Lupas (806)
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A previsibilidade da história se soma à minha alta expectativa pelo filme (nunca produzira tanto material sobre um lançamento na vida) e deixa um certo amargo na boca. Um dia eu revejo e descubro se a culpa é minha ou, de fato, o filme se dedica demais às consequências de um desfecho que ele próprio antecipa. A caracterização rasa de um vilão que pouco ameaça também atrapalha. Darth Vader, assim, rouba a cena sem piedade.
Rodrigo Torres | Em 28 de Setembro de 2019.
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Jim Mickle se nutre de inspiração em Marcas da Violência e realiza um neo-noir competente, no qual a figura ambígua do detetive se transfere para a do pai de família pacífico em busca de uma vida dupla para preencher suas inseguranças como o protetor do lar, como homem. Há uma certa irregularidade nessa transição e aquela subtrama fetichista é um corpo absolutamente estranho no filme, que se sustenta no todo, em sua tensão permanente, para manter o fôlego até o fim apesar desses percalços.
Rodrigo Torres | Em 28 de Setembro de 2019.
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A sacanagem aqui é o desrespeito de seus detratores pelo que o filme é. Em assumir riscos e dar um passo adiante do que fora Flash Gordon há 80 anos, Rian Johnson investe seus personagens de camadas (como em desfazer o maniqueísmo de Luke) e atinge, assim, um nível de riqueza psicológica inédito na franquia. De quebra, filma as mais lindas imagens de toda a saga. Azar de quem não enxerga as qualidades desse filme — irregular na primeira metade e uma potência cinematográfica na segunda.
Rodrigo Torres | Em 24 de Setembro de 2019.
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J.J. Abrams não é só esperto, ou preguiçoso. O que ele faz — ao, basicamente, reproduzir o primeiro filme — beira a mais pura maldade. Na prática, O Despertar a Força é o que Uma Nova Esperança seria com atores melhores, mais bem dirigidos, com tecnologia de ponta e cenas de ação (lutas e naves) bem coreografadas. Zero em originalidade, dez (ou quinze) em execução.
Rodrigo Torres | Em 24 de Setembro de 2019.
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Um tipo de filme que eu adoro, capaz de te transportar para a época em que foi feito de modo a se blindar de quaisquer riscos de anacronia. Assim são os clássicos, e esse aqui não só é um, como uma joia subestimada da Nova Hollywood e — se não a melhor ideia, pois a mais modesta — o grande filme da vida de George Lucas.
Rodrigo Torres | Em 24 de Setembro de 2019.
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O formato tradicional e a própria natureza do material (tão comumentemente visto na televisão), que não é lá muito potente, impedem uma obra memorável. Porém, é um documentário extremamente competente em sua proposta. Envolvente, que é o principal em um filme. O clímax em particular é de fazer suas pelas mãos!
Rodrigo Torres | Em 18 de Setembro de 2019.
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Sobre um tempo musical, cultural e racial muito rico dos Estados Unidos. Pena que Darnell Martin invista, de forma episódica e um tanto quadrada, em meras pinceladas sobre os enormes talentos e personalidades da Chess Records. O resultado é satisfatório como um apanhado superficial de um momento mágico do blues americano, mas um tanto aquém de algumas lendas fundadoras do gênero. O filme só é particularmente infeliz no modo caricatural com que Mos Def interpreta Chuck Berry. No todo, bacana.
Rodrigo Torres | Em 18 de Setembro de 2019.
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Tudo que críticos (ou "críticos") ideólogos de direita dizem sobre KMF, ignorando por completo as qualidades de seu cinema por causa das pautas políticas que ele levanta, eu vejo aqui: um filme não sutil, mas carente, carente de cinema. Vide seu panfletarismo realçado sobre um entorno muito pobre em termos de dramaturgia e linguagem (bastante televisivas). Sou voto vencido: é nesse filme da competente Anna Muylaert que eu vejo uma fanfic de esquerda sobressalente à arte cinematográfica.
Rodrigo Torres | Em 18 de Setembro de 2019.
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Um drama de época contado fora de seu tempo, um homem perdido entre outras identidades, uma narrativa que se apropria com requinte do olhar onisciente de um escritor e que, como um bom contador de histórias, ele mesmo, o filme, ganha liga e potência ao se projetar como uma história com requintes literários e fortes nuances psicológicas.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019.
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O cinema autoral de Pawel Pawlikowski parte de sua característica mais óbvia — uma impecável fotografia em preto e branco — para construir obras de requinte em que tintas expressionistas ilustram, ambiguamente, o rigor e a beleza de sua terra natal: a Polônia, um país de muitos conflitos, muito sofrimento e muita resiliência. Essas bases se aliam a uma incrível capacidade de contar estórias para formar Guerra Fria: um romance dilacerante e maravilhoso.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019.
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Esperto, Hill simplesmente reúne boas e claras referências de sua juventude: a cultura de skate de LA, a linguagem visual dos clipes da época sobre o tema e os filmes de Larry Clark com tudo isso, jovens rebeldes e seus dramas pessoais. Que o diferencie do autor de Kids, o maior afeto com que retrata os personagens — afinal, foi um deles. Assim, estreia na direção com um típico coming of age tomado de nostalgia. Sempre correto em suas escolhas apesar de tímido, sem grande inspiração ou autoria.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019.
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Até que enfim, Lanthimos!! O cineasta grego enfim me cativa com seu cinema peculiar. A trilha sonora melindrada e as grandes angulares evocando perfeitamente a estranheza humana que ele gosta de explorar. E a misantropia de que ele é acusado, toda usada em prol da narrativa: o filme é gráfico, com direito a vísceras literalmente, mas é a sua dramaturgia fina que evoca esse aspecto, encenando com potência e ironia fatos reais sobre a fascinante relação de Ana da Inglaterra com suas "favoritas".
Rodrigo Torres | Em 12 de Setembro de 2019.