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Críticas

Quem Quer Ser um Milionário?

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Avassalador nas premiações, sucesso de crítica e público, este "Quem Quer Ser um Milionário?" tem potencial para ser mais do que uma bela obra técnica, mas também um sucesso popular. Unir esses dois pontos não é uma tarefa fácil.

O filme trata da vida do personagem Jamal Malik, vivido aplicadamente por Dev Patel, um jovem que cresceu ao lado de mafiosos num dos territórios mais agressivos da favela de Mumbai. Um dia ele participa de um famoso programa televisivo que dá título ao nome do filme, e desacreditado, acaba surpreendendo a todos com seu ótimo desempenho ao faturar milhões de rúpias deixando algumas pessoas envolvidas com o programa desconfiadas.

Um jovem sem muitas oportunidades na vida chegar onde ninguém conseguiu chegar era motivo de desconfiança e é justamente essa desconfiança que abre o caminho para o desenrolar de toda a sofrida e bela história que se sucederá. O roteiro de Simon Beaufoy, baseado no romance de Vikas Swarup, é consistente. Deste modo, o filme caminha com clareza e bom humor, apresentando três gerações dos personagens justificando nessas a razão dos feitos de Jamal no programa "Quem Quer Ser um Milionário?" e principalmente os motivos que o levaram a chegar até ali.

O diretor Danny Boyle faz um dos melhores trabalhos de sua carreira abordando dificuldades do cotidiano. A sorte, a dor da perda e o amor reunidos numa bonita história que comoveu e ainda comoverá milhares de pessoas. O interessante, além de alguns fatos óbvios do filme, é que este não tem uma base hollywoodiana pois se passa em locações na Índia, no contexto original desse país. Boyle há anos já vinha mostrando que era um diretor promissor com obras como "Trainspotting", "A Praia" e "Extermínio".

Suas tomadas sempre consistentes com câmera em punho marca uma característica bastante particular de filmagem, acompanhando seus personagens bem de perto. É um trabalho dinâmico que dá certo e se distancia da moda cronológica de alguns filmes. A fotografia em locações de Mumbai dão uma beleza vigorosa a história, que não se preocupa em esconder a realidade e sem resistências, o lado ruim do país é apresentado. Em certo momento numa cena de violência, Jamal, quando criança, sugere a realidade de seu país para logo após um turista americano descascando algumas notas de dólares proferir que o dinheiro era a realidade dele.

Chama-se a atenção também que nesse profundo dinamismo de situações e significados, é empregada a língua original indiana somando-se a cultura local com as músicas bem animadas e coreografadas. Quanto ao romance da história, acontece graças a uma amizade entre as crianças Latika e Jamal. A primeira fará o protagonista suspirar anos mais tarde. E nessa relação, o que acontece entre os dois não é nenhum mar de rosas, há conflitos que atravessarão anos marcados por uma separação. Ainda tem presença fundamental na trama do personagem Salim, irmão de Jamal.

"Quem Quer Ser um Milionário?" tem narração enérgica e aventureira que aliás, serve de desculpa para o emprego das cores quentes as quais o filme é inteiramente submetido. Trata-se realmente de uma aventura em que um personagem encara a vida como pode mesmo com as dificuldades que encontrou desde a infância trazendo-o até os dias atuais. Nessa atmosfera, esse novo longa de Danny Boyle pode até ser considerado um primo de "Cidade de Deus" de Fernando Meirelles, pois comparações entre os dois são inevitáveis.

Esse é também o grande vencedor do Oscar 2009 com prêmios de melhor direção e melhor filme. Sua vitória foi de total valia nessa cerimônia, porém, ao falar da sorte que envolveu o personagem Jamal, podemos falar da sorte deste filme não ter encontrado adversários melhores na premiação deste ano, que, de fato, foi um dos mais fracos dos últimos tempos.

Críticas

Velozes e Furiosos 4

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Caros leitores,

Mais um filme da série Velozes e Furiosos nos cinemas, e isso definitivamente não costuma agradar a muitos críticos e telespectadores, principalmente aqueles que torcem o nariz para uma das franquias mais badaladas dos anos 2000, por conter sempre a mesma receita, como carros espetaculares, belas mulheres , músicas que dão personalidade própria ao filme, e o que mais desagrada aos críticos, histórias pouco marcantes para quem não gosta da série.

Antes de iniciar meu comentário, deixo claro que aqui escreve um fã e admirador incontestável da franquia como um todo, mas, mesmo me simpatizando pela série, jamais deixo de destacar os aspectos negativos, senão, seria mais um cara“mente vazia” que resume sua opinião em: “nossa, o filme é perfeito, é o melhor, é muito louco”, não é assim que funciona, então, gosto também de destacar aquilo que o filme ficou devendo, o que poderia ser melhor dentro daquilo que foi a proposta inicial do trabalho.

Velozes e Furiosos 4, ou simplesmente, Fast & Furious nos EUA, se passa 5 anos após os acontecimentos do filme original, de 2001, e pouco antes da terceira parte, o Tokyo Drift, de 2006.

Muita expeculação antes da estréia envolveu um público que jamais imaginou que um dia veria novamente os carismáticos personagens do primeiro filme, Dominic Toretto ( Vin Diesel), e Brian O´Conner ( Paul Walker )juntos. E não é pra menos, afinal, Justin Lin conseguiu essa façanha e de quebra, quis fazer seu nome e deixar sua marca de diretor na franquia já cansada de ver sempre a mesma coisa, e assim como fez em Tokyo Drift, mudando totalmente a cara do filme, mas uma mudança não tão radical como a que ocorre nesse filme, Velozes e Furiosos 4.

