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Críticas

Praia, A

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Belas paisagens, Trilha Sonora impecável e duas realidades distintas, porém não tão distantes.

A Trilha Sonora de "A Praia" agrada pela variedade de estilos, que caem excelentemente bem de acordo com as cenas que vão acontecendo. Não é incomum em alguns filmes você notar uma Trilha Sonora desvirtuada em relação aos acontecimentos da trama, no entanto, isso está fora de questão em "A Praia". A Trilha é arrebatadora, cheia de remixes de hits famosos e super dançantes como All Saints - Pure Shores, Moby - Porcelain e Sugar Ray - Spinning Away. Só a seleção musical dessa produção de Danny Boyle já vale a conferida no filme.

O filme retrata a viagem do jogador de videogame e mochileiro Richard (Leonardo DiCaprio) e mais dois amigos franceses Étienne (Guillaume Canet) e Francoise (Virginie Ledoyen), a uma ilha paradisíaca na Tailândia. A busca pela diversão e por registros de paisagens maravilhosas, acaba esbarrando numa sociedade paralela e secreta mantida por Sal (Tilda Swinton) dentro da própria ilha. Com alguns adeptos e esbanjando auto-suficiência, a sociedade paralela de Sal vive praticamente sem contato com o mundo lá fora, fazendo uso da agricultura, a pesca e todos os trabalhos manuais por si só. Os membros dessa sociedade se gabam e tem orgulho de não ter mais contato com as pessoas de fora, e independente de felicidades ou dores, ignoram completamente o resto do mundo. Tudo de acordo com as regras da líder Sal, que lidera o grupo com todo o rigor, em prol do segredo absoluto do local. Richard, Étienne e Fracoise são aceitos por essa sociedade, e começam a ver o quanto a vida pode ser mais divertida e interessante, longe do mundo real. Mais até quando? Qual o preço a ser pago para se viver num mundo paralelo, onde as leis do mundo aqui fora são ignoradas? Seriam esses 2 mundos tão diferentes assim? Assista e tire as suas próprias conclusões.

As atuações são fracas. Leonardo DiCaprio nem de longe lembra o mesmo ator das produções mais atuais como Diamante de Sangue e os Infiltrados. Os atores franceses Virginie Ledoyen e Guillaume Canet também não são exemplos de atuação, embora o papel de Guillaume Canet como Étiene seja o melhor do filme. Em termos de trama, o personagem de Canet é magnifício, possui uma personalidade interessante e é muito humano. Uma pena, a interpretação de Canet não acompanhar o excelente papel. Já Tilda Swinton como Sal foi a mais regular, embora fria e pouco convicente em algumas passagens.

As paisagens desse filme são um descanso para os olhos. Não poderia deixar de comentar. Se o objetivo de Danny Boyle era envolver o telespectador com a sensação de uma ilha paradisíaca e praias exuberantes, ele acertou em cheio. Enquanto você assiste, a vontade que dá é de estar lá com os atores naquele lugar, seja para rodar o filme ou simplesmente curtir. De encher os olhos. Belíssimo cenário!

Eu considero o saldo final desse filme interessante, muito embora para mim, tenha deixado uma sensação de injustiça no ar, em relação à trama. Nada que tenha tirado o brilho da Trilha Sonora, das belas paisagens e da mensagem final do filme com relação a sociedades paralelas. É algo para se pensar, realmente.

Se não assistiu ainda "A Praia", assista. É super aconselhável.

Críticas

Horas, As

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Grande adaptação de obra homônima, As Horas é um grande mergulho na vida três mulheres, tão ricas em sentimentos, tão normais, e ao mesmo tempo tão cansadas por causa de tudo que as cerca. Daldry mostra toda sensibilidade em uma perspicaz adaptação. O que poderia ser algo cansativo demais pelo excesso de narração em off que a história das três mulheres precisaria para ganhar ritmo, Daldry compensa graças ao ótimo roteiro escrito por David Hare além do espetacular tralho de Edição, que serve, justamente, para mostrar o quão próximas em sentimentos, em dúvidas, Virginia, Laura Brown e Clarissa estavam.

O livro homônimo levara seu autor Michael Cunningham a ganhar o Pulitzer, além de ter sido bem vendido à época de lançamento, o que veio a aumentar com o lançamento do filme. É literatura de boa qualidade, bem escrita, que exige atenção de quem lê, o filme de Daldry conseguira passar todo o enfoque da obra de Cunningham. As Horas tem um enfoque na vida das très mulheres que aborda, sua relação com a época em que vive é um tanto subjetiva, outrossim, seus dramas pessoais são extremamente vivos, compreendem dramas que independem de gênero ou lugar.

