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Críticas

Malvada, A

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Considerado para sempre como um ícone do cinema, “All About Eve” é uma obra irônica, com personagens manipuladores, rostos marcados e um diretor consagrado. Um filme grandioso sobre rivalidade, ambição e mentira.

Vocês sabem tudo sobre Eve. O que pode haver que vocês ainda não saibam?

Apesar de essa ser a fala dirigida ao público que Addison DeWitt, no momento que Eve Harrington sobe para pegar a sua estatueta no prêmio Sarah Siddons, o espectador de fato nada sabe sobre a tal Eve, e como haveria de saber? Tudo o que está exposto na tela é um discurso infalível e uma homenagem daquela que logo se percebe ser a mais importante cerimônia de premiação do teatro americano, além de um rosto humilde da atriz revelação cuja carreira meteórica despencou as grandes divas dos olhos da mídia, e as mesmas, que se limitam a ficar olhando desgostosas ao sucesso que a jovem e talentosa intérprete usufrui no momento. Dentre as inúmeras citações que a narração em off de DeWitt apresenta de forma cordial e solene, estão Karen Richards, seu marido e dramaturgo Lloyd Richards, o diretor Bill Sampson, o produtor Max Fabian e a grande estrela, ou melhor, “a estrela de verdade” Margo Channing, atriz teatral. Até aquele momento tudo o que o espectador realmente sabe sobre a atriz a ser consagrada naquela noite é que sua carreira atingiu o auge mais rápido do que qualquer um poderia sequer imaginar. A história de Eve, mostrada a partir de um flash-black, vai surpreender, chocar e fazer crescer a revolta do espectador, que ao final, terá assistido a uma obra-prima como poucas, única e por mais que o roteiro diga o contrário, sincera onde a decadência, o preço pela fama, as mentiras, a ambição e as intrigas esperam triunfantes pela revelação final.

O título original do longo dirigido por Joseph L. Mankiewicz fora escolhido pelo produtor Darryl F. Zanuck, a partir da frase destaca logo acima. Antes, o roteiro assinado pelo mesmo homem que dirigiria o filme dava o nome para a produção de “Best Performance” ('Melhor Atuação', na tradução livre), já que se baseava em um conto publicado na revista Cosmopolitan. Seu conteúdo trazia à tona a história da atriz austro-húngara Elisabeth Bergner que segundo reportara à escritora Mary Orr, havia contratado uma grande fã sua como assistente pessoal, na década de 40. De acordo com a própria atriz européia, a jovem moça que a adorava acabou por boicotar a sua carreira, transformando-se em uma estrela do dia para a noite. Sem querer dizer o nome da “solapadora”, Orr se viu obrigada a apelida-la de Eve, batizando a história com o título The Wisdom of Eve. Mankiewicz, com o intuito de adaptar o conto, trocou os nomes dos personagens, criou outros assim como novas situações, e como seu projeto inicial seria relatar o enredo de uma atriz em fase de decadência, aprofundou a personagem que substituiria o nome de Bergner, chamando-a de Margo Channing. Depois de muitas mudanças feitas pelo diretor e roteirista, alguns a pedido do produtor Zanuck, muitos atores e atrizes de grande renome foram cotados para os papéis do filme.

Na verdade, uma das poucas intérpretes que manteram-se no projeto desde o início foi Thelma Ritter, veterana atriz do cinema e uma das quatro mulheres indicadas ao Oscar pelo seu trabalho no longa. Bette Davis surgiu como opção depois de atrizes como Barbara Stanwyck, Susan Hayward e Marlene Dietrich recusarem e Claudette Colbert ter sofrido um acidente e machucado as costas antes mesmo do início das gravações. Segunda a própria Davis, nomeada ao prêmio da Academia pela personagem Margo Channing, o trabalho no filme proporcionado a ela por Mankiewicz salvou sua carreira do limbo, conforme disse em uma entrevista datada de 1983. Antes de Anne Baxter surgir como alternativa para o papel de Eve Harrington, Jeanne Craine fora a escolhida, mas engravidou e perdeu a chance, dando oportunidade para Baxter, que receberia a indicação ao prêmio do Oscar. Para Bill Sampson, Ronald Reagan e John Garfield foram opções, mas quem ficou com o papel foi Gary Merrill e Nancy Oliver esteve cotada para atuar como Karen Richards, personagem que ficaria mais tarde com Celeste Holm, outra indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante na cerimônia do Oscar. Antes que o premiado ator George Sanders fosse o escolhido para interpretar Addison DeWitt no filme, Jose Ferrer foi uma das opções fracassadas. Quem também não participaria do filme, não fosse pela resistência de Mankiewicz, seria Marilyn Monroe, que segundo afirmava o produtor Zanuck, ela só seria capaz de fazer comédias. No final das contas ficou a cargo dela fazer a Srta. Caswell em 'A Malvada'.

Talvez por conta dos recordes que o filme conquistara na cerimônia do Oscar em 1950, batendo a obra-prima máxima de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses na categoria de Melhor Filme e Diretor, arrematando seis prêmios dos quatorze que disputava, número que seria atingido somente 47 anos depois por Titanic, ou então pelo sucesso que fez com o público, o prêmio fictício do início (e fim) de 'A Malvada' virou realidade em 1952, quando Joseph L. Mankiewicz e mais um grupo de amantes por teatro criaram um prêmio semelhante, incluindo nas estatuetas entregues. As próprias Bette Davis, Anne Baxter e Celeste Holm já saíram agraciadas do prêmio.

O filme tornou-se muito conhecido entre a mídia e o público até anos depois de seu lançamento nos cinemas. Ainda que no mesmo ano da criação do prêmio de Mankiewicz, uma versão do filme fora adaptado para o rádio, em 1970 estreou o musical Applause da Broadway, vencedora do Tony, onde Anne Baxter seria a intérprete de Margo Channing.

Enfim, depois de me apegar muito aos bastidores e preparativos de “All About Eve”, é hora de analisar o elenco. E que elenco! Pobre Claudette Colbert, mas até que seu acidente ajudou e muito para a imagem posterior do filme, já que Bette Davis é considerada uma das melhores atrizes da história do cinema e sua Margo Channing, uma personagem eterna. Comecemos por ela, então:

Bette Davis

11 vezes indicada ao Oscar e premiada duas vezes. As personagens de Bette Davis e seu carisma, brilho intenso e talento entraram para a história e ela, consagrada agora mundialmente e eternamente. Sua atuação em 'A Malvada' é considerada por mim, a melhor de todo o elenco. Davis exprime bem toda a grande estrela que representa Channing no filme, com suas posições corretas e gestos elegantes, a atriz do teatro é ao mesmo tempo detestável, fazendo-se passar por má, ainda que esse seja o papel de outra. A ironia, o egocentrismo e a arrogância de Margo são visíveis ao público, e ao mesmo tempo, uma mistura de caridade e compaixão aumentam ainda mais a profundidade da personagem, que a atriz sabe fazer como ninguém. Quando o longa começa, fica a expectativa para ver em ação a grande Bette Davis, e no momento que ela finalmente aparece, ouvem-se gritos daqueles que assistem: “É ela! Olha ela aí!”. Deslumbrante em todos os aspectos, os olhos de Bette Davis mais uma vez inundam a tela, ainda que em preto e branco, e causam impacto silencioso no espectador, que imagina o olhar compenetrado e venenoso invadindo o set de filmagem, onde todos, de fato, assistiram a mais uma interpretação magnífica da grande estrela do filme, que na verdade, nunca deixou de ser Bette Davis.

