhas ainda menores e merecem uma lembrança pelo estrago que causaram: Gremlins (Gremlins, 1984) e A Hora das Criaturas (Critters, 1986), ambas por origens monstras diferentes, mas apostam no disparatado de suas premissas com humor e sagacidade. Ratos – A Noite do Terror (Rats – Notte di Terrore, 1983), que faz uma mistureba de sci-fi pós-apocalíptico com os ratos dominando o mundo enquanto uma turba de resistência esquisita [vestida no esquema Mad Max dos pobres] passa a ser estraçalhada, e ainda conta com um final chupado do livro Planeta dos Macacos. Nem tem como ser ruim isso. Pânico no Kilimanjaro (In the Shadow of Kilimanjaro, 1986), traz outros animais a oferecerem perigo coletivo a uma cidade: babuínos mortais. Como exemplar do eco-horror sou obrigado a citar a obra-prima australiana Razorback – As Garras do Terror (Razorback, 1984), do Russell Mulcahy. Faz parte do ozploitation que é a categoria dos filmes de terror apelativos da Austrália. Coisa de primeira qualidade. Este em questão trata da ameaça de um javali gigante destroçador. Além de ter um monstro foda criado com animatrônico, possui uma das fotografias mais espetaculares [influência do diretor videoclipeiro, que propõe uma paleta de cores muito vivas usando muito bem o espaço do outback australiano com criativas composições, e a parceira com o diretor de fotografia foda Dean Semler foi acertada demais] dos filmes aqui citados. Pedrada.

Outras criaturas. O Monstro do Pântano (Swamp Thing, 1982), uma cria menor do Wes Craven; Monster – A Ressurreição do Mal (Rawhead Rex, 1986), com roteiro do fera da literatura de horror Clive Barker [num momento trash raiz]; O Monstro do Armário (Monster in the Closet, 1986), sob a batuta de distribuição da maravilhosamente famigerada Troma Entartaiment, é uma aulinha de trash dos anos 80, com direito a um final altamente imbecil em termos de lógica (apesar do exercício de coerência ser hilário) e suposta verossimilhança, mas, mesmo assim, aterrador. Entre outros, com retorno de uns outros tantos clássicos como A Volta de King Kong (King Kong Lives, 1986) e The Return of Godzilla (ゴジラ, Gojira, 1984). Posso mencionar inclusive os filmes de aberrações marinhas que produzidas foram, como a beleza de bagaça O Monstro Que Veio do Mar (The Intruder Within, 1981), que toma como espaço uma plataforma de petróleo, onde os funcionários passam a ser acometidos por uma besta em fúria assassina, com direito à feitura duma criatura esquisita com um grunhido escrotíssimo; O Monstro (Humanoids from the Deep, 1980), mais uma produção esculachada do Roger Corman que reabriu câmera após o primeiro corte pra inserir mais imagens de sacanagem, já que, na cabeça dele, bestas monstruosas tinham de ser vendidas com alguma putaria [desnecessário citar a pobreza da produção que nos acomete em sua sequência derradeira de destroço, com a utilização marota de um efeito sonoro de gritaria que almeja tentar causar desespero e é repetido por mais de 20 vezes, afinal só tinham esse]; O Abismo do Terror (DeepStar Six, 1989); e Leviatã (Leviathan, 1989), este, por sinal, ainda tinha o privilégio em ter o guru dos animatrônicos Stan Winston que já tinha experiência pregressa em anormais ao criar as figuras de Aliens – O Resgate e O Predador. Além do mesmo cara ter dirigido mais um filme decente de monstro: A Vingança do Diabo (Pumpkinhead, 1988), que traz um ser das trevas a cometer vingança por conta da morte de um filho de fazendeiro. Este ultimo pede a uma bruxa escrota uma solução. O bicho em si é um primor de maquiagem e animatrônico que Winston fazia como ninguém.

