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Críticas

Control

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Uma grata surpresa, Controle é a cinebio de Ian Curtis, vocalista do Joy Division que aos 23 anos e no auge da carreira passou uma corda no pescoço, dando baixa na sua curta e sorumbática existência.

Inspirado no livro “Touching from a Distance”, da ex-esposa Deborah Curtis, o filme marca a estréia na direção do fotógrafo e diretor de clipes musicais Anton Corbijn.Para um principiante, Corbijn faz um bonito papel ao ambientar para a tela a personalidade cavernosa de Curtis, um cara que vivia preso em seu próprio mundo, dentro do seu próprio ritmo.No filme, a trajetória do líder do Joy Division é focada fora dos palcos.

O ponto de partida é sua adolescência ornada por poesia, literatura e música e algumas doses furtadas de anfetaminas. Logo no início da carreira, passa a sofrer de epilepsia, numa seqüência muito bem explorada pelo filme com a música She´s lost control , onde o protagonista tem uma espécie de premonição do seu destino. A pressão da carreira e o inferno astral de seu casamento precoce culminam com o agravamento da doença e o inevitável destino trágico.

Tudo é extremamente bem contado pelo diretor que apoia-se numa direção burocrática, - narrativa linear, cenas curtas e sem flashbacks - mas atinge bom resultado. A película em P&B dá um toque especial à essência do filme, sendo fiel ao clima cinzento e anuviado da região norte de Manchester, atmosfera que influi diretamente na impasssibilidade e no comportamento amórfico de Curtis, interpretado pelo também músico Sam Riley, que manda muito bem no seu debut no cinema. Também não fica por menos a excelente trillha musical composta por New Order, David Bowie, Lou Reed, Sex Pistols e do próprio Joy Division.

Mesmo um tanto deprê , Controle é uma bela pedida, principalmente para os dias frios. Recomendo três formas de assistí-lo: 1) Num dia frio e nublado; 2) Num dia frio e chuvoso 3) Num dia quente, com as janelas do apartamento fechadas e o ar condicionado ligado para parecer que é um dia frio, nublado e chuvoso.

Críticas

Aventura, A

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A Aventura começa radiante. A atriz Lea Massari vive a protagonista Anna, uma mulher destemida, temperamental em pé de guerra com o pai e seu noivo Sandro, interpretado por Gabrielle Ferreti. Sua amiga Claudia (Moniva Vitti) é mais recatada e insegura -e como veremos adiante- sentimental. Ambos Cláudia, Anna e Sandro se unem a um grupo de amigos num cruzeiro pelo Mediterrâneo, numa ilha situada na costa da Sicília. Todos são pessoas bonitas, bem-sucedidas e aparentemente alegres, mas desde o início, algo parece estar errado com eles.

Após alardear falsamente o grupo sobre a presença de tubarões e brigar com o namorado, Anna desaparece misteriosamente da ilha. A exceção de Sandro e Cláudia, ninguém parece ligar muito. Tanto é assim que quando a polícia costeira inicia as buscas eles são os últimos a permanecerem. Ao regressarem da ilha, começam a procurá-la em outras cidades.

Três dias após o desaparecimento, Sandro e Cláudia apaixonam-se. Muito menos por atração, do que pela falta do que fazer. E o que parecia se encaminhar para um suspense logo vira uma história de amor. E o que parecia uma história de amor logo se transforma num ensaio sobre as futilidades que se sujeita a alta sociedade para superar seu vazio.

E o vazio é a tônica que move o filme rumo à letargia. Ao contrário de qualquer longa-metragem tradicional onde a tensão cresce a cada nova cena, A Aventura começa conflituoso e vai se esvaziando como uma bola murcha, até se tornar anticlímax. Para desespero do espectador, Antonioni ainda deixa perguntas sem respostas. Todas essas contradições, em vez de suprimir, engrandecem o filme, tornando-o desafiador.

Mas há outros méritos no carteado narrativo do diretor. A câmera que passeia pelas belas paisagens da Itália serve de recurso estético, mas tem também apelo narrativo. Ao passear pelos luxuosos cômodos das mansões, as lentes de Antonioni desnudam o torpor, a solidão e a infidelidade dos personagens, principalmente as do sexo feminino.

As mulheres, aliás, formam o estrutura de sustentação do filme. Embora o movimento feminista não existisse na época, as protagonistas Anna e Claudia exibem uma tendência da mulher moderna que compete com o homem nos relacionamentos. Os homens são infantis e fragilizados e podem tanto entrar numa briga apenas para reviver velhas emoções como desdenhar a infidelidade da esposa, numa espécie de recíproca hedonista.

Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, em 1960, A Aventura inaugura a rotulada Trilogia da Incomunicabilidade, filmes que dialogam sobre a inércia e as inquietações da sociedade. A Noite e O Eclipse são os filmes posteriores, ambos protagonizados por grandes estrelas do cinema europeu, entre elas Jeanne Moureau, Alain Delon, Marcello Mastronianni. A beleza exótica de Mônica Vitti - e da qual Antonioni tirou uma casquinha - também pode ser vista em A Noite.