Anne Baxter

Manipuladora, bela e mentirosa. Ela interpreta Eve Harrington, a ardorosa fã de Margo Channing. Sua ambição de um dia se tornar um grande atriz do teatro, como o seu ídolo, mais a sua inocência e discrição levam o espectador a trocar os papéis assim que a personalidade verdadeira de Baxter é revelada. Aquela que o público pensava ser “a malvada”, passa a ser a vítima da história toda e vice e versa. Anne Baxter compõe sua Eve com perfeição, cuja humildade é transformada em arrogância da água pro vinho, lógico que de acordo com a coerência inegável do roteiro bem construído. A carreira surpreendente de iniciante já leva a antiga aspirante a atriz a receber o prêmio mais importante do teatro, que numa solidificação da imagem, conta como ela consegui tal feito, sendo que oito meses antes, ela era uma total desconhecida. Vale ressaltar que Baxter não exagera em momento algum, não se faz de coitadinha insuportável no início e nem vira uma mulher grossa , com o nariz sempre empinado. Ela faz tudo na medida do correto, mas com brilho de exatidão. Uma grande pequena atuação.

Celeste Holm

Outra atuação que mostra como a direção de Mankiewicz consegue ser exata em todos os aspectos, incluindo na coordenação do elenco. Holm é uma atriz menor que Bette Davis e Anne Baxter, mas sua atuação é suficientemente convincente pra manter o espectador satisfeito com sua performance. Ela, assim como todos aqueles que rodiavam Eve, sentem-se enganados e chocados quando a segunda cara da jovem fã é posta para exposição. Na verdade, o choque que a sua personagem, Karen Richards, compõe é muito devido ao fato de ter sido ela que levou Eve até o camarim de Margo Channing, que fez o que pôde para manipular as vontades do alvo de sua admiração. Celeste Holm, no entanto, é boa o bastante pra fazer Karen parecer alguém traído, elegante e prestativa, com carisma. Excelente atuação, ainda que oculta perante o brilho das protagonistas.

Thelma Ritter

Uma grande atriz pouco aproveitada. Talvez seja a melhor descrição de Thelma Ritter, atriz que garante as principais risadas de “All About Eve”. Ela não faz uma personagem importante, nem se destaca pela elegância nem nada. Seu chamativo mais interessante é o modo de falar, único, diretor e sincero, típico de Ritter. Assim como fez em Janela Indiscreta, ela oculta os grandes astros e estrelas do filme nos poucos minutos que está no ar. No filme de Alfred Hitchcock não foi diferente. O brilho incessante de James Stewart e a beleza inconfundível de Grace Kelly deram lugar para o sarcasmo de Thelma Ritter. Em cenas de 'A Malvada' ela chega a depositar todos os olhares para as suas expressões impacientes, que antes focalizavam sempre Bette Davis ou então, Anne Baxter. Em diálogos rápidos e inteligentes, os dela são os mais criativos, com tons cômicos que garantem os melhores momentos de descontração do longa. Infelizmente, o seu talento não fora tão bem aproveitado pelos diretores, que embora lhe dessem oportunidades de boas atuações, ainda que o mérito seja praticamente todo dela, a atriz quase sempre estava muito bem em papéis de empregada doméstica, desta vez Birdie Coonan, que por algum motivo, sua personalidade enquanto atriz lembrava uma.

George Sanders

A elegância e o charme de George Sanders certamente levaram o ator a receber o prêmio da Academia de Melhor Ator Coadjuvante. Sua atuação é excepcional, seja nos diálogos ou nos seus olhares captadores. O ator faz de Addison DeWitt um personagem ainda maior que Mankiewicz havia preparado para ele. Sua narração em off é certeira e correta, com inúmeras citações de dramaturgos antigos e atores e empreiteiras e diretores e produtores e casas de shows e teatros, o charme visceral entra em cena imponente. Não é de longe a melhor a atuação do filme, cujo brilho prende-se todo no talento do elenco feminino, mas a interpretação dele foi a única que rendeu o Oscar para o renomado elenco, entretanto, mais merecido impossível. Uma atuação cujo principal mérito corresponde à elegância e o respeito que ele impõe, sempre que entra em cena.

Posso resumir o trabalho dos outros atores como excelentes igualmente, já que não tenho muito mais o que falar do restante do elenco. Destaque apenas para a jovem e desconhecida Marilyn Monroe, que faz a menina Caswell de forma interessante e cômica. A atriz que mais tarde viria a cometer suicídio ainda teria tempo para fazer bonito em outros filmes, mais ainda com sua beleza estonteante. Quanto a Lloyd Richards, interpretado por Hugh Marlowe, faz seu trabalho com eficiência, mas não brilha tanto quanto os outros, sendo ele destaque a parte dos coadjuvantes, cujo mérito é ser somente um bom ator nos momentos propícios.

Mankiewicz dirige e escreve com primor nítido nesse seu trabalho mais encantador. A Malvada é uma obra-prima grandiosa em todos os aspectos. Os figurinos belos e visivelmente de grifes famosas, a fotografia escura e extremamente branca na luz, além da luxuosa direção de arte, com cenários de bastidores e que demonstra bom gosto na escolha dos objetos que enfeitam os cenários. No final, Mankiewicz deixa claro que a história parece que vai se repetir quando Phoebe aparece dentro do apartamento de Eve Harrington, fazendo o espectador reviver os momentos iniciais do filme, quando a personagem de Anne Baxter ainda era uma “ilustre desconhecida”.

Clássico único e eterno do cinema com um dos elencos mais formidáveis e brilhantes da história, onde a direção e roteiro caminham de mãos dadas para entregar ao público uma obra imortal dos anos dourados de Hollywood. Obrigatório, simplesmente imperdível.

Críticas

Ilha das Flores

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Que sirva de lição para os iniciantes. Com Ilha das Flores você aprende a elaborar um filme crítico, ousado e polêmico, destacando a pobreza, as desigualdades humanas e talvez, o sentido da vida, tudo em apenas 13 minutos.

Deus não existe

Começar um filme com essa frase é pedir demais a paciência do público moldado pelo conservadorismo religioso, afinal de contas, essa talvez seja a frase mais hedionda e absurda que existe para uma pessoa que crê fiel e incondicionalmente em Deus. Mas qual seria o sentido dessa pequena, porém tão polêmica afirmação? Alguns encaram essa breve e tumultuada abertura como uma metáfora, outros como pretensão, subjugando que a explicação mais notória seria a inexistência de uma “força maior”, a principal causa da miséria brasileira. O fato é que muitos criticam o curta de documentário por essa frase, mas ignoram a profundidade do seu conteúdo, explorado de uma forma criativa e interessante pelo diretor Jorge Furtado, reduzindo assim a crítica construtiva que se faz perante a uma simples e repetitiva explicação sobre o ser humano e coisas ínfimas que o rodeiam, em uma narração certeira do ator Paulo José.

