The tapes...
"Melhor não me empurrarem eles, ou vou chutar os dentes deles."
"Não me importa qual é a história. Ele foi à TV."
...and the truth.
"Um dia controverso na política. Um homem foi preso roubando os delegados do Comitê da Democracia Nacional em Washington, descobriu-se que ele era funcionário da campanha de reeleição do Presidente Richard Nixon. Ele foi uma das cinco pessoas presas ontem dentro da sede dos Democratas em Washington. E adivinhem o que mais ele era, um consultor da Campanha de reeleição do Presidente Nixon."
"John Dean, ex-conselheiro da Casa Branca testemunhará hoje que o Presidente Nixon, sabia sobre o encobrimento do Watergate."
"O mau uso do poder é a essência da tirania"..."A primeira vez que um presidente renuncia em quase 200 anos de história, hoje é um da histórico.
Esse é o fantástico começo de Frost/Nixon, filme dirigido por Ron Howard que trata da famosa entrevista entre o popular entrevistador inglês David Frost e o ex-presidente americano Richard Nixon, três anos após o escândalo de Watergate, que levou a presidência de Nixon ao impeachment.
Em 1972, foi noticiado que cinco pessoas foram detidas detidas quando tentavam fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no escritório do Partido Democrata. O caso, que logo ficou conhecido como "Watergate"(nome do Complexo onde se instalava o Comitê Nacional Democrata), virou algo de proporções ainda maiores quando, meses depois, foi comprovado que havia ligações entre o escândalo e a Casa Branca, sendo assim afirmado anonimamente que o Pred.Richard Nixon sabia das operações ilegais do governo contra a oposição, principalmente no que se referia a sua Campanha de reeleição e sua vitória esmagadora nas eleições americanas sobre o candidato democrata George McGovern. Dois anos depois, em 1974, várias provas foram juntadas e na noite de 9 de agosto, Nixon fez seu último discurso como Presidente, renunciando ao poder, depois de muita pressão. Quando seu vice, Gerald Ford assumiu o cargo, ele disse publicamente que retirava todas as responsabilidades de Nixon, livrando-o assim, do Tribunal.
É a partir deste ponto que a história começa a ganhar vida. Momentos após a renúncia, o jornalista britânico David Frost, de sucesso estrondoso na Inglaterra e na Austrália teve a provável excelente idéia de entrevistar Nixon. Sem o apoio de seus amigos, achando uma verdadeira loucura, o roteiro afiado de Peter Morgan (que também escreveu o texto poderoso de A Rainha mostraem detalhes toda a preparação para a entrevista, que de fato foi ao ar, mas não antes de sofrer baixas financeiras, cortes publicitários e de patriocinadores e que levou Frost praticamente à falência. Atráves de estudos e mais estudos, o roteiro constriu uma história forte, talvez a melhor já escrita sobre o assunto, abordado em filmes como Todos os Homens do Presidente, com Robert Redford e Dustin Hoffman, e em citações principais como no filme com Anthony Hopkins, Joan Allen e Ed Harris, Nixon e em uma passagem criativa e inteligentíssima de Forrest Gumo - O Contador de Histórias quando o próprio personagem vivido por Tom Hanks descobre o caso. Além de detalhes primorosos e rico em informações, Morgan também teve uma idéia singela de inclur depoimentos, cmo se o filme não passasse de um documentário, onde personagens reais, porém vividos por atores de alto escalão, relatam a experiência vivida por eles durante o caso e após ele, incluindo também aqueles que estavam do lado de Nixon durantes os momentos derradeiros de sua vida, e aqueles que preparam toda a entrevista ao lado de Frost. Um grande truque do roteiro, que tem como principal característica, diálogos longos e produtivos mas também diretos, cenas reais misturadas à ficção.
Nestes quesitos, temos um diretor difícil de se ententer. Ron Howard, que já venceu o Oscar de Direção por Uma Mente Brilhante, mas que também fez trabalhos hediondos como a péssima adaptação de O Código Da Vinci, neste, ele volta a ser tão competente quanto foi no trabalho sobre a vida do matemático John Nash, e recebendo mais uma indicação ao prêmio mais importante da indústria cinematográfica. Sua direção é correta, surpreendentemente criativa e cheia de contrastes , entre situações reais em meio ao mundo cinematográfico.
