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Críticas

Cineplayers

Um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos.

9,0

Sem dúvida um dos melhores filmes que eu vi esse ano até agora.

O melhor filme da nova geração do cinema nacional facilmente, o único que conseguiu aliar a estética publicitária com intensidade cinematográfica que estava faltando à nova safra. Ele tem o apuro técnico dos filmes do Walter Salles ou da Conspiração filmes, mas com uma crueza e verdade que remete a obras como Pixote. O filme faz um discurso sério e mostra uma realidade chocante mas ao mesmo tempo embala o público com uma história e personagens cativantes, em um visual moderno que funciona perfeitamente com o estilo do filme.

É uma espécie de Snatch - Porcos e Diamantes misturado com Amores Brutos, mas sem tentar ser nenhum desses filmes.

E achei melhor que ambos, o que me deixou bastante emocionado pois são dois filmes que gostei imensamente. O que Cidade de Deus tem que os outros filmes não podem oferecer é um universo que podemos nos identificar, saem os guetos londrinos ou mexicanos, entra a nossa favela, saem os marginais irlandeses com sotaque engraçado, entra o malandro carioca, em vez de ouvir 'Fuck isso' ou 'Fuck aquilo', você ouve 'Porra', 'Caralho', 'Filho da Puta', mas finalmente nossos palavrões soam bem!

O filme tem muitos momentos engraçados, o ritmo é excelente e as duas horas e vinte minutos voam, mas não poupa o espectador de algumas cenas chocantes principalmente as que envolvem menores. Tomaram cuidado pra não deixar muito apelativo, mas ainda bem que foram corajosos o suficiente pra não fechar os olhos à certas situações que infelizmente acontecem todos os dias nas periferias das cidades, e são essenciais para tentar entender como funciona esse mundo paralelo que, como diz o narrador da história, é o nosso Vietnã.

Tecnicamente é perfeito, a fotografia filtrada com poucas cores é ótima, aliada a uma edição frenética e movimentos de câmera ágeis e bem planejados, mas o que me chamou mais atenção foi o áudio, o filme tem som Dolby DTS e recomendo assisti-lo num cinema equipado para tal. Os diálogos são perfeitamente compreensíveis, os efeitos enchem a sala de projeção (em certos tiroteios você se sente literalmente no meio do fogo cruzado) e a trilha sonora é excelente! Os atores são um caso especial, a co-diretora Katia Lund utilizou na maioria atores amadores selecionados nas comunidades onde o filme foi realizado e devo dizer que ela fez um trabalho incrível, apesar de ser fácil de notar uma certa insegurança em alguns deles, na maioria ela consegue resultados excelentes e dá uma veracidade impressionante à história.

Falando na história, ela é fictícia mas inspirada em fatos reais narrados por um jornalista que foi morador da Cidade de Deus no livro do mesmo nome. Conta a história de um garoto chamado Buscapé desde sua infância nos anos 60, até o final dos anos 70, dando uma idéia da criação das favelas, da origem do tráfico de drogas e de sua relação no dia a dia dos moradores. Contado através dos olhos dele, é um filme sobre o mundo do crime mas também sobre personagens, tratados de maneira quase mítica e também de forma bastante humana.

É pra divertir, emocionar, chocar, fazer pensar, parece que finalmente o cinema nacional está amadurecendo para o fato de que você não tem só que agradar ao mercado, mas fazer um filme que diga algo. Prestigiem esse filme enchendo as bilheterias, o filme merece e os que financiam o cinema nacional poderão notar que existe público para filmes mais ousados.

Texto retroativo da série Clássicos Brasileiros

Comentários (2)

Gilvan | quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013 - 05:52

Realmente, um clássico.

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 18:11

Qual filme rivalizaria com esse? Não sou um profundo conhecedor do cinema nacional, eu confesso. Tirando O Bandido da Luz Vermelha.....nenhum outro marcou minha memória como esse Cidade De Deus.

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