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Críticas

Estômago

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[Uma grata surpresa, Estômago é a história de um retirante que usa a culinária como fonte de sobrevivência ]

Você é aquilo que você come. A velha máxima não poderia se enquadrar melhor em Estômago, uma co-produção Brasil/Itália que em vários aspectos se revelou uma grata surpresa. Primeiro pelo debut convincente do diretor Marcos Jorge. Para uma principiante, o cara mandou muito vem. Outra virtude foi a capacidade que o ator João Miguel teve para guiar de quadro a quadro o seu personagem. Com o mesmo timming cômico que interpretou o retirante de Cinemas, Aspirinas e Urubus, o ator compõe novamente a figura de um aventureiro largado a própria sorte. Mas seu teste de sobrevivência aqui é outro. Ou melhor, duplo.

A biografia do protagonista Raimundo Nonato é dividida em dois segmentos. Tudo começa com sua chegada a São Paulo, direto da Paraíba. Sem dinheiro, sem estudo, sem moradia, ele chega de mansinho até uma lanchonete largada às traças. Após comer duas coxinhas ele é barrado pelo proprietário do estabelecimento quando tenta sair sem pagar. Como castigo, é aplicado a ele a velha punição de lavar os pratos. Acontece que Nonato acaba ficando na lanchonete. Mesmo explorado pelo dono do bar, ele passa a trabalhar na cozinha, onde descobre ter dotes culinários acima da média.

Em pouco tempo as coxinhas de Nonato viram a sensação da redondeza. Curioso, o dono de um restaurante italiano vai até lá e acaba levando o cozinheiro pra trabalhar com ele. Com o gourmet Giovanni (Carlo Briani), ele aprende que o filé mignon está para a carne assim como a bunda está para a mulher. Mas esse é apenas um dos cenários da história de Nonato. Um flashback, na verdade.

O outro submundo é dentro da cadeia onde o cozinheiro cumpre pena. Só saberemos o motivo do crime lá no final. Embora ele queira que seu apelido seja “Nonato Canivete”, os colegas de cela passam a chamá-lo de “Alecrim”, um dos temperos que ele usa para transformar a lavagem servida pelos carcereiros em pratos deliciosos. Lá dentro, Nonato logo descobre que seu dom pode ajudá-lo a subir na hierarquia dos presos. O líder da cadeia é o criminoso Bujiú (Babu Santana), influente o suficiente para conseguir os temperos para Nonato, mas burro o bastante para desprezar o processo criativo das iguarias do cozinheiro.

O elo entre as duas situações distintas vividas por Nonato é Íria (Fabiula Nascimento), prostituta com um coração que só não é maior do que o seu estômago. Não há dúvidas que a inserção dela na história tem o dedo de um produtor italiano, inspirado nas comédias de Mario Moniceli e Marco Ferreti. Íria vive relacionamento inusitado com o cozinheiro, onde sexo e comida são usados como barganha.

Entre a vida na prisão intercalada pelos flashbacks no restaurante italiano, João Miguel mistura a ambigüidade do personagem com uma leveza cômica que o eleva ao status de anti-herói. Mérito que não por acaso, lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival do Rio. A riqueza do personagem de João Miguel é traduzida em vários momentos, como na abertura do filme, onde ele conta aos presos sobre a origem do queijo gorgonzola na Itália ( “que fica ao lado dos Estados Unidos”) ou quando questiona o gourmet sobre os cortes de carne. Situações que elucidam um sujeito de formação defeituosa, na linha tênue entre ser um gênio e um pária.

Mesmo com virtudes evidenciadas e um personagem que é pura empatia, Estômago tem lá os seus deslizes, principalmente do meio pro final. O próprio mistério suscitado no começo do filme não causa grande impacto quando é revelado, mesmo que não fosse essa a intenção do diretor. De toda forma não dá pra negar que se trata de uma produção nacional acima da média. Em certos momentos, o filme soa como um prato indigesto, mas pode ser visto por gente de qualquer estômago. E sem azia.

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Críticas

Acossado

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"Se não gosta do mar, se não gosta da montanha e se não gosta da cidade, então que o diabo te carregue"

O que esta frase tem de engraçada(ainda mais pronunciada por Jean Paul) ela têm de verdadeira em sua filosofia.

Se você vive reclamando de tudo que existe e nunca elogia nada que está ao seu redor, ou cinceramente não vê nada de bom no mundo, que você vá pro diabo que te carregue mesmo,é o mínimo que uma pessoa que pensa isso do que está ao seu redor merece, o mínimo! Acorde e e dê uma olhada no sol, porque que você não simplesmente só o olhe por ele está ali, do que só quere olhá-lo quando está surgindo ou indo. Ninguém agradece o sol, ou fica feliz dele estar ali, a tarde toda, iluminando cada passo que eu ou você dá na rua. Ele está, e sempre esteve ou sempre vai estar ali, mas como as pessoas a nossa volta nós só a damos valor quando fazem algo ou que nos emocione, como nascer, ou que nos deixe um vazio como ir embora, como o sol. Nós so damos valor quando elas morrem. Nós só choramos em enterros porque vemos o tanto que nós não demos importância à pessoa que morreu enquanto ela estava presente. Nós não choramos pela perda. Todos sabemos que vamos morrer, e então nos preparamos durante a vida toda. Mas como quase todos nós, só choramos por não ter feito o que realmente devia ter sido feito por menos importante que a pessoa fosse no mundo: amá-las. O que tambpém não fazemos com o Sol,e acredito que percebemos o quão importante o a luz do sol é na nossas vidas quando estamos certos de nossas mortes.

À bout de souffle, 1960

Pra quê esse pequeno texto acima?

