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Críticas

Quem Quer Ser um Milionário?

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Danny Boyle nos mostra uma Índia contemporânea através da história de Jamal. Discriminação, influência pop televisiva, Bollywood, globalização, todo um mozaico de referências que se unem a uma ousada narrativa, que fala junto com a fantástica parte técnica do filme. Mais uma vez o grande vencedor do Oscar se mostra um grande filme. Esse, só o tempo há de provar sua magnificência.

Edição frenética, Trilha Sonora Encantadora, uma fotofrafia urbana genial, sons, ângulos ousados de câmera, Slumdog Milionaire sobresai-se muito bem na parte técnica. Talzez o único problema sério talvez seja os rumos que a narrativa dá. Ao decidir "responder" o motivo de Jamal, um slumdog, responder a questões que nem grandes intelectuais burgueses conseguiam. Voltando no tempo em flasbacks lineares o filme acaba se desgastando um pouco, tudo fica muito lógico, pois na medida em que vai aumentando a quantia em jogo, vemos a tragetória de Jamal se aproximar do presente momento. Todavia isso pode ser entendido como uma questão de gosto, de opção do Roteirista Simon Beaufoy, que adaptou o filme do livro de Vikas Swarup.

A bela história de amor que permeia o filme, entre Jamal (Dev Patel) e Latika (Freida Pinto) é algo sensível, humana. Não é um processo fácil, e apesar de ser a cota de melodrama do filme, na verdade se passa mais como pano de fundo pra mostrar algumas sensibilidades indianas de hoje em dia.

A história é sobre um jovem da favela, Jamal, que se torna finalista do programa "Who Wants to be A Millionaire?" - o Show do Milhão Indiano -, motivado não pelo dinheiro, mas pelo seu amor àquela pessoa que tanto ama, Latika.

O filme sem dúvidas sobrevive graças a segura direção de Danny Boyle, no seu mais ousado projeto o diretor alça seu nome a uma grande promessa futura, embora já tenha em seu currículo alguns bons filmes.

Ganhador de 8 Oscars, o filme realmente dominou a noite de premiação, embora tenha dividido críticos mundo afora. Melhor filme e Melhor direção coroaram a ousadia da empreitada de Boyle, que estava radiante de alegria por sua obra. O óbvio Oscar de Montagem é merecido, embora a Montagem de TDK fosse digna do prêmio. Roteiro Adaptado seria um pocesso de embalo devido a premiação a melhor filme. A belíssima Fotografia urbana, que explora ao máximo as possibilidades de utilizar várias cores é louvável. Há muito tempo a acadêmia não premiava uma Fotografia que não fosse extensas paisagens naturais. O apuro técnico do filme se concretiza com a premiação ao prêmio de Melhor Som. Trilha Sonora e Canção Original completam as premiações de Slumdog. Destaque para a linda canção do início do filme. O cartão de visitas do longa, uma bela cena onde se explora de tudo: Montagem, Trilha Sonora, Som, Fotografia, uma das grandes cenas do cinema de 2008.

Enfim, com uma instigante história de vida, Danny Boyle nos leva a uma Índia diferente do exotismo imaginado por nós ocidentais. Mostrando também ser a favela potencial para construção de sabedoria. Boyle definitivamente traz um novo fôlego para as produções cinematográficas em uma história nada convencional, mas que pode agradar a muita gente.

Críticas

Ilha das Flores

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Irônica e ágil forma de passar uma dura e sincera mensagem, Ilha das Flores é um marco do cinema nacional, um curta-metragem que escreve um estilo de fazer cinema, obra daquelas imprescindíveis para estudiosos da sétima arte.

Partindo do plano comum, Jorge Furtado vai direcionando a narrativa de Paulo José a esmiuçar detalhes e mais detalhes sobre características de coisas comuns, como o que caracteriza um homem, um porco, um tomate, nos encaminhando até um duro, mais não menos real cotidiano de pessoas tão próximas, e ao mesmo tempo tão distantes.

O tom ousado de Furtado não poupa a ninguém, nem a Deus, nem a nós mesmos, complacentes e frutos da realidade - geradores ou participantes do processo, dependendo da concisão em que esteja. Furtado vai ao seu "quintal" e através da narrativa de Paulo José - gaúcho como o diretor - explora sua vergonha. Isso mesmo, o tom de voz da narrativa de Paulo José ao final do curta não é nem de longe o tom de resignação, de conformismo.

