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Críticas

21 Gramas

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How much does REVENGE weigh?

How much does LOVE weigh?

How much does GUILT weigh?

Três histórias. Três personagens. Três pessoas comuns ligadas a sentimentos de vingança, amor e culpa. Um grande filme.

How much does LIFE weigh?

Qual é o peso da sua consciência? Qual é o peso da dor que você suporta? Qual é o peso da sua existência? 21 gramas. É o peso que uma pessoa perde no momento exato de sua morte. 21 Gramas é o nome deste filme, dirigido por Alejandro González Iñárritu e que trata justamente disso: o peso carregado pelos que sobrevivem.

Não sabemos como. Simplesmente sabemos que em algum momento Cristina Peck, Paul Rivers e Jack Jordan vão ter suas histórias cruzadas. Mas quando? Como? Por quê? Onde? São perguntas que custam a ser respondidas pelo roteiro de Guillermo Arriaga, mas que de certa forma, não é um defeito. Neste caso, muito pelo contrário. Os personagens nos são apresentados de maneira inversa, não-cronológica ou pelo menos confusa. O filme comoçea pelo fim, mas desta vez não sabemos qual é exatamente o seu final. Sabemos que determinadas situações estão para acontecer, mas dúvidas e perguntas de lugar-comum insistem em nos perseguir durante a projeção, levando ao espectador a ser o descobridor de inúmeras surpresas, cenas chocantes e subtemas fortes. Indiretamente, o roteiro nos apresenta Cristina (Naomi Watts), mulher casada e mãe de duas meninas, nadadora e viciada em drogas. Conhecemos também Paul (Sean Penn), um homem casado que se encontra à beira da morte, esperando um coração para transplante. E finalmente, o personagem Jack (Benicio Del Toro) se descobre um religioso, ex-presidiário, acusado, indiciado e encarcerado por inúmeros crimes que agora procura por redenção divina.

Não há muito o que dizer sobre o enredo de '21 Gramas'. O pouco que se pode comentar são justamente as características dos personagens acima. De resto, qualquer coisa pode prejudicar e estragar as surpresas que o filme traz durante toda a sua duração. Mas em resumo, posso adiantar que se trata de uma história forte, mas forte mesmo. Personagens fortes, que são inspirados por sentimentos de culpa, redenção, solidão, amor, vingança, incerteza, ilusão, medo e tantas outras cargas emotivas. Além de tudo, o filme é um todo de reflexões sobre a vida, sobre como a vida continua depois de uma perda terrível, sobre o motivo de sua existência, sobre como agir perante uma situação difícil, é um filme onde personagens e enredo nos são apresentados de maneira diferente, com indas e vindas constantes, mas que nunca atrapalha o raciocínio do espectador atento.

Além do fantástico e inovador roteiro de Arriaga, as interpretações se destacam de maneira impressionante. Naomi Watts tem sem dúvida, a melhor atuação de sua carreira, com uma personagem forte e sofrida. Indicada ao Oscar, sua performance não pode ser menos do que o extraordinário, absolutamente comovente e luminosa. Outro grande nome do elenco é Sean Penn, em mais uma atuação memorável para sua coleção, incrível ao extremo. Temos também Benicio Del Toro fazendo sua parte de novo, três anos depois de levar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Traffic, ele retorna a cerimônia com mais uma indicação, desta vez perdendo para Tim Robbins de Sobre Meninos e Lobos. A participação excelente de Melissa Leo encanta a todos, uma atriz de talento imenso, mas que não recebe a atenção que merece. O elenco todo brilha em '21 Gramas', um trabalho tão competente quanto o outro.

E no que diz respeito ao trabalho por trás das câmeras, temos o parceiro irrefreável de Guillermo Arriaga, seu compatriota e diretor Alejandro González Iñárritu, no segundo filme de sua carreira e segundo da chamada "trilogia da comunicação", que na qual também fazem parte Amores Brutos, sendo este o primeiro, 21 Gramas e o mais recente Babel, indicado ao Oscar de Melhor Filme e o único que rendeu a Iñárritu a indicação na categoria de Melhor Diretor. Junto com Arriaga, destaca-se a parceria do diretor mexicano com o compositor Gustavo Santaonella, em mais uma trilha comovente, à base de cordas, característica típica dele.

21 Gramas é um filme brilhante. Roteiro envolvente, direção frenética e atuações excelentes. Um pequeno grande filme, que custou "apenas" US$20 milhões, mas que surpreende pela temática ousada e convicente, onde todos os personagens se entrelaçam por situações trágicas. Um filme que arrisca, mas que sai vitorioso pela determinação e resultado final. Um trabalho realmente espantasomente bom de Iñárritu, até agora seu melhor filme.

They say we all lose 21 grams at the exact moment of our death...Everyone.

The weigh of a stack of nickels.

The weigh of chocolate bar.

The weigh of a humminbird...

Críticas

Presságio

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Nicolas Cage já foi um bom ator, mas nos últimos anos vêm errando muito na escolha de seus filmes. Aqueles que lembram de suas ótimas interpretações em "Despedida em Las Vegas" e "Adaptação" devm se sentir no mínimo frustrados com a inexpressividade de Cage em filme sincrivelmente ruins, como "Motoqueiro Fantasma", "O vidente" e este "Presságio", forte candidato ao título de pior do ano desde já.

