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Críticas

Che

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[Primeira parte do longa de Soderbergh, Che- O Argentino mostra uma visão comedida do guerrilheiro]

Ao lançar Che, no 61° Festival de Cannes no ano passado, o diretor Steven Soderbergh foi enfático ao defender a imagem do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara no filme:

“Conheço bem a argumentação dos que são anti-Che e sei que qualquer quantidade de barbaridades que incluíssemos nesse filme não seria suficiente para satisfazê-los”.

[Ficha Técnica]

Com quase cinco horas de duração - 4h28 do filme e um intervalo de 30 minutos entre suas duas partes - o filme dividiu opiniões. Uns acharam o longa chapa branca. Soderbergh teria feito uma abordagem simpática do guerrilheiro argentino estrelado por um astro de Hollywood, o americano de descendência porto-riquenha Benicio Del Toro. Outros gostaram, sobretudo pela adaptação fiel na língua espanhola.

No lançamento para as salas comerciais, Che foi dividido em duas partes pela distribuidora Warner. A primeira parte, intitulada O Argentino, mostra a participação de Che na Revolução Cubana (1959) intercalado com o discurso do guerrilheiro na ONU, em 1964. A segunda parte Guerrilha ilustra os 341 dias que ele passou na selva boliviana, treinando guerrilheiros, até sua morte, em outubro de 1967.

Com um orçamento de US$ 60 milhões (R$ 98,9 milhões), o filme ganhou locações na Espanha, Bolívia, México, Porto Rico e nos EUA. E teve participação brasileira no longa. O ator brasileiro Rodrigo Santoro deu vida ao guerrilheiro Raúl Castro, irmão do ditador Fidel Castro.

[O Castelhano]

Che - O Argentino se apega nas raízes da revolução no início dos anos 50 e se desenvolve até sua maturidade com o estopim da Revolução Cubana, em 1959. Motivados pela tomada do poder de Fulgencio Batista em Havana, com o apoio dos Estados Unidos, um grupo de jovens cubanos ligados aos ideais marxistas começa a idealizar um golpe de estado. Refugiado no México, o pequeno grupo tem como líder o jovem advogado Fidel Castro(Demián Bichir). Figura entre eles o médico argentino Ernesto “Che” Guevara.

Do tipo calmo, semblante sério e voz flexível, Che é ainda um novato na luta armada quando ruma de barco para Cuba em 26 de novembro de 1956. Acompanhado por Fidel e seus seguidores, ele se embrenha na mata e passa a incrustar na mente dos camponeses e jovens os ideais da revolução. Na medida do possível, procura não recrutar menores de idade e analfabetos – e quando o faz tenta alfabetiza-los.

Ao lado dos irmãos Fidel e Raul e do combatente Camillo Cienfuegos (Santiago Cabrera), os principais líderes da Revolução, Che passa a conquistar a simpatia do povo cubano. Assediados pela truculência do exército de Batista, os moradores de vilarejos vão pouco a pouco se aliando aos rebeldes, seja como informantes ou no campo de batalha.

A revolução adentra para as cidades que cedem espaço aos rebeldes. Mesmo com muitas baixas, o exército de Fidel avança nas batalhas até a derrocada do regime de Fulgêncio, em 1° de janeiro de 1959.

[Revolução]

Nessa primeira parte da trajetória de Che Guevara, Soderbergh leva a risca os acontecimentos históricos da Revolução Cubana. Retratando com cores fortes a selva cubana, o cineasta reconstrói o ambiente de conflitos instaurados na ilha caribenha. Um deles foi a batalha de Sierra Maestra, onde Batista emanou uma ofensiva de 10 mil homens para acabar de vez com o movimento. As cenas de batalha entre exército e rebeldes são filmadas em planos abertos, sem grandes malabarismos de câmera. A simplicidade gera uma noção realista aos tiroteios.

Contrastando com as cores fortes de Cuba, as cenas do discurso de Che na ONU surgem aleatoriamente na trama em preto e branco. Há quem diga que isso foi uma maneira do diretor demonstrar sua simpatia com o revolucionário no ambiente hostil em que se meteu e onde foi duramente criticado por outros chefes de estado. Acredito que não, que foi apenas um recurso de estilo, até porque a entrevista verídica foi registrada dessa maneira. Um recorte interessante dessa passagem de Guevara nos EUA foi o encontro dele com o senador McCarthy, um dos principais críticos do comunismo, responsável pela prisão de muitos compatriotas, incluindo pessoas influentes do cinema.

