Os Melhores Filmes de 2024
20 joias que brilharam neste mundo em chamas
O mundo não vai bem. Líderes extremistas ameaçam a democracia dos seus países. Conflitos armados e frios acontecem em toda parte. Um estado genocida extermina mulheres, crianças, médicos e jornalistas aos olhos de todos, pois tem o apoio de nações imperialistas. Notícias falsas e autoverdade se justapõem aos fatos. Há uma semana, Mel Gibson negava o aquecimento global enquanto o fogo engolia sua casa. Los Angeles arde em chamas. David Lynch morreu.
Em meio a esse caos, o cinema vai "muito bem, obrigado". Todos nós, colaboradores do Cineplayers, agradecemos literalmente a cineastas de todo o mundo, contemplados nessa ótima lista, que indicia o bom momento atual da sétima arte. Não é coincidência. Tempos de crise são, historicamente, tempos em que a força criativa aflora nos homens e mulheres que fazem arte, e o cinema contemporâneo é prova disso.
A lista abaixo é bastante variada. Dramas tradicionais têm a companhia de dramas nada convencionais. Tem western revisionista, thriller psicológico, thriller ecológico (!), aventura distópica, comédia romântica subversiva e filme de Natal. Uma comédia sci-fi de terror gótico, outra de horror gore e um romance que nunca se consuma. Duas animações e dois filmes de tribunal — lá em cima! Em comum, todas essas obras tão diversas comunicam as perturbações do nosso tempo. Sejam os filmes contemporâneos, sejam os filmes de época.
E não é só variedade de gêneros cinematográficos que vemos nessas obras. Chama a atenção a quantidade e a força das protagonistas femininas que brilharam no último ano. O número de nacionalidades presentes no ranking também alegra: 20 países produzem os longas-metragens abaixo. Os cineastas representam 14 nacionalidades diferentes, uma amostragem ótima. São sete nascidos na Europa, cinco nos Estados Unidos, quatro na Ásia, um na Oceania e três na América do Sul, sendo um no Chile e dois no Brasil.
O especial Melhores Filmes de 2024 do Cineplayers contou com votos de críticos, redatores e usuários históricos do site, além de mulheres que fazem curadoria de festivais, escrevem para outros veículos, representam associações de crítica e pesquisam e vivem cinema — com paixão, todas. No final deste texto, você também encontra a metodologia usada para fechar esta lista, caso tenha curiosidade.
O cinema respira maravilhosamente, por isso este ranking (que a princípio reuniria 10 títulos) apresenta 20 ótimos longas-metragens lançados comercialmente no Brasil em 2024. Confira! E anote aqueles que ainda não tiver visto. Valerá a pena, eu garanto.
Bom 2025 e bons filmes!
Os Melhores Filmes de 2024
20. Here
Diretor: Bas Devos (Bélgica)
País: Bélgica
"Bas Devos é um artista generoso. Quando os créditos descem, ele atribui sua realização a todos que fizeram o filme junto com ele. É assim mesmo, o cinema é muito coletivo, mas sua atitude é rara e ainda mais sua gratidão, se real. Acho que sim, pois sinto isso ao longo do filme. Here (2023) transborda o afeto e o detalhe desse gesto nos créditos. Um filme lento. O protagonista precisa voltar para a terra natal, e fica contemplativo. O parque. A casa. A geladeira. Os legumes. O chão. A sopa. Bas Devos filma tudo nos mínimos detalhes."
Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe
19. O Quarto ao Lado
Diretor: Pedro Almodóvar (Espanha)
Países: Espanha e Estados Unidos
"O Quarto ao Lado é uma longa meditação sobre a morte, encarada em três chaves diferentes: como uma inevitabilidade que Martha (Tilda Swinton) decide encarar de frente, como fez ao longo de sua carreira como repórter de guerra, mas em seus termos; como algo ambíguo, haja vista a relação abusiva de Ingrid (Julianne Moore) com o tema, pelo qual sente fascínio e pavor na mesma medida; e como algo a ser prevenido, sim, como reflete o discurso e a personalidade de Damian Cunningham (John Turturro), um homem cheio de vida e tesão que palestra contra o fim do meio-ambiente."
Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe
18. Os Colonos
Diretor: Felipe Gálvez (Chile)
Países: Chile, Alemanha, Argentina, Dinamarca, França, Reino Unido, Suécia e Taiwan
250 pontos
"Sim, uma parte da História nunca antes apontada precisa ser reescrita, nem que seja pelo cinema, que proporciona uma catarse ao ressignificar a existência indígena. Com ferocidade estratégica, Os Colonos eleva uma personagem que se equivale aqui à Mollie feita por Lily Gladstone em Assassinos da Lua das Flores ao narrar uma trajetória que parece subserviente para, então, revelar-se cada vez mais senhora de suas decisões. Ao promover a existência de Kiepja a um ser que muda tudo que se pensa em uma atmosfera, e também redefine a própria, o diretor e toda a sua equipe têm consciência de que estão criando um ícone, que é outorgado no plano final, ao explodir o rosto da personagem de maneira frontal. Inesquecível."