DÉCADA DE 90. ANIMATRÔNICO/STOP MOTION VS CGI


Metamorfose - O Fator Alien (Metamorphosis - The Alien Factor, 1990). Fonte: Reelgood

Os findares anos do século 20 são de uma proeminência não tão vistosa do que o que fora visto nas décadas anteriores, mas não existem sem vários espécimes. Há o resgate de clássicos como o já citado Godzilla (além de mais alguns kaijus outros), ou Sci-fis mais proeminentes tais quais o foda Tropas Estelares (Starship Troopers, 1997)[brilhante direção do Paul Verhoeven] e seus insetos grandes e prodigiosamente bem feitos [e com uma violenta propaganda antiautoritária na base da sátira]. Algo caro aos filmes de monstro (principalmente dos mais robustos) seria o usufruto do método de computação gráfica na feitura dos animalescos. Com o novo modus operandi – a depender da sua expertise e do seu orçamento – fora possível alguns casos que o fantástico dos anormais fosse tratado com mais dinamismo. E com um senso de gigantismo feroz. Nisso temos o hoje já clássico e tecnicamente revolucionário Jurassic Park – Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, 1993), do Steven Spielberg. Enlouqueceu plateias e expôs uma catarse coletiva na questão. A técnica empregada para dar vida aos animais uniu algumas frentes, entre elas a sagacidade dos animatrônicos de Stan Winston, o trabalho de Phil Tippet [a movimentação em stop motion era o cargo de Phil e seria relegada a segundo escalão a partir daqui no cinemão] que foi o responsável pela forma como os bichos se movimentariam, servindo como um consultor para os técnicos do CGI (Computer Graphic Imagery, imagens geradas por computador), e por fim vem o Dennis Muren como criador e supervisor de computação gráfica (o bendito CGI) juntamente com a responsabilidade dos animadores Steve “Spaz” Williams e Mark A.Z. Dippé, que criaram o primeiro modelo computadorizado de um Tiranossauro para o filme[7]. Toda esta maçaroca de técnicos e artistas criaram um modelo que seguido seria e evoluiria (mas sem causar o mesmo impacto) até o que temos hoje no cinema mainstream.

Daí vieram várias outras fitas que assentidas foram por estes avanços, tais quais os já citados materiais de lagartos gigantes e insetos alienígenas. Os menores também conseguiram bons resultados usando destas técnicas e com menos grana, como A Relíquia (The Relic, 1997), equilibra bem as aparições do seu monstro com muita violência [Stan Winston de novo]; Tentáculos (Deep Rising, 1998), alopra na exorbitância com uma criatura marinha tentacular imensa a sugar os líquidos das vítimas, destrói um transatlântico e é estraçalhador por opção própria; Do Fundo do Mar (Deep Blue Sea, 1999), atualiza bem o sub-filão de filmes de tubarão (que vai dar uma enlouquecida depois nos anos 2000) com sarro, crueldade, bichões altamente brabos e ritmo acelerado; A Fera do Mar (The Beast, 1996), vem com uma lula gigante a estraçalhar uma cidade costeira dos EUA; Anaconda (Anaconda, 1997), que cito pela nostalgia e divertida marmotagem; Pânico no Lago (Lake Placid, 1999), que tem bons momentos e apresenta um dos melhores trabalhos na feitura de um crocodilo gigante; A Sombra e a Escuridão (The Ghost and The Darkness, 1996), trata do ataque de dois leões ferozes a uma construção de ferrovia da África, altamente bem feito, com elenco e produção de primeira; Congo (Congo, 1995), mostra um ataque de macacos albinos brutais para proteger um segredo na selva, com direito a uma símia fumando um cigarro, mas a pedidos que não trague o próprio, num tipo de cena sem noção no qual a era estava de acordo; Sem esquecer do cuidado do semi-estreante àquele tempo, Guillermo Del Toro, que fizera sua entrada no mercado norte-americano com o ótimo Mutação (Mimic, 1997), onde aborda uma epidemia de baratas gigantes geneticamente modificadas (mais uma jumentice de cientistas) – acaba por se diferenciar pelo trato dado pela direção nos usos inteligentes de planos e cores para criar tensão, além do design adequado dos baratões.