Na falta de necessidade de apresentar e desenvolver os principais personagens, Justin Lin só tem então o trabalho de unir os dois, Dom e Brian,e usar uma grande desculpa por trás disso, nesse caso, o tal traficante Braga, e uma confusa historia policial.

Fica óbvio que o maior, senão o único objetivo do filme é reunir esses dois personagens, e tambem dar continuidade e explicações que o primeiro filme ficou devendo aos fãs.

A grande ponte de ligação entre o primeiro filme e esse é o aspecto positivo desta película, seu grande diferencial, o maior acerto de Justin Lin.

Cenas que lembram acontecimentos do filme original, detalhes e diálogos que servem como um flashback, como na cena em que Mia, Dom e Brian estão na mesa de jantar e ao tocar primeiro na comida, Dom ouve Mia pedindo para que ele faça a oração, o cara ainda ousa em beber a cerveja antes de iniciar a tal oração(ao som da mesma música que tocou no Tokyo Drift quando ele fez uma ponta no final). Outro detalhe como a jaqueta marrom usada por Dom, praticamente a mesma do primeiro filme, e Brian dizendo que agora Dominic é quem deve a ele um carro de dez segundos, tudo isso, e varios outros momentos que ressucitam o filme original.Até a casa deles foi a mesma.

Após oito anos mais velhos ( e cinco anos dentro do contexto ), nota-se um certo cansaço dos atores, mas isso é um processo natural, ocorreria em qualquer filme, mas aqui, vai um pouco mais longe.

Apesar de respeitar os filmes anteriores, Justin Lin mete a mão na personalidade dos personagens, nota-se uma mudança brusca no comportamento de Dom , que começa a estória de forma tão calma e tranquila, seria normal se ele não estivesse no meio de um assalto a um caminhão. Quando pede para Letty segurar firme no caminhão desgovernado, parece que está pedindo para ela fazer uma pose para uma foto.Não é exatamente o Toretto apresentado no filme de 2001.

Vin Diesel se expressa menos nesse filme, e nos mostra um Toretto que ironiza todas as situações, mas usa poucas palavras e diálogos, e tem especto “ triste” o filme inteiro, ocasionado pela morte de Letty. Mas mesmo com esses aspectos negativos, ele é o único a roubar a cena e todo o rumo da história gira em torno dele.

O policial Brian O´Conner é nitidamente o que tem a personalidade mais prejudicada nesse filme. Menos paparicado que seu amigo, as vezes ele parece um coadjuvante. Sua investigação policial fica em segundo plano, as vezes fica difícil saber o que o FBI realmente está querendo, pegar o traficante Braga, ou prender o fugitivo Toretto. Mas na tentativa de unir os dois objetivos, o roteiro falha, principalmente na cena em que Brian diz que vai prender o Braga com a ajuda do Toretto, mas como preço, quer a liberdade do seu amigo. Fica então uma dúvida ali, já que ao prender o Braga, mesmo que em território fora dos EUA, o tal acordo de soltar o Dom não resolve em nada, e ninguém mais fala no assunto, exceto o juiz que decreta a prisão a ele no final.Faltou objetividade nesse contexto.

O romance entre Brian e Mia se resume em um beijo com clima de “não devo mais acreditar em voce, mas não resisto” na cozinha. E a personagem de Mia foi apenas para somar ao recheio do filme, que era mesmo reunir os principais personagens.

Michelle Rodriguez, como Letty, interpreta muito bem, seu potencial bem evoluído impediu que as mãos do diretor Justin Lin modificassem a estrutura da sua personagem, que é praticamente idêntica à Letty do primeiro filme. Ousada, ela é quem faz o trabalho mais difícil , insatisfeita em passar por baixo de caminhões, nesse filme ela vai além, sobe nos perigosos containers e executa o trabalho,com direito a algumas piadinhas com os seus comparsas mexicanos que dirigem o outro veículo. É uma pena que ela tenha morrido, foi muito pouco aproveitada, mas, infelizmente foi isso que uniu os dois protagonistas.

E por falar em veiculo dos comparsas da Letty, lá está ele, Han Lue, com o mesmo jeitão carismático, foi ele o principal personagem do filme anterior, sua aparição logo no início serve para desvendar a mal explicada amizade entre ele e Dom ( olha o Dom aqui mais uma vez, viram como tudo gira em torno dele? ).

Em geral, vemos então, caros leitores, um filme bem diferente dos anteriores, que une elementos principalmente do primeiro, mas tambem do terceiro, e que funciona como um “Rocky Balboa” na franquia aqui comentada.

Privilegiando cenas que lembram o primeiro, deixando a desejar em outros aspectos, como o carro Dodge Charger, o “Batmóvel” do Toretto, que aqui foi, mas uma vez, mal aproveitado como antes tambem fora.

Saí do cinema com a sensação de que não havia necessidade de destruir o carro que faz parte da personalidade do personagem principal , que foi tão magnificmente trazido de volta à franquia, reconstruído carinhosamente pela Letty e mais tarde ajustado pelo próprio Toretto, por que repetir a corrida dentro do túnel, já apresentada no início do filme, e ainda destruir o carro? Teria ficado contente se ele empinasse esse carro na hora que atropelou o Fenix, o cara responsavel pela morte da Letty, e não tivesse pegado um carro qualquer para fazer isso, ficou muito chato esse detalhe.

Ainda por cima, na cena final, Brian aparece dirigindo praticamente o mesmo carro, o filme não explicou se o Brian conseguiu consertar o mesmo que explodiu no túnel ou construiu outro identico, o que deixa ainda mais a desejar, ja que o carro destruido era exatamente o mesmo do primeiro filme, dentro da historia, e não merecia um final tão trágico.

