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Críticas

Cineplayers

A ópera oriental de Guillermo Del Toro.

7,5

Em plena Nova Hollywood, influenciada pelo cinema autoral da Nouvelle Vague francesa, um jovem cineasta revolucionaria o cinema de seu tempo: George Lucas. Seu maior objetivo (se tornar um diretor de sucesso e milionário até os 30) era de uma ambição equivalente aos avanços tecnológicos alcançados por Star Wars Episódio IV - Uma Nova Esperança (Star Wars Episode IV - A New Hope, 1977), mas proporcionalmente inversa à sua despretensiosa narrativa. Um autoproclamado "realizador visual, que busca despertar emoções, não ideias", Lucas reavivou gêneros e convenções, povoou sua ópera especial com personagens bidimensionais e apelou para estímulos sensoriais da maneira mais simples. Nascia, assim, a fórmula perfeita dos blockbusters, aquela que atrai o majoritário público de cinema até os dias de hoje. Pois é baseado nessa concepção de cinema que Guillermo Del Toro desenvolve Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013).

O novo filme do cineasta mexicano é uma síntese de produções japonesas que o encantava durante a infância, o que torna muito legítimo optar por um formato que possibilite seu máximo alcance junto ao público. Assim, a premissa high-concept do projeto não poderia ser mais eficaz, de deixar orgulhoso um mestre do conceito, Steven Spielberg: uma fenda (que dá nome ao filme nas versões original e brasileira) se abre no meio do pacífico e dela saem os kaijus, criaturas enormes que têm por finalidade devastar a humanidade. Cabe aos jaegers, grandes robôs comandados por humanos, combater essa grave ameaça, capaz de evoluir, tornar-se cada vez mais perigosa à população mundial e pôr em xeque o Projeto Jaeger.

Fiel a essa proposta, Del Toro tem a habilidade de apresentar toda a premissa nos primeiros minutos de projeção, de maneira dinâmica, criativa (pela matéria de um noticiário) e muito simples, tornando fácil a explicação de que os robôs são comandados por conexões neurais, o porquê de serem manipulados por duplas, e também é plausível que os duos mais bem-sucedidos sejam formados por pessoas com um grau parentesco próximo – artifício que logo manifesta empatia no público. Isso porque tal opção permite que o espectador se importe com uma luta entre um monstro e um robô pela relação que se estabelece no cockpit de comando dos jaegers, por estes serem controlados por humanos, e devido à causa pela qual eles lutam – e Del Toro é mais uma vez eficiente, sendo os efeitos devastadores de cada investida de um kaiju o signo da urgência do planeta e do poder dessas criaturas enormes.

Uma questão intrigante é o fato do soco de um robô gigante ser mais poderoso que um míssil atirado por caças e tanques, que nessa ficção poucos danos causam aos monstros (muito embora cada jarger disponha dessas mesmas armas e as utilize de modo efetivo). Por um lado, pode suscitar uma discussão pertinente sobre a natureza humana, da necessidade de demonstrar virilidade e violência ao repelir uma ameaça externa “na mão”, mas a verdade é que, além das já citadas referências, Del Toro se apropria muito bem desse aspecto para criar algumas ótimas cenas de luta. O público se envolve de fato nessas sequências, imprevisíveis, construídas com uma preparação que gera toda uma expectativa (em dado momento, um jaeger destacado por luzes de holofotes, transportado por um helicóptero até o meio do oceano, desce dos céus como uma verdadeira salvação) sempre muito bem correspondida – especialmente no longo clímax que se desenvolve na metade do filme, dotado de momentos espetaculares para o que se entende como cinema-catástrofe.

Tamanho esclarecimento do cinema que aqui desenvolve confere a Del Toro todo o respaldo para basear sua narrativa em arquétipos e convenções. Assim, os personagens são bem acessíveis, com o trunfo de não ficarem reféns de um heroísmo de cartilha; todos carregam consigo o fardo ou a iminência de uma tragédia pessoal e têm uma motivação bem definida, que confere certa complexidade a suas ações: o ego e a competitividade de Chuck (Robert Kazinsky); a vocação militar de Stacker (Idris Elba) e Herc (Max Martini); o desejo de vingança de Mako Mori (Rinko Kikuchi), que propicia uma belo flashback que faz nevar cinzas dentro do cockpit do trágico e lendário Gipsy Danger; e a reunião de cada um desses elementos no protagonista Raleigh (Charlie Hunnam). No entanto, a obra permanece ciente do que se propõe, a quem se destina, e não se priva dos alívios cômicos de dois cientistas malucos (um clichê muito bem-sucedido) e de um mercenário de partes de kaiju vivido pelo impagável Ron Perlman, com quem o diretor mexicano tem parceria em outro de seus projetos de estimação, a franquia Hellboy (idem, 2004)

Tecnicamente o filme é brilhante, seja pelos modernos designs de produção e som, seja pela esperteza de emular um planeta em guerra de forma comedida, com fotografia dessaturada nos poucos momentos de externas durante o dia, e basear a narrativa fantástica durante a noite e poder realçar o festival de cores proporcionado pelas armaduras dos jaegers, pelo sangue azul fosforescente dos kaijus e pela multicolorida Hong Kong com o céu escuro. O ótimo CGI empreende um realismo admirável e, curiosamente, só falha quando isto também ocorre com o roteiro: no ato final, todo embaixo d'água (desafio até para a indústria dos games), onde a fotografia escura prejudica o entendimento do que está acontecendo na tela, tornando os minutos finais do filme desinteressantes, mero pastiche dos excessos de Armageddon (idem, 1998).

Guillermo Del Toro acerta como um todo por assumir seu novo filme como um filho de Steven Spielberg e George Lucas, por captar a essência do que tem de melhor no cinema desses diretores a seu modo, sem copiá-los. Se por um lado Star Wars, ao apropriar-se da sofisticação dos efeitos visuais de 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), enobreceria gêneros e narrativas (postos à margem pela desconstrutivista Nova Hollywood) de folhetins como Buck Rogers e Flash Gordon, o realizador mexicano faz de uma homenagem - desacreditada por muitos - a Ultraman, Godzilla e outros seriados japoneses um grande blockbuster, que se diferencia por conferir-lhe um refinamento artístico muito próprio e raro dentro do gênero - e que falta justamente no desfecho genérico, previsível e mal acabado, nos moldes dos filmes de Michael Bay. Porém, verdade seja dita: o diretor e produtor de Transformers - O Filme (Transformers, 2007) aprendeu uma lição de Spielberg e Lucas muito melhor do que Del Toro: o de confiar a profissionais competentes as estratégias de marketing e merchandising de sua superprodução. Assim como só isso explica o sucesso de Transformers mundo afora, só isso explica o fracasso comercial de Pacific Rim nos Estados Unidos.

Comentários (24)

Amaral Milhomem da Conceicao | quinta-feira, 12 de Setembro de 2013 - 19:50

Filme muito legal. Bela homenagem à década de oitenta e suas invencionices. Bom demais.

Lucas Nunes | terça-feira, 30 de Setembro de 2014 - 00:14

ridiculo! filme para acéfalos ruminantes comedores de pipoca[2]

Por favor, não comparem essa bosta com Evangelion, por favor!

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