Líder comunista, orador carismático, soldado médico e estrategista de guerra. Soderbergh trata de expor todas essas facetas de Ernesto Guevara. Sem cair na mitificação e sem pegar pesado com o lado frio do guerrilheiro. É bem verdade que o diretor sublima demasiadamente o lado tenro de Che, nos momentos em que ele cuidava de doentes e moldava sua retórica com palavras positivas para elevar a moral do exército. Por outro lado, as lentes também nos mostram seus momentos de fúria e de retaliação onde ele ofende com desprezo os combatentes que desistem da causa e pune com a morte os desertores. Mas, como o próprio cineasta definiu, é pouco para os que estão acostumados a vê-lo como um sociopata assassino.

Embora tenha seu lado chapa branca, Che – O Argentino também dá umas alfinetas sutis nas utopias da luta armada. Para quem conhece os desdobramentos da Revolução Cubana após o embargo econômico dos Estados Unidos dá pra perceber que o diretor mencionou no filme algumas promessas de campanha mal cumpridas do futuro regime. Como na cena onde Fidel promete a Che que a revolução não será colonizada por nenhum outro país. Acontece que após a retaliação dos americanos, Fidel foi correndo buscar apoio da União Soviética de quem se manteve refém até a queda do regime em 1990. E de lá pra cá, pouca coisa mudou lá no seu quintal em Havana. E se mudou, foi para pior…

O ator Demián Bichir, aliás, incorporou muito bem o ditador. Na primeira cena, onde é apresentado a Guevara, ele domina as discussões numa mesa de jantar, sem deixar os outros falar. O jeito falastrão e os gestos destemperados do cubano são bem orquestrados pelo intérprete mexicano. Já Rodrigo Santoro aparece pouco no filme mas não faz feio emulando as feições discretas do irmão mais novo de Fidel. Quanto a Benício Del Toro não há muito o que falar. Ele é genial, um dos melhores atores de hollywood e mesmo não fazendo a melhor performance de sua vida incorpora sem exageros o mito que carrega seu personagem. Sua atuação está no mesmo nível do filme: no mínimo, satisfatória.

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Louco Apaixonado, Um

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[Simon Pegg inferniza o mundo das celebridades numa comédia engraçada, mas que em momentos tenta ser o que não é]

É muito fácil chamar a atenção das pessoas com um filme engraçadinho, carregado de sarcasmo e referências cinematográficas e com uma subtrama romântica pra segurar o público adolescente na poltrona. O que não é fácil é fazer com que esse filme seja original e não um pastiche.E sem que para isso tenha que perder a graça. A comédia How to Lose Friends and Alienate People – no Brasil, porcamente traduzido pra Um Louco Apaixonado- consegue contornar essa mediocridade das comédias pastelão e encontrar espaço no enredo para uma trama amorosa sem explorar necessariamente as fórmulas românticas.

Sem explorar nenhum tema excêntrico ou inusitado , o filme tem como premissa o mundo das celebridades. Sua fonte, o livro de memórias homônimo de Toby Young que conta como passou cinco anos em Nova Iorque tentando virar editor da revista Vanity Fair para em seguida chutar o balde das estrelas e personalidades com seu humor ácido e pernicioso. Para interpretar o jornalista britânico nada melhor que um típico glutão da terra da rainha. O nome que estrela essa brincadeira é o de Simon Pegg. do impagável Todo Mundo Quase Morto. A escolha não poderia ter sido melhor.

