Esquema com elementos alusivos a um thriller sem o desfecho que se espera do autor, o que causa interesse de início. Além dalgumas trucagens de encenação que divertem, mais parece um merchandising de 90 minutos para alavancar a carreira da filha cantora do diretor, que enche o saco com as grudentas músicas pops que vomita. Fora o ótimo trabalho de Josh Hartnett, a fita circunda alguns tropos do subgênero na intenção de frescar consigo mesmo e seus limites, mas da maneira mais imbecil possível.

Uma corrida por vários dias onde o objetivo é estraçalhar transeuntes pelo caminho. Que beleza. Transgressor e anárquico como um bom trash deve ser. Saído pela batuta do Roger Corman. Aposta na grosseria do entretenimento doentio para se vender, com os abusos e excrescências tipicamente humanos do lado de fora da diegese e aqui amplificados metaforicamente como farsa. O vício pela violência se agarra aos mitos de oportunidade. Somente o tesão pela putaria se justifica. Uma joia da ação estúpida.

Acerta na formatação de coletânea em segmentos não somente por suas narrativas, mas pela diversidade das animações. Mesmo sendo irregular nos pedaços, é na diferença de abordagens e formatos que o filme se invoca, assim como por seus temas sem escrúpulos: poder, sexo, drogas e violência. O saboroso visual do todo, agarrado à obra base de quadrinhos, tem uma encenação quase lisérgica e com uma movimentação de personagens tanto lenta quanto erótica. E um trilha sonora do cacete. Só pedradas.

Transita entre o épico e o intimista com equilíbrio para a contemplação mítica de Furiosa, que segue sendo criatura perseguida não por suas decisões, mas por um abismo apocalíptico a levá-la a um buraco profundo. A vingança resiste como mote primordial a sobrar. Putas cenas de ação como já é usual do diretor, que aqui faz uma escolha em manter também a ação entre o épico espetacular e o catártico personalista. Mesmo com duração graúda, o conflito final poder-se-ia ter sido mais esticado.