O ágil roteiro se desenvolve através de rápida edição das imagens sendo acompanhado pela voz rouca de Paulo José, explorando recursos narrativos onde um personagem, no caso um porco, por exemplo, revelar-se-á ao final da trama, o homem, que no início é um bípede, que possui polegar, etc., ao final será ou aquele consumista que nem sempre utiliza o que compra com seu próprio suor, ou aquele igualmente bípede, e que possui polegar que tem poucos segundos para pegar as sobras do homem consumista, sobras essas excluídas da alimentação do porco, por ele mesmo, o porco.

No desejo de revelar sua posição sobre a querela social que é a pobreza, sem isentar o humano de sua devida culpa, através de um ágil roteiro, sobrepondo imagens que auxiliem a narração de Paulo José, Ilhas das Flores é uma dura realidade de uns, retratada com maestria pelo talento de Jorge Furtado. Recomendado.

Críticas

Carrie - A Estranha

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Stephen King é, provavelmente, o nome mais conhecido a nível mundial em termos de literatura de terror e suspense, além de vários livros de drama. Tamanho é o seu sucesso que diversas obras de sua autoria vêm sendo adaptadas para o cinema por grandes cineastas nas últimas décadas. Alguns exemplos são "À Espera de um Milagre", "O Nevoeiro" e "Um Sonho de Liberdade", de Frank Darabont; o fantástico "O Iluminado", de Stanley Kubrick; e o filme ao qual a presente análise se refere, "Carrie, a Estranha", filme de 1976 dirigido por Brian de Palma.

Em linhas gerais, tanto o livro quanto o filme contam a mesma história. A personagem principal é Carrie White (Sissy Spacek), uma jovem que possui secretos poderes telecinéticos. Carrie vive em casa com sua mãe Margareth (Piper Laurie), uma fanática religiosa que controla a mão-de-ferro a vida da filha. Na escola, ela é humilhada por todos os seus colegas. Porém, uma aluna, Sue Snell (Amy Irving) se arrpende do modo como vinha tratando Carrie e decide pedir ao seu namorado, Tommy (William Katt), a acompanhe ao baile de formatura. Porém, nem tudo sai como planejado.

O roteiro de Lawrence D. Cohen adapta de forma precisa o livro de Stpehen King. Este último é estruturado, em sua grande maioria, a partir de entrevistas com detemrinados personagens e algumas matérias de jornais, pelas quais ficamos conhecendo a história de Carrie. Porém, o roteiro do filme trata tudo de forma linear, o que acaba se tornando um grande ponto positivo, com os personagens tornando-se cada vez mais complexos e as tensões aumentando com o desenrolar da narrativa.

O bom roteiro é auxiliado pela fantástica direção de Brain de Palma, que construiu cenas antológicas. Um exemplo é a abertura, em que a câmera passeia lentamente pelo vestiário das meninas após um jogo de vôlei, até chegar a Carrie no momento em que ela tem sua primeira menstruação. Esta seqüência, assim como grande parte do filme, é embalado por uma magnífica trilha sonora. De Palma também utiliza o recurso da primeira pessoa em algumas cenas cruciais, e o resultado foi muito postivo.

Para dar conta da profundidade dos personagens, era necessário um bom elenco, que simplesmente supera as expectativas. Sissy Spacek consegue passar todo o turbilhão de sentimentos pelos quais passa Carrie, uma menina confusa, submissa a mãe, incompreendida e rejeitada por todos, porém doce e bastante sensível. Atores hoje renomados como Amy Irving e Jonh Travolta (que aparece bem pouco) dão conta do recado, assim como Betty Buckley, que interpreta a sra.Collins, professora de Educação Física que tem fundamental importância na trama. Mas o grande destque mesmo é a atriz Piper Laurie; sua composição para Margareth White é impressionante, e é capaz de fazer o espectador odiar esta mulher fanática.

Todos os fatores acima (bom roteiro, direção impecável e atores excelentes), além de tecnicamente muito bem feito, fazem de "Carrie- A Estranha" uma pérola do gênero terror. É um filme para ver e rever, pois há muitos detalhes que nós não percebemos da primeira vez, magistrlamente "escondidos" pelo diretor. Um grande filme.

Críticas

Gran Torino

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Denso e poderoso, Gran Torino é mais uma obra-prima para a coleção de Clint Eastwood, um dos cineastas mais completos que o mundo já viu.

"So tenderly your story is

Nothing more than what you see

Or what you've done or will become

Standing strong do you belong

In your skin; just wondering."