Mas mesmo com esses detalhes, Velozes e Furiosos 4 se sobressai e atropela seus defeitos, ao contrário do que nosso amigo crítico escreveu, o filme agrada sim, aos fãs, mas principalmente aos que gostaram do primeiro filme, acredito que quem esperava muitos rachas e carros exóticos, se decepcionou, e esse não foi o meu caso, e creio que nem do público responsável pela já enorme bilheteria acumulada atá agora, esse filme com certeza vai bater os recordes da franquia.

Velozes e Furiosos 4 se sobressai porque consegue, principalmente , ressucitar a essência do foco nos personagens, mesmo que alterando suas personalidades, mas explicando fatos importantes dentro da franquia.

Uma pena eu ter sido obrigado a ver o filme dublado, já que a tendencia das pessimas distribuidoras nacionais é trazer blockbusters em massa para o preguiçoso público brasileiro, que acha difícil ler uma legenda em um filme numa tela de mais de 300 polegadas. A versão legendada na minha cidade só na semana que vem, e não é fácil ver que a voz dos personagens muda a cada filme na franquia, nesse , embora o Dom e a Letty tiveram os mesmos dubladores, Mia, e principalmente o Brian, foram os que tiveram as vozes mais alteradas. Isso tira a essencia do personagem.

Minha opinião final:

O filme foi o melhor da série depois do primeiro, superou minhas expectativas mesmo que tenha ficado devendo em alguns detalhes primordiais, não é um filme digno de OSCAR, nem tem naipe para isso, mas não se limita em ficar mostrando rachas e outras coisas já tão repetitivas nos filmes anteriores, se fosse assim, muita gente criticaria dizendo que é so mais um filme igual os outros , mas aqui, Justin lin ousou em fazer um filme mais voltado para os personagens, mesmo que para isso, tenha sacrificado aquilo que mais consagrou a série.

Que o final fica aberto para uma continuação, é óbvio como um mais um são dois, o resultado nas bilheterias, mais do que o final do filme em si, já começa a anunciar essa possibilidade.

Vin Diesel já disse em entrevista que tem interesse de fazer pelo menos mais duas sequencias, isso só depende da Universal Pictures.Pra mim, a série deveria parar por aqui.

Críticas

Suspeitos, Os

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Brian Singer é o tão famoso diretor que conseguiu um resultado relativamente bom em uma das mais famosas adapatações de série de super-herói da história, os X-Man. Ele, todavia, tem em sua jovial filmografia um filme considerado um cult até hoje. Aparentemente um esforço pós-tarantinesco de não seguir Tarantino, mas uzando da originalidade da trama dos filmes dele, "Os Suspeitos" é um esforço de criatividade metralhador de "fucks" que usa de reviravoltas para segurar o espectador até o fim. No meio de muita porcaria surgida nesse estilo na década de 90, esse se sobressai gratificantemente, só poderia ser menos convencional.

Sim, intrisecamente, "Os Suspeitos" é um filme comum, o diretor larga a mão na ousadia, ao menos deveria utilizar uns ângulos diferentes aqui, uma Trilha Sonora bizarra acolá, algo que trás um clima novo à trama, final-supresa apenas não basta.

Não obstante, esses filmes de gângters proporciona bons atores coadjuvantes, isso, claro, visto a desenvoltura dos atores e a contrução dos seus papéis. Os Suspeitos, cria um conjunto de personagens, uns imprevisíveis:Dean Keaton(Gabriel Byrne), Roger 'Verbal' Kint, o "Aleijado" (Kevin Spacey), e outros nem tanto: Fred Fenster(Benicio Del Toro), Todd Hockney (Kevin Pollak). O que é normal.

Singer trabalha com bons atores, debocahdos, dinâmicos, pensando em construir uma história bacana, bem montada, inteligente, pronta a se tornar um grande quebra-cabeça sem nenhuma solução aparente. A história conta sobre cinco suspeitos detidos em uma delegacia de polícia de Nova York por causa de um crime. Aí na delegacia, decidem eles realizar um difícil "trabalho". Porém, eles não imaginam que todos são apenas marionetes na mão de alguém mais poderoso, que os está usando, e a dúvida que permanece até a grande revelação final é: quem é essa pessoa?

Uma bela proposta, divertida e eletrizante. Grande parte da segurança do filme é passada pela capacidade de seus atores. O grande destaque é mesmo kevin Spacey, em uma atuação que lhe rendeu seu primeiro Oscar, como Melhor Ator Coadjuvante. Destacan-se nesse meio o talentoso Benicio Del Toro, um dos grandes atualmente.Kevin Pollak, Gabriel Byrne, e até Pete Postlethwaite em sua curta atuação mostram-se eficientes.

O filme ganhara o Oscar também, por Roteiro Original, o que saúda a coragem de seu diretor Singer, e de seu roteirista Christopher McQuarrie - parceria repetida recentemente em Operação Valquíria. Salve-se também os interessantes planos de Montagem e a Fotografia, que quando consegue sair dos ambientes fecahdos se mostra interessante. Trilha Sonora raza, normal, ressaltando mais o suspense.

Os Suspeitos é um bom começo para um diretor com então 30 anos, tovadia, a filmografia de Singer precisa ser preenchida de obras que beirem o mesmo nível de "Os Suspeitos". É uma obra que mostra que o diretor tem habilidade,que sabe fazer boas escolhas. Um bom filme, passatempo inteligente e surpreendente.

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Corpo que Cai, Um

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Uma trama e personagens mais complexos do que o aparente romance ingênuo poderia nos ofertar, Hitchcock brinca com a presepção de quem assiste a Vertigo, com todo um ritmo bem estruturado, encaminha sua obra para um resultado improvável.