Francisco Carbone, no Cenas de Cinema
17. Segredos de um Escândalo
Diretor: Todd Haynes (Estados Unidos)
País: Estados Unidos
"É possível compreender Segredos de um Escândalo já nos créditos iniciais, com aquele visual mofado. E isso ilustra a felicidade de Todd Haynes em começar do começo, no sentido de refletir sobre o projeto e basear toda a estética do filme em sua interpretação artística da história e dos seus personagens para, então, transformá-los em cinema. Em outras palavras, o diretor acerta em cheio ao ver um crime familiar bizarro ocorrido nos anos 1990 e contar essa história como um telefilme de melodrama e suspense que cansamos de ver no Supercine com o tom de sensacionalismo e fofoca dos programas de auditório vespertinos sobre casos de família."
Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe
16. Armadilha
Diretor: M. Night Shyamalan (Índia)
País: Estados Unidos
"Qual é, afinal, a moral dessa fábula às avessas?, podemos nos perguntar a cada reviravolta maluca. A resposta sugere Armadilha como o trabalho de Shyamalan mais próximo da obra de outro mestre, Brian De Palma. Não apenas como hábil construtor de imagens e narrativas, mas como dois autores que se debruçam filosoficamente sobre os mecanismos do cinema para pensar a presença dele no mundo. O sorriso do assassino no último plano denuncia: no centro da armadilha de Shyamalan está o próprio espectador, e tão delicioso quanto se aventurar pelo filme é observar as diferentes respostas dadas a ele."
Daniel Dalpizzolo, na edição #034 do Zinematógrafo
15. Robô Selvagem
Diretor: Chris Sanders (Estados Unidos)
País: Estados Unidos
"Não sou uma pessoa (ou um crítico de cinema) que me deixo convencer fácil por determinados temas; alguns, já têm minha desconfiança prévia, seja pela repetida utilização ou pela minha falta de conexão com a abordagem – na tela ou na vida. Maternidade é um desses, pois parece que todas as porções já foram mostradas, e seus lados investigados. Robô Selvagem, em muitos sentidos, é uma rasteira bem dada em quem estiver esperando algo formatado por Hollywood de uma maneira tradicional. Porque, acima de tudo, estamos acompanhando um universo tangenciado por um olhar sensível a respeito de algo muito comum, transformado de maneira fantástica."
Francisco Carbone, no Rota Cult
14. Os Rejeitados
Diretor: Alexander Payne
País: Estados Unidos
"Entrar em Os Rejeitados é como voltar ao passado, não exatamente vivenciado, mas que se tornou mais do que familiar e próximo justamente pelo cinema. Em seu novo filme, Alexander Payne resgata texturas, cores, ritmo e nos leva a lembranças de assinaturas queridas, mas sem jamais deixar de se fazer presente – no presente —, em afinidade temática, e em estilo. Há marcas nítidas de sua autoria, no tempo que dedica à história e, em especial, a cada um dos personagens que habitam aquele universo."
Cecília Barroso, no Cenas de Cinema
13. Furiosa: Uma Saga Mad Max
Diretor: George Miller (Austrália)
Países: Austrália e Estados Unidos
"Furiosa cumpre plenamente seus objetivos: enriquecer a protagonista e o universo ao seu redor — o que inclui outro personagem, o Dr. Dementes, vilão brutal e hilário que sedimenta a persona cinematográfica de Chris Hemsworth. Mas alguém discorda que o melhor do filme é resgatar o que já existia na saga? Eu acho, tanto quando emula o ritmo alucinado de Mad Max: Estrada da Fúria (2015) como quando faz referência ao primeiro Mad Max (1979), encarnando o protagonista original de Mel Gibson no ótimo Pretorian Jack (Tom Burke) ou conta como Furiosa perdeu o braço — de forma concreta e simbólica, do mapa perdido à semente de pêssego. Furiosa vai bem sempre que referencia e reverencia sua saga."
Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe
12. Pobres Criaturas
Diretor: Yorgos Lanthimos (Grécia)
Países: Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido
"O que determina a obra-prima de um cineasta? Ao meu ver, um filme que sintetize o cinema do diretor, reunindo suas principais marcas autorais, em um nível tal de amadurecimento que represente seu apogeu artístico. É com base nesse conceito que eu considero Pobres Criaturas (2023) a obra-prima de Yorgos Lanthimos. Tanto é assim que lá atrás, em Dente Canino (2009), eu via o cineasta mais como um provocador empenhado em gerar incômodo no espectador. Em Pobres Criaturas, eu vejo o cineasta brincar e convidar o público para se divertir junto com ele. Em 2009 ele fazia questão de gerar repulsa a esmo; em 2023, sem jamais recuar do seu cinema gráfico, bizarro e escatológico, ele faz um filme de comer com os olhos."
Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe
11. O Dia Que Te Conheci
Diretor: André Novais Oliveira (Brasil)
País: Brasil
"Da arte de saber exatamente o que filmar, que enfoque dar ao plano, e como conseguir sempre demonstrar renovação, ainda que esteja falando sobre o que tantas vezes já foi falado. Esse poderia ser um resumo honesto do que a Filmes de Plástico constantemente nos serve, sem conseguir nos fazer acostumar com a excelência constante, mas o quarteto mineiro não merece algo vazio assim, predicados soltos sem análise. O Dia que Te Conheci, o novo longa de André Novais Oliveira, estabelece então um novo parâmetro ao que a produtora já fazia anteriormente, e ao seu realizador uma ideia de sofisticação que não é uma inovação, mas exatamente um avanço. O caminho parece dúbio, demonstrando a um só tempo a serenidade que o talento moldou e a certeza de que uma evolução narrativa e estética é ainda mais evidente."