Na trama, uma cápsula do tempo (de "mentirinha")com desenhos de alunos é enterrada durante a fundação de uma escola em Michigan, no ano de 1959. Dentre estes desenhos, encontra-se uma seqüência de números, aparentemente sem sentido, escritos pela esquisita aluna Lucinda Embry (Lara Robinson). 50 anos mais tarde, a cápsua é aberta por Caleb Myles (Chandler Cantleburry), filho do astrofísico Ted (Nicolas Cage), que descobre uma série de desastres naqueles números, alguns que já ocorreram, e outros que ainda irão ocorrer.

A premissa poderia render um trabalho pelo menos razoável, mas quase tudo é arrasado pelo roteiro fraquíssimo, uma direção pouco inspirada, elenco patético e um dos piores finais já feitos. O ritmo do filme é muito lento, e o diretor Alex Proyas só consegue despertar o interesse do espectador em algumas seqüências, como a do avião (realmente bem digirigida) e a do metrô, e em uma ou outra cena em que há alguma tensão. Porém, a trama é tão pouco convincente, e o desenrolar que Presságio vai tomando é tão frustrante, que o resultado desaponta quem esperava algo melhor.

Cage continua mostrando que vêm escolhendo mal seus papéis. Sua atuação é mais uma vez inexpressiva, digna do Framboesa de Ouro. O mesmo pode-se dizer de Rose Byrne, que interpreta Diana Whelan, filha da Lucinda já citada acima e que se torna "amiga" do personagem de Cage. Rose atua tão mal que chega a irritar quem está assitindo. E até as crianças não estão tão bem, apenas cumprem seus papéis.

Mas o pior de tudo é o final. A natureza dos "seres sussurrantes" que de vez em quando aparecem para importunar Ted e seu filho está clara desde a primeira cena. Mas o problema maior não é esse: há várias analogias religiosas com a Bíblia no fim. Há referências ridículas a Adão e Eva (com direito a árvore do Paraíso e tudo), Arca de Noé (levando casalzinho de animais), anjos, Sodoma e Gomorra sendo destruídas pelo fogo e os pecadores morrendo, o Apocalipse, a Gênese. São referências tão claras que estragam qualquer coisa de boa que poderia haver no restante do filme, que se resumem praticamente aos competentes efeitos especiais, a boa trilha sonora e aos bons efeitos sonoros.

Assim, Presságio é mais um filme caça-níquel, com pretensas mensagens intelectuais e até científicas, mas que no fundo são apenas religiosas. Nicolas Cage estrela mais um filme muito ruim, e podemos nos perguntar por onde oanda o talento deste ator. esperemos o próximo Framboesa de Ouro, que poderá coroar Presságio com algumas (merecidas) indicações.

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Expresso da Meia-Noite, O

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30 ANOS DEPOIS: MIDNIGHT EXPRESS REVISITADO

Por Cláudio R Sauceda

Brad Davis, um jovem ator, interpreta com muita paixão, numa atuação intensa e visceral, o estudante Billy Hayes, americano apanhado com haxixe em Istambul ao tentar voltar aos EUA. Preso, mergulha em intermináveis pesadelos numa prisão da Turquia; sofre com torturas físicas e psicológicas, interrogatórios cruéis, desesperança continua, violência, violação, comida indigestível e total ausência de higiene e cuidados médicos. O diretor em seu segundo filme é Alan Parker (que mais tarde faria The Wall,Fama e Coração Satânico). O ano é 1978 e Midnight Express (no Brasil O Expresso da Meia-Noite) é uma das preciosidades cinematográficas do final da década de 70. Os temas sonoros de Giorgio Moroder tocam ininterruptamente nas rádios.Surpreendentemente estreando em Cannes com o passar das semanas torna- se um fenômeno de bilheteria no mundo todo.Chega ao Oscar e sai laureado com 2 troféus (roteiro adaptado de Oliver Stone e música).

Passados 30 anos o drama carcerário ao ser revisto por novas platéias ainda choca pela brutalidade pela qual passa o alienado personagem principal. O filme sobre aprisionamento e não sobre fuga conserva até hoje uma aparência incomum de filme independente pregando um libelo sobre a liberdade individual de todo individuo preso num país estrangeiro. Grande parte da polêmica ocorrida na época do lançamento se deu pela história que critica e discrimina descaradamente a cultura e o sistema jurídico turco, pois a mensagem passada de forma controversa não apresenta nenhum cidadão turco sob boa perspectiva. A cena passada no tribunal durante o segundo julgamento explicita bem esse foco quando o personagem se dirige ao júri e clama que: “os odeia e que não entende o fato de serem porcos não os comerem.” O filme nos aspectos técnicos contou com a sensibilidade visual do fotógrafo Michel Seresin que filmou com câmara manual dando um aspecto contemporâneo à fita. A trilha sonora foi a 1ª trilha eletrônica a ganhar um Oscar da Academia. A batida do coração usada de forma enfática e excitante na cena do aeroporto intensifica o clima de angustia sufocante pelo qual passa o estudante.

Outro fator determinante ao sucesso do filme foi a pouca interferência que o estúdio da Columbia teve sobre a finalização. Na época o filme foi feito por um grande estúdio, mas hoje pelo baixo orçamento e tema politicamente incorreto seria viável a realização apenas por estúdio independente.