Hitchkock era antes de tudo "O Mestre do suspense", suspense esse que ao fazermos uma analogia com o que se faz atualmente, difere muito, era um suspense mais psicológico, sem essa coisa de suspense/terror explícito. Nesse "Um Corpo que cai", o suspense acompanha a investigação de Scottie (James Stewart), um ex-detetive de polícia de São Francisco, aposentado após um acidente ocasionado devido a sua vertigem, seu terrível medo de altura. Mesmo assim, Scottie é convidado por Gavin Elster (Tom Helmore), que estava preocupado com as atividades de sua esposa, Madeleine (Kim Novak). O que aparentemente seria mais uma atividade feita por Scottie para um amigo, revelar-seá algo intenso, envolvendo amor e incríveis descobertas.

James Stewart, como Scottie, tem uma atuação exemplar, firme, sem exageiros, é o personagem mais denso da trama, é aquele que mesmo diante de um terrível medo - sua vertigem - não desiste, é também um homem de princípios. Stewart, consorte, utiliza de todo seu potencial nas fases do filme.

A bela Kim Novak, que interpreta Madeleine Elster e Judy Barton apesar de boa atriz, não firmou em sua carreira com bons filmes, e exceto sua consistente participação em Um Corpo que Cai, não há o que ressaltar em sua filmografia. Em "Um Corpo que Cai", ela é mais uma "loura gelada" dos filmes de Hitch, é uma personagem que se constrói durante o filme, constrói também sua reputação com quem assiste, é uma personagem que é julgada durante o filme, e também após por nós, passiveis de enteder, ou não suas atitudes na trama.

O filme respira em torno desses dois personagens, Scottie, o agente que irá perseguir Madeleine, todos os outros coadjuvantes tem papéis rasos, embora desisivos. O grande aquém, e personagem relativamente pouco explorado, principalmente na segunda fase do filme, o que poderia deixá-lo mais complexo ainda, é Midge, interpretada pela aguada Barbara Bel Geddes, que se mostra bem limitada em um personagem que não carece de muito esforço interpretativo.

O grande destaque do filme, todavia, é a construção das situações geridas com maestria pelas hábeis mãos de Hitch, tanto em passar quase 15 minutos no puro silêncio da perseguição de Scottie a Madeleine, quanto no romance que surge durante a trama, mas principalmete, nos momentos decisivos, Hitchcock mostra o porque de segurar tanto nossa atenção, nos revelando a verdadeira face dos personagens.

Resalve-se também, a belíssima Direção de Arte, que explora tanto os ambientes urbanos de São Francisco, quanto locais como um cemitério por trás de Igreja, ou uma bela localidade espanhola nos arredores da cidade. E claro, a línda imagem da ponte de São Francisco sob o seu resplandescente é algo impagável.

Concluindo, trata-se de um bom filme, bem intenso, piamente calculado, e trabalhado para seu climax. Com já seus 50 anos, o que muita coisa, "Um Corpo que Cai" continua sendo um filme que segura o especador até o fim, encanta pelo seu romance sutil, e surpreende pela complexidade da trama e de seus personagens.

Críticas

Katyn

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Indicado ao Oscar 2008 de melhor filme estrangeiro, essa produção polonesa descreve em relatos fragmentados o terrível massacre ocorrido na floresta aos arredores de Katyn, em que foram mortos de 15 a 22 mil poloneses, em grande parte oficiais poloneses, em 1940.

Prá quem nunca ouviu falar desse relato histórico, o diretor Andrzej Wajda procura manter a dúvida até as cenas finais, sobre quem teriam sido os assassinos: Os alemães? Tudo leva a crer, pois o método de execução nazista da SS era dar tiros na cabeça do adversário.

Os corpos só foram encontrados em 1943, dando início a partir daí de a busca de quem seria a culpa desse grande massacre, onde até a Cruz vermelha participa massivamente em busca de repostas, exumando cadáveres e colhendo provas de documentos e objetos pessoais das vítimas. Sem pressa, Wajda vai desenvolvendo seus personagens em meio à busca de respostas e de suas dores pela inesperada notícia do acontecimento. Alguns só querem enterrar seus mortos, outros resistem em aceitar a atrocidade, alguns culpam o próprio Estado polonês de encobrir a verdade do que teria realmente acontecido.

Como um quebra-cabeça que vai sendo montado, as peças finalmente vão se encaixando e ao completá-lo, ficamos conhecendo o que realmente se passou naquele trágico dia na floresta dos arredores de Katyn, numa das sequências mais fortes que o cinema moderno mostrou nos últimos anos. Não é poupado nenhum detalhe, tudo é finalmente esclarecido.

O filme mostra claramente que o crime não ocorreu somente em Katyn, mas depois também, na omissão da verdade, onde os parentes das vítimas não tinham direito de saber quem eram os culpados, mesmo que o mal já havia sido feito.

Há cenas memoráveis, entre elas:

Um oficial aparece na casa de uma mulher que está sempre em busca de notícias de seu marido, ele diz estar levando conservas, mas logo descobrimos qual o seu verdadeiro papel ali. Esse mesmo oficial acaba sendo posteriormente um dos personagens mais dramáticos de todo o filme.

Uma mulher vende seus cabelos prá comprar uma lápide em memória do irmão morto, mas a Igreja nega o pedido, sob pressão, pois o padre dali havia sido "levado" no dia anterior, o que a faz perceber que a partir daquele momento ela será mais uma vítima dos opressores.