Pra te trazer envolto ao mundo do que é À bout de souffle. Não é algo que seja fácil de entender. Mas é algo que seja fácil de sentir e se emocionar. Eu particularmente não acho o texto acima muito fácil de se compreender, mas se lido com carinho e atenção traz algo pra dentro da gente, uma espécie de sentimento mesmo. À bout de souffle é isso. Como a maioria dos filmes de seu diretor(mais a frente) não é fácil de se entender, mas absurdamente fácil de sentir.

Foi a estréia de um bom e jovem crítico de cinema na direção.

1.não parece ser estréia.

2.não parece ser jovem.

3.é sim,muito bom.

Jean-Luc Godard escrevia para a revista "Cahiers du Cinema".Junto com vários outros jovens críticos que se tornariam grandiosos e famosos, dois deles chegando a ajudá-lo na produção desse longa.

O que me faz pensar que não parecia extrai? Simples, o fato de tudo ser tão autorau quanto a filmes de diretores como Kubrick ou Almodóvar. Mas todo esse autorismo tem uma espécie de nome: nouvelle vague. Um movimento criado por esses jovens dessa revista que basicamente se resumia a "faça um cinema autoral". Que era o contrário de Hollywood na época( e persiste até hoje),em que os EUA se preocupam mais com o dinheiro do que com a qualidade ou se o diretor quer realmente colocar aquilo na tela ou não. Os EUA são capitalistas e globalizadores, o que os torna porcos que sempre pensam de uma forma unificada que condiz com: quanto mais grana,melhor! E para os jovens críticos da Cahiers não importava a bilheteria e sim a satisfação de quem fez ou de quem viu.

E no elenco também estavam jovens decididos a mudar não só o preceito de que cinema era sinônimo de bilheteria mas que também era sinônimo de qualidade e satisfação de quem o fazia.

dois desses jovens eram talentosos ao extremo, o que levou Godard a colocá-los juntos como protagonistas e dupla amorosa no filme de sua estréia. Tão talentosos que Godard os repetiu em uma penca de seus filmes.

Jean-Paul Belmondo - o protagonista perfeito. Sua atuação é assustadora,tanto que entra pro hall das melhores atuações que já vi. Ele cria um homem tão simpático para os mais abertos a bizarrices como também cria um ser repugnante para a platéia "lugar-comum".

Jean Seberg - Linda, atraente, simpática e inteligente , nem precisa dizer o que ela faz com sua personagem.

O resto do elenco também é afiado em todos os momentos que aparecem.

A fotografia é extremamente assustadora e linda. Assusta por ser filmado sem luzes "virtuais" e só a do dia. E o tom preto e branco contribui no resultado final.

O roteiro tem muitas frases maravilhosas e situações originalmente deliciosas de se ver, mas como é Godard, também é modificado, no quesito imagens por suas montagens "malucas" e inventivas vindas da novelle vague.

O que é a vida?

É um filme para se fazer eternas perguntas sobre tudo que existe. Aqui, o protagonista é um ladrão de carros que não sente remorso em matar ou mesmo tirar um carro de um burguês.

Lendo isso pode parecer que nosso protagonista é um tremendo anti-herói como Alex DeLarge de clockwork orange. Mas não é. E não é simplesmente porque Godard faz uma das maiores mágicas do filme se tornarem reais: uma mensagem subliminar em todo o filme aparece mas não nos atinge. Essa mensagem é a de que não existe sociedade existente. Ou inexiste uma sociedade pré-feita. Ele assassina todos os modelos de sociedade ao tornar normal certos tipos de acontecimentos como o roubo de carros e assassinatos. Só que ele não destrói a sociedade de lá, e sim a de cá. Que acaba por adentrar nessa loucura e achar que roubar carros de 5 em 5 minutos seria um ótimo passatempo.

Mas ele não faz isso de maneira obrigatória ou forçada, ele faz isso porque é necessário que agente acostume a essas loucuras, para quando estiverem no ápice sermos acostumados a elas.

Mas o mais importante nessas mensagens não afetadoras é o quão importante é a discussão por de trás do que as precedem, as "não-mensagens". Porque não mensagens? Por que são as discussões diretas que ele nos trás. Ele não quer que viremos ladrões de carros, mas sim que vivamos a vida da forma que nos realmente queremos. Daí as mensagens que nos fazem acostumar ao roubo de carro por exemplo.

O protagonista rouba carros para poder amar. Se não houvesse uma pré-sociedade não será que nós também não faríamos isso ao invés de perder nosso amor por coisas que são pré-criadas e sacaneiam o nosso viver se uma forma que agente só se preocupe ao invés de viver. Ele vive porque não existe sociedade pré-existente pra ele. Ele não se preocupa com a opinião dos outros, o que importa é o que ele é e não o que os outros dizem que ele é.

Ele ama e é o homem mais feliz o mundo por isso. É muito clichê, mas é verdade. Quando realmente se ama, você é mais feliz que tudo existente e não existente, pois o amor é a única coisa que mantÊm as pessoas no mínimo ligadas externamente e felizes sem motivo.

Quando o protagonista cita uma história que saiu de um homem que confessou ter roubado dinheiro so por amor a mulher e ela aceitado esse homem mesmo ele sendo um "novo-delinquente" ele só justifica ainda mais o tanto que o amor é necessário e que fodam-se os que não estão entre "eu e vocÊ". Vivamos e nos divertimos sempre unidos.

Portanto o filme é uma longa discussão sobre o que é vida, ser vivo e viver.

E mesmo nos amamos também podemos levar garndes baques como o personagem central que diz uma frase muito ambíngua sobre muitas coisas qeu o cercam. Porque por melhor e mais gostosa que seja a vida: "você é realmente asquerosa."

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Leitor, O

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Bem interpretado e carregado de conteúdo, O Leitor é mais um bom trabalho de Stephen Daldry.

