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Críticas

Clube da Luta

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“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.”

(Liev Tolstói)

Você abandonaria uma vida cômoda em um apartamento bem mobiliado, tendo um emprego com um bom salário para viver em um mausoléu desocupado e deteriorado, localizado em um bairro periférico de ruas soturnas? Deixaria uma vida calma, vazia e cheia de opulências para lutar em porões escuros e a partir daí desenvolver uma nova visão sobre o mundo? Creio que poucos realizariam esses atos impensados em um mundo moderno, onde os interesses individuais subjugam o interesse coletivo. Mas o personagem de Edward Norton o fez e teve sua vida radicalmente mudada. Se me permite uma opinião... Tente, ao menos, durante o filme se abster de tais coisas para sentir a sensação de estar no “fundo do poço”.

Um homem com distúrbios do sono, extremamente perturbado e debilitado psicologicamente resolve freqüentar reuniões de pessoas acometidas por doenças graves - os tradicionais grupos de apoio. Inicialmente tudo fluía bem, até seu sono estava sendo normalizado, porém a presença de uma figura esquálida de cabelos negros e desgrenhados sempre com um cigarro a mão e possuidora de uma filosofia de vida um tanto suicida (ao zombar da morte sob alegação de que poderia vir a morrer a qualquer hora) chamada Marla Singer começa a trazer uma certa desordem para a pouca organização que o protagonista estava aplicando a seu sono e a sua vida.

A participação em grupos de apoio fora uma estratégia inicialmente adotada apenas para presenciar o real sofrimento de perda materializado em pessoas que se viam assoladas por violentas moléstias que as marcavam e segregavam-nas da sociedade. Porém, por mais estranho que pareça, foi rodeado por esses desesperados que ele encontrou um pouco de paz de espírito.

Dentro dos grupos, ele encontrava pessoas dispostas a ouvir de verdade suas amarguras (não apenas escutar, mas também compreender e passar-lhe uma mensagem de conforto), por isso aquele momento funcionava quase como uma válvula de escape de sua realidade. O protagonista literalmente “expulsa seus demônios” ao chorar, purifica sua mente ao revocar à consciência os estados afetivos recalcados para aliviar-se dos desarranjos físicos e mentais, ou seja, tudo isso funciona como uma verdadeira catarse.

Como o sono é incerto, o protagonista vivencia uma situação similar ao transe; ele cochila durante o dia e quando acorda não sabe o que fizera ou o que acontecera antes do sono. Ele passa a confundir realidade com um sonho ou devaneio, este fato me lembra um questionamento proposto por um filósofo chinês cujo nome me foge a mente... talvez seja Tchuang Tsu: Sonhou uma vez que era uma borboleta e, após ter acordado perguntou se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que estava nesse momento a sonhar que era um homem.

Porém o vazio existencial do protagonista não é preenchido, por isso ele começa a nutrir uma vontade de evasão para outro lugar, outro momento e até para ser outra pessoa. A partir daí, a figura de Tyler que antes apenas “piscava” em momentos de seu cotidiano, agora começa a se materializar e ganhar espaço na vida do protagonista.

Este cria um alter-ego carismático que representa tudo o que sua existência mesquinha jamais alcançaria. Tyler é o tipo de pessoa que mesmo fazendo algo errado ou aparentemente non-sense, sempre apregoa uma espécie de ensinamento que nos faz pensar e refletir nossas escolhas e valores (cujo alvo se encontra tanto na figura do personagem de Norton quanto nos espectadores).

“A nossa fé nos outros revela aquilo que desejaríamos crer em nós mesmos. O nosso desejo de um amigo é o nosso delator.”

(Friedrich Nietzsche)

Esse alter-ego, inconformado com a criação de valores da sociedade, é capaz de lançar uma cadeia sob as mil cervizes do monstro a ponto de unificar os objetivos da humanidade, tornando-os uno.

“Se falta objetivo à humanidade, não é porque ela mesma ainda não existe?”

(Friedrich Nietzsche)

Talvez Tyler Durden venha a ser uma espécie de “parteiro” de idéias (fazendo alusão ao método indutivo chamado maiêutica bastante utilizado na filosofia de Sócrates), pois através de seu método (Clube da Luta) ele oferece uma oportunidade às pessoas de “acordar”, “abrir” suas mentes para que suas idéias sejam paridas através de uma reflexão própria polarizada pelos conceitos de Tyler que visam a superação do amor a opiniões sem reflexões e a transposição da conduta de ovelha. Tudo isso para poderem vislumbrar a realidade de um modo diferente, expurgando de suas vidas valores consumistas. É nesse momento que ele critica a coisificação do homem, que se utiliza do consumismo como uma maneira de inserção em uma sociedade idiota que o reduz à apenas meros compradores dominados por suas coisas.

“Na verdade, quem pouco possui tanto menos é possuído. Bendita seja a pequena pobreza!”

(Friedrich Nietzsche)

Esse procedimento nem sempre é fácil, algumas pessoas podem levar meses, anos e até a vida inteira para despertar do “sono” imposto por nossa sociedade alienada (que despreza o intelectual, valorizando apenas o fútil) e, que fazemos questão de segui-los sem titubear de forma um tanto letárgica. Por isso os novatos teriam de, em sua primeira vez no clube, participar das lutas (fazendo alusão a 8ª regra, com certeza a mais importante, cujo enunciado é: “Se essa é a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar.”), para que naquela noite acontecessem suas libertações e o nascimento das idéias, tal como ocorreu com o personagem de Norton ao levar o primeiro soco de Tyler (Nós conseguimos até ouvir os seus batimentos cardíacos no momento, como se ele começasse a viver a partir daí).

Primeiramente, Tyler propõe revoluções morais individuais como objetivo de cada participante “parir” suas próprias idéias. Após a conclusão dessa importante etapa, os membros recrutados por Tyler para compor seu exército deveriam se unir em uma empreitada mais ampla e abrangente que culminaria em uma revolução violenta (Projeto Destruição).

“Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.”

(Carl Jung)

E é por isso que o filme se torna diferenciado de um discurso panfletário, pois ao invés de criticar apenas a sociedade, critica com muito mais severidade e aspereza o indivíduo que se submete a tais valores que lhes são impostos desde o primeiro contato social.

Tyler Durden é o papel que muitos almejam, mas poucos conseguiriam executá-lo com tanta destreza, personalidade e atitude como Brad Pitt o fez. Em sua atuação muito se deve a David Fincher que literalmente “sugou” os atores para obter suas melhores atuações, porém o talento de Pitt não pode e não deve ser discriminado ou menosprezado, pois em “Clube da Luta” ele mostra todo seu carisma e habilidades em frente à câmera.

Muito se fala da importância do personagem de Pitt, mas, na verdade, sem a presença do personagem de Norton, nada existiria. Sua atuação é incontestável ao construir um homem vazio e aparentemente sem qualquer indício de possuir um nome (por isso vou chamar-lhe de protagonista) que buscava em marcas famosas e em compras desnecessárias, uma maneira de suprir um vazio interior. Essa ausência de nome além de refletir uma extrema falta de individualidade do personagem, principalmente suscita a intenção do autor de construir um papel, que pode ser ocupado por qualquer pessoa da sociedade. Não sei se me explico bem, mas o personagem de Norton é uma metáfora, pois alegoriza as pessoas que mesmo não sendo loucas – e, diga-se de passagem, nem o protagonista ostenta tal alcunha – imaginam-se de uma forma diferente, fazendo coisas diferentes, principalmente quando se encontram sozinhas, ou seja, acabam criando um alter-ego que representa e simboliza seus desejos mais primitivos que normalmente são sobrepujados por uma imagem pública passada ao mundo, fruto de seu super-ego.

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”

(Friedrich Nietzsche)

Não sei ao certo quais os motivos ou razões que levaram o protagonista a tal discurso, talvez a sua própria condição de solidão o tenha possibilitado entrar no mérito de questionar a organização do sistema e também de se aprofundar nas conversações de seu Eu (Protagonista) com o Si - mesmo (Tyler), já que não possuía amigos e seus contatos sociais ocorriam em uma escala reduzidíssima. Fato este que destoa de uma cena em que o protagonista se encontra em uma sessão de meditação em um grupo de apoio, e nesse momento de desprendimento, sua força animal lhe é revelada: o pingüim – símbolo da vivência em sociedade.

O Projeto Destruição deve ser entendido como a etapa mais evoluída para os planos de Tyler, iniciados com o Clube da Luta. Planos estes, que nitidamente se embebedam em idéias anarco-primitivistas cujo alvo principal de suas críticas reside na origem e no progresso autodestrutivo da civilização. Tyler busca o retorno a meios “não-civilizados” de vida (“Rewilding” – retorno a um estágio natural) através da desindustrialização, abolição da hierarquização do trabalho, o abandono da tecnologia e o desprezo pelo consumismo. Todos esses planos nos são apresentados pouco antes do alter-ego desaparecer da vida do protagonista, nesse momento Tyler profetiza um futuro primitivo onde as pessoas caçam alces nas florestas do Grand Canyon e nas ruínas do Rockfeller Center, elas usarão roupas de couro que vão durar a vida inteira, vão escalar o Sears Tower e ver outros homens secando charque nas pistas de alguma auto-estrada abandonada.

“O homem pode viver 100 anos na cidade sem perceber que já está morto há muito tempo.”

(Liev Tolstói)

O repudio a domesticação do homem é uma característica intrínseca ao discurso de Tyler. Para ele, a domesticação é o processo utilizado pela civilização para doutrinar e controlar a vida de acordo com sua lógica alienante. E por isso tenta a todo custo desvencilhar o homem deste processo que o aprisiona e o cego perante os problemas desse modo de vida falido.

David Fincher deixa de lado toda a pompa de cenários luxuosos, ricos e multicoloridos para ambientar seu filme em lugares lúgubres, nebulosos e sujos, bem ao estilo underground. Isso mostra a intenção do diretor em retratar um submundo marginalizado que tem em porões úmidos e sombrios, o palco para estranhas reuniões, onde em meio a gritos, homens descalços se digladiam ao desferir golpes desajeitados (como se nunca houvessem lutado) formando um balé disforme. A fotografia monocromática, carregada em tons cinza e negros, é quebrada apenas pelas cores vivas das roupas extravagantes de Tyler.

O modo como a produção se encerra é um espetáculo a parte. Esse grande desfecho nunca pode ser encarado como algo fantasioso que foge aos fatos apresentados na narrativa, pois o diretor salpica “chaves” capazes de decifrar o mistério e antecipar o clímax. Por isso o final torna-se majestoso, pois ao revermos o filme, conseguimos claramente encontrar essas pistas e perceber o quão bem pensada e estruturada é esta obra-prima do cinema pós-moderno.

“Clube da Luta” é um filme que, tanto hoje quanto na sua estréia, foi bastante incompreendido pelos espectadores, pois poucos tentaram se abster dos sentidos para ler nas entrelinhas a verdadeira mensagem por trás das lutas. Prova disso é a indicação ao Oscar apenas na categoria efeitos sonoros. Com tanto conteúdo para ser explorado, a equipe do Oscar reparou apenas em tais efeitos.

O filme prega um repensar sobre nossa realidade, pois todo sistema social no qual o homem moderno se baseia, é na verdade uma “realidade artificial”, um sistema que não é auto-sustentável, pois o isolamento ideológico relativamente à natureza progride para a auto-destruição.

Enfim, cavalheiros, bem vindos ao Clube da Luta.

“Aprenda a viver, descanse quando morrer. Tudo que você precisa está dentro de você”

(Tyler Durden)

Críticas

Operação Valquíria

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Antes de escrever a crítica, uma pitada histórica para situar o leitor: Ferido em combates no norte da África defendendo o exército nazista, o coronel Claus Von Stauffenberg voltou à Alemanha com visíveis marcas da terrível guerra. Em território germânico, descrente quanto ao sucesso do Reich, Stauffenberg foi arquiteto de um golpe que planejava a morte do ditador Adolf Hitler e a instauração de um novo regime no país.