Um jovem que teve seu pai morto, rasga um cartaz de propaganda de guerra e se refugia com uma jovem recém conhecida pelos telhados da cidade, ele marca um encontro no cinema pro dia seguinte, mas nada o faria crer que tudo acabaria em fatalidade.

Porém, o que é mais memorável é a revelação dos culpados, todo o cinismo em se esconder algo de propoções gigantescas como se aquilo tudo pudesse ficar mesmo oculto prá sempre.

Como Roman Polanski desmacarou um pedaço do drama vivido pelos poloneses durante a Segunda Guerra, centrando-se na história real do pianista Wladyslaw Szpilman e sua luta prá sair vivo de todo aquele terror, o diretor polonês Andrzej Wajda desenterra outra história trágica envolvendo aquele povo.

Um filme a ser visto e estudado, somando-se a inúmeras outras produções que não se inquietam em mostrar os horrores do Holocausto.

Críticas

Curioso Caso de Benjamin Button, O

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"Meu nome é Benjamin, Benjamin Button, e eu nasci em circunstâncias incomuns...".

Depois de muita porrada em "Clube da Luta" (1999), de uma aventura espacial com um alien babão em "Alien 3"(1992) e de assassinatos seriais em "Se7en" (1995) e "Zodíaco" (2007), David Fincher retornou recentemente com uma obra fabulosa e dramática, "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), claramente diferente dos seus filmes anteriores.

Diferente pois aqui não vemos violência e suspense. Não. Vemos, nesta duradoura obra que ostenta quase três horas de duração, um "conto de fadas" que mistura drama, reflexão, mensagens, amor e uma leve pitada de comédia. Também vemos efeitos especiais maravilhosos, como o rosto de Brad Pitt velho, adulto e novo. Há, sim, clichês e defeitos, como o fato da história ser narrada em um diário e de se passar em tempo real, do furacão Katrina. Mas o saldo final é positivo, e os clichês devem ser deixados de lado.

Brad Pitt retorna à atuação sob a direção de David Fincher pela terceira vez. Aqui, ele interpreta Benjamin Button, um homem que curiosamente nasceu "velho", com cataratas, cegueira, rugas, pouca flexibilidade de pele, e doenças comuns em idosos. Tão horrível era sua aparência quando bebê que seu pai não quis ficar com ele, e o largou aos pés de uma escada de um asilo, junto com míseros 18 dólares. Para os médicos, o pobre bebê estava destinado a morrer com poucos dias de vida. Mas ocorreu o contrário: Benjamin aos poucos foi rejuvenescendo, envelhecendo ao contrário. Todos ganham novas rugas com o passar dos dias, menos ele.

E o filme também vai andando, criando várias "subtramas" ao longo da projeção, dividindo assim o filme em quatro partes. Uma dessas subtramas é a personagem Daisy, que Benjamin conhece no asilo em sua "infância-terceira idade". Ambos se identificam de cara. Mas aí Benjamin cresce, e tem de partir. À pedidos da amiga, ele manda, ao menos, um postal de cada lugar que vai, mantendo uma amizade a distância.

Hilárias são as situações desta primeira parte da trama. A inocência típica de crianças e velhos em Benjamin é cômica. A sátira na cena da igreja idem. Mas há um destaque para o "velho senhor dos raios", que aparece desde o início, fazendo-nos rir muitas vezes, com sua conversa de "já te contei que fui atingido por um raio sete vezes?", e em seguida aparecendo um flash-back em preto e branco de seus tempos joviais, sendo atingido por um raio em diferentes situações. Impossível não rir.

Porém, o tempo passa. As nossas gargalhadas que antes ecoavam na sala de projeção agora são substituídas por risadas tímidas e sorrisos, pois entra em cena o drama e o amor.

Benjamin trabalha em um navio, ao mesmo tempo em que se envolve secretamente com Elizabeth Abbott (Tilda Swindon) em um hotel, nos proporcionando várias cenas romanticas e pervertidas. Mas subitamente este caso amoroso termina quando Elizabeth se manda do hotel. Não demora muito para esta segunda parte do filme encerrar-se, pois chega a Segunda Guerra, e Benjamin deixa de trabalhar no navio, que fora atacado.

A comédia, até então, já estava mais ausente. Agora, entrando a terceira parte, a comédia some e dá lugar para o drama e o amor. Chamemos esta parte de... "Daisy".

Enfim, Cate Blanchett! Demorou, mas chegou. Sim, sua personagem estava desde o início: a ruivinha bonitinha do asilo, amiga de Benjamin em sua infância. Porém, Blanchett só aparece após uma hora e tantos minutos de projeção. Ela é agora uma talentosa bailarina. Temos Pitt e Cate contracenando, com muita química e simpatia. Atuações adoráveis.

No primeiro encontro da dupla, Daisy tentou, sem sucesso, seduzir Benjamin. A diferença de aparências ainda era grande: ela com vinte anos e ele aparentando sessenta. Com a recusa de Benjamin, Daisy frustra-se. Consequentemente, nós também, pois, quando finalmente parecia que veríamos as cenas amorosas, aquilo acontece.

Com algumas reviravoltas, Cate arrepende-se de ter respondido tão bruscamente Benjamin e agora vai à sua procura. E, de uma vez por todas, o amor entra em ação. É inegável a química entre o casal. Tudo está nas mil maravilhas. Diante de namoros, Cate engravida, e constituem família. Uma vida normal.

...Normal?

