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Críticas

Stay Alive - Jogo Mortal

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A adaptação de games aos cinemas tem sido, nos últimos tempos, uma febre entre os cineastas. “Tomb Raider” fez grande sucesso, “Resident Evil”, nem tanto. Mas desta vez eles resolveram fazer o contrário: inventaram um jogo exclusivamente para o filme, e os espectadores assistem, simplesmente, aos personagens jogando o tal jogo. Estranho, não? Muito! Deu certo? Não.

“Stay Alive - Jogo Mortal” conta a história de jovens amigos altamente viciados em jogos de video game e online. Um deles, Loomis, recebe um novo jogo, chamado “Stay Alive”, para testar, tando a garantia de que é um dos jogos mais aterrorizantes de todos os tempos. O jogo é baseado na história de Elizabeth Bathory, uma condessa que matava jovens e se banhava em seu sangue. Não posso negar que o jogo me atraiu, mas o que acontece com as pessoas que jogam é o que tira totalmente a crença de que estamos assistindo a um filme sério: sem motivo aparente, quem morre no jogo, morre na vida real. Quem mata? A própria condessa. Como ela faz isso? Pergunte à imaginação ilógica e ilimitada dos produtores do filme!

Como já foi dito anteriormente, Loomis recebe o jogo para testar e morre após ser morto no jogo. Seu amigo de infância (e de video games), Hutch, sente-se culpado pela morte do amigo, pois ele deveria estar jogando com ele na noite de sua morte. Para “compensar”, ele reúne os amigos para jogar Stay Alive em memória de Loomis. No dia seguinte, a matança da condessa continua, fazendo de vítima o chefe de Hutch, Miller. Premissa perfeitamente previsível para os amigos começarem a tentar desvendar os mistérios dos assassinatos e o modo como podem fazer isso parar.

A obviedade do filme pára nisso, porque a história gira em torno do próprio jogo e das mortes em massa provocadas pelo mesmo. Não há mais nada, apenas isso! Ah, e é claro, tem ainda as subtramas decorrentes do jogo, como a suspeita de que Hutch seria o autor dos crimes, o que dura, no máximo, 20 minutos. Um desafio à paciência dos espectadores, que, se tiverem o mínimo de bom gosto e, eu me arriscaria a dizer, senso de ridículo, não se conforma em pagar o ingresso e/ou perder uma hora e meia de sua vida assistindo a um filme que mostra um bando de jovens que não fazem absolutamente nada além de ficar o dia inteiro jogando ou buscando uma explicação para o inexplicável!

Outro fato que me intriga é que, mesmo com as mortes não cessando, com mais e mais amigos morrendo, os sobreviventes continuam jogando! Por que não, simplesmente, acabar com o jogo, tirar o CD do drive, sumir com o CD?? Além disso, por que, quando as pessoas jogam uma rosa, a condessa se afugenta??? E o pior: isso acontece tanto no jogo quanto na vida real! Absurdo!

O elenco também não ajuda. Jovens sem muito talento foram escalados para fazerem de Stay Alive um espetáculo de horrores, um filme que só agrada àqueles fanáticos por video game, que nunca tinha visto um filme cujo tema central é um game. Mas, ao se depararem com um filme em que praticamente nada se encaixa, exceto pelos figurinos interessantes e pela trilha sonora boa, mas inoportuna, esses mesmos fãs desanimam.

Stay Alive é um filme para ser visto uma vez comendo pipoca no cinema com a pessoa amada do lado. Por quê? Quem vai ao cinema com a pessoa amada, não vai ver filme nenhum, né? E, convenhamos, pagar para ver esse desastre só vale a pena desse modo mesmo!

Críticas

Perfume - A História de um Assassino

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Uma adaptação de um livro de sucesso quase sempre se torna um filme, ao menos, confiável para se ver. Mas o que se esperar quando esse mesmo filme foi pretendido por diretores renomados como Tim Burton e Martin Scorsese? Se você pensou: um filme excelente, que é capaz de agradar a americanos e afegãos, acertou! “Perfume: a história de um assassino” (Perfume: story of a murderer, 2006) é um drama misturado com pitadas de suspense que convence em todos os aspectos, deixando poucas brechas para dúvidas e contestações.

O filme se passa na sombria e suja França do século XVIII. Jean-Baptiste Grenouille nasceu em meio a essa sujeira e caos, de uma forma inusitada: sua mãe, que não fazia questão de seu nascimento, deu à luz embaixo da barraca onde trabalhava na feira. Jean-Baptiste, em seu primeiro choro, garantiu sua vingança à mãe, fazendo com que ela fosse condenada à morte por tentativa de assassinato ao filho. Logo que Jean-Baptiste chega ao orfanato, ele sofre uma segunda tentativa de homicídio: as crianças não aceitam dividir mais o racionado espaço. Mas, assim como na primeira vez, sobreviveu bravamente.