Segundo Alan Parker o filme embora considerado anti-turco não tem a intenção de discriminar mas sim chamar a atenção do mundo sobre as condições hostis das prisões turcas e de como era tratado a questão das drogas em alguns países. Chama a atenção também durante o filme a condição de bode expiatório de Billy Hayes, condenado a passar 4 anos na prisão teve seu processo revisto e a pena modificada para prisão perpétua, vitimado pela represália turca à política externa de Nixon de combate ao tráfico de drogas.

Midnight Express é um daqueles raros filmes que após a maioridade ainda conserva o espírito contestador de um adolescente, mexendo com os nervos de novos espectadores. Conserva- se atualíssimo porque a força da elegia à liberdade e à defesa dos direitos humanos, se faz presente a cada fotograma, coisa rara na atual cinematografia comercial.

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Crepúsculo dos Deuses

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Uma ficção com fundo de verdade que encara questões como ambição, relação com o ostracismo, poder e arte, em plenos Anos Dourados de Hollywood. Sunset Boulevard talvez seja a maior obra metalingüística do cinema, algo inacreditável é como essa metalinguagem do filme fala de sua realidade, em seu tempo. Billy Wilder alça sua capacidade de diretor à condição de gênio com essa obra irreparável. A história do cinema sendo escrita através de uma melancólica e instigante história.

Para muitos, talvez o maior deslize de "Crepúsculo dos Deuses" seja o fato de, já no começo, revelar detalhes que tornem seu final algo relativamente fácil de inferir, algo que a secção dos cinco primeiros minutos resolveria. Todavia, trata-se de uma cena tão bem introduzida, tão bem filmada, que realmente não se deve crucificar a decisão tomada por Wilder.

A história trata de Norma Desmond, ex-estrela de filmes do cinema mudo, que se vê em um não lugar com a chegada de uma outra realidade, os primeiros filmes falados, lá na chamada "Era de Ouro" de Hollywood. è um tema poético esse do "estranhamento" de alguém experiente que vê o seu ofício evoluir pra algo que talvez ele não se encaixe. Não obstante, "Crepúsculo dos Deuses" alcança o status de obra-prima devido, principalmente, a situação de como Norma Desmond encara essa nova situação. Para além do estranhamento, vemos que essa personagem "cria" um mundo próprio, onde ela continue a ser a grande estrela da juventude, para isso, Norma conta com o apoio moral de seu fiel empregado Max von Mayerling.

A solitária Norma, residente em uma linda mansão na famosa Sunset Boulevard, tem seu mundo, suas subjeções fortemente alteradas quando o fracassado roteirista Joe Gillis chega em sua casa fugindo de cobradores, utilizando a mansão como cativeiro perfeito para que ninguém o encontre. Com isso, Norma vai dar proteção ao jovem para que este melhore um roteiro escrito por ela, no intuito de que Cecil B. DeMille a dirija no papel principal. Algo muito mais intenso do que isso se revelará. Paralelo a esse relacionamento, Joe terá um complicado caso de amor com a noiva de um amigo seu. Todos esses casos, piamente legados às relações de que cobrem a Hollywood de então.

Vê-se que a capacidade de gestão da obra por parte de Wilder é tão magnífica, com os personagens tão bem construídos, que a empatia é imediata com suas relações. São personagens que se mostram imperfeitos que agem a partir de interesses próprios, que anseiam por estar na tela de grandes filmes de Hollywood. Nesse sentido, suas histórias são perspicazmente construídas para fazer uma grande reflexão daquele período.

Não obstante, temos atuações impactantes, seguras. O grande destaque é Gloria Swanson, como Norma Desmond, o personagem mais enigmático do filme, a grande persona a enriquecer a tela de densidade dramática, de nos fazer refletir sobre sua história. Norma mesmo criando sua realidade, sabe obstinadamente o que quer. Por seu turno, William Holden, interpretando Joe Gillis completa a grande força de dramatização do filme. É um personagem simbólico, o reflexo daquilo de podre que Hollywood tinha, todavia trata-se de um personagem simpático, sincero. Outro personagem símbolo da força - embora essa tenha o destruído - de Hollywood, é o mordomo Max, na pele de Erich von Stroheim, personagem discreto na suas medidas, mas que guarda um passado revelador.

Seja na bela Fotografia, na consistente Trilha Sonora, a parte técnica só contribui para ratificar a genialidade e extrema capacidade de Wilder, Sunset Boulevard fica, sem sombra de dúvidas, na história do cinema. Revela-se, em todos os sentidos, uma obra essencial para admiradores da sétima arte, sendo está obra um dos grandes pilares que ajudaram a erguer o sentido do cinema enquanto arte.