O diretor inglês Stephen Daldry vem se mostrando excelente naquilo que faz a cada trabalho que realiza. Não que ele tenha feitos muitos, pelo contrário, aliás. ‘O Leitor’ é apenas o terceiro longa da carreira dele, e por esse filme, recebeu sua terceira indicação ao Oscar. Sem dúvida com uma carreira invejável e um talento inegável, ele consegue repetir aquilo que fez com seus últimos trabalhos, os ótimos Billy Elliot e As Horas, com roteiro recheado de melodrama e atuações impagáveis. “The Reader” é mais que um filme sobre nazismo, muito mais eu diria. Esse tema que tanto já ouvimos falar e assistimos no cinema é mais uma vez bem trabalhado nas telonas, mas sem cair em sentimentalismos, por vezes essenciais, mas tratando o assunto com mais profundidade, evitando somente mostrá-los e como a intenção é válida, chocar, conseguir um bom resultado. Apesar desta sua nova fórmula de tratar com assuntos polêmicos, Daldry infelizmente não consegue repetir o feito realizado anteriormente por diretores que abordaram o holocausto, nazismo e Segunda Guerra Mundial como base para seus filmes. É o caso de Steven Spielberg, em sua maior obra-prima A Lista de Schindler e o polonês Roman Polanski por O Pianista. ‘O Leitor’ é apenas um bom filme sobre o assunto, original, bem escrito e interpretado, e acima de tudo com um olhar piedoso, sincero, inteligente e nada de conservador.

Neste ponto, o roteiro acerta em cheio. Escrito por David Hare, indicado ao Oscar pela segunda vez consecutiva, o enredo passa por diversas passagens do tempo, mas todas são coerentes com os acontecimentos e não ocorrem “atropelamentos” entre um ato e outro. Tudo está devidamente encaixado e bem roteirizado, apesar de alguns erros, algumas frases forçadamente desnecessárias e o excesso de melodrama, a narrativa funciona perfeitamente naquilo que o filme de Daldry e a adaptação do livro de mesmo nome do autor Bernard Schlink prometiam.

Se as passagens de tempo foram postas em prática de maneira eficiente, infelizmente o mesmo não pode se dizer do trabalho de parte da equipe técnica. Se em As Horas os responsáveis pela maquiagem transformaram Nicole Kidman na própria Virginia Woolf, apesar dos aprimoramentos técnicos, em ‘O Leitor’ tudo está descoordenado, desconexo com a cronologia do roteiro e extremamente artificial. Se muitos acham que Kate Winslet está um pouco nova para o papel de Hanna Schmidt, então todos temos de admitir que David Kross não aparenta nunca ter 15 anos de idade na primeira parte do filme, nem Ralph Fiennes parece ter trinta e poucos anos quando o roteiro já avança para a década de 80. A escolha de atores, desde as suas devidas caracterizações foram motivo para críticas negativas e a má impressão que o filme causou em diversas pessoas. Felizmente, as atuações de praticamente, eu disse “praticamente” todo o elenco compensa a falta de estrutura e lógica da equipe de maquiagem, que deixou todos os personagens com aparências completamente divergentes das que deveriam ter.

As interpretações, por falar nelas, são um dos trunfos mais poderosos do filme. Aqui, vemos Kate Winslet em um excelente desempenho ganhar o Oscar tão almejado por ela. E não foi à toa, sua atuação não é nada mais nada menos que merecedora do prêmio, muito embora e como já foi dita, ela não tenha os aspectos necessários para a sua personagem, nem a sua imagem velha tenha valido a pena, ela compensa todos os furos técnicos e se entrega de corpo e alma em um trabalho que segundo ela mesma disse, “foi o mais difícil de minha carreira”. Acompanhada, David Kross surpreende pela falta de experiência e pelo talento inegável que deixa claro possuir. Sua atuação em “The Reader” supera todas as expectativas, e inclusive em cenas de nudez, o ator se comporta de forma competente e absorta. A participação pequena de Bruno Ganz também foi essencial, uma vez que seu personagem é responsável pelo lado psicológico do roteiro, atraindo a si todas as explicações para o bom entendimento da história enquanto ensina a jovens estudantes de direito. Embora esteja razoável, Fiennes não faz feio, mas também não esboça uma grande atuação que prometia sua carreira ao longo deste ano. Seu personagem consegue passar uma imagem depressiva, ainda mais desoladora daquele que deveria ser o homem assombrado pelas sombras do passado. Faltou talvez um pouco de talento ou manha, ou quem sabe, a falta de orientação tenha sido o agravante.

Fora a maquiagem, a técnica se sai bem. A fotografia acinzentada e por vezes, cheia de vida é essencial para o tom que o filme deve ter e o resultado sai além das expectativas. O trabalho dos cenários também é bem realizado, com locais coloridos, rústicos e bem desenhados.

Mas muito há de se comentar sobre a participação “confusa” do filme no Oscar deste ano. Tratado como coadjuvante, apesar de ter ganhado o Oscar de Melhor Atriz, indo merecidamente para Kate Winslet (nela falarei mais tarde), o filme parece ter sido ignorado pelas massas, que o considerou ruim para estar na lista dos indicados na categoria principal do maior prêmio de cinema do mundo. Ao todo o filme recebeu cinco nomeações, entre elas Melhor Filme, Diretor, Atriz, Roteiro Adaptado e Fotografia.

Enfim, O Leitor é mais um bom filme sobre o nazismo. Embora prejudicado por alguns fatores técnicos, Daldry se vira bem na direção mais uma vez e mostra ser capaz de grandes feitos em sua carreira. Seu filme é sobre tudo, forte, diferente, inteligente e psicológico, extremamente sagaz em algumas cenas, outras passagens parecendo ser verdadeiras bobagens. Porém em seu todo, “The Reader” é bom o suficiente para ser indicado a todos aqueles que curtem um drama envolvente e melodramático, bem dirigido, escrito e marcado como o filme que deu a o Oscar a Kate Winslet.