A história, se é que pode-se chamar de história o enrendo do documentário, começa no Rio Grande do Sul com a imagem do Sr. Suzuki colhendo tomates, que mais tarde seriam vendidos, ou melhor dizendo, “trocados por dinheiro” para um supermercado, onde estaria à disposição dos clientes. Eis que surge Dona Anete, ser humano, mãe de família que compra os tomates colhidos pelo japonês e pretende servi-los para o marido e filhos. Enquanto ela prepara o molho de tomate para a carne de porco, animal que serve de alimento para os seres humanos (menos para os judeus) e que se diferencia do ser humano por não apresentar telencéfalo altamente desenvolvido, muito menos um polegar, “que dirá opositor”, ela percebe que um dos tomates comprados não está em condições de ser aproveitado como alimento e joga-o no lixo. O roteiro do curta-metragem nos leva então, até o local onde todo o lixo de Porto Alegre é depositado. Esse lugar é chamado justamente de “Ilha das Flores”, mas que fique bem claro que não há muitas flores por lá, há no entanto, muito lixo, que pode ficar ao ar livre, onde o seu odor extremamente desagradável não incomodará a ninguém. Tem muitos porcos na Ilha das Flores também, porcos que cujo dono separa todo o lixo vindo da capital gaúcha e que serviria de alimento para o animal, incluindo o tomate que Dona Anete rejeitou e jogou no lixo. Acontece que também há muitas pessoas que residem na Ilha das Flores, seres humanos com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar altamente desenvolvido. Mas ao contrário de Dona Anete e do dono dos porcos, eles não têm nenhum dinheiro, e suas vidas sustentam-se na miséria e no lixo que seriam rejeitados pelos porcos, onde que por coincidência está o tomate podre, que viria a servir de alimento para a família de Dona Anete, mas que ela julgou dispensável.

Chegamos neste ponto, que é o ápice da crítica estabelecida pelo conteúdo do documentário. Apesar de deixar extremamente claro que o ser humano é uma criatura bípede, assim como a galinha, mas que se diferencia dela por diversos aspectos intelectuais e físicos, o roteiro deixa ainda mais evidente que as pessoas que procuram alimentos no lixo da Ilha das Flores encontram-se em uma “posição social” que vem logo abaixo dos porcos, cuja alimentação é favorecida pelo seu dono. E vemos aí então mais um diferencial entre seres humanos e animais como o porco. Além de não ser quadrúpede, como o suíno, o homem possui uma diferença notável: é livre, palavra que se aplica a quem se encontra no estado de liberdade e que muitos compreendem, mas não entendem como ela pode prejudicar ou melhorar a vida da pessoa, dependendo da sua “classe social”. Agora, que muitos desejem ter um dono para ao menos poderem ter o que comer, é lamentável, ainda que real.

Não há muito mais o que dizer sobre Ilha das Flores, documentário brasileiro considerado um dos melhores já feitos em território nacional e que em apenas 13 minutos de duração empreende uma crítica inteligente à desigualdade social no Brasil e ao desperdício, quem sabe. A linha de fatos que une uma sequência à outra, desde a plantação do tomate até a chegada e rejeição do alimento à Ilha das Flores, servindo de comida para os seres humanos que lá residem, poderia ter sido maior caso a pretensão ou metáfora desnecessária (chame como quiser) do propósito da abertura não levasse o filme à uma discussão sem fim à vista sobre a causa da miséria no Brasil, cuja explicação tem fundos bem mais sólidos que a existência ou não de Deus, cuja verdade está muito além do nosso alcance.

Mas vale principalmente com uma mensagem chocante da realidade do nosso país, onde o preconceito e a desigualdade caminham juntos há muito tempo. A lição de moral, ainda que agora seja batida, que o filme de Jorge Furtado passa para o espectador é que, somos todos iguais, afinal de contas, somos seres humanos e apresentamos telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor e liberdade.

Críticas

Menina de Ouro

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Eastwood e Cia criam uma obra prima sobre os cursos que a vida dá,sobre os sonhos e sobre o valor do amor e da amizade.Um filme que deve ser obrigatoriamente visto por todos pois traz uma grande lição de vida a nos ensinar.

A maioria de filmes que tem como pano de fundo o boxe são um verdadeiro desafio para aqueles que o comandam.Apos Scorcese e seu Touro Indomavel (obra prima icone do genero)muitos grandes cineeastas tiveram dificuldades em lidar com tal assunto.O que dizer de um filme cujo protagonista é não apenas um boxeador, mas também uma mulher? Talvez por conta disso a maioria das pessoas não tenham dado tanta atenção a Menina De Ouro,um dos trabalhos mais honraveis de Clint Eastwood. Ocorre que o ouro da menina de Eastwood, é de 24 quilates ,ou seja, é ouro puro, de alta qualidade,resultando em um lindo retrato cinematográfico sobre a culpa e amizade,os son hos,enfim um drama humano feito com grande profundidade e delicadeza.

Pra começo de conversa “Menina de Ouro” não e literalmente um filme sobre boxe. Maggie Fitzgerald (Hilary Swank) não é apenas uma aspirante boxeadora, mas uma garçonete caipira cujo sonho é se tornar uma lutadora de grande sucesso.Apos abordar o veterano ex-lutador de boxe e agora treinador, Frankie (Eastwood), ela lhe pergunta quais as chances de ser treinada por ele. “Eu não treino garotas”, responde ele,de maneira fria. Vira as costas, vai embora, e nem pensa mais nisso. Mas Maggie não desiste. Matricula-se até a academia de fundo de quintal erguida por Frankie, paga seis meses adiantados, e começa a esmurrar sacos de areia durante horas a fio(tem ate uma frase engraçada dita por Freeman sobre ela quebrar os pulsos).

Maggie é um exemplo de determinação e de garra que Frankie demora a enxergar, porque está envolvido em problemas com um lutador que pode brigar pelo título mundial. De qualquer forma, o treinador não se sente à vontade com Maggie sob nenhuma circunstância, e tem muitas razões para isso,pois e machista e mantem uma dificil relação com sua filha,que não e explicada no filme,e nem precisa.Não que isso esteja diretamente ligado a relação de Frankie E Maggie,mais o roteiro deixa isso em aberto para que o publico perceba por sua vontade propria,sem nenhum vinculo que explique isso.O mesmo se pode dizer,da sua relação com Scrap (Freeman).

Seguindo o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, Maggie insiste tanto que Frankie acaba aceitando treiná-la, com a condição de que ela passe às mãos de um empresário assim que atingir nível profissional, o que ele estima que irá ocorrer em quatro anos. É o início de uma grande amizade, e um dos muitos momentos emocionantes que “Menina de Ouro” oferece. Este é o tipo de filme sobre o qual comentar pouco, o mínimo possível, é algo que favorece o espectador. “Menina de Ouro” segue rumos completamente inesperados, e entrega à platéia lições comoventes sobre determinação, amizade e força de vontade.

O roteiro de Paul Haggis é uma completa mina de ouro. O texto ensina muito ao espectador se recusando, ao mesmo tempo, a entregar esses ensinamentos já mastigados. A hesitação de Frankie em permitir que seus pupilos enfrentem oponentes de grande qualidade, por exemplo, pode ter raiz na amizade duradoura entre o treinador e Scrap (Morgan Freeman), um ex-lutador que cuida da academia e narra o filme.O espectador atento vai traçar tais relações, que revelam muito sobre as personalidade de cada personagem. A trama está cheio desses pequenos detalhes, que enriquecem o enredo, dão profundidade aos personagens e envolvem a platéia de forma ativa na interpretação do longa-metragem. Quantos filmes são capazes de fazer isso?