O garoto cresceu e, com o tempo, foi se destacando das outras crianças da classe proletária da França por causa de sua inusitada e espetacular capacidade olfativa. Ele é, inclusive, visto com estranheza e temor pelas outras crianças de sua idade. Grenouille consegue sentir odores a grandes distâncias, e ainda tem a capacidade de sentir o cheiro de coisas que, para as pessoas normais, não têm cheiro, como pedras. Desde a adolescência, Grenouille (agora interpretado pelo bom ator Ben Wishaw) tem o desejo de guardar para si todos os tipo de fragrâncias e conhecer odores novos. É nessa balada que, ao conhecer uma garota na rua e se apaixonar pelo seu cheiro, Jean-Baptiste a assusta e, sem intenção, a mata por sufocamento. Esse fato o perturba e, inconformado por não conseguir guardar o aroma da mulher, Grenouille fica obcecado por aprender técnicas para guardar os odores.

E isso se torna possível quando conhece Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman, excelente), um perfumista quase falido que vê seus negócios decolarem após a chegada do jovem e seu imensurável talento. Atento aos ensinamentos (oportunistas, é claro) de Baldini, ele aprende que todos os odores podem ser capturados e preservados, embora seus métodos não sejam os melhores. A descoberta faz com que Grenouille se mude para a cidade de Grasse, onde aprende a técnica mais eficiente e realiza sua matança. Mas, no entanto, Baldini diz que o perfume de uma pessoa é como se fosse sua alma, o que nos dá a entender que, ao preservar o perfume, ele estaria roubando a alma da pessoa. Jean-Baptiste, durante o filme, parece saber exatamente como roubar a alma de uma pessoa, o que é provado pelo fato de as pessoas ligadas a ele morrerem quase sempre.

Um dos poucos pontos negativos do filme é o exagero feito em uma cena na cidade de Grasse, em que toda a população cai aos pés de Grenouille, como se o perfume fosse capaz de dominar o mundo. A cena deixa o espectador confuso, como deixou a mim mesmo, pois sua surrealidade transpassa os limites do aceitável, do imaginável e do lógico, o que cairia bem em um conto de fadas, mas não em um drama sério como este. Apesar disso, o filme não é comprometido, pois a cena ocorre nos momentos precedentes ao fantástico apagar das luzes, que deixa todos boquiabertos.

“Perfume: a história de um assassino” conta com uma equipe técnica excelente. Os figurinos remontam com extrema beleza a França do século XVIII, tanto no aspecto da realeza quanto da pobreza. Os cenários arrebatadores representam com fidedignidade as ruas e casas da época, fazendo o espectador acreditar que o filme foi filmado mesmo na referida França. Ainda visualmente falando, o filme usa bem a nudez das vítimas de Grenouille, fazendo com que não seja sensual ou depravado, mas cadavérico e assustador. A trilha sonora, apenas correta, rege bem as cenas do filme, sem deixar cair o ritmo. O elenco, composto por nomes como Alan Rickman e sua sempre convincente cara de poucos amigos, e Dustin Hoffman como o engraçado Baldini, ajudam a história a ter o rumo certo. Grenouille é interpretado pelo jovem ator Ben Winshaw, que conduz bem as ações de seu personagem, dando grande dinamismo à sua atuação.

“Perfume: a história de um assassino” é um filme que conta a história de toda a vida de Grenouille, mas sem ser redundante nem apelativo. Sua duração de 150min (2h 30min) à primeira vista é excessiva, mas passa despercebida, tamanho é o dinamismo imprimido ao filme, fazendo com que não seja uma experiência cansativa. Muito pelo contrário, assistir a esse grande filme é uma experiência agradabilíssima e altamente recomendável. A quem gosta de coisas boas, é claro!

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Chamada Perdida, Uma

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Parece que a onda dos remakes de filmes orientais veio para ficar. Depois dos ótimos O Chamado e O Grito, passou a ser quase obrigatório que os filmes vindos do Oriente ganhassem sua versão ocidentalizada. E, assim como surgiraram essas jóias, também surgiram bombas, como Olho do Mal (o original é tão bom…), Imagens do Além… e Uma Chamada Perdida (One Missed Call, 2008) . Não assisti ao filme que deu origem a este, mas duvido muito que tenha sido pior, simplesmente porque seria burrice refazer um original tão ruim.

O filme começa com uma cena de incêndio, em que uma garotinha é salva. Logo depois, começa o longo desfile de clichês do filme, com uma moça sendo seduzida para a margem de um pequeno lago, no quintal de sua casa. Ela olha fixamente de perto para a superfície da água e, a partir daí, eu não preciso falar mais nada, todo mundo sabe que ela vai ser tragada por alguma coisa e morrer.

As vítimas deste filme são avisadas do dia e da hora em que vão morrer. Como? Recebem uma ligação em seu celular, que nunca é atendida. Então, é gravada uma mensagem na caixa-postal com uma data e uma hora futuras, com a própria pessoa narrando a sua morte. Bizarro, não? Mais bizarro ainda (eu diria até imbecil) é o modo como elas morrem, sem economia de clichês. A certas alturas do filme (e isso não demora muita a chegar), você se pergunta se está assistindo ora a “Premonição”, ora a “O Chamado”, tamanho é o discaramento da cópia de várias situações dos dois referidos filmes.

Partindo dessas misteriosas mortes, Beth Raymond (protagonizada pela fraquíssima Shannyn Sossamon) procura ajuda da polícia para tentar desvendar o mistério das ligações. Ela só tem, a princípio, a ajuda do policial Jack Andrews (Edward Burns), que sofreu com a perda da irmã da mesma maneira misteriosa. E eles partem em busca de respostas de maneira praticamente desordenada. Enquanto isso, as mortes continuam acontecendo, continuam imbecis e continuam previsíveis.