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Queime Depois de Ler

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Os irmãos Ethan e Joel Coen passaram a perna na Academia de Cinema de Hollywood em 2008 com o suspense Onde os Fracos Não Tem Vez transmitindo uma falsa impressão de que estariam fazendo cinema sério. Ledo engano, eles não estavam fazendo filme sério e prova disso é o filme seguinte deles: Queime Depois de Ler. Os cineastas irmãos mostram em todos os filmes que dominam a linguagem cinematográfica e com Queime... eles brincam com a inteligência acima da média dos cinéfilos passando a imagem distorcida de que o filme é uma comédia. Embora o humor negro se faça presente no cotidiano de cada personagem a formatação da narrativa é de um puro filme de suspense. A verdade se denuncia na musica de Carter Burwell que é assumidamente uma trilha de suspense. Passa pelos ângulos distantes da fotografia em momentos de voyer e se declara na montagem dinâmica que vai intensificando o tom dramático do destino de cada figura patetica inserida num emaranhado de falsas pistas, aparências contraditórias e suspense conduzido fria e elegantemente. O filme implode numa corrossiva crítica ao serviço secreto da CIA e suas equivocadas patetadas quando vasculha a vida privada dos cidadãos americanos em prol da segurança nacional em épocas de terrorrismo. A trama desafia o público que se acha esperto acima da média e também embaralha os analisadores de cinema que tentam interpretar o cinema autoral dos irmãos Coen. Mas aqui nada parece ser o como se apresenta ou nada parece ser o que presumidamente achamos que soubemos. O mérito dos Coen vem dos textos que produzem como se fossem uma elaborada e difícil sequencia de palavras cruzadas. Os diálogos são de extrema composição cheia de inteligência e pronunciados de forma rápida e rasteira. Rimos com classe da idiotice americana e asssitimos de camarote os americanos lavando a roupa suja em público. O inspirado elenco cheio de astros e estrelas está infiltrado nas brincadeiras insanas e assim temos boas interpretações de George Clooney, Brad Pitt, Tilda Swinton, John Malkovich e Frances McDormand que sem estrelismos vestem a idiotice dos personagens e não deixam o tom sarcástico perder o ritmo.

Outro foco a ser analisado é o pretexto da tagline com a frase “A inteligência é relativa”. O tom aqui é de ironia e podemos dizer que o subtexto do filme é uma crítica ao sistema da inteligência americana e a fobia do após o 11 de setembro. O ponto inicial de todas as situações de erro reza em torno do afastamento de um analista da CIA por ter problemas com o álcool, a decisão de escrever suas memórias e nas mãos de quem vai parar um CD contendo esses supostos segredos de Estado.Entra na jogada a funcionária de uma academia de ginástica à beira de uma crise de nervos pois não consegue financiamento para proceder 5 cirurgias plásticas corretivas (a preocupação com a estética e a imagem) e então resolve convidar um atrapalhado colega de trabalho a chantagear o analista em troca de dinheiro. No meio dessa amadora aventura temos um adultero funcionário do fisco americano que se vê espionado em todo lugar por onde anda e acaba de maneira inusitada se interligando a vida dos chantagistas. Por fim a brincadeira inconsequente acaba em tragicomédia numa sucessão de acontecimentos vindo do acaso, sendo que nem tudo acaba mal para todo mundo e a CIA por trás de tudo vai varrendo para baixo do tapete a sujeira a céu aberto.

A comédia de erros recheada de situações extremas é uma constante na filmografia dos Irmãos Coen. No segundo filme Arizona Nunca Mais (1987) um casal que não pode ter filhos sequestra um dos gêmeos quintuplos de um milionário e fica em apuros. Em Fargo (1996) vendedor de carros falido decide contratar dois capangas para sequestrar sua mulher e com isso pretende arrancar uma boa grana do sogro, mas tudo acaba em tragédia. Os irmãos Coen avacalham com o mundo certinho e os valores da sociedade americana cada vez mais triste e hipócrita e ao mesmo tempo avacalham com aquilo que achamos saber de cinema, mas isso não é ruim pois significa que o cinema autoral americano respira com todo folego. Enganando a inteligência dos catedráticos da Academia de cinema ou nos enganando com filmes multifacetados eles não levam o cinema a sério, fogem dos clichês de qualquer gênero, usam da violência estilizada e quase sempre entregam um produto de estilo absolutamente inovador. Ao contrário da vida tragicômica de seus personagens as brincadeiras dos irmãos Coen já renderam 2 Palmas de Ouro , 6 Oscars e diversos Globos de Ouro além da unanimidade mundial de que são vida inteligente no planeta Hollywood.

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Segredo de Brokeback Mountain, O

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Enquanto assistia Brokeback Mountain, fui premiado ao ouvir o comentário “Ai, que coisa horrível, Deus que me perdoe” por alguém que passava na sala em uma das cenas de beijo entre os dois atores. Certa vez, conversando com um outro alguém sobre o filme, disse o quanto eu gostava do longa, ao contrário da pessoa com quem falava, e perguntei se ela não havia torcido para que os dois caubóis ficassem juntos. A resposta foi “Claro que não, preferia que eles morressem”. O pior é que não foi em tom de brincadeira. Mas também já ouvi que homossexuais não se amam de verdade [!!!], que homossexualidade é uma escolha ou coisa do diabo; então ainda que seja sempre lamentável ouvir esses equívocos, difícil não se acostumar com eles. Até porque acredito que a sociedade nunca pensará diferente sobre o assunto.

Em 2009, a forma como as pessoas encaram o tema não é diferente como no ano de 1963, período em que se tem início a obra de Ang Lee. Não sabemos exatamente o que os dois homens fazem aguardando em frente a um trailler, mas apenas com esses poucos minutos de fita, a natureza de cada um já se revela demasiadamente díspar, algo que vai se tornando ainda mais claro a partir que conhecemos melhor os dois personagem. Enquanto Jack Twist encara Ennis Del Mar a espera de um simples aceno ou qualquer pequeno gesto que valha como cumprimento - afinal, ambos esperam no mesmo lugar pela mesma oportunidade de emprego -, este permanece a olhar para baixo com o cenho fechado, quase encoberto pelo chapéu. Como era de se esperar, o primeiro contado verbal entre os dois dá-se por inciativa de Jack, quando Ennis Del Mar é econômico nas palavras até mesmo ao se apresentar, se limitando apenas em dizer seu primeiro nome.