“Million Dollar Baby ” também é um filme de atores. Hilary Swank, que ganhou o Oscar em 1999,por Meninos não Choram mostra que é uma atriz extraordinária. Observe como sua técnica no boxe melhora, no decorrer das lutas que o longa-metragem mostra. Repare no sotaque caipira perfeito,no olhar determinado, quase sem piscar, que ilustra a força interior da sua personagem. Maggie é uma mulher fascinante, que Clint Eastwood descortina aos poucos e nunca desnuda totalmente. O misterio que o diretor sabe imprimir a seus personagens é simplesmente impecável, perfeito. Não sabemos demais e nem de menos sobre eles. Sabemos na medida exat

Não podemos esquecer principalmente que “Menina de Ouro” é um melodrama assumido. E, por definição, o melodrama é um gênero que trabalha com o exagero de alguns aspectos dramáticos que, dificilmente aconteceriam. “Menina de Ouro” não tenta reproduzir a realidade com rigor. Quer apenas ser bom cinema.

O filme caminha tranqüilo, tem seu próprio ritmo, e uma estrutura narrativa sólida que jamais permite momentos bobos. “Menina de Ouro” exige atenção completa do espectador, pois até mesmo pequenas cenas de transição podem ocultar momentos que vão ter repercussão mais à frente da narrativa. Mas, claro, há as seqüências genuinamente emocionantes. Em determinado momento, após visitar a mãe hostil, Maggie está no carro com Frankie, e se queixa de solidão. “Não tenho ninguém além de você, Frankie”, Maggie se permite dizer. “Você tem a mim. Até que apareça um bom empresário, é claro”, brinca o velho treinador. Este é um diálogo que celebra a verdadeira amizade. Como não se emocionar com essas coisas?

O fato é que “Menina de Ouro” dá seqüência a uma grande fase do Clint Eastwood diretor, uma fase que já nos deu o fabuloso “Sobre Meninos e Lobos”, um dos melhores longas lançados em 2003. Para seu filme sobre boxe, Eastwood também compôs a trilha sonora (discreta e belíssima, toda acústica), produziu e atuou. “Menina de Ouro” acabou saudado pelos críticos dos EUA como o melhor filme de Clint. É difícil afirmar isso com convicção, pois o diretor tem outras grandes obras capazes de rivalizar com este filme ( “Os Imperdoáveis”). Mas não há dúvida de que “Menina de Ouro” é obra de um diretor sensível, um autor genuíno e um dos grandes conhecedores da psique humana a freqüentar Hollywood.

Em uma das cenas finais,onde Frankie se desculpa com Scrap,por te-lo culpado do que aconteceu a Maggie,surge uma frase revela bem a situação vivida.Nesse momento surge uma reflexão que acaba tocando o coração (coisa muita rara nos dias de hoje) e o pensamento do espectador.A de que inumeras pessoas morrem o dia todo em diversos lugares do mundo,mais quantas delas conseguem realizar seus sonhos e serem felizes?? Frankie prorpocionou isso a Maggie de uma maneira ou de outra.E nesse momento que percebemos que a vida e de fato uma caixa de supresas,e que não podemos prever o que ira nos acontecer.Por isso temos que correr atras dos nossos sonhos,com garra e coragem,e indiretamente podemos relacionar isso como um modo de frankie se redimir com sua filha.

Conclusão,Menina de Ouro e muito mais do que melodrama sobre a vida e o destino e uma obra inigualavel,que sem nenhuma duvida e uma das mais importantes e mais comoventes do ultimos anos e que deve ser vista e seguida de exemplo por muitos.Imperdivel

Críticas

Harry Potter e a Pedra Filosofal

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A série “Harry Potter”, baseada nos livros de J. K. Rowling, inciciou-se em 2001 sem total certeza de que continuaria. O principal motivo que poderia ser apontado era quantidade de histórias que a britânica escreveria, pois ela sempre disse que iria levar a série até o sétimo livro (e a qualidade e o sucesso das vendas dos livros sempre garantiram a extensão da série). Então, em 2001 surgiu este “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (”Harry Potter and the Sorcerer’s Stone”, 2001), que, mesmo não tendo metade da magia dos livros de Rowling, deu início a uma das maiores febres infanto-juvenis (hoje alcançando adultos que eram infanto-juvenis na época), deu um imenso agrado aos milhões de fãs que os livros já tinham e recrutou outros milhões (como eu) que ainda não conheciam a história.

Harry Potter (Daniel Radcliffe) é um garoto que sobreviveu à morte com apenas um ano, quando um maligno bruxo matou seus pais e não conseguiu levá-lo também (motivo pelo qual tem uma cicatriz em forma de raio na testa). Então, ele foi levado para a guarda dos tios, onde era constantemente maltratado. Então, ao completar 11 anos, ele recebe a revelação de que é bruxo, descobre a verdadeira causa da morte de seus pais (bem como da sua sobrevivência ao mesmo feitiço) e vai para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde aprende a usar seus grandes poderes. E, ao lado de seus amigos Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson), passa por vários perigos e, finalmente, volta a encarar o mal que lhe tentou tirar a vida 10 anos antes.

“Harry Potter e a Pedra Filosofal” é, sobretudo, um filme destinado ao público mais jovem (é uma imensa crueldade falar que é um filme para criancinhas), mas acaba tendo elementos para agradar os mais velhos. Sendo a história mais bobinha e infantil da série, este filme põe na mesa o verdadeiro valor da amizade e tem certo clima de perigo e mistério que acabam prendendo a atenção dos mais crescidinhos. O clima de mistério poderia ser mais aproveitado pelo diretor Chris Columbus, que não consegue dar à narração seu toque pessoal, fazendo exatamente tudo que está no roteiro. Sua direção é altamente burocrática e impessoal, fazendo com que sua participação no longa seja apenas uma transposição do roteiro para a tela. No entanto, o grande mérito do diretor é saber tirar grandes atuações de seu elenco mirim, que funciona muito bem. Chris, que tem experiência ao trabalhar com crianças em “Esqueceram de Mim” e “Uma Babá Quase Perfeita”, acaba não levando o longa à derrocada total pela sua habilidade com atores. O roteiro seguido completamente à risca ficou a cargo de Steven Kloves, que assinou quase todos os filmes da série. Kloves soube cortar o que era desnecessário, colocar o necessário e não deixar o longo filme o menos maçante possível (mesmo que, em algumas partes, o enredo acabe se arrastando um pouco). Certamente, o roteirista mais adquado para a série.

A parte visual de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é excelente, sobretudo a direção de arte indicada ao Oscar (derrotada pelo soberbo “Moulin Rouge”). Os cenários reproduzidos na tela são exatamente o que grande maioria dos fãs imaginam lendo a obra britânica. As reproduções mas caprichadas foram, sem dúvida, do mágico Beco Diagonal e do imponente Banco Gringotes. O jogo de quadribol representado, mesmo sendo ligeiramente artificial, é muito bom e também condiz com o que os leitores esperam. A Floresta Proibida, citada como o lugar mais perigoso da escola, é traduzida com perfeição, com o aspecto sombrio e perigoso retratado no livro. Além da espetacular direção de arte, merece destaque também na parte visual o exuberante figurino, também indicado ao Oscar de 2002. Todos os atores incrivelmente bem vestidos, o que dá ao filme uma verossimilhança a mais. O único problema da parte visual do longa acaba sendo os efeitos especiais. O trasgo, monstro que mais desperta o imaginário de quem lê a obra de Rowling é esdruxulamente produzido, parecendo vindo de um obsoleto video game de terror. A representação de Lord Voldemort é superior em qualidade à do trasgo, mas fica longe de dar a sensação de medo que seu personagem exige. OS centauros da Floresta Proibida são tratados com mais cuidado que os citados anteriormente, mas ainda assim acabam pedindo “algo mais”.