Francisco Carbone, no Cenas de Cinema
10. A Substância
Diretora: Coralie Fergeat (França)
Países: França, Estados Unidos e Reino Unido
"Dominando determinados cenários. Sorrisos exagerados. Ultra closes. O tesão pelo corpo. Pela carne. Bunda e peito. Peito e bunda. O verdadeiro filme da Barbie. Parte filmada que estampa Sue com o citado visual de comercial anos 80. Parte da Elizabeth é depressão e dor. O caos, cara dela tremida. A forma como as mulheres são tratadas por grandes corporações e como o senso comum do que é socialmente estabelecido lida com elas. O público é compelido a gostar daquilo a depender do quanto a propaganda massifica e esmaga por sobre suas cabeças, principalmente se os alvos forem pessoas cansadas de suas condições e busquem somente uma válvula de escape dalgum programa qualquer. Não há tempo para análises ou transformações de preferências. Vamos com a magrinha nova branca/rosada gostosinha da vez. Novas e velhas. Uma câmera passeando pelos corpos. Tesão. Poder. Nova casca? New shell. O desastre da vaidade e Demi mostrada sem ela, a perda dessa vaidade à força, não só pelo desejo, mas pela demonstração de finitude de um determinado corpo. Popularidade e solidão. O tempo. Só farra e esculhambação pra uma. Só depressão e comida para a outra. A vaidade tomando de conta. Sue saíra de dentro de Liz, e agora a suga. [...] Elizabeth é cada vez mais como uma monstruosidade. Uma criatura em metamorfose agora proposta com asco, com capuz amarelo e luvas, como uma assassina serial de um giallo italiano. E temos o overacting de várias maneiras. Com distorções dos corpos a fomentar isto, nos closes e em lentes grandes angulares expondo a deformidade das figuras, como ocorre com o chefe Dennis Quaid. Todos são esquisitos e fora de propósito. Irreais. Mas a intenção é jogar com isso. Com o absurdo que se estabeleça uma estratégia de interlocução através de uma farsa como crítica. Isso abre para o escopo da exageração. E que seja bem-vindo."
Ted Rafael, no Cineplayers
9. Vidas Passadas
Diretora: Justine Triet (Coreia do Sul)
Países: Coreia do Sul e Estados Unidos
"O título do filme tem sentido duplo. Vidas Passadas tanto vem a conversar sobre um tempo que já não é mais o presente, uma realidade que ficou no tempo que não existe mais, e também sobre o surgimento de novas possibilidades de existência, através de uma reestruturação do que o passado pode significar. Em todos os sentidos, os protagonistas do filme vivem em realidades que precisam reconduzi-los a um novo olhar para si mesmos, para que então possam voltar a amar também o outro."
Francisco Carbone, no Cenas de Cinema
8. Ferrari
Diretor: Michael Mann (Estados Unidos)
País: Estados Unidos
"Ferrari, CNPJ e CPF. Ou ainda: a persona forjada para o mundo do capital, o empresário impassível que gerencia sua marca de prestígio (persona construída com sabedoria e alguns milhares de dólares); e o homem por trás da imagem, o patriarca que se divide entre duas esposas e dois filhos, um deles fatalmente morto. Mann mergulha no registro dessa intimidade velada, em um filme de atmosfera densa e soturna, assombrada pelo luto e pela morte. Luto pelos que já morreram e pelos que ainda morrerão para que a empresa inscreva seu nome na história do capitalismo industrial. Não existe nada parecido nesta onda recente de filmes sobre marcas; uma obra cuja imagem-chave é a desse grande produto completamente destruído diante do rastro de sangue que deixou pelo caminho."
Daniel Dalpizzolo, no Letterboxd
7. O Menino e a Garça
Diretor: Hayao Miyazaki (Japão)
País: Japão
"Não é todo dia que escrevemos sobre um gênio pela primeira vez. Sem pedir licença a ninguém (nem aos resignados a uma vida sem paixão, como parecem ser grande parte dos meus colegas de profissão), não farei parte do coro dos descontentes: sem medo de parecer excessivo na fala, O Menino e a Garça é um dos maiores acontecimentos cinematográficos da temporada. E isso independe de ser dirigido por Hayao Miyazaki, ou só é possível porque estamos diante da melhor forma de um mestre. Depois de dois filmes – esses, sim – menores, não é para todos que se aceite conceber em seu crepúsculo um desvario tão extravagante sem jamais perder de vista sua identidade, sua história e sua experiência. Eu sei, é difícil conceber à contemporaneidade a concepção do histórico, do maior, mas há de se fazer humilde em reconhecer a magnificência quando presenciada."
Francisco Carbone, no Cenas de Cinema
6. Zona de Interesse
Diretor: Jonathan Glazer (Reino Unido)
Países: Reino Unido, Estados Unidos e Polônia
"Como o neonazismo é uma realidade do nosso tempo e a extrema-direita retoma posicionamentos análogos a essas práticas chocantes, o que está em foco, na verdade, é quase um jogo de reflexo; nós os vemos, e vice-versa. Para isso, parte da entrada do cenário, uma parede de vidro que não esconde a entrada da casa, é performática do todo – nada é coberto do espectador, tudo é devassado e será visto, por mais que guarde uma normalidade hedionda. Todas as ações são comuns, tudo é cotidiano e banal: a chegada de nova remessa de roupas “doadas”, um batom experimentado, o jardim florido que não esconde a produção de uma fumaça atrás. São generalizações mundanas, ressignificadas a partir de uma ótica grotesca que não precisa de comentário posterior; as coisas são simplesmente assim, e continuam sendo ainda hoje."
