Lupas (800)
-
Sobre um tempo musical, cultural e racial muito rico dos Estados Unidos. Pena que Darnell Martin invista, de forma episódica e um tanto quadrada, em meras pinceladas sobre os enormes talentos e personalidades da Chess Records. O resultado é satisfatório como um apanhado superficial de um momento mágico do blues americano, mas um tanto aquém de algumas lendas fundadoras do gênero. O filme só é particularmente infeliz no modo caricatural com que Mos Def interpreta Chuck Berry. No todo, bacana.
Rodrigo Torres | Em 18 de Setembro de 2019. -
Tudo que críticos (ou "críticos") ideólogos de direita dizem sobre KMF, ignorando por completo as qualidades de seu cinema por causa das pautas políticas que ele levanta, eu vejo aqui: um filme não sutil, mas carente, carente de cinema. Vide seu panfletarismo realçado sobre um entorno muito pobre em termos de dramaturgia e linguagem (bastante televisivas). Sou voto vencido: é nesse filme da competente Anna Muylaert que eu vejo uma fanfic de esquerda sobressalente à arte cinematográfica.
Rodrigo Torres | Em 18 de Setembro de 2019. -
Um drama de época contado fora de seu tempo, um homem perdido entre outras identidades, uma narrativa que se apropria com requinte do olhar onisciente de um escritor e que, como um bom contador de histórias, ele mesmo, o filme, ganha liga e potência ao se projetar como uma história com requintes literários e fortes nuances psicológicas.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019. -
O cinema autoral de Pawel Pawlikowski parte de sua característica mais óbvia — uma impecável fotografia em preto e branco — para construir obras de requinte em que tintas expressionistas ilustram, ambiguamente, o rigor e a beleza de sua terra natal: a Polônia, um país de muitos conflitos, muito sofrimento e muita resiliência. Essas bases se aliam a uma incrível capacidade de contar estórias para formar Guerra Fria: um romance dilacerante e maravilhoso.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019. -
Esperto, Hill simplesmente reúne boas e claras referências de sua juventude: a cultura de skate de LA, a linguagem visual dos clipes da época sobre o tema e os filmes de Larry Clark com tudo isso, jovens rebeldes e seus dramas pessoais. Que o diferencie do autor de Kids, o maior afeto com que retrata os personagens — afinal, foi um deles. Assim, estreia na direção com um típico coming of age tomado de nostalgia. Sempre correto em suas escolhas apesar de tímido, sem grande inspiração ou autoria.
Rodrigo Torres | Em 16 de Setembro de 2019. -
Até que enfim, Lanthimos!! O cineasta grego enfim me cativa com seu cinema peculiar. A trilha sonora melindrada e as grandes angulares evocando perfeitamente a estranheza humana que ele gosta de explorar. E a misantropia de que ele é acusado, toda usada em prol da narrativa: o filme é gráfico, com direito a vísceras literalmente, mas é a sua dramaturgia fina que evoca esse aspecto, encenando com potência e ironia fatos reais sobre a fascinante relação de Ana da Inglaterra com suas "favoritas".
Rodrigo Torres | Em 12 de Setembro de 2019. -
O ato final, que adapta para o cinema o show mais clássico do Queen, no Live Aid de 1985, ilustra perfeitamente o que é o filme como um todo: um videoclipe insípido, sanitizado (no caso do desfecho, digitalizado em excesso), em que Freddie Mercury carece de emoção porque vivido por um avatar sem a sua visceralidade, que o imita, e só, com afetação. Como viram tanto em um filme que é tão pouco, insosso e manipulado?!
Rodrigo Torres | Em 12 de Setembro de 2019. -
Aquela linha tênue entre autoparódia e autoindulgência que é sempre difícil medir como cineasta e fica clara para o público. Apesar das boas ideias e atualização com o mundo depois de quase 15 anos (por quê?!?), definitivamente, uma sequência que não rolou.
Rodrigo Torres | Em 12 de Setembro de 2019. -
Cuarón flutua entre a rememoração nostálgica da infância no México dos anos 70, a encenação dos próprios dramas e contradições familiares e toda uma reflexão do entorno: as agruras daqueles à margem, a relação complexa e afetuosa entre mulheres de diferentes classes e raças, um país de profundos abismos sociais em plena ebulição. Tudo isso comunicado com absoluta inspiração narrativa; um aperfeiçoamento dos esforços visuais e técnicos de Gravidade e Filhos da Esperança. Obra-prima e ponto.
Rodrigo Torres | Em 11 de Setembro de 2019. -
Um avanço em relação a O Som ao Redor em termos visuais e de referências pop e cinematográficas. Em termos de discurso e narrativa, um tanto menos sofisticado que o filme de estreia de KMF. O principal exemplo disso é a evolução dos conflitos e diálogos — proposital, mas descuidadamente expositivos —, que assumem o papel de panfleto político e tiram a força cinematográfica, artística, do filme. Ainda assim, uma obra acima da média, envolvente, até mesmo divertida.
Rodrigo Torres | Em 10 de Setembro de 2019. -
Vejo evolução em alguns aspectos. Sua montagem e o realismo de sua violência gráfica, por exemplo, são impressionantes. Do mesmo modo, o mito em torno de John Wick segue em uma escalada interessante e o personagem parece ganhar poderes sobre-humanos — o que é muito bem apropriado pelo filme. Mas, pela primeira vez, e apesar de algumas cenas hipnotizantes, a franquia começa a apresentar sinais de desgaste.
Rodrigo Torres | Em 09 de Setembro de 2019. -
Eu entendi: a ideia é emular a estrutura do livro para usar a nostalgia e o elenco jovem do 1º filme, indo e vindo na narrativa por insuportáveis 2 horas de prisão no passado. A trama fica repetitiva, truncada, cheia de flashbacks gratuitos... E isso se estende para a forma preguiçosa com que se encena o horror, sem a preparação, atmosfera e inspiração de outrora, desperdiçando Pennywise e sua aura mitológica — que vira muleta para rumos, motivos e desfecho tediosos. Que decepção!
Rodrigo Torres | Em 03 de Setembro de 2019.