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Mensageiro do Diabo, O

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Um bom vilão é como um bom clichê: não há como resistir. Não é curta a lista de personagens célebres marcados por seu desvio de comportamento ou falhas na conduta moral. Vilões clássicos como Darth Vader Norman Bates, Alex DeLarge e Hannibal Lecter encarnaram o mal com tanto brilhantismo que alcançaram um status de contemplação mais poderoso do que qualquer mocinho do cinema.

O reverendo Harry Powell do filme O Mensageiro do Diabo poderia tranquilamente ser o capitão desse time do mal. Divertido e carismático, o ator Robert Mitchum impressiona - e também arranca boas risadas - com a interpretação de um pastor que se vale de profecias religiosas para se aproximar de viúvas e em seguida assassiná-las e roubá-las com a aprovação do Todo-Poderoso. Um sujeito loquaz e rasteiro que não mede esforços em atormentar criancinhas, desde seja para alcançar seus objetivos.

Mesmo com de toques humor-negro e sarcasmo, o filme não é propriamente uma comédia, mas sim um suspense com ares de conto de fadas macabro, fortemente influenciado pelo expressionismo alemão (uso de sombras, contraste de cores). A trama gira em torno de duas crianças que ficam órfãs durante a Depressão Americana. Antes de ser condenado a forca por assalto a banco, o pai entrega a elas o dinheiro do roubo e pede aos filhos que o escondam até atingirem a maturidade.

O que ele não contava é que seu colega de cela -o reverendo Powell, detido por roubo de carro- toma conhecimento do pacto e, ao sair da prisão, vai atrás do dinheiro roubado. Seu plano é simples: casar com a viúva, matá-la e fugir com o dinheiro. Quando as coisas começam a dar errado, o reverendo Powell torna-se um lobo mau na vida das crianças.

Charles Laughton - ator das décadas de 30 e 40 e um dos primeiros a receber Oscar - fez de O Mensageiro do Diabo sua primeira e única experiência como diretor. Seu grande mérito - especialmente para um principiante - foi afluir os momentos de tensão do enredo às passagens mais burlescas, imprimindo assim um bom ritmo à história.

Há também algumas seqüências oníricas muito bem orquestradas por meio de cânticos infantis, já que tudo é visto sob o ponto de vista de crianças. Seu único equívoco está na produção. Mesmo para um filme da década de 50, algumas cenas são tecnicamente mal feitas e não devem nada às melhores produções de Ed Wood. Talvez devido ao baixo orçamento -inclusive de distribuição- já que o filme foi um fracasso de bilheteria.

Defeitos e qualidades, no entanto, são meros artifícios frente à performance magnetizante de Robert Mitchum, um dos grandes expoentes da era noir. Com as palavras “love” - tatuada na mão direita - e “hate” - na esquerda - ele engendra um vilão inesquecível, que se apropria de passagens do velho testamento e as interpreta ao pé da letra para perpetuar sua maldade em mulheres e crianças.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme acontece logo no começo, num cabaret. Ao se excitar com uma dançarina, o pastor dispara acidentalmente um canivete do bolso que salta para fora das calças juntamente com uma exclamação. “Existem mulheres demais nesse mundo”. Além de registrar a dimensão de sua maldade, há também um forte componente sexual nessa passagem, que o torna não apenas mordaz e sarcástico, mas acima de tudo; inesquecível.

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Amarcord

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Quando lançou Fanny & Alexander, Ingmar Bergman classificou-o como sua obra derradeira. Uma compilação autobiográfica, na qual se dissolvem todas as suas experiências cinematográficas. A infância do menino Alexander sob a égide opressora dos dogmas religiosos da família configura-se como uma volta às origens do cineasta. Bergman mergulhou fundo nas emoções da criança que um dia foi, cheia de alegrias e dúvidas, de medos e descobertas e com isso brindou-nos um de seus melhores filmes.

De um modo parecido, Federico Fellini fez de Amarcord, o experimento mais autoral da sua carreira. Lançado onze anos antes de Fanny & Alexander, o filme também repousa nas reminiscências do seu criador, só que com mais compaixão e afetuosidade. Mais que uma grande obra, Fellini nos conduz por um mosaico de emoções onde tanto a passagem de um navio quanto um par de peitos grandes transbordam-nos de humor e ternura.

Amarcord -que no dialeto italiano significa “Recordo-me”- registra um ano de acontecimentos na terra natal do diretor, a pequena cidade de Rimini, no litoral da Itália. O período é a década de 30, durante a ascensão do Fascismo no país. Na primeira cena do filme, vemos a transição do inverno para a primavera orquestrada por flocos de neves que começam a derreter. O desfecho se dará de forma idêntica, após o ciclo completo das quatro estações se fechar com as passagens do sol, da neve e das folhas secas. Durante esse período, uma série de acontecimentos ilustrará a trivialidade dos habitantes de Rimini.