Francisco Carbone, no Cenas de Cinema
5. Ainda Estou Aqui
Diretor: Walter Salles (Brasil)
Países: Brasil e França
"Difícil um filme nacional abordar o período da ditadura militar sem cair em certos vícios que foram se acumulando sobre o tema ao longo dos anos em nosso cinema. Aquelas cenas chocantes de tortura, perseguição e barbárie dão lugar a algo muito mais sutil e eficiente em Ainda Estou Aqui (idem, 2024), que é o fantasma da ausência. Para muitos brasileiros, é isso que dói e que permanece de sequela até hoje: o não saber, estar fora de alcance do direito tão elementar de poder enterrar seus mortos."
Heitor Romero, no Cineplayers
4. Dias Perfeitos
Diretor: Wim Wenders (Alemanha)
Países: Alemanha e Japão
"O que pode haver de interessante em acompanhar o dia a dia de um trabalhador comum numa cidade qualquer? Em Dias Perfeitos, Wim Wenders vai até o Japão se encontrar com Ozu no território de seu mestre para aprender desse cinema de contemplação de rotina, no qual todos os dias parecem iguais, mas no detalhe da sensibilidade de seu olhar se mostram singulares. As sombras das folhas das árvores nunca formam os mesmos desenhos, não importa quantas vezes você fotografe a mesma paisagem. No cinema de Wenders, a fotografia, aquilo que está no frame, é uma captura de realidade que jamais poderá ser retomada, é um objeto de instantânea ultrapassagem, um momento vivo que perde o movimento da vida e se estagna na imobilidade morta. As passagens em preto e branco que mostram a mente do personagem processando as imagens que capturou ao longo do dia ditam bem essa ideia, do presente virando passado, do agora virando memória. Esse personagem também se percebe passageiro, cada dia mais próximo do fim, cada dia mais passado que presente, incapaz de entender a tecnologia digital e a forma de interagir com o mundo das gerações mais novas. Muito diferente do que leituras rasas apontaram, este filme não é uma emulação do cinema de Ozu, mas uma sobreposição dos dois cinemas. Ozu fazia obras regionalistas, tratava da sua cultura, da compreensão de mundo a partir do entendimento de sua própria origem. Wenders, por outro lado, é andarilho, criado nos filmes de estrada, procurando pertencimento sem nunca conseguir criar raízes. Ele consegue conjugar na narrativa de seu protagonista uma conciliação entre esses dois opostos: embora frequentando sempre os mesmos lugares dentro de sua cidade, ele não para nunca de se deslocar — é a lógica de um filme de estrada, mas sem que haja transição geográfica."
Heitor Romero
3. O Mal Não Existe
Diretor: Ryusuke Hamaguchi (Japão)
País: Japão
O mal não existe explora menos a oposição entre o Bem e o Mal – se o Mal não existe, existirá o Bem? -, mas sim outra dicotomia, intimamente ligada aos valores orientais, entre equilíbrio e desequilíbrio – como destaca o próprio protagonista em uma das discussões da comunidade com os empreendedores cosmopolitas, as cenas mais diretas do filme, e que introduzem elementos discursivos que ajudam a ler as cenas mais abstratas e sugestivas. Se é o desequilíbrio provocado pelo capital que transforma a realidade das personagens, entretanto, Hamaguchi não poderia ser mais feliz ao abordar um tema tão relevante: alheio aos vícios do cinema contemporâneo de pautas sérias, preocupado em provocar os sentidos com pura potência estética.
Daniel Dalpizzolo, na edição #034 do Zinematógrafo
2. Jurado Nº 2
Diretor: Clint Eastwood (Estados Unidos)
País: Estados Unidos
"Incrível o poder que o plano/contra-plano possui na mão de um cineasta que sabe o que faz. Aquela conversa no banco em frente à estátua da deusa da justiça Têmis é desde já um dos momentos mais absurdos da filmografia do Clint Eastwood, que, sem esforço algum, amplia todo o debate sobre justiça, verdade, inocência e culpa da narrativa sem impor suas verdades ao filme ou ao espectador."
Pedro Lubschinski, no Letterboxd
1. Anatomia de uma Queda
Diretora: Justine Triet (França)
País: França
"Um corpo na neve e toda a situação de angústia que circunda essa descoberta. O filho que se desespera, a mãe que vem em seu socorro. O que aconteceu, não se sabe. A diretora Jaqueline Triet criara um ambiente de ansiedade para o momento, mas sem ser clara. Em várias cortes acompanhamos o que parece ser um dia normal na vida da família. Dos que se mostram, o cotidiano lidar com um cachorro, preparar-se para o passeio matinal, ou a ocasional tentativa frustrada de uma entrevista. Dos que não se podem ver, citações e a interferência musical cada vez mais opressora. Tudo é milimetricamente calculado em Anatomia de uma Queda."