Em 20 de julho de 1944, Stauffenberg finalmente conseguiu colocar seu plano em prática. No entanto, a bomba colocada com objetivo de matar o Führer, matou apenas quatro das 24 pessoas presentes no quartel general naquele dia - Hitler sofreu apenas ferimentos leves. Esse é o pano de fundo da mais nova empreitada de Tom Cruise, o blockbuster "Operação Valquíria". Primeiramente gostaria de dizer que o filme me surpreendeu, ao contrário de muitas críticas que li por aí.

Tratar os horrores do nazismo sempre foi muito frequente no cinema hollywoodiano e mundial; entretanto, o que temos visto recentemente são filmes que abordam o mesmo tema sob uma ótica diferente - a do lado humanista dos nazistas. É bem verdade que isso se tornou clichê devido a infinidade de filmes que são lançados no mercado a cada ano - a maioria de qualidade duvidosa -, caso de "O Menino do Pijama Listrado" e "Um Homem Bom".

Felizmente "Operação Valquíria" foge à regra, e talvez o fato de retratar uma história verídica ajude nisso. Quem dirige a trama é o irregular Bryan Singer, que conseguiu ótimos resultados com a franquia "X-Men" mas deixou a desejar com o impactante "Superman - O Retorno". Aqui, ele volta a trabalhar bem com uma direção ágil e eficiente - a história é contada com objetividade, sem que enrolações sejam necessárias.

O roteiro também merece elogios, já que atenta para detalhes importantes; o principal ponto foi começar o filme com uma narração em alemão feita por Tom Cruise, que lentamente é substituida por inglês - idioma original da trama; se não é o ideal, pelo menos foi a forma mais honesta a se fazer, já que é realmente estranho ver um Adolf Hitler proferindo palavras em inglês. Outros destaques são o belo figurino e a direção de arte; por ser um filme de época, já era de se esperar um bom figurino; no entanto, me surpreendi positivamente com a quantidade de detalhes, seja na forma de inúmeras bandeiras nazistas ou da piscina megalomaníaca com uma suástica desenhada - o que retrata bem a necessidade de ostentação que tinha o regime.

Destaque especial também para os atores; Por quê? Se houve um ponto em que a história falhou foi em seus personagens. Não há desenvoltura alguma neles e todos parecem iguais - pessoas com ideais semelhantes mas muito pouco aprofundados. É aí que entra o bom elenco, que conta com nomes como Kenneth Branagh, Bill Nighy e Terence Stamp - atores que mesmo com esse problema conseguiram dar um pouco mais de cor aos seus personagens.

Mesmo Tom Cruise, que ao meu ver foi injustamente crucificado pela crítica, está bem na pele de Claus Von Stauffenberg. Ele consegue demonstrar muito bem seus sentimentos, principalmente os de angústia e tansão; ao mesmo tempo, o ar pouco expressivo porém imponente transmite ao seu espectador toda a sua frieza e inteligência - para mim um bom desempenho.

Para finalizar, "Operação Valquíria" é bem mais interessante do que o que foi falado por aí, embora também passe longe de ser uma obra-prima do gênero. Talvez o pouco carisma da dupla ator principal (Cruise) e diretor (Singer) tenha contribuído para o que se comentou até aqui.

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Força Policial

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O gênero policial se tornou algo comum nos últimos tempos. A cada ano que passa, vemos mais e mais filmes desse tipo sendo despejados no mercado. Alguns - a minoria - têm alguma qualidade, no entanto, a maior parte é ruim, sem graça e pouco relevante - o que desgasta ainda mais o já saturado tema.

“Força Policial”, trama que estreou recentemente aqui no Brasil, felizmente foge à regra. Contudo, gostaria primeiramente de fazer uma crítica ao título dado para o filme em português. “Força Policial” é um nome pouco convidativo ao espectador - soa mais como um bando de policiais que saem matando por aí a torto e a direito do que qualquer outra coisa. Diferentemente do título original: “Pride and Glory”, “Orgulho e Glória” em português.

A trama do irlandês Gavin O’Connor, diretor semi-novato em Hollywood, é densa e profunda, pois trata de problemas que ultrapassam a barreira do conflito ‘Policial X Bandido’ - o foco principal da história é a família. É interessante como o julgamento de valores é diferente quando é a nossa família que está em questão - e isso é perfeitamente mostrado no filme, que também aborda temas como traição e a corrupção dentro da polícia.

O elenco é bom e tem desempenho acima da média; a começar por Edward Norton. É incrível como são bons ou ótimos a maioria dos filmes que ele faz. Norton, que completará 40 anos em 2009, já tem no currículo duas indicações para o Oscar; a de melhor ator por “A Outra História Americana” e a de melhor ator coadjuvante por “As Duas Faces De Um Crime” - sem dúvidas um dos grandes expoentes de sua geração. Outro bom e jovem ator é Colin Farrel, que evoluiu bastante ao longo de sua carreira; ambos estão excelentes nos papéis principais de “Força Policial”. Para completar o time, temos o sempre competente Jon Voight e Noah Emmerich, que também faz um bom trabalho.

Apesar de só tecer elogios até aqui, a história de O’Connor também tem defeitos, como por exemplo, o roteiro. Há uma quebra de ritmo ao longo do filme, o que pode, para muitos, fazê-lo perder a graça. Essa quebra acontece especialmente do meio pro final, quando ao invés da trama evoluir para assim chegar no clímax final, ela simplesmente estagna. Contudo, o argumento ainda se salva pelos ótimos diálogos entre os personagens; ou seja, apesar dessa falha, o roteiro ainda tem seus pontos positivos.