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Fantástica Fábrica de Chocolate, A

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Meu primeiro comentário não poderia deixar de ser sobre este filme, que até hoje, me encanta.. por diversos fatores.

Inicialmente, o filme pode passar a impressão de prosaico, mal-filmado, com erro de sequência e corte, vide o momento em que a sombra muda de lugar no caminho em que o Willy Wonka faz com sua bengala, para abrir os portões da fábrica..

Contudo, numa segunda descrição, o filme passa a idéia de psicodelia, fortes cores e rapidez de conceitos, todos bem intruncados com a história principal, que é uma seleção para encontrar no meio do mundo todo, uma criança bondosa e que seja capaz de ser o sucessor do próprio Willy Wonka. Só que o que não é trivial, é que o percurso deste processo é marcado por sarcasmo, sinismo e uma genialidade, divinos, vividas pelo dono da fábrica.

Gene Wilder, em sua atuação brilhante, deu vida às frases e induções inteligentes e ácidas.. ao eliminar as crianças, ele não nos concede o direito de saber o que realmente aconteceu.. somos forçados a exercitar a imaginação, o que nos deixa mais intrigados e põe mais mistério no filme. Devemos isso ao próprio Roald Dahl, que criou o roteiro para o filme, a partir de seu livro, homônimo à filmagem. David Seltzer auxiliou Roald nesse processo, mas foi Roald quem deu movimento à sua imaginação.

Willi Wonka era firme, tinha propósitos e arquitetou seu plano com eficiência..

As crianças que encontraram o golden ticket, eram mistas.. cada criança tinha uma característica marcante, reprovada por Willy, e ignorada pelos pais, que incentivavam os comportamentos errados dos filhos.. Willy ensina a moral no filme de que as crianças devem ter bons comportamentos - do tipo, comer moderadamente, não ver tv o tempo todo, não ser mimado, se alimentar corretamente, pois assim, serão merecedoras de algo bom e grandioso.. isso é brilhante, e não é explorado no filme de 2005. Um ídolo infantil que promove o pensar... bom, muito bom.

Os oompa loompas complementam o mistério, já no início, quando um senhor diz ao Charlie, enquanto este 'namora' a frente da fábrica.. : 'Up the airy mountain, down the rushing glen, we dare not go a hunting, for fear of little men! You see, nobody ever goes in and nobody ever comes out!' .. dá medo, mas dá curiosidade também.. ficamos querendo saber quem são esses 'homenzinhos'.. que ao sabermos, apenas sabemos que estão ali.. não existe explicação suficiente.. e isso é ainda mais misterioso e intrigante.

Esse suspense, que dá o benefício da dúvida, que faz pensar, é a meu ver mais interessante e inteligente do que a nova versão do filme, no qual o roteiro não é do Roald Dahl... e sim do John August (Big Fish, um de seus filmes).. não é que ele seja ruim.. ele é bom!! Mas não deu.. ele junto com a direção do Tim Burton, fica aquela coisa.. filme infantil.. aliás, o Tim Burton peca muito pelo senso infantil e de querer explicar tudo no filme.. não deixa espaço pra imaginação..a meu ver.

Ainda destaco as seguintes cenas: quando da entrada da fábrica, momentos em que um corredor se afunila e torna-se pequeno, instantaneamente, me fazendo lembrar de Alice in Wonderland.. Além do que, as melodias são doces e nos trazem um quê de disney das antigas! Quando o Willy Wonka morde uma flozinha de cera no fim da música 'Pure Imagination', provando ser um excelente ator, pois ele achou que a flor era de açúcar, mas ao ver que era de cera, não esboça espanto, e continua comendo a flor.. e finalmente, quando o Willy wonka se mostra furioso no final do filme, para averiguar se de fato Charlie era um bom menino, pois frente à sua ira e injustiça, era factível que uma criança pequena se rebelasse e pegasse o doce para levar ao Slugworth.. mas ele não o fez..

Bem.. pra concluir... é preciso assistir ao filme com a nostalgia de criança, mas com o cerne de maturidade, pra compreender alguns desses momentos magníficos. . é o tipo de filme atemporal, que não funciona se for modernizado, como foi. E o mais engraçado disso tudo, é que um ano antes de anunciarem o remake, comentamos em casa que o filme, se fosse feito novamente, certamente seria pelo Tim Burton, mas não iria ficar nem um décimo do que é o original. Dito e feito.

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Filmefobia

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"A única imagem verdadeira é a de um fóbico diante sua fobia". É por acreditar nesta afirmação que Jean-Claude, diretor de cinema, decide reunir em um longa-metragem o encontro de pessoas com seus maiores medos. Jean-Claude é vivido por Jean-Claude Bernardet, famoso crítico e teórico de cinema, também diretor e ator, num personagem nada distante de sua realidade, já que o nome e até mesmo sua doença, a Aids, ele empresta para o personagem. Somente nesta pequena observação, nota-se que cinema e realidade, ficção e documentário se misturam – e se confundem – em FilmeFobia.

Assistir ao novo filme de Kiko Goifman é um exercício de metalinguagem do início ao fim, que, apesar de seu realizador o intitulá-lo como seu “primeiro longa de ficção”, para o espectador fica uma experiência atípica, difícil de ser definida e até mesmo julgada de imediato. O cinema é desconstruído e os gêneros não estão delimitados, seja pela própria proposta ou pela direção que Goifman emprega: se registra a vida pessoal de Jean-Claude e suas reuniões com os outros realizadores do filme, faz isso com uma linguagem totalmente documental e entrega um registro do pensador de uma obra que, na realidade, não é sua. A questão é que se FilmeFobia tivesse sua direção assinada por Jean-Claude Bernardet tudo seria [um pouco] mais simples e teríamos um documentário como já nos é familiar. Mas Bernardet vive um diretor de cinema realizando o filme que Goifman idealizou. Não é confuso; é interessante.