Cecília Barroso, no Cenas de Cinema
Listas individuais
Ana Carolina Garcia
"Elencar um top 10 nunca é fácil, sobretudo num ano em que o circuito exibidor brasileiro recebeu títulos tão diversos, produzidos com esmero. Dentre eles, dois de extrema relevância histórica, Ainda Estou Aqui e Zona de Interesse, que revisitaram o passado para mostrar às novas gerações que a humanidade não pode repetir os mesmos erros no presente nem no futuro."
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
- Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
- A Substância, de Coralie Fargeat
- Os Rejeitados, de Alexander Payne
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
- Divertida Mente 2, de Kelsey Mann
- Deadpool & Wolverine, de Shawn Levy
- Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
Ana Carolina Garcia é vice-presidente da ACCRJ e autora dos livros 100 Anos do Império Disney (2023) e Cinema no século XXI - Modelo tradicional na Era do Streaming (2021) e A Fantástica Fábrica de Filmes (2011).
Cecília Barroso
"Histórias que se contam, verdades que se criam. Entre determinação de culpa, incomunicabilidade, romances e delírios, 2024 foi um ano marcado pelo poder das palavras. A manipulação da verdade, por todos e para todos, é o que move o maior destaque da temporada. Move também a criação fantasiosa de mentes sedentas em um universo banal, assim como atiça o medo manipulador em realidades inseguras, ou cria realidades que precisam ser reveladas anos depois por meio de memórias familiares revisitadas. Há ainda histórias de relações eternas por sua natureza. Outras perduram após o fim, eternas pela grandeza do imaginário, sempre sob a pressão do não realizado. E há aquelas que têm na identificação a sua maior força. Que ano!"
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
- O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
- Trenque Lauquen, de Laura Citarella
- Não Espere Muito do Fim do Mundo, de Radu Jude
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Malu, de Pedro Freire
- Rivais, de Luca Guadagnino
- Estranho Caminho, de Guto Parente
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
Cecília Barroso é votante do Globo de Ouro, faz parte da Abraccine, Critics Choice Association, Online Film Critics Society e Elviras, editora do Cenas de Cinema e apresentadora do programa Oscarverso.
Daniel Dalpizzolo
"Lista formada por diferentes gerações de cineastas, com realizadores históricos apresentando filmes cheios de frescor (Eastwood, Almodóvar, Haynes, Moretti, Bellocchio, Mann), enquanto outros nas faixas dos 40 e 50 anos de idade se consolidam com algumas de suas obras mais maduras até aqui (Oliveira, Citarella, Shyamalan, Hamaguchi). Artistas que pensam o mundo em toda sua complexidade (Eastwood, Moretti, Bellocchio, Hamaguchi), que observam a igualmente complexa existência humana (Oliveira, Almodóvar, Mann), que fabulam a ficção e a necessidade intrínseca dela para se viver nesse mundo (Shyamalan, Citarella, Haynes)."
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- Armadilha, de M. Night Shyamalan
- Trenque Lauquen, de Laura Citarella
- Ferrari, de Michael Mann
- O Sequestro do Papa, de Marco Bellocchio
- O Melhor Está por Vir, de Nanni Moretti
- Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
- O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
- O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
Daniel Dalpizzolo é membro da Abraccine, fundador da Multiplot!, crítico do Zinematógrafo e mantém o blog Stage Fright.
Eduardo da Conceição
"Vi poucos filmes de 2024, pois os lançamentos não me atraíram tanto. Dessa lista, apenas os cinco primeiros me marcaram de verdade. Entre os que ainda vão estrear, tem três que eu recomendo bastante: A Semente do Fruto Sagrado, Bramayugam e Nosferatu."
- O Aprendiz, de Ali Abbasi
- Um Homem Diferente, de Aaron Schimberg
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- O Homem dos Sonhos, de Kristoffer Borgli
- Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
- Priscilla, de Sofia Coppola
- Fúria Primitiva, de Dev Patel
- Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
- Infestação, de Sébastien Vanicek
- Loves Lies Bleeding: O Amor Sangra, de Rose Glass
Eduardo da Conceição é cineasta e motion designer que no tempo livre dá notinha no Letterboxd.
Francisco Bandeira
"Lista difícil de fazer. Não assisto muitos lançamentos hoje em dia por falta de tempo e o medo de ter a sensação de "tempo perdido". Meu filme preferido do ano se deve muito ao fato de ser um fã confesso do cinema do Eastwood e por Jurado Nº 2 remeter a dois filmes seus de que eu gosto bastante: O Caso Richard Jewell (2019) e Crime Verdadeiro (1999). Típico filme do veterano: dilemas morais em meio a observação do ser humano e da sociedade humana como um todo."
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
- O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
- As Aventuras de uma Francesa, de Hong Sang-soo
- O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- Armadilha, de M. Night Shyamalan
- O Melhor Está por Vir, de Nanni Moretti
- Ferrari, de Michael Mann
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Os Rejeitados, de Alexander Payne
Francisco Bandeira é um louco cujo hobby é ser cinéfilo e opinar sobre filmes por pura teimosia.
Francisco Carbone
"Quando penso nesta lista, eu vejo um tanto de diversidade de países, de línguas, de abordagens, de escolas. Ao mesmo tempo em que isso não é proposital, também reflete um gosto pessoal que tem se afastado de uma manufatura mais tradicional, que aí está resumida exclusivamente no título de Clint Eastwood — e que, ainda assim, seu último filme abraça uma direção menos óbvia, e mais cercada de possibilidades de camadas imagéticas, de comunicação visual. São escolhas que refletem o tanto de diverso que o cinema tem apresentado, como também um recorte de minha cinefilia. De um romance de formação geográfica até experimentações de gênero, passando por uma animação sem diálogos até incorporações do feminino através de suas realizadoras e suas militâncias (explícitas ou não), sem querer eu tenho uma lista cuja representatividade é reflexo de um cinema de identidade global e sensações universais."