Diretor, ator, produtor e ainda por cima, compositor. Dizer que Clint Eastwood é capaz de fazer tudo já é notícia batida, mas dizer que o cara tem a "mania" de fazer produções memoráveis e que beiram à perfeição, já não é, por incrível que pareça. Apesar de ter feito clássicos atrás de clássicos, tanto na frente quanto atrás das câmeras, tendo dois Oscars pra enfeitar a sua prateleira e mais uma série infinita de coleções de prêmios, Eastwood sempre acaba nos surpreendendo. No auge de seus 78 anos de idade ele já nos entregou filmes que entraram para a história definitiva do cinema, sendo impossível sair da memória de quem os assistem. Em Gran Torino ele só não repete o feito de seus outros trabalhos, como também nos entrega um filme muito acima da média e talvez, sem exagero algum, um dos melhores de sua carreira cinematográfica.

Desta vez, o grande Clint interpreta Walt Kowalski, homem solitário e viúvo recentemente, ele é um veterano da Guerra da Coréia e suas experiências traumatizantes da violência ocular o transformou em um homem rancoroso, inflexível, mal-humarado, misantropo e xenófobo, principalmente com seus vizinhos, uma família de hmongs vinda do Laos. Querendo somente viver a sua vida sem aborrecimentos, sem contato com a família e cuja única companhia é de sua cadela Daisy. Quando Thao, seu vizinho adolescente é obrigado a roubar o seu carro, um Gran Torino, 1972, os dois acabam criando uma relação esquisita, intermediada pela irmã de Thao, Sue.

De qualquer modo, o filme é todo uma grande reflexão construtiva e auto-avaliativa, especialmente quando falamos do retrato do personagem principal, vítima da própria redenção. Neste ponto, Clint brilha mais do que nunca e mostra que apesar da idade, o talento nunca acaba. E podemos crer com toda a convicção que nos é imposta, que Clint Eastwood é sim, um ator, e não só isso, admirável e multi-talentoso. A força que seu personagem transmite vai muito além de diálogos irônicos e grosseiros, mas sim pelo olhar, aquele olhar típico do velho e bom Clint. Suas feições rancorosas e ranzinzas despontam na tela como um marco de um homem cujo passado influenciou e muito o seu presente. Não há como sentir raiva e muito menos desgosto do personagem Walt, uma vez que todo o conhecido carisma de Clint não para de aflorar a cada cena do filme, por mais duras e densas que elas possam ser.

Muito além de sua fabulosa interpretação, existe um diretor tão competente quanto aquele que nós vemos em frente às câmeras. Clint já provou e isso sim, não é dúvida para ninguém, ser um diretor extremamente brilhante e não precisaria deste 'Gran Torino' para que alguém soubesse disso. Entretanto, como negar a nós mesmos mais um filme de bom gosto incontestável, à moda Eastwood? Todos os departamentos da produção do filme têm o toque de classe do diretor americano. Desde a fotografia redentora até a trilha sonora, tudo é sinal de que existe alguém muito influente atrás das câmeras.

E falando em música, não posso deixar de escrever sobre um fato muito curioso que me ocorreu na sala de cinema, na qual assisti ao filme hoje. Não houve sequer um único ser que ousou sair da sala no final do filme. Sim, todos ficaram para conferir os créditos finais, regados por uma canção belíssima (escrita por quem?) e interpretada (por quem?). Sim, como eu disse, até isso Clint sabe fazer. E não à toa, foi um dos momentos mais marcantes da carreira do homem, que conforme ele mesmo disse, este foi o seu último trabalho como intérprete e com certeza, essa sua interpretação da música vai entrar para a história como a muito provável despedida de um dos mais emblemáticos e competentes cineastas da história, porém somente como ator.

"Realign all the stars above my head

Warning signs travel far

I drink instead on my own Oh! how I've known

the battle scars and worn out beds."

Gran Torino é um filme belo, inesquecível, muito bem escrito pelo estreiante Nick Schenk, baseado na história de Dave Johannson, interpretado com perfeiçado e dirigido com maestria. Um longa memorável e único, para todos os fãs de Clint e lógico, muito mais.

"Your world is nothing more than all the tiny things you've left behind."

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Sol é Para Todos, O

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Robert Mulligan concebe uma obra-prima que evoca a sensibilidade, a emoção e os valores morais. O retrato de uma cidade pequena que ainda sofre com os efeitos da Crise de 29 e que tem como características marcantes o conservadorismo e o racismo, fatores que culminam na sentença de um negro inocente.

Gregory Peck ganhou o Oscar de Melhor Ator por sua interpretação neste filme, vencendo Peter O'Toole que fôra indicado pela atuação no clássico "Lawrence da Arábia". No entanto, ao contrário do que pode parecer, o destaque do filme não é necessariamente Peck, mas as crianças. A história é contada pelo ângulo de Scouty, interpretada pela atriz Mary Badham e que dá um show à parte, tanto que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel. A irreverência e a espontaneidade da personagem faz com o espectador se surpreenda e tem uma importância fundamental no decorrer da trama. Por exemplo, na cena em que os fazendeiros vão ao encontro de Atticus Finch (Gregory Peck) para reclamar sobre a defesa do negro Tom Robinson (Brock Peters), Scouty faz um dialógo que chega a comover Bob Ewell (James Anderson), que acaba desistindo do intento inicial - um dos melhores momentos de "O Sol é Para Todos".