Para encabeçar o seu elenco de estrelas, destacam-se justamente aqueles cujos personagens deram o título deste filme. Michael Sheen interpreta David Frost e Frank Langella, Richard Nixon. Os dois brilham sem cessar durante todas as cenas principalmente as da entrevista. Sheen domina suas próprias caricaturas e Nixon, diálogos longos e difíceis e seu trabalho foi, merecidamente premiado com a indicação ao Oscar, depois de anos de carreira insólida. Sheen está tão bom quanto, além de ser um protagonista sem sombra de dúvidas, mas que ficou de fora da premiação injustamente. Apesar de serem muito diferentes aparentemente dos seus personagens verdadeiros, e isso vai em especial para Langella, que não é nem um pouco parecido com Nixon. Porém as atenções devem ir também para o elenco dos coadjuvantes, que vai desde uma atuação fiel de Sam Rockwell, Oliver Platt, do arrogante Kavin Bacon, do mais codjuvante do que nunca Toby Jones, do talento comprovado de Matthew Macfadyen até a beleza estonteante de Rebecca Hall, cuja carreira deslanchou após Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen. Todos desempenham seus papéis com inacreditável competência, sem partir para o exagero.
Tive uma idéia, John. Uma bem incrivel para uma entrevista.
Essa é a frase que Frost diz para seu amigo e produtor John a respeito de sua próxima "celebridade" a ser entrevistada: "Quem é ele?", John pergunta. A resposa a seguir não poderia ser mais direta: "Richard Nixon".
US$2 milhões. Esse foi o custo de toda uma entrevista com Nixon, sendo que boa parte saiu dos bolsos do próprio Frost. Ao todo, foram quatro dias de entrevista, marcados pelas estratégias dos dois lados. Frost, com seus amigos e colegas de trabalho tratando dos pontos fracos de Nixon, e Nixon arrumando um jeito de fazer o tempo passar, levando as respostas para citações da história de sua vida. Nos bastidores, existem explícitas denúncias de como ocorre os acordos entre as mídias. Somente o lado bom de cada um seria apresentado às câmeras depois da edição e certamente, algumas trocas de farpas indiretas aconteceriam segundos antes de começarem as filmagens.
Apesar de várias cenas excepcionais, as da entrevista final não poderiam ser melhores. Com um plano mais agressivo, é o bloco de Watergate. 25% do tempo da entrevista seria voltada para o determinado escândalo.
No final, tudo o que era necessários, seria uma confissão de Nixon e isso chega aos poucos, pelo menos estava chegando. Eis um dos grandes momentos do filme, o roteiro forte. Morgan conseguiu fazer dessas sequências de cenas, das mais produtivas feitas em 2008, com um clímax espetacular até a instromissão, causando o anti-clímax. Nada mais astucioso do que mostrar a realidade em um filme onde isso era tudo o que não deveria ser mostrado. E é nesse ponto que a atuação de Langella se destaca. Sem saber se sentimos pena dele, ou mais para os americanos, raiva, ele se mostra uma personagem extremamente interessante, onde os seus olhares e sua inteligência sobressaem a cada pensamento do público. Uma grande atuação sem sombra de dúvidas.
"And I thought I made it clear!I didn't want to get any questions about Watergate. Demmet!"
Enquanto não sabemos o que pensar do Nixon de Frank Langella, sabemos que Michael Sheen não devia temer uma queda de rendimento, que até então era dos maiores. Ele conseguiu sentir a essência de Frost, com absolutamente todos as suas falas extraídas da entrevista em si. Enquanto na cena próxima da confissão, Nixon está quase confessando, Sheen atua nesta cena como um Frost perfeito, o verdadeiro símbolo da entrevista britânica. Ao final, o ex-presidente começa a se sentir desconfortável e aí vem a tão esperada frase dita por ele, que foi julgada como absurdo em todo o mundo, eis o trecho:
Frost: "Certo. Espere, só para eu entender melhor, está me dizendo que em algumas situaçoes, o Presidente pode decidir quando algo é interesse da nação e quando é ilegal?"
Nixon: "Estou dizendo que quando um Presidente o faz, NÃO é ilegal."
Sem mais delongas, Frost/Nixon é um filme explosivo, com excelentes diálogos, atuações e uma direção precisa de Howard. Um filme verdadeiramente real e muito fiel à essa famosa entrevista, que rendeu 40 milhões de espectadores americanos e deu a Frost a fama que ele tanto almejava. Um filme, que apesar de ser realista, tenta mostrar tudo aquilo que está debaixo dos lençóis, mas que custa a aparecer por mais que você tente. Indicado ao Oscar, é um daqueles fimes imperdíveis, excelente em vários aspectos, mas que peca em alguns pequenos erros de direção, em especial no que se trata de maneirismos políticos, que poderia ter sido evitados em alguns momentos. Mas em seu todo, o filme é um símbolo da cultura e da inteligência ainda existente na indústria cinematográfica.
Atention, everyone! Starting with camera 2, and 4,3,2...You David.