- Os Colonos, de Felipe Gálvez
- Here, de Bas Devos
- A Substância, de Coralie Fargeat
- Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
- MaXXXine, de Ti West
- O Sabor da Vida, de Tran Ahn Hung
- Anatomia de uma Queda, de Justine Triet
- Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
- Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
Francisco Carbone é membro da Abraccine, ACCRJ e APCA e comentarista do (ótimo) podcast Rumo ao Oscar.
Heitor Romero
"Meus preferidos de 2024 estão encabeçados por um trio de veteranos que moldou meu gosto pelo cinema (Wenders, Miyazaki e Eastwood) mostrando que ainda têm muita lenha pra queimar, seguidos de alguns outros recorrentes entre os que mais amo acompanhar de perto (Mann, Haynes e Sofia Coppola) e alguns novos que vejo potencial e nunca escapam do meu radar (Guadagnino, Novais, Hamaguchi). Ali no meio, uma diretora desconhecida de mim com um filme intrigante (Anatomia de uma Queda) para completar a lista, pois é preciso sempre o espaço da novidade para me manter estimulado a expandir e aprender."
- Dias Perfeitos, de Wim Wenders
- O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
- Jurado N° 2, de Clint Eastwood
- Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
- Priscilla, de Sofia Coppola
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Ferrari, de Michael Mann
- O Dia que te Conheci, de André Novais Oliveira
- Rivais, de Luca Guadagnino
Heitor Romero é um apaixonado pelo cinema clássico, por influência dos avós, que passou a adolescência desbravando videolocadoras. Hoje coleciona mídias físicas e colabora para a Versátil Home Vídeo. E ama Wim Wenders.
Igor Guimarães
"Fazer listas de fim de ano é ao mesmo tempo prazeroso e angustiante. 2024 foi um ano de muita coisa boa, com muitos cineastas que tiveram obras destacadas alguns anos atrás voltando com filmes interessantes. Ainda que o advento dos streamings tenha deixado o grosso da produção ainda mais pasteurizada, tanto cineastas brasileiros como estrangeiros se desafiaram a superar a mesmice e 2024 foi, sem dúvida nenhuma, um grande ano nesse aspecto. 2025 também promete. Estejamos atentos!"
- Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos
- O Dia que te Conheci, de André Novais Oliveira
- Dias Perfeitos, de Wim Wenders
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Ervas Secas, de Nuri Bilge Ceylan
- Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- Divertida Mente 2, de Kelsey Mann
- Fechar os Olhos, de Victor Erice
- Não Espere Muito do Fim do Mundo, de Radu Jude
Igor Guimarães é escritor, professor, fotógrafo e crítico de cinema — e atualmente paga tudo isso com consultorias de comunicação.
Marcelo Queiroz
"O ano de 2024 foi de poucos filmes assistidos por mim. No entanto, alguns filmes dessa pequena amostragem chamaram a atenção com um brilho destacável. Seja por tocarem fundo no emocional, como no caso da belíssima animação Robô Selvagem (que, confesso, me fez chorar bastante), seja por suscitarem ricas discussões pós-sessão, a exemplo do que Jurado Nº 2 foi capaz de proporcionar a partir dessa força motriz nonagenária chamada Clint Eastwood. Nesse entremeio, destaco também o quanto Ferrari me deixou extasiado, ao apresentar-se como essa cinebiografia consistente em sua narrativa e esteticamente marcante, graças à mão firme e de artesão que Michael Mann possui e com a qual esculpiu notável filmografia. Por fim, como colocar em palavras o que senti ao final de O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi? Um misto de emoções eclode pra dar fim ao minucioso e elegante trabalho de decupagem desse hábil cineasta japonês, aqui voltado às preocupações ambientais e à temática do homem em contato com a natureza."
- Robô Selvagem, de Chris Sanders
- Ferrari, de Michael Mann
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
- Priscilla, de Sofia Coppola
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
- Assassino por Acaso, de Richard Linklater
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Dias Perfeitos, de Wim Wenders
Marcelo Queiroz é graduando em Direito e um apaixonado por cinema — arte por ele encarada como uma oportunidade de viajar para vários universos. A escrita é igualmente uma paixão.
Mariana Otoni
"Não sei como o 2024 de muitos se deu. O meu veio recheado de lutos: primeiro, perdi a minha avó logo nos primeiros meses do ano. Em seguida, fui desligada da empresa à qual me dediquei 12 anos e 6 meses. Assim morreu um pouco e muito do que eu fui — ou achei que fosse. Como os livros, os filmes têm sido grande aliados em momentos de reconstrução pessoal. E, confesso, muito mais que os livros, o hábito de ver filmes e ir ao cinema (religiosamente toda semana) foi uma terapia. Por isso, buscar enumerar dez filmes que mais me chamaram atenção, despertando impressões e sentimentos vários, não foi tarefa fácil – admito. Mas escolhi cada um desses por me fazerem refletir, chorar, rir e ter sempre algo além para pensar e opinar. Somado a esta pequena lista, gostaria de mencionar outros três filmes que me chamaram atenção, por questões específicas, e não puderam entrar na lista: a brilhante atuação de Daniel Craig em Queer; a sutileza de uma certa idade nos golpes do Woody Allen; e a fotografia, trilha sonora e as atuações de Zona de Interesse, nos lembrando que a vida presta e que não há mais espaço para vilezas."