Além de Mary Badham, temos a oportunidade de ver a estréia de um dos maiores atores que o cinema já viu, eis que falo de Robert Duvall (o eterno "consiglieri" Tom Hagen de o "Poderoso Chefão" e ganhador do Oscar de Melhor Ator por "A Força do Carinho") que interpreta perfeitamente o misterioso 'Boo' Radley. Essa personagem que, no decorrer da trama, é algo mítico e assustador para as crianças, acaba por surgir no término do filme e assume grande relevância para a conclusão do longa.

O A.F.I. (American Film Institute) elegeu Acttius Finch o maior herói de todos os tempos, talvez pela virilidade na defesa de um caso onde o racismo teve a palavra final ou pela imagem de um pai que cria os filhos sozinhos e luta incansavelmente pela ética. O longa, inspirado no romance vencedor do Prêmio Pulitzer, a maior premiação do meio jornalístico americano, merece ser visto como uma lição de moral e de vida diante da nossa sociedade, que muitas vezes deixa a injustiça sobrevalecer.

Críticas

Pagando Bem, Que Mal Tem?

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O prólogo de meu comentário destaca a tradução tenebrosa do título: "Zack e Miri Fazem Um Pornô" que foi adaptado para "Pagando bem, que mal tem?".

Com certeza o atrativo do filme não será pelo nome aqui no Brasil - ao contrário do país ianque.

O diretor e roteirista desta película, Kevin Smith, nerd assumidíssimo, entregou seu filme mais escancarado. Em contrapartida, o filme é concluído, curiosamente, de forma comportada.

Bom, na verdade é uma mescla. Inicia-se com todas as fórmulas apelativas em relação ao sexo, para desencandear simplesmente em uma estória de amor.

Na trama temos como protagonista, ninguém mais, ninguém menos que, Seth Rogen, já acostumado a interpretar o típico cara sacana, largadão, graças ao seu timing cômico incomum. Ele que vem ganhando espaço com sua postura irreverente e singular no mundo da comédia, é acompanhado pela bela atriz em ascenção Elizabeth Banks, que está simplesmente adorável.

Os personagens são super criativos e interessantes. Elizabeth incorpora uma mulher quase utópica, sendo romântica no teor certo, mas com um ar politicamente incorreto, muito além do comum. Ambos perfeitos nos papéis.

"Pagando bem, que mal tem?" causou muita polêmica para censura puritana dos EUA, desde seu cartaz que trazia a alusão dos atores (Rogen e Banks) praticando sexo oral um no outro, até as excessivas cenas de sexo explícito - apesar de simulativo - e os diálogos picantes, recheado de piadinhas sujas.

Realmente, muita cena de nudez foi mostrada. Até direito a ver o pênis do ator Jason Mewes que participa desta produção, o público teve. O que foi bizarro! Se fosse a Elizabeth nua frontalmente eu respeitaria...hehe (foi necessário a piada).

No filme, Zack Brown (Seth Rogen) e Miriam Linky (Elizabeth Banks) estão com sérios problemas financeiros. Eles que compartilham uma amizade sólida e confidente desde à adolescência, moram juntos. Porém, estão vivendo numa pindaíba sem igual.

Com meses sem pagar contas por causa de sua total falta de dinheiro, eles são jogados de volta a realidade em uma reunião dos antigos colegas de ensino fundamental, famoso High School. O que rende em algumas das cenas mais hilárias, com direito a uma briga de teor homossexual e um selinho por parte de Brandon Routh (o novo "super-homem") e Justin Long (figurinha carimbada do gênero) que fazem uma ponta no longa.

Ao chegarem em casa, Zack e Miriam se deparam com a casa sem energia elétrica, sem água, sem aquecedor, e etc... Diante disto, Zack tem a idéia deles fazerem um filme pornô estrelado por eles mesmo! Como são solteiros, sem familiares vivos, vivendo um pelo outro, a idéia vinga! Aí dá-se início as situações mais hilárias e sem-noção.

A cena em que Banks e Rogen vão desempenhar a cena de sexo deles, é a mais engraçada. Mesmo um tanto caricata, ela condiz com uma das propostas do filme que, é provocar riso a qualquer custo.