Shakma - A Fúria Assassina (1990) Carnossauro (1992) e Tentáculos (1998)

Uma década jamais passa sem o cinema independente aloprando em cima. Dentro desta seara temos o excelente O Ataque dos Vermes Malditos (Tremors, 1990) com técnicas de bonecos sensacionais de espuma em tamanho real (Amalgamated Dynamics)[8], e sobreposição de imagens com os menores, criando um efeito de realismo estupendo, dando a trama o espaço para criar claustrofobia e curtição, que carregaria por uma saga de 7 filmes; Shakma – A Fúria Assassina (Shakma, 1990) trata de um babuíno escroto que passa a perseguir uma galera numa faculdade de medicina – adentra mais num slasher-movie mas o resolvi citar por conta do eco-horror presente; Mutação Alienígena (Metamorphosis: The Alien Factor, 1990), um dos usos mais sensacionais do ainda resistente stop motion juntamente com ótima maquiagem a criar um ambiente foda e um paquiderme igualmente ensebado e assustador que exibe destruição em um laboratório médico após uma experiência escangalhada; das premissas das mais absurdas tem alto vulto com o grego O Ataque da Lasanha Gigante (Η Επίθεση του Γιγαντιαίου Μουσακά, 1999), e a bicha ainda fora criada de forma alienígena, manca aí. Pra matar de vez escolho mais um da década por conta tanto de sua estória de criação pilantrosa e sensacional fora das telas, quanto pela sua feitura escrota dentro delas: Carnossauro (Carnosaur, 1993). Produzido pelo Roger Corman que se aproveitara da pré-produção do Jurassic Park, para filmar o seu e lançar antes aproveitando o marketing do primo rico para se virar, isto por conta da dinossauromania já existente no início dos 90. Os animais foram feitos com fantoches manuais e um bonecão de borracha grande e pouca preocupação com escalas. Com um final altamente pessimista e trágico. E teve duas sequências na mesma malandragem. Uma beleza.

ANOS 2000 E 2010. SYFY E ASYLUM


Dagon (Dagon, 2001). Fonte: Cinapse, 2020

O avanço do CGI acabaria por permitir ainda mais um sem número de produções a se apropriassem disto. Esta condicionante mostraria bestas gigantes feitas com gordurosos orçamentos e muita sacarose envolvida nalguns, como no King Kong (King Kong, 2005) do Peter Jackson, onde homenageia o clássico original numa epopeia de 3 horas; Godzilla (Godzilla, 2014) na nova versão norte-americana de criatura japonesa dando entrada do monstroverso, um universo com os mastodônticos como dominantes (criação da Warner com a Legendary, copiando da japonesa Toho – esta última criara Godzilla e vários outros a partir dos anos 50); entre outros. Mas o destaque nas duas décadas fica pelos esculhambados. Além de experimentações no subgênero de diretores consagrados tais quais Guillermo del Toro e seu Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013).

Aloprando em produções altamente duvidosas e imundas como gostamos. Cada passo sendo dado numa evolução tal que se tornara mais barato produzir (no bambo claro) do que teimar em onerosos métodos antigos – estes mais verossímeis (alguns bem demorados). Nisso temos um novo boom do eco-horror se usando destes artifícios CGI [explicitando que a massacrante maioria era lançada direto para o vídeo]; a começar cito o Crocodilo (Crocodile, 2000), dirigido pelo grande fera do horror Tobe Hopper, que faz um comum eco-horror; Primitivo (Primeval, 2007), outro material de crocodilo, e desta vez baseado em fatos reais, com um bichão, de alcunha Gustave, que atacara várias pessoas na República do Burundi, e até hoje não fora capturado; Morte Súbita (Rogue, 2007) é outro de do mesmo animal, produzido na Austrália com ótimo uso tanto do CGI quanto dos animatrônicos (dos melhores); a posteriori tem o Predadores Assassinos (Crawl, 2019) do mesmo Alexandre Aja que dirigira o Piranha 3D, e aqui se aproveita do espaço claustrofóbico para os crocodilos atacarem. De primeira a parada. E ainda meteram o bicho em todo tipo de crossover com outras criaturas gigantes e os caralhos – tudo bagaceiro claro –, como em Mega Shark vs Crocosaurus (Mega Shark vs Crocosaurus, 2010) é um, e com essa nomenclatura já uma beleza só por existir. Inclusive até um com animal/robótico fizeram. É o Robocroc (Robocroc, 2013). Não há limites. Outros animais que participam do lance – mas em menor escala – são os porcos e javalis. Caçada aos Porcos (Pig Hunt, 2008) é filme de porco assassino misturado com caçada humana; Fera Assassina (Boar, 2018), é outro de javali matador caprichado na violência [outra chibatada australiana];


