Lupas (1592)
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Kelly Reichardt conta uma bela história sobre amizade, em uma narrativa quase contemplativa, construída calma e cuidadosamente. A jornada pode ter um ritmo difícil, mas acaba compensando por envolver o espectador naquela relação e transportar para aquele mundo, transformando o filme também em uma história sobre o capitalismo e a formação dos Estados Unidos. Sutil, poético e bonito, embora nem sempre fácil de se assistir.
Silvio Pilau | Em 27 de Dezembro de 2020.
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Mesmo que não consiga esconder sua origem teatral, que acaba rendendo alguns momentos e transições pouco cinematográficas, a história é transposta para as telas com toda a sua força, utilizando o recorte de algumas horas para fazer não apenas um retrato da época, mas também do lugar do negro na atualidade. Viola Davis e, especialmente, Chadwick Boseman são dois monstros em caracterização e intensidade, mantendo a energia do filme mesmo quando ela parece começar a se arrastar.
Silvio Pilau | Em 21 de Dezembro de 2020.
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O que Darius Marder propõe em seu filme não é simplesmente contar uma história sobre perda de audição, mas fazer o espectador vivenciar essa dificuldade. O resultado é uma verdadeira experiência, com um trabalho de som genialmente imersivo, conduzida com delicadeza em sua narrativa interpretada com complexidade por Riz Ahmed. Um filme capaz de sensibilizar e inspirar, no qual o silêncio fala mais alto do que qualquer palavra. Belíssima obra.
Silvio Pilau | Em 21 de Dezembro de 2020.
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"Mank" é um verdadeiro deleite para qualquer cinéfilo, não somente pelo tema em si, mas principalmente pela beleza da fotografia em PB e dos planos sempre cuidadosos de David Fincher, sem contar as boas presenças de Gary Oldman e Amanda Seyfried. Por outro lado, embora traga diálogos ágeis e deliciosos, o roteiro parece não saber exatamente o que dizer, andando em círculos sem criar qualquer arco dramático relevante. É um filme com muito a ser admirado, mas que jamais chega aonde poderia.
Silvio Pilau | Em 21 de Dezembro de 2020.
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Nolan sempre merece elogios por tentar tirar o cinema comercial do lugar-comum. Em "Tenet", o cineasta mais uma vez revela sua ambição, porém de maneira surpreendentemente caótica, apostando em um conceito que é desenvolvido apressadamente e jamais consegue suspender a descrença do espectador. Com isso, as duas horas e meia nada são além de impressionantes e gigantescos "set pieces" que não cumprem propósito algum, soando apenas aleatórios e enfadonhos. A presunção de Nolan chegou ao limite.
Silvio Pilau | Em 08 de Dezembro de 2020.
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Christopher Landon entende bem o material que tem em mãos e o que é preciso para fazê-lo funcionar, brincando com desenvoltura com os clichês tanto do gênero slasher quanto dos filmes de troca de corpo. O resultado é bastante divertido, apoiado especialmente nas boas atuações de Vince Vaughn e Kathryn Newton, que não se levam a sério em momento algum. Perde um pouco a força na segunda metade, mas entretém com grande facilidade.
Silvio Pilau | Em 08 de Dezembro de 2020.
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A premissa não deixa de ser interessante e os irmãos Nelms têm algumas boas ideias no sentido de transpor a lenda do Papai Noel para o mundo real. Mas o desenvolvimento é bastante problemático, com sérias dificuldades para encontrar um tom adequado, perdendo-se entre a brincadeira, a fantasia e o aspecto policial da trama. Talvez pudesse render um bom curta.
Silvio Pilau | Em 08 de Dezembro de 2020.
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Ao optar por não contar a história da vida de Maradona, mas apenas um recorte dela (seus anos em Nápoles), Kapadia escapa da necessidade de narrar todos os fatos da trajetória, o que permite se focar na lenda, no homem e em todas as contradições que há no meio. Sem narração em off, o filme se beneficia das imagens pouco conhecidas para compor um retrato complexo de Diego, destacando tanto a absurda adoração que despertava quanto suas falhas. Um grande filme, e não apenas para amantes do futebol.
Silvio Pilau | Em 26 de Novembro de 2020.
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É sempre interessante ver um (sub)gênero sendo tratado de maneira inovadora, como acontece aqui. O cineasta transforma a ideia de uma casa mal-assombrada em uma metáfora da situação dos refugiados no mundo, que sofrem com forças que tentam expulsá-los do lugar onde tentam formar um novo lar. A abordagem eleva a força do filme, que, apesar de se atrapalhar um pouco no sobrenatural, é muito bem-sucedido ao construir tensão e gerar empatia pelos personagens, além de reservar surpresas no roteiro.
Silvio Pilau | Em 17 de Novembro de 2020.
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Sofia Coppola mais uma vez se perde no pedantismo, em um filme que se acha mais inteligente do que realmente é. As situações são comuns, as reflexões jamais se aprofundam e não há qualquer espécie de surpresa. A cineasta, que começou como um grande nome autoral, parece ter caído na falta do que dizer, apoiando-se quase unicamente no carisma de Bill Murray. Se não chega a incomodar, é um filme que não chega a lugar algum.
Silvio Pilau | Em 11 de Novembro de 2020.
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Até a metade, é um thriller razoavelmente eficaz, ágil, que cria tensão e se beneficia da boa presença de Russell Crowe. A partir de certo momento, porém, o roteiro começa a acumular atitudes incompreensíveis dos personagens, revelando sua falta de inteligência, enquanto o diretor Derrick Borte parece esgotar sua criatividade, com cenas que se acumulam sem qualquer construção dramática. Em breve em um Supercine próximo de você.
Silvio Pilau | Em 26 de Outubro de 2020.
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Se não dá para chamar a nova versão de "Rebecca" de desnecessária (afinal, o filme original tem 80 anos), é justo dizer que ela não mostra a que veio. Ben Wheatley. cineasta sempre original, joga em terreno seguro, entregando um filme com estilo, mas que peca pela falta de criatividade e pela irregularidade do tom, que pouco faz o espectador sentir a opressiva ausência (ou presença) de Rebecca de Winter. Longe de ser embaraçoso, mas é facilmente esquecível.
Silvio Pilau | Em 26 de Outubro de 2020.