Aliás, a previsibilidade é um fator notabilíssimo em “Uma Chamada Perdida”. Desde o começo do filme, você já sabe quem vai sobreviver; quem é o cara que parece não acreditar e, segundos antes de morrer, ele acaba acreditando; quem são os imbecis que vão ao encontro da morte, parecendo que tudo já é combinado entre “assassino” e assassinado. Além do que você pode prever por alguns segundos o modo como cada um vai morrer. Não é utilizado nenhum, repito, nenhum fator de suspresa no filme. É um dos finais mais previsíveis e pouco ousados dos últimos filmes de suspense lançados. E isso é ainda mais atrapalhado pelo trailler. Se você estiver com preguiça de assistir ao filme, assista ao trailler. É uma experiência mais curta, menos frustrante e com o mesmo conteúdo. Tirando a brevíssima cena em que o lado emocional da infância de Beth é explorado (de maneira apelativa), o restante do filme é restrito aos montes de mortes causadas pelas tais chamadas macabras.

Apesar de ser um dos longas mais curtos que eu já vi na vida (81 minutos), “Uma Chamada Perdida” consegue ser cansativo, com suas seqüencias monótonas, diálogos sem atrativos e roteiro desorganizado. Roteiro que não é nem um pouco ajudado pelos atores, que, com suas interpretações anêmicas, não dão dinamismo nem mistério suficientes a um filme de suspense pelo menos razoável. Outro fator negativo são os efeitos especiais que, para os padrões atuais, são bem fracos (impossível não rir com o bebezinho segurando o celular no berço, tamanha a pateticidade dos efeitos).

Mas eu devo justificar a minha nota 2.5, pois o filme tem sim seus pontos positivos. A trilha sonora e os efeitos sonoros encaixam muito bem em quase todas as cenas, sendo quase sempre os únicos responsáveis por dar tensão ao filme (quem não se arrepia quando os celulares tocam a musiquinha macabra?). A fotografia, apesar de não ser das melhores, é um ponto legal do filme também, porque, apesar da ruindade toda do filme, não é desagradável olhar para a tela.

Assistir a “Uma Chamada Perdida” não é a melhor das opções de lazer. Ele não tem tensão suficiente para ser suspense nem dá medo suficiente para ser terror, fica tudo num meio termo para baixo. O filme é bem fraquinho, incluindo seu final. Mas se você duvida, tente a sorte e assista a esse desastre!

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1408

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Filmes baseados em obras de Stephen King, mestre da literatura de horror, sempre chamam a atenção do público, principalmente dos fãs de seus livros. Mas, após uma série de fracassos como “Montado na Bala” e “O Apanhador de Sonhos”, os filmes do mestre passaram a ser vistos com certa desconfiança. Mas eis que surge esse maravilhoso “1408″ (2007) para dar um brilho a mais à lista das produções cinematográficas baseadas em livros e contos do autor.

O filme conta a história de Mike Enslin (John Cusack), um escritor cujos livros são recheados de contos e listas sobrenaturais. Após a morte de sua filha em decorrência de um câncer, ele deixa toda a sua vida para trás para se dedicar unica e exclusivamente à sua carreira de autor do sobrenatural, viajando pelo mundo passando por lugares mal-assombrados, como cemitérios, hotéis, castelos… Seu objetivo, no entanto, é maior do que alavancar sua carreira com livros instigantes e intrigantes: é descobrir a vida após a morte. E é nessa toada que ele conhece, através de um postal, o Hotel Dolphin, famoso não por seus lindos quartos e arquitetura exuberante, mas por um quarto em especial: o 1408.

Intrigado pelo aviso no verso do postal, dizendo para que o leitor não se hospede no 1408, Enslin decide experimentar uma noite no local, mesmo sofrendo grande resistência do gerente do hotel, Gerald Olin (Samuel L. Jackson). O alerta de Olin para Enslin não se hospedar no referido quarto deve-se ao fato de que 56 pessoas morreram ao se hospedarem lá. Mas a insitência e a teimosia de Enslin fazem-no não desistir da idéia, fazer a hospedagem e passar aterrorizantes 70 minutos dentro do quarto.

O filme conta com acontecimentos alucinantes (às vezes literalmente) que fazem com que o espectador não desgrude os olhos da tela. O dinamismo do protagonista prende os olhos do espectador na tela o tempo inteiro, não deixando o ritmo cair em momento algum. A princípio incrédulo com os alertas de Olin, Mike vê com os próprios olhos e sente na pele a assombrosidade do 1408. Sofre constantemente com alucinações de antigos hóspedes do quarto repetindo o ato de suas mortes, com perturbações auditivas e confusão dos sentidos. O quarto faz com que ele perca totalmente a noção de tempo (ele não sabe se está no quarto há um dia ou há alguns minutos) e da realidade, levando-o praticamente à loucura. Isso tudo ajudado pelo fato de ele se lembrar constantemente da filha morta e dos conflitos familiares que sucederam o acontecido.