Então se o registro das cenas é ficcional, as mesmas também não seriam? Ou seja: quando é filmado o indivíduo diante do seu medo, vemos encenação ou realidade? Novamente, as duas vertentes oscilam e o espectador não sabe a qual das duas está assistindo. Nos primeiros momentos, tem-se a impressão que o medo exposto pelas pessoas é verdadeiro – o que, obviamente, torna a experiência bem mais desconfortante -, mas, posteriormente, aquele próprio ato é desmistificado ao vermos Jean-Claude instruindo como a pessoa [que agora já pode ser referida como ator] deve se comportar quando a filmagem começar ou ainda um integrante da equipe borrifando água no rosto de uma atriz a fim de parecer suor. Portanto, se tudo foi teatro, a frase que inicia o texto não foi comprovada e a sensação de sermos enganados nos faz enxergar o filme como uma bobagem completa.

Mas tudo poderia ter sido mera encenação desde o início e não saberíamos caso não nos fosse revelado – e talvez o público saísse mais satisfeito do cinema. A proposta de Goifman, porém, não me parece simplesmente confrontar a pessoa diante o seu medo, mas a partir disso jogar com a noção de verdade e mentira, criar um falso documentário dentro de um longa de ficção. O filme é irrepreensível nesse ponto.

Há fóbicos reais no filme segundo o diretor. Não sabemos quais, mas alguns momentos, reais ou não, são realmente inquietantes, capazes de atingir o público ainda mais quando seu medo é apresentado. Destaco o momento em que Kiko Goifman se confronta com sua fobia de sangue, o qual parece o mais verdadeiro de todo longa. Em contrapartida, há cenas alegóricas demais, algo reforçado pela direção de arte de Chris Bierrenbach, que investe em maquinarias estilizadas, mas que por vezes beiram o exagero. Jean-Claude percorrendo um set escuro, repleto de sombras, numa espécie de cadeira de rodas motorizada remete diretamente a Jigsaw, serial killer da série Jogos Mortais, algo que a própria estrutura do filme já pode salientar.

Além desse lado um tanto over que FilmeFobia acaba por adquirir, não consigo encontrar outro adjetivo a não ser “ridículo” para classificar pênis de plásticos amarrados sobre carrinhos bate-bate que rodeavam a menina nua, deitada, com fobia de penetração [!] – mais constrangedor é vê-la chorando ao ser posta nessa situação. Outro ponto falho é justamente não justificar determinadas fobias. Medo de cobra e altura, por exemplo, não precisam de maiores explicações, são comuns e auto-explicativos, mas medo de botão de roupa [sim, botão de roupa] é algo que minha natureza não consegue entender. E desta forma, ver um ser humano se contorcer e gritar ao ser bombardeado por esses úteis e minúsculos e inofensivos objetos parece, no mínimo, bizarro. Entender então medo de ralo de banheiro, de cabelo, de celular e do já citado medo de penetração – esse ganha uma justificativa forçada – torna-se inviável, o que acaba prejudicando o resultado final ainda que o papel do espectador seja “contemplar” e não entendê-los.

Vencedor do último Festival de Brasília, levando os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem [Vânia Debs], FilmeFobia precisa ser visto. A experiência de conferir um material diferente de tudo que o cinema brasileiro tem produzido atualmente e, mais que isso, assistir um filme incomum, que fala de si mesmo e de sua própria realização, é válida e muito maior que seus problemas. Foi uma das poucas vezes que participei de um público imóvel em sua poltrona mesmo quando os créditos finais chegavam ao fim.

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Import Export

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[Filme traça um paralelo entre a Europa da decadência e a da prosperidade]

Virou obsessão entre os cineastas europeus mostrar as diferentes realidades sociais que coabitam na União Européia e países adjacentes. Seja através de um recorte histórico (Adeus, Lênin e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias) ou nas diferenças culturais entre países vizinhos (Contra Parede e Do Outro Lado) o pessoal do velho continente gosta de pasteurizar a sua diversidade no cinema. Por diferentes razões, em diferentes abordagens.

Indicado em Cannes a melhor diretor, o austríaco Ulrich Seidl lançou em 2007 uma empreitada chamada Import/Export. Nela, o cineasta coloca em evidência as correntes migratórias entre a estável Europa Ocidental e o ainda famigerado Leste Europeu. Dono de um estilo peculiar, o cineasta usa planos simétricos e bem desenhados para traçar um paralelo entre uma enfermeira ucraniana e um segurança austríaco que nunca se viram e sequer se esbarrarão na história.

O objeto de importação é Olga (Ekateryna Rak), uma daquelas enfermeiras a quem todo marmanjo sonha algum dia ser medicado. Ganhando pouco dinheiro e com salários atrasados, ela se vê obrigada a entrar para pornografia online até conseguir um emprego melhor para sustentar o filho pequeno. A oportunidade aparece na carta de uma amiga que a convida a morar com ela na Áustria, na capital Viena. Lá sobrevive em subempregos, sem perspectiva de crescimento. No hospital de idosos onde trabalha como auxiliar de limpeza, ela é tratada com carinho pelos pacientes, o que a torna alvo de inveja e perseguição por parte de uma colega.