“Força Policial” dá um ânimo extra no desgastado gênero, seja pela história interessante ou simplesmente pelo ótimo desempenho do elenco. Gavin O’Connor, que havia estreado em Hollywood com a comédia “Livre Para Amar”, volta dez anos depois com um ótimo thriller policial; vale a pena conferir.

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Curioso Caso de Benjamin Button, O

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Filme ruim, cheio de clichês.

Chega uma hora que parece um daqueles power points que recebemos no nosso e-mail, com mensagens "edificantes".

Além disso é muito arrastado.

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Leitor, O

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"O Leitor" estreou no Brasil com muita polêmica à sua volta, pois muito foi dito acerca do filme de Stephen Daldry ter sido indicado ao Oscar na categoria principal (além de 4 outras indicações), deixando de fora o badalado "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (que, ainda assim, recebeu 8 indicações, a maioria técnicas). A despeito de algumas críticas negativas que recebeu, Daldry construiu um filme praticamente impecável.

O filme conta a história do relacionamento entre Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma muher solitária e "fechada", e Michael (intepretado por David Kross e Ralph Fiennes, quando mais velho), , um adolescente que também vivia meio "preso' em sua família na Alemanha do pós-guerra, mas encontrou o amor nesta mulher misteriosa, que pede para que ele leia trechos de livros famosos nos intervalos de suas relações sexuais. Com o passar do tempo, segredos vêm à tona, com o filme nos levando a diversas reflexões sobre o amor, o ódio, os segredos, a lei, a moral e até a morte.

O roteiro é extraordinário. É praticamente dividido em 3 fases: inicialmente, como ambos os personagens iniciam e desenvolvem o relacionamento; a segunda, quando a questão do nazismo vêm à tona, assim como uma discussão sobre a moral; e, a última, praticamente protagonizada por Ralph Fiennes, traz as últimas reflexões do filme. Tudo é muito bem conduzido por Stephen Daldry, que realiza aqui o melhor trabalho de sua curta, pórém ótima cinebiografia.

Porém, para que "O Leitor" conseguisse transmitir suas menagens ao espectador, era necessário um elenco competente que entrasse dentro da (dura) alma de seus personagens. E, aqui, Kate Winslet nos traz uma grand eintepretação como Hanna Scmitz, provavelmente a melhor de sua carreira. Apesar de muitos dizerem que o seu papel é de coadjuvante, Winslet recebeu um merecido Oscar como protagonista, afinal de contas ela está sempre lá, mesmo não fisicamente, "dentro" de Michael. Interpretando este personagem na fase jovem, David Kross consegue rivalizar com Kate Winslet em termos de boa interpretação; já Ralph Fiennes apenas cumpre seu papel com eficácia. Destaque também para as boas participações de Bruno Ganz como oprofessor de Direito de Michael, e Lena Olin no final do filme como a sra.Mather.

Tecnicamente, a fotografia é perfeita, um trabalho fantástico. A direção de arte e os figurinos retratam muito bem a Alemanha nas décadas do pós-guerra e também em períodos mais atuais. A trilha sonora também é usada com competência. O único porém fica para a maquiagem, que, em determinado momento da película, não nos convence de que Ralph Fiennes, um ator de mais de 40 anos de idade, ainda tem cerca de 30.

Enfim, "O Leitor" é um grande trabalho de Stephen Daldry, um filme sério que nos leva a refletir e olhar para dentro de nós mesmos. O melhor filme do ano de 2008, que acabou sendo ofuscado (infelizmente) por homens-morcego, velhinos que rejuvenescem, e um favelado indiano que fica rico. Uma pena.

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Janela Indiscreta

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O “mestre do suspense”, era assim que Alfred Hitchcock era conhecido, e não é para menos, pois se trata de um dos diretores mais famosos de sua geração e porque não da história da sétima arte, seus filmes possuíam características únicas, que somados com seu majestoso talento, fizeram dele um dos profissionais mais aclamados do cinema clássico.

Nem é necessário ter um grande conhecimento de cinema para saber da existência de obras-primas do diretor, quem nunca viu a clássica cena do chuveiro em Psicose?

Hitchcock soube criar filmes marcantes como poucos diretores conseguiram até então.

O filme de que falarei hoje é um dos vários clássicos dirigidos por Hitchcock, uma história aparentemente simples e que aos poucos nos envolve de uma maneira sensacional.

Janela Indiscreta nos apresenta a história de L.B. Jeffries (James Stewart), um renomado fotógrafo, que, por conta de um acidente de trabalho, quebra a perna e é obrigado a ficar confinado em seu apartamento, com o passar do tempo, a monotonia toma conta do seu dia, sem muitas opções do que fazer, Jeffries passa o dia em frente a janela vasculhando a vida dos seus vizinhos, a janela de seu apartamento fica em frente a vários outros condomínios, e ele acaba as vezes ficando o dia inteiro bisbilhotando a vida de várias pessoas, em alguns casos com a ajuda de um binóculo.

A vizinhança é aparentemente comum, vários outros personagens são apresentados a nós nessa hora, um casal recém-chegado, um músico talentoso, uma moça atraente, enfim, vários são os perfis de seus vizinhos.

E assim o tempo vai passando, porém, numa madrugada, Jeffries presencia alguns acontecimentos que o fazem suspeitar de que um assassinato foi cometido, e com a ajuda de sua namorada Lisa (Grace Kelly) e de seu amigo detetive Thomas J. Doyle (Wendell Corey), Jeffries fazerá de tudo para provar que suas previsões estavam corretas.

Um dos destaques do filme foi a construção de um enorme cenário nos estúdios da Paramount para a ambientação da vizinhança, com mais de 30 janelas, todo esse cenário foi baseado em um quarteirão real da cidade de Nova York, mais os endereços citados no filme nunca existiram.

Outro ponto interessante a destacar é a clássica aparição de Hitchcock no longa, em aproximadamente 25 minutos de filme, o diretor aparece consertando o relógio na casa do músico.