A atuação de Heath Ledger é daquelas que deixa claro o trabalho do ator em cima do personagem, tomando ciência de sua psique e não apenas reproduzindo falas do roteiro. Ledger faz de seu personagem alguém introspectivo que parece pronunciar cada palavra com um pesar tamanho, realçado pela voz grossa e pesada, como se falasse para dentro, empregada pelo ator. Quando rompe com seu silêncio, olhar nos olhos do outro parece uma tarefa tão dura quanto a sair de seu comportamento taciturno. Por sua vez, Jake Gyllenhaal entrega um personagem completamente diferente em todos os aspectos de Ennis Del Mar. Se não fosse por Jack Twist, seria provável o período de trabalho dos dois caubóis ser dominado pelo silêncio. É sempre através de Jack a iniciativa de conversarem sobre a vida pessoal de cada um e como se comporta de forma sempre mais aberta com as pessoas.

Da mesma forma, Jack Twist não somente tem noção de sua sexualidade, como já a aceita completamente. Já Ennis Del Mar, particularmente, nem acredito que seja propriamente homossexual. As pessoas costumam rir quando eu falo isso, mas vejamos - esse, aliás, é um dos pontos que acho mais interessante no roteiro, adaptado por Larry McMurtry e Diana Ossana do conto de Annie Proulx. Ennis Del Mar em nenhum momento do filme parece sentir atração por outro homem que não seja Jack Twist - algo que não acontece com este último, o qual procura em determinado momento saciar seu desejo por homem e decide viver com outro companheiro, como é informado por seu pais no fim do filme -; acho até que se ambos não tivessem se conhecido, Del Mar não teria desenvolvido um desejo homo por outro rapaz. Os instantes vividos com Jack parece um bálsamo, um refúgio, um exílio diante sua vida insatisfeita [inclusive sexual] com sua mulher, e daí surge o amor [uma força da natureza] por Jack, não necessariamente por ele ser homem, mas por ter encontrado nele amor de verdade.

Aí entra o principal ponto do filme e o que me deixa mais angustiado - assistir Brokeback Mountain e ficar deveras mal são duas coisas interligadas [que se repete não importa quantas vezes o assista]. O preconceito da sociedade sempre é muito repressivo em qualquer relação homossexual e o filme deixa isso muito evidente. Vai além mostrando crimes fatais oriundos de uma homofobia sempre irracional e intolerante. O personagem de Ledger ainda possui uma lembrança de infância que o faz temer ainda mais que essa violência faça parte diretamente de sua vida e de Jack, sendo esse um dos motivos para negar os planos de se estabelecerem como um casal, morando e vivendo juntos. Porém, o maior medo de Ennis vem dele mesmo. Em sua última briga com Jack, chega a dizer que não aguenta mais isso, deixando claro que, apesar de amá-lo, lutava para inibir o sentimento que nutria por um homem. Em todo o momento, seu maior medo era de sua própria natureza, sua vontade era deixar de sentir o amor que o mudou [ao menos com Jack, ele não se mostra mais a pessoa carrancuda no início do longa] e o faz verdadeiramente feliz.

E qual a relevância do sexo do outro para amar de verdade? O que impede surgir um sentimento verdadeiro entre duas pessoas do mesmo sexo? Quem ditou que esse amor, que nada difere dos outros, não é natural? Ennis percebeu isso tardiamente, mas percebeu. Acredito que o inesquecível “I swear” que encerra o filme seja a comprovação disso. Ele pergunta para sua filha, que está prestes a casar com um rapaz que conheceu há apenas um ano, se o ama de verdade. Após sua confirmação, Ennis decide ir ao casório da filha por acreditar, somente após viver, no amor sincero, o qual independe de tempo, gênero e qualquer outro fator. Ele jura amar de verdade, jura ser verdadeiro com seus sentimentos, jura não permitir que o medo impeça viver seu amor.

Mais do que um romance entre dois homens, Brokeback Mountain narra uma história sobre as dificuldades que o ser humano pode impor para si de amar e ser feliz, quando a única maneira de romper esse medo é amando de verdade. E escolher dois homens para viver esse amor parcialmente reprimido poderia arruinar uma premissa lindíssima se não fosse tratada da maneira como foi. Além de não se apropriar de nenhum esteriótipo, a sensibilidade que Ang Lee confere ao longa é inefável. O primeiro ato é de um primor técnico incrível; Lee narra tudo lentamente, deixa o silêncio dominar em grande parte do tempo - refletindo o estado em que ambos os personagens se encontravam inicialmente - e aproveita as paisagens para inserir uma beleza natural indizível ao longa, filmando a montanha Brokeback com planos panorâmicos e outros mais detalhados e fechados, para apresentar ao espectador o lugar mais importante para o romance dos personagens.

Não vou conseguir dizer o quanto gosto da trilha sonora composta por Gustavo Santaolalla [definitivamente, um dos melhores compositores da atualidade] e o quanto esta enriquece as belas imagens valorizadas pela perfeita fotografia de Rodrigo Pietro. Ela é tão econômica e simples, sendo praticamente toda composta por cordas, mas possui uma presença incrível e valoriza ainda mais o lirismo que Ang Lee busca com suas cenas, resultando num trabalho harmônico de som e imagem perfeito, o que faz de Brokeback Mountain um longa profundo e sensível não apenas devido ao tema, mas um longa profundo e sensível justamente pelo tratamento conferido ao tema.