Morte Súbita (2007), O Homem-Coisa: A Natureza do Medo (2005) e Caçada aos Porcos (2008)

Como citei, a maioria eram feitos para TV e muitos distribuídos e/o produzidos pelo canal SyFy e/ou pela famigerada The Asylum, que focavam na rápida produção, distribuição e exibição aproveitando-se dos nichos de mercado que lhes aprouvessem. E piranhagem? Tem? Tem. Piranha 3D (Piranha, 2010) vem com gosto na referência e na brutalidade descontrolada para adentrar com humor no absurdo de sua proposta; Piranhaconda (Piranhaconda, 2012) investe na marmota de um híbrido entre piranha e anaconda com resultados esculhambatórios [SyFy]; Mega Piranha (Mega Piranha, 2010), [esse num combo de produção da The Asylum e distribuição do canal SyFy] como uma resposta atamancada ao Piranha 3D. Exatamente. É uma cópia de uma refilmagem que já tinha sido feita pra frescar.

E em Mega Piranha temos uma amostra de mockbuster do que a The Asylum faz até a presenta data. Esquema que consiste em aproveitar o marketing de um filme maior sobre um determinado tema e fazer um do bagaço em cima disso. No ano de 76 citei o APE a usar de artifício similar pra se aproveitar do King Kong de mesmo ano, ou do que o Carnossauro fizera com Jurassic Park, mas a galera da The Asylum vai adiante. Além desse aproveitamento há uma estratégia do próprio material de exibição e marketing buscar ser muito similar ao original, inclusive em suas nomenclaturas. Transformers vira Transmorphers, por exemplo. Isto é feito para induzir o consumidor a assistir um quando quer ver outro. Marketing de guerrilha pilantra indutor do erro em prol do seu. Mas tem sua base de fãs. Dentro disso temos os filmes dos ignorantes clonados (mal clonados) doutras fitas de bichos, como fora citado o caso da Piranha. Inclusive lançado recentemente fora o Ape vs Monster (Ape vs Monster, 2021) pra pegar carona no Godzilla vs Kong (Godzilla vs Kong, 2021), que se não tem uma nomenclatura copiada strictu sensu, tem um material de divulgação feito na cara de pau pra copiar o primo rico. Reencarnações de obras clássicas da literatura anteriormente adaptadas para o cinema igualmente tem seu espaço. O que o diga o Moby Dick (Moby Dick, 2010) [The Asylum]. Atualiza o livro do Herman Melville para os anos 2000 na mais pura esquizofrenia quando a baleia cachalote destrói submarinos e navios com a boca como se fossem brinquedos, além dela dar uma de jacaré e sair se arrastando fora do mar pra atacar a galera em terra. É inclassificável um troço desses.


Mega Piranha (Mega Piranha, 2010). Fonte: The Guardian, 2010.

Falar de bestas marinhas gigantes e destrutivas sem falar de turbarão não tem graça. Esse bicho é o carro chefe deste filão. Antes tido somente como uma ameaça marinha, o negócio descamba pra anomalias genéticas e mutações pesadas – Monstros Marinhos (Mega Shark Versus Giant Octopus, 2009), [The Asylum] é conflito entre tubarão gigante e uma Lula imensa; Ataque do Tubarão de 2 Cabeças (2-Headed Shark Attack, 2012), [The Asylum] o nome já é autoexplicativo e teve continuações de acordo com o aparecimento de mais uma cabeça por filme no roteiro, até chegar a 5 –; invenções continuamente inspiradas nos japoneses com robôs aparecendo na pista – Mega Shark Versus Mecha Shark (Mega Shark Versus Mecha Shark, 2014), tubarão gigante contra tubarão gigante robô –; Tubarões da Areia (Sand Sharks, 2011), sim, não contentes em usar os bocarra de dentes como ameaça no mar, eles agora vão pra areia; Shark Exorcist (Shark Exorcist, 2015), aqui o não-fino trato duma estória de um sujeito a exorcizar tubarões infernais. Houve até inspiração do mainstream em criar seu próprio filme de tubarão gigante (meto esse adendo). É o Megatubarão (Meg, The, 2018) e conta com o ator de ação e porradaria Jason Statham, e inspirado nos tubarões que assolaram as casas nas últimas décadas. Como não poderia faltar, tem a saga Sharknado, começando com seu debut Sharknado (Sharknado, 2013). A saga é montada com tubarões vindos para o continente via a porra de um tornado que os leva pra lá. E fizeram mais 5 sequências disso, cada uma mais avacalhada e consciente de si (isso é ótimo) que a anterior, e envolvem desde lutas espaciais a viagens no tempo. Já entrou para a história.