E é com a força coletiva desses personagens que o filme atinge sua grandiosidade. E eles são muitos. Todos, muito encantadores e caricatos. Bem ao estilo das pequenas cidades onde todos se conhecem e cada um carrega seu estereótipo. Há o gaiteiro cego que alegra as festividades, o aluno endiabrado que sacaneia os colegas inocentes, a professora decotada e cheia de si, a doida varrida que vaga solitária falando perversidades, a bela da cidade que sonha em encontrar o seu Gary Cooper, a comerciante robusta de seios avantajados, a patrulha militar do duce Mussolini, entre outros.

No roteiro escrito pelo diretor em parceria com Tonino Guerra, não há um protagonista evidente. Desafiando, como sempre, a lógica cinematográfica, Fellini nos desconcerta com um enredo fragmentado onde o único encadeamento lógico das ações é o fato delas acontecerem em Rimini. Mesmo assim, fica evidente o alter-ego do diretor no adolescente Titta (Bruno Zanin).

É através dele e de seu núcleo familiar que se concentram a maioria dos acontecimentos. Dos mais cômicos aos mais dramáticos. Seu pai é um patriarca opressor, mas ao mesmo tempo sensível e honesto. A mãe é uma devota religiosa que controla os ataques de fúria do marido. Deambula também pela excêntrica família um tio retardado mental que só obedece a uma freira anã e um avô flatulento que só pensa em sexo.

Quanto a Titta, trata-se de um garoto comum com sonhos e ambições que ultrapassam as divisas da cidade. Apaixonado por Gradisca, (a bela da cidade, interpretada por Magali Noel, do ótimo Satyricon ), ele vive a sonhar com formas de aproximação de sua amada, representadas no filme por passagens oníricas, que em alguns casos, confunde-se com a realidade. Numas das cenas mais marcantes, ele flerta com a sexualidade de forma inusitada ao mergulhar nos seios da taberneira.

Mais inusitado ainda é o clímax do filme, quando todos os personagens reúnem-se em pequenas embarcações no em alto mar para apreciar a passagem de um grandioso transatlântico pelo litoral da pequena cidade. A situação mezzo-nonsense nos pega de surpresa, mas, como já havia dito, o desempenho coletivo dos personagens é tão bom que mesmo assim nos toca. Brilha também a trilha musical composta pelo mestre Nino Rota que chega ao ápice nesse ponto.

Acima de ser apenas um filme de recordações da infância, Amarcord contém criticidade em suas entrelinhas. Nos 127 minutos de duração do longa, Fellini transpõe com bom-humor o autoritarismo nas estruturas política, familiar e religiosa. Na cena em que a rocambulesca patrulha de Mussolini passa pela cidade, vemos a política do espetáculo protagonizada pelo Fascismo que culmina com uma tragicômica saraivada de balas numa vitrola que emanava um cântico socialista. Nas confissões dos fiéis na catedral, o padre preocupa-se com tudo, menos com o que está ouvindo.

Entre os cânones do neo-realismo e suas convenções de cineasta autoral, Fellini fez de seu último grande trabalho, o mais encantador. Contribuição que rendeu ao cineasta em 75, o prêmio de melhor filme estrangeiro. Prêmio mais do que justo, embora a grandiosidade de Amarcord esteja acima de qualquer premiação.

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007 - Quantum of Solace

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Quantum of Solace (Marc Foster, 2008)

Cassino Royale foi uma das gratas surpresas de 2006. Antes da sua estréia, no entanto, não dava para apostar muitas fichas na nova releitura dada a James Bond, o agente secreto mais famoso do planeta. Primeiro porque o longa tinha sob comando Martin Campbell, um diretor sem grandes credenciais com inclinação para filmes de ação de qualidade rasa. Segundo porque o próprio já havia concebido um filme para a franquia com a estréia de Peirce Brosmann em 007 Contra GoldenEye. Filme burocrático, por sinal, e que dava a Cassino Royale uma inepta sensação de deja vu. Outro receio –principalmente dos fãs- era em relação a Daniel Craig, ator brucutu com características físicas bem distintas dos outros atores que interpretaram 007. No final, tudo não passou de desconfiança. Cassino Royale não só foi o melhor filme da série em anos como deu uma nova roupagem ao agente, tornando-o mais instintivo e menos racional, além de sentimentalmente vulnerável.

Quando a Columbia oficializou a continuação da franquia com Daniel Craig, o nome anunciado para comandar Quantum of Solace foi o do cultuado diretor alemão Marc Foster. Só a sua assinatura já bastava para elevar as expectativas de um 22° longa ainda melhor que o anterior. A avidez, entretanto, tornou-se uma decepção. Não diria que Quantum of Solace é um filme ruim. Numa grande tela, é entretenimento garantido. As barbarizantes seqüências de ação impressionam com um virtuosismo digno dos melhores filmes do gênero. Também não dá pra dizer que faltou substância ao roteiro, já que a trama de espionagem elaborada pela dupla Neal Purvis, Robert Wade recebeu ainda um tratamento do coringa Paul Haggis, que se transformou numa espécie de tábua da salvação dos roteiristas das grandes produções hollywoodianas. Houve certos equívocos no texto, é verdade, mas esse não foi o principal problema. O grande erro do filme -e isso pode soar contraditório- foi mesmo da direção.