O filme é rico em belas imagens, compostas com esmerro pela eficiente Fotografia. Há também um cuidado todo especial com as locações, com cada cenário, cada detalhe. Além disso, a Trilha Sonora belíssima auxilia mais ainda a compôr o quadro psicológico daquelas mulheres que se insere no espaço fílmico. Uma Edição digna de ovações das mais entusiasmáticas possíveis, que dita o ritmo da história à maneira fidedigna do livro.

Todavia, umdos grandes pontos interessantes dessa adptação foi o não aprofundamento em algumas situações presentes no livo, justamente para não perder o foco ao qual o filme se propõe. No livro, há uma maior abordagem de personagens secundários de relativa importância na vida das três protagonistas. Assim, vemos que Louis e Sllay por exemplo são tratados de forma superficial, não se envolve intensamente com a trama, não se revelam ao público. O que nãoi é de todo mal, visto que tais escolhas poderiam atrapalhar o ritimo da trama.

Com a atuações impecáveis de todos seus atores, em As Horas vemos a consagração de Nikole Kidman, atriz de inegável talento que teve a grande oportunidade de agarrrar um papel que a levasse ao Oscar. Ed Harris também é perfeito como Richard, um personagem emblemático no filme, atuando com toda a intensidade de seu personagem ao lado de Meryl Streep, exemplar como nunca, conseguindo transmitir na medida exata a mentalidade de Clarissa Vaughan. Julianne Morre se destaca sobremaneira nos instantes finais, é exemplar antes disso. Os demais coadjuvantes compõem bem suas atuações, até o ator infantil que interpreta Richard jovem se comporta bem, bem dirigido consegue transpôr os pormenores daquela criança.

Enfim, As Hoas é um belo filme, que trabalha com sentimentos fortíssimos de maneira sútil, lança, sem dúvidas, questionamentos a quem assiste, balança conceitos imutáveis, sendo também um bom filme de se assistir.

Críticas

Batman

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Fãs de HQs, desenhos animados, cinéfilos em geral, todos estavam de olho na super-aguardada estréia do ano 1989. Tim Burton está no comando, Michael Keaton não anima, mas a presença de Jack Nicholson e a promessa de que o filme contém referencias à obra-prima de Alan Moore, A Piada Mortal, animam, e muito.

O resultado foi um enorme sucesso.

Em primeiro lugar, é um filme sério. Uma grande equipe foi formada com DOIS objetivos óbvios: APAGAR a imagem de comediante do Batman, que estava na cabeça das pessoas graças ao famoso seriado dos anos 60, E trazer de volta as origens sinistras e sombrias do Cavaleiro das Trevas (afinal, ele é o Cavaleiro das TREVAS, não da LUZ, ha ha). O filme cumpre isso e vai além. A peculiar direção de Burton, sempre muito GÓTICA e com uma boa dose de humor negro, encaixa-se perfeitamente com o universo do Morcego.

A trilha sonora de Danny Elfman, o figurino e os cenários são um show à parte. O roteiro é simples e direto,recheado de diálogos INCRÍVEIS, realmente com "pitadas" de A Piada Mortal, assim como de O CAVALEIRO DAS TREVAS (de Frank Miller) e da primeira aparição do Coringa, em 1940.

O elenco foi muito bem escolhido.Michael Keaton é um Batman marcante. Escolhido por Burton pelo seu OLHAR. E realmente, aí reside a força do personagem. No olhar de Keaton encontramos o homem perturbado e perdido, que Bruce Wayne é. Ele naõ fez um Batman igual ao dos quadrinhos, mas fez um Batman realista, que quebrava o clichê "herói bombadão, musculoso e bonitão".

A personagem de Kim Basinger, por outro lado, é, infelizmente, um clichê ambulante. Só está lá para correr, gritar e ser a donzela em perigo. Ao menos ela faz isto muito bem, sendo a atriz talentosa que é. Robert Wuhl faz um carismático mala-sem-alça e Michael Gough foi, simplesmente, a escolha PERFEITA para o mordomo Alfred. Outros 2 personagens secundários dignos de nota são o Harvey Dent de Billy Dee Williams (que, de fato, "só está lá por estar", mas interpreta corretamente o promotor em começo de carreira e muita gente disse, após o lançamento de BATMAN ETERNAMENTE "devia ter sido o Dee Williams...") e o Comissário Gordon de Pat Hingle (outra interpretaçaõ correta mas com pouco destaque).

MAS, todas essas boas atuações saõ completamente ofuscada quando ALGUÉM entra em cena...