O elenco de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é ponto altíssimo na produção. O número de talentos britânicos reunido é impressionante, o que facilitou muito o trabalho do diretor com a direção de atores. Maggie Smith (indicada a dois Oscar) aparece como a séria professora Minerva McGonagall, dando-lhe uma verossimilhança impressionante, e sendo a personagem mais parecida com o que se encontra nas páginas de J.K. Rownling. Alan Rickman interpreta o frio Severo Snape com enorme competência e Richard Harris dá vida a Alvo Dumbledore, o amoroso e brilhante Dumbledore. No penúltimo filme de sua vida, Harris é um Dumbledore com menos vivacidade e mais imponência. No elenco adulto, também há de se destacar a breve aparição de John Hurt como o vendedor Olivaras e de Robbie Coltrane como Rúbeo Hagrid, ambos com atuações seguras e timings corretos. No elenco mirim, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson (Harry, Rony e Hermione, respectivamente) mostram-se ótimas escolhas para seus papéis. Os três são muitíssimo seguros (apesar de Watson exagerar um pouco em suas expressões) e dão a seus personagens grande vivacidade e dinamismo.

O longa, apesar de seus 152 minutos de duração, acaba tendo a história abordada de forma superficial em detrimento da apresentação de personagens e do mundo bruxo, o que acaba tornando-o mais desagradável para os que já leram a obra de Rowling. O caráter “episódico” contribui para que os longos 152 minutos passem mais devagar e de maneira mais arrastada, já que as cenas parecem não ter grande conexão entre si.

“Harry Potter e a Pedra Filosofal” foi uma maneira boa de se começar a milionária série, mesmo não sendo um grande filme. É, sem dúvida, o mais fraco dentre os seis filmes já lançados, mas não se pode negar que a magia introduzida por Chris Columbus é cativante para quem não acompanhava os livros e realizadora para quem acompanhava. Um bom filme para os mais novos, um bom passatempo para os mais velhos e uma boa abertura para a série.

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Dogville

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Estoicismo: Escola filosófica criada por Zenão que prega a insensibilidade do homem frente a violência física e moral. Esse é um dos pilares básicos que constitui a obra-prima de Lars Von Trier.

Depois de mostrar ao mundo que não faz cinema apenas para entretenimento, com filmes como "Dançando no escuro" e "Ondas do destino", Trier ousa drásticamente e nos apresenta um longa simples em questões técnicas, mas que acerta em cheio no roteiro feito pelo próprio diretor.

Grace (Kidman) é uma bela jovem que está fugindo de gangsters de sua cidade, e é nessa fuga que ela acaba parando em uma pequena cidade chamada Dogville. De primeira Grace é aceita por Tom, um jovem escritor decidido a criar ideias filosoficas baseadas no preceito de que o ser humano deve aceitar o outro e ajudá-lo. A pequena vila, composta por no máximo quinze pessoas, de ínicio mostra-se incerta a aceitação de Grace em seu âmbito. Porém após serem convencidos por Tom os moradores aceitam Grace em Dogville mostrando-se até hospitaleiros de começo. Mas a situação muda quando os moradores da pequena vila começam a explorar a bela jovem, em sentido físico e moral.

Logo de ínicio os mais conservadores iram sentir um certo desconforto ao assistir o filme, que não tem cenários a não ser alguns móveis e um risco de giz no palco demarcando as casas e as ruas. Mas essa é uma das tentativas de Trier, fazer com o espectador, acostumado a estórias fáceis, comece a usar sua imaginação. Para isso foi necessário um esforço da parte dos atores em suas interpretações para que tais consigam prender a atenção das pessoas durante quase três horas de filme. E eles conseguem.

Grande parte do benemérito tambem vai para o diretor que aprovando a humiladade técnica do longa, nos entrega um roteiro forte e muito bem escrito. Para começar é necessária perceber a comparação de Dogville com o resto do mundo, acostumados a sempre conseguir a coisas fáceis e depois de usá-las começam a explorar o que antes tratavam com tanta preciosidade. Isso acontece com Grace, quando a mesma começa a ser praticamente - ou melhor, definitivamente! - escravizada pelos moradores. Resta salientar que a exploração não se dava apenas em trabalhos físicos, mas sexual e, por incrível que pareça, moral e psicológico.

Diante de tudo isso estava Grace, e todos moradores estavam cientes do que faziam com ela, mas preferiam esconder ou fingir que apenas a estavam protegendo, quando na verdade estavam a chantagiando. Afinal eles a estavam usando como um método de descarregar seus problemas ou apenas solucioná-los, de forma bem cruel diga-se de passagem.

"Lembra quando eu ensinei seus filhos sobre o estoicismo?" Diz Grace antes que uma das moradores quebre a única coisa que ela tinha, na sua frente, e ordenando-a que não derrame se quer uma lágrima. Os moradores sabiam o mal que faziam, mas diante de seus desejos eles cegavam-se apenas para realizá-los não importando a vontade de Grace. Não agimos assim muitas vezes em nossas vidas, ultrapassando os outros e seu sofrimento apenas para realizar nosso egocentrismo? Pois bem, esse longa é uma critica, muitos dizem aos EUA, mas vai além disso, ele critica todos nós e nossos sentimentos ruins, maus e egocêntricos.

Outro fato bem importanto é a questão da nossa recompensa diante de nossos atos, e isso é mostrado de forma bem realista ao final da obra (Prestem bem atenção ao cachorro e por que ele foi o único que não sofreu as consequências). O tom narrativo do filme confere ao longa um espirito literário, como se estivessemos lendo a um bom livro.

Enfim um ótimo filme, surpreendente! Obra-prima do cinema e até da sociologia.

P.S: "Dogville - O cachorro lambe seu próprio vômito pois é irracional, mas podemos o impedir se quisermos."

Críticas

Foi Apenas um Sonho

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Drama poderoso, cuja força sustenta-se no elenco e na proposta bem colocada.

Sam Mendes sempre foi um diretor conhecido pela sua curta e premiada filmografia. Desde o lançamento de Beleza Americana nos cinemas e a conquista do Oscar de Direção, Mendes parecia um cineasta que entregaria obras tão boas, se não melhores que as suas anteriores, mas pelo o que o mundo pôde conferir, os filmes seguintes ao grande vencedor da cerimônia do Oscar de 2000 tiveram uma série de erros, em propostas parecidas com a de “American Beauty”, porém inferiores em termos de qualidade, originalidade e ritmo. Estrada para Perdição e Soldado Anônimo foram os longas que antecederam Foi Apenas um Sonho, último filme do diretor britânico lançado nos cinemas. Assim como os três primeiros, “Revolutionary Road” trata do tema do corrido american way of life, com críticas que, como o próprio nome diz, faz menção dolosa ao modo de viver da sociedade norte-americana, sob diversos aspectos. Sejam nos subúrbios, na guerra ou na violência, agora vem a história de um homem e de uma mulher que se conhecem em uma festa e se apaixonam. Procurando uma nova vida, o casal composto por Frank e April Wheeler, interpretados respectivamente por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, se mudam para uma casa localizada nos típicos subúrbios estadunidenses, onde, apesar das limitações dos anos 50, eles planejam uma vida de felicidade, que iria muito além da vizinhaça da rua que habitam, a que deu origem ao título, Revolutionary Road. Acontece que todos os sonhos do casal acabam não se realizando, já que Frank recebe uma tentadora oferta de aumento de salário e os planos de mudança para Paris dos dois ficam para trás, e April, em casa, frustrada e decepcionada.