O elenco, merecedor de destaque, é simplesmente magistral! Com o hilariante Craig Robinson, as atrizes pornôs Traci Lords e Katie Morgan, e os supracitados Justin long, Brandon Routh e Jason mewes, o circo está armado (nessa frase quase há um duplo sentido, diante da essência do filme).

Diante de tantas cenas tórridas, com um certo exagero escatológico, o desenvolvimento do filme, ainda assim, apresenta uma estória romantizada.

Quando o filme acaba, o espectador fica com a sensação de ter visto uma simples comédia romântica. Todo aquele sexo parece uma desculpa proposital para apresentar um romance sob uma amosfera inusitada, mas que não foge ao lugar-comum.

O desenvolvimento clichê - amigos que desconheciam o real sentimento entre si - e a estória de amor soa, descaradamente, como uma aliviada para o clima erótico do filme. É como se o diretor quizesse desculpar-se por tudo que foi mostrado no início. O grande erro do filme. Não por conter uma subtrama de amor, mas por cair no piegas.

Embora dando umas derrapadas, o diretor Kevin Smith acertou em injetar argumentos tão seguros e absurdos - pornô enriquece e atraia qualquer um -; o que torna o filme interessante.

De qualquer maneira, o filme é bom. Diverte, com certeza! Não tanto quanto eu esperava, mas diverte...

Recheado de alfinetadas psicológicas, humor ácido, e tiradas explícitas e sutis, é um filme pra poucos. Graças a sua ousadia e irreverência. Contudo, esses "poucos" irão se deliciar com tantos elementos escrachados e ordinários.

Diante desse conjunto de idéias, recomendo o filme.

Críticas

Edward Mãos de Tesoura

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Gerida pelo estupendo senso artístico dos filmes de Tim Burton, apoiando-se na magnânima atuação do talentoso Depp - no seu melhor papel, em sua melhor atuação -, Edward Mãos de Tesoura é uma obra-prima, irretocável, de significados plurais, uma grande obra que abriu as portas da boa representação de filmes da década de 90, um filme imperdível.

Direção de Arte originalíssima, impecável. Trilha Sonora emocionante. Direção segura de Burton. Atuações convicentes, Deep perfeito, Winona, Dianne West, Anthony M. Hall, todos totalmente mergulhados na história. Um roteiro arrumadinho. Ótimo desenvolvimento dos personagens. Edward Mãos de Tesoura é o encontro do comum, organizado e colorido, a cidade, com o estranho, gótico, anti-social, misterioso, e por esse motivo, charmoso Edward. Uma incrível metáfora de algumas de nossas atitudes exploradas através da história comovente de Edward Mãos de Tesoura ( é pertinente com isso, comparar a história desse filme com a de Dogville).

A história começa com Pegg Boggs (Dianne Wiest), vendendora da Avon que num mau dia de vendas se interessa em visitar um antigo castelo no final da rua, afim de tentar vender alguma coisa. Lá ela conhece o misterioso jovem Edward (Johny Depp), que fora criado por um invetor já falecido. Sentindo pena da situação do jovem, Pegg decide o levar ele pra casa. Sendo bastante singelo e prestativo, Edward conquista o "carinho" de uns e o ódio de outros.

É impossível não se emocionar com a história de Edward, parte disso deve-se a atuação de Depp ( me abstenho a comentar óbvis e diversas injustiças do Oscar para com o filme), o que poderia ser um personagem caricato e medonho, Depp transforma em um personagem singelo e bizarro ao mesmo tempo, mas, acima de tudo, carismático e humano, capaz de amar com toda sua sinceridade a bela jovem Kim, filha de Peg.

Como todo filme de Tim Burton, Edward Mãos de Tesoura esbanja originalidade artísica, seja na magnífica Maquiagem ( uma categoria pelo qual o filme recebera indicação ao Oscar), tanto a aplicada em Depp, quanto a em Winona Ryder, ao final do filme, com Jim já bem velhinha, seja na estupenda Direção de Arte, onde as imagens falam por si. Criando o clima sempre ameno, de sol limpo, em uma cidade organizadinha, cheia de cores, distoando da figura pálida vestido de negro, que era Edward, algo só presente nos dias de hoje nos filmes de Burton ( pra mim, os dois grandes diretores de filmes artísticamente belos são o própio Burton e Del Toro).

Enfim, Edward Mãos de Tesoura é um filme que tornou-se um dos clássicos da Sessão da Tarde, na época onde em tal atração eram transimtidos alguns filmes realmente divertidos. A emocionate história de Edward Mãos de Tesoura revela uma linda mensagem, arrancando lágrimas até hoje. Um filme obrigatório.