Sempre quando me arrisco a escrever sobre meus filmes favoritos, acabo sendo prolixo sem dar a real dimensão da minha grande admiração pela obra. Sinto que novamente isso aconteceu. Mas sabia que iria ter essa sensação ao chegar ao fim do texto. Porque Brokeback Mountain é um dos exemplos máximos de filme que precisa ser sentido para ser adorado. É um desses filmes que me faz amar o cinema e viver um exílio curto, de um pouco mais de duas horas, mas onde sou tomado por sentimentos intensos e sentimentos nunca são fáceis de serem descritos. Para Ang Lee, deve ser fácil pôr sentimentos em imagens. Pois Brokeback Mountain é uma ode sobre o amor e, acima de tudo, cinema da maneira mais genuína e verdadeira.

http://receioderemorso.wordpress.com/

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Lutador, O

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Há diretores que nasceram iluminados por alguma divindade do Cinema pois não conseguem errar em nenhum trabalho - vacilam, mas não erram. Quentin Tarantino é a prova máxima dessa teoria, já que até agora parece imune à falhas. Dos vivos, Lynch, Jeunet, Fincher, Burton, Thomas Anderson e mais alguns também entram fácil para o grupo. E Darren Aronofsky faz parte, com folga, do “mais alguns”. Pi, sua estréia em longas, é ponto fraco de sua carreira se comparado aos que viriam nos próximos anos, ainda que tenha mostrado um talento promissor de imediato. Réquiem para um sonho dispensa comentários e Fonte da Vida é um grande filme subestimado pela maioria.

Em O Lutador, Aronofsky retorna com uma direção extremamente naturalista, estilo que não apenas funciona por conferir um realismo fundamental ao longa como imerge o espectador na vida do personagem Randy. Em todo o filme [e é todo mesmo, com exceção de poucos planos abertos que revelam o cenário mais significativo para Randy e que, de certa forma, o sintetiza], o diretor emprega a câmera na mão, sem rodeios, poucos cortes, zooms precisos sempre em função da realidade do personagem. É exatamente essa a intenção de Aronofsky, entrarmos na perspectiva de Randy e em seu mundo. E uma vez lá, difícil não se envolver com seus conflitos. Essa linguagem também não poderia ser mais apropriada para as cenas de luta livre, instantes em que o filme tende à repulsa de tão realista, pois ainda que o “esporte” seja coberto de mentiras, as cenas parecem as mais verdadeiras possíveis - e Darren também nos quer bem próximos a elas.

Um dos pontos mais interessantes de O Lutador é a de contrapor as duas realidades de Randy, e por todos os motivos, Mickey Rourke pareceu uma escolha ideal para o projeto. A brutalidade nos ringues e a carapaça que lhe insere um aspecto de homem forte e seguro parece ser desmontada em sua vida emocional. Randy é um homem solitário, frágil, perdido, irresponsável e, para ser mais sucinto, é só mais um humano; a fragilidade de seus relacionamentos interpessoais sustenta o intimismo do filme e por ele conhecemos o que verdadeiramente há por trás de uma pessoa aparentemente inabalável e forte. Mas até fisicamente a instabilidade se faz presente em Randy.

No fim das contas, dá para contar nos dedos [de uma só mão] os instantes otimistas da história. Por isso O Lutador pode ser tão brutal quanto entrar no ringue - psicologicamente falando, claro. Encontrei-me desgastado quando os primeiros acordes da excelente “The Wrestler” foram entoados num dos mais brilhantes desfechos que já vi. Ironicamente, o filme mais intenso, mais denso e que requer maior atenção do espectador - ao menos até agora -, além da ótima qualidade de cada aspecto do filme, foi o mais esquecido nas principais categorias das premiações atuais. E por essas e outras o Oscar deste ano está fadado a ser uma grande piada.

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Palavra (En)cantada

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Palavra (En)Cantada não é apenas um filme genuinamente brasileiro por seus realizadores serem nossos compatriotas. A brasilidade é o próprio tema, ou melhor, a nossa palavra na vertente da música e do poema é o assunto do novo trabalho da diretora Helena Solberg. É abordando o limite entre música e poesia, de quando essas artes se confundem mutuamente e formam uma unidade [ou não é sempre assim?]; a variedade que a nossa língua oferece e a diversidade de canções/poesias que com ela se pode formar, alcançando seja lá qual nicho for; os movimentos, em destaque a Bossa Nova e Tropicália, que revolucionaram a maneira de trabalhar nossas palavras e nosso som, através de depoimentos de especialistas e artistas, que a declaração de amor ao objeto de análise é apresentada.

Pois tudo é dito com muita paixão. Quando não são os conhecimentos de José Miguel Wisnik e Luiz Tatit que ganham espaço na tela, a fim de instruírem o espectador ao abordarem o tema de forma didática, passeando brevemente pelas mudanças sofridas pela música brasileira ou levantando questões relevantes, os grandes artistas, que moldam e constroem com as letras a arte, sejam os poetas ou os músicos - que vão desde Chico Buarque a Ferréz, passando por Adriana Calcanhotto, Tom Zé [e toda sua autenticidade], Lenine e Maria Bethânia -, expõem a relação individual de cada um com a palavra e o verso - isto é, com a poesia - e como isso está presente em suas músicas, além de revelarem personagens de importância inquestionável - e novamente o campo da literatura e da música se confundem - para a nossa cultura. As imagens de arquivo complementam o trabalho. Graças a elas, recorda-se [ou se descobre, dependendo da sua idade] de Caetano Veloso em uma entrevista esclarecedora quanto ao modo como se encarava as transformações iminentes na nossa música [e era com questionamentos e muitas dúvidas]. É por elas também que são trazidas ao espectador palavras ditas ou cantatas em um tempo pretérito, por vezes referido com uma certa saudade por quem o relembra; porém, a palavra se eternizou.