O filme BATMAN devia, na verdade, por motivos óbvios, chamar-se CORINGA. Se há algum ator que NASCEU para ser um personagem, este é Jack Nicholson e o personagem é o Coringa. Uma das criticas mais verdadeiras da época sobre sua atuação foi feita pela revista Time Out; “(O Coringa) cacarejava, dançava, matava de puro valor humorístico, e lançava as melhores piadas. O Coringa de Jack Nicholson (...) consegue o maior golpe criminoso da década; o roubo de um filme inteiro”.

Quando ele está em cena, só temos olhos para ele. Quando naõ está, queremos que volte. Ficamos nos perguntano “onde andará o Coringa?”. O filme pertence à ele. Ele tem as melhores falas e as melhores cenas. Como o próprio ator revelou, desde criança era fã de HQs e o Coringa sempre foi seu favorito. Por isso ele sabia muito bem como fazer.

O Coringa é um palhaço assassino. Não deve tender nem para o lado insano, nem para o lado palhaço. Deve haver um equilibrio entre estes dois. E Nicholson estabelece este equilibrio com perfeição; cada assassinato dele é acompanhado por alguma ótima piada de humor negro, como fazer poses exageradas ao descarregar o revólver em alguém, ou usar uma pena como arma e soltar o famoso “A pena é realmente mais forte que a espada”, ou ainda desfigurar o rosto de alguém com ácido e chamar de ARTE... Não há cenas entediantes com ele. Destaque para as sequencias no Museu de Arte, no apartamento de Vicky Vale E o grande final na Torre da Igreja, simplesmente perfeitas.

A construção psicológica do personagem é impressionante. Tim Burton arriscou-se a fazer algo que apenas Alan Moore havia tido peito para fazer até então: dar ao Coringa um passado e, assim, aprofundar-se ainda mais na psicologia do Palhaço do Crime, tornando este Batman o equivalente a um BATMAN BEGINS do CORINGA. Nós vemos como ele enlouqueceu em um “Dia Ruim”, e como ele torna-se o completamente insano Coringa, que só quer saber de espalhar Caos e violencia em Gotham, sem lucrar de maneira alguma (a não ser com a diversão), que mata com indiferença, tem sempre uma piada na ponta da língua e ainda é um apreciador de música clássica e obras de arte, que sabe se comportar como um cavalheiro, em um misto de Monstro/Gentleman que faz lembrar do lendário Hannibal Lecter.

Enfim, Batman foi um ótimo começo, um filme sombrio, gótico e sério, como os fãs do Morcego esperam, que agradou naõ só os fãs de HQs, mas cinéfilos em geral. Ainda é uma boa opção para fãs de adaptações, assim como fãs de Tim Burton e Jack Nicholson que queiram ver um de seus melhores trabalhos.

Vale lembrar que o filme recebeu o MERECIDÍSSIMO Oscar de Melhor Direção de Arte, e ainda foi indicado à também merecidíssimos seis BAFTA (incluindo Melhor Ator Coadjuvante, para Jack Nicholson) e um Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia (para Nicholson, também).

BATMAN abriu as portas para a franquia, que ainda rendeu três sequencias (sendo a primeira delas, O RETORNO, tão boa quanto o primeiro), além do maravilhoso desenho BATMAN THE ANIMATED SERIES, e também influenciou todo o universo do Homem Morcego, seja quadrinhos, cartoons e até mesmo os novos e ótimos filmes de Christopher Nolan.

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Lemon Tree

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[Conflito de palestinos e israelenses dá pano pra manga a uma comovente história real ]

Lemon Tree chegou aos cinemas brasileiros no ano passado com o título de Lemon Tree. A opção da distribuidora brasileira em preservar o nome original do filme talvez tenha pesado para sua fraca divulgação aqui no país. Outra justificativa talvez seja porque o longa-metragem se baseia num evento isolado do conflito Israel/Palestina, que ninguém aguenta mais ouvir falar. Quem se animar a assisti-lo, no entanto, não irá se decepcionar, pois se trata de mais um competente trabalho do diretor israelense Eran Riklis (Noiva Síria) que novamente leva para as telas uma comovente história real. Filho de embaixador israelense, o cineasta viveu no Brasil nos anos 70 e numa recente entrevista se diz carioca de coração. No filme, ele presta uma mensagem ao nosso país, visível aos olhares mais atentos.

Salma Zidane (Hiam Abbas) é uma viúva palestina de meia-idade que sobrevive com a venda de compotas de limão, retiradas do solo de sua propriedade, com quem detém um forte laço. Embora solitária e calejada pela perda do marido, leva uma vida sem grandes preocupações. Tudo muda com a chegada do novo vizinho: ninguém menos que o Ministro de Segurança Israelense, Israel Navon (Doron Tavory). Cercas elétricas, arames farpados, guaritas e câmeras de segurança acompanham o representante militar juntamente com sua infeliz esposa Mira Navon (Rona Lipaz-Michael).