Tá certo que Marc Foster é um cara gabaritado. No seu currículo figuram bons filmes como A Última Ceia, Em Busca da Terra do Nunca e Mais Estranho que a Ficção. A cena de sexo de A Última Ceia, alias, é uma das mais contundentes já feitas no cinema e remonta ao conceito tratado em O Último Tango em Paris, do sexo como forma de aliviar o desespero. Outro grande mérito foi do diretor foi ter tirado as caras e bocas de Will Ferrer, fazendo-o render dramaticamente num papel sério em Mais Estranho que a Ficção. Essa desenvoltura demonstrada com personagens em filmes mais pessoais não caiu bem num blockbuster como Quantum of Solace. Isso porque filmes com esse formato possuem uma cartilha própria. Foster seguiu esse caminho até certo ponto, porém derrapou em algumas curvas.

A pergunta que o cineasta deveria ter feito o tempo todo para si mesmo durante produção e pós-produção é: o se espera de um blockbuster? A hipotética primeira regra é: cenas de ação. Isso o filme tem de sobra. A abertura já começa movimentada com uma cena de perseguição de carros em túneis e precipícios na Itália. O agente 007 leva um suspeito para a base secreta da MI6 que pode ser ter um elo com uma organização criminosa responsável pela morte de Vésper (Eva Green). Na seqüência, Bond percorre Haiti, Inglaterra, Áustria e Bolívia e até descobrir que a companhia Quantum chefiada pelo especulador Domenic Greene ( Mathieu Amaric) é mais poderosa do que CIA e a inteligência britânica suspeitavam. Sua especialidade é destruir os recursos naturais de países de terceiro-mundo, enfraquecendo os governos vigentes para a entrada de ditadores que em troca financiam as ações da companhia. No dilema entre executar a missão e descobrir os responsáveis única mulher que amou, ele age com violência, mata mais do que deve e passa a comprometer o próprio governo do seu país. No melhor estilo 007, ele se mete em tiroteios e promove perseguições de tirar o fôlego em aviões e barcos, sem seus elegantes black tie, mas com seu devido charme.

Outra regra de um bom blockbuster é ter um começo, meio e fim em ordem direta com uma história razoavelmente inteligível. Nesse caso, Foster cumpre a tarefa pela metade. O ponto de partida de Quantum of Solace é o final de Cassino Royale. Como se não bastasse, boa parte dos acontecimentos gira em torno da morte de Vésper ocorrida no filme anterior. Ou seja, quem não viu a primeira aventura do novo Bond, poderá não assimilar totalmente a segunda, tampouco entender o calvário do agente secreto.

A terceira e última regra é a mais negligente. Num blockbuster tudo deve se dividir entre bandido e mocinho, herói e vilão, entre o bem e o mal. Em todos os filmes do 007 os vilões sempre foram caricatos, de beirar ao ridículo. Esse exagero que é praticamente uma marca registrada da série é visto com menos intensidade em Cassino Royale e praticamente inexiste em Quantum of Solace. O homem do mal, Dominic Greene está menos para um vilão - com todos os seus clichês, bons e ruins - e mais para um homem de negócios com um dedo sujo em suas negociações. Foster que se especializou em dar realismo a seus personagens – e que rendeu prêmios a Johnny Depp e Halle Barry – não se sujeitou ao maniqueísmo, deixando de lado a concepção do vilão repudiável por um mais cerebral que pouco interage na trama. Não foi uma decisão acertada. Em compensação, Daniel Craig se sai novamente bem.

Nunca antes, um James Bond foi tão inclinado a ser uma máquina de matar. Assim como nunca antes um James Bond foi tão intransigente, a ponto de se deixar levar por sentimentos. Essa nova concepção de força e emoção fez com que muita gente o comparasse a Jason Bourne, da trilogia Bourne. Mas não é verdade. A única semelhança entre os agentes James Bond, Jason Bourne e Jack Bauer é que ambos tiveram suas inicias inspiradas por uma marca de uísque. Fora isso, cada um joga no seu time.