O roteiro de Justin Haythe trabalhou com a adaptação do livro de Richard Yates, lançado em 1961. O enredo portanto é mais uma crítica de Sam Mendes, bem sucedida por sinal, à sociedade americana, apresentando uma família como outra qualquer, cujos sonhos frustrados deixam interferir também no casamento dos dois. O filme segue uma linha tênue, mostrando aos poucos como os sonhos do casal vão descendo por água abaixo, enquanto Frank derrapa em uma relação extra-conjugal, April deixa se abalar pela vida que não havia planejado e logo as brigas e os problemas vão tomar conta do longa, que vira um retrato penoso e dolorosamente real. Apesar da boa adaptação e dos diálogos e cenas inteligentes, o filme por vezes cai em um melodrama excessivo, mas que felizmente é carregado pelo elenco extremamente bem preparado, que extrai todo o brilho da história e da direção e compõe personagens profundos e providos de sentimentos.

Entre as estrelas que fazem parte do conjunto de atores de 'Foi

Apenas um Sonho' somente um recebeu a indicação ao Oscar. É o caso de Michael Shannon, que interpreta o filho da amiga do casal Wheeler Helen Giving (Kathy Bates, em uma competente atuação). Seu nome é John, e tem a péssima mania de ser sincero demais nas horas mais inapropriadas, sofrendo de aparente problema psiquiátrico. Apesar de ser bom enquanto intérprete, Shannon não é o principal trunfo do filme, cujas atuações de Winslet e DiCaprio são bem melhores e completas, entretanto, ignorados na cerimônia mais importante do cinema, e comprovadamente uma das mais injustas. A primeira, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática é o principal destaque, em um dos trabalhos mais interessantes da inglesa Kate Winslet, que mais uma vez, ou melhor, mais de dez anos depois de Titanic, volta à atuar ao lado de Leonardo DiCaprio, porém com um diferencial. Ambos estão bem mais corretos, experientes e convincentes, em especial, pode-se dizer que o talento do ator americano tenha crescido muito desde Jack Dawson, na superprodução dirigida por James Cameron, vencedora de 11 Oscars. Ele compõe um personagem ambicioso, que quer subir na vida, ainda que falte muitas vezes ao respeito com a esposa, as brigas do casal tornam-se mais interessantes e ardentes com a explosão de talento do casal, conhecido de longa data.

Perante a proposta bem cultuada, a fotografia é mais uma vez destaque em um filme de Sam Mendes. O responsável pelo trabalho desta vez é o conhecido Roger Deackins e como fez com O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, dirige com maestria o seu fundamento. Acontece que pra quem conhece o trabalho de Mendes sabe que a belíssima reconstrução de época, desde os figurinos bonitos até os cenários simples, porém ricos, serve somente de fachada para o pesado enredo. Aliás, isso é evidente em todos os filmes do diretor. A música composta pelo diferente e original Thomas Newman consegue captar essa essência dramática de Sam Mendes, criando faixas belas, acompanhando desde a aparente felicidade, sonhos frustrados, chegando finalmente ao arrebatador final.

E suma Foi Apenas um Sonho é um filme sobre o desencanto. O trágico final é somente mais um tempero à uma história que mesmo sem ele, seria pesada e dramática. Um filme poderoso em termos de atuações e arte, mas que peca na por vezes, redundante direção de Mendes e no roteiro excessivamente sentimental, porém fiel de Haythe. Aquém das expectativas, mesmo assim merece ser conferido.

Críticas

Na Natureza Selvagem

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Sean Penn se firma como grande cineasta nos trazendo essa obra prima perfeita em todos os sentidos,politico,intelectual e espiritual.Uma experiencia cinematografica que merece ser compartilhada por todos.

O que me impressionou, logo nas primeiras cenas de Na Natureza Selvagem, foi como Sean Penn conseguiu imprimir tanta sensibilidade em sua narrativa, sem fazela parecer algo piegas, narrando a história do jovem Christopher McCandless (Emile Hirsch), que deixou sua família, no estado da Virginia, no inicio dos anos noventa para se tornar andarilho, empregando-se em trabalhos temporários em atividades comerciais e agrícolas e, principalmente para ir à procura, no Alasca, daquilo que segundo acreditava seria a sua porta de liberdade da sociedade banhada a mentira.

Apoiado nas belíssimas imagens muito bem captadas pelas lentes de Eric Gautier e suaves canções de Eddie Vedder,o diretor conta a historia de maneira poetica,lirica, deixando perceptível sua identidade com Christopher que, descontente com o modo em que vivia, baseado nas idéias de Jack London, Henry David Thoreau e Leon Tolstoi, decide se isolar para sempre junto à natureza. A plasticidade do filme, portanto,e um o elemento primordial.

Mas é evidente também que Penn,que assina o roteiro, baseado no livro do colunista Jon Krekauer , soube respeitar a fronteira que o separa de Christopher. Assim, ele expõe as fraquezas do personagem e ate mesmo um sentimento egoista,tipico da adolescencia e tambem o autoritarismo, que acaba se tornando um elemento de grande importancia e identificação de Christopher com Ron Franz (Hal Holbrook), um militar reformado, veterano de guerra, e que assim como ele, vive recluso, isolado da sociedade.

Aos 22 anos, filho de um engenheiro da NASA, Walt McCandless (William Hurt) e graduado, com êxito, no College, Christopher está preparado para ingressar na falcudade de Harvard. Ele tem uma poupança de 24 mil dólares(que ele acaba abrindo mão e doando a uma instituição de caridade). Mas os pais - a mãe, Billie McCandless ( Márcia Gay Harden), lhe garantem, na comemoração da formatura, a complementação da primeira anuidade na universidade, que gira em torno de 36 mil dólares porque também, nos EUA, ensino é negócio de lucro. Além disso, os pais se oferecem para dar um novo carro ao futuro universitário, que, entretanto, o recusa.

O perfil que se esboça de andarilho em Christopher não é, portanto, muito diferente dos demais conhecidos em outros filmes, que se insurgem contra a família e partem, sem destino, pegando caronas pelas estradas à procura de aventuras no meio da imensidão do território americano ou, mais precisamente, no caso, uma jornada pela Dakota do Sul, Arizona e Califórnia. Antes, porém, ele distribui a poupança que tem com os pobres.

A forma pela qual é narrada a busca de liberdade por Christopher contra o opressivo esquema da sociedade americana é, na verdade, o que seduz o espectador,e uma critica leve,mais não deixa de ser uma critica.. Pois houve um cuidado especial de Penn em estruturar o roteiro, jogando ora com o presente, ora com o passado e mostrando não só a perspectiva do rapaz, mas também a de quem ele deixou sofrendo para trás no caso sua irmã Carine.

