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Predador, O

(Predator, 1987)
7,5
Média
454 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

A ingênua testosterona dos anos 80.

7,0

O cinema dos anos 80 é reconhecido não apenas por sua cafonice exagerada nos cabelos estufados, de cores vibrantes e roupas para lá de estampadas. No cinema, os filmes de ação viveram uma espécie de ápice com diversos nomes estrelando produções que se tornaram clássicos do gênero, como Eddie Murphy (48 Horas, Um Tira da Pesada), Bruce Willis (Duro de Matar), Mel Gibson (Máquina Mortífera), Stallone (Rambo: Programado Para Matar, Stallone Cobra) e, claro, Schwarzenegger – que, além de O Predador, protagonizou uma série de outros filmes do tipo, como Conan – O Bárbaro e Comando Para Matar.

Este O Predador é uma espécie de Tubarão sci-fi menos inteligente e com menos conteúdo, trocando o mar por uma imensa e intensa floresta: uma misteriosa criatura vinda do espaço começa a assassinar uma experiente equipe de resgate que havia sido encarregada de acabar com serviços terroristas em uma fronteira. O líder, Dutch (Schwarzenegger), aos poucos vai percebendo a real urgência da situação em que sua equipe se encontra quando um a um vão sendo eliminados pela criatura, que sente prazer em caçar, culminando em um dos melhores e mais óbvios combates finais da época de ouro da ação recente.

Não há nada além disso. Assistir a O Predador é ter noção de que é muito mais uma experiência do que um aprendizado. Esteja preparado para apertos de mãos em que músculos sarados e lotados de esteróides ganharão destaque na tela, assim como cuspes e outras grosserias machistas. Símbolo de uma geração testosterona, seu sangue é uma bandeira ao ridículo para alguns, mas exemplo de boa diversão para outros. Como pode ser ruim um filme onde um monstro vem do espaço do nada, causa matança desenfreada com efeitos especiais ultrapassados e sangra carga de tinta marca-texto fluorescente pelo mato? Impossível, é óbvio que pelo menos meia dúzia de seqüências genialmente boçais serão criadas. Só faltou mesmo o clichê máximo do bad boy de comer um cigarro aceso, porque o resto está todo lá.

A comparação com Tubarão pode parecer absurda, já que estamos comparando um filme descerebrado com um dos maiores estudos do medo no ser humano, mas explico: trabalhando com a imaginação do seu público, o diretor John McTiernan (de Duro de Matar, O 13º Guerreiro, Violação de Conduta) optou por trabalhar com a progressão lenta na demonstração de seu personagem interplanetário ao invés de exibi-lo desde o início. Antes dele aparecer de fato, vemos apenas sua visão, entendendo seu modo superior de caça através da localização térmica de corpos e progressivamente vamos sabendo mais sobre ele, porque ninguém o enxergava, porque ele lança raios, porque não deixa pegadas... Com isso, ele utiliza o recurso do espectador não saber quem é que faz aquelas atrocidades de pendurar corpos despelados em árvores ou então de abrir imensos buracos no tórax de um forte homem apenas com um mísero raio, aumentando o suspense e a tensão cada vez que seu ruído característico é ouvido, que marca sua presença em tela ao lado da imagem térmica azulada e vermelha. Não é necessário mostrar mais do que isso para fazê-lo presente por boa parte da projeção.

O raio citado no parágrafo anterior que, por sinal, em Schwarzenegger fez apenas um arranhão no braço, enquanto em seus amigos causou um estrago capaz de desmembrar o mais forte membro da equipe como se fosse faca quente na manteiga. Mas é aquela coisa, protagonista carro chefe do filme não pode ficar vulnerável tão facilmente, ainda que, na lógica, isso deveria acontecer. Singularidades a parte, é quando sobra apenas o caçador e seu caçado que o filme se destaca dos demais genéricos da ação sem história. O desbalanceamento e as forçadas de roteiro são tantas que, mesmo se rastejando para tentar sobreviver, Dutch consegue cobrir o corpo todo com um material que, coincidentemente, lhe daria alguma chance de sobrevivência, na maior cara de pau possível.

Mas isso acaba pouco importando quando, depois de uma hora de preparação, ambos começam a se enfrentar. Percebemos a transformação em Dutch, sua capacidade de se adaptar às situações, até que ele se iguala ao caçador quando, ao escolher um ponto de ataque, ambos dividem este mesmo local, sem que percebam a presença um do outro. Como ele poderia superar alguém com instinto tão assassino? E o pior, demonstrando ser mais inteligente do que Dutch esperava?

Em termos de efeitos especiais, o show de pirotecnia explosiva dos anos 80 é bem representado por um espetáculo de luzes, explosões e faíscas. Ainda que a termologia pareça ultrapassada hoje (era considerada algo de outro mundo), é bacana ver a evolução da invisibilidade do monstro, ou então a maquiagem realista feita em seu rosto, quando o mesmo tira a máscara para cair no braço com Dutch (genial, uma das melhores cenas de comédia involuntárias já vistas).

Em uma conclusão que faria até mesmo uma bomba atômica ficar com inveja, a impressão que fica é de um filme divertido, ainda que mais nostálgico do que uma obra aconselhável. É cinema para poucos, sem que isso seja necessariamente uma virtude ou defeito; com certeza não vão ser todos que conseguirão assistir a O Predador até o final e não achar chato. Com um novo filme da franquia chegando em breve nos cinemas, parecendo respeitar bem mais a mitologia criada pelos primeiros filmes, seria legal quem nunca fez antes visitar estas obras originais. Esqueça as bobagens que foram os Alien VS Predador: aquilo também é ruim e descerebrado, mas não tem 1% da diversão exagerada e o carisma duvidoso que uma pérola brega dos anos 80 como esta possui.

Comentários (1)

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