Quando se comenta sobre um filme da franquia 007, é inevitável que o assunto, em algum momento, vá para a tangencial das bondgirls. Em se tratando das beldades, Quantum of Solace é idêntico aos demais: têm mulheres gostosas e descartáveis. A estonteante atriz Olga Kurylenko ocupa até um papel de destaque na pele de Camille, agente que tenta vingar-se de um ditador prestes a ocupar a Bolívia por influência de Dominic Greene. Sua sub-trama, no entanto, é tão palhosa que em pouco tempo nossa atenção sai da personagem e vai parar nas suas belas curvas – as quais, os produtores poderiam ter deixado ainda mais a mostra. A outra é Gemma Arterton e faz o gênero da típica bondgirl, funcionando em duas velocidades: “dar e cair fora”. Entre erros e acertos Quantum of Solace consolida uma nova fase para James Bond que merece até um slogan: marombado sim, mas de bom coração. Daniel Craig pode não ser o melhor 007, mas certamente não encerrará a carreira em séries de TV britânica como Timothy Dalton e muito menos como George Lazenby, fazendo filmes eróticos para TV.

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Simplesmente Feliz

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Simplesmente Feliz (Happy Go-Lucky, Mike Leigh, Inglaterra -2008)

Para interpretar a contagiante professora Poppy, a atriz Sally Hawkins precisou buscar muita pureza de espírito. Vestida em roupas espalhafatosas com cores berrantes e botas de couro de cobra, sua personagem parece ter saído de algum filme do Almodóvar, indo parar acidentalmente no espectro cinzento de Londres. Solteira e despreocupada, a protagonista do filme Simplesmente Feliz leva a vida numa boa sem se importar com a rabugice do seu diretor na escola primária e as crises de insegurança da irmã mais nova. Seu jeito maquinal e saltitante, sempre com um sorriso preso no rosto nem sempre contagia as pessoas. Por vezes, surte efeito contrário.

Ao parar numa livraria, onde tenta –sem sucesso, é claro- levantar o astral de um atendente mal-humorado, Poppy tem sua bicicleta roubada. Mesmo sem dar muita importância (exceto pelo fato de “não ter se despedido dela”), o incidente lhe incentiva a fazer a carteira de motorista. Durante as aulas de direção conhece o instrutor Scott (Eddie Marsan), um sujeito mesquinho, irritado e metido a revolucionário que adora praguejar e ver as coisas sempre pelo lado mais difícil. Enquanto tenta recuperar um aluno que se tornou violento o instinto professoral de Poppy se esgueira também na direção do seu instrutor, que a cada aula demonstra mais os seus problemas pessoais, muitos deles com origem na infância. Mas repensar a vida, para algumas pessoas, pode ser uma experiência traumática.

E é justamente esse o mote do filme do diretor britânico Mike Leigh: a felicidade depende de nossas emoções e de como lidamos com ela. Tudo passa por uma aprendizagem e uma disciplina emocional calculada que tanto pode nos fazer crescer como nos derrubar. Olhando de maneira superficial, a professora Poppy tem tudo para nos aporrinhar. Seja numa conversa à toa com um mendigo ou quando se veste de galinha e começa a cacarejar dentro de uma sala de aula, tudo nela parece sem sentido. Acontece que a questão é simples. Amar a profissão com intensidade, ver o lado bom das coisas, sentir-se bem como solteira e não se deixar afetar pela infelicidade das outras pessoas é meramente um instinto de sobrevivência para a protagonista.

Entre escolher a melhor e o pior para si, ela vai pelo óbvio à medida que busca o mesmo para as outras pessoas. O aluno problemático é o mais fácil de ser recuperado. Já o mendigo com problemas mentais é um ser irrecuperável. Seu maior desafio é mesmo com o instrutor Scott que pode ou não redirecionar o seu destino. Pode até soar como um clichê de livros de auto-ajuda, mas Simplesmente Feliz é um belo ode ao aprendizado, seja dentro ou fora de uma sala de aula. Méritos para a talentosíssima Sally Hawkins que fez jus ao Globo de Ouro que recebeu. Ela torna fascinante uma personagem que tinha tudo para ser irritante e inverossímil.

Indicado ao Oscar de roteiro original, Mike Leigh fez de Simplesmente Feliz um contraponto ao gélido antecessor O Segredo de Vera Drake. Um filme otimista e com uma dinâmica interessante que flui sem artifícios ou soluções óbvias de roteiro. O final anticlímax deixa algumas perguntas sem respostas, mas não as que verdadeiramente importam. Em poucas palavras, Simplesmente Feliz é um filme que consegue ser contagiante e cheio de alegria, sem a necessidade de soar escatológico ou apelar ao pastelão para ser engraçado. Coisa rara!

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Separados Pelo Casamento

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Bom, o filme "Separados pelo casamento" não é estritamente uma comédia romântica como foi divulgado. Há algumas cenas características, mas não o suficiente para rotularem o filme a esse gênero em específico. Nem o próprio roteiro define isso.

O filme também não é uma propaganda enganosa como alguns críticos afirmaram, porém foi um chamariz totalmente intencional vendê-lo como comédia romântica para o público.

Até o cartaz do filme – com uma imagem criativamente e sugestiva ao título –, como distração, transmite a idéia de que o filme é um romance cômico convencional. Na verdade a película é simplesmente um retrato verossímil de um relacionamento problemático.