Devido a uma questão de proteção apresentada pela Força de Segurança Israelense, o ministro envia um comunicado a viúva alertando-a de que os limoeiros terão que ser derrubados. A justificativa é de que a plantação representa um perigo iminente, uma vez que serve de esconderijo para que algum terrorista cometa um atentado. A partir daí, Salma empenhará todas as suas forças numa batalha judicial pela manutenção de sua propriedade. Encantado com a personalidade forte e a beleza ainda presente da viúva, o advogado, Ziad Daud -que aparece com uma blusa da seleção brasileira- leva o caso até as últimas instâncias judiciais. Do outro lado da cerca que divide as duas propriedades, Mira se compadece com o sofrimento de Salma, tornando-se cúmplices da dor que causa a intolerância entre os dois países.

Baseado no ponto de vista das duas mulheres, Lemon Tree nos mostra as repercussões do caso dos limoeiros, sob o flerte feminino. O bom desempenho das atrizes contribui para a mensagem pacifista do filme. Hiam Abbas que já havia mostrado seu talento em A Noiva Síria e recentemente em O Visitante, possui um olhar forte e determinado; de quem já perdeu muito na vida, mas se recusa a abandonar as raízes e o seu orgulho. É uma grande intérprete. Mas quem surpreende mesmo é a desconhecida Rona Lipaz-Michael. A esposa do ministro compõe uma mulher distinta, que oculta dentro de sua elegância. nobres sentimentos de empatia com as injustiças impostas pela guerra.

Sob o olhar fraterno de Eran Riklis, o filme chega a seu desfecho, com o sabor amargo da intolerância, mesmo que haja uma pontinha de compaixão ao lado mais fraco da guerra; os civis palestinos que vivem sob o fogo cruzado atiçado pelos conterrâneos terroristas. Sem adotar simbolismos, o diretor nos passa a mensagem clara que no conflito entre Israel e Palestina, todos perdem de alguma forma.

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Sinédoque, Nova York

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[Filme marca a estreia de Charlie Kauffman na direção]

“Ele, vive em um mundo pela metade, entre o imobilismo e anti-imobilismo. E o tempo é concentrado, numa cronologia confusa. No entanto, até recentemente ele está lutando corajosamente para sua situação fazer sentido.Mas agora ele está se transformado em pedra.”

“Tudo é mais complicado do que você pensa. Você vê apenas um décimo do que é verdade.Há um milhão de pequenos textos anexados a cada escolha que você faz. Você pode destruir sua vida, cada vez que você escolher. Mas talvez você não saberá por 20 anos e você talvez jamais localize a fonte.”

Se fizessem uma lista com as pessoas mais inteligentes do mundo na atualidade, o nome Charlie Kauffman possivelmente estaria relacionado. Dono de roteiros ambiciosos como Quero ser John Malkovitch, Adaptação e Brilho eterno de uma mente sem lembranças, o autor não desperdiça ideias, excentricidades e obsessões em seus textos. Carregado de metalinguagem e verborragia, é marca registrada em seus personagens citações e conceitos de Kafka, Nietsche, Freud e outros intelectuais do seu nível de contundência.

Acontece que inteligência e criatividade não são sinônimos se sensibilidade. Algo que faltou em Sinédoque, Nova York , a estreia de Kauffman na direção. Ainda que vez ou outra, ele nos pegue de surpresa com suas tiradas nonsense, seus monólogos espirituosos e sua auto-indulgência, é notável que a liberdade criativa de comandar as câmeras o levou do equilíbrio ao excesso.

Assim como em Adaptação – e indiretamente em John Malkovitch- , Sinédoque, Nova York se baseia num alter-ego de Kauffman. Quando o diretor de teatro Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman, de Capote), sofre um acidente doméstico, sua vida muda de cabeça para baixo. Após ser clinicado por um oftalmologista e um neurologista, o dramaturgo descobre ter uma doença rara chamada sicose – “com uma letra fica psicose”, ele brinca com sua filha. Embora sua peça em cartaz seja sucesso de crítica, tudo piora quando sua mulher Adele (Catherine Keener) parte para a Alemanha com a filha Olive (Sadie Golstein), sem nunca mais dar as caras.

Entre um affair e outro com a atriz da sua última peça (Michelle Willians) e a bilheteira do teatro (Samantha Morton), Caden vai levando a vida como pode, sem muito entusiasmo. Um prêmio em dinheiro dado por uma entidade de apoio à arte, dá a ele um novo sentido a sua existência. Com a premiação, a autor pretende montar uma peça que irá legar a sua carreira à posteridade. E assim, ele recria dentro de um estúdio a cidade de Nova York em proporções gigantescas, com todas as virtudes e paranóias do mundo contemporâneo. A ambição pelo projeto que nunca termina – são décadas de ensaios - somado a desentendimentos com a companheira de sua mulher (Jennifer Jason Leigh) - ela transformou sua filha num projeto – ocupam-no compulsivamente. Obcecado por sua obra, Caden vira ator na própria peça em busca da perfeição. Já idoso, ele buscará um ator para interpretá-lo como ator para dar cabo à história. Mas afinal, onde encerra e onde termina esse círculo vicioso?