1408 é um filme perturbador tanto para o protagonista quanto para o espectador, que quase nunca sabe o que é real e o que não é, o que se assemelha muito a “O Iluminado”, filme de grande sucesso baseado em um livro de igual repercussão de Stephen King. E é nesse ponto que o filme peca. A alta complexidade do roteiro, conduzido brilhantemente pelo diretor Mikael Hafstrom, torna algumas seqüências confusas, não cumprindo sua função de deixar suspense no ar. Se você desviar a atenção por um segundo pra ver quem está do seu lado, ou por causa de um barulho, será difícil retornar à tona no filme. Mas isso não chega a ser um empecilho, pois não é tão fácil assim desviar a atenção assistindo a um longa como esse.

Os cenários do hotel e do quarto específico são belíssimos, tudo está no lugar onde deveria estar e não há nenhum grande exagero. Cenários que, combinados à trilha sonora sufocante, colaboram extremamente para o clima de mistério passado no filme inteiro, dando mais um motivo para o espectador não desgrudar da tela.

O elenco, escolhido a dedo, faz o filme funcionar com perfeição. Jonh Cusack oferece a 1408 a melhor atuação sua que eu já vi, dando ao personagem uma complexidade e uma cinética sensacionais, sendo muito seguro e perturbador. O roteiro ajuda a sua exposição, já que ele aparece em praticamente todas as cenas, ou seja, o roteiro gira em torno de seu personagem. Samuel L. Jackson, na pele do gerente Olin, é, ao lado de Cusack, um dos destaques do filme, apesar de aparecer muito pouco. Sua interpretação forte e sólida faz com que temamos verdadeiramente o quarto 1408.

Assistir a 1408 perturba. Acompanhar as variações e complexidade do roteiro é complicado, mas quem consegue fazê-lo tem uma experiência única: assistir ao renascimento dos filmes baseados em obras do gênio do horror!

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Eu os Declaro Marido e... Larry!

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Filmes que têm como temática central assuntos complicados de lidar e delicados (como homossexualismo, preconceito racial e deficiências), devem ser conduzidos de maneira segura e cuidadosa, para não dar margem a críticas por má abordagem. “Eu os Declaro Marido e… Larry!” (I now pronounce you Chuck and Larry, 2007) trata de maneira correta o homossexualismo, fazendo algumas piadas homofóbicas sem exagero e criticando duramente todo o tipo de preconceito.

Chuck Levine (Adam Sandler) e Larry Valentine (Kevin James) são companheiros de trabalho no Corpo de Bombeiros do Brooklyn há vários anos, sendo, também, melhores amigos. Quando Chuck salva a vida de Larry em um acidente de trabalho, recebe do amigo a promessa de que será recompensado um dia. No entanto, quando Chuck vai receber a “retribuição do favor”, Larry tem uma surpresa: Chuck quer que eles se casem. O motivo: como Chuck não consegue colocar seus bens no nome dos filhos, ele propõe o casamento para que seus bens, após sua morte, sejam repassados a uma pessoa de confiança. No entanto, como esse ato de fazer um casamento forjado é contra a lei, um burocrata da justiça os persegue, tentando fazê-los revelar o “romance” para a sociedade.

“Eu os Declaro…” nos proporciona uma 1ª seqüência memorável, em que um homem gordo (quando eu falo gordo, não é aquele fofinho não, é gordo mesmo!) é salvo de um prédio em chamas. Mas aproveite ao máximo essa cena, porque você vai demorar bastante a dar mais do que um risinho. O longa tem várias oscilações de seqüências cômicas, ficando alguns buracos entre elas. Eu diria que o filme demora um pouco a entrar no clima de comédia, mas não chega a engrenar. Outra cena que merece ser vista com atenção é quando Chuck e Larry dormem na mesma cama pela primeira vez (não vou falar o que acontece, assistam ao filme!), que provoca a qualquer pessoa, mesmo as mais carrancudas, risos incontroláveis.

Um grande ponto forte de “Eu os Declaro…” é a abordagem do preconceito sexual. O filme trata com cautela e correção atos preconceituosos cometidos por partes da sociedade (destaque para a cena em que manifestantes de uma igreja vão para a porta de uma festa gay para protestar), que, mesmo que estejamos no século XXI, ainda insiste em não respeitar as diferenças. Mesmo que os protagonistas não sejam realmente gays, com a convivência forçada com esse mundo, eles acabam defendendo a causa e participando de diversos eventos GLBT. Sempre indo na direção contrária ao preconceito.

Adam Sandler e Kevin James, que interpretam marido e marido, têm atuações excelentes, tanto na parte cômica quanto na dramática. Eles conseguiram dar uma demonstração de total entrega ao papel, o que dá uma verossimilhança grande aos personagens. Dentre os coadjuvantes, destaque total para a interpretação impecável de Cole Morgen, que faz o filho com tendências homossexuais de Larry. Seus ensaios para o musical de sapateado são hilários, e o garoto mostra um enorme carisma frente as câmeras.

