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Artigos

Cinemas Negros

Touki Bouki (1973), de Dijibril Diop Mambéty, Senegal.

A questão negra no cinema, sobre, com e estraçalhada pelos próprios e próprias

O cinema cresceu por várias décadas com o racismo introjetado dentro dele com toda força. Afinal, o cinema é um reflexo social/moral/histórico de um pensamento coletivo de determinados grupos. Muitas vezes este pensamento era hegemônico ou então crítico à hegemonia citada, mas ainda continha um ponto escroto em sua essência: a exclusão negra. Relegados a papéis serviçais em pleno exercício de obrigação histórica deturpada. Assim fora o cinema americano por anos, assim como o europeu — este último, quando crítico, manteve seu foco nas problemáticas e possíveis solucionísticas burguesas.

Mas esta transfiguração vem se modificando duns 50 anos para cá. O cinema africano chegou para ficar com nomes sensacionais como Ousmane Sembène e Dijibril Diop Mambéty; o movimento do blaxploitation americano vem na base da porrada tomando de conta da ação com uma violência na subversão de papéis e muita acusação; material de ação e horror que antes era de protagonismo branco, e agora no passar das temporalidades vemos um espaço para outras representações, ou seja, negros e negras dando porrada; o cinema pedrada do Spike Lee, que acaba de lançar mais uma obra pancada como Destacamento Blood (Das 5 Bloods, 2020), assim como diretores outros montando filmografias na marra em tantos países, muitos deles esquecidos, mas não agora. A intenção aqui é homenagear o cinema feito pelos negros e sobre os mesmos. Inclusive sobre aqueles que tinham visões sobre os próprios ao afirmá-los como tais mediante o pensamento do branco. Como, por exemplo, o Jean Rouch e sua importância para este material, ainda mais que o próprio fora alcunhado de colonialista em seu cinema. Queremos a diversidade de discursos. O circo pegando fogo ou não.

O que é preciso para nos atermos não só ao cinema negro, mas às fuleiragens acometidas por conta do racismo, tal qual a morte o George Floyd por policiais brancos possa ser uma prova? Não bastou o Rodney King ter levado porrada nos anos 90? Quantos mais precisam papocar para que tenhamos uma suposta iluminação dando entrada no tema? Negros e negras estão em movimento há muito tempo, e tantas vezes foram silenciados, por isso a resistência é necessária. O movimento Black Lives Matter chegou e merece espaço. Não quero aqui sequestrar narrativa nenhuma e nem impor quem deve ou não ser protagonista de quaisquer lutas, mas tecer, sim, vários discursos em prol do debate e do esculacho sofrido por negros e negras não só na contemporaneidade, mas na história. Não é só uma questão sobre cinema (cinemas, vários deles), mas sobre conduta humana, colonialismo, racismo, escravagismo, selvajaria policial, assassínio, amor, ódio, resistência, horror, loucura, alegria estupefata, carne, sexo, transa, tesão, representação, imposição de si. Etc.

George Floyd, o ex-segurança estrangulado por policial no dia 25 de maio de 2020. Powderhorn, Minneapolis, Minnesota, EUA.

Rodney Glen King, operário da construção civil vítima de espancamento pela força policial de Los Angeles em 3 de março de 1991. Foto: Shannon Stapleton - Reuters

Foto 1: Manifestantes protestam em revolta acerca da morte de George Floyd. Ponte Gonden Gate, San Francisco. EUA. Dia 6 de junho de 2020. Foto 2:  Movimento Black Lives Matter. Vidas negras importam.

A proposição aqui é abarcar vários cinemas. Alguns serão esquecidos por severa ignorância muito provavelmente, e que isto gere debates sobre a importância do cinema como palco não somente de entretenimento, mas também como conurbação entre arte e política, inclusive pelo esquecimento geral e meu. Nosso. O fazer cinema já é algo político em seu nascedouro, e os níveis dessa conjuntura dependem das escolhas de várias vertentes. Por isso aqui vai ter do político engajado dum Malcolm X (1992) ao usual da ação escrota carregada de símbolos de Blade – O Caçador de Vampiros (Blade, 1998).  

Materiais importantes serão resgatados e debatidos e outros tantos criados para este momento. Que estas pautas se mantenham ativas com a serventia tanto de chibatear o preconceito quanto enaltecer estes (tão ricos) cinemas. Se bem que chibatear o racismo já é um enaltecimento automático. Sem montar esquemas de doutrinação ideológica, mas metamorfosear o discurso em prol da oportunização de acesso e reacesso a estas obras. Vamos para cima.


Wesley Snipes no Blade - O Caçador de Vampiros (1998), de Stephen Norrington

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7+ | África Negra
7+ | Abolição
7+ | Blaxploitation
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