A ideia do autor engolfado pela própria criação é um tentáculo, mas não o núcleo narrativo de Sinédoque, Nova York. A ele somam-se outros temas recorrentes em trabalhos anteriores de Kauffman, como a vida e a morte; e a impossibilidade do homem, seja pra se relacionar ou em controlar o tempo. A diferença deste para os outros filmes é que cineastas como Spike Jonze e Michel Gondry sabiam podar as maluquices do roteirista.

Sob o comando de seu próprio texto, Kauffman não soube dosar os excessos do seu ímpeto criativo. Em situações como essa, o ego parece turvar o senso crítico do autor, por natureza genial. Algo não tão incomum, como pode ser visto nos últimos filmes da carreira de Fellini. O que não impede que o filme tenha passagens memoráveis, como a exposição de miniaturas da mulher de Caden e também a morte poética de um personagem tatuado. Embora embaralhe a cabeça do espectador, a passagem de tempo da vida do protagonista fica interessante quando a gente assimila o ritmo. Resumindo: é um filme que a gente entende tudo, mas não entende nada; gosta da mesma maneira que desgosta. Particularmente, vindo de quem veio, esperava mais. Pra dar um veredicto mais exato, requer um tira-teima…

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Pacto de Sangue

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[Obra-prima de Billy Wilder é um dos expoentes da era noir ]

“Sabe quem matou Dietrison? Se segure bem na cadeira, Keyes. Fui eu quem o matou. Eu, Walter Neff. Agente de seguros, 35 anos, solteiro e sem cicatrizes aparentes”

Junte um dedo de sangue com outro dedo de sangue. Arrume um argumento, coloque-o sob juramento e pronto. Está feito o feito pacto de sangue. Em 1944, o dedo do diretor Billy Wilder uniu-se ao do escritor e roteirista Raymond Chandler que baseados no argumento do romancista James M. Cain deram origem a Double Indemnity.Tudo bem que a tradução literal do filme não condiga com o título dado em terras brasileiras. Mesmo assim, Pacto de Sangue, como foi chamado aqui, até que fez justiça poética aos três grandes artistas que uniram esforços para conceber esta obra-prima; um dos expoentes da era noir. Dispondo de uma genialidade ainda desconhecida pelo público e crítica, Billy Wilder fez um daqueles filmes que de tão prazerosos de assistir, acabam ocultando o quanto tem de substancial.

Pacto de Sangue foi o primeiro grande filme do cineasta que com ele concorreu a sete Oscar. Antes de se tornar conhecido como artífice de comédias e filmes grandiosos, Wilder mostrou-se a vontade no comando desse suspense com contou com escárnio de Chandler, serpenteado por arpejos de Hitchcock. O filme é narrado em primeira pessoa pelo protagonista Walter Neff (Fred MacMurray). Logo na abertura ele confessa um assassinato. Cambaleante, ele entra na companhia de seguros onde trabalha, pega o megafone e desabafa a intrincada confusão em que se meteu.

Durante sua confissão surgem os flashbacks que elucidam a história. Tudo começa quando Neff que vai até a casa de um homem milionário renovar o contrato do seu automóvel. Na mansão do cliente, ele conhece a sua esposa, a insinuante Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck). Logo de cara, os dois têm aquilo que chamamos de atração fatal. O romance fulminante inspira o desejo de Phyllis assassinar o marido, de forma que se pareça com suicídio. Neff fica reticente, mas sucumbe ao charme da amante que o convence a dar cabo num plano diabólico que consiste em matar o companheiro e de quebra abocanhar uma dupla indenização de seguro. A grana serviria para que fugissem da cidade e assim, começassem uma vida nova em outro lugar.

O plano é executado com perfeição. A própria polícia crê no suicídio forjado pelos amantes. Acontece que Barton Keyes (Edward Robinson), figurão da empresa de seguros onde Neff trabalha , tem um faro apurado para desbaratar impostores. Outra que não se convence é Lola (Jean Heather), filha do empresário morto, que devido a circunstâncias passadas, não tem dúvidas do envolvimento da madrasta na morte do pai. O que se vê a partir daí é uma sucessão de reviravoltas na trama, com elementos de mistério e traição. O desfecho anticlímax já era esperado pelo espectador lá no princípio, mas ainda assim surpreende pela capacidade de Wilder em prolongar o desespero do protagonista. Faz isso com muito charme e sarcasmo.