Durante algumas décadas, o filme esteve completamente inacessível ao público, pois Hitchcock comprou os direitos autorais de volta de 5 de seus filmes para deixar a sua filha, e Janela Indiscreta estava incluso entre esses 5 filmes, assim como Festim Diabólico (1948), e Um Corpo que Cai (1958).

Os filmes só voltaram ao alcance do público em 1984, quando foram relançados nos cinemas.

Janela Indiscreta ganhou uma refilmagem em 1998, protagnizada por Christopher Reeve (Superman), e Daryl Hannah (Kill Bil: Volume 1).

O ponto do forte do filme é o ótimo envolvimento que ele causa, nada se torna absurdamente monótono, no decorrer dos fatos, ficamos cada vez mais curiosos e ansiosos para saber o que ocorrerá no final, que com certeza não irá decepcionar ninguém, Hitchcock acerta em cheio nesse ponto.

O filme recebeu 4 indicações ao oscar: Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia A Cores e Melhor Som.

Um filme de suspense surpreendentemente divertido, original e envolvente, um clássico do diretor Hitchcock e um dos meus filmes favoritos, e com certeza de muitas outras pessoas também, um roteiro excelente, junto com as ótimas atuações, tanto do protagonista quando dos coadjuvantes, o “mestre do suspense” realmente capricha em seus trabalhos, nos presenteando com magníficas obras como Janela Indiscreta.

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Fim dos Tempos

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As atenções da crítica e da mídia em relação aos filmes de Shyamalan, se desdobraram com o tempo, sempre esperando outro sucesso com uma estória inesperada e criativa como em seu bombástico “O sexto sentido”.

Eu, particularmente, não curto muito as películas dele. Não tenho paciência nem sensibilidade suficiente para me contentar em interpretar suas entrelinhas.

Seus ótimos roteiros (não nego) se perdem por faltar agilidade em sua composição. Inclusive, perdem mais por limitar tanto o que visualmente devia-se mostrar. Está certo que é uma peculiaridade do diretor, mas não me atrai.

O último feito de Shyamalan chama-se "Fim dos Tempos", protagonizado pelo sem sal Mark Walberg ( "Max Payne") e a novata e atualmente requisitada Zooey Deschanel ("Sim senhor!").

Como eu já esperava, tratando-se de uma película de Shyamalan, o filme é lento e com poucos recursos visuais para assustar. Destaco isso por tratar-se de um filme classificado como suspense.

Apenas diálogos não são suficientes para substituir a ação de um filme como insiste o diretor indiano. Ainda mais nesse longa em que apresentou seus diálogos mais fracos.

Porém, de todos os seus filmes ( com exceção de “O sexto sentido”), esse conseguiu ser o mais ousado. Tem mais ritmo, mais mortes e mais cenas violentas. Nada em excesso, mas o suficiente para não se restringir à narrativa monótona e extensa como em "A Dama na Água" e "O Corpo Fechado".

O filme aborda uma súbita crise mundial invisível que está atingindo mortalmente as pessoas.

A especulação na mídia, no governo, volta-se a um possível ataque terrorista, com um vírus que controla e induz as pessoas a se matarem.

As evacuações nas cidades dos EUA iniciam após o agravamento da situação. Sem saberem ao exato para onde irão, Elliot (Walberg) e Alma (Deschanel), um casal em crise conjugal, foge esperando achar um lugar seguro, acompanhado de Jess, uma garotinha de 8 anos, filha de um amigo que os acompanhavam. Esse amigo, Julian, que tomou outra rota para procurar a esposa que está em uma localidade possivelmente já atingida pela crise viral, pressentia o pior ao buscar a amada, por isso deixou a filha sobre a guarda de pessoas confiáveis.

Aos poucos os personagens centrais começam a crer que as possíveis mortes estão sendo induzidas pela natureza que, os reconhece como uma ameaça e os "infecta" através do vento. Evidências não faltam para que passem a cogitar essa idéia.

O importante é que mesmo sendo a razão mais provável, a tese da natureza e seu comportamento inóspito, em nenhum momento é ratificada pelo roteiro. Com essa interrogação, fica mais intrigante o “acontecimento”. Os protagonistas até ficam a mercê da ventania e nada acontece. Ainda assim, senti falta de ver uma razão concreta para os suicídios "voluntários" em massa.

A tensão toma conta da trama de forma equilibrada e progressiva. Quanto aos efeitos especiais, estão bem verossímeis. E a fotografia é a maior responsável pela beleza do filme.

Algumas das cenas em que presenciamos os suicídios - os da construção civil e os do engarrafamento, por exemplo - foram captadas sob um eficiente ângulo, privilegiando o espectador, em que transmite toda a gravidade e iminência do momento. Porém, a morte dos dois jovens que acompanhou o casal por algumas horas, sob a circunstância distinta em que aconteceu, foi desnecessária e sensacionalista.

O suspense aqui é mesclado com um leve drama romantizado entre Mark e Zooey que, apesar de duvidosos pra mim como atores, possuem certa química no filme.

Falando em interpretação, estranhei as atuações; não estão tão estruturadas como costumamos ver em filmes de Shyamalan.

Zooey, apesar de conseguir transmitir só meias emoções, consegue levar o papel numa boa, mas Mark parece ficar desconcertado quando não está com uma arma na mão. Suas feições são cômicas ao tentar transpassar desespero (destaque para uma cena de close dele em pleno ataque de pânico).

Após ver Bruce Willis e Mel Gibson, dirigidos por Shyamalan, Mark foi uma decepção! Até as cenas mais risíveis ficaram pra ele como, a de conversar com um vaso de plantas artificial.

Por incrível que pareça, John Leguizamo (o eterno Peste da Sessão da Tarde) que eu considerava canastrão, conseguiu me convencer com seu personagem mais do que qualquer outro nesta projeção.

Ashlyn Sanchez (tão fofa em "Crash - No limite") é descartável aqui. Como é praxe a presença de crianças em filmes do gênero, parece que à qualquer custo a garotinha chorosa tinha que estar presente, independente de sua importância no enredo.