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Gran Torino

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[Novo filme de Clint Eastwood constrói uma América de mudanças e com seus valores em xeque]

[GRAN TORINO –Cena 1]

1.INTERNA – IGREJA – MANHÃ

Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um cara durão. Tão sólido quanto aço, matéria- prima da cidade industrial de Detroit, sua terra natal. No funeral da mulher, o patriarca de coração de ferro recebe secamente seus familiares. Os olhos destinam desdém aos filhos. Aos netos o olhar é de reprovação pela falta de modos na igreja. Mesmo velando a companheira, não é capaz de demonstrar consternação. Tampouco olha para o caixão em sinal de luto.

Durante a missa, ouve com repúdio o sermão do jovem padre Janovich (Christopher Carley). O tema do sermão é a morte. Assunto que conhece bem, mas prefere guardar para si. Ele tem vontade de cuspir. Algo que sempre faz quando está nervoso. Não o procede por questão de respeito.

[GRAN TORINO- Cena 2]

2.INTERNA – CASA DE KOWALSKI – MANHÃ

Terminado o enterro, Kowalski recebe os convidados em sua casa. Um grande domicílio com pátio modesto e uma grande garagem. É lá que se encontra sua relíquia mais preciosa. O ford Gran Torino, modelo 72, adquirido nos velhos e bons tempos da Ford, empresa que trabalhou boa parte da vida. O sótão da casa é o arauto da nostalgia. Caixas velhas, álbuns de fotos e outras recordações estão espalhados pelo subsolo e passam a ser revirados pelos seus netos.

Algo lhes chama a atenção. É a medalha de condecoração que o avô recebeu pelos serviços prestados na Guerra da Coréia em 1952. A experiência o marcou para sempre. Desde lá, tornou-se um patriota amargo. Um xenófobo anti-social da pior espécie. Preconceituoso a ponto de brigar com os filhos por comprarem carros da Toyota. “Morreria se comprasse um carro americano?” Um septuagenário solitário que passa seus dias na varanda de casa tomando cerveja e conversando com seu cachorro.

Quando o vizinho oriental da casa ao lado bate na porta e lhe pede emprestado um cabo de extensão, ele não o poupa de suas grosserias. O cabeça-de-zíper, como costuma chamar os asiáticos, se chama Thao (Bee Vang), um garoto tímido e sem rumo vivendo num bairro com perspectivas não muito animadoras aos imigrantes.

[ até que...]

Alguns dias após o atrito com Kowalski, o jovem é instigado pela gangue do seu primo a entrar para o mundo do crime. Sua iniciação será furtar o Gran Torino do vizinho idoso e solitário. Mas como não tem aptidão nenhuma para a delinquência, Thao acaba sendo apanhado pelo velho combatente, armado até os dentes com revolver e espingarda. O flagrante dará origem a provação mais importante da vida de Kowalski.

Em vez de chamar a polícia, ele acaba acidentalmente salvando a vida do garoto que a partir dali terá a vida infernizada pela gangue. A situação acaba o aproximando da família de asiáticos, principalmente de Thao e da sua doce irmã Sue Lor (Ahney Her). Faz amizade com todos, menos com a “vovó”, com quem trava “duelos de cuspe”.

[Faça a coisa certa]

Fluente em temáticas, Gran Torino pode ser visto sob diferentes pontos de vista. Numa maneira superficial é um filme sobre redenção (bem besta, por sinal). Mas numa leitura mais aguçada vemos que Clint Eastwood, também diretor e roteirista do filme, nos coloca diante de uma América suburbana com seus valores em xeque. Um lugar com crianças sem respeito e noção de valores, educados por adultos negligentes e passivos, gerando assim uma família fugaz e desunida que não se vê nem nos dias de Ação de Graças.

Os poucos espaços que restam no país, estão ocupados por gente de fora que chegam ali com seus bons e maus costumes. Enquanto isso, a Igreja viceja seu discurso alienante para a sociedade, sem o mínimo conhecimento de causa

A visão amarga do protagonista, no entanto, não reflete a visão do autor. Ela serve apenas para expor um microcosmo social da sociedade americana, julgado pela ótica de uma pessoa que, se por um lado é preconceituosa e resistente às mudanças, por outro tem lá suas razões.

Como na cena em que Kowalski enfrenta uma gangue de negros, prestes a praticar estupro. Ou quando cobra mais responsabilidade de Thao em arranjar uma profissão e escapar do destino comum dos imigrantes do bairro: “As garotas vão para a faculdade. Os garotos para a cadeia”. Usa também o humor quando seu personagem desconhece a descendência hmong dos vizinhos do sudeste asiático. A típica alienação do americano médio -a capital do Brasil é Buenos Aires, disse um certo presidente. É uma pena que Clint contorne os conflitos da história de forma descompromissada e faça uma reviravolta brusca do personagem.