- A Grande Fuga, de Oliver Parker
- Pequenas Cartas Obscenas, de Thea Sharrock
- O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
- Uma Vida - A História de Nicholas Winton, de James Hawes
- Todos Nós Desconhecidos, de Andrew Haigh
- A Substância, de Coralie Fargeat
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
- Rivais, de Luca Guadagnino
- Pacto de Redenção, de Michael Keaton
- Wicked, de John M. Chu
Mariana Otoni é professora, cinéfila e a pessoa que eu mais foi vista nos cinemas de Botafogo em 2024.
Pedro Lubschinski
"Mesclar musical e filme de “herói”; abraçar o gore e o body horror no típico filme de arte com mensagem; zombar da onda dos multiversos enquanto o expande através da piada; e até, vejam só, voltar a exibir o mínimo de tesão em Hollywood. Ao longo de 2024, o cinemão buscou várias formas — algumas com sucesso, outras nem tanto — de contornar uma visível falta de criatividade que reina nos lançamentos. Ironicamente o grande filme do ano é a soma de um roteiro redondinho, atores em seus melhores momentos e um cineasta veterano que sabe como ninguém a força de um plano/contraplano bem filmado. Um filme que, por outra ironia, não encontrou seu espaço nas salas de cinema e foi relegado ao streaming."
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
- A Substância, de Coralie Fargeat
- Armadilha, de M. Night Shyamalan
- Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
- Garra de Ferro, de Sean Durkin
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- O Mal Que Nos Habita, de Demián Rugna
- Ferrari, de Michael Mann
- Divertida Mente 2, de Pete Docter e Kelsey Mann
Pedro Lubschinski é professor e perde mais tempo do que deveria vendo filmes.
Régis Trigo
"2024 foi um ano dividido entre filmes, séries, meus filhos e um novo pet (nome: ÓSCAR, me julguem). No inventário do final do ano, me surpreendeu a quantidade de filmes "mais ou menos" que apareceu no meu Letterboxd. Ainda assim, consegui pinçar algumas coisas bem boas pelo caminho, que seriam suficientes para uma lista de top 15 ou 20. Não acho que nenhum desses títulos vai entrar pra história e talvez eu me espante com algumas dessas escolhas daqui a alguns anos. Mas são bons filmes que, para o meu gosto particular, mexeram comigo de uma forma ou de outra e saíram da mesmice do cinema atual. Dito isso, seguem aí os meus 10 preferidos no exato momento em que elaborei a lista (se refletir sobre ela, periga eu mudar alguma coisa)."
- Robô Selvagem, de Chris Sanders
- Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
- Dias Perfeitos, de Wim Wenders
- Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
- Duna: Parte 2, de Denis Villeneuve
- Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Os Rejeitados, de Alexander Payne
- Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
- A Substância, de Coralie Fargeat
Régis Trigo é pai, advogado, cinéfilo e crítico de cinema – exatamente nesta ordem.
Rodrigo Torres
"Eu gostei tanto do cinema em 2024 que montei uma lista preliminar com 30 filmes, tendo eliminado títulos ótimos no processo. De quebra, este ano supriu uma carência particular: dos bons filmes de suspense, até mais puros e tradicionais, como aqueles que eu cresci vendo no Supercine. Tanto que (meio que burlando as regras que eu mesmo estipulei) me sinto na obrigação de mencionar três filmes que não entraram na lista final: Armadilha, filme de assassino frontal no qual M. Night Shyamalan, em vez de apelar (exclusivamente) ao medo e tensão, convida o espectador a se divertir seguindo de perto seu protagonista doentio, um dos melhores de sua filmografia; o thriller policial Longlegs, que alia muito bem o velho e o novo, referenciando O Silêncio dos Inocentes (1991), com toques de Se7en (1995) e elementos do cinema de terror contemporâneo, como o sobrenatural, a fantasia e uma protagonista atormentada; e Roma em Chamas, pela maneira extraordinária com que evoca seus temas (o calor, a falta de luz e a falência social da capital italiana) e pela minha cena preferida de 2024: lasers vermelhos cortam o breu após uma troca de tiros secos num quarto escuro."
- Dias Perfeitos, de Wim Wenders
- Here, de Bas Devos
- Os Colonos, de Felipe Gálvez
- O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
- O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
- O Sabor da Vida, de Tran Ahn Hung
- Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
- Roma em Chamas, de Stefano Sollima
Rodrigo Torres é redator, professor, membro da Abraccine e editor da Revista Cine Cafe e desta lista imensa da qual o ChatGPT se negou a contar os votos.