É Carine(Jena Malone,que aqui aparece grande parte narrando em off) quem faz a ponte de Chris – como com o passado, revivendo os tempos em que ambos eram crianças e presenciavam as constantes desavenças entre os pais, que se xingavam e se atracavam mutuamente. Talvez seja por isso que eles tanto se martirizem, no presente, diante do sumiço do filho que, para se isolar ainda mais da família, muda de nome. Destrói a carteira de identidade. E passa a se chamar Alexander Supertramp(tem uma otima cena com uma atendente).

Se Penn realiza excelente trabalho como roteirista e como diretor, também como selecionador e orientador de atores ele deixa evidente sua marca de qualidade. Pois não há nota dissonante em termos de interpretação.Tanto os atores jovens quanto os mais experientes desempenham seus papeis com competencia,com destque para Catherine Keener,que interpreta Jan,uma Hipiee,na qual Chris tem uma estreita relação de mãe e filho.

Quanto a Márcia Gay Harden, William Hurt (tendo uma otima cena na rua no final da historia)e Vince Vaughn estão, como sempre, muito bem em papéis principalmente o do último, de Wayne Westerberg de curta duração. E o experiente Hal Holbrook impressiona muito, como o veterano de guerra Ron Franz que, ao se despedir de Christopher, antes que parta para o Alasca, na estrada, de dentro da picape, produz a cena mais comovente do filme. Tanto assim que mereceu a indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, o qual acabou sendo conquistado por Javier Bardem.

Mas é Emile Hirsch, depois de Sean Penn, a grande estrela de Into The Wild. Aos 22 anos, Hirsch se torna, depois dessa sua brilhante atuação, um dos nomes mais respeitáveis do cinema americano. Quem o viu em Alpha Dog, no papel do criminoso, Jesse James Hollywood, um jovem delinquente preso no Brasil e que aguarda julgamento na Califórnia, fica surpreso com a evolução do moço. Não porque sua atuação teria sido fraca no filme de Cassavetes. Era como se fora, sim, um diamante para ser lapidado. Pois a lapidação lhe foi dada agora por Penn, que entende, como ninguém, de como se deve compor uma personagem. O ator está soberbo. Chega a se desfigurar por completo ao perder 15 quilos a fim de atingir a plenitude da personagem Christopher, que, embora tardiamente, só nos momentos finais, chega à compreensão de que: - a felicidade tem de ser compartilhada!(em uma das cenas mais belas do cinema).

Um filme belissimo,muito bem estruturado,com otimas perfomances,bonitas e inspiradoras imagens,mais que ainda sim não deixa de ser uma opinião politica a respeito da sociedade.Uma obra que destroi todo ou qualquer clichê de road-movie tipico americano (juro que ao ver o trailer quase me arrependi de ter comprado o filme,pois achava que era a mesma coisa de sempre ja tão reaproveitada),uma obra prima que merece ser vista e que assim como a felicidade tem de ser compartilhada.

Críticas

Dogville

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Em 2003, Las Von Trier nos trouxe uma obra-prima, um filme muito diferente daquilo que estamos acostumados a assistir, um filme complexo em alguns pontos, e que, ao mesmo tempo que possui milhares de admiradores, também, possui pessoas que o destratam descaradamente. Dogville é inteligente, inusitado e instigante. Com muita honra, farei meu primeiro digno comentário, homenageando este maravilhoso filme.

Dogville faz referência ao movimento artístico Dogma 95, movimento cinematográfico inicado pelo diretor Las Von Trier. Uma atitude ousada, pois o manifesto impõe algumas regras radicais, como por ex: ausência de trilha sonora, edição de vídeo, iluminação especial, truques fotográficos, filtros, deslocamentos temporais ou geográficos e etc. Este foi implantado com o objetivo de fazer cinema de uma forma menos comercial e mais realista.

O filme se inicia mostrando um pouco do cotidiano da cidade de Dogville, uma pequena cidade com poucos moradores, cercada por um “nada” repleto de montanhas. Cada morador tem sua personalidade marcante e seus afazeres. Até que a situação do local muda repentinamente com a chegada de Grace (Nicole Kidman, comprovando que beleza, talento e competência podem andar juntos.), que está fugindo desesperadamente de gângsters. Dogville acolhe , aparentemente, a ingênua moça. Em meio a isso, o filme se desenrola em 9 capítulos.

A parte técnica do filme é primordial, a produção é simples e empolgante. O roteiro é repleto de diálogos inteligentes, guiando tudo de uma forma muito interessante e incitante. John Hurt faz a narração , eu pessoalmente não gosto de narrações, mas tudo foi muito bem elaborado, conseguindo um resultado excelente. No filme, vemos diversas atuações fantásticas, todo o elenco se destacou e cumpriu seu dever, Kidman e Bettany surpreenderam.

Muitos insistem na ideia de que Dogville, faz uma crítica aos EUA, também, porém não creio que a crítica – pesada por sinal – seja direcionada somente à isso, mas sim , para toda a sociedade. O filme mostra a mudança comportamental dos personagens, todos crescem de uma forma impressionante, conseguindo arrancar sentimentos de quem vê.

A arrogância, mesquinharia e hipocrisia da sociedade transborda pelo filme, e é muito criticada, de maneira a nos fazer pensar sobre nós mesmos.

Dogville responde nossos “desejos” com um final chocante – julgado como antiético por alguns -, mas necessário para expor a situação depreciativa do homem , juntamente com a sua condição vingativa e pútrida. Las Von Trier será lembrado para sempre, não só por Dogville, mas por outras obras-primas; odiadas por vários, porém adoradas e exaltadas por muitos.

"If there is any town in this world

would be better without, this is it."

Críticas

Harry Potter e a Câmara Secreta

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O que dizer da literatura da britânica J.K Rowling? Fútil? Boba? Pouco Inteligente? Bem, isso é o que muita gente acha. Particularmente, eu penso que ela é boa no que faz. Poucos (poucos mesmo!) são capazes de produzir algo como ela: voltado para as crianças ao mesmo tempo que conquista também o público adulto (sim, há adultos que adoram as fábulas de Harry Potter). É claro que não podemos cair no erro de uns e outros por aí, que usam o lendário Shakespeare como parâmetro. Rowling está longe de ser uma lenda, no entanto, é competente o suficiente para fazer bons livros a ponto de se tornar uma das escritoras mais influentes do mundo. Alguém provavelmente dirá que Paulo Coelho também é influente, bom, ou qualquer coisa do tipo… essa já é outra história, prefiro me abster.

"Harry Potter e a Câmara Secreta", assim como seu antecessor, conta com muitos erros e alguns acertos, mas em suma, continua sendo uma obra irregular e sem magia. Mesmo o altíssimo investimento (100 milhões de dólares) foi insuficiente para trazer algo de novo e realmente encantador ao filme, que no final das contas acabou sendo apenas comum. Ao meu ver, creio que na época os produtores deviam ter escolhido um diretor com mais cacife, como Steven Spielberg – que chegou a ser cogitado para o trabalho. Chris Columbus, infelizmente, é fraco e teve muitas dificuldades em fazer os dois primeiros longas – tanto que foi substituído no terceiro episódio.