[Redenção]

Em vez de ter uma mudança gradual, Kowalski passa do xenófobo odiável ao dirty Harry da paz, que defende os fracos e oprimidos com sua pistola justiceira. O típico personagem-fantoche que exorciza uma vida de pecados capitais num ato de bravura descomedida. Tudo pela coerência do heroísmo. Tudo pelo final hollywoodiano. Tudo pela lágrima do espectador.

Embora seja um americano nato, Clint Eastwood sempre foi um cidadão do mundo. Como ator de filmes de faroeste, ganhou fama pelas lentes do genial artífice italiano Sergio Leone. Quando decidiu se tornar cineasta foi bastante incentivado pelos europeus, sobretudo na França onde recentemente agradeceu o apoio após receber a Palma de Ouro em Cannes pelo conjunto da obra. Recentemente retratou com perfeição a versão japonesa da 2°Guerra no filme Cartas de Iwo Gima.

Após decretar em Gran Torino sua despedida em frente às câmeras, Clint teve a atuação indicada pela Associação de Críticos de Chicago. Chegou-se a especular uma indicação ao Oscar, o que acabou não acontecendo. Um fato curioso é que na sua última tentativa de levar a estatueta ele escolheu um papel muito parecido com o de Henry Fonda (Era uma Vez no Oeste) em Num Lago Dourado.

Quando interpretou nesse filme um velho rabugento que alimenta uma relação difícil com a filha, Fonda tinha 76 anos e sagrou-se o ator mais velho a receber o prêmio da Academia. E assim como Walt Kowalski, seu personagem acaba se afeiçoando com um garoto que não é da sua família. Mas é claro que tudo não passa de uma coincidência.

O fato é que Clint, nunca foi um ator genial, embora tenha tido grandes momentos, como em As Pontes de Madison, por exemplo. Coisa que não importa muito se considerarmos sua impecável e vitoriosa carreira de cineasta. Afinal, não dá pra vencer todas.

http://blig.ig.com.br/planosequencia/

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Sex Drive - Rumo ao Sexo

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[Comédia adolescente tem bons momentos mas peca pelo excesso de nudez e escatologia]

Já tive os meus 15 anos. É uma fase legal, talvez a melhor de todas. A fase das descobertas, da pegação, do buraco da fechadura, dos hormônios efervescendo no sangue como aspirina. Os produtores de cinema sabem muito bem como funcionam esses escapismos. O primeiro filme dessa leva de comédias sobre “adolescentes-querendo-transar” chama-se O Clube dos Cafajestes, e não por acaso, é o melhor deles. Estrelado pelo junkie John Beluschi em 1978, o longa foi pioneiro na arte de exibir colegiais desbocados correndo atrás de menininhas faiscantes com os peitos de fora.

Sua influência se estendeu nos anos 80 na esteira de genéricos ruins como Pork´s e O Último Americano Virgem. Lançado em 1999, American Pie deu uma renovada no gênero da bolinação adolescente. E assim como O Clube dos Cafajestes, fez parir uma caralhada de produções do gênero, a maioria delas de qualidade duvidosa. A sorte é que apareceu o Judd Apatow e devolveu a dignidade das comédias adolescentes. O problema é que sempre aparece alguém para estragar tudo…

Sex-Drive – Rumo ao Sexo estreou nos cinemas na última sexta-feira. A abertura do filme é ilustrada por um par de seios turbinados e uma pingola preta do tamanho de um arpão de pesca. Entre essas duas anatomias da natureza humana, estão o diretor Sean Anders e o produtor do filme John Morris que nos convidam para a jornada rumo ao sexo “com alguns palavrões extras e algumas tetas adicionais”.

A premissa do filme é igual a de todos os outros. Tem um rapaz virgem e tímido que esse se chama Ian (Josh Zuckerman). Ele tem 18 anos e quer transar. Além de não ter sorte com as garotas, o arquétipo loser trabalha num shopping vendendo doces vestido de donuts, coisa que não ajuda em nada a sua popularidade.

Usando a foto de um atleta sarado sem camisa e com óleo no corpo, ele conhece uma voluptuosa loira na internet do outro lado do país que o convida para ir até lá e transar com ela. Ian tem um amigo. Ele se chama Lance (Clack Duke), um tipo raro de nerd garanhão, pegador de mulheres.

