Seboseira pobre do horror a serviço de um comentário contra formas de controle (rezas envolvidas)
O óbvio rotulado de proa. Cientista louco (eu avisei) Dr. Anthony Blakely – interpretado por David Gale (de A Hora dos Mortos-Vivos (Re-Animator, 1985) – usa um programa de TV intitulado Independent Thinking (Pensamento independente) para cooptar a população de uma pequena cidade a alimentarem um cérebro alienígena por trás dessa ideia estapafúrdia.
A busca aqui é criar um fiapo de roteiro [que possui algumas cenas mais longas que deveriam exatamente para suprir a falta do que se fazer (e de texto)] que sirva para promover um destroçamento imbecil dos personagens, com uma oferecimento crítico nada sutil dos programas de TV provenientes dos anos 80. Isso tudo com um orçamento semi imaginário, que dá direito a um monstro tão grande quanto fajuto que ataca quem se mete no seu caminho. Inclusive a parte técnica que o material se propõe a ter é absolutamente risível, mas que não deixa ainda de ter o seu charme e o ritmo cai algumas vezes, mas não prejudica tanto o andamento desta bagaceira fita.
O aporte opinioso de discordância do cinema busca expor quais são as vicissitudes e temores de seus períodos históricos e lida com isso de idiossincráticas maneiras, sejam elas com seriedade, robustez documental ou pelo mais puro sarro. O caso deste filme prima pela última hipótese. E o faz em seu nascedouro. Frontalmente se assume como apalermado diante de suas possibilidades limitadas lutando tanto para entreter grosseiramente quanto para passar sua porca mensagem, que sim tem um fundo de diálogo social assaz relevante. Afinal continuamos quase 40 anos depois ainda lidando com programas de TV controladores, que usam do subterfúgio escroto da autoajuda para promoverem uma alienação compenetrante, que faz com que a população se desvencilhe até de sua própria realidade independentemente dos fatos aos quais a mesma tenha na sua frente. Se substituirmos a pujança dos programas de tv de outrora (não totalmente ainda) pelas redes sociais da contemporaneidade ainda temos como vincular esse comentário social de 1988 à nossa realidade. A compleição a estupidez é ressaltada por nós. O terraplanismo ideológico existe e pulula.
O filme incita suas indagações através de controle de alheação de pacientes que se justifiquem pela necessidade de tratamento destas mesmas figuras, sendo algo a descredibilizar as manifestações daqueles que são discordantes. Interessante que é uma tática ainda usada, mas com novas roupagens e terminologias importadas. Tirar o valor (sebosamente) da fala do outro sem contrapor o seu argumento é uma forma de proteger o seu próprio, principalmente quando o mesmo é furado e cheio de subterfúgios escusos. Dentro dessas alucinações está parte do poder do cérebro do título que ao que parece ser, é uma entidade extraterrena a se consumir das pessoas, tanto mental quanto materialmente. Então são monstros a esmo nas mentes que buscam auxílio no Instituto de pesquisas psicológicas do Dr. Anthony Blakely, que é um dos responsáveis pela esculhambação toda. E, por exemplo (trazendo a peteca pra cá), como as igrejas neopentecostais (e pentecostais) fazem estes esquemas? Mostrando o quão pecadores somos, o quão sofremos com o pecado e com as dores da sociedade moderna, e para onde querem que nos desloquemos? Para as Igrejas. Desde os programas vistos na TV, com acessos a diversos vídeos por redes sociais e correntes tantas doutras maneiras que nos massacram com informações muitas vezes sem cabimento algum e com uma intencionalidade de outro domínio ideológico, que nos faça crer na solução das instituições e que nos façam pagarmos por isso. Com prazer. E com escolha, segundo eles. A mutilação cerebral via manipulação coercitiva de mentes é democracia pura. No filme se paga com o cérebro e com a vida, do lado de fora com parte do encéfalo e com o dízimo (e com a vida). Mas o fim é por um controle. Por um poder. Porque é óbvio afirmar que dinheiro é poder? Por que afirmações desabonadoras sobre estas questões são ridicularizadas? Só por ser clichê, deixa então de existir? Ou só por isso é considerado simplista? O mecanismo da descrença no outro é vigoroso de tal maneira que subverte a tipologia da realidade. A troca por alocução e crença em seres etéreos e eternos como justificativa (furada). E chibatear a sobreposição disso é um absurdo, e como tal deve ser tratado com desprezo pelos poderes estabelecidos. Uma autoajuda vendida como farsa, que no filme nem as provas cabais das desgraças nas quais os personagens estão de fato envolvidos servem para eles saírem do transe, afinal já fora dado o argumento de autoridade que chegara aos ouvidos das pessoas por meios “sérios” como a TV. “Meu filho, se ele disse na TV, é porque é verdade”, chega a falar a mãe ultra crente de um personagem em determinado momento. Te lembra alguma coisa? Silas Malafaia? Edir Macedo? Valdemiro Santiago? RR Soares?