Silvio Pilau
"É muito, muito fácil cair nas armadilhas dos clichês sobre o estado atual do cinema. 'Não se faz mais filme como antigamente', 'Acabou a originalidade' e 'Tudo é sequência ou franquia para lucrar mais fácil' são algumas das frases óbvias que, com mais frequência do que deveria, vemos ou lemos por aí proferidas por supostos entendedores do meio. Tudo bem, ninguém seria tolo de questionar o fundo de verdade em cada uma dessas afirmações, mas, de vez em quando, é bom parar um pouquinho e refletir antes de sair regurgitando opiniões alheias. Quando conseguimos fazer isso, dá para ver que o cenário está longe de ser desesperador. Ainda há boas histórias sendo contadas, ainda há cineastas (novos e antigos) que mantêm viva a ambição narrativa e há – pasmem! – inclusive continuações que se revelam ótimos filmes. Esse é o mais importante de fazer listas como essas de melhores do ano: a revisitação nos traz de volta à memória muito que já havíamos esquecido, e somos capazes de perceber que, mesmo que haja bastante porcaria durante o ano, ainda há também muita coisa interessante sendo realizada para justificar a chama que mantém viva a nossa paixão pelo cinema."
- Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
- Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
- Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
- Alien: Romulus, de Fede Alvarez
- As Três Filhas, de Azazel Jacobs
- Sorria 2, de Parker Finn
- Herege, de Scott Beck e Bryan Woods
- Duna: Parte 2, de Denis Villeneuve
Silvio Pilau é publicitário por formação, cinéfilo por paixão e escritor e crítico de cinema por invenção. Foi membro da ACCIRS, autor do livro Como Ser um Idiota (2016) e participou de diversas antologias de contos e crônicas.
Ted Rafael
"2024 segue a massificação cansativa de franquias e filmes independentes que padecem de uma criatividade mais voraz por se manterem preocupados com determinadas pautas – algumas de grande vulto político, outras tantas que acabam sendo prostituídas. Então, almejei uma listagem que não primasse por um padrão estrito, com as obras que menos me encheram o saco e algumas que foram escrotas o suficiente para me causar qualquer porra de sentimento que fosse. Daí não fujo de franquias – contradição minha – ou de estruturações de risco de diretores consagrados. O truque foi buscar filmes de gêneros diversos que tenham tido algum esquema de tesão. Obviamente abracei mais o terror. Mas esse crivo escolhido como regra para a escolha da lista me leva a outra questão intrigante: a falta de possibilidade de lançamento do Brasil de filmes menores que perambulam outras janelas. Algo que contemplei em festivais, onde vejo possibilidades de existência de filmes fodas que não terão vez no gargalo de distribuição nacional. Por exemplo, o curta-metragem mexicano Nocturna, de Pablo Olmos Arrayales —um filme de vampiro altamente estiloso e invocado que é provavelmente a melhor obra que eu vi em 2024. Além de alguns longas que também não ganharam vez e talvez nem ganhem, como Párvulos, de Isaac Ezban. A mesmice mercantilista nos consome e eu, contraditório que sou, participo da mesma sendo obrigado ou não. Mas fica aí minha inútil perturbação."
- Terrifier 3, de Damien Leone
- O Mal que nos Habita, de Demián Rugna
- Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
- Megalópolis, de Francis Ford Coppola
- Ferrari, de Michael Mann
- Longlegs - Vínculo Mortal, de Osgood Perkins
- Alien: Romulus, de Fede Alvarez
- O Jogo da Morte, de Alaa Morsi
- Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
- Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
Ted Rafael é cineasta e crítico de cinema com hiperfoco em filmes de terror e está chorando até agora por causa das regras da lista.
Yasmine Conceição
"A lista e as menções adiantes são compostas de filmes que por algum motivo me provocaram algum tipo de euforia. Não se apeguem à ordem da lista, os filmes citados (sim, as menções também) convivem em minha preferência em uma estrutura horizontal, cada um se destacando por um aspecto particular, bem como pelo afeto movido na relação que construí com eles. 2024 foi um ano em que histórias que envolviam aventura, ação e suspensão da descrença foram as que mais me atraíram e me fizeram ficar pensando e repensando. Nesse sentido, destaco O Menino e a Garça, Jigarthanda DoubleX, O Homem dos Sonhos, A Substância, Megalópolis e O Amor Sangra."
- O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
- Os Rejeitados, de Alexander Payne
- Assassino por Acaso, de Richard Linklater
- Jigarthanda DoubleX, de Karthik Subbaraj
- O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
- Vidas Passadas, de Celine Song
- Anatomia de uma Queda, de Justine Triet
- Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia
- The Killer, de John Woo
- O Homem dos Sonhos, de Kristoffer Borgli
Menções honrosas:
- Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
- A Sala dos Professores, de Ilker Çatak
- Pisque Duas Vezes, de Zoë Kravitz
- Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos
- Prisão nos Andes, de Felipe Carmona
- A Substância, de Coralie Fergeat
- Megalópolis, de Francis Ford Coppola
- Love Lies Bleeding - O Amor Sangra, de Rose Glass
Yasmine Conceição é membro da Abraccine, votante do Globo de Ouro, podcaster e curadora de festivais, como o Sinistro Fest.
Pontuação
- lugar: 150 pontos
- lugar: 120 pontos
- lugar: 100 pontos
- lugar: 80 pontos
- lugar: 75 pontos
- lugar: 70 pontos
- lugar: 65 pontos
- lugar: 60 pontos
- lugar: 55 pontos
- lugar 50 pontos
Regras
- Somente longas lançados comercialmente no Brasil em 2024, nos cinemas ou streaming.
- Nos casos de empate, prevaleceu o filme que apareceu mais vezes nas listas individuais.