Outros fizeram parte do meu recorte arbitrário (e alguns deles com características bem derivadas): Reino de Fogo (Reign of Fire, 2002) é um pós-apocalíptico de dragões a se alimentarem de poeira e guerra com uma fotografia dessaturada e clima de primeira; Super 8 (Super 8, 2011) é uma revisitação de produções do Spielberg nos anos 80, com um alienígena grandão como atração; há uma esperta renovação japonesa do Godzilla em Godzilla Resurgence (Shin Gojira, 2016), que atualiza a estória e substitui o medo nuclear pelo excesso de burocracia moderna do Japão criando um curioso filme de monstro; O Homem-Coisa: A Natureza do Medo (Man-Thing, 2005) é um material de baixo orçamento tirado do Homem-Coisa da Marvel, trazendo um resultado interessante com breve comentário ambiental e um bom gore duma besta pantanosa; Creature (Creature, 2011) e O Monstro do Mar de Bering (Bering Sea Beast, 2013) juntamente, merecem algum destaque burlesco. The VelociPastor (VelociPastor, The, 2018), esse sim é um caso de fita feita no fundo do quintal que tem uma premissa tão sem noção quanto aparatosa de acordo com a mensagem passada por sua nomenclatura. Sim, é a porra de um pastor que se transforma em velociraptor e sai detonando, desde matar alguns incautos, até se tornar uma espécie de anti-herói ao combater ninjas assassinos em seu final escroto. A violência é avulsa e a vestimenta de dinossauro é inacreditável de tão bagaceira.


Robocroc (2013), Shark Exorcist (2015) e The Velocipastor (2018)

Dentro desse universo da mais fina (ou da grossa) putaria haviam ainda alguns a buscarem usar os monstros dalgumas formas mais criativas e bizarras. O Hospedeiro (Gwoemul, 2006) é mais uma inserção sul-coreana na parada com um ótimo uso do animal como metáfora acerca de como corporações e governos destratam seus próximos; O Nevoeiro (Mist, The, 2007) é uma adaptação de conto do craque Stephen King a discorrer sobre a influência ideológica e religiosa por sobre a população mediante o extranatural, possui uma cena final nada menos que magnífica; Dagon (Dagon, 2001) é o derradeiro grande trabalho do horrorífico Stuart Gordon que adapta, a sua maneira, um conto do H.P. Lovecraft, e usa de todo o seu talento para criar uma cidade repleta de aberrações que causam uma puta obliteração através de uma seita cósmico-pagã que evoca uma criatura do mar escrota. Filmaço. Abismo do Medo (Descent, The, 2005) é um a abordar o isolacionismo como elemento de desespero mediante o escuso monstruoso. Não apresenta nada de realmente novo e nem precisa, mas seu enfoque é muito seguro assim como em tudo que se envolva no ataque dos mortais seres das cavernas sempre ameaçadores e condizentes ao espaço escroto no qual foram destinados a sobreviver. Em Seres Rastejantes (Slither, 2006) temos uma obra que homenageia bem o cinemão de horror nos anos 80 caprichando num body horror clássico com toda a linda imundice que os anormais imensos necessitam para vomitar pelas telas; O Caçador de Trolls (Trolljegeren, 2010) é um caso curioso e norueguês a tratar da existência real de trolls – figuras de mitologia nórdica –, e o filme se utiliza do found footage [algo que o próprio Cloverfield – Monstro (Cloverfield, 2008) faria com certa qualidade anos antes] para se vender como narrativa, além das ótimas aparições dos trolls em questão. Há também oportunidades mais amenas para o uso destes animais como atesta o Problemas Monstruosos (Love and Monsters, 2020), que escolhe fazer uma espécie de road movie a pé com seu protagonista a perambular pelo espaço escapando de insetos descomunais que dominaram o planeta. Não podia faltar um brazuca no final. Skull: A Máscara de Anhangá (Skull: A Máscara de Anhangá, 2020), aposta tanto numa mitologia monstro clássica a envolver religiões escusas e rituais macabros, quanto para um gore desenfreado e sensacionalmente bem arrumado – com ótimos efeitos de maquiagem e especiais em geral pelos craques Armando Fonseca, Kapel Furman e Raphael Borghi.  Foda.