O sarro da nossa estraçalhada fita inclusive já começa pela exibição do programa em sua nomenclatura: Pensamento independente. A venda de mitos para nutrir o controle. Intercalando com delírios sobre um cérebro monstro gigante e anormalidades diversas, para aloprar mentes via crença cega. A ilusão sofrida representa o discurso de líderes religiosos, de seitas diversas – e se quisermos trazer ainda mais ao nosso escopo modernoso, os famigerados coaches. As trocas dos atores não anulam o que a asquerosa metáfora ainda pode proporcionar. Inclusive propõe problemas geracionais que não saem de moda. A juventude e sua desobediência, sua descoberta sexual, seu combate inicial à arbitrariedade. Que ainda são temas das mais diversas seitas, que justificam estas proposições pelo abuso do pecado e outras bobagens absurdas. E eis que é exatamente o adolescente Jim Majelewski (Tom Bresnahan) que parte contra os jugos do programa e descobre a existência do cérebro alienígena. O que é até engraçado, já este mesmo protagonista é inteligente e fã de ciência (afinal sua experiência/pegadinha com sódio num banheiro necessitou de um breve conhecimento prévio), e a ironia mora aí. O detentor do conhecimento que interpela a todos com rebeldia (inclusive a própria mãe que já está alienada pela TV) e mais ao lado da ciência e não da crença. Meio que seria uma contraparte combatente a um terraplanismo nada filosófico e anticientífico que hoje nos perturba. Obviamente que não há uma vasta profundidade acerca do choque geracional e de um enchimento de saco no qual os adolescentes fazem seus pais e arredores outros passarem, mas intenção da fita aqui é ter esse personagem que busca realmente pensar por si e contra a alienação que o programa de nomenclatura invertida aponta.
Um filme levemente surtado, dirigido por uma figura chamada Ed Hunt, que com um orçamento ultra peba [o diabo do monstrão, o tal cérebro monstrengoso, não engana absolutamente ninguém, assim como várias cenas de morte sem sangue, apesar das boas intenções via decapitações e desmembramentos, mas ainda assim diverte aqui e ali principalmente quando usa de sua miúda verba parta insistir em esquisitice, nos closes acachapantemente divertidos do monstro, ou quando jorra um pouco mais de sangue] escolhe a força da mensagem passada de qualquer forma para conseguir existir, mesmo que cheia de buracos, incongruências e falhas técnicas, porém não é covarde. Existe como potência motriz de uma mentalidade livre que quer se expor através de uma crítica, que pode parecer avulsa num primeiro momento, mas serve como um microcosmo torto de uma parcela da sociedade que se aliena enquanto serve como alimento material (e imaterial) de lideranças suspeitosas que escrutinam o poder. Se a mensagem de grandes instituições com tamanho midiático tal, jogam seus artifícios de comando sobre os cidadãos, cabe aos mesmos o combate, independentemente da forma e da ordem de importância da paráfrase crítica dentro da obra em questão. O que interessa é fazer. Se é a serviço de um entretenimento sujo para encher (piada) as bocas dos artistas, ainda servem bem ao seu intento de atrapalhar minimamente que seja a canalhice das formas de controle exercidas por estes grandes somatórios ideológicos e religiosos. O negócio é fazer. E que seja ruim ou mal feito. Para o marginal o que serve é produzir desgraça sobre os desgraçados.
Parte do especial Monstruosidades Imensas
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário