Saltar para o conteúdo

Artigos

Os Melhores Filmes de 2024

melhores filmes de 2024 - imagem de capa

20 joias que brilharam neste mundo em chamas

O mundo não vai bem. Líderes extremistas ameaçam a democracia dos seus países. Conflitos armados e frios acontecem em toda parte. Um estado genocida extermina mulheres, crianças, médicos e jornalistas aos olhos de todos, pois tem o apoio de nações imperialistas. Notícias falsas e autoverdade se justapõem aos fatos. Há uma semana, Mel Gibson negava o aquecimento global enquanto o fogo engolia sua casa. Los Angeles arde em chamas. David Lynch morreu.

Em meio a esse caos, o cinema vai "muito bem, obrigado". Todos nós, colaboradores do Cineplayers, agradecemos literalmente a cineastas de todo o mundo, contemplados nessa ótima lista, que indicia o bom momento atual da sétima arte. Não é coincidência. Tempos de crise são, historicamente, tempos em que a força criativa aflora nos homens e mulheres que fazem arte, e o cinema contemporâneo é prova disso.

melhores filmes de 2024 - sunset boulevard em chamas

A lista abaixo é bastante variada. Dramas tradicionais têm a companhia de dramas nada convencionais. Tem western revisionista, thriller psicológico, thriller ecológico (!), aventura distópica, comédia romântica subversiva e filme de Natal. Uma comédia sci-fi de terror gótico, outra de horror gore e um romance que nunca se consuma. Duas animações e dois filmes de tribunal — lá em cima! Em comum, todas essas obras tão diversas comunicam as perturbações do nosso tempo. Sejam os filmes contemporâneos, sejam os filmes de época.

E não é só variedade de gêneros cinematográficos que vemos nessas obras. Chama a atenção a quantidade e a força das protagonistas femininas que brilharam no último ano. O número de nacionalidades presentes no ranking também alegra: 20 países produzem os longas-metragens abaixo. Os cineastas representam 14 nacionalidades diferentes, uma amostragem ótima. São sete nascidos na Europa, cinco nos Estados Unidos, quatro na Ásia, um na Oceania e três na América do Sul, sendo um no Chile e dois no Brasil.

melhores filmes de 2024 - david lynch

O especial Melhores Filmes de 2024 do Cineplayers contou com votos de críticos, redatores e usuários históricos do site, além de mulheres que fazem curadoria de festivais, escrevem para outros veículos, representam associações de crítica e pesquisam e vivem cinema — com paixão, todas. No final deste texto, você também encontra a metodologia usada para fechar esta lista, caso tenha curiosidade.

O cinema respira maravilhosamente, por isso este ranking (que a princípio reuniria 10 títulos) apresenta 20 ótimos longas-metragens lançados comercialmente no Brasil em 2024. Confira! E anote aqueles que ainda não tiver visto. Valerá a pena, eu garanto.

Bom 2025 e bons filmes!


Os Melhores Filmes de 2024

20. Here

Diretor: Bas Devos (Bélgica)
País: Bélgica

"Bas Devos é um artista generoso. Quando os créditos descem, ele atribui sua realização a todos que fizeram o filme junto com ele. É assim mesmo, o cinema é muito coletivo, mas sua atitude é rara e ainda mais sua gratidão, se real. Acho que sim, pois sinto isso ao longo do filme. Here (2023) transborda o afeto e o detalhe desse gesto nos créditos. Um filme lento. O protagonista precisa voltar para a terra natal, e fica contemplativo. O parque. A casa. A geladeira. Os legumes. O chão. A sopa. Bas Devos filma tudo nos mínimos detalhes."

Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe


19. O Quarto ao Lado

Diretor: Pedro Almodóvar (Espanha)
Países: Espanha e Estados Unidos

"O Quarto ao Lado é uma longa meditação sobre a morte, encarada em três chaves diferentes: como uma inevitabilidade que Martha (Tilda Swinton) decide encarar de frente, como fez ao longo de sua carreira como repórter de guerra, mas em seus termos; como algo ambíguo, haja vista a relação abusiva de Ingrid (Julianne Moore) com o tema, pelo qual sente fascínio e pavor na mesma medida; e como algo a ser prevenido, sim, como reflete o discurso e a personalidade de Damian Cunningham (John Turturro), um homem cheio de vida e tesão que palestra contra o fim do meio-ambiente."

Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe


18. Os Colonos

Diretor: Felipe Gálvez (Chile)
Países: Chile, Alemanha, Argentina, Dinamarca, França, Reino Unido, Suécia e Taiwan
250 pontos

"Sim, uma parte da História nunca antes apontada precisa ser reescrita, nem que seja pelo cinema, que proporciona uma catarse ao ressignificar a existência indígena. Com ferocidade estratégica, Os Colonos eleva uma personagem que se equivale aqui à Mollie feita por Lily Gladstone em Assassinos da Lua das Flores ao narrar uma trajetória que parece subserviente para, então, revelar-se cada vez mais senhora de suas decisões. Ao promover a existência de Kiepja a um ser que muda tudo que se pensa em uma atmosfera, e também redefine a própria, o diretor e toda a sua equipe têm consciência de que estão criando um ícone, que é outorgado no plano final, ao explodir o rosto da personagem de maneira frontal. Inesquecível."

Francisco Carbone, no Cenas de Cinema


17. Segredos de um Escândalo

Diretor: Todd Haynes (Estados Unidos)
País: Estados Unidos

"É possível compreender Segredos de um Escândalo já nos créditos iniciais, com aquele visual mofado. E isso ilustra a felicidade de Todd Haynes em começar do começo, no sentido de refletir sobre o projeto e basear toda a estética do filme em sua interpretação artística da história e dos seus personagens para, então, transformá-los em cinema. Em outras palavras, o diretor acerta em cheio ao ver um crime familiar bizarro ocorrido nos anos 1990 e contar essa história como um telefilme de melodrama e suspense que cansamos de ver no Supercine com o tom de sensacionalismo e fofoca dos programas de auditório vespertinos sobre casos de família."

Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe


16. Armadilha

Diretor: M. Night Shyamalan (Índia)
País: Estados Unidos

"Qual é, afinal, a moral dessa fábula às avessas?, podemos nos perguntar a cada reviravolta maluca. A resposta sugere Armadilha como o trabalho de Shyamalan mais próximo da obra de outro mestre, Brian De Palma. Não apenas como hábil construtor de imagens e narrativas, mas como dois autores que se debruçam filosoficamente sobre os mecanismos do cinema para pensar a presença dele no mundo. O sorriso do assassino no último plano denuncia: no centro da armadilha de Shyamalan está o próprio espectador, e tão delicioso quanto se aventurar pelo filme é observar as diferentes respostas dadas a ele."

Daniel Dalpizzolo, na edição #034 do Zinematógrafo


15. Robô Selvagem

Diretor: Chris Sanders (Estados Unidos)
País: Estados Unidos

"Não sou uma pessoa (ou um crítico de cinema) que me deixo convencer fácil por determinados temas; alguns, já têm minha desconfiança prévia, seja pela repetida utilização ou pela minha falta de conexão com a abordagem – na tela ou na vida. Maternidade é um desses, pois parece que todas as porções já foram mostradas, e seus lados investigados. Robô Selvagem, em muitos sentidos, é uma rasteira bem dada em quem estiver esperando algo formatado por Hollywood de uma maneira tradicional. Porque, acima de tudo, estamos acompanhando um universo tangenciado por um olhar sensível a respeito de algo muito comum, transformado de maneira fantástica."

Francisco Carbone, no Rota Cult


14. Os Rejeitados

Diretor: Alexander Payne
País: Estados Unidos

"Entrar em Os Rejeitados é como voltar ao passado, não exatamente vivenciado, mas que se tornou mais do que familiar e próximo justamente pelo cinema. Em seu novo filme, Alexander Payne resgata texturas, cores, ritmo e nos leva a lembranças de assinaturas queridas, mas sem jamais deixar de se fazer presente – no presente —, em afinidade temática, e em estilo. Há marcas nítidas de sua autoria, no tempo que dedica à história e, em especial, a cada um dos personagens que habitam aquele universo."

Cecília Barroso, no Cenas de Cinema


13. Furiosa: Uma Saga Mad Max

Diretor: George Miller (Austrália)
Países: Austrália e Estados Unidos

"Furiosa cumpre plenamente seus objetivos: enriquecer a protagonista e o universo ao seu redor — o que inclui outro personagem, o Dr. Dementes, vilão brutal e hilário que sedimenta a persona cinematográfica de Chris Hemsworth. Mas alguém discorda que o melhor do filme é resgatar o que já existia na saga? Eu acho, tanto quando emula o ritmo alucinado de Mad Max: Estrada da Fúria (2015) como quando faz referência ao primeiro Mad Max (1979), encarnando o protagonista original de Mel Gibson no ótimo Pretorian Jack (Tom Burke) ou conta como Furiosa perdeu o braço — de forma concreta e simbólica, do mapa perdido à semente de pêssego. Furiosa vai bem sempre que referencia e reverencia sua saga."

Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe


12. Pobres Criaturas

Diretor: Yorgos Lanthimos (Grécia)
Países: Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido

"O que determina a obra-prima de um cineasta? Ao meu ver, um filme que sintetize o cinema do diretor, reunindo suas principais marcas autorais, em um nível tal de amadurecimento que represente seu apogeu artístico. É com base nesse conceito que eu considero Pobres Criaturas (2023) a obra-prima de Yorgos Lanthimos. Tanto é assim que lá atrás, em Dente Canino (2009), eu via o cineasta mais como um provocador empenhado em gerar incômodo no espectador. Em Pobres Criaturas, eu vejo o cineasta brincar e convidar o público para se divertir junto com ele. Em 2009 ele fazia questão de gerar repulsa a esmo; em 2023, sem jamais recuar do seu cinema gráfico, bizarro e escatológico, ele faz um filme de comer com os olhos."

Rodrigo Torres, na Revista Cine Cafe


11. O Dia Que Te Conheci

Diretor: André Novais Oliveira (Brasil)
País: Brasil

"Da arte de saber exatamente o que filmar, que enfoque dar ao plano, e como conseguir sempre demonstrar renovação, ainda que esteja falando sobre o que tantas vezes já foi falado. Esse poderia ser um resumo honesto do que a Filmes de Plástico constantemente nos serve, sem conseguir nos fazer acostumar com a excelência constante, mas o quarteto mineiro não merece algo vazio assim, predicados soltos sem análise. O Dia que Te Conheci, o novo longa de André Novais Oliveira, estabelece então um novo parâmetro ao que a produtora já fazia anteriormente, e ao seu realizador uma ideia de sofisticação que não é uma inovação, mas exatamente um avanço. O caminho parece dúbio, demonstrando a um só tempo a serenidade que o talento moldou e a certeza de que uma evolução narrativa e estética é ainda mais evidente."

Francisco Carbone, no Cenas de Cinema


10. A Substância

Diretora: Coralie Fergeat (França)
Países: França, Estados Unidos e Reino Unido

"Dominando determinados cenários. Sorrisos exagerados. Ultra closes. O tesão pelo corpo. Pela carne. Bunda e peito. Peito e bunda. O verdadeiro filme da Barbie. Parte filmada que estampa Sue com o citado visual de comercial anos 80. Parte da Elizabeth é depressão e dor. O caos, cara dela tremida. A forma como as mulheres são tratadas por grandes corporações e como o senso comum do que é socialmente estabelecido lida com elas. O público é compelido a gostar daquilo a depender do quanto a propaganda massifica e esmaga por sobre suas cabeças, principalmente se os alvos forem pessoas cansadas de suas condições e busquem somente uma válvula de escape dalgum programa qualquer. Não há tempo para análises ou transformações de preferências. Vamos com a magrinha nova branca/rosada gostosinha da vez. Novas e velhas. Uma câmera passeando pelos corpos. Tesão. Poder. Nova casca? New shell. O desastre da vaidade e Demi mostrada sem ela, a perda dessa vaidade à força, não só pelo desejo, mas pela demonstração de finitude de um determinado corpo. Popularidade e solidão. O tempo. Só farra e esculhambação pra uma. Só depressão e comida para a outra. A vaidade tomando de conta. Sue saíra de dentro de Liz, e agora a suga. [...] Elizabeth é cada vez mais como uma monstruosidade. Uma criatura em metamorfose agora proposta com asco, com capuz amarelo e luvas, como uma assassina serial de um giallo italiano. E temos o overacting de várias maneiras. Com distorções dos corpos a fomentar isto, nos closes e em lentes grandes angulares expondo a deformidade das figuras, como ocorre com o chefe Dennis Quaid. Todos são esquisitos e fora de propósito. Irreais. Mas a intenção é jogar com isso. Com o absurdo que se estabeleça uma estratégia de interlocução através de uma farsa como crítica. Isso abre para o escopo da exageração. E que seja bem-vindo."

Ted Rafael, no Cineplayers


9. Vidas Passadas

Diretora: Justine Triet (Coreia do Sul)
Países: Coreia do Sul e Estados Unidos

"O título do filme tem sentido duplo. Vidas Passadas tanto vem a conversar sobre um tempo que já não é mais o presente, uma realidade que ficou no tempo que não existe mais, e também sobre o surgimento de novas possibilidades de existência, através de uma reestruturação do que o passado pode significar. Em todos os sentidos, os protagonistas do filme vivem em realidades que precisam reconduzi-los a um novo olhar para si mesmos, para que então possam voltar a amar também o outro."

Francisco Carbone, no Cenas de Cinema


8. Ferrari

Diretor: Michael Mann (Estados Unidos)
País: Estados Unidos

"Ferrari, CNPJ e CPF. Ou ainda: a persona forjada para o mundo do capital, o empresário impassível que gerencia sua marca de prestígio (persona construída com sabedoria e alguns milhares de dólares); e o homem por trás da imagem, o patriarca que se divide entre duas esposas e dois filhos, um deles fatalmente morto. Mann mergulha no registro dessa intimidade velada, em um filme de atmosfera densa e soturna, assombrada pelo luto e pela morte. Luto pelos que já morreram e pelos que ainda morrerão para que a empresa inscreva seu nome na história do capitalismo industrial. Não existe nada parecido nesta onda recente de filmes sobre marcas; uma obra cuja imagem-chave é a desse grande produto completamente destruído diante do rastro de sangue que deixou pelo caminho."

Daniel Dalpizzolo, no Letterboxd


7. O Menino e a Garça

Diretor: Hayao Miyazaki (Japão)
País: Japão

"Não é todo dia que escrevemos sobre um gênio pela primeira vez. Sem pedir licença a ninguém (nem aos resignados a uma vida sem paixão, como parecem ser grande parte dos meus colegas de profissão), não farei parte do coro dos descontentes: sem medo de parecer excessivo na fala, O Menino e a Garça é um dos maiores acontecimentos cinematográficos da temporada. E isso independe de ser dirigido por Hayao Miyazaki, ou só é possível porque estamos diante da melhor forma de um mestre. Depois de dois filmes – esses, sim – menores, não é para todos que se aceite conceber em seu crepúsculo um desvario tão extravagante sem jamais perder de vista sua identidade, sua história e sua experiência. Eu sei, é difícil conceber à contemporaneidade a concepção do histórico, do maior, mas há de se fazer humilde em reconhecer a magnificência quando presenciada."

Francisco Carbone, no Cenas de Cinema


6. Zona de Interesse

Diretor: Jonathan Glazer (Reino Unido)
Países: Reino Unido, Estados Unidos e Polônia

"Como o neonazismo é uma realidade do nosso tempo e a extrema-direita retoma posicionamentos análogos a essas práticas chocantes, o que está em foco, na verdade, é quase um jogo de reflexo; nós os vemos, e vice-versa. Para isso, parte da entrada do cenário, uma parede de vidro que não esconde a entrada da casa, é performática do todo – nada é coberto do espectador, tudo é devassado e será visto, por mais que guarde uma normalidade hedionda. Todas as ações são comuns, tudo é cotidiano e banal: a chegada de nova remessa de roupas “doadas”, um batom experimentado, o jardim florido que não esconde a produção de uma fumaça atrás. São generalizações mundanas, ressignificadas a partir de uma ótica grotesca que não precisa de comentário posterior; as coisas são simplesmente assim, e continuam sendo ainda hoje."

Francisco Carbone, no Cenas de Cinema


5. Ainda Estou Aqui

Diretor: Walter Salles (Brasil)
Países: Brasil e França

"Difícil um filme nacional abordar o período da ditadura militar sem cair em certos vícios que foram se acumulando sobre o tema ao longo dos anos em nosso cinema. Aquelas cenas chocantes de tortura, perseguição e barbárie dão lugar a algo muito mais sutil e eficiente em Ainda Estou Aqui (idem, 2024), que é o fantasma da ausência. Para muitos brasileiros, é isso que dói e que permanece de sequela até hoje: o não saber, estar fora de alcance do direito tão elementar de poder enterrar seus mortos."

Heitor Romero, no Cineplayers


4. Dias Perfeitos

Diretor: Wim Wenders (Alemanha)
Países: Alemanha e Japão

"O que pode haver de interessante em acompanhar o dia a dia de um trabalhador comum numa cidade qualquer? Em Dias Perfeitos, Wim Wenders vai até o Japão se encontrar com Ozu no território de seu mestre para aprender desse cinema de contemplação de rotina, no qual todos os dias parecem iguais, mas no detalhe da sensibilidade de seu olhar se mostram singulares. As sombras das folhas das árvores nunca formam os mesmos desenhos, não importa quantas vezes você fotografe a mesma paisagem. No cinema de Wenders, a fotografia, aquilo que está no frame, é uma captura de realidade que jamais poderá ser retomada, é um objeto de instantânea ultrapassagem, um momento vivo que perde o movimento da vida e se estagna na imobilidade morta. As passagens em preto e branco que mostram a mente do personagem processando as imagens que capturou ao longo do dia ditam bem essa ideia, do presente virando passado, do agora virando memória. Esse personagem também se percebe passageiro, cada dia mais próximo do fim, cada dia mais passado que presente, incapaz de entender a tecnologia digital e a forma de interagir com o mundo das gerações mais novas. Muito diferente do que leituras rasas apontaram, este filme não é uma emulação do cinema de Ozu, mas uma sobreposição dos dois cinemas. Ozu fazia obras regionalistas, tratava da sua cultura, da compreensão de mundo a partir do entendimento de sua própria origem. Wenders, por outro lado, é andarilho, criado nos filmes de estrada, procurando pertencimento sem nunca conseguir criar raízes. Ele consegue conjugar na narrativa de seu protagonista uma conciliação entre esses dois opostos: embora frequentando sempre os mesmos lugares dentro de sua cidade, ele não para nunca de se deslocar — é a lógica de um filme de estrada, mas sem que haja transição geográfica."

Heitor Romero


3. O Mal Não Existe

Diretor: Ryusuke Hamaguchi (Japão)
País: Japão

O mal não existe explora menos a oposição entre o Bem e o Mal – se o Mal não existe, existirá o Bem? -, mas sim outra dicotomia, intimamente ligada aos valores orientais, entre equilíbrio e desequilíbrio – como destaca o próprio protagonista em uma das discussões da comunidade com os empreendedores cosmopolitas, as cenas mais diretas do filme, e que introduzem elementos discursivos que ajudam a ler as cenas mais abstratas e sugestivas. Se é o desequilíbrio provocado pelo capital que transforma a realidade das personagens, entretanto, Hamaguchi não poderia ser mais feliz ao abordar um tema tão relevante: alheio aos vícios do cinema contemporâneo de pautas sérias, preocupado em provocar os sentidos com pura potência estética.

Daniel Dalpizzolo, na edição #034 do Zinematógrafo


2. Jurado Nº 2

Diretor: Clint Eastwood (Estados Unidos)
País: Estados Unidos

"Incrível o poder que o plano/contra-plano possui na mão de um cineasta que sabe o que faz. Aquela conversa no banco em frente à estátua da deusa da justiça Têmis é desde já um dos momentos mais absurdos da filmografia do Clint Eastwood, que, sem esforço algum, amplia todo o debate sobre justiça, verdade, inocência e culpa da narrativa sem impor suas verdades ao filme ou ao espectador."

Pedro Lubschinski, no Letterboxd


1. Anatomia de uma Queda

Diretora: Justine Triet (França)
País: França

"Um corpo na neve e toda a situação de angústia que circunda essa descoberta. O filho que se desespera, a mãe que vem em seu socorro. O que aconteceu, não se sabe. A diretora Jaqueline Triet criara um ambiente de ansiedade para o momento, mas sem ser clara. Em várias cortes acompanhamos o que parece ser um dia normal na vida da família. Dos que se mostram, o cotidiano lidar com um cachorro, preparar-se para o passeio matinal, ou a ocasional tentativa frustrada de uma entrevista. Dos que não se podem ver, citações e a interferência musical cada vez mais opressora. Tudo é milimetricamente calculado em Anatomia de uma Queda."

Cecília Barroso, no Cenas de Cinema


Listas individuais

Ana Carolina Garcia

"Elencar um top 10 nunca é fácil, sobretudo num ano em que o circuito exibidor brasileiro recebeu títulos tão diversos, produzidos com esmero. Dentre eles, dois de extrema relevância histórica, Ainda Estou Aqui e Zona de Interesse, que revisitaram o passado para mostrar às novas gerações que a humanidade não pode repetir os mesmos erros no presente nem no futuro."

  1. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
  2. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
  3. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  4. Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
  5. A Substância, de Coralie Fargeat
  6. Os Rejeitados, de Alexander Payne
  7. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
  8. Divertida Mente 2, de Kelsey Mann
  9. Deadpool & Wolverine, de Shawn Levy
  10. Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller

Ana Carolina Garcia é vice-presidente da ACCRJ e autora dos livros 100 Anos do Império Disney (2023) e Cinema no século XXI - Modelo tradicional na Era do Streaming (2021) e A Fantástica Fábrica de Filmes (2011).


Cecília Barroso

"Histórias que se contam, verdades que se criam. Entre determinação de culpa, incomunicabilidade, romances e delírios, 2024 foi um ano marcado pelo poder das palavras. A manipulação da verdade, por todos e para todos, é o que move o maior destaque da temporada. Move também a criação fantasiosa de mentes sedentas em um universo banal, assim como atiça o medo manipulador em realidades inseguras, ou cria realidades que precisam ser reveladas anos depois por meio de memórias familiares revisitadas. Há ainda histórias de relações eternas por sua natureza. Outras perduram após o fim, eternas pela grandeza do imaginário, sempre sob a pressão do não realizado. E há aquelas que têm na identificação a sua maior força. Que ano!"

  1. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  2. Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
  3. O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
  4. Trenque Lauquen, de Laura Citarella
  5. Não Espere Muito do Fim do Mundo, de Radu Jude
  6. Vidas Passadas, de Celine Song
  7. Malu, de Pedro Freire
  8. Rivais, de Luca Guadagnino
  9. Estranho Caminho, de Guto Parente
  10. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles

Cecília Barroso é votante do Globo de Ouro, faz parte da Abraccine, Critics Choice Association, Online Film Critics Society e Elviras, editora do Cenas de Cinema e apresentadora do programa Oscarverso.


Daniel Dalpizzolo

"Lista formada por diferentes gerações de cineastas, com realizadores históricos apresentando filmes cheios de frescor (Eastwood, Almodóvar, Haynes, Moretti, Bellocchio, Mann), enquanto outros nas faixas dos 40 e 50 anos de idade se consolidam com algumas de suas obras mais maduras até aqui (Oliveira, Citarella, Shyamalan, Hamaguchi). Artistas que pensam o mundo em toda sua complexidade (Eastwood, Moretti, Bellocchio, Hamaguchi), que observam a igualmente complexa existência humana (Oliveira, Almodóvar, Mann), que fabulam a ficção e a necessidade intrínseca dela para se viver nesse mundo (Shyamalan, Citarella, Haynes)."

  1. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  2. Armadilha, de M. Night Shyamalan
  3. Trenque Lauquen, de Laura Citarella
  4. Ferrari, de Michael Mann
  5. O Sequestro do Papa, de Marco Bellocchio
  6. O Melhor Está por Vir, de Nanni Moretti
  7. Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
  8. O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
  9. O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
  10. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood

Daniel Dalpizzolo é membro da Abraccine, fundador da Multiplot!, crítico do Zinematógrafo e mantém o blog Stage Fright.


Eduardo da Conceição

"Vi poucos filmes de 2024, pois os lançamentos não me atraíram tanto. Dessa lista, apenas os cinco primeiros me marcaram de verdade. Entre os que ainda vão estrear, tem três que eu recomendo bastante: A Semente do Fruto Sagrado, Bramayugam e Nosferatu."

  1. O Aprendiz, de Ali Abbasi
  2. Um Homem Diferente, de Aaron Schimberg
  3. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  4. O Homem dos Sonhos, de Kristoffer Borgli
  5. Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
  6. Priscilla, de Sofia Coppola
  7. Fúria Primitiva, de Dev Patel
  8. Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
  9. Infestação, de Sébastien Vanicek
  10. Loves Lies Bleeding: O Amor Sangra, de Rose Glass

Eduardo da Conceição é cineasta e motion designer que no tempo livre dá notinha no Letterboxd.


Francisco Bandeira

"Lista difícil de fazer. Não assisto muitos lançamentos hoje em dia por falta de tempo e o medo de ter a sensação de "tempo perdido". Meu filme preferido do ano se deve muito ao fato de ser um fã confesso do cinema do Eastwood e por Jurado Nº 2 remeter a dois filmes seus de que eu gosto bastante: O Caso Richard Jewell (2019) e Crime Verdadeiro (1999). Típico filme do veterano: dilemas morais em meio a observação do ser humano e da sociedade humana como um todo."

  1. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
  2. O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
  3. As Aventuras de uma Francesa, de Hong Sang-soo
  4. O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
  5. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  6. Armadilha, de M. Night Shyamalan
  7. O Melhor Está por Vir, de Nanni Moretti
  8. Ferrari, de Michael Mann
  9. Vidas Passadas, de Celine Song
  10. Os Rejeitados, de Alexander Payne

Francisco Bandeira é um louco cujo hobby é ser cinéfilo e opinar sobre filmes por pura teimosia.


Francisco Carbone

"Quando penso nesta lista, eu vejo um tanto de diversidade de países, de línguas, de abordagens, de escolas. Ao mesmo tempo em que isso não é proposital, também reflete um gosto pessoal que tem se afastado de uma manufatura mais tradicional, que aí está resumida exclusivamente no título de Clint Eastwood — e que, ainda assim, seu último filme abraça uma direção menos óbvia, e mais cercada de possibilidades de camadas imagéticas, de comunicação visual. São escolhas que refletem o tanto de diverso que o cinema tem apresentado, como também um recorte de minha cinefilia. De um romance de formação geográfica até experimentações de gênero, passando por uma animação sem diálogos até incorporações do feminino através de suas realizadoras e suas militâncias (explícitas ou não), sem querer eu tenho uma lista cuja representatividade é reflexo de um cinema de identidade global e sensações universais."

  1. Os Colonos, de Felipe Gálvez
  2. Here, de Bas Devos
  3. A Substância, de Coralie Fargeat
  4. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
  5. MaXXXine, de Ti West
  6. O Sabor da Vida, de Tran Ahn Hung
  7. Anatomia de uma Queda, de Justine Triet
  8. Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
  9. Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia
  10. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood

Francisco Carbone é membro da Abraccine, ACCRJ e APCA e comentarista do (ótimo) podcast Rumo ao Oscar.


Heitor Romero

"Meus preferidos de 2024 estão encabeçados por um trio de veteranos que moldou meu gosto pelo cinema (Wenders, Miyazaki e Eastwood) mostrando que ainda têm muita lenha pra queimar, seguidos de alguns outros recorrentes entre os que mais amo acompanhar de perto (Mann, Haynes e Sofia Coppola) e alguns novos que vejo potencial e nunca escapam do meu radar (Guadagnino, Novais, Hamaguchi). Ali no meio, uma diretora desconhecida de mim com um filme intrigante (Anatomia de uma Queda) para completar a lista, pois é preciso sempre o espaço da novidade para me manter estimulado a expandir e aprender."

  1. Dias Perfeitos, de Wim Wenders
  2. O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
  3. Jurado N° 2, de Clint Eastwood
  4. Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
  5. Priscilla, de Sofia Coppola
  6. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  7. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  8. Ferrari, de Michael Mann
  9. O Dia que te Conheci, de André Novais Oliveira
  10. Rivais, de Luca Guadagnino

Heitor Romero é um apaixonado pelo cinema clássico, por influência dos avós, que passou a adolescência desbravando videolocadoras. Hoje coleciona mídias físicas e colabora para a Versátil Home Vídeo. E ama Wim Wenders.


Igor Guimarães

"Fazer listas de fim de ano é ao mesmo tempo prazeroso e angustiante. 2024 foi um ano de muita coisa boa, com muitos cineastas que tiveram obras destacadas alguns anos atrás voltando com filmes interessantes. Ainda que o advento dos streamings tenha deixado o grosso da produção ainda mais pasteurizada, tanto cineastas brasileiros como estrangeiros se desafiaram a superar a mesmice e 2024 foi, sem dúvida nenhuma, um grande ano nesse aspecto. 2025 também promete. Estejamos atentos!"

  1. Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos
  2. O Dia que te Conheci, de André Novais Oliveira
  3. Dias Perfeitos, de Wim Wenders
  4. Vidas Passadas, de Celine Song
  5. Ervas Secas, de Nuri Bilge Ceylan
  6. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
  7. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  8. Divertida Mente 2, de Kelsey Mann
  9. Fechar os Olhos, de Victor Erice
  10. Não Espere Muito do Fim do Mundo, de Radu Jude

Igor Guimarães é escritor, professor, fotógrafo e crítico de cinema — e atualmente paga tudo isso com consultorias de comunicação.


Marcelo Queiroz

"O ano de 2024 foi de poucos filmes assistidos por mim. No entanto, alguns filmes dessa pequena amostragem chamaram a atenção com um brilho destacável. Seja por tocarem fundo no emocional, como no caso da belíssima animação Robô Selvagem (que, confesso, me fez chorar bastante), seja por suscitarem ricas discussões pós-sessão, a exemplo do que Jurado Nº 2 foi capaz de proporcionar a partir dessa força motriz nonagenária chamada Clint Eastwood. Nesse entremeio, destaco também o quanto Ferrari me deixou extasiado, ao apresentar-se como essa cinebiografia consistente em sua narrativa e esteticamente marcante, graças à mão firme e de artesão que Michael Mann possui e com a qual esculpiu notável filmografia. Por fim, como colocar em palavras o que senti ao final de O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi? Um misto de emoções eclode pra dar fim ao minucioso e elegante trabalho de decupagem desse hábil cineasta japonês, aqui voltado às preocupações ambientais e à temática do homem em contato com a natureza."

  1. Robô Selvagem, de Chris Sanders
  2. Ferrari, de Michael Mann
  3. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
  4. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  5. O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
  6. Priscilla, de Sofia Coppola
  7. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
  8. Assassino por Acaso, de Richard Linklater
  9. Vidas Passadas, de Celine Song
  10. Dias Perfeitos, de Wim Wenders

Marcelo Queiroz é graduando em Direito e um apaixonado por cinema — arte por ele encarada como uma oportunidade de viajar para vários universos. A escrita é igualmente uma paixão.


Mariana Otoni

"Não sei como o 2024 de muitos se deu. O meu veio recheado de lutos: primeiro, perdi a minha avó logo nos primeiros meses do ano. Em seguida, fui desligada da empresa à qual me dediquei 12 anos e 6 meses. Assim morreu um pouco e muito do que eu fui — ou achei que fosse. Como os livros, os filmes têm sido grande aliados em momentos de reconstrução pessoal. E, confesso, muito mais que os livros, o hábito de ver filmes e ir ao cinema (religiosamente toda semana) foi uma terapia. Por isso, buscar enumerar dez filmes que mais me chamaram atenção, despertando impressões e sentimentos vários, não foi tarefa fácil – admito. Mas escolhi cada um desses por me fazerem refletir, chorar, rir e ter sempre algo além para pensar e opinar. Somado a esta pequena lista, gostaria de mencionar outros três filmes que me chamaram atenção, por questões específicas, e não puderam entrar na lista: a brilhante atuação de Daniel Craig em Queer; a sutileza de uma certa idade nos golpes do Woody Allen; e a fotografia, trilha sonora e as atuações de Zona de Interesse, nos lembrando que a vida presta e que não há mais espaço para vilezas."

  1. A Grande Fuga, de Oliver Parker
  2. Pequenas Cartas Obscenas, de Thea Sharrock
  3. O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar
  4. ⁠Uma Vida - A História de Nicholas Winton, de James Hawes
  5. Todos Nós Desconhecidos, de Andrew Haigh
  6. A Substância, de Coralie Fargeat
  7. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
  8. Rivais, de Luca Guadagnino
  9. Pacto de Redenção, de Michael Keaton
  10. Wicked, de John M. Chu

Mariana Otoni é professora, cinéfila e a pessoa que eu mais foi vista nos cinemas de Botafogo em 2024.


Pedro Lubschinski

"Mesclar musical e filme de “herói”; abraçar o gore e o body horror no típico filme de arte com mensagem; zombar da onda dos multiversos enquanto o expande através da piada; e até, vejam só, voltar a exibir o mínimo de tesão em Hollywood. Ao longo de 2024, o cinemão buscou várias formas — algumas com sucesso, outras nem tanto — de contornar uma visível falta de criatividade que reina nos lançamentos. Ironicamente o grande filme do ano é a soma de um roteiro redondinho, atores em seus melhores momentos e um cineasta veterano que sabe como ninguém a força de um plano/contraplano bem filmado. Um filme que, por outra ironia, não encontrou seu espaço nas salas de cinema e foi relegado ao streaming."

  1. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
  2. A Substância, de Coralie Fargeat
  3. Armadilha, de M. Night Shyamalan
  4. Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
  5. Garra de Ferro, de Sean Durkin
  6. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
  7. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  8. O Mal Que Nos Habita, de Demián Rugna
  9. Ferrari, de Michael Mann
  10. Divertida Mente 2, de Pete Docter e Kelsey Mann

Pedro Lubschinski é professor e perde mais tempo do que deveria vendo filmes.


Régis Trigo

"2024 foi um ano dividido entre filmes, séries, meus filhos e um novo pet (nome: ÓSCAR, me julguem). No inventário do final do ano, me surpreendeu a quantidade de filmes "mais ou menos" que apareceu no meu Letterboxd. Ainda assim, consegui pinçar algumas coisas bem boas pelo caminho, que seriam suficientes para uma lista de top 15 ou 20. Não acho que nenhum desses títulos vai entrar pra história e talvez eu me espante com algumas dessas escolhas daqui a alguns anos. Mas são bons filmes que, para o meu gosto particular, mexeram comigo de uma forma ou de outra e saíram da mesmice do cinema atual. Dito isso, seguem aí os meus 10 preferidos no exato momento em que elaborei a lista (se refletir sobre ela, periga eu mudar alguma coisa)."

  1. Robô Selvagem, de Chris Sanders
  2. Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
  3. Dias Perfeitos, de Wim Wenders
  4. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles
  5. Duna: Parte 2, de Denis Villeneuve
  6. Jurado Nº 2, de Clint Eastwood
  7. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  8. Os Rejeitados, de Alexander Payne
  9. Meu Amigo Robô, de Pablo Berger
  10. A Substância, de Coralie Fargeat

Régis Trigo é pai, advogado, cinéfilo e crítico de cinema – exatamente nesta ordem.


Rodrigo Torres

"Eu gostei tanto do cinema em 2024 que montei uma lista preliminar com 30 filmes, tendo eliminado títulos ótimos no processo. De quebra, este ano supriu uma carência particular: dos bons filmes de suspense, até mais puros e tradicionais, como aqueles que eu cresci vendo no Supercine. Tanto que (meio que burlando as regras que eu mesmo estipulei) me sinto na obrigação de mencionar três filmes que não entraram na lista final: Armadilha, filme de assassino frontal no qual M. Night Shyamalan, em vez de apelar (exclusivamente) ao medo e tensão, convida o espectador a se divertir seguindo de perto seu protagonista doentio, um dos melhores de sua filmografia; o thriller policial Longlegs, que alia muito bem o velho e o novo, referenciando O Silêncio dos Inocentes (1991), com toques de Se7en (1995) e elementos do cinema de terror contemporâneo, como o sobrenatural, a fantasia e uma protagonista atormentada; e Roma em Chamas, pela maneira extraordinária com que evoca seus temas (o calor, a falta de luz e a falência social da capital italiana) e pela minha cena preferida de 2024: lasers vermelhos cortam o breu após uma troca de tiros secos num quarto escuro."

  1. Dias Perfeitos, de Wim Wenders
  2. Here, de Bas Devos
  3. Os Colonos, de Felipe Gálvez
  4. O Mal Não Existe, de Ryusuke Hamaguchi
  5. O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
  6. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  7. Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
  8. O Sabor da Vida, de Tran Ahn Hung
  9. Segredos de um Escândalo, de Todd Haynes
  10. Roma em Chamas, de Stefano Sollima

Rodrigo Torres é redator, professor, membro da Abraccine e editor da Revista Cine Cafe e desta lista imensa da qual o ChatGPT se negou a contar os votos.


Silvio Pilau

"É muito, muito fácil cair nas armadilhas dos clichês sobre o estado atual do cinema. 'Não se faz mais filme como antigamente', 'Acabou a originalidade' e 'Tudo é sequência ou franquia para lucrar mais fácil' são algumas das frases óbvias que, com mais frequência do que deveria, vemos ou lemos por aí proferidas por supostos entendedores do meio. Tudo bem, ninguém seria tolo de questionar o fundo de verdade em cada uma dessas afirmações, mas, de vez em quando, é bom parar um pouquinho e refletir antes de sair regurgitando opiniões alheias. Quando conseguimos fazer isso, dá para ver que o cenário está longe de ser desesperador. Ainda há boas histórias sendo contadas, ainda há cineastas (novos e antigos) que mantêm viva a ambição narrativa e há – pasmem! – inclusive continuações que se revelam ótimos filmes. Esse é o mais importante de fazer listas como essas de melhores do ano: a revisitação nos traz de volta à memória muito que já havíamos esquecido, e somos capazes de perceber que, mesmo que haja bastante porcaria durante o ano, ainda há também muita coisa interessante sendo realizada para justificar a chama que mantém viva a nossa paixão pelo cinema."

  1. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
  2. Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
  3. Vidas Passadas, de Celine Song
  4. Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
  5. Anatomia de Uma Queda, de Justine Triet
  6. Alien: Romulus, de Fede Alvarez
  7. As Três Filhas, de Azazel Jacobs
  8. Sorria 2, de Parker Finn
  9. Herege, de Scott Beck e Bryan Woods
  10. Duna: Parte 2, de Denis Villeneuve

Silvio Pilau é publicitário por formação, cinéfilo por paixão e escritor e crítico de cinema por invenção. Foi membro da ACCIRS, autor do livro Como Ser um Idiota (2016) e participou de diversas antologias de contos e crônicas.


Ted Rafael

"2024 segue a massificação cansativa de franquias e filmes independentes que padecem de uma criatividade mais voraz por se manterem preocupados com determinadas pautas – algumas de grande vulto político, outras tantas que acabam sendo prostituídas. Então, almejei uma listagem que não primasse por um padrão estrito, com as obras que menos me encheram o saco e algumas que foram escrotas o suficiente para me causar qualquer porra de sentimento que fosse. Daí não fujo de franquias – contradição minha – ou de estruturações de risco de diretores consagrados. O truque foi buscar filmes de gêneros diversos que tenham tido algum esquema de tesão. Obviamente abracei mais o terror. Mas esse crivo escolhido como regra para a escolha da lista me leva a outra questão intrigante: a falta de possibilidade de lançamento do Brasil de filmes menores que perambulam outras janelas. Algo que contemplei em festivais, onde vejo possibilidades de existência de filmes fodas que não terão vez no gargalo de distribuição nacional. Por exemplo, o curta-metragem mexicano Nocturna, de Pablo Olmos Arrayales —um filme de vampiro altamente estiloso e invocado que é provavelmente a melhor obra que eu vi em 2024. Além de alguns longas que também não ganharam vez e talvez nem ganhem, como Párvulos, de Isaac Ezban. A mesmice mercantilista nos consome e eu, contraditório que sou, participo da mesma sendo obrigado ou não. Mas fica aí minha inútil perturbação."

  1. Terrifier 3, de Damien Leone
  2. O Mal que nos Habita, de Demián Rugna
  3. Furiosa: Uma Saga Mad Max, de George Miller
  4. Megalópolis, de Francis Ford Coppola
  5. Ferrari, de Michael Mann
  6. Longlegs - Vínculo Mortal, de Osgood Perkins
  7. Alien: Romulus, de Fede Alvarez
  8. O Jogo da Morte, de Alaa Morsi
  9. Entrevista com o Demônio, de Cameron Cairnes e Colin Cairnes
  10. Zona de Interesse, de Jonathan Glazer

Ted Rafael é cineasta e crítico de cinema com hiperfoco em filmes de terror e está chorando até agora por causa das regras da lista.


Yasmine Conceição

"A lista e as menções adiantes são compostas de filmes que por algum motivo me provocaram algum tipo de euforia. Não se apeguem à ordem da lista, os filmes citados (sim, as menções também) convivem em minha preferência em uma estrutura horizontal, cada um se destacando por um aspecto particular, bem como pelo afeto movido na relação que construí com eles. 2024 foi um ano em que histórias que envolviam aventura, ação e suspensão da descrença foram as que mais me atraíram e me fizeram ficar pensando e repensando. Nesse sentido, destaco O Menino e a Garça, Jigarthanda DoubleX, O Homem dos Sonhos, A Substância, Megalópolis e O Amor Sangra."

  1. O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki
  2. Os Rejeitados, de Alexander Payne
  3. Assassino por Acaso, de Richard Linklater
  4. Jigarthanda DoubleX, de Karthik Subbaraj
  5. O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
  6. Vidas Passadas, de Celine Song
  7. Anatomia de uma Queda, de Justine Triet
  8. Tudo que Imaginamos como Luz, de Payal Kapadia
  9. The Killer, de John Woo
  10. O Homem dos Sonhos, de Kristoffer Borgli

Menções honrosas:

  • Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos
  • A Sala dos Professores, de Ilker Çatak
  • Pisque Duas Vezes, de Zoë Kravitz
  • Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos
  • Prisão nos Andes, de Felipe Carmona
  • A Substância, de Coralie Fergeat
  • Megalópolis, de Francis Ford Coppola
  • Love Lies Bleeding - O Amor Sangra, de Rose Glass

Yasmine Conceição é membro da Abraccine, votante do Globo de Ouro, podcaster e curadora de festivais, como o Sinistro Fest.


Pontuação

  1. lugar: 150 pontos
  2. lugar: 120 pontos
  3. lugar: 100 pontos
  4. lugar: 80 pontos
  5. lugar: 75 pontos
  6. lugar: 70 pontos
  7. lugar: 65 pontos
  8. lugar: 60 pontos
  9. lugar: 55 pontos
  10. lugar 50 pontos

Regras

  • Somente longas lançados comercialmente no Brasil em 2024, nos cinemas ou streaming.
  • Nos casos de empate, prevaleceu o filme que apareceu mais vezes nas listas individuais.

Artigos

50 filmes para ver no cinema em 2020

O ano de 2019 foi incrível no cinema mundial. O que significa que 2020 também será positivo, por uma questão de momento e porque grandes lançamentos do ano passado ainda estão chegando aos cinemas brasileiros. A semana passada foi prova disso, com nada menos que O Farol (The Lighthouse), de Robert Eggers, e O Caso Richard Jewell (Richard Jewell), de Clint Eastwood, dividindo as salas com a animação Frozen 2 (Frozen II). 

Como o Cineplayers já recomendara esses filmes na semana passada, estão todos ausentes dessa lista de 50 filmes para ver no cinema em 2020. Do mesmo modo, como o título antecipa, o aguardado Joias Brutas (Uncut Gems) e outras obras previstas para estrear no streaming serão destacados em uma publicação à parte, específica para as plataformas online.

Dentre blockbusters promissores, continuações de franquias de sucesso (mas não todas), joias a ser descobertas e obras consagradas em festivais do Brasil e do mundo, segue uma curadoria dos longas-metragens que e quando chegarão ao circuito brasileiro (segundo o Filme B) e você não pode perder! 

Você certamente receberá boas dicas e perceberá algumas ausências. Comente o que você mais gostou de ver abaixo e cornete se perceber algum absurdo. Conte também o que você nem sabia que será lançado, e fale que novidade a gente deixou passar. Enfim, esteja à vontade para interagir com a gente. O espaço é todo seu.

Confira os 50 filmes para ver nos cinemas em 2020, com textos individuais, além dos meus, de Daniel Dalpizzolo, Francisco Carbone, Heitor Romero, Léo Félix, Marcelo Leme e Rodrigo Cunha:


1. Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig

Estreia: 9 de janeiro

A esperada adaptação do romance de Louisa May Alcott tem gerado certa expectativa principalmente pela curiosidade em torno do olhar feminista que Greta Gerwig pretende aplicar sobre a história das irmãs March e seu desabrochar para a vida adulta. A Jo de Saoirse Ronan e o Laurie de Timothée Chalamet prometem formar o par romântico jovem mais aguardado da temporada.

Heitor Romero


2. Retrato de uma Jovem em Chamas, de Céline Sciamma

Estreia: 9 de janeiro

O novo filme da diretora Céline Sciamma (Tomboy, 2011), habituada a tratar temas sobre sexualidade, discute o assunto através de mulheres na França, durante o século XVIII, com duas protagonistas descobrindo interesse sexual mútuo, enquanto uma está à espera de seu casamento. A proposta parece abrir margem para discutir a homossexualidade em determinado período em que as mulheres, subjugadas, eram prometidas a homens. Causa interesse, também, a relação estabelecida entre artista e modelo, já que uma das mulheres, uma pintora incumbida de retratar a outra, aprecia a beleza da retratada e se apaixona sob arte.

Marcelo Leme


3. O Filme do Bruno Aleixo, de João Moreira e Pedro Santo

Estreia: 23 de janeiro

Ninguém sabe dizer ao certo se O Filme do Bruno Aleixo é um documentário ou ficção. Nem se o personagem principal, um youtuber, é uma pessoa real ou um personagem — o que vale para todo youtuber como ele. Da mesma forma, na tela, animações se confundem com personagens em carne e osso. E o roteiro do filme é assim também, uma grande bagunça; embora tudo pareça, ao mesmo tempo, planejado. Em meio a tantas incertezas, uma coisa é certa: você encontrará aqui mais um exemplar da cinematografia portuguesa que expira frescor. Se você é fã de comédia e está cansado de tanta bobagem derivativa, não pode deixar de arriscar e dar uma chance ao filme do Bruno Aleixo. 

Rodrigo Torres 


4. 1917, de Sam Mendes

Estreia: 23 de janeiro

Chamou a atenção recentemente por ter levado os dois principais prêmios do Globo de Ouro para casa (filme e direção), mas Sam Mendes merece uma atenção a mais. Alguns estão olhando torto por ser composto de vários segmentos formando um plano sequência, mas em um filme de guerra isso pode ser interessante e mais do que um adereço, ainda mais em se tratando de uma mensagem que precisa ser entregue com urgência.

Rodrigo Cunha


5. Judy - Muito Além do Arco-Íris, de Rupert Goold

Estreia: 30 de janeiro

Essa lista não é mero produto de pesquisa, um combinado simples dos filmes mais hypados, com maior star power ou mais láureas. Por esse motivo, filmes que já conferimos e desaprovamos, como o Prêmio do Júri do último Festival de Cannes, Os Miseráveis, de Ladj Ly, e o decepcionante Zombi Child, de Bertrand Bonello, foram ignorados. Mas foi aberta uma exceção para Judy, que terá em Renée Zellwegger a atuação feminina mais premiada dessa temporada. Fica a dica — inclusive de que vá ao cinema ciente das limitações dessa cinebiografia sobre Judy Garland.

Rodrigo Torres


6. Bad Boys Para Sempre, de Adil El Arbi e Bilall Fallah

Estreia: 30 de janeiro

Há algo de interessante nessa franquia, e não estou falando de explosões, músculos, tiroteio, som com bastante grave, canção tema e tampouco dos dois ícones que estrelam a cinessérie, e sim do poder do tempo nesses personagens e, consequentemente, em Will Smith e Martin Lawrence, o que deve dar um tom mais sentimental à obra. Foi filmado em 6K Panavision e é o primeiro não dirigido por Michael Bay.

Rodrigo Cunha


7. Uma Vida Oculta, de Terrence Malick

Estreia: 30 de janeiro

A competição do último Festival de Cannes não trouxe apenas o mais recente filme do mestre Terrence Malick, mas sua presença bissexta na Mostra, provando que o cineasta ermitão tem algum orgulho do material apresentado. Trata-se de sua obra mais palatável em 15 anos, a história de uma família separada primeiro pela guerra e depois por rígidos códigos morais. A certeza de uma cinematografia estonteante prestes a estrear é um dos motivos para um belo início de ano para o cinéfilo.

Francisco Carbone


8. Jojo Rabbit, de Taika Waititi

Estreia: 6 de fevereiro

Um dos queridinhos da temporada de premiações, vencedor do Festival de Toronto, presença constante nas listas de preferência de diversos sindicatos de cinema e da crítica especializada, o filme do diretor Taika Waititi apresenta uma sátira do período nazista, na qual um menino alemão (a elogiada jovem promessa Roman Griffin Davis) tem uma amizade imaginária com Adolf Hitler (interpretado pelo próprio diretor do filme) enquanto sua mãe (Scarlett Johansson) esconde uma garota judia em sua casa. O elenco conta ainda com Sam Rockwell. Jojo Rabbit é uma aposta certeira para arrebatar indicações ao Oscar 2020 em diversas categorias.

Léo Félix


9. Aves de Rapina - Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa , de Cathy Yan

Estreia: 6 de fevereiro

O sucesso de bilheteria do infame Esquadrão Suicida mostra seu único benefício ao promover o spin-off de Arlequina, o solitário ponto positivo da produção. Uma Margot Robbie no auge da carreira volta a encarnar a vilã-heroína nesse longa repleto de atrizes na linha de frente (incluindo a sumida Rosie Perez) nesse que é um dos principais blockbusters do primeiro trimestre e que vai preparar o terreno para o ano feminino nas bilheterias, que será seguido por Mulan, Viúva Negra e Mulher Maravilha 1984.

Francisco Carbone


10. O Preço da Verdade - Dark Waters, de Todd Haynes

Estreia: 20 de fevereiro

Após uma série de sucesso (Mildred Pierce) e um hiato de 8 anos no cinema, Todd Haynes voltou à ativa em 2015 com o belo romance Carol, engatando logo em seguida um projeto pessoal que dividiu opiniões (Sem Fôlego), no qual brincava com a fábula e a linguagem dos filmes mudos. Inspirado em uma história real, seu novo filme, Dark Waters, apresenta Mark Ruffalo como um advogado de defesa que confronta uma grande corporação química após descobrir um esquema de poluição ambiental que pode ter conexão com um grande número de mortes inexplicadas. A temática ambiental já foi tratada por Haynes no ótimo Safe, com Juliane Moore.

Daniel Dalpizzolo


11. Wendy, de Benh Zeitlin

Estreia: 27 de fevereiro

A Disney nunca cativou meu interesse com suas adaptações em live-action e CGI de suas famosas animações, a ponto de eu não ter visto nenhuma delas. Porém, eis que o Estúdio do Mickey decidiu produzir um filme de baixíssimo orçamento que inaugura uma espécie de lado B dessa linha: Wendy, que reimagina a história de Peter Pan com uma abordagem alternativa e autoral. E o maior atrativo do projeto não é seu (bom) argumento, mas o fato de estar nas mãos do promissor Benh Zeitlin, que voltará a abordar temas como ecologia, fantasia e uma infância insalubre após longo hiato de sua estreia com Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, 2012). 

Rodrigo Torres


12. Frankie, de Ira Sachs

Estreia: 27 de fevereiro

Finalmente estreando no Brasil depois de prometido ao longo de todo 2019, Frankie parece que enfim chegará ao circuito comercial de cinema agora no começo do ano. Estrelando Isabelle Huppert, Marisa Tomei, Jérémie Reiner e Brendan Gleeson, o drama de Ira Sachs concorreu à Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes e encantou muitos críticos com a história de uma renomada atriz que descobre ter apenas alguns meses de vida.

Heitor Romero


13. O Oficial e o Espião, de Roman Polanski

Estreia: 12 de março

Um dos filmes mais controversos do Festival de Veneza em 2019 foi este O Oficial e o Espião (J'Accuse). É o novo trabalho do octagenário cineasta Roman Polanski, cuja sessão de gala no festival não contou nem com a presença do diretor (considerado oficialmente foragido pela justiça americana), nem da presidente do júri, Lucrecia Martel, que se recusou a ir à sessão por não concordar com a seleção do filme. Mesmo assim, foi ovacionado por crítica e público e recebeu o Leão de Prata, prêmio destinado à segunda melhor obra na opinião do júri. Adaptado de um romance de Robert Harris, é um drama de época que narra a história de um capitão do exército que, em 1894, é acusado de traição e sentenciado à prisão perpétua no exílio.

Daniel Dalpizzolo


14. Um Lugar Silencioso - Parte II, de John Krasinski

Estreia: 19 de março

Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2017), surpreendente hit de terror que provocou uma onda de sessões respeitosamente silenciosas em cinemas do mundo todo, volta pra tentar repetir o fenômeno com o que restou da família. Novamente dirigido e estrelado pelo casal John Krasinski e Emily Blunt, os eventos da primeira produção se seguirão aqui sob o ponto de vista da mãe e seus dois filhos, que ainda precisam sobreviver ao ataque de criaturas atraídas pelo som.

Francisco Carbone


15. Três Verões, de Sandra Kogut

Estreia: 19 de março

Exibido durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Três Verões chega ao circuito comercial já no primeiro trimestre de 2020. Dirigido por Sandra Kogut (Mutum e Campo Grande) e protagonizado por Otávio Muller, Gisele Fróes e Regina Casé, o drama acompanha a história de uma família da alta elite carioca e seus empregados em três dezembros consecutivos.

Léo Félix


16. A Jornada, de Alice Winocour

Estreia: 19 de março

Após um ano de 2015 muito prolífico como autora de Transtorno (Maryland) e roteirista de Cinco Graças (Mustang), Alice Winocour conquistou a crítica em sua passagem pelos festivais de Toronto e San Sebastián com seu novo filme, A Jornada (Proxima), que soa como um Ad Astra às avessas ao contar a história de uma astronauta (Eva Green) que precisa lidar com questões familiares e psicológicas na iminência de deixar a filha para embarcar em uma missão espacial.

Rodrigo Torres


17. Mulan, de Niki Caro

Estreia: 26 de março

A Disney continua a produzir adaptações em live-action de suas animações mais adoradas. Mas, enquanto O Rei Leão (The Lion King, 2019) e A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 2017) demonstravam desde o primeiro material divulgado uma considerável falta de identidade, Mulan tem aparecido, pelo menos nos primeiros trailers, como um filme mais disposto a bancar uma personalidade própria, independente da animação de 1998.

Cesar Castanha


18. System Crasher, de Nara Fingscheidt

Estreia: 26 de março

O Urso de Prata de System Crasher (Systemsprenger) em Berlim 2019 foi o pontapé inicial de um hype impressionante, que se manteve no mundo todo até chegar ao Brasil, na Mostra de São Paulo e no Festival do Rio, onde o surpreendente tour-de-force de uma atriz-mirim, Helena Zengel, conquistou crítica e público de forma quase unânime. Desde já, um dos grandes favoritos às listas de melhores lançamentos de 2020 nos cinemas brasileiros.

Rodrigo Torres


19. Os Novos Mutantes, de Josh Boone

Estreia: 2 de abril

Há dois anos foi divulgado o primeiro trailer de Os Novos Mutantes (The New Mutants). Desde então, o filme foi repetidamente adiado, atravessando o fim da franquia X-Men da Fox e a compra desta pela Disney. Os Novos Mutantes promete ser uma adaptação dos quadrinhos da Marvel com uma abordagem do gênero de horror. O filme traz para o cinema alguns dos personagens mais celebrados do universo mutante, como Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), Rahne Sinclair (Maisie Williams), Danielle Moonstar (Blu Hunt) e o personagem brasileiro mais notório dos quadrinhos da Marvel, Roberto da Costa (Henry Zaga).

Cesar Castanha


20. Eduardo e Mônica, de René Sampaio

Estreia: 9 de abril

Inspirado em um dos maiores sucessos da banda Legião Urbana, sob direção de René Sampaio (que também adaptou para o cinema, em 2013, Faroeste Caboclo, outro grande sucesso do grupo de rock brasiliense), Eduardo e Mônica pretende transpor à telona os consagrados e carismáticos versos de Renato Russo sobre este improvável casal, aqui protagonizado por Gabriel Leone e Alice Braga.

Léo Félix


21. 007 - Sem Tempo Para Morrer, de Cary Joji Fukunaga

Estreia: 9 de abril

Este é o 25º filme da franquia 007, batizado como 007 - Sem Tempo Para Morrer, e traz novamente (e talvez pela última vez) Daniel Craig como o agente secreto britânico James Bond. Dirigido por Cary Fukunaga, o filme traz uma corrida contra o tempo para salvar um cientista e, consequentemente, o mundo. Com grande elenco, destaca-se o recém oscarizado Rami Malek, que viveu Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. Somam-se a ele Ralph Fiennes, Naomie Harris, Léa Seydoux e Ana de Armas.

Marcelo Leme


22. Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, de Bárbara Paz

Estreia: 9 de abril

Vencedor da categoria de melhor documentário na mais recente edição do prestigiado Festival de Veneza, Babenco acompanha a trajetória pessoal e profissional de Hector Babenco, cineasta nascido na Argentina e naturalizado brasileiro, indicado ao Oscar por O Beijo da Mulher Aranha (1985) e diretor de, entre outros, Carandiru (2003). Dirigido por Bárbara Paz, esposa de Babenco, o documentário acompanha, ainda, os medos e ansiedades do homenageado na luta contra o câncer, que o levou ao falecimento em 2016.

Léo Félix


23. Sybil, de Justine Triet

Estreia: 16 de abril

Sibyl reúne duas mulheres, uma psicoterapeuta escritora e uma atriz de cinema, cuja relação construída entre ambas estabelece uma série de reflexões sobre temáticas pertinentes ao feminino, às suas atividades profissionais e à própria ficção. Dirigido por Justine Triet, o longa francês teve passagem de sucesso por diversos festivais, concorrendo à Palma de Ouro em Cannes no ano de 2019. No Brasil, chamou a atenção de críticos e cinéfilos em sua recente passagem pela Mostra de São Paulo e o Festival do Rio.

Daniel Dalpizzolo


24. A Ilha da Fantasia, de Jeff Wadlow

Estreia: 16 de abril

Quem tem mais de 30 anos lembra da série hit do início dos anos 80 estrelada por Ricardo Montalban como cicerone de um hotel-ilha que realizava os sonhos de seus hóspedes. Agora, já pensaram nessa premissa levada para o cinema de terror, e temos um "mash-up" pra lá de curioso, e a promessa que o cinema de gênero repleto de remakes (O Grito, Os Órfãos) e continuações (Invocação do Mal, Boneco do Mal), tem aqui uma curiosa reimaginação.

Francisco Carbone


25. Magnatas do Crime, de Guy Ritchie

Estreia:  23 de abril

Ao saber notícias de Magnatas do Crime (The Gentlemen), nos pareceu que o cineasta inglês Guy Ritchie, propenso a ironia e sarcasmo, pareceu tomar como inspiração duas de suas mais importantes obras: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998) e Snatch - Porcos e Diamantes (Snatch, 2000). Ao menos a história faz jus à expectativa e o elenco abarrotado de importantes nomes, tais como Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, Colin Farrell e Hugh Grant, colabora para que este novo trabalho mereça atenção.

Marcelo Leme


26. Viúva Negra, de Cate Shortland

Estreia: 30 de abril

Desde que a Viúva Negra, interpretada por Scarlett Johansson, apareceu pela primeira vez no filme Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010), tem sido desejado um filme protagonizado pela personagem. Já poderia ter acontecido há alguns anos – até mesmo no espaço de tempo em que este filme será ambientado, entre Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016) e Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018) –, mas, ao menos, poderemos nos despedir da personagem em grande estilo. Viúva Negra (Black Widow) será dirigido por Cate Shortland, responsável pelo ótimo Lore (2012).

Cesar Castanha


27. Artemis Fowl - O Mundo Secreto, de Kenneth Branagh

Estreia: 28 de maio

Fantasia baseada em livro (pra variar) da vez, produzido pela Disney e dirigido por Kenneth Branagh, que tem forte background na obra de Shakespeare em sua carreira. É um daqueles filmes com mundo gigantesco e sombrio, cheio de criaturas, personagens, que mistura primitivismo com tecnologia e deve agradar a turma da vez. No final trailer dá até para ver o jovem protagonista fazendo cosplay de MIB.

Rodrigo Cunha


28. Vitalina Varela, de Pedro Costa

Estreia: maio (sem data)

Pedro Costa retoma questões trabalhadas em filmes anteriores, como os espectros do colonialismo português, os guetos periféricos de Lisboa e as vidas castigadas que os habitam, resgatando personagens já conhecidos destas obras estão lá desde a Vitalina Varela de Cavalo Dinheiro ao Ventura de Juventude em Marcha, dois filmes incontornáveis do cinema português do século XXI. De expressiva tradição pictórica, espera-se sempre do cinema de Costa uma série de composições visuais pungentes, ritmo antinaturalista, uso de não-atores e a intersecção amarga entre o real e o ficcional.

Daniel Dalpizzolo


29. Mulher-Maravilha 1984, de Patty Jenkins

Estreia: 4 de junho

Não há muito o que sabemos sobre o enredo da sequência do filme Mulher-Maravilha (Wonder Woman, 2017) além de que é ambientado 70 anos depois do primeiro filme, que Gal Gadot e, mais surpreendentemente, Chris Pine estarão de volta em seus papéis como Diana e Steve e que Kristen Wiig deve interpretar a vilã Cheetah. A parceria da talentosa diretora Patty Jenkins com a carismática Gadot funcionou muito bem no primeiro filme, então podemos nutrir expectativas de uma boa continuação.

Cesar Castanha


30. Jogos Mortais, de Darren Lynn Bousman

Estreia: 18 de junho

O Halloween será mais cedo no Brasil em 2020. Duas sagas do cinema de terror serão reiniciadas em semanas subsequentes do mês de junho: Candyman, com Yahya Abdul-Mateen II emplacando mais um projeto depois de Black MirrorAquaman e Watchmen; e Jogos Mortais, estrelado por Samuel L. Jackson e Chris Rock, que também produz e assina o argumento. E isso é tudo que eu preciso saber para sonhar com esse filme; sob pena de nem querer assisti-lo e apenas sonhar com essa versão maravilhosa envolvendo torturas, piadas e f*cks.

Rodrigo Torres


31. Ema, de Pablo Larraín

Estreia: prevista para o segundo semestre

Pablo Larraín não é hoje apenas o maior cineasta chileno, como um dos grandes autores e produtores em atividade. Ele volta a se reunir a Gael Garcia Bernal depois de No (2012) para investigar as novas formações familiares através do núcleo de um coreógrafo, sua esposa e a criança que adotaram, que provoca um acidente que vai mudar emocionalmente a família. Concorrente do último Festival de Veneza, o filme é um dos mais esperados lançamentos do circuito no ano.

Francisco Carbone


32. Top Gun - Maverick, de Joseph Kosinski

Estreia: 9 de julho

O anúncio da sequência foi uma enorme surpresa. Após 34 anos, veremos Tom Cruise reviver em cena o piloto Pete Mitchell, o Maverick, personagem que o consagrou transformando-o em astro do cinema lá na segunda metade da década de 80. De lá pra cá, Cruise emplacou diversos sucessos. Favorecido pela nostalgia, Top Gun – Maverick inevitavelmente se tornou um dos títulos hollywoodianos mais aguardados de 2020. O piloto retorna nas alturas enfrentando a tecnologia, pondo a prova à experiência e fator humano como diferenciais.

Marcelo Leme


33. Jungle Cruise, de Jaume Collet-Serra

Estreia: 23 de julho

Uma das principais apostas de bilheteria da Disney para 2020, Jungle Cruise é uma aventura familiar, protagonizada por Emily Blunt e Dwayne "The Rock" Johnson, baseada no passeio pelo parque temático da Disneylândia, onde um pequeno barco fluvial leva um grupo de viajantes por uma selva cheia de animais e répteis perigosos, tendo como pano de fundo elementos sobrenaturais. A previsão de estreia é julho, quando deve fazer sucesso entre o público escolar em período de férias.

Léo Félix


34. Tenet, de Christopher Nolan

Estreia: 23 de julho

O trailer de Tenet, novo filme de Christopher Nolan, promete um trabalho típico do diretor: quebra-cabeça cheio de ação e perseguições em uma insana corrida contra o tempo. Com Robert Pattinson e John David Washington na linha de frente, é provável que seja um dos hits ame-ou-odeie do ano, como sempre ocorre em qualquer filme de Nolan nos círculos de cinéfilos internet afora. A premissa indica até viagens no tempo, o que pode resultar em experimentos similares que ele realizou em trabalhos como Amnésia (Memento, 2000), A Origem (Inception, 2010) e Interestelar (Interstellar, 2014).

Heitor Romero


35. Fim de Festa, de Hilton Lacerda

Estreia: prevista para o segundo semestre

No mês passado, o novo longa de Hilton Lacerda saiu do Festival do Rio como o grande vencedor, se tornando um dos mais esperados títulos do ano. O diretor de Tatuagem (2013) mais uma vez observa os corpos libertos em movimento para protestar de maneira poética o agora. Estrelado pelo gigante Irandhir Santos, o filme tem um pano de fundo policial com a investigação de um crime ocorrido no Carnaval para uma nova analogia de afetos e encontros em meio à liberdade emocional e de expressão.

Francisco Carbone


36. Malignant, de James Wan

Estreia: 13 de agosto

James Wan caminha para as duas décadas como referência do cinema de horror em Hollywood, quando fez um tremendo sucesso com Jogos Mortais (Saw, 2004). O filme se tornaria franquia, assim como Sobrenatural (Insidious, 2010) e Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), além do diretor ter se lançado em grandes blockbusters de ação (Velozes & Furiosos 7) e super-heróis (Aquaman). Antes de voltar a esses projetos maiores, o cineasta malaio voltará às origens com um projeto baseado em sua própria HQ, "Malignant Man", sobre um homem que descobre que seu tumor maligno é um parasita alienígena que lhe confere poderes extraordinários. Não sei você, mas eu gosto disso.

Rodrigo Torres


37. Ghostbusters - Mais Além, de Jason Reitman

Estreia: 20 de agosto

Nova investida na franquia de sucesso dos anos 80 depois da simpática versão e reboot estrelada por atrizes em 2016. É um elenco novo, recheado de crianças (a moda, né?), mas que dá sequência direta ao universo dos filmes originais. Sai aquele quê de produção B divertida e entra uma superprodução com S maiúsculo, com direito ao elenco original (exceto Harold Ramis, que nos deixou em 2014) e muitos efeitos especiais.

Rodrigo Cunha


38. Invasão Zumbi 2, Sang-Ho Yeon

Estreia: 27 de agosto

Já que o fenomenal Deerskin - A Jaqueta de Couro de Cervo, de Quentin Dupieux, não ganha confirmação de lançamento, Invasão Zumbi 2 ocupa o seu lugar como um voto de confiança do Cineplayers no diretor Sang-Ho Yeon  que soube, em Invasão Zumbi (Busanhaeng, 2016), embarcar no hype dos filmes com mortos-vivos não para enganar o público com um cinema embusteiro, que explora as convenções do gênero de forma rasteira para faturar alto nas bilheterias (o sucesso como um fim em si), mas como um meio de articular suas habilidades como um  manipulador do cinema de terror para gerar tensão sem jamais recorrer a jump scares cretinos e até mesmo à escuridão, só por meio da composição de grandes set pieces de suspense e ação.

Rodrigo Torres


39. Monster Hunter, de Paul W.S. Anderson

Estreia: 3 de setembro

Paul W. S. Anderson e Milla Jovovich, a dupla responsável por Resident Evil (uma das franquias mais controversas e idiossincráticas da indústria recente, cabe dizer), retornam neste que é seu primeiro projeto juntos fora do universo adaptado do famoso game de survival horror. O método, porém, parece se manter o mesmo. Anderson deve retomar sua composição visual calcada na exploração pictórica do CGI para transportar às telas outro sucesso dos video-games, Monster Hunter, narrando agora a história de uma heroína transportada a um novo mundo para lutar contra horrendos monstros gigantes.

Daniel Dalpizzolo


40. Invocação do Mal 3, de Michael Chaves

Estreia: 10 de setembro

Os dois primeiros longas da série conquistaram relativo respeito com o público (ao ponto de figurarem na lista de maiores filmes de terror da década 2010-19 do Cineplayers) e inspiraram esse terceiro e óbvio filme. Só que as coisas ficam meio preocupantes quando alinhamos os fatos de que os roteiristas originais não escreveram este terceiro episódio, quando James Wan, o novo queridinho do sangue artificial de Hollywood, também não está na direção e nem quando a sinopse para vender a ideia é divulgada. É pagar para ver.

Rodrigo Cunha


41. Pacarrete, de Allan Deberton

Estreia: sem data

A estreia na direção de Allan Deberton estreou em Gramado e saiu de lá com 7 prêmios, incluíindo melhor filme e melhor atriz pra grande Marcelia Cartaxo. Desde então, festivais no Brasil e no mundo já conheceram a história da bailarina Pacarrete, que sonha em fazer uma última apresentação no aniversário da sua cidade Natal. Um dos mais aplaudidos filmes nacionais da temporada, o filme de Allan finalmente entra em cartaz em 2020 com enorme expectativa.

Francisco Carbone


42. The Witches, de Robert Zemeckis

Estreia: 8 de outubro

A carreira de Robert Zemeckis segue sendo uma das mais incompreendidas da Hollywood atual. O cineasta mantém-se fiel à tradição de narrar histórias melodramáticas e fantasiosas, fazendo bom uso dos principais recursos do aparato cinematográfico industrial, porém com um senso de fábula visual raro na indústria. The Witches é uma nova adaptação do livro homônimo antes transportado às telas por Nicolas Roeg, sob o título nacional Convenção das Bruxas. Anteriormente encabeçado por Angelica Huston, o elenco agora conta com Anne Hathaway, Octavia Spencer, Stanley Tucci e Chris Rock.

Daniel Dalpizzolo


43. Morte no Nilo, de Kenneth Branagh

Estreia: 8 de outubro

O Herculet Poirot de Kenneth Branagh foi uma das boas surpresas em Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, 2017), no qual o também diretor conseguiu reunir um elenco estelar e aproveitá-lo bem. O sucesso já deixou gancho para este Morte no Nilo (Death on the Nile), trazendo de volta o famoso detetive belga criado por Agatha Christie em um novo mistério inspirado no romance da Rainha do Suspense. Mesmo que dessa vez com um elenco mais modesto, as expectativas são boas. 

Heitor Romero


44. Halloween Kills, de David Gordon Green

Estreia: 15 de outubro

O diretor David Gordon Green traz mais um capítulo da saga Halloween, sequência direta do lançamento de 2018, também dirigido por ele. Com Jamie Lee Curtis reprisando o icônico papel de Laurie Strode, veremos no mês do dia das Bruxas o retorno do assassino Michael Myers, emblemático personagem criado pelo aclamado cineasta John Carpenter e pela produtora Debra Hill. Halloween Kills será o décimo segundo filme desta que é uma das franquias mais bem-sucedidas do cinema. Os fãs já estão ansiosos por novidades.

Marcelo Leme


45. Os Eternos, de Chloé Zhao

Estreia: 29 de outubro

Ainda não se sabe muito bem o que esperar da nova fase do Universo Cinematográfico da Marvel, que agora vai incluir também produções seriadas para a Disney+. Os Eternos (The Eternals), na melhor das hipóteses, pode propor uma bem-vinda renovação dos temas e da estética dessas franquias. A contratação de Chloé Zhao (Domando o Destino) como diretora é uma boa indicação de que Kevin Feige busca novos ares para os personagens e o universo.

Cesar Castanha


46. Last Night in Soho, de Edgar Wright

Estreia: 5 de novembro

Um suspense com toques de ficção-científica — é o que parece anunciar o novo projeto de Edgar Wright, diretor dos badalados Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010) e Em Ritmo de Fuga (Baby Driver, 2017), no qual ele pretende explorar um pouco a mítica cultural dos anos 1960 em uma Londres que ele nunca conheceu durante esse período e que pretende retratar a partir de um sentimento de nostalgia que não viveu. Parece complicado? É esperar para ver o exercício de estilo que ele vai desenvolver nesse curioso cenário de tempo-espaço misterioso.

Heitor Romero


47. Turma da Mônica - Lições, de Daniel Rezende

Estreia: 10 de dezembro

Turma da Mônica: Laços (2019) foi um sucesso e já garantiu uma sequência para o live-action dos adoráveis personagens criados por Mauricio de Sousa. Agora é a vez de Turma da Mônica – Lições trazer de volta o quarteto Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão para uma nova aventura que se passará em um contexto escolar. Filmado em Poços de Caldas, Minas Gerais, esta segunda parte traz novamente o diretor Daniel Rezende para trás das câmeras.

Marcelo Leme


48. West Side Story, de Steven Spielberg

Estreia: 17 de dezembro

Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) é um dos filmes musicais mais queridos de todos os tempos – vencedor de dez Oscars, incluindo melhor filme. Steven Spielberg tem uma grande responsabilidade com a nova versão desse clássico, mas, além de podermos confiar no talento do diretor, ele está em ótima companhia: Tony Kushner, autor da peça Angels in America, uma obra-prima do teatro, retoma a parceria com Spielberg, com quem já trabalhou em Munique (Munich, 2005) e Lincoln (2012).

Cesar Castanha


49. Um Príncipe em Nova York 2, de Craig Brewer

Estreia: 17 de dezembro

O retorno de Eddie Murphy em Meu Nome é Dolemite (Dolemite is my Name, 2019) deu tão certo que ele chamou o mesmo Craig Brewer para dirigir esse seu projeto de estimação. Assim, um de seus grandes sucessos dos anos 80 vai ganhar continuação com ele, Arsenio Hall e James Earl Jones de novo em um encontro totalmente inédito com o príncipe africano Akeem, seu ajudante Semmi e uma nova busca na América. Wesley Snipes confirmou a adesão ao elenco.

Francisco Carbone


50. Duna, de Denis Villeneuve

Estreia: 17 de dezembro

Uma das ficções-científicas mais adoradas da literatura mundial, Duna já virou um filme-bomba (embora hoje com um status de cult) nas mãos de David Lynch, em seu único trabalho de apelo comercial. Agora, com Dennis Villeneuve, a história promete ser outra. Adepto do sci-fi de fundo existencial, o diretor já fez bonito em Blade Runner 2049 (2017) e A Chegada (Arrival, 2016), então as expectativas para uma adaptação de qualidade são bem altas.

Heitor Romero


BÔNUS: Marighella, de Wagner Moura

Estreia: sem previsão

Porque filme nenhum pode ser censurado. Seja pelo radicalismo ideológico de parte de um país polarizado, seja, principalmente, por influência de um político irresponsável — tampouco, e mais grave e reprovável ainda, se for ele o Presidente da República.

Até a próxima!

Notícias

It - Capítulo Dois divulga primeiro teaser trailer


A New Line Cinema divulgou o primeiro teaser trailer de It - Capítulo Dois, que mostra uma crescida Beverly voltando a Derry e interagindo com uma senhora que, ainda que simpática, começa a se mostrar cada vez mais suspeita. Quando ela sai para fazer o café, olhar para os quadros confirma o motivo de sua suspeita.

O novo filme é ambientado 27 anos depois do primeiro filme, ambientado em 1988, e conta com os integrantes do "Clube dos Otários" Bill, Beverly, Ben, Richie, Stan, Mike e Eddie adultos retornando à sua cidade natal Derry para novamente lidar com a ameaça do palhaço sobrenatural Pennywise, uma entidade que retorna de tempos em tempos para se alimentar do medo das pessoas. 

Com James McAvoy (Vidro), Jay Ryan (Top of The Lake), Jessica Chastain (A Grande Jogada), Bill Hader (Barry), James Ransone (A Escuta), Andy Bean (Monstro do Pântano) e Bill Skarsgård (Atômica), o filme dirigido por Andy Muschietti (Mama) conclui a adaptação do romance monumental de Stephen King. A previsão de estreia no Brasil é para 5 de setembro de 2019.

Confira o trailer abaixo e deixe seu comentário!

Notícias

Confira o novo trailer de Homem-Aranha: Longe de Casa


Após os eventos de Vingadores: Ultimato, e podendo se ver (mais ou menos) livre de spoilers, a Marvel divulgou o novo trailer de Homem-Aranha: Longe de Casa, conectando a nova aventura do herói interpretado por Tom Holland a um dos eventos mais significativos da história recente do MCU: a morte do Tony Stark, o Homem-de Ferro.

O trailer novo dá mais profundidade à história, com Peter querendo curtir um pouco a adolescência em uma eurotrip, mas a chegada da vida adulta e das responsabilidades batem à porta quando o jovem sente-se no dever de honrar o legado do seu mentor Tony Stark, para isso ajudando Nick Fury, Maria Hill e a S.H.I.E.L.D. a lidar com criaturas poderosas conhecidas como Elementais, sendo assistido por isso por Quentin Beck, conhecido pela alcunha de Mysterio e que clama entender sobre os monstros e ser de uma realidade diferente, a Terra-833.

Muita informação para processar: o novo Homem-Aranha não só conecta com a última história lançada como também abre as portas para um conceito dos quadrinhos da Marvel ainda não explorado pelos filmes: o Multiverso. A maioria das histórias se passam na Terra-616,  mas há uma conjunção de realidades paralelas como o Microverso, a Zona Negativa e o interior da Jóia da Alma.

O conceito de Multiverso foi introduzido nas páginas do Capitão Britânia, onde cada realidade era guardada por um herói com esta alcunha. Nos quadrinhos, a Terra-833 é o lar do Aranha-UK, uma variante britânica do herói e único sobrevivente dessa realidade. O conceito dos vários Homens-Aranha diferentes explorado em Homem-Aranha no Aranhaverso parte de um arco onde um exército de variantes do herói descobre Karn, um membro de um grupo maligno conhecido como os Herdeiros que acaba se redimindo e se tornando um Mestre Tecelão, responsável por tecer a Teia da Vida e do Destino, que conecta todas as realidades alternativas. 

Após uma das grandes batalhas da década, a Marvel está sonhando alto. Não sabemos ainda até quando esse projeto continuará sendo expandido, mas o trailer cheio de novidades pode ser visto abaixo. Não se esqueça de comentar!

Notícias

Divulgado o primeiro trailer de Sonic - O Filme


Foi divulgado o primeiro trailer para Sonic - O Filme, adaptação em live-action e motion capture do clássico videogame do Master System e desde o ano passado um dos projetos mais polêmicos da internet, que em grande parte recebeu mal a concepção visual realista do ouriço azul velocista.

O filme foi produzido em associação internacional entre várias companhias, as mais famosas sendo a Paramount Pictures e a Sega e conta a história de Tom Wachowski, um xerife da pequena Green Hills que viaja até San Francisco para ajudar Sonic, um ouriço azul antropomórfico que é capaz de correr a velocidades incríveis,  tentando tanto livrar Sonic das garas do governo quanto para somar forças na batalha contra o vilão Dr. Robotnik.

Com Ben Schwartz (Parks and Recreation) fazendo a voz de Sonic, James Marsden (Westworld) como o xerife e Jim Carrey (O Máskara) como o vilão Robotnik, Sonic - O Filme é dirigido por Jeff Fowler, responsável pelos efeitos visuais de Onde Vivem os Monstros e que estreia na direção de longas-metargens.

O filme estreia no Brasil em 14 de maio de 2019. Veja o trailer abaixo e deixe seu comentário!

Notícias

Olhares para o passado


O Olhar de Cinema começa no próximo dia 5 de junho e durante 9 dias a extensa programação incluirá as tradicionais mostras de retrospectivas e clássicos, procurando como sempre reverberar o nosso tempo. E dentro do atual cenário do país de perdas de certezas e um infeliz elogio a repressão política, uma homenagem a um cineasta que viveu no exílio se faz necessário, infelizmente. Assim sendo, a Retrospectiva desse ano é denominada 'Raoul Ruiz e os Diálogos no Exílio', um recorte preciso sobre o período em que o renomado cineasta chileno precisou se afastar de seu país devido à ditadura imposta.

Falecido em 2011 aos 70 anos, Raoul construiu uma filmografia muito particular, ligando seu nome a narrativas nunca tradicionais, situações surreais e muitas vezes nonsense, além de ter formado ao longo de mais de 100 filmes que dirigiu um olhar sobre a própria condição de exilado, que tantas vezes refletiu em seu próprio cinema. Sua filmografia se espalhou por diversos países, mas no seu Chile natal e na França que escolheu viver se encontraram os grandes momentos dessa obra singular, cheia de autenticidade e que reverberou seu país e as tradições disruptivas que ele amalgamou com a junção desses dois Estados tão diferenciados.

De sua longa obra, o Olhar vem buscar filmes realizados entre os anos 60 e 70, que dialogavam muito com sua situação de exílio e cujo período conversa com a própria ditadura brasileira. Disse Antônio Junior, diretor geral e de programação do Festival: "talvez há um ano atrás, esse tema não fizesse muito sentido à nossa realidade; infelizmente, nossa realidade política hoje observa a situação de um exilado sob uma perspectiva aproximada e a obra de Ruiz, especificamente nesse recorte escolhido, mostra a potência do seu criador e também se comunica com toda a América Latina no mesmo período".

Além dos 8 filmes dirigidos por Ruiz, outras 10 produções dirigidas por grandes nomes nossos que igualmente abordam o exílio e a ditadura foram selecionadas para essa edição do Olhar, de nomes como os de Glauber Rocha, Lúcia Murat, Cacá Diegues, Júlio Bressane, Ruy Guerra e Helena Solberg. Abaixo, os filmes do Olhar Retrospectivo:

Três tristes tigres (Tres tristes tigres, 1968, Chile, 98 min)

Diálogos dos exiliados (Diálogos de exiliados/Dialogue d’exilés, 1975, Chile/França, 104 min)

A vocação suspensa (La vocation suspendue, 1977, França, 95 min)

A hipótese do quadro roubado (L’Hypothèse du tableau volé, 1978, França, 64 min)

As divisões da natureza (Les divisions de la nature: Quatre regards sur le château de Chambord, 1978, França, 31min)

Dos grandes eventos e pessoas comuns (De grands événements et des gens ordinaires, 1979, França, 61min)

O teto da baleia (Het dak van de walvis, 1982, Holanda, 90 min)

As três coroas do marinheiro (Les trois couronnes du matelot, 1983, França, 117 min)

Os 10 filmes a seguir, dirigidos por cineastas brasileiros exilados, também foram confirmados para a Retrospectiva. Os filmes serão exibidos em suas cópias digitais:

Meio-dia (dir. Helena Solberg, 1970, Brasil, 11 min)

Un séjour (dir. Carlos Diegues, 1970, França, 56min)

O Leão de Sete Cabeças (Der Leone Have Sept Cabeças, dir. Glauber Rocha, 1970, França/Itália/Brasil, 99 min)

Não é hora de chorar (No es hora de llorar, dir. Luiz Alberto Barreto Leite Sanz e Pedro Chaskel, 1971, Chile, 36 min)

Memórias de um estrangulador de loiras (dir. Júlio Bressane, 1971, Inglaterra/Brasil, 71 min)

A dupla jornada (dir. Helena Solberg, 1975, Argentina/Bolívia/México/Venezuela, 54 min)

Estas são as armas (dir. Murilo Salles, 1978, Moçambique, 56 min)

Mueda, memória e massacre (dir. Ruy Guerra, 1979, Moçambique, 75 min)

O pequeno exército louco (dir. Lúcia Murat e Paulo Adário, 1984, Brasil/Nicarágua, 52 min) 

Fragmentos de exílio (dir. Sivio Tendler, 2003, Brasil, 6 min)

A Olhares Clássicos vai além da homenagem a um nome específico, e abrange a visitação por obras inesquecíveis e primordiais do nosso cinema, em versões restauradas para longas metragens cujas oportunidades de conferir em tela grande são raras. Além disso, o festival costuma selecionar ao menos um filme de grandes nomes que faleceram no período, como são os casos de Nelson Pereira dos Santos, Jonas Mekas, Kira Muratova, Stanley Donen e a mais recente de um dos maiores nomes da História do Cinema, Agnès Varda.

Algumas sessões serão obrigatórias, como a de O Funeral das Rosas, um dos primeiros títulos a celebrar a causa LGBTQ no cinema ao percorrer bares e boates gays, em formato que mistura documentário com a típica psicodelia de 1969, pelas mãos de um dos mais proeminentes cineastas experimentais japoneses, Toshio Matsumoto. Ou o vencedor do Leopardo de Ouro em Locarno '70, Ó, Sol, do mauritano Med Hondo, falecido em março. Conterrâneo do homenageado passado do Olhar Djibril Diop Mambety, também Hondo é adepto do experimentalismo e foi intensamente celebrado com essa vitória a um filme que não perdeu sua força, e que celebra uma forma de se livrar do julgo para imigrantes africanos na França do período. 

Ainda terá por lá exibição do impressionante O Conformista, de Bernardo Bertolucci, bem como A Longa Caminhada, de Nicolas Roeg. A russa Kira Muratova terá a oportunidade de se tornar mais reconhecida no país, já que seu nome nunca foi muito difundido por aqui, através de um de suas obras mais importantes, 'Conhecendo o Grande e Vasto Mundo'. E um dos filmes mais importantes de Agnès Varda, Os Renegados, estará homenageando a grande dama e uma das criadoras da Nouvelle Vague. 

Abaixo, a lista dos clássicos que estarão no Olhar: 

O Funeral das Rosas (Funeral Parade of Roses, dir. Toshio Matsumoto, Japão, 1969, 105 min.)

Filhas do Pó Daughters of the Dust, dir. Julie Dash, EUA, 1991, 112min.)

Ó, Sol (Soleil Ô, dir. Med Hondo, Mauritânia, 1970, 98 min.)

O Conformista (Il conformista, dir. Bernardo Bertolucci, Itália, 1970, 113 min.)

Conhecendo o grande e vasto mundo (Getting to Know the Big Wide World, dir. Kira Muratova, União Soviética, 75min. 1978) 

Os Renegados (Sans toit ni loi, dir. Agnès Varda, França, 105 min. 1985)

A Longa Caminhada (Walkabout, dir. Nicolas Roeg, Austrália/Reino Unido, 1971, 100min)

Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain, dir. Stanley Donen, EUA, 1952, 103min)

Memórias do cárcere (dir. Nelson Pereira dos Santos, Brasil, 1984, 185min)

 

Programa Germaine Dulac


Celles qui s’en font (dir. Germaine Dulac, França, 1928, 6min)

La cigarette (dir. Germaine Dulac, França, 1919, 56min)

Danses espagnoles (dir. Germaine Dulac, França, 1928, 7min)

Reminiscências de uma Viagem à Lituânia (Reminiscences of a Journey to Lithuania, dir. Jonas Mekas, Lituânia/EUA, 1972, 82min)

Notícias

John Singleton falece aos 51 anos

Após sofrer um derrame no dia 17 de abril de 2019 e estar desde então em coma, o diretor John Singleton teve os aparelhos que o mantinham vivo desligados e faleceu aos cinquenta e um anos de idade.

Singleton destacou-se em Hollywood com Os Donos da Rua (1991), que o tornou o cineasta mais jovem e o primeiro afro-americano indicado ao Oscar de Melhor Direção, também lançando para a fama o ator Cuba Gooding Jr. (Homens de Honra). Desde então, Singleton ainda comandaria o remake Shaft (2000), a sequência +Velozes +Furiosos (2003) e o clipe de Michael Jackson Remember The Time.

Pai de cinco filhos, um deles com a atriz Akosua Busia (A Cor Púrpura), Singleton também dirigiu episódios das séries Empire e American Crime Story e criticava ativamente Hollywood por questões raciais, chegando a afirmar  em uma palestra universitária que para diretores negros só era possível fazer filmes sobre questões de raça.

Críticas

Usuários

Mistura de ação e ficção científica que fez um clássico dos anos 80

0,0

James Cameron é um daqueles cineastas capazes de doar o próprio sangue, suor e até mesmo uma boa quantia em dinheiro para levar seus projetos adiante. Quem conhece a histórica produção de Titanic sabe o quanto o diretor passou pro trancos e barrancos para finalizar o longa, explodindo orçamentos e levando o elenco à loucura, tamanho seu perfecciosnimo atrás das câmeras. Deu certo, pois a história do malfadado transatlântico se tornou um dos mais autênticos sucessos do cinema. E talvez por sua enorme popularidade é que poucos lembrem que Cameron já havia passado por dores de cabeça semelhantes quando começou a trabalhar na produção de O Exterminador do Futuro, uma mistura de ação e ficção cientifica da qual muitos duvidaram na época, mas que abriu diversas portas para que Cameron se firmasse como um dos diretores mais competentes dos anos 80.

Sim, pois a primeira idealização foi imediatamente recusada logo de início, algo que não lhe impediu de levar sua ideia adiante. Ele chamou mais quatro mãos para reescrever seu roteiro, e conseguiu a atenção da produtora Gale Anne Hurd, que viria a comprar os direitos do filme pela barganha de um dólar. Levando o roteiro a sofrer mais alguns cortes em razão das restrições orçamentárias, grandes responsáveis pelo formato final da obra, e a escalação de um popular Arnold Schwarzenegger (que acabava de vir do sucesso de Conan - O Bárbaro) na pele do impiedoso cyborgue T-800, Cameron misturou essa salada e deu vida a um improvável clássico do gênero, numa obra que encontrou seu ponto alto justamente em sua econômica narrativa, obrigando-o a respeitar seus limites orçamentários e encontrar soluções criativas para o filme.

A própria trama em si é absurdamente simples, na qual o andróide T-800 é enviado do futuro para os anos 80 com o objetivo de assassinar Sarah Connor (Linda Hamilton), enquanto o soldado Kyle Reese (Michael Biehn) também é enviado para proteger Sarah do destrutivo ciborgue. O motivo: Sarah será a responsável por dar à luz John Connor, que no futuro será o líder da resistência humana após um holocausto nuclear, quando as máquinas viriam a dominar o planeta.

Cameron vai, através de flashbacks simplistas e esclarecedores, nos revelando sobre a atual situação do futuro após o domínio das máquinas, o que joga o espectador no mesmo nível do ceticismo inicial de Sarah, que vai aos poucos compreendendo a gravidade e a dimensão de sua situação, e sua própria importância enquanto geradora do líder da humanidade. Nesse último ponto, recebemos um forte discurso feminista por parte de Cameron, fortificando a figura da mulher e transformando-a em mais do que um mero rosto frágil que precisa ser protegido. É um discurso inserido de maneira sutil, mas bastante forte, o que eleva o status de O Exterminador do Futuro para além de um mero filme de ação.

Isso porque Cameron também insere incitações curiosas sobre a identidade visual da época e as próprias idealizações do público sobre o que seria o futuro. Como o visionário que é, elabora inteligentíssimas rimas visuais entre o presente e o possível futuro, no qual a identidade do movimento punk, indo das roupas e acessórios até o estilo musical, entra num conflito curioso com a presença dura e sem expressão do T-800, sempre vestido de preto e com óculos escuros, numa representação incerta do amanhã.

Para tanto, Cameron não trabalha em cima dos estereótipos cibernéticos com os quais o público estava acostumado (algo, acredito eu, também resultado das restrições monetárias), mas coloca uma figura de aparência comum em meio aos humanos para, aos poucos, desconstruí-la (literalmente) aos nossos olhos. Nesse ponto é que podemos ver o quanto uma boa técnica pode ser aliada da história, transformando-a num poderoso elemento narrativo; pois, conforme os conflitos corporais vão acontecendo na tela, vemos o T-800 sendo gradativamente destruído, sofrendo danos, obrigando o espectador a passar pela angustiante experiência de ver o monstro ser revelado aos poucos, assumindo contornos cada vez mais assustadores.

É nesse ponto que, apesar do baixo orçamento, fica impossível não reverenciar o trabalho de maquiagem de Stan Winston, que alcança uma sensação de realismo absolutamente digna. As explosões e acrobacias das eletrizantes cenas de ação também surpreendem por não se limitarem aos efeitos gráficos, impressionando o público até hoje por sua veracidade. Tal excelência técnica entra em conflito apenas nos momentos finais, quando temos o T-800 num stop-motion bastante artificial. As cenas em animatrônicos, entretanto, compensam graças aos criativos e funcionais posicionamentos e movimentos da câmera de Cameron, conferindo as impressões exatas aos movimentos do T-800.

Schwarzenegger encontrou na sua roupagem do inexpressivo andróide T-800 a figura ideal para catapultar de vez seu estrelato. Muito longe de ser um bom ator, Arnold faz bom uso de sua aparência truculenta e de seu sotaque austríaco carregado para dar vida a um personagem marcado por estas características, com um simples diálogo como “I’ll be back” ficando eternizado pela voz do ator. Linda Hamilton convence como a inicialmente assustada Sarah Connor, que, conforme vai tomando conhecimento de sua própria importância, assume contornos mais definitivos e audaciosos. Michael Biehn é o único elo fraco do elenco, com sua ausência de carisma dificultando o envolvimento do público com os conflitos internos de seu personagem.

Encerrando o longa com um desfecho que apenas deixa incertezas no ar (incertezas estas que viriam a justificar a popular continuação dos anos 90), Cameron criou um dos mais improváveis clássicos dos filmes de ação e ficção cientifica, numa felicíssima união entre os dois gêneros, resultando numa obra excitante, nostálgica e até mesmo reflexiva. É cinema que apenas enriquece com o tempo.

Críticas

Usuários

O cinema vital de Rogério Sganzerla.

0,0

Sem Essa, Aranha (1970) é o turbilhão de choque estético de Rogério Sganzerla: a antiestética do cinema assim batizado de “marginal” alcançava um dos ápices aqui, desmanchando quaisquer compromissos narrativos e didáticos para a construção da expressão desenfreada e enfurecida do diretor. Seus personagens são aberrações que felizmente padecem da completude tradicional dramatúrgica para berrar, avacalhar, vomitar e provocar a desordem total e absoluta. A união de Sganzerla com Jorge Loredo, o eterno Zé Bonitinho (que é a persona do banqueiro Aranha), resultou em uma das obras mais livres e anárquicas de nosso cinema – a recusa do diretor com o regime de imagem tradicional é absoluta e radical.

Sganzerla filma grandes blocos de imagem, planos-sequências em que seus personagens interagem com figurantes, interagem com a câmera, a equipe interage com os atores e Loredo, Helena Ignez e Maria Gladys, em suas performances caricaturais e fanfarronas, desempenhando as sequências de grande movimentação fora e dentro de quadro e grande perturbação sensorial, levam à tela as vísceras de um Brasil que, como diria Darcy Ribeiro, é um país em ser, impedido de sê-lo. A colônia liberta e devassa, a república independente vivendo os anos de chumbo da ditadura; a identidade plural muitas vezes sem consciência de si, dos capitalistas eurocêntricos, do baião de Luiz Gonzaga e do samba de Moreira da Silva; da cultura cristã apaixonada e da galhofa descrente. Todos em Sem Essa, Aranha acreditam e não acreditam, ou melhor, não sabem exatamente no que acreditar. Sganzerla baseia seu filme no puro antagonismo temático e estético, da miséria se chocando com a burguesia, do cinema de sucata batendo de frente com o cinema industrial.

O pesadelo intelectual escrachado de O Bandido da Luz Vermelha (1968) – O Demônio das Onze Horas (Pierrot le fou, 1965) dos trópicos -, que ameaçava que “O terceiro mundo vai explodir” e “quem não pode fazer nada avacalha e se esculhamba”, agora é mais aberto em sua abordagem, mas é paradoxalmente tão simbólico: as interações com a aranha de plástico exercendo influência no campo diegético, o trio de protagonistas descendo o morro com Aranha performando seus trejeitos enquanto Gladys grita repetidamente e de forma desagradável “eu tô com fome”, a equipe vista com o elenco dentro do mesmo espelho, Ignez, a pura explosão de energia dentro de uma janela de filme interagindo com Luiz Gonzaga nunca cessando de cantar: apesar do número de imagens tão variadas que abusam do grotesco, da progressão inconsciente e desgovernada, é difícil ignorar sobre o que Sem Essa, Aranha fala: de um Brasil que você não sabe definir ou identificar o espírito, você sente. A libertinagem, a desordem, a truculência de uma selvageria pouco clara em palavras mas que, significado dentro do campo da imagem em movimento, sabe-se até demais – mais do que se gostaria de saber.

O projeto estético dessa turma que saltou dos gibis, do cinema policial bom e barato e da boca do lixo foram responsáveis por uma geração de filmes que trabalharam com uma dissolução de pactos pré-datados e para um país que tentava reagir e se expressar através das instituições totalitárias que mantinham a coleira curta: com maior e menor rigor formal, a política desse movimento era representar, como certeza vez disse Reichenbach, não a subversão, mas a transgressão; não desestruturar as estruturas de poder como faria o cinema novo, mas apontar a câmera para os párias; tanto no diálogo com Mélies em Bang Bang (1971) (o cinema só podendo avançar feito da maneira rústica e livre que era feito) quanto da piração imprevisível de Sganzerla (o caminho do cinema através da paródia, da sacanagem e da sucata; a liberdade de movimento de câmera e personagem, da criação textual, da anti-progressão, dos blocos que se relacionam mais por uma fúria unitária que por qualquer outra coisa),  o cinema marginal é um cinema que sempre transpirou e, daqui a décadas, transpirará conflito. Quem parar, morre, e o filme como uma unidade de movimento não pode estar em paz. Quem se satisfazer ou acomodar, “ficar de sapato”, é deixado para trás. O epíteto “marginal”, por mais que não desejado, nunca fez tanto sentido: ser “à margem” pela simples impossibilidade de poder compactuar com os monstros ideológicos que tinham de driblar.

Sem Essa, Aranha não foi feito para ser polido ou agradar os pactos estéticos  que tanto aprisionaram o cinema; foi feito para propositadamente ser desagradável, para ser ridículo, para falar do Brasil que a classe dominante não gosta, odeia, despreza, tem medo, repulsa e asco. Sganzerla cuspia na cara do Brasil inventado, do Brasil tricampeão, dos noventa milhões em ação e do ufanismo doentio. Anos mais tarde, Sganzerla, ao fazer um documentário sobre o documentário É Tudo Verdade (It's All True, 1993), de Orson Welles, chamou-o de É tudo Brasil. Enquanto o americano libertava o cinema do peso da verdade e o devolvia ao campo das mentiras, da imaginação e dos sonhos, o “Brasil verdadeiro” de Sganzerla era essa expressão pessoal que Sem Essa, Aranha transpira: a liberdade sacana, irônica e galhofeira que não tem nada a ver com o quadrado, com o sisudo, com o Estado, com o conservadorismo que se traveste de estética – um Brasil vital.

Texto retroativo da série Clássicos Brasileiros

Notícias

A imortalidade do jogo da roleta – a representação na cultura e nos filmes

Imagem: filme "Croupier".

A roleta é um jogo de cassino. Desde sua criação, o giro da roda carrega um simbolismo profundo: a imprevisibilidade da vida, o poder do acaso e o desejo humano de controlar o incontrolável. Na era digital, a roleta se reinventa em versões online, mas permanece um ícone cultural que transcende as paredes dos cassinos. Seu impacto pode ser visto não apenas no entretenimento moderno, mas também na forma como ela é retratada no cinema, imortalizando sua mística em histórias de tensão e drama.

Recentemente, a roleta encontrou novo fôlego em plataformas digitais. Grandes cassinos online mostram o jogo da roleta como a categoria favorita em cassinos ao vivo, com versões sofisticadas como a Roleta Brasileira Ao Vivo ou a Lightning Roulette, que combinam tradição e inovação tecnológica. Graças às transmissões ao vivo em alta resolução, é possível experimentar a emoção de uma mesa de roleta sem sair de casa. A simplicidade do jogo, onde cada aposta depende da sorte para uma vitória, junto com dealers nativos em português em alguns títulos atrai apostadores no Brasil. Essa acessibilidade explica como a roleta mantém a popularidade, evoluindo com o tempo sem perder sua essência.

O jogo da roleta no cinema e seu simbolismo

No cinema, a roleta frequentemente surge como uma poderosa metáfora visual e narrativa. Seu giro incessante evoca a ideia de um destino implacável, enquanto sugere a ilusão de controle — uma escolha capaz de alterar tudo. Assim como a Roda da Fortuna no tarot, a roleta simboliza mudanças inevitáveis, positivas ou negativas, em um destino que não pode ser evitado uma vez que começa a girar.

Essa representação é vista constantemente em clássicos do cinema.

Em Casablanca (1942), a roleta é parte de uma das cenas mais emblemáticas do filme, quando Rick manipula o jogo para ajudar um jovem casal em desespero. Aqui, a roleta é menos um jogo de azar e mais um instrumento de generosidade e justiça, em um gesto que define o caráter do protagonista.

Casino Royale (2006), por sua vez, situa a roleta no universo glamoroso de James Bond. Apesar do foco maior no pôquer, a roleta aparece como um símbolo da sofisticação e do risco inerente à vida de um espião, um jogo onde a sorte e a estratégia caminham lado a lado.

Em um tom completamente diferente, Roleta Chinesa (1976), de Fassbinder, utiliza o título do jogo para criar uma metáfora sombria. Aqui, a roleta não é física, mas simbólica, representando as dinâmicas de poder e manipulação entre os personagens em um cenário de tensão emocional. A roda, invisível, é movida pelos próprios desejos e segredos dos envolvidos.

Mais do que um jogo, a roleta sempre foi um espelho da condição humana. O giro da roda é o ciclo do destino, incerto e implacável, onde o jogador deposita suas esperanças, temores e ambições. É um jogo simples em sua execução, mas profundo em seu significado. Cada número é uma possibilidade, e cada giro é uma nova chance — ou a repetição do inevitável.

Com sua representação marcante no cinema e sua resiliência no mundo dos jogos online, a roleta continua a fascinar. Ela nos lembra que a vida, assim como a roda, é feita de escolhas e de sorte, de coragem e de entrega. Seja nas mesas luxuosas de um cassino, nos cinemas ou na tela de um computador, o apelo da roleta permanece eterno, como o próprio movimento circular que define sua essência.

Páginas