O outro personagem da história é Pauli (Paul Hofmann), um jovem segurança austríaco sem muitas perspectivas de vida. Desempregado após sofrer dura humilhação no trabalho, contrai dívidas e passa a buscar a sorte no metrô onde tenta – sem sucesso – aplicar golpes nos passageiros. Sem muitas opções acaba tendo que trabalhar com seu padrasto em negócios ilegais. Ambos precisam ir de carro até a Ucrânia abastecer casas de aposta com máquinas caça-níqueis. Mesmo a contragosto, Pauli é arrastado pelo padrasto a um submundo de farras, bebedeiras e prostituição.

Com pouca sensibilidade e doses chocantes de nudez hardcore, Ulrich Seidl abdica por vezes de mostrar a realidade social para salientar as obsessões mundanas do homem. Se por um lado há um abismo econômico entre Áustria e Ucrânia, a perversão e as excentricidades dos seus cidadãos estão em par de igualdade. O problema é que o diretor é muito indireto nessas questões e quer entendamos tudo através das imagens. Elas são poderosas, plasticamente falando, mas não se sustentam pela falta de empatia do cineasta com seus personagens. A frieza proposital do roteiro torna o filme verossímil, mas de maneira desagradável. Nem um Deus ex machina tiraria a sensação de impotência criativa que o diretor demonstrou no desfecho. Mas vá lá, filmes de lugares diferentes com culturas diferentes, dificilmente nos pegam de jeito. Aos mais sensíveis, assistir Import/Export pode não ser uma escolha sábia…

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Import Export

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Estreou nesta sexta-feira no circuito brasileiro o longa austríaco "Import Export". Datado de 2007, o filme chega ao Brasil apenas dois anos após ter passado pelas salas europeias e chocado espectadores no concorrido Festival de Cannes e nas mostras de cinema pelo mundo. O diretor Ulrich Seidl, busca aqui, fazer um retrato do atual cenário europeu de forma pessimista e chocante, apelando muitas vezes para o tragicômico - efeito que consegue suavizar algumas cenas. Para se ter uma ideia, na sala de cinema onde eu estava, diversas pessoas se sentiram incomodadas com o teor pesado do longa e foram embora antes mesmo da trama atingir sua metade final.

"Import Export" conta duas histórias paralelas de jovens (uma ucraniana e um austríaco) insatisfeitos com a vida que levam em seus respectivos países. Sem grandes perspectivas, ambos enxergam numa viagem pela europa a chance de tudo mudar completamente. Olga (Ekateryna Rak), nascida na gélida Ucrânia, ex-república soviética, é enfermeira na sua cidade natal; no entanto, a vontade de melhorar de vida faz com que ela se sujeite ao mercado negro da pornografia na internet. Daqui surgem as cenas mais fortes do longa, que em nenhum momento poupa os espectadores das cenas de exibicionismo sexual (nada fica oculto, nada mesmo!). Sem sucesso na empreitada, Olga muda de país, vai para a Áustria - país com qualidade de vida superior à Ucrânia (é daqui que surge o título do filme, que tem nos fluxos migratórios uma de suas vértices principais).

Do outro lado está o jovem Pauli, que faz o caminho oposto de Olga. Ele vive na Áustria, mas a falta de emprego o causa crescente desconforto. Aqui, o diretor austríaco Ulrich Seidl faz uma crítica à própria sociedade de seu país, que, apesar de apresentar uma melhora constante nos índices internacionais de desenvolvimento e qualidade de vida, ainda sofre com os resquícios de uma sociedade hierárquica e destruída pelo sofrido período da Segunda Guerra Mundial. Sem muitas alternativas e devendo dinheiro para colegas, Pauli aceita viajar com seu padrasto - figura da qual reserva certo repúdio -, em um trabalho que envolve o transporte de máquinas de apostas para o leste europeu.

Logo na primeira passagem da dupla, em Kosice, lado leste devastado da Eslováquia, vemos um cotidiano diferente do que estamos acostumados a acompanhar quando o assunto é Europa. Aqui, Seidl faz um retrato muito interessante da pobreza existente no velho continente. Nada de belas imagens e pessoas bonitas, como a TV busca incessantemente nos passar. A realidade dos países frios do leste europeu é bem triste, e lembra em muitos momentos a pobreza que preocupa continentes como África e América do Sul. Para colorir de tristeza a trama, a fotografia em tons frios entra em contato direto com as temperaturas negativas e provoca um efeito nostálgico e melancólico no espectador - o tragicômico viaja ao trágico em cerca de segundos, como na cena em que Olga, já na Áustria, fala ao telefone com sua filha pequena que ficou na Ucrânia.

"Import Export" possui muitos pontos positivos, seja como retrato aberto de uma sociedade caótica ou pelo registro documental de um continente que também sofre as agruras do subdesenvolvimento e o massacre impiedoso das potências capitalistas. Pessimismo e determinismo? É inegável que Ulrich Seidl enxerga o continente europeu sob uma perspectiva totalmente negativa, mas seria ilusório de nossa parte ignorar que ali está o retrato de uma Europa esquecida e menosprezada, e que sim, ela existe e está bem debaixo dos nossos olhos. A pornografia em suas mais variadas formas e tudo de grotesco que se possa imaginar servem apenas como pano de fundo para esse retrato, pois têm o poder de chocar e causar aquele estranhamento meio negativo, meio positivo, que sem dúvida fica na memória e estimula a refletir. Talvez Seidl tenha pecado pelos excessos, pois realmente existem cenas muito fortes e vulgares no longa; no entanto, sem esse teor chocante, "Import Export" seria mais um daqueles filmes que denunciam problemas sociais de uma forma óbvia e bem humorada, só que sem um pingo de originalidade.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Não Amarás

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Krzysztof Kieslowski marcou sua obra pelo pessimismo e pela amargura nos registros da vida e das pessoas. Isso é nítido em algumas de suas obras, como Não Matarás e a trilogia das cores da bandeira francesa. Aqui, com Não Amarás, mais um filme extraído de um episódio série Decálogo, Kieslowski passeia por suas linhas mestras e demonstra como o amor pode destruir um ser humano.