E toda essa paixão contida em Palavra (En)Cantada emana facilmente para além da tela, bastando ao espectador se deleitar em meio a riqueza temática da obra e a forma como esta foi concebida. Não é sempre que um diretor consegue unir com sensibilidade e segurança as duas maiores proezas do Brasil - no campo artístico, devo dizer - num filme que vale pela condução e construção ideais conferidas às imagens e a abordagem à uma única matéria-prima [a palavra] e o tratamento que cada artista lhe confere - e aí se evidenciam as diferenças, vistas no documentário. Mas vale, sobretudo, por ampliar a possibilidade sensitiva que o espectador leva consigo ao entrar numa sala de cinema. É um campo vasto a explorar, é para quem gosta de música, poesia e cinema.

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Boogie Nights - Prazer Sem Limites

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Há quem tenha algum dom. Inclinação musical, artística, mexer a orelha ou ter um pênis agraciado pela natureza. Eddie [Mark Wahlberg] possui este último. Seu falo é como uma lenda: no clube noturno onde trabalha, bastam 5 dólares para que ele comprove os muitos centímetros com os quais foi premiado. Jack Horner [Burt Reynolds, indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante e vencedor do Globo de Ouro por sua atuação], diretor de filmes pornôs, não pretende desperdiçar o talento nato de Eddie, o qual, por sua vez, não irá ignorar a oferta do diretor, usará seu grande talento como instrumento de trabalho. Se não bastasse, é quase uma máquina de fazer sexo - basta pagar para se mostrar eficiente. Não foi problema, por exemplo, quando na filmagem de seu primeiro filme pornô o cameraman esqueceu de um closer no ápice da cena [que você sabe qual é]: Eddie pôde repetir sem dificuldades.

Paul Thomas Anderson alimenta o mito. Quando o novo ator está em cena, sua câmera revela apenas as expressões das pessoas no set de filmagem, o que não deixa de ter sua graça. Apesar da história se inserir no mundo dos “filmes adultos”, expressão usada sempre por Jack, Anderson aborda essa questão sem nenhuma apelação, e o que temos assim é um universo muito abrangente, não somente o da pornografia. Estamos nos anos 70. O primeiro e extenso plano-sequência não deixa mentir: letreiros luminosos, o som dançante de Best of my Love, a discoteca animada, figurinos e caracterizações típicos da época. Assim Anderson mergulha o espectador na atmosfera de Boogie Nights. A primeira tomada revela ainda os personagens que darão início a uma narrativa envolvente e dinâmica, pois PTA realiza tudo com maestria - nem parecia seu segundo longa-metragem.

Seu domínio com a câmera já é notável nesse primeiro instante. O que o diretor faz com seu instrumento é um balé entre câmera e atores. Tudo parece estar acontecendo simultaneamente, cada personagem soa familiarizado com aquele ambiente, como se suas ações de fato continuassem ainda que não estivesse enquadrado. A câmera se infiltra de uma forma discreta, num estilo que posteriormente seria marca do diretor, e ao focar cada personagem por um determinado instante, nos prepara para as diversas histórias que acompanharemos, todas com um elo em comum - a indústria de filmes pornô. Paul Thomas Anderson predomina com essa linguagem por praticamente todo o longa. Se a primeira tomada já é admirável, visto o modo como se inicia e termina, as tantas outras que o diretor compõe surpreendem ainda mais. E o exercício não se torna repetitivo justamente pelas variações inseridas nestes planos-sequências: a velocidade com a qual a câmera percorre de um ponto ao outro se altera repentinamente, os ambientes variados por onde caminha sem nenhuma interrupção [como no qual mergulha na piscina junto com um personagem], a mudança de foco nos personagens e as informações que transmite com apenas uma tomada. Uma trilha sonora repleta de clássicos do tempo narrativo só enriquece tais imagens.

Além de ser um deleite para os olhos e ouvidos, tamanho o apuro estético dessas sequências, o ritmo do longa é demasiadamente favorecido com esse estilo, uma vez que a narração alcança uma fluidez importante principalmente em sua primeira parte, a qual foca o início da carreira de Eddie [agora com o nome de Dirk Diggler] - conhecemos a indústria e relações de seu ambiente de trabalho - cedendo espaço posteriormente para uma forte mudança no tom da história. A ascensão dos personagens e a divertida narração que acompanhávamos até então é interrompida. Entram as drogas, o declínio, os fracassos, fazendo PTA voltar-se para o drama específico de cada um. E não apenas o texto ganha um caráter mais denso, como a direção o salienta ao substituir a trilha sonora dançante por um instrumental repetitivo e tenso, rompe por vezes com as longas tomadas e insere inclusive uma edição fragmentada. Vemos então que aqueles personagens estão mais interligados do que se imaginava. A indústria pornográfica é sem dúvidas o que une todas aquelas pessoas, mas passamos a ver a importância de cada uma para fazer as coisas funcionarem corretamente - basta a queda de um para desencadear o efeito dominó. Sozinhas e longe daquele ambiente, os fracassos vêm à tona junto com um outro lado desconhecido, o lado que o estrelato dado pelo sucesso dos filmes pornôs ofusca.