Como todo clássico do cinema, Pacto de Sangue teve uma composição atrás e na frente das câmeras que o capacitaram a ser um trabalho inestimável. Entre os elementos que contribuíram ao sucesso do filme, uma menção se faz obrigatória ao trabalho do diretor de fotografia John F. Seitz. Os fachos de luz de baixo para cima que ele usou nas locações noturnas salientaram o ambiente de tensão e suspense das cenas. A atmosfera de sombras só fez ressaltar o aspecto sombrio e corruptível dos personagens, o que é uma marca registrada dos filmes noir.

Outro destaque foi a atuação tragicômica de Fred MacMurray. Ator de comédias, ele se encaixou bem na concepção de protagonista idealizada por Wilder. Com trejeitos saudosos e um sorriso carismático, ele conseguiu emprestar a simpatia necessária ao papel de um homem galanteador e seguro, próximo da meia idade. Quem também não fica atrás é a femme fatale Barbara Stanwyck que se aproveita da vulnerabilidade do homem solteiro, que procura alguém para casar. Ambos mostram em cena uma química invejável, que é lapidada com maestria pelos diálogos de Chandler. Um filme notável, digno de um dos maiores realizadores do cinema.

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Tony Manero

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[Obsessão por John Travolta em tempos de Pinochet resulta num filme bizarro e cruelmente cômico]

Raul Peralta (Alfredo Castro) sonha em ser Tony Manero. O andar insinuante, a brilhantina no cabelo e a ginga dos passos orquestrados; tudo nele remete ao protagonista interpretado por John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite (1977). Nas salas de cinema em Santiago, no Chile, o intérprete assiste a exaustão a performance do ídolo. De tantas exibições, sabe de cor os diálogos do filme e adora reproduzi-los num espanglês de dar nó, mas que o ajuda a fazer sucesso com as mulheres.

Sua obsessão pelo dançarino seria normal se ele não fosse um vagabundo doentio com mais de 50 anos que vive de favor no cubículo de um restaurante capenga onde mantém relações, no mínimo inusitadas, com uma ex-prostituta e a dona da casa. Mais estranho ainda é ver até onde ele é capaz de chegar quando um canal de televisão anuncia o concurso de melhor sósia de Manero.

Embora o contexto social seja a ditadura militar do general Augusto Pinochet, Raul está alheio a tudo isso. Até porque ele é – ou parece ser – analfabeto. Tudo que ele quer é ser como seu ídolo, dançar como ele, viver como ele. É bem verdade que sua disposição pela dança não acompanha os movimentos do corpo. Assim como é evidente que ele é um pária da pior espécie; pervertido e amoral. Mas o melhor de tudo é que ele é também um assassino cruel que não mede esforços de matar alguém que ousa comprometer seus objetivos. Mais interessante ainda é que ele vive em status de contemplação pelos moradores que vivem com ele

Todas essas incongruências da trama e o destino sem propósito do protagonista são jogados na narrativa de maneira proposital pelo diretor chileno Pablo Larraín. Embora o cineasta tenha destrinchado os conflitos de Tony Manero da forma mais distante e descompromissada possível, é na bizarrice de seu personagem que ele consegue abordar a crítica social. Enquanto o país vive sob um regime militar sedento em aniquilar seus opositores, criminosos como Raul Peralta levam uma vida sossegada. Em contrapartida, jovens aliciados aos ideais da oposição acabam perseguidos sem sequer saber o que é direita ou esquerda, capitalismo ou comunismo.

Tony Manero possui um humor negro singular mas as cenas de sexo indigestas e alguns maneirismos exagerados do diretor acabam resultando num filme de altos e baixos. Bom mesmo é a atuação nonsense de Alfredo Castro - premiado como o Melhor Ator no Festival de Havana. Fazia tempo que não aparecia um vilão tão anticonvencional e acidentalmente cômico como esse.

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Entre os Muros da Escola

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[Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes retrata as dificuldades das instituições educacionais da França com os imigrantes das suas ex-côlonias ]

De uns anos pra cá, a França ganhou notoriedade no futebol. Venceu uma Copa do Mundo e foi finalista do último mundial realizado em 2006. Esse prestígio conquistado pelos franceses, no entanto, não tem origem apenas dentro de seus domínios. A base da seleção francesa que goleou o Brasil em 1998 era - e ainda é - formada por muitos atletas estrangeiros naturalizados ou filhos de imigrantes das ex-colônias africanas. É o caso de Zidane, Henry e Thuram, por exemplo, três dos principais jogadores daquela histórica seleção francesa.