Mesmo tendo nascido velho e rejuvenscendo com o passar dos anos, Benjamin não pode escapar do tempo, e a situação começa a piorar. Como seria ter um marido que, há alguns anos, tornaria-se um adolescente, e posteriormente uma criança? Como seria para a mulher ter de cuidá-lo e cuidar do bebê ao mesmo tempo? A situação se inverteu. Antes, Cate era uma garotinha e Benjamin um velho. E agora, Benjamin está perto da juventude, e Cate aderindo inconvenientes cabelos grisalhos e rugas. A relação teve de ser cortada.

Percebemos então, na quarta e última parte, perto do fim, que há um outro personagem, vital para "O Curioso Caso...", e que estava presente desde o início: O tempo. Ninguém escapa ao tempo. Nada dura para sempre. Não há como voltar atrás. Temos de aceitá-lo. E Benjamin Button também.

"Você pode ser tão louco como um cão raivoso com o rumo que as coisas tomaram. Você pode jurar, maldição ao destino, mas quando ele chega ao fim, você tem que aceitar."

Com muitos efeitos especiais e um tema interessante, recheado de qualidades, "O Curioso Caso..." encerra-se repleto das mensagens e reflexões, capazes de fazerem lágrimas escorrerem no rosto de quem assiste. O relógio que corre ao contrário foi ideal para o desfecho, uma referência à vida de Benjamin. Os clichês são ignorados diante da riqueza desta obra. David Fincher soube dirigir seu filme com delicadeza e precisão, firmando-se como um dos grandes diretores da atualidade. Acertou no suspense, na ação, e recentemente... no drama.

Críticas

Frost/Nixon

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O que poderia ser um amontoado de falácias políticas imbuidas de cansativos jogos patrióticos, acaba sendo habilmente orquestrado por Ron Howard, que faz do filme uma sagaz luta onde um episódio político americano é pano de fundo para um caloroso duelo retórico. O galês Michael Sheen toma o filme pra si e se mostra um dos grandes atores saídos do Reino Unido atualmente. Frank Langela não fica por menso e entrega ao espectador um personagem complexo, às vezes atraente, às vezes um inescrupuloso presidente capaz de tudo pra se manter no poder.

O interessante é que Ron Howard acaba julgando seus personagens como mero espectador, embora o filme caminhe para que Nixon, literalmente, escorregue e assuma suas besteiras, Howard faz desse propósito algo difícil, quase impossível nas mãos do reporter-playboy Frost. Howard nos joga naquele mundo, nos bastidores daquele feito político de Frost: fazer com que o presidente que a três anos tinha renunciado devido a inumeros escândalos envolvendo seu governo. Um marco no Jornalismo que é transformado em um interessante duelo.

Michael Sheen a pouco interpretara Tony Blair em a Rainha, pouco reconhecido pelo seu ótimo trabalho, o ator chega com a convicente atuação como David Frost e acaba por ser esquecido, mais uma vez, pelo Oscar, isso considerando seu personagem enquanto coadjuvante da figura maior a ser julgada, o ex-presidente Nixon.

Frank Langella faz o papel de sua vida e embora mais magro e menos antipático que o verdadeiro Nixon, consegue impor ótimos gestos, na maneira correta, no momento exato. É um papel seguro, mais que poderia o deixar longe do real personagem caso a atuação de Langella fosse marcada por exageiros.

Tecnicamente o destaque da película fica por conta da bem trabalhada Edição, que realmente dita o ritmo do filme, não o deixando cansativo, muito pelo contrário. Uma Trilha Sonora bem colocada, que serve pra aumentar o tom de suspense que beira certas cenas.

Se a entrevista original já compõe um interessante quadro de análise para estudantes de política, sociólogos, juristas, etc, esse filme de Ron Howard não fica por menos, deglutina a uma parcela do público - é, de fato, necessário um conhecimento prévio sobre os acontecimentos, ao meu ver - uma intricada entrevista onde um dos personagens principais da política americana no período da Guerra Fria é julgado, por Frost e por você.

Críticas

Milk - A Voz da Igualdade

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Gus Van Sant explora de maneira convencional um duro período de afirmação dos direitos dos gays na sociedade, ao mesmo tempo que reitera o tom de luta pela causa. Sean Pean mostra-se seguro e sagaz em um papel que poderia-o jogar no puro lugar comum ou caricaturá-lo ao extremo. Sobra emoção, embora o filme se preze mais ao tom de homenagem, sem colocar algo de novo no circuíto.

Vencedor do Oscar de Roteiro Original, Milk - A Voz da Igualdade basicamente difere bastante da possibilidade de inovações presentes na categoria de Roteiro Original. Visto talvez como o "melhor" entre os candidatos, talvez tenha sido este o real motivo de seu prêmio.

A Direção de Gus Van Sant, tido como um diretor de filmes "alternativos", mas bem premiados, principalmente fora dos EUA, é segura, ele sabe exatamente o que qeur, pra que caminhos levar seu filme, muito embora tirando o caráter moral do filme sua condução pode ser considerada das mais fáceis das que concorreram ao Oscar - talvez as que realmente mais me encantaram foram Boyle e Ron Howard, justo por causa da dificuldade em transmitirem a idéia de seus filmes.

Milk é um bom filme de se assistir, são personagem sociais densos, Gus Van Sant tratou de explorá-los substancialmente nesse sentido, de maneira que o Harvey Milk pessoa é bem explorado apenas no início da trama. O que mais importa ali não é a figura Milk, mas o que ele, junto com seus correligionários lutam, a mensagem em prol dos direitos da causa gay àquela época.