Mas esta é apenas uma das visões que podemos ter ao longo da projeção. De outro lado, pode-se compreender Não Amarás como um filme de amor muito belo, que passeia pelas emoções mais intrínsecas ao ser humano, assim como a descoberta do amor e da paixão.

A história é simples: Tomek é um jovem de 19 anos, órfão, que vive com a mãe de um amigo seu em um prédio de Varsóvia. Ele trabalha em uma agência dos Correios e espiona uma mulher em um prédio vizinho, a bela Magda. Com o passar do tempo, ele acaba se apaixonando por ela e faz de tudo para se aproximar de sua amada, desde deixar avisos postais falsos em sua caixa de correio ou tornar-se leiteiro, para ir todas as manhãs à casa de Magda entregar-lhe o leite. Tomek acaba por revelar sua paixão e Magda acaba conhecendo mais da vida deste jovem, o que terá consequências desgradáveis.

O belíssimo roteiro de Kieslowski e Krzysztof Piesiewicz transita entre o horror do sofrimento amoroso e as descobertas do amor e do sexo. Para isso, o roteiro vale-se de cenas singelas e marcantes, como quando Tomek acaba por tocar as pernas de Magda e, dada a sua inexperiência e retração, acaba por ejacular. Todo o desenrolar da trama após a tragédia que se abate sobre a vida de Magda e Tomek é recheado de emoção. Difícil não deixar uma lágrima escorrer diante da beleza e força das cenas.

Isso é reforçado pelas atuações poderosas de Grazyna Szapolowska, como Magda, a mulher fatal que acaba por seduzir um jovem rapaz, e Olaf Lubaszenko, como Tomek, o rapaz que sofre de uma arrasadora paixão platônica. O retrato desse amor percorre um caminho interessante: seria a fotografia clara do quanto as relações mudaram naquele tempo. Magda é a representação da revolução sexual, da libido, da mulher fatal, do poder que o sexo tomou após 1970. Já Tomek é a resistência, representa as tradições de um país católico e muito firme na posição do sexo como fim de procriação e como algo imoral, dadas as circunstâncias em que ocorrem. O choque dessas representações resulta em fins trágicos, o que se esperaria de um bom católico como é Kieslowski.

Tecnicamente, é um belo filme, bem fotografado, com impecável direção de arte e maquiagem.

Não Amarás é o melhor dos dois filmes extraídos da série Decálogo e é também um dos melhores filmes da obra do diretor polonês. Você pode vê-lo como um filme triste, seco e amargo. Ou pode vê-lo como uma linda história de amor. Faça sua escolha e aproveite esse belo filme.

Críticas

Turistas

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“Após um acidente de ônibus em pleno coração do Brasil, Alex, sua irmã e uma amiga dela, além de vários outros estrangeiros aguardam a chegada de um ônibus substituto. Para minimizar o enfado do aguardo, eles seguem a dica de um transeunte que lhes informa da existência de um local onde podem beber e comer. Seguindo a indicação eles acabam em uma praia paradisíaca , onde encontram um outro casal de estrangeiros em um agradável quiosque. Lá eles se entregam ao prazeres de Baco e da dança. No dia seguinte o casal de estrangeiros some. Dão-se conta que também seus pertences. Ao buscarem ajuda, encontram alguém que os conduz para um centro de um furacão ...”

Antes de se comentar o filme levado às telas algumas considerações. Em primeiro lugar falemos um pouco de seu diretor. Ele trabalhou como ator em Christine – O carro assassino (Dennis Guilder), Nixon(Staffer 1) e Top Gun – Ases indomáveis(Cougar). Como diretor fez “A onda dos sonhos”, “Mergulho radical” e “Gostosa Loucura”. Note-se que dos filmes que dirigiu existe uma certa ligação com os cenários a beira mar.

Em segundo lugar o filme nasceu entre uma parceria de dois pequenos estúdios: o “2929” e o “Stone Village”. Serão socorridos depois com a ajuda financeira e de distribuição da “Fox Atomic”(uma filial da Twentieth Century Fox criada com o intuito de produzir filmes destinados aqueles que são amantes de sensações fortes, nem sempre rebuscadas).

O que assistiremos na tela, como já se pode prever, não primará por ser uma produção bem costurada. O filme sofreu certas dificuldades para ser concluído. O diretor e a sua equipe não tinham certeza que iriam concluir a obra iniciada.

Um dos primeiros personagens que nos é apresentado é o vilão. Sabemos que se trata de um louco. Contudo como em toda as últimas produções do gênero, o louco é nativo do lugar. É um ser que traz em seu bojo, no entanto, o discurso e a prática oriundo de outras plagas (assemelha-se a um cientista tardio de um campo de concentração alemão). Ele arranca os órgãos de suas vítimas para doá-los a um hospital popular do Rio de Janeiro. Ele se vinga dos estrangeiros que vem saquear o Brasil desde o seu descobrimento (ele cita mais precisamente o tráfico de crianças, de mulheres e de órgãos). O médico além de louco é sádico, já que tal pilhagem é realizada com o paciente despertado.

As suas vítimas são preconceituosas. O discurso dos que desfilam na tela é de que aqui é o lugar do pode tudo: “Não existe pecado no lado de baixo do Equador”. Os jovens turistas estão a procura de sexo, drogas e bebidas. Nenhum compromisso que não seja o do hedonismo os anima.

Apesar do tema indigesto o filme não soa arrastado. Isso se deve ao acerto da mistura entre atores estrangeiros e nativos (não que existam grandes performances) que cria a sensação de veracidade necessária. A vulnerabilidade desses turistas se acentua diante da incompreensão da língua, da grandiosidade da Natureza que parece tudo esconder em suas entranhas e uma doentia sensação de que os habitantes se sentem poderosos com a demonstração de fragilidade e da não adaptação dos turistas ao nosso meio. Tal ambientação, consciente ou não acaba por fazer com que o filme marche, sem se tornar cansativo, apesar do sentimento de “déjà vu” que impera em toda tomada.