Bom, é isso... o filme entrete, segura a atenção do espectador, é interessante, mas não o suficiente para quem o dirigiu, por isso não se pode classificar como seu novo marco.

Entretanto, concluo que, mesmo sem o típico final apoteótico de Shyamalan, o filme é bom, e agradará mais se for assistido sem expectativa.

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Closer - Perto Demais

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Mike Nichols prova que ainda sabe fazer cinema como antigamente. Closer - Perto Demais é sensual, de ótimos diálogos e clima tenso.

Não que este "Closer" seja tão bom quanto o clássico das comédias românticas A Primeira Noite de um Homem mas vá lá. Mike Nichols se mostra um diretor tão competente como era na primeira vez que dirigiu um filme. Quem tem Medo de Virginia Woolf? se lembram? É um clássico do símbolo da ironia no cinema. Personagens marcantes do gabarito de Elizabeth Taylor e Richard Burton já trabalharam com ele. Dustin Hoffman em início de carreira também. Anne Brancoft, a "sedutora mulher mais velha", também já. Quem diria hein Natalie Portman? A jovem de beleza suave que rouba praticamente todas as cenas deste filme só não é TÃO boa quanto o até que experiente ator Clive Owen, de papel difícil. Mas Julia Roberts ainda não tinha tido o privilégio, apesar de ter repetido a dose no mais recente Jogos do Poder e nem o sedutor Jude Law ainda tinha tido a sua chance. Enfim, desta vez eles estão aí pra provar que nem todo elenco jovem é inexperiente, ou pelo menos não tão jovem assim. Por mais que sejam, não aparentam.

Quem poderia imaginar que Natalie Portman no auge dos seus 23 aninhos (na época) já tinha feito tantos filmes como Cold Mountain, dois episódios da saga de Star Wars: Episódio I e II - Ameaça Fantasma e Ataque dos Clones e até mesmo um filme de personagens fortes como O Profissional quando ela ainda tinha 13 anos? Pois é, experiência é o que não falta para o currículo de Portman, que ganha seu primeiro Globo de Ouro e recebe a sua primeira indicação ao Oscar. Clive Owen, apesar de seus 40 anos (e aparentar bem menos) fez, por incrível que possa parecer, menos filmes que Natalie Portman. Apesar disso, já havia feito filmes importantes, premiados, onde sua participação era de fato importante como o misterioso Assassinato em Gosford Park e até o corrido A Identidade Bourne, mas foi desta vez que ele conseguiu a sa primeiríssima e merecidíssima indicação ao prêmio do Oscar e o seu priemiríssimo e merecidíssimo troféu no Globo de Ouro. Julia Roberts porém, já é a atriz mais experiente da lista, com seu "homenzinho dourado" enfeitando a sua prateleira, e ainda outras duas indicações. Ela certamente é uma boa atriz, mas sua experiência é abatida pelo talento dos outros novatos. Jude Law poderia se incluir nesse grupo, mas no alto de seus 32 anos de idade, já havia sido indicado a dois prêmios no Oscar e já ter participado de vários e importantes produções como A.I. - Inteligência Artificial e o ótimo Estrada para Perdição. Enfim, por mais maturos, experientes ou justamente o oposto que o elenco seja ou não, o fato é que todos atuam muito bem em Closer - Perto Demais, sendo esse o principal trunfo que Mike Nichols usufrui em sua manga. O interessante é que um se sobressai ao outro, não havendo um equilíbrio correto entre uma interpretação e outra.

Podemos dizer, afinal que os melhores são justamente os indicados ao Oscar. Isso é certo afirmar pois, por mais que a Academia erre nos seus indicados, jamais cometeriam o erro de deixar Natalie Portman e Clive Owen de fora da premiação. São apenas coadjuvantes (apenas?), na verdade, todos são coadjuvantes em "Closer". A cada cena um tem o seu momento de protagonista, mas isso não quer dizer que sejam todos principais, uma vez que a história se baseia na interrelação e na formação de casais, às vezes, começando e terminando um relacionamento da maneira mais embaraçosa possível, regada a traições, mentiras, sexo e diálogos grosseiros e muito diretos. É tirada daí a essência do filme, essência que Nichols sabe usar e muito bem, como um ótimo diretor que é. Ele comanda tudo a ponto de fazer com que os acontecimentos tenham o seu início e o seu fim gerados em meio à bagunça de idéias e controvérsas, sem perder o ponto de vista de um outro núcleo, que se mistura com esse em um piscar de olhos sem você ao menos perceber. Mas você certamente notou agora como o enredo de "Closer" pode ser complexo, difícil ou mesmo desorganizado e sem nexo, confuso, ou se é essa crítica que te faz ficar confuso. Mas na verdade é esse o objetivo que Nichols e que roteiro formidável (péssima escolha de adjetivo) sob a autoria de Patrick Marber, que também é autor da peça teatral que deu origem ao filme, tentam passar, a sensação de confusão, que te deizem pelo menos pensativo. Faz você pensar nas atitudes, nas suas escolhas, e não no seu próprio nariz, mas também em um conjunto todo a sua volta. Faz você refletir também sobre a frieza do ser humano, a malícia, o jogo, apelando pro senso popular, o jogo da vida. Pode ser complexo demais, mas no fundo as reviravoltas da sua vida certamente te fariam pensar como os personagens de "Closer".

Este é sim, um filme diferente, mas nem por isso, pior do que poderia ser, caso seguisse a linha do comum. Muito pelo contrário, pouco se vê hoje em dia filmes deste porte emocional, de uma mistura de sentimentos que podem acabar gerando em atitudes as vezes impensadas, outras premeditadas, mas tudo acontece perante as suas escolhas, e talvez seja essa a mensagem (muito longe de ser batida e contada de forma completamente diversificada) que o roteiro de Marber tenta te passar.

Closer - Perto Demais é mais um grande filme de Mike Nichols, um filme pequeno, que chegou longe e é considerado por poucos, adorado por muitos.