“Eu os Declaro Marido e… Larry!”, com seus 115 minutos de duração (muito para um filme de comédia), consegue não cansar nem torrar a paciência de quem assiste. Mas, infelizmente, acaba tropeçando ao inserir um excesso de cenas dramáticas, deixando o filme com uma péssima distribuição de risadas. O longa tem poucas seqüências e cenas que provocam gargalhadas, o que acaba comprometendo bastante sua condição de filme de comédia. Mas, apesar disso, o filme consegue passar a mensagem, de que todo o tipo de preconceito sexual deve ser combatido. Sempre!

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Instinto Secreto

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“Instinto Secreto” (Mr.Brooks, 2007) é um filme que tinha tudo para dar errado. Mais uma história de serial killer, um diretor que estava afastado das telas há 15 anos, um elenco que não vem sendo utilizado em grandes filmes ultimamente, um ator de comédia em um dos papéis principais… Mas não é que, apesar disso tudo, conseguiram fazer um filme relativamente bom?

Earl Brooks (Kevin Costner) é um executivo muito bem-sucedido que comanda uma empresa de caixas. Com uma vida familiar estável e com o prêmio do Homem do Ano, Brooks tem a vida que todo mundo pediu a Deus, não fosse seu ego louco e homicida, Marshall (William Hurt), que domina sua mente fazendo-o cometer inúmeros assassinatos e encobertá-los. Em seu suposto último homicídio, Mr. Brooks é fotografado pelo vizinho do casal assassinado, Sr. Smith (Dane Cook). Em troca de seu silêncio, Sr. Smith pede uma concessão a Brooks: participar de seu próximo assassinato. Vendo-se forçado a matar novamente, Brooks (que é conhecido pela alcunha de “Assassino da Digital”) é praticamente levado à loucura, pois é investigado pela detetive Tracy Atwood (Demi Moore), tem problemas com a filha grávida que está largando a faculdade e ainda é ameaçado pela possibilidade de Smith entregar as fotos à polícia.

O filme conta com um bom elenco, mas que anda meio sumido das grandes produções. Kevin Costner, Demi Moore e William Hurt já tiveram seu ápice na carreira, e têm feito, ultimamente, filmes não muito repercutidos na mídia, apesar da indicação de Hurt ao Oscar em 2006 por “Marcas da Violência”. O diretor Bruce A. Evans faz seu segundo filme; mas o problema é que o primeiro foi feito em 1992! Apesar disso, consegue fazer um bom thriller, sendo bastante atrapalhado pelo roteiro. Roteiro esse que traz, em 2 longas horas de filme, inúmeras subtramas, que fazem o espectador, por vezes, achar que está assistindo a uma reunião de vários curtas. Há um excesso de reviravoltas e as subtramas não são bem desenvolvidas e resolvidas, o que acaba incomodando bastante. Se tivessem a coragem de fazer como foi feito com “Magnólia”, cuja duração de cerca de 3 horas faz com que tudo seja devidamente resolvido e explicado, “Instinto Secreto” correria o “risco” de ser uma obra de arte, pois tudo ficaria claro e inteligível. A cena que parecia ser a final me agradou, apesar de não ter sido exatamente o que parecia ser.

Kevin Costner, com uma ótima e revitalizante atuação, dá uma alma sombria e comovente a Mr. Brooks. Mas ele não seria nada sem a estonteante presença de William Hurt no papel de Marshall. O entrosamento espetacular entre os dois é o ponto forte do filme. Demi Moore, também bastante sumida, faz com bastante competência a detetive Atwood, mas sem o mesmo brilho da dupla citada acima. A surpresa fica a cargo de Dane Cook, ator de comédia, fazendo seu primeiro papel sério com uma grande responsabilidade, pois seu personagem é um dos principais do filme. Sua atuação é corretíssima, e ele consegue transferir a obscuridade de seu personagem para dentro de si mesmo.

“Instinto Secreto” está longe de ser um grande filme. Os fatores citados no primeiro parágrafo apontam que seria impossível esse filme ao menos dar certo. Mas, por milagre ou não, o longa é bem encaixado e, não fossem as falhas no roteiro, faria mais sucesso do que fez. E seria um sucesso merecido.

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V de Vingança

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HQs, ao serem adaptadas ao cinema, devem ter, sobretudo, altíssimos índices de ação, uma direção firme e um roteiro criativo e cuidadoso. Quando essa HQ é de um gênio como Alan Moore, a direção é dos sensacionais criadores de Matrix (Andy e Larry Watchowsky), um roteiro alucinante e, de brinde, um elenco formidável, surge um espetáculo como esse “V de Vingança” (V for Vendetta, 2006).

Em um futuro próximo, a Inglaterra vive um governo autoritário e repressor. O mundo não está com a cara atual, os EUA são chamados de Antigos Estados Unidos e vive na miséria. Nas ruas inglesas, o preconceito contra homossexuais e negros impera, e, entre as 22h30 e 5h30, o toque de recolher é a lei. E é nesse período que a protagonista Evey (Nathalie Portman) sai num dia quaquer para encontrar uma pessoa. Então, ela é abordada pelos “Homens-Dedo”, responsáveis por fiscalizar as ruas durante o período de recolhimeto. Os homens, tentando estuprá-la, são surpreendidos pela aparição de nosso herói mascarado, “V” (Hugo Weaving), que salva a moça. Como retribuição, ela aceita ir assistir com ele a um “concerto musical”. Na verdade, trata-se do show do ataque terrorista ao Old Bailey, o maior símbolo de poder da nova Inglaterra. É só o início da revolução proposta por V, que tem o objetivo de acabar com o regime totalitário inglês e de que a população fique ao seu lado na construção de um Estado novo. Para isso, ele convoca o povo inglês para um novo atentado, no dia 5 de novembro do ano seguinte.