Aspirantes a jogador vindos de países como Mali, Argélia e Marrocos não faltam na França. Junto com eles, há um grande contingente de jovens e adultos que migram para as periferias francesas trazendo na bagagem nada mais que a sorte. E o que fazer com essas pessoas?

Em Entre os Muros da Escola, o diretor Laurent Cantet não traz uma resposta definitiva. Tampouco aborda o assunto de maneira abrangente. O que ele faz – e cumpre esse papel com louvor – é testemunhar um microcosmo dessa sociedade emergente e desacreditada que se faz presente no seu filme dentro de uma escola pública. Lá dentro se misturam os mais diferentes estereótipos da imigração estabelecida no país europeu. Tem os estudantes africanos que trazem para a sala de aula sua revolta e os desajustes de uma infância desorientada. Os imigrantes muçulmanos vicejam seu estranhamento com uma sociedade que os olha de soslaio. No fim do túnel há também a luz de um aluno chinês dedicado em matemática, mas com dificuldades no francês.

Todos esses tipos fazem parte da turma de 8° ano coordenada pelo professor François Merin. O docente faz o perfil conciliador, aberto ao diálogo. Antítese do linha dura, ele tenta de todas as formas apaziguar os ânimos em sala de aula. Na contramão de outros colegas seus que se revoltam com a falta de respeito dos estudantes. Ele está ali, em meio a adolescentes com futuro incerto e professores queixosos, numa espécie de catalisador dessas máculas.

A relação professor/aluno e a maneira irremediável como a França lida com seus imigrantes são as tônicas desse filme, vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2008. À medida que François luta para romper as barreiras que distanciam o professor dos seus estudantes ele se dá conta de que a conseqüência dessa relação não passa imune de conflitos. A aproximação dele com a vida pessoal dos alunos é fomentada através de um trabalho de aula onde cada um deverá apresentar o seu perfil em sala de aula. E o que dá margem a um pequeno desentendimento logo se ampliará num drama sufocante. Os erros e acertos do ensino cometido pelas instituições francesas são colocados em xeque no filme. Um problema bem conhecido em nosso país, mas que não passa incólume nem mesmo nas nações de primeiro mundo.

Tão interessante quanto o conteúdo é a forma como Entre os Muros da Escola se desenvolve. Num clima fortemente documental, o filme se utiliza de atores amadores, bem à vontade em seus papéis. Uma naturalidade que impressiona tanto quanto a simplicidade da produção que Cantet comprova em cada fotograma. Sem trilha musical, sem malabarismos de câmera e com poucas locações –quase todas dentro da escola – o diretor encontra sua força de inspiração em levar para a tela as idéias de um livro de experiências escrito por François Bégaudeau, que não por acaso interpreta o professor François do filme.

Assim como o restante do elenco, o professor da vida real não faz feio na ficção. Para que acertassem no tom da narrativa, ele e o diretor conversavam por uma hora antes das filmagens. Esse espírito de improvisação deu tão certo que fica difícil dizer o que é mais contundente: a mensagem que eles quiseram nos passar ou a ideia de que fazer cinema de qualidade não é lá um bicho de sete cabeças.

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Katyn

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[ Andrzej Wajda reconstrói o fatídico massacre de Katyn na Polônia ]

A 2° Guerra Mundial é, sem dúvida alguma, o assunto mais abordado pelo cinema. Tanto na Europa como nos Estados Unidos. Mas em nenhum lugar do mundo o conflito lançou trevas tão devastadoras quanto na Polônia. O país que serviu de front tanto para a Alemanha quanto para União Soviética acabou sofrendo nas mãos dos dois países durante o conflito. Os poloneses ainda não apagaram da memória o genocídio sem precedentes a que foram submetidos. As cicatrizes permanecem abertas na lembrança dos sobreviventes. Dois deles, figuram no hall dos maiores cineastas europeus. Roman Polanski perdeu a família inteira na guerra. Com O Pianista ele transpôs indiretamente na tela os horrores que testemunhou nos campos de concentração. Cinco anos depois de Polanski ter ganho seu primeiro Oscar de direção com o filme, foi a vez de outro conterrâneo seu, exorcizar o sofrimento num comovente longa metragem.

Centrado numa falsa verdade histórica, o diretor Andrzej Wajda relata o massacre de mais de 20 mil oficiais polonês ocorrido na floresta de Katyn, que dá título ao filme indicado ao Oscar de Melhor produção estrangeira no ano passado. É aquela velha máxima de que a verdade é sempre contada pelos vencedores. E como em 1945, a União Soviética levou a melhor sobre a Alemanha, a Polônia foi anexada aos soviéticos, o crime de guerra recaiu sobre os alemães quando na verdade ele foi cometido por Stálin.