Críticas

King Kong

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Um dos filmes mais caros da história, King Kong é mais um excelente trabalho de Peter Jackson.

Depois da consagração na trilogia O Senhor dos Anéis, o diretor neozelandês Peter Jackson dirige mais um trabalho movido a extraordinários efeitos especiais, uma área de sonosplastia inovadora e uma reprodução visual magnífica. King Kong, um clássico que nasceu para o cinema em 1933 é mais uma vez transposto para as telonas em sua mais nova versão.

Assim como conta a estória na primeira metade do século XX, ela não muda absolutamente nada em relação à original, e mais uma vez conta como um gorila gigante se apaixona por uma bela atriz. Sem ser novidade para ninguém (espero), uma equipe de cinema viaja em uma enbarcação para gravar o seu filme. No meio do caminho, eles encontram uma ilha perdida, que não está em mapas comuns, e é encoberta por uma névoa muito densa. Quando eles desenbarcam, se deparam com um povo primitivo, que oferece mulheres a um gorila gigante, que reside na selva em meio a dinossauros, tão carnívoros quanto ele. Quando a jovem Ann Darrow, interpretada pela linda Naomi Watts é levada por King Kong, é missão de Jack Driscoll e sua equipe salvá-la da morte. Mas Carl Denham, o diretor e seu desejo inssaciável pelo sucesso, visa a captura do macaco enorme como fonte de lucro.

Peter Jackson sempre quis dirigir 'King Kong', sendo esse o seu filme preferido. Sabendo dos riscos de perder uma boa quantia de dinheiro por arriscar a filmar um longa metragem ao qual todos já sabiam o final, Jackson gastou US$207 milhões, mas felizmente, conseguiu arrecadar uma incrível quantia de mais de US$550 milhões. Isso tudo, graças a sua fama adquirida ao redor do mundo, depois de filar a sequência de filmes pertencentes à trilogia do Anél. Conquistando o seu primeiro Oscar por O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei e mais a estatueta de Melhor Filme, sendo ele o produtor, seu nome fora espalhado para os quatro cantos do mundo e isso certamente ajudou o seu novo projeto a se expandir. Logo, os atores estavam escolhidos, a equipe de arte, o roteirista também, o filme ficou pronto, arrecadou milhões e ainda por cima abocanhou três estatuetas douradas na maior festa do cinema mundial. Mas nem tudo foi tão fácil assim como podemos imaginar. Apesar de ser uma refilmagem, a terceira para ser mais exato, Jackson queria fazer algo inesquecível e inovador, pelo menos na parte técnica do filme. E conseguiu.

Porém tudo exigiu muito da equipe do longa. Para começar, a produtora e destribuidora da Universal Pictures ofereceu a Peter Jackson simplesmente o cachê mais alto para um diretor de todos os tempos, ao todo eram US$20 milhões. Com um impulso ainda maior do que o esperado, Jackson e os produtores Jan Blenkin, Carolynne Cunningham e Fran Walsh começaram a ir atrás do elenco. Adrien Brody foi a primeira e única opção para atuar como o conhecido roteirista do filme, Jack Driscoll, e a badalação em torno do ator, que tinha acabado de ganhar, alguns anos antes o seu primeiro Oscar por O Pianista ajudou na escolha inicial do ator para o filme, que aceitou o convite prontamente. Uma idéia muito interessante era de convidar a atriz Fay Wray, que perticipou na primeira versão de King Kong para os cinemas, mas ela faleceu antes das filmagens. Ela faria uma pequena ponta na produção. Jackson também convidou Andy Serkis para fazer o gorila King Kong, e esse, já tendo trabalhado com o diretor antes, quando fez o personagem Gollum nos dois últimos filmes da trilogia do Anél, aceitou prontamente. Ele passou algum tempo estudando o comportamento de gorilas na África, a fim de ter o melhor rendimento possível como um macaco gigante.

Jackson, assim como fez na trilogia que lhe levou ao estrelado, também escreveu o roteiro do filme. Ao lado de Fran Walsh e Philippa Boyens, ele conseguiu refilmar a estória e ainda por cima fazer da cronologia do roteiro algo ainda que inovador, alterando certas cenas iniciais e causando um grande alvoroço com a grandiosidade das cenas da Ilha da Caveira e das cenas finais também.

Eis aí mais um grande feito da equipe comandada por Peter Jackson. O departamente de efeitos visuais, supervisionado pela Weta Digital Ltd., Eyetech Optics e Gentle Giant Studios Inc. fez um trabalho brilhante. Vencedores do Oscar, eles "ampliaram" o tamanho de Andy (lógico), criaram dinossauros a partir do modelo do filme de 1933 e projetou cenários selvagens da mais nobre qualidade visual. O mesmo fizeram os sonoplastas, que a partir dos estudos, filmes anteriores, projetaram o som perfeitamente real para as telas de cinema de maneira inacreditável, usando também técnicas inovadoras para os barulhos mais simples, como os de folhas de mexendo, eles reproduziram um som verdadeiro em cima de uma cena fictícia, o resultado foi a vitória, ou melhor, as vitórias nas duas categorias de som, a área da mixagem e da edição dos efeitos sonoros.

A reprodução de época (o filme se passa em 1933) também foi resultado de um trabalho sublime. Desde os cenários mais belos, figurinos interessantes e arrojados de Terry Ryan até uma fotografia acinzentada de Andrew Lesnie garantiram o sucesso do filme também na sua parte técnica. Os diretores de arte Simon Bright e Dan Hennah, assim como o desenhista de produção Grant Major, receberam uma indicação ao Oscar por esse trabalho impecável. James Newton Howard também fez um trabalho maravilhoso, com menos de dois meses para compôr a trilha de 'King Kong', ele conseguiu a indicação merecida ao Globo de Ouro. Com a desistência do compositor Howard Shore, restou muito pouco tempo para uma trilha ao nível da competência de Newton Howard, mas memso assim, conseguiu maestrar uma trilha muito bonita.

