Lupas (800)
-
O roteiro não é um primor: a fuga dos diálogos entre os protagonistas significa se aprofundar na história de um só deles, no presente e no passado, quando a história precisa ser encenada com flashbacks tão pouco orgânicos quanto outros recursos — o que denota uma direção também eventualmente mal resolvida, confusa. Mas a história em si e as duas atuações de que o filme é dependente sustentam bem a sua duração.
Rodrigo Torres | Em 24 de Dezembro de 2019. -
Três anos se passaram e segue viva em minha mente a repetição do massacre no shopping — angústia que Bonello causa sem apelar a grafismos, pelo contrário. Coisa fina. E potente!
Rodrigo Torres | Em 15 de Dezembro de 2019. -
Primeiro erro da carreira de Bertrand Bonello. Erro grande. Narrativa perdida, que investe em vários subgêneros e vai mal em todos. Irregular na fruição de seus tempos distintos, enfadonhos individual e coletivamente, porque a articulação e o desenvolvimento deles são pobres. Ainda me pareceu eventualmente problemático em termos de abordagem de questões raciais, culturais e religiosas. Só presta a direção de fotografia de Yves Cape, que torna a experiência menos insuportável — só um pouco.
Rodrigo Torres | Em 15 de Dezembro de 2019. -
Horror e poesia. Imersão e loucura. O homem e as trevas. Espetacular!
Rodrigo Torres | Em 13 de Dezembro de 2019. -
Longe de ser ruim, até porque Shia LaBeouf está (no caso, é!) ótimo e Noah Jupe mostra, mais uma vez, ser um pequeno grande ator, maravilhoso, que rouba todas as suas cenas. Mas o meu sentimento é de um filme que não evolui, gira em torno da mesma coisa o tempo todo, além de ser atrapalhado por sua não-linearidade, saltando o tempo todo para um outro momento em que o personagem e sua história são tão menos interessantes.
Rodrigo Torres | Em 12 de Dezembro de 2019. -
Desde Cidade de Deus não se via uma noção espacial e dramática tão evocativa da favela e seus habitantes. Uma cena de invasão e as diferentes reações de seus moradores (do medo à indiferença) são um exemplo dessa grande qualidade. Mas Pacificado não foge de ser fruto do olhar curioso de um estrangeiro — o que atrapalha quase todas as suas bases de construção, do roteiro à naturalidade (pretendida e eventualmente inalcançada) de certas cenas. Apesar disso, Bukassa, Cássia e Jefferson são ótimos.
Rodrigo Torres | Em 12 de Dezembro de 2019. -
O sucesso de Atlantique mundo afora é justificado por suas inerências fundamentais: o fato de ser um raro exemplar do cinema senegalês, e articular suas questões sociais com suas paisagens, e potencializá-las com elementos sobrenaturais de visual ao mesmo tempo simples e impactante. Mas o modo como isso se une e se desenvolve narrativamente é pobre. Até na estruturação da montagem, eventualmente (vide a subtrama que redunda na explosão de um prédio), se exarcebam grandes deficiências de roteiro.
Rodrigo Torres | Em 01 de Dezembro de 2019. -
Aqui, sim, o cinema autoral da Filmes de Plástico me conquista. Com o seu "nada acontece" característico não só emulando perfeitamente as vidas retratadas e as reflexões sociais que suscita, como de forma mais envolvente que em obras como Ela Volta na Quinta e Temporada. Mérito do roteiro mais maduro dos irmãos Martins e de um elenco inspirado em Leo Pyrata, Barbara Colen, Kelly Crifer, MC Carol (!) e Grace Passô, que se destaca como estrela principal desse singelo e relevante movimento mineiro.
Rodrigo Torres | Em 18 de Novembro de 2019. -
2019 é mesmo o ano dos filmes-testamentos. Com Scorsese realizando o seu definitivo sobre a máfia, questionando esse homens ao retratá-los sem o glamour de outrora e em sua versão radicalizada: um mais frio, outro mais histriônico, um terceiro mais sério, cerebral e cruel, e todos bem velhos, tanto representando um modo de vida que não se sustenta mais, como o fim de carreira de seus feitores. De Niro e Al Pacino foram feitos um pro outro. Joe Pesci, gênio, nem parece que se aposentara.
Rodrigo Torres | Em 15 de Novembro de 2019. -
Um dos melhores exemplos de rebeldia crítica, do tipo que se estende por todo o fazer do filme: no roteiro aleatório, na inspiração de seus intérpretes, na produção maluca e na forma como isso pulsa na tela. Só não pulsa mais por conta do esmero de John Landis, o que ainda não sei se é bom ou ruim. Aliás, meu "sonho de princesa" depois que ficar rico é filmar seu roteiro de 320 páginas do modo que for, de filme em duas partes a série animada. Torçam por mim e me cobrem depois.
Rodrigo Torres | Em 12 de Novembro de 2019. -
Assim como Clint, Gray e Tarantino em seus trabalhos recentes, Almodóvar realiza um filme-testamento bonito, tão autobiográfico apesar de ficcional baseado em protagonistas supostamente terceiros, que se trata de uma reflexão intimista e afetuosa sobre si mesmo e sua obra. E o melhor de tudo: tanto Dor e Glória, como A Mula, Ad Astra e Era Uma Vez Em... Hollywood não se resumem a isso. Muito pelo contrário. Todos entre os filmes mais relevantes de 2019.
Rodrigo Torres | Em 11 de Novembro de 2019. -
A habilidade que sobra para costurar uma verdadeira trama, com um drama social rascante que corre com toda fluidez, finas tintas cômicas e set-pieces de suspense cruciantes (apesar de fundadas na comédia de erros), além de perfeita mise-en-scène, direção de atores, articulação e tensão de todos esses elementos e sensações narrativamente, falta no momento mais fácil: o de se encerrar. O final se alonga e a última cena é uma excrescência que subestima o espectador e a si. É o que faltou para o 10.
Rodrigo Torres | Em 06 de Novembro de 2019.