Os dois amigos caem na estrada. Ah esqueci de dizer. Ian também tem uma melhor amiga. E ela é linda! E tem um nome sensual: Felicia. O problema é que Felicia (Amanda Crew) é também sua paixão secreta. Outro problema é que ela os acompanha na jornada de sexo descompromissado. Acho que não é preciso dizer como essa história termina…

O filme vira então um road movie. Durante a viagem, os amigos passam por momentos impagáveis e conhecem os tipos mais estranhos. O melhor deles é Ezekiel (Seth Green, muito engraçado), um recluso da seita amish que não abre mão de comentar suas perversões sexuais. Além dele, eles topam ainda com policias, motoristas sociopatas, presidiários e noviças com alto furor sexual. E nesse panteão de bizarrices cabe ainda o homofóbico Josh (James Marsden), irmão mais velho de Ian que deseja lhe decepar a cabeça por ter roubado seu carro.

Se os seus realizadores não apelassem tanto, Sex Drive até poderia ter um resultado melhor. Tem cenas engraçadas e tal e os adolescentes devem gostar. Acontece que o número de seios, xotas, paus e bagos enormes (perdoem o linguajar) que aparecem o tempo todo e sem justificação alguma, acabam colocando tudo a perder.

O que é uma burrice dos caras, pois se não fosse por isso, a classificação etária poderia ser menor e eles faturariam mais nas bilheterias. Uma tremenda falta de foco, já que a mentalidade das piadas causaria mais riso no público de 9 anos…

http://blig.ig.com.br/planosequencia/

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Pagando Bem, Que Mal Tem?

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[Tudo o que você queria saber sobre pornografia, mas tinha vergonha de perguntar]

Miri: Ninguém quer ver a gente transando.

Zack: Todo mundo quer ver qualquer um transando!

Nas congregações nerd espalhadas pelo mundo, Kevin Smith é rei. Fora delas, também. Cineasta e especialista em quadrinhos, não é difícil simpatizar com o trabalho dele. A naturalidade e o humor ácido com o qual aborda temas como sexo, amizade, amor e morte fazem dele o filho nerd que o Woody Allen não teve.

Em seu novo filme Pagando bem Que Mal Tem?, Smith invade um submundo que embora muita gente dê uma espiadinha, ainda é visto como algo marginal pela sociedade: a pornografia.

Zack (Seth Rogen) e Miriam (Elizabeth Banks) são amigos de infância que moram juntos há 10 anos. Nesse tempo todo nunca houve nada na intimidade deles além de amizade e cumplicidade. Quando comparecem juntos no encontro da turma do segundo grau percebem o quanto a vida deles está estagnada.

Nadando em dívidas e torrando dinheiro onde não devem, eles resolvem fazer um filme pornô e distribuí-lo na internet para organizar as contas e conseguir uma grana extra. Selecionado o “elenco” do filme eles iniciam as filmagens acreditando que o sexo não irá prejudicar a amizade deles. O resto, todo mundo que já assistiu alguma comédia romântica já sabe…

Maaasss, nem todas as comédias românticas são comandadas por Kevin Smith. Embora seu novo trabalho não chegue aos calcanhares de Procura-se Amy -e as referências a Star Wars sirvam apenas pra encher linguiça-,o diretor não decepciona seu público.

Até os últimos 30 minutos, o filme é um entretenimento sarcástico e politicamente incorreto. Com cenas grotescas e piadinhas infames - “A Paris Hilton, deu para um cara num vídeo de visão noturna e agora vende perfumes para adolescentes” - Pagando bem Que Mal Tem? se sustenta na despretensão, mas perde o clima quando cai no lugar-comum do romance.

Interpretando o mesmo estereótipo de outras comédias, Seth Rogen mostra que é ótimo nesses papéis de “adulto irresponsável que teima em amadurecer”. O próprio Smith admitiu que procurava alguém como ele para atuar nos seus filmes, e que Rogen acabou encaixando perfeitamente no papel.

Uma novidade na produção foi a presença de Katie Morgan. Famosa no ramo de filmes adultos, a atriz pornô mostrou no filme aquilo que sabe fazer melhor.Sorte do Jason Mewes que contracenou com a beldade em cenas até bem picantes.

Embora já tenha utilizado um texto até mais execrável em trabalhos anteriores, Kevin Smith teve problemas para divulgar o novo filme cujo nome original é Zack and Miri Make A Porno. Primeiro o pôster original foi barrado porque foi considerado obsceno. Smith alterou e em seguida emissoras de TV se recusaram a divulgar o filme. Motivo? A palavra pornô. Ou seja, uma palavra que vale mais que mil imagens. Curioso, não? Kevin Smith deve ter ficado satisfeito. Pois nada é mais nerd do que inverter a lógica…

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