Enfim, King Kong é mais um trabalho excepcional de Peter Jackson, que se mostra um diretor de talento inigualável para filmes de ficção científica, bem próximo a Steven Spielberg e ao mestre dos efeitos especiais George Lucas. Indicado ao Globo de Ouro, Jackson certamente se divertiu, e também realizou o seu sonho. Um filme grandioso, e uma refilmagem de técnica impressionante.

Críticas

Nevoeiro, O

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Monstros e criaturas abomináveis já estão desgastadas e hoje em dia soam clichês. Os únicos motivos que me levaram ao cinema para assistir "O Nevoeiro" foram a direção de Frank Darabont (À Espera de Um Milagre; Um Sonho de Liberdade) e o fato do filme ser baseado em um conto de Stephen King, publicado aqui no Brasil com o título de "Tripulação de Esqueletos".

Uma cidade americana do estado de Maine sofre de uma terrível e avassaladora tempestade. Os moradores correm para o mercado, com o intuito de comprar alimentos e conveniências, já que possivelmente haveria mais uma tempestade. Entre estas pessoas, estão David Drayton (Thomas Jane) e seu filho Billy (Nathan Gamble). Porém, um inesperado e denso nevoeiro surge e encobre toda a cidade. Mais inesperado ainda é que, do lado de fora, obscuros no cinza, estão criaturas sangrentas e malígnas, que impedem a saída dos cidadãos do mercado. É uma questão de tempo para que tais monstros consigam adentrar, e eis que começa uma sangrenta luta pela sobrevivência.

As impressões que tive ao lê-la foi de um filme violento, apelativo e sem graça, que tenta inutilmente assustar quem assiste. Porém, eu estava enganado.

Na maior parte do tempo, a trama tem como palco o mercado em que os personagens estão abrigados. São incríveis 105 minutos de totais 127 em que o cenário é o supermercado com as mesmas pessoas. Mesmo assim, o filme conseguiu desenvolvê-los muito bem, nos apresentando figuras marcantes, como o protagonista David Drayton (Thomas Jane), o contaditório funcionário vesgo campeão de tiro ao alvo Ollie Weeks (Toby Jones) e, principalmente, a fanática religiosa Sra. Carmody (Marcia Gay Harden) e o filho de Drayton, Billy (Natham Gamble).

"O Nevoeiro" ganha pontos ao não repetir os mesmos erros e clichês de filmes do gênero, e consegue equilibrar ficção, terror e drama. A direção de Frank Darabont trouxe elementos não muito comuns do gênero e mesmo com a limitação de quase apenas um ambiente o filme passou longe de ser monótono. São poucos os fatores que freiam a obra, mas passam despercebidos diante de tantas qualidades.

Os monstros no nevoeiro ficam de plano de fundo e não aparecem tanto, pois eles não são o único foco. Há ênfase em abordagens sociais, psicológias e religiosas. E, principalmente, às atitudes dos humanos no desespero.

Outro ponto forte é o elenco, que trabalha muito bem e cumpre com a proposta dos personagens. Sentimos perfeitamente a agonia e os turbilhões de sentimentos que os personagens passam na situação crítica da trama, correndo risco de vida e lutando por sobrevivência. A cena em que criaturas voadoras invadem o mercado foi muito bem feita e um tanto cômica no momento em que um infeliz se atrapalha ao tentar matar um monstro, mas acaba SE matando. Os destaques vão para a atuação de Thomas Jane na pele de Drayton, o principal, que tenta salvar seu filho, salvar-se e salvar as pessoas ao seu redor. Nathan Gamble também tem um brilho, devido à seu talento prodígio, dando uma aula aos garotos que um dia desejam serem reconhecidos como atores. Mas o maior destaque vai para Marcia Gay Harden como a Sra. Carmody. É visível o seu talento em suas aparições, e tão convincente foi sua coadjuvante que roubou as cenas em que apareceu, conseguindo fazer com que sentimos raiva de sua personagem, de seu fanatismo e das barbaridades que ela comete em nome de Deus. Ela é a "vilã" do filme, ao lado dos monstros perigosos.

Porém, além dos monstros, há subtramas que ocorrem dentro do próprio mercado, que envolvem a pseudo-profetisa Sra. Carmody e ação e reação dos humanos diante do precipício. No início, todos só sentiam raiva daquela senhora exagerada. Mas ao passar do tempo, seus discursos bíblicos foram convencendo algumas pessoas e estas passaram a formar um perigoso grupo seguidor da personagem. Mesmo dentro do mercado, Drayton e seus companheiros não ficaram a salvo diante da Sra. Carmody e sua perigosa "trupe". Passamos então a temer tanto as atitudes daqueles cidadãos quanto os monstros abomináveis ocultos no nevoeiro do lado de fora.

E além de todo este ótimo desenvolvimento, temos um final abalador, que provoca um turbilhão de pensamentos, e nos faz oscilar entre gostar ou não. Pelo menos comigo foi assim. Um fim inesperado, realista e dramático. Dos meus palpites inciais, acertei que o filme seria violento. Frank Darabont não poupou as mortes. Não vá assistir "O Nevoeiro" esperando os mesmos desfechos e coisas de sempre, em que so queridinhos sobrevivem e derrotam os monstrengos feiosos, ou então irá se decepcionar. A obra é realista e pesada, não cedendo espaço a pena e mesmisses de sempre. Stephen King terminara seu conto com a imagem de um gigantesco ao quadrado monstro caminhando perto do carro em que Drayton e seu grupo conseguiram fugir. Já o filme foi além e nos apresentou um desfecho incrível que certamente deixou King de pernas bambas e com inveja, pois além destas tantas qualidades nos faz refletir.

Dos suspenses atuais, O Nevoeiro está entre os melhores. Um filme que equilibra terror, ficção e drama, quebrando os erros e clichês infortúnios de filmes do gênero. Frank Darabont firma-se como um ótimo diretor ao nos presentar com esta ótima obra de suspense, recomendada para quem estiver à procura de um filme competente.

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