Tudo começa em 1939. Após a invasão da Polônia pelos nazistas, tropas russas ocupam o leste do país. Mesmo não declarando formalmente guerra, oficiais poloneses são mantidos sob custódia pelos soviéticos e enviados a campos de concentração. Um deles é Andrzej (Artur Zmijewski), que nega se a desertar o posto e fugir sua esposa Anna (Maja Ostaszewska) para honrar seu compromisso com o exército. Anna então se junta a outras mulheres polonesas na esperança de o marido retorne. Em 1943, são descobertas as covas de Katyn que logo são atribuídas aos nazistas. As poucas pessoas que sabem a verdade são silenciadas pelos soviéticos. A verdade sobre o massacre só é confirmada tempos depois através do diário de prisão de Andrzej.

Conduzido com sobriedade por Wadja, Katyn dedica-se a particularizar o sofrimento das famílias dos oficiais e de todos aqueles que se insurgiram contra a mentira. Mas a homenagem do diretor recai principalmente à sua família. O pai Jakub Wadja foi um dos oficiais mortos no massacre. A mãe Aniela, a viúva que amargou por anos a esperança de encontrar o marido vivo.

Entre tantas acusações que precisavam ser feitas, o diretor também acha um espaço no seu filme para criticar a religião. A cena é emblemática. Logo no início do filme, um padre reza ajoelhado sob uma cruz estirada no chão. O rosto de cristo está tapado por um casaco. Mais adiante, surge outra alfinetada na qual um padre –mais por medo do que por convicção- não permite que uma mulher coloque na lápide do irmão a verdade do massacre.

Com uma competente reconstituição de época e uma película de tom cinza que reforça a idéia de sofrimento dos poloneses, dá pra se dizer que Wajda não deixou de ser acurado com a parte técnica da sua produção. A plasticidade do desfecho é digno das melhores produções de Hollywood. E se na primeira hora o filme fica um tanto cálido, os trinta minutos finais tratam de incandescer o espectador.

Octogenário, ganhador de Oscar honorário e de vários Cannes, o cineasta poderia estar em casa cuidando dos cachorros, mas continua na ativa. Ainda nesse mês, Tatarak seu último filme, será lançado na Polônia. Se manter o nível, pode continuar assim até os cem…

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Críticas

Na Natureza Selvagem

0,0

[Keruac à Go-Go]

Incrustados em espaços desabitados do planeta Terra, os últimos remanescentes da geração beat devem estar orgulhosos com Sean Penn. No seu quarto longa de ficção na carreira, o mutipremiado ator mostra que também tem talento atrás das câmeras ao contar com muita emoção e personalidade uma história real sobre um mochileiro que coloca o pé na estrada para viver a aventura de sua vida.

Depois de concluir seus estudos, o aluno e atleta Christopher McCandless (Emile Hirsch) abre mão de uma carreira promissora e do status de ter as melhores notas da turma para se aventurar numa jornada de auto-conhecimento. O jovem doa todas as suas economias - cerca de US$ 24 mil - para caridade, coloca uma mochila nas costas e parte para o Alasca a fim de viver uma verdadeira aventura. Ele escolha a região gelada justamente por ser o lugar que considera mais selvagem e de difícil adaptação no país. Ao longo do caminho, Christopher muda seu nome para Alexander Supertramp para não ser reconhecido pela polícia cujos pais colocaram em seu encalço. Durante a aventura se depara com uma série de personagens que irão moldar sua vida para sempre.

Baseado em artigo escrito em 1993 por Jon Krakauer, a comovente história real Chris McCandless virou livro antes de parar nas mãos de Sean Penn. Com belas imagens e uma montagem vigorosa – indicada ao Oscar na categoria-, Na Natureza Selvagem configura-se como um dos grandes filmes de 2008. Segurando as pontas do início ao fim do filme, Emile Hirsch provou ser uma grande promessa. Junto com o jovem, destacou-se também o veterano Hal Holbrook indicado a melhor ator coadjuvante. Ele interpreta o militar reformado Ron Franz, a última pessoa a ver Supertramp, antes de embrenhar-se no Alaska.

Penn mostra uma direção segura. Até demais. Esse excesso de confiança fez com que ele achasse que um filme com quase 2h30min de offs não ficaria cansativo. Mas ficou. Outra coisa que não passou pelo crivo da integridade foi os excessos a que o personagem do Emile Hirsch foi submetido.

Cenas onde ele fala com a maçã ou quando despeja riponguices de que não se apega em valores materiais e que procura algo pra motivar sua existência são histórias pra se contar pra vendedor de narguilé. Equívocos que impediram Na Natureza Selvagem de ter um resultado melhor.

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