Os materiais que citei aqui são a ponta do iceberg dos filmes horroríficos de monstro a estupidificarem maravilhosamente o gênero. Possuem sua carga de oportunismo, honestidade, seboseira e entretenimento necessários para serem enaltecidos. Desde quando começamos a pensar e agir coletivamente em organizações a primarem pelo bem coletivo, fomos capazes de criar mitificações que nos imputassem medo, respeito, dor, desespero e controle para que nossos instintos não nos confrontassem do porque (e por quem) estaríamos nos domesticando. Então desde os primeiros colossais criados lá na casa do cacete, para que simplesmente aprendêssemos a viver numa coletividade, à besta mais recente criada pelo cinema, no fundo há sempre um monstro a espreita esperando a hora certa para estraçalhar.


O mockbuster da Asylum: Ape vs Monster (2021). Fonte: Know Your Meme, 2021


Notas

[1] Os Efeitos Especiais de King KongMestres do Stop Motion, 2011. Disponível em : http://mestresdostopmotion.blogspot.com/2011/08/os-efeitos-especiais-de-king-kong.html?m=0. Acesso em: 18 de jan. de 2022.

[2] GUERRA, Felipe M. O Gorila Branco (1945). Boca do Inferno, 2017. Disponível em: https://bocadoinferno.com.br/criticas/2017/03/o-gorila-branco-1945/. Acesso em 8 de fev. de 2022.

[3] SANTIAGO, Luiz. CRÍTICA | COZZILLA: GODZILLA (1977). Plano Crítico, 2021. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-cozzilla-godzilla-1977/. Acesso em 22 de jan. de 2022.

[4] 13 CURIOSIDADES SOBRE O FILME "KING KONG (1976)". Pipoca 3D. Disponível em: https://www.pipoca3d.com.br/2020/10/13-curiosidades-king-kong.html. Acesso em: 14 de fev. de 2022.

[5] Kong!!! (Capítulo 4: Trash Kongs ). Museu da Meia-Noite, 2014. Disponível em: http://museudameianoite.blogspot.com/2014/07/kong-capitulo-4-trash-kongs.html. Acesso em 12 de fev. de 2022.

[6] GUERRA, Felipe M. Alien 2 (1980). Filmes para Doidos, 2013. Disponível em:
https://filmesparadoidos.blogspot.com/2013/11/alien-2-1980.html. Acesso em: 25 de jan. de 2022.

[7] FAILES, Ian. ILM’s Rebel ‘Jurassic Park’ Artists Reflect On The State of VFX Art Today. Cartoon Brew, 2016. Disponível em: https://www.cartoonbrew.com/interviews/ilms-rebel-jurassic-park-artists-reflect-state-vfx-art-today-143806.html. Acesso em: 13 de fev. de 2022.

[8] DEE, Jake. 10 Behind-The-Scenes Facts About The Making Of Tremors (1990). SCREENRANT. Disponível em: https://screenrant.com/tremors-behind-the-scenes-facts-trivia/. Acesso em 14 de fev. de 2021.