As atuações do filme precisavam do apoio de atores relevantes, seguros do que poderiam tirar dos seus papéis. Nesse sentido, o trabalho de Sean Pean no filme o lança a um patamar a muito trilhado em sua carreira, repleta de atuações seguras. Outro destaque fica por conta de James Franco, jovem conhecido dos filmes do Homen Aranha - o filho do Duende Verde. Em uma atuação segura, ele rouba certas cenas pra si, equiparando-se ao protagonista, Pean, em segurança, um nome sem dúvidas esquecido no Oscar. Por seu turno, Josh Brolin mostra-se um ator limiado em um personagem confuso, excetuando-se um cena em que ele está alcolizado, vê-se uma atuação apagada de um ator que carece de muito ainda pra provar. O outro destaque fica pelo interessante ator Diego Luna, mexicano que emerge no cenário de filmes menos badalados.

Tecnicamente o filme prima pela boa ambientação. Vemos uma bela Fotografia de época, boa Trilha Sonora, além de um interessante apuro na escolha de figurinos.

De ritmo tradicional, Milk escorrega em uma correria política presente no meio do filme que o torna meio repetitivo. Inegávelmente, por outro lado, é a presença da personalidade de Harvey Milk, lider carismático e decidido, humano, ao menos essa foi a intensão passada por Gus Van Sant em um filme interessante de se ver. Recomadado.

Críticas

Mulher Faz o Homem, A

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Frank Capra mais uma vez traz uma história fantástica que tem como pano de fundo a denúncia contra a injustiça e em prol da preservação da lealdade política, da verdade e, acima de tudo, da honestidade.

Jefferson Smith, interpetado pelo brilhante James Stewart (de quem falarei depois), é um sujeito que veio de raízes humildes e sai de Jackson City, uma cidade pequena, para assumir o posto de um senador que acabara de morrer. Nessa cidade, ele é o chefe dos escoteiros e por isso tem apoio das crianças. Graças a esse auxílio, Hubert Hopper (Guy Kibbee) que já estava em dúvida na escolha de quem assumiria o lugar do senador, acaba sendo estimulado por seus filhos (em uma cena realmente sensacional) para decidir por Smith.

Smith é um indivíduo inocente e que acaba recebendo apoio de senadores corruptos, como Joseph Harrison Paine (o inesquecível Claude Rains, de "Casablanca"), por sua popularidade e por causa de uma antiga amizade que Paine havia tido com seu pai. No entanto, essa inexperiência faz com que ele passe por situações de constrangimento público e de vergonha perante os demais senadores, que chegam a desacreditar de seu potencial. Até que ele planeja o desenvolvimento de um projeto, no qual seria a criação de um acampamento para jovens, e recebe os préstimos de sua secretária Clarissa Saunders (Jean Arthur, que já havia trabalhado com Stewart em "Do Mundo Nada se Leva"). Ao apresentá-lo para o Senado, Paine já articula o afastamento de Smith, pois o acampamento atingiria as terras que seriam utilizadas na construção de uma represa para Jim Taylor (Edward Arnold), que prometia pagar altas propinas a Paine em troca do possível desvio e represamento das águas de Willet Creek.

Passado algum tempo, Taylor lança em mãos do Senado provas falsas e não contundentes sobre Smith. No entanto, ao contrário do que todos pensavam, o jovem senador decide lutar contra toda essa imoralidade, por mais que em um momento queira desistir, o que não vai ao fim graças a Sra. Saunders - é aí que "A Mulher Faz o Homem".

Com Saunders ao seu lado, o guiando para tomar as atitudes corretas, em sua última oportunidade ainda com o direito de se pronunciar no Senado ele decide ir até o fim pela justiça. Passa incansáveis horas debatendo, lendo a Consituição Americana e defendendo a sua causa. Ainda que a imprensa fosse controlada pelos poderosos, Saunders chega a propor uma estratégia para que o povo de Jackson City saiba a verdade, o que no fim acaba sendo frustrado. Diante disso, após quase um dia falando em sessão no Senado, Paine apela para a chantagem emocional e o coloca perante cartas supostamente vindas de sua cidade natal e que demonstravam descontentamento da população - aquilo era uma farsa. Jeff Smith, cansado, não aguenta mais e acaba desmaiando. A partir disso, Paine, com a consciência pesada por fim acaba admitindo seus erros.

Realmente é preciso contar a história para analisá-la melhor. "A Mulher Faz um Homem" retrata algo que está presente na vida política de diversos páises e que pareça nunca se findar - a corrupção. Jefferson Smith é um exemplo de um político que parece que nunca existiu e que se existiu, não deixaram que pudesse fazer justiça. É ainda mais revoltante admitir que, na nação brasileira, talvez nunca tivemos a oportunidade de ver alguém como ele. Pelo contrário, a política sempre esteve infestada de Paines por todos os cantos. É isso que é mais precioso nessa obra-prima de Capra, fazer com que sonhamos e esperamos eternamente por um Jefferson Smith e, por esse motivo, torçamos pelo seu triunfo.

A escolha do ator foi perfeita. James Stewart, um dos maiores atores de todos os tempos, realmente dá uma performance que poucas vezes pôde ser vista no cinema. Observamos, ainda jovem, sua competência, tão revelada mais tarde com longas como "Núpcias de Escândalo" (no qual ganhou o Oscar de Melhor Ator), "A Felicidade Não se Compra", "Janela Indiscreta", "Um Corpo que Cai" e "Anatomia de um Crime". Indicado ao Oscar por esse papel, não levou a estatueta aquela vez por possuir concorrentes de peso naquela noite: Clark Gable por Rhett Butler, de "E o Vento Levou"; Laurence Olivier por "O Morro dos Ventos Uivantes"; Robert Donat por "Adeus, Mr. Chips" - este último levou o prêmio, estranho que parecia ser o menos cotado para o prêmio.