Como toda comédia romântica termina com a união do casal central, esta projeção recorre ao contrário, iniciando-se exatamente onde os filmes terminam: no "felizes para sempre", apresentando o que acontece após isso.

Apesar de haver alguns exageros, eu gostei muito da proposta do filme, não foi mais uma estória previsível e romantizada ao extremo.

A sinopse é esta: Um casal começa a ter problemas constantes em seu relacionamento devido a incompatibilidade de genes. A solução extrema tomada por ambos é a separação. Porém, decidem continuar juntos no apartamento mantendo uma vida individual.

Diante desta situação, os enredos se descambam em provocações diretas e indiretas, onde um sabota os planos do outro, culminando em um clima insustentável.

O maior acerto do diretor Peyton Reed foi escalar Vince Vaughn ("Penetras bom de bico") e Jennifer Aniston (da extinta série "Friends") - eles que tiveram um affair durante as gravações - para estrelarem a película. Ambos foram totalmente convincentes em seus papéis.

O clima pesado das discussões; a revolta pelos motivos banais; a tensão da relação; tudo foi muito bem transmitido pela dupla.

Vince que normalmente estrela filmes pastelões, passou a segurança de todo um preparo para encarnar seu personagem. Mesmo aparentando às vezes inibição, ele conseguiu cumprir o que o papel pedia. Além dele ter cooperado com a criação do roteiro.

Jennifer Aniston ainda não é uma atriz memoravel, mas ela consegue interpretar tudo que lhe é oferecido. Para uma personagem complexa como esta, precisava realmente de alguém talentosa, e ela foi a melhor pedida. Talvez outra figurinha carimbada do gênero não conseguisse explorar o papel como ela fez.

É evidente que o filme é interessante - apesar da estória papalva - graças à interação do casal. A dessemelhança em relação às comédias românticas padrão é logo notada, e essa distinção proposital torna o filme singular, e talvez precursor de um estilo realístico e alternativo.

Os diálogos inteligentes e bem costurados da trama tornam o filme frio em alguns momentos. Atrevo-me até a afirmar que espectador fica com a uma sensação de estar presenciando pessoalmente as discussões acaloradas do filme que, chegam a constranger.

Peyton Reed ("Sim senhor!") conseguiu criar um filme sólido, diferente e realista. Pode agradar o público que não aguenta mais romances prenunciados, como pode ofender os espectadores que curtem filmes ingênuos e açucarados.

O final atípico, mas compreensível, foi uma conclusão ousada a meu ver. E a maturidade para tal desfecho já basta como ponto positivo para o projeto.

O filme teve seus momentos exaltados, frívolos, pretensiosos, mas como o casamento é uma experiência única para cada casal, não se pode criar um paradigma comportamental, por isso, Gary Grobowski (Vince Vaughn) e Brooke Meyers (Jennifer Aniston) pode estar em qualquer lugar, até mesmo em nós.

Enfim, "Separados pelo casamento" é recomendado por mim por estes motivos acima e por não ser só mais um integrante da liga dos DVDs cor de rosa.

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À Espera de um Milagre

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Exagerando e equivocando-se em um humor forçado no começo, perdendo ritmo narrativo no meio e apelando para o sentimentalismo no final - bem ao gosto americano, Green Mile é mais uma prova da falta de direção e excesso de equivocos presentes na filmografia de Darabont. Não resta dúvida de que, nenhum de seus filmes sejam suficientemente satisfatórios ao que pretendam abordar ( e olha que os dois mais "representativos", esse, à Espera de um Milagre, e o outro insoso, Um Sonho de Liberdade tem cada um três longíssimas horas para mostrar do que realmente pode tratar, corretamente, é claro, sem se perder ao pedantismo básico estadunidense, característica dele, Darabont, aprecido por Robert Zemeckis pós-90 e infelizmente adquirido por David Fincher em BB. A única dúvida que resta ao final das 3 horas de à Espera de Um milagre, sensação homóloga senti com Um Sonho de Liberdade, é porque tais filmes são tão apreciados? Resta saber.

Tentando ser um filme existencialista, sentimentalista e tal, mas maquiando-se de suspense-pipoca e apelando para caras e bocas, ensinado a todo momento mais que o óbvio ao espectador, à Espera de Um Milagre é tendencioso do início ao fim. Uza de cenas de impacto, destiladas por lições de moral - claro não as faltam - e aquela velha tradição progressita de Darabont, sempre pronto a levantar a moral dos yankes frente às adversidades.

Fantasiando demais a trama, acaba que o filme fica um tanto infantil. Um impertinente ratinho é colocado e gerido de importância na trama só para criar algumas situações de conflito e ao final servir para compôr mais uma lição das tantas que Darabont se prôpos a - até de modo punitório para os caras do mal - nos mostrar.