Falando em seu trabalho, Columbus repete mais uma vez os erros do capítulo anterior ("Harry Potter e a Pedra Filosofal"). Algumas cenas continuam muito mal dirigidas e o final deixa a desejar mais uma vez: é pouquíssimo emocionante, não envolve o espectador e tem atores pouco inspirados (ou mal dirigidos mesmo). De quebra, sentimos claramente que há algo no segundo episódio muito parecido com o primeiro; como assim? Sabemos que se tratam de histórias distintas, mas caso contrário, jamais conseguiríamos diferenciar os dois filmes, pois tirando alguma cena aqui e ali, é tudo muito igual, o clima é o mesmo. No terceiro longa, no entanto, isso ganha novos contornos e muda consideravelmente, até porque é um diretor diferente que comanda a trama - o mexicano Alfonso Cuarón.

No quesito roteiro, Steve Kloves optou mais uma vez por ser fiel à história original. Ainda assim, podemos observar alguns furos: Lord Voldemort continua mal explicado e o relacionamento de Hagrid com Aragogue também é pouco aprofundado, sem muitos detalhes, bem como o envolvimento de Alvo Dumbledore com Tom Riddle. Muito por isso, os iniciantes devem se confundir – ou até mesmo se entediar – já que mesmo sendo fiel ao livro, algumas coisas ficam bem confusas (e os 161 minutos de filme pouco ajudam nesse caso). Para os fans, no entanto, "Harry Potter e a Câmara Secreta" é outro prato cheio (me incluo nesse grupo). Esse é o grande lance da série: é um trabalho direcionado muito mais para os aficionados do que para os que nunca leram os livros, diferente de "Senhor dos Anéis", por exemplo, que consegue interar os iniciantes com muito mais propriedade.

O elenco vai mais uma vez muito bem. Podemos notar que o trio principal evoluiu se comparado à primeira empreitada; no entanto, o destaque aqui é inteiramente para o elenco mais experiente. Jason Isaacs consegue interpretar um Lucius Malfoy igualzinho ao que imaginamos quando lemos as histórias. Sua arrogância e prepotência (marcas de seu personagem) ganham ótimos contornos na pele do ator. Kenneth Branagh, que também faz sua estréia, executa muito bem o papel do Professor Gilderoy Lockhart – que rende, talvez, as cenas mais divertidas do longa. Falar de Alan Rickman (Severus Snape) é chover no molhado. A nota triste fica por conta de Richard Harris – o carismático Professor Dumbledore. O ator morreu em 2002 vítima de câncer no sistema linfático – o que foi uma grande perda para o cinema mundial. No seu lugar entrou o também experiente Michael Gambon, que para mim faz um Dumbledore ainda melhor.

Por fim, "Harry Potter e a Câmara Secreta" marca um ligeiro retrocesso da série. Ainda assim, podemos notar alguns quesitos que obtiveram grande melhora, como os efeitos especiais, que aqui gozam de uma realidade incrível – basta ver o elfo doméstico Dobby, extremamente bem feito. O jogo de luzes usado pelo diretor também está melhor, e fica bem evidente em algumas passagens, como no rosto de Lucius Malfoy no finalzinho (quando ele está no escritório de Dumbledore). O figurino, a fotografia e a trilha sonora continuam com a mesma qualidade da série, e as paisagens contêm uma beleza imensurável – bem típica de filmes desse tipo. O segundo trabalho cinematográfico da mitologia de J.K Rowling vale a pena para os veteranos, e talvez somente a eles; no entanto, ainda recomendo aos iniciantes, pois a trama tem lá suas qualidades.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Terminal, O

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Uma comédia engraçadíssima, uma divertida forma de criticar os aeroportos e não só e um daqueles filmes que uma pessoa deseja que nunca acabe.

A ideia de criar em um pequeno sítio um mundo onde uma pessoa possa comer, dormir e até mesmo ter um jantar romântico é muito engraçada (até eu já pensei nela!). E, neste filme, essa ideia é muito bem trabalhada. É muito divertido ver Viktor Navorski a tentar safar-se com a vida no aeroporto, e, ao mesmo tempo, a mostrar-nos como até um sítio, por mais insignificante que seja, é sempre um mundo maior do que aquele que se vê.

Eu diverti-me imenso ao ver, por exemplo, Viktor todo atrapalhado com a língua inglesa. Teve imensa graça a cara de “Hem?” que ele fazia quando Frank Dixon falava com ele. Ele ali “blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá” e Viktor não percebia nada! E Frank não se esforçava nem um pouco para que ele compreendesse! Teve muita piada. Essa e todas as outras situações em Viktor se meteu por não perceber o inglês. E à medida que o filme avançava, conhecia novos personagens, cada uma mais peculiar que a outra, e todos com a sua graça. Enrique Cruz é muito divertido, o velho rabugento tem imensa piada e Amelia, embora não pareça, é engraçada. Uma pessoa que está sempre a “bater na sua cabeça” por fazer uma coisa e depois desejar nunca ter feito nada disso e achar isso burro da parte dela? Hahaha!

E, a uma certa altura, o filme deixa de se limitar a ser engraçado e mostra-nos cenas mágicas. Diria que a primeira é aquela cena do homem dos comprimidos. Viktor fez muito bem o seu papel de tradutor, mas não estava a conseguir ajudar o homem. Aquela ideia de dizer que os comprimidos eram para o bode foi genial, e achei-a engraçada. O nosso homem mostrava-se então ainda mais esperto do que havia mostrado até aí, e melhor pessoa. Fiquei contente com essa boa acção de Viktor “O Bode” Navorski.

A partir dessa cena, Viktor passa a ser um grande altruísta, sempre a ser boa pessoa e a ajudar tudo e todos, fosse como fosse. Tornou-se maior do que qualquer pessoa estaria à espera. Grande homem. Porém, ainda lhe faltava ajudar-se a si mesmo. Afinal, ele também gostava de Amelia, e queria ficar com ela. As cenas em que eles os dois estão juntos ficaram muito poéticas, e fariam qualquer pessoa pensar que eles ficariam juntos e felizes no final. Mas não. Surpresa, este filme fugiu a esse estereótipo e mostrou que nem sempre os grandes amores vencem, e que não é por causa disso que alguém passa a ser um infeliz.

A uma certa altura, este filme acaba por fazer lembrar Austrália, na medida em que está cheio de cenas bonitas que parecem um final. A minha própria mãe pensou que o filme ia acabar na cena em que Viktor e Amelia se beijaram! É verdade, o filme várias vezes parece que vai acabar, mas ainda se prolonga. E, mesmo assim, nunca se torna cansativo, porque este é um daqueles filmes em que a gente não se importava de ficar a ver aquilo mais umas duas horas, porque este filme proporciona-nos muitas risadas. E, quando finalmente acaba, tem um belo final.

Gostaria de destacar ainda algo relacionado com as actuações. Alguns actores estão melhores, outros menos bem, mas, no geral, temos um nível bom. O velho rabugento está muito bem representado, a personagem de Frank também, e muitos secundários também estão bastante aceitáveis. Mas o grande destaque é, sem dúvida, Tom Hanks. O actor desempenha aqui um papel de maneira impecável. Em especial na parte em que Viktor ainda se vê atrapalhado por não saber falar inglês, Hanks chega, por vezes, a fazer lembrar Sean Penn, na sua soberba interpretação em Uma Lição de Amor.

O Terminal é uma comédia muito eficiente, um belo filme para se ver com a família. Recomendo.

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