Frank Capra se consolida outra vez como um dos maiores cineastas de todos os tempos, por sempre nos trazer filmes que tentem incentivar os valores morais que parecem perdidos na sociedade.

Uma última declaração: " Queremos Jefferson Smith para presidente!!"

Críticas

Entre os Muros da Escola

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Um filme não-linear e realista, porém superestimado e cansativo.

Entre os Muros da Escola foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes ano passado, o filme conta a história do cotidiano de uma escola francesa. Uma escola típica, como outra qualquer, onde a indisciplina beira ao caos e os alunos tomam conta das aulas da maneira que bem entendem. Se "Entre Les Murs" for visto desta maneira pode ser considerado um filme pretencioso, realista e um misto de documentário e doses extras de tarja preta. O filme também pode ser interpretado por muitos como uma obra-prima do cinema atual francês, onde a realidade tem prioridade máxima e o bom gosto do diferenciado roteiro beira à perfeição. Foi com este pensamento que fui levado à sala de cinema onde o longa de Laurent Cantet estava sendo exibido e para meu azar e puro desprazer, encontrei como resultado um filme cujas objetividades explícitas ficaram frias e um tanto distantes do espectador, revelando-se um roteiro livremente inspirado na obra de François Bégaudeau (ao qual o livro se fez completamente desnecessário), tornando um retrato fabuloso em seu íntimo a respeito das diversidades cosmopolitanas da França do século XXI e todas as diversas culturas que lá encontramos.

Em seu todo, podemos concluir que bastaria alguém colocar uma câmera dentro de uma sala de aula e filmar tudo o que ocorre lá dentro. A impressão que passa, é que tudo naquela escola é desordeiro e por mais árduo que seja o trabalhos dos esforçados e pobre-coitados dos professores, hoje em dia a educação não é mais a mesma, a partir do momento que você possua um conhecimento prévio a cerca do que a escola representou nas décadas passadas. Durante todo o longa parece que o espectador é mais um dos presentes em uma reunião de professores no final do dia, cansativa e penosa.

Mas muito bem, apesar dos apesares, o filme não é uma catástrofe por completo, felizmente ainda restam vestígios de Cantet quando o mesmo dirigiu e escreveu A Agenda. Por mais que seja difícil acompanhar este filme, o diretor francês se mostra um cineasta sem maneirismos e com apelo objetivo muito maior que alguém poderia supor. Sua mente pode ser inteligente o bastante para criar algo criativo, mas que no todo não satisfaz alguém psicologicamente despreparado para mais de duas horas sentado em uma cadeira, que mal sabia ter que encarar uma aula de francês com legendas em português.

Em um outro lado, talvez o melhor de "The Class", é que o filme mostra com muita facilidade (e um dos momentos que mais rendem lucros ao diretor) o choque de culturas que a França mostra a face com muita veracidade, seguindo uma linha tênue. Africanos, árabes e franceses deshonrados convivendo diariamente dentro de uma sala de aula pareceria algo muito superficial alguns anos atrás, mas para os dias de hoje tudo isso é perfeitamente explicado pelos grandes contrastes que o mundo presencia e causa todos os dias. Antes fossem somente os preconceitos, Entre os Muros da Escola faz jus ao título original (praticamente o mesmo). Nunca se viu a França toda reunida dentro de uma pequena e desorganizada sala de aula, todos convivendo com/sem harmonia e demonstrando todos os seus pontos de vista. O único porém deste retrato bastante fiel, é justamente o "bastante", sendo o filme fiel até demais a uma sala de aula, tornando tudo árduo de ser assistido. Afinal de contas, a escola é um lugar que no fundo todos tivemos de frequentar e todo mundo está cansado de saber que nem sempre é agradável acompanhar uma aula, sendo, como eu disse, essa a pura sensação ao ver o filme francês.

E em termos narrativos, muita falação. Falação demais eu diria, sem saber nunca do lugar-comum, ao não ser em cenas onde o contraste de culturas é perfeitamente explícito. Diálogos rápidos e confusos nos mostram exatamente o trabalho de professores de escolas públicas (bem diferente da realidade brasileira), que parecem querer nos envolver nas suas próprias discussões. E resta a pergunta: será que se Cantet e Robin Capillo tivessem adaptado de maneira fiel o livro de Bégaudeau, o resultado seria melhor, ainda mantendo o mesmo diagnóstico de culturas? Talvez, mas para quem não leu o livro como eu, fica difícil opinar, portanto vou me abster a falar do roteiro um pouco mais. Na verdade um roteiro mais parecido com um esboço, porque boa parte dos diálogos parecem ter sido improvisados tamanha a veracidade nas entonações, e realmente foram. Está mais para uma gravação de um ensaio dramático, mas veio a calhar, uma vez que as interpretações (ou transposições) seguiram a linha do "bom, ok".

E falando nelas, eis outro ponto interessante do filme. Todos os "atores" interpretam eles mesmos, literalmente. O professor François (o próprio escritor do livro) e os alunos, todos têm o mesmo nome da vida real e isso certamente ajudou para a sensação do realismo. Ou seja, não existem atores, a partir do nome propriamente ditos, e sim talvez aspirantes a atores, que executam o seus respectivos papéis de maneira correta, sem grandes momentos, mas sem dúvida, um dos trunfos do filme e mérito do modo de filmar de Cantet, o elenco.

Enfim, "Entre Les Murs" é um filme um pouco abaixo do mediano, pois se torna extremamente penoso acompanhá-lo até onde a Palma de Ouro e a indicação ao Oscar lhe fariam merecer. Sem seguir uma linha linear de enredo, o filme acabou sendo mais uma vítima do senso comum. Extremamente bem idealizado, mas nem tão bem executado.

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