O filme é de uma complexidade evidente. Não é qualquer um que consegue compreender as idéias revolucionária de V, e também não é qualquer um que as aceita. Trazer um herói como V aos cinemas, que usa a violência para alcançar seus ideais, é marca da coragem dos irmãos Watchowsky que, além disso, gostam muito da idéia de fazer filmes baseados no futuro. V utiliza as mais variadas formas de fazer sua revolução, com atentados terroristas, assassinatos e seqüestros. Mas, por trás desse “cruel criminoso”, há um homem. Um homem que luta pela vingança de seu passado. Contra aqueles que o trancafiaram e o usaram paras testes com armas nucleares. Contra aqueles que roubaram parte de sua vida, que o obrigaram a cobrir cada parte de seu corpo, a viver escondido, para não assustar as pessoas. Seu desejo de vingança é justificável, pois não há pessoa no mundo que aceite passivamente um atentado contra si mesmo. Seus meios não são os mais adequados, mas os fins são absolutamente humanos.

A palavra “vingança” raramente vem separada da palavra “ódio”. E não é em “V de Vingança” que elas desatam. V tem ódio das pessoas que o fizeram viver uma vida diferente daquela com que todos nós sonhamos, e transporta esse ódio para o desejo de libertar a Inglaterra das mãos daqueles que o fizeram passar pelas maiores provações de sua vida. Evey teve seus problemas na infância com os pais, que foram mortos pelo governo, mas seu sentimento de ódio é acalorado por V, que exerce em sua vida um influência imensa, transformando-a em sua cúmplice. Essas personagens completamente esféricas só ganham a vivacidade apresentada no filme pela escolha certa de seus atores. Hugo Weaving e Natalie Portman são excepcionais, mostrando uma química perfeita e uma dramaticidade maravilhosa, que, infelizmente, é incomum a filmes de ação. Hugo, que já trabalhou com os irmãos Watchowsky, mesmo usando uma máscara o filme todo, dá uma expressividade impressionante a seu personagem, através de gestos e movimento. Sua atuação é irretocável, sendo merecedora, na minha opinião, de uma indicação ao Oscar, pois eu nunca vi um personagem tão complexo ser tão bem interpretado. Outro elemento de destaque do elenco é Natalie Portman. Indicada ao Oscar de 2004 por “Closer - Perto Demais”, ela, ao lado de Weaving, dá outro show. Sua dramaticidade é espantosa e sua coragem também, visto que, para fazer quase metade do filme, ela precisou raspar o cabelo.

O elenco coadjuvante é quase tão seleto quanto os dois citados acima. O grande destaque é o tirano chanceler Adam Sutler, interpretado pelo fenomenal John Hurt, que se entrega completamente ao personagem, dando-lhe um realismo impressionante. É impossível não se arrepiar com seus pronunciamentos ao “seu” povo inglês. O detetive Finch, que tem o objetivo de capturar V antes do referido 5 de novembro, é interpretado com muita segurança por Stephen Rea, que não vinha fazendo bons papéis há um tempo. Há ainda o bom Tim Pigott-Smith, que ganha a grande chance de sua carreira ao interpretar com bastante correção o chefe de segurança Creedy.

“V de Vingança” ainda conta com uma trilha sonora e uma fotografia de causar inveja. Tudo isso acoplado resulta num filme absolutamente perfeito, inteligente e complexo, que deixa o espectador sem fôlego e com a atenção totalmente presa na tela durante seus 152 minutos de duração. Os irmãos Watchowsky conseguiram a proeza de fazer, senão o melhor, um dos melhores filmes de 2006. “Liberdade! Sempre!”

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Sangue e Chocolate

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Adaptações de livros para o cinema deixaram de ser novidade há muito tempo. Já foram vistas maravilhas, como “Perfume: a história de um assassino” e desastres, como “O Apanhador de Sonhos”. Trazido aos cinemas pelo mesmo roteirista de sucessos como “O Chamado” e “A Chave Mestra”, Ehren Krueger, a partir do livro homônimo de Annette Curtis Klause, “Sangue e Chocolate” (Blood and Chocolate, 2007) não chega a ser uma maravilha, mas agrada bastante.

Vivian (Agnes Bruckner) é uma jovem lobisomen que vive presa e uma profecia, de que será a esposa do líder de sua sociedade, Gabriel. Líder que lhe salvou quando perdeu seus pais na infância, vítimas de caçadores que seguiram seus rastros para encontrar a família. Mas, no entanto, ela conhece Aidan Galvin em uma igreja, e inicia com ele uma amizade. Aidan é um fanático por lobisomens (ou, como gosta de chamar, loup garoux), gosta de estudá-los e fazer novelas gráficas sobre eles e seus costumes. Essa amizade, eventualmente, acaba se tornando um romance entre loba e homem, o que gera um descontentamento geral no grupo de Vivian. Liderados por Gabriel, os membros do clã tentam, a qualquer custo, acabar com esse relacionamento dos dois, chegando ao ponto de tentar causar mortes.