A primeira parte serve para que o público alvo (os jovens) se identifique com a aventura e com o que desfila na terra (corpos jovens em minúsculos biquínis e, paisagens belíssimas) pronto para ser vivido e sentido. A partir de sua segunda metade o horror se instala. Aqui um dos erros maiores: o vilão é desnudado sem o requinte necessário, sem suspense e surpresas. Apesar disso ele ainda choca. Afinal, o discurso para os estrangeiros soa lógico demais: São eles que se beneficiam com o silêncio do tráfico humano para esses fins. Creio que o filme deve ter recebido criticas benfazejas na Europa devido ao tema que perturba e choca. Sobretudo por sabermos que tal existe e as autoridades fingem não ver.

Um filme como “Turistas” acabara marcando uma época não pelas qualidades, mas por abordar um tema indigesto, ainda que de uma maneira superficial. Deve ter funcionado melhor para o público americano e europeu, pois apesar do discurso político de seu vilão, o que faz com que de fato o filme seja agradável para eles é o fato deles serem as vítimas aqui, ao contrário da realidade. E também por difundir que o bom selvagem (na visão deles) pode ser um lobo disfarçado em cordeiro (Kiko) pronto para se aproveitar do turista incauto.

Em suma um filme cheio de furos, com interpretações sofríveis e que promete mais do que cumpre. Em mãos mais competentes poderia até ter ido mais longe. Mas devido ao tema que perturba e aos cenários magníficos deixa-se ver.

Críticas

Ato de Liberdade, Um

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[Baseado em fatos reais, novo filme de Edward Zwick traz um recorte histórico sobre o Holocausto na Bielorússia]

Enquanto o número de filmes sobre o holocausto não ultrapassar o número de vítimas do incidente, os produtores de cinema continuarão em ritmo acelerado. O filme da semana sobre o assunto é Um Ato de Liberdade, onde Edward Zwick ganha nova oportunidade de aliar boas intenções com cinema de qualidade. Se com Diamante de Sangue o cineasta conseguiu agrupar denúncia social e plasticidade e de quebra arrancar boas atuações do elenco, no seu novo filme ele segue a mesma cartilha ao realizar um recorte sobre o sofrimento de judeus na Bielorússia. E como todo diretor acadêmico que se preze, Zwick repete todas as fórmulas do seu último trabalho, num filme que é perfeccionista demais para ser ruim e ousado de menos para ser acima da média. Mas mediocridade se compensa com boa produção e atores competentes. E nisso, o filme sobra.

Um Ato de Liberdade situa-se nos primeiros anos da 2° Guerra Mundial. Na fronteira entre Polônia e Bielorússia três irmãos encontram-se após os pais serem assassinatos pelo exército alemão que já iniciava a construção de guetos na região. Quando o cerco fecha no povoado, ambos se embrenham na mata fechada com outros civis. O primogênito dos irmãos Bielski, Tuvia (Daniel Craig), faz o tipo moderado e só toma medidas extremas em momentos extremos. Com o apoio do exército russo, se torna líder dos refugiados na selva, que logo se converte num assentamento populoso. Seu contrapeso é o irmão do meio, Zus (Leiv Schreiber). Tomado pelo desejo de vingança, ele acredita que sangue se combate com sangue e acaba recrutado pelos russos para combater na linha de frente. O caçula Asael (Jamie Bell) se espelha nos dois, mas opta por ajudar Tuvia a defender o acampamento.

Na comunidade dos refugiados, existem os mais variados estereótipos. Há o professor convalescente que educa os mais jovens, o cara abusado que açoita as mulheres, o intelectual esnobe, o garoto atormentado pelas valas de corpos vistas na selva e por aí vai. As dificuldades de lidar com esses egos, com a fome e com os ataques das tropas alemãs, dificultam o comando de Tuvia na região. Quando os limites entre a razão e as condições vida subumanas se colidem, explode uma verdadeira luta pela sobrevivência. Situação que se agrava com o desentendimento entre os irmãos Bielski. Nesse sentido, o filme ganha contornos desesperadores em algumas cenas. O ápice se dá na captura de um soldado do exército nazista pelo braço armado da aldeia judia. No desespero, sentimentos como compaixão e resignação se esvaem até aos mais decentes seres humanos.

Baseada numa história real, Um Ato de Liberdade tem o perfil daquelas produções que levam uma ou duas indicações ao Oscar. A julgar pelas atuações democráticas dos três protagonistas, essas hipotéticas indicações não se enquadrariam nas categorias de elenco. No fim das contas, foram os violinos lamuriosos da trilha sonora original que representaram o longa na cerimônia. Mesmo assim, não dá pra deixar de lembrar o esforços de Daniel Craig (Quantum of Solace), Leiv Schreiber (X-Men Origens:Wolverine) e Jamie Bell (Billy Elliot) em dignificar a produção. Nos âmbitos técnicos, direção de arte, fotografia e edição de som fazem o tipo padrão do gênero. Mais previsível que o roteiro de Clayton Frohman só mesmo a direção de Zwick.

Sem personalidade suficiente pra dosar as fórmulas e sem a competência necessária pra lidar com os clichês, o diretor entrega ao espectador um produto certinho, lustroso e bonito, daqueles que saem direto da linha de montagem. Mas se sua mão pesada o retém num nível intermediário, ao menos ela não desqualifica seus filmes. Um Ato de Liberdade pode até não ser um trabalho memorável, mas ninguém sairá da sessão insatisfeito.

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