Sim, por sinal o filme é uma adapatação do papa dos best-sellers e queridinho dos diretores tendenciosos, Stephen King. Encabeçada pelo líder-mor dos papéis com lições de moral e vida cinematógrafiacas pós-90, Tom Hanks, a trama fala de Paul (Tom Hanks), chefe da guarda deum corredor da morte, o Green Mile - obviamente ensinado o significado do apelido por Darabont - , ano de 1935. Paul tem sua vida mudada após a chegada do brucutu Jonh Coffey(Michael Duncan) ,negro, que fora acusado de matar duas jovens e belas criancinhas loiras, algo deplorável.

Não se detando a história entre os dois, Darabont - que foi o reponsável pelo roteiro da adaptação - explora alguns poucos presos daquele corredor da morte, isso tudo, pontuando sempre com humro mal colocado e sem graça alguma. Passando ao ritualistico e parcimonioso ato de execusão à cadeira elétrica desses presos - há um francês, um cara de origens indígenas um psicopata alteradíssimo que vive empezinhando a "paz" do lugar (acreditem só existe ele de preso mal). Explorando tamb´me a vida de alguns policiais, Darabont abre espaço por mais um disputa moralistica entre o bem e mal, em uma espécie de todos contra o malvadoPercy Wedmore. Depois de um cem-número de conflitos de poder, envolvendo maus contra bons, e maus contra maus, a história finalmente deirecona-se para onde devia e, claro, entrando em cenas as superações de vida de praxe, a persona de John Coffey ("parecido com café...") passa a pivotear o núcleo narrativo, até o fim da história.

No filme todo, as atuações que realmente se destacam são as dos coadjuvantes, o que ofusca Tom Hanks, protagonista. O grande destaque, em disparada, é Michael Jeter, imitando o preso, de origem francesa, Eduard Delacroix, mostrando toda a meiguisse de seu personagem com segurança e habilidade, embora seja um ator pouco expressivo, se saiu bem nessa participação. Por incrível que pareça, o mais rizível e bizarro das atuações, digo no geral, é Michael Duncan, força demais em caras - uma só - em vez de meigo seu personagem fica um tanto caricato, tá certo, entendamos ser uma ficção, mas não me sai da cabeça algo tão forçado como essa atuação e personagem de Duncan.

Enfim, à Espera de um Milagre é razoável enquanto história e fatídico enquanto filme, principalmente nos equívocos de seu diretor que não soubera dar ritmo na metade de seu filme. Destaque-se a bela transposição dos costumes da época, do lugar, os atos e gestos daquele povo. Ainda sim, o filme é uma sensação generalizada de decpeção de desengano, muita coisa funciona errado, pende pro fiasco, mais se agarra na produção.

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Piaf - Um Hino ao Amor

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Emocionante, a história da cantora francesa Edith Piaf, a partir de uma atuação sensacional de Marion Cotillard.

Alongar essa crítica seria exagero, mais parecido com "encheção de linguiça" do que uma análise mais precisa e direta sobre Piaf - Um ao Amor. Afinal, o que seria mais preciso e direto do que resumir esse filme basicamente a uma interpretação estupenda de Marion Cotillard? Caracterização impecável, desde os traços físicos (o trabalho da maquiagem do filme é excelente) até os trejeitos da cantora em si, como não se emocionar e mais ainda, como não elogiar a grandiosa participação da atriz francesa no filme? Uma atriz que só tinha feito papéis secundários, como não se surpreender, principalmente? A todas essas perguntas, só uma resposta: impossível. Impossível não perceber que algo inédito e inacreditável estava em cena. Parecia mais que a Edith Piaf tinha reencarnado no corpo de Marion, mas isso seria absurdo demais para uma análise de um filme. Portanto, a explicação para tal atuação é aquela que tantos reconheceram e souberam apreciar. Cotillard é uma atriz a ser batida, uma mulher de talento impressionante que só foi descoberto nesta produção.

Foi, talvez por boa parte do mérito para Olivier Dahan, que tal interpretação aconteceu. Lógico que sua direção peca em alguns aspectos importantes, mas ele demonstra ser um excelente comandante de elenco, já que todo ele se sai bem durante todo o filme. Entretanto, o roteiro, que deve ser a pior falha do longa, é a justificativa para um diretor cuja competência ainda não foi revelada. Na verdade, não fossem as indas e vindas da narrativa, tudo seria muito mais fácil e de um bom gosto extramamente mais eficiente de ser digerido. O fato é que 'Piaf' consegue ser um grande filme, mas que poderia ter sido bem maior caso tais erros não tivessem sido cometidos, mas tanto a interpretação histórica de Cotillard, quanto à equipe técnica cmpetentíssima, eis um filme para ser assistido.

A história de Edith Piaf, suas canções, seu modo de ser, de viver, tudo isso pode ser encontrado aqui, mas visualmente, o que foi retrato, não peca em instante algum. Quer um exemplo, o rosto de Cotillard, belíssimo, transfigurado para uma forma física corcunda, danificado por doenças, como o reumatismo, a cor dos cabelos, a pele enrrugada, a aparência envelhecida. Ou seja, a maquiagem é sim o segundo maior destaque do filme, depois de Cotillard, evidentemente. Figurinos competentes e uma direção de arte primorosa terminam merecem elogios.