Críticas

King Kong (1933), por Alexandre Koball
Monstro do Mar (1953), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Godzilla (1954), por Guilherme Bakunin
Tarântula (1955), por Alexandre Koball
A Ameaça vem do Polo (1957), por Ted Rafael Araujo Nogueira
A Bolha (1958), por Vlademir Lazo
Tubarão (1975), por Rodrigo Cunha 
APE: O Super King Kong (1976), por Ted Rafael Araujo Nogueira
O Incrível Homem que Derreteu (1977), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Piranha (1978), por Vlademir Lazo
Alien, O Oitavo Passageiro (1979), por Ted Rafael Araujo Nogueira
O Enigma do Outro Mundo (1982), por Ed Carlos Inácio de Sousa
A Mosca (1986), por Daniel Dalpizzolo
O Predador (1987), por Rodrigo Cunha
O Cérebro (1988), por Ted Rafael Araujo Nogueira
O Ataque dos Vermes Malditos (1990), por Marcelo Queiroz
Shakma - Fúria Assassina (1990), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Alien 3 (1992), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Carnossauro (1992), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Jurassic Park - Parque dos Dinossauros (1993), por Guilherme Bakunin
Godzilla vs. Destoroyah (1995), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Tentáculos (1998), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Do Fundo do Mar (1999), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Dagon (2001), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Malditas Aranhas! (2002), por EEK
Mar Aberto (2003), por Rodrigo Cunha
Abismo do Medo (2005), por Andy Malafaya
Doom: A Porta do Inferno (2005), por Rodrigo Cunha
King Kong (2005), por Wander Cabral
Seres Rastejantes (2006), por Andy Malafaya
O Nevoeiro (2007), por Conrado Reoli
O Hospedeiro (2008), por Demetrius Caesar
Alien Vs. Predador 2 (2008), por Silvio Pilau
Cloverfield - O Monstro (2008), por Silvio Pilau
Onde Vivem os Monstros (2009), por Emilio Franco Jr. 
Splice - A Nova Espécie (2009), por Rodrigo Cunha
Piranha 3D (2010), por Daniel Dalpizzolo
Predadores (2010), por Silvio Pilau
Super 8 (2011), por Rodrigo Cunha
Prometheus (2012), por Rodrigo Cunha
Círculo de Fogo (2013), por Rodrigo Torres
Godzilla (2014), por Francisco Carbone
Jurassic World: Mundo dos Dinossauros (2015), por Rodrigo Cunha
Águas Rasas (2016), por Francisco Carbone
Colossal (2016), por Francisco Carbone
Godzilla Resurgence (2016), por Ted Rael Araujo Nogueira
Um monstro no Caminho (2016), por Heitor Romero
Rua Cloverfield 10 (2016), Bernardo D. I. Brum
Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016), por Silvio Pilau
Alien: Covenant (2017), por Heitor Romero
Kong: A Ilha da Caveira (2017), por Cesar Castanha
Círculo de Fogo: A Revolta (2018), por Francisco Carbone
Jurassic World: Reino Ameaçado (2018), por Bernardo D. I. Brum
Megatubarão (2018), por Rodrigo Cunha
O Predador (2018), por Bernardo D. I. Brum
Rampage: Destruição Total (2018), por Rodrigo Cunha 
Um Lugar Silencioso (2018), por Heitor Romero
Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), por Francisco Carbone
Predadores Assassinos (2019), por Bernardo D. I. Brum
Skull: A Máscara de Anhangá (2019), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Um Lugar Silencioso - Parte II (2021), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Godzilla Minus One (2023), por Ted Rafael Araujo Nogueira
Megatubarão 2 (2023), por Ted Rafael Araujo Nogueira

Comentários (3)

Guilherme Tavares | domingo, 03 de Abril de 2022 - 11:16

Gostei muito da matéria. Vou me organizar para ver esses filmes monstruosos. E novamente meus Parabéns pela pesquisa e pelo trabalho que teve!

Ted Rafael Araujo Nogueira | segunda-feira, 04 de Abril de 2022 - 23:38

Beleza mestre. Valeu. Pois chegue junto aí que tem muita coisa invocada.

Gabriel Fagundes | sábado, 14 de Janeiro de 2023 - 19:25

Puta artigo da porra! Sem duvida favoritado

Ted Rafael Araujo Nogueira | domingo, 15 de Janeiro de 2023 - 10:26

Beleza mestre. Fica no aguardo por aí que mais materiais dessa natureza vão aparecer por aqui. Se quiser dá uma checada no curto artigo 7+ sobre os filmes de terror natalinos.

https://www.cineplayers.com/artigos/7/7-a-anarquia-natalina-do-cinema

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