[Belas cores e sons de um casamento excêntrico e com tom dramático]
A atriz Anne Hathaway nem de longe é o mais belo rosto do cinema. Longe disso, até. Em compensação possui um lindo par de lábios. E foram eles que mais me chamaram a atenção durante a exibição de O Casamento de Rachel.
A expressividade do seu rosto e as caras e bocas da sua atuação improvisada deram um tom especial ao filme dirigido por Jonhathan Demme, um cineasta raro, que às vezes brinca de documentarista e agora resolveu dar uma de minimalista com uma câmera na mão, num longa maluco e de perfil independente, onde até escola de samba resolveu aparecer.
Para começar as esquisitices, o casamento do filme é de Rachel (Rosemarie DeWitt) mas a protagonista da história se chama Kim (Hathaway), a irmã caçula. Dependente química, ela acaba de sair de uma clínica de reabilitação onde esteve internada por nove meses para participar do casamento da irmã. Além da recuperação, ela convive também com uma tragédia familiar diretamente ligada a ela.
De volta pra casa, a garota se vê rodeada pela insegurança do pai. Para piorar, a residência está povoada de convidados. Rachel e seu noivo Sidney (Tunde Adebimpe), um músico havaiano, planejaram um casamento diferente com música ao vivo e apresentações artísticas. Ainda meio confusa, Kim começa a desabafar publicamente às pessoas seus problemas tentando ser o centro das atenções. Sua atitude provoca a irá da irmã. E daí para a lavagem de roupa suja do passado é um passo.
A tensão familiar cresce ainda mais com a chegada da mãe. E quando tudo se conspira para descambar num drama pesado, acontece a festa de casamento. Rock, jazz, hip hop, música eletrônica e até uma passistas de carnaval aparecem na festividade bizarra e multiétnica. Em meio a celebração problemas familiares são varridos para debaixo do tapete enquanto outros dão as caras revelando erros e incongruências de uma tragédia mal curada.
A brincadeira nada convencional de Jonhatam Demme rende um filme interessante que encontra no casamento e nas diferenças culturais curativos que ajudam a cicatrizar as feridas que todos nós acumulamos em nossa jornada. Indicada ao Oscar, Anne Hathaway dá um show de sensibilidade e expressividade.
Num filme democrático, onde os personagens aparecem e desaparecem da trama, ela impressiona pela capacidade de estampar suas emoções no rosto. No festival de cores que é O Casamento de Rachel, é a força a inspiração – do diretor, do roteiro e da atriz – o seu brilho mais forte.
http://blig.ig.com.br/planosequencia/