“Sangue e Chocolate” difere-se dos últimos filmes do gênero, como o ridículo “Amaldiçoados”, principalmente pela não utilização de vários clichês. Este longa não considera reais os fatos de que os lobisomens são mortos apenas com uma bala de prata no peito e de que apenas tomam a forma de lobo na lua cheia. Essa é a maior novidade apresentada pela competente diretora alemã Katja Von Garnier, que leva às telas seu 7º longa, o primeiro de maior importância internacional (um de seus filmes foi escolhido a melhor produção alemã)

As cenas de ação em “Sangue e Chocolate” são boas. As perseguições dos lobisomens às pessoas que fizeram ou podem fazer mal ao clã são ferozes e tensas, ajudadas muito pela excelente trilha sonora. Trilha que funciona o tempo inteiro, consegue dar leveza aos momentos de romance entre Vivian e Aidan, obscuridade aos momentos de terror e dinâmica aos momentos de ação. A fotografia, pendendo quase sempre para tons de azul, é bem feita, mas a quantidade de azul, por vezes, chega a incomodar um pouco. Os efeitos especiais não são utilizados em grande escala, até porque os lobos do filme são reais, mas, quando aparecem, não são lá grande coisa. A transformação dos lobisomens é um dos pontos mais fracos do filme, pois não dá medo, apenas acontece.

O elenco do longa não é bom, com exceção de Agnes Bruckner. A protagonista cumpre muito bem seu papel, conseguindo conciliar uma personagem com facetas quase antagônicas: sombria e apaixonada. Apesar de suas expressões serem quase as mesmas em todas as cenas (emburrada), Agnes passa as emoções de sua personagem com correção, deixando muito pouco escapar. O restante é fraco. Hugh Dancy é o protagonista masculino, Aidan, e passa para seu personagem toda a sua apatia e inexpressividade. Suas cenas de romance com Agnes são menos piores, mas nem assim consegue sair da mediocridade. O vilão Gabriel é interpretado pelo fraco Olivier Martinez, que não consegue nos fazer temer toda a sua “maldade e vilania”.

“Sangue e Chocolate” está longe de ser um dos melhores filmes do ano, muito longe mesmo. Mas chegou para dar uma boa retomada no gênero Lobisomen, que contava apenas com o bom “Anjos da Noite” como representante de respeito nos últimos anos, e que foi completamente ridicularizado com o patético “Amaldiçoados”. Não é um filme excelente, mas, apesar da tentativa da direção do elenco de acabar com tudo, acaba agradando.

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Orgulho e Preconceito

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A escritora inglesa Jane Austen é conhecida pelas adaptações de seus livros para os cinemas. Foi assim com “Razão e Sensibilidade” (excelente) e volta com “Orgulho e Preconceito” (Pride and Prejudice, 2005). A diferença entre os longas não é grande na história, já que Austen adora escrever sobre moças ansiosas (para não dizer desesperadas) para encontrar um bom partido. A grande diferença é que “Orgulho e Preconceito” não é tão bem conduzido, apesar de ser ótimo filme, quanto o primeiro.

“Orgulho e Preconceito” é passado na Inglaterra do início do Século XIX, no qual os sentimentos eram vistos como algo quase banal, e os “pobres não podiam se misturar com os ricos”. É nesse contexto que a pobre Elizabeth Bennet (Keira Knightley) apaixona-se pelo rico Sr. Darcy (Matthew Mcfadyen). Darcy é um homem correto, mas que tem em seu passado fatos aparentemente obscuros. Dentre eles, o fato de não receber o amor devido do pai. Elizabeth, apesar de sofrer com pressões de sua família para casar-se com outro homem e da família de Darcy para afastar-se dele, mantém-se firme e determinada a conquistar seu objetivo de ser feliz ao lado do amado. Darcy também está apaixonado, mas o orgulho e o amor inconstante de Lizzie se opõem ao preconceito contra as classes menos favorecidas pela parte de Darcy, fazendo com que os dois nunca cheguem a um fator comum. E o filme segue nessa toada até o fim, passando por algumas boas histórias paralelas.

O forte de “Orgulho e Preconceito” não é a história, mas sim o visual e o elenco. Com figurinos, cenários e fotografia perfeitos, o longa é um colírio para nossos olhos. As roupas pareciam ter saído diretamente de uma máquina do tempo, vindas da Inglaterra do século XIX, merecendo a indicação que recebeu ao Oscar. Simplesmente maravilhosas! A fotografia é belíssima, os cenários e locações, esplendorosos. Fotografia que, na minha opinião, supera em muito o filme vencedor do Oscar 2006 na categoria, “Memórias de uma Gueixa”.

“Orgulho e Preconceito” mostrou ter também um diretor de elenco fenomenal, porque recolher um time que consegue fazer o filme funcionar da maneira como funcionou (mesmo com um enredo bastante explorado e batido), é tarefa para poucos. A começar por Keira Knightley, que faz a protagonista Elizabeth. Sua atuação emociona e empolga, fazendo com que o espectador saiba o que se passa nos pontos mais ínfimos de sua mente complicada. O galã Matthew Macfadyen interpreta o protagonista masculino, Darcy, com extrema correção. O jeito esnobe de seu personagem é encarnado com natureza, dando total verossimilhança à sua atuação. Há de se destacar, ainda, as atuações excelentes de Donald Sutherland e Brenda Blethyn, como os pais das garotas Bennet, e, principalmente, da megera Judi Dench, mostrando a maldade saltando em suas veias.