Suas 2h30m de duração não chegam a incomodar, mas cenas como o documentário feito por Amber [Julliane Moore, também indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante], o casamento de dois personagens irrelevantes e a tentativa de Eddie como músico poderiam ser reduzidas - ou algumas até cortadas -, sedendo espaço para outros personagens, como o de Philip Seymour Hoffman, que poderiam ser melhor trabalhados. Porém, Boogie Nights - Prazer sem Limites é muito para ser diminuído por esse pouco. É a arte de como conduzir uma câmera, como criar uma narrativa através de imagens, como transformar um texto, uma simples história, em algo muito maior. Em 1997, Paul Thomas Anderson já se firmava como um dos melhores diretores e roteiristas do cinema atual.

Críticas

Marcelino Pão e Vinho

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“Na Espanha após a queda de Napoleão com a permissão do prefeito e a ajuda da população um mosteiro é erguido sob antigas ruínas. Diante dele algum tempo depois os monges descobrem um bebê abandonado e após tentar conseguir uma família para ele sem sucesso, optam por criá-lo. A criança cresce naquele ambiente religioso e com o intuito de superar a solidão em que vive, inventa um amigo imaginário de nome Manuel. Nesse mundo cheio de “nãos” ele vai crescendo. Apesar de isolado no mosteiro, tem no novo prefeito um inimigo declarado. Um dia ele quebra as regras e sobe até o sótão onde se depara com a velha imagem de madeira de um cristo crucificado que o faz fugir em disparada. Ele no entanto retorna ao local e cria um laço de amizade com a imagem, levando para ela parte das mirradas provisões do mosteiro(pão e vinho). Quando os monges descobrem que Marcelino subtrai alimentos, passam a vigiá-lo e se deparam com o Cristo tendo nos braços o menino que dorme para sempre. Assustados com o inusitado da cena e com a intensa luz que se desprende entendem que um milagre ocorreu.”

Esse foi um filme que não assisti na tela grande. Tampouco o vi durante minha infância ou juventude. Lembro-me, no entanto, vagamente de ter assistido seu thriller no cinema e por achar que esse contava tudo, não me despertou o interesse de vê-lo. Assisti-o agora, faz poucos meses em DVD. O que me motiva a comentar foi a critica de Juliano Mion. Tentarei dentro do possível, não ser repetitivo. Ele levantou certos aspectos que merecem ser melhor analisados.

Em primeiro lugar, o mundo dantes era dominado pela Igreja e não era raro que nos feriados católicos filmes como esse fossem exibidos e a população acorresse aos cinemas com suas famílias para assisti-lo. Em que se pese essa característica, ao qual eu pude testemunhar a sua pujança ainda na década de setenta, tal obra apresenta qualidades que extrapolam o orbe católico.

Nós do Ocidente somos herdeiros da influência cristã. Eu próprio apesar de não professar nem a fé católica ou a protestante sou cristão. Acho que a obra de Ladislao Vadja ultrapassa as amarras carolas da visão que o governo Franquista e a Igreja queria impor ao povo.

Afinal ainda que a história passe em tempos antigos os frades existentes ali presentes não são reais. O recurso de se situar a história no passado, foi a forma encontrada para poder se filmar a crítica contra um governo local tirânico e intolerante (o novo prefeito do vilarejo) que se opõe contra os frades aceitos na comunidade pelo seu antecessor.

Mesmo o cotidiano de um Mosteiro com as suas regras que acabam por asfixiar a humanidade de seus moradores, são quebradas pela presença do menino, que serve para tornar os religiosos seres inseridos no mundo e não distante dele. Marcelino serve assim como um ser que requisita atenção real e viva. É um ser que não permite que oblações e meditações sejam levadas ao extremo, impossibilitando que aquela comunidade religiosa seja algo inútil. O filme não deixa de ser uma ode ao primitivismo do Cristianismo antes que fosse contaminado pelo cerimonial pagão do Estado Romano.

O esquemático apontado com acerto por Mion é um dos acertos do filme. Esse esquemático cria a empatia necessária com o público alvo de então. Todos conhecemos história de crianças abandonadas (Moisés por exemplo) e a mitologia cristã nela se arvora (os 12 frades remetem aos 12 apóstolos).

Não sou dos que acham que o filme tem uma duração que soa extensa. A idéia de se guardar o ápice para seu fim é feliz. Afinal serve como catarse. O filme todo foi criado em torno dessa idéia de que é possível essa ligação com o espiritual. E que esse espiritual possa vir a vencer a visão imediata e materialista da vida (Não digo que não me surgiu a idéia de uma outra leitura: não houve milagre ali, Marcelino foi imolado pelos frades com o intuito de se arrumar um pretexto para a permanência do Mosteiro).

Outra crítica muito comum a esse filme é sobre o som que quase não abre espaço para ruídos e efeitos sonoros, privilegiando as vozes e uma trilha sonora genérica onipresente. Creio que tal escolha foi acertada, já que o que se visava era a introspecção.

Se as platéias de hoje não encontram encanto em obras como essa, talvez estejamos na hora de repensar o caminho trilhado. São inegáveis as qualidades dessa obra e o fato de não as compreendermos e não as inserirmos dentro do contexto em que foram realizadas, demonstra o empobrecimento cultural a que estamos sujeitos.

É isso.

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