Agora, como não se emocionar com o final? Como não ser levado ao sentimentalismo explícito? Piaf - Um Hino ao Amor consegue fazer tudo isso com o espectador, e talvez, por mais que tenha funcionado, esse seja um problema. O sentimentalismo é nítido em todo o filme, o modo como encara a vida da cantora, muito sofrimento, muita tristeza, muito melodrama, chegando ao exagero. Para quem curte um melodrama forçado, está aí um belo programa, mas se você curte uma comédia, passe longe.

Forte, melodramático, belo, muitíssimo bem interpretado. Se quiser diversão, esqueça os problemas de direção e roteiro e preste atenção mesmo à atuação de Cotillard, que dá gosto de ver. Na verdade e sem querer menosprezar o trabalho da técnica, o filme é basicamente dela. Em resumo? Marion Cotillard. Ponto.

Críticas

Invasões Bárbaras, As

0,0

De maneira ora sutil e poética, ora dura e imperdoável, Denis Arcand controe em torno de seu protagonista, Rémy, boa parte daquilo que ele quer ser ou foi, e de seus codajuvantes, parentes e colegas, boa parte do que somos nós, ocidentais. Com total domínio da linguagem cinematográfica, com profundo controlo sobre as possibilidades de incerssão de temas complexos (e corajosos) de nossa atual realidade, Les Invasions Barbares acaba sendo um filme pra poucos, com forte conteúdo político e com possíveis verdades nem sempre adoradas.

Dirigido e Roteirzado pelo própio Denis Arcand, cineasta esquerdista, As Invasões Bárbaras levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - José Wilker lembrou do filme o Oscar inteiro, extasiado toda vida na originalidade da obra. Fazendo parte de uma trilogia de Arcand iniciada em 86 com o vencedor do ,Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Declínio do Império Americano e finalizada em 2007, com Era da Inocência, As Invasões Bárbaras conta os fatos que antecedem à morte de Rémy, professor universitário, a ajuda de seus amigos, e de seu filho o sempre ausente Sébastien, esse jovem economista de talento procurará de todas as formas, e para isso usando do seu abundante capital, auxiliar seu pai nesses momentos finais, mesmo que tenha de procurar tratamentos ilegais para seu pai.

Por detrás da história dessas pessoas e através de seus diálogos, Arcand vai destilando todo o seu potencial crítico à Igreja, à sociedade, a nossos costumes. Nunca, todavia, tirando os personagens do foco, sem precisar de parar a história, essas críticas estão lá a todo momento, nas conversas sinceras de cada personagem, esses absurdamente sinceros e humanos equivalentemente.

Um dos temas que Arcand trata é o fato de o humano escolher a sua hora de morrer - segundo o Arcand, em uma entrevista, a razão para tal tema vem do fato de 8 de seus amigos terem se suicidado. Rémy, decide quando, onde e com quem passar seus últimos momentos, longe do agonizante sistema de saúde de seu país, o Canadá. Seu controle diante da morte faz com que Rémy ainda fume seuúltimo baseado, divague sobre o mêtie do historiador, a sua carreira de professor frustado ante suas expectativas.

Já com os coadjuvantes o pano de fundo é mais social, é interessantíssima a relação do filho de Rémy, Sebastian e Nathalie, filha de uma amiga de Rémy, também viciada em drogas. Notamos que ambos os personagens parecem bem seguros de si, Sebastian como bem sucessedido economista, Nathalie, "tranquila" em seu vício, ambos - e aí a característica de nossa sociedade moderna - longe de seus pais, seja geograficamente, seja no coração (no caso de Nathalie, ela não vê a mãe à tempos, embora morem na mesma cidade). Outra relação bem atual é com relação à Heroína, mostrando, na visão de Arcand, ser ela uma droga de classe média (intelectuais), traficada por iguais. Há também aquela velha quetsão de que com um "jeitinho" (entenda-se dinheiro") soluciona-se (quase) tudo.

Com uma Trilha Sonora linda, controlando magnificamente a câmera - é belíssima a cena do hospital, onde a câmera de Arcand nos leva no ombro de uma enfermeira, o que serve para nos mostrar o caos daquele lugar, posicionando dessa forma a câmera para que não nos perdamos ante aquela bagunça, afinal, estavamos no início do filme. Boas atuações - sinceras, sem muito falso chororo -, pautadas por ácidos e perspicazes diálogos. Arcánd alcança dimensão social e humana em cerca de 1 hora e 40 minutos, sem precisar de estender demias sua obra - não vemos críticas racias ou de gênero, por exemplo - , nunca a deixando vazia de sentidos. É até interessante como as pessoas mostradas por Arcand através de suas simples vidas, tornan-se um espectro de parte de nossa sociedade. Um filme necessário a você.

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