A cena mostrada na foto acima é a mais espetacular do filme. É onde entra o trabalho da direção nem sempre boa de Joe Wright, mas que mostra um trabalho de câmeras excelente. “Orgulho e Preconceito” é um filme que agrada àqueles românticos exarcebados, mas é capaz de derreter alguns corações de pedra com sua suavidade e sentimentalismo (sem excessos). Não é uma diversão garantida, mas é sim, um filme recomendado para se assistir a dois.

Críticas

Morte Pede Carona, A

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Eis mais um remake! E o pior, um remake de filme americano! Eu até compreendo o fato de produzirem remakes de filmes orientais, para que tenham uma maior visibilidade no lado Oeste do planeta, mas refazer uma produção ocidental é completamente desnecessário. Pior ainda quando o filme original é um clássico e dá origem a esse ”A Morte Pede Carona” (The Hitcher, 2007), baseado no homônimo de 1986. A única explicação para essa refilmagem: fazer dinheiro em cima da fama de um filmaço antigo (nem tão antigo assim). O resultado: não chega aos pés da vergonha que foi “O Massacre da Serra Elétrica” refilmado em 2003, mas é muito ruim.

Jim e Grace são jovens namorados que pegam as longas estradas do interior dos EUA para encontrar amigos. Mas, no caminho, cai a habitual tempestade de filmes de terror, e eles quase atropelam um homem que pedia carona. Com medo do comportamento do homem, que nem tentou se desviar do carro, eles fogem, deixando a figura sem assistência, até porque ele parecia estar bem. E é nesse momento que aparece o primeiro dos muitos clichês: o desconhecido começa a andar até o carro, o motor dá sinais de que não vai funcionar, mas, quando o homem se aproxima, funciona perfeitamente. Por desencargo de consciência, eles resolvem parar no próximo posto para pedir ajuda. Mas, “surpreendentemente”, o andarilho aparece no posto, pedindo ao casal uma carona até um motel na estrada. E, nesse intervalo de tempo, o homem mostra que vai infernizar a vida deles para sempre, começando por quebrar o celular de Jim e ameaçando os dois com um punhal. Conseguindo colocar o louco para fora do carro, Jim e Grace acham que conseguiram se livrar dele, mas esse é apenas o começo de uma perseguição implacável.

O principal erro dessa refilmagem de “A Morte Pede Carona” é a alteração grave no roteiro, a de incluir a personagem Grace. No original, apenas Jim era perseguido, o que gerava dúvidas em relação aos assassinatos cometidos pelo andarilho, John Rider (como se denomina): será que o homem realmente existe ou Jim tem uma personalidade dupla que comete os assassinatos? Mas agora, com a entrada da namorada de Jim, o mistério acaba e o filme que era excelente em seu lançamento em 1986 é desrespeitado, tornando-se um normal jogo de gato e rato. E o que mais decepciona é que o trio de roteiristas (Eric Red, Jake Wade Wall e Eric Bernt) que cometeu esse crime conta com o roteirista da idéia original, Eric Red. Inexplicável como ele permitiu esse atentado contra seu ótimo filme, que tornou esta refilmagem um filme bastante ruim. Outro fato intrigante, que também é uma falha no original, é que John Rider parece ser invencível, andando pelas ruas como se fosse uma pessoa normal e não sendo pego nunca. Além disso, há ainda duas cenas que eu gostaria de destacar, deixando você, leitor, interpretar da sua maneira: 1) Qual a probabilidade de um homem, utilizando uma arma normal, acertar a cabeça de um piloto de um helicóptero que está em movimento?; 2) Qual a probabilidade de uma pessoa normal sobreviver à explosão do carro em que está? Intrigante, não?

O elenco do longa só acerta em um ponto: Sean Bean, que interpreta o temível John Rider. Sua atuação, além de dar ao vilão uma boa dose de sentimento, faz com que seu personagem seja o mais dinâmico do filme e suas expressões faciais e corporais dão medo. Já os protagonistas foram escolhidos da mesma maneira como escolhemos nossa roupa de dormir, de qualquer jeito e sem preocupação de agradar a ninguém. Zachary Knighton ainda é aceitável, mas Sophia Bush é completamente apática, não conseguindo passar o mínimo de emoção nem tensão. Sua personagem é completamente inverossímil, pois a confusão natural que lhe é dada no roteiro transforma-se em uma bola de neve da qual ela não consegue sair.

“A Morte Pede Carona” é mais uma prova da desnecessariedade de se fazer remakes, ainda mais quando se é pior do que o original. Assistir a este filme só vale a pena por causa das boas cenas de perseguição e pelas mortes estilosas. Mas tem uma especial, sobre a qual eu não falarei para não estragar a surpresa dos que se arriscarem a tentar assistir. Mas, francamente, não assista! Você pode fazer mil coisas melhores em 80 minutos!

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