Humorista de primeira, Pegg sabe como ninguém aliar gags físicas com humor refinado. No filme, seu personagem Sidney Young é um jornalista inglês que sempre devotou as celebridades do cinema de forma tão amarga quanto fascinada. Filho de atriz, o papparazi é dono da revista picareta Post Modern Review, que se presta a satirizar e meter o dedo na ferida dos famosos. Sem mais nem menos, Young é convidado por Clayton Harding (Jeff Bridges) para trabalhar na Revista Sharps – evidentemente a Vanity Fair. Grande admirador do trabalho do editor americano, ele parte imediatamente para Nova Iorque para buscar tudo aquilo que sempre idealizou. Sucesso profissional, financeiro, social e sexual tudo isso faz parte do seu sonho. O que ele não imaginava é que para obter esses fins teria que mudar a filosofia dos seus meios.

Como todo mundo sabe, a mídia e a imprensa americana têm uma forma de trabalhar totalmente oposta ao da britânica. Enquanto na Inglaterra os jornalistas saciam os tablóides com a vexação pública das celebridades, os periódicos norte-americanos optam por uma cultura de contemplação das estrelas. Acontece que Young não consegue se enquadrar a esse sistema de bajulação em troca de ascensão profissional. Sorte dele, ter a companhia de Allison Olsen (Kirsten Dunst), colega de redação que aos poucos tenta adequá-lo ao emprego, mesmo que o próprio não tenha muita vontade disso. O problema é que ele bate de frente com Lawrence Maddox (Danny Houston), chefe da sua seção que não tolera seu jeito grosseiro. Pra piorar, apaixona-se pela atriz do momento Sophie Maes ( a cada vez mais linda Megan Fox). Confusões com atrizes, junkies, um cachorro morto e um travesti são as ranhuras de sua caminhada às avessas pelo sucesso.

Primeiro longa-metragem na carreira, Robert B. Weide assina a direção mostrando competência e uma veia cômica sofisticada, mas que ainda pode ser lapidada. Dentre erros e acertos, a virtude maior do seu trabalho, foi não ter perdido o foco do humor quando a narrativa adentrou no romance. Mesmo que a aproximação entre Young e Allison seja um recurso matematicamente engendrado ao espectador, o cineasta consegue extrair uma abordagem simpática dessa situação. Para isso, contou com a qualidade dos protagonistas, principalmente de Pegg. Com ele, a gargalhada é garantida, além de render momentos impagáveis. Uma das cenas mais engraçadas é quando ele recebe o convite de Harding para trabalhar na sua revista. Achando que seria insultado pelo editor resolve ironizá-lo respondendo-lhe com uma frase famosa de James Stuart do filme Felicidade não se Compra. Também surgem referências a Grande Lebowski, Conair, Fritz Lang e ao filme A Doce Vida Metalinguagens que ora soam condizentes e em outras revelam pedantismo. Detalhes que não apagam a boa impressão de um trabalho acima da média para o gênero.

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Sex Drive - Rumo ao Sexo

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A versão sem cortes de "Sex Drive" é simplesmente uma brincadeira escrachada do diretor e roteirista Sean Anders, juntamente com Jhon Morris, também roterista e produtor do longa que, consiste em adicionar mulheres e homens nus às cenas, sem nenhuma ligação com a estória. Simplesmente estamos assistindo ao filme e passa alguém nu na cena. O close, claro, nos seios e nos pênis.

Bom, esquecendo essa besteira por parte da produção, o filme conta a estória de Ian, interpretado pelo desconhecido, porém, carismático Josh Zuckerman.

Ian, tem o perfil convencional do nerd virgem, que contrabalança sua personalidade entre a ingenuidade e a perversão sexual.

Ian, tem um melhor amigo, Lance, um tipo super sacana que desperta o interesse da mulherada. O curioso é que Lance, interpretado pelo cheinho e também pouco conhecido Clark Duke, foge ao esteriótipo de beleza adolescente. O que gera menos clichê ao batido perfil do personagem garanhão.

O roteiro segue a mesma fórmula que desde os anos 80 é explorada: jovens aventurando-se em busca de sexo casual.

O estilo de comédia do precurssor "Porki´s", ressucitado nos anos 90 por "American Pie", é exatamente a base para o desenvolvimento de "Sex drive".

Além dessas comparações, "Sex drive" tem um estilo bem similar ao de "Eurotrip - Passaporte para a Confusão". Entretanto, diante de tanto cotejo, a aventura de Ian, ainda assim, tem uma certa peculiaridade.

Ian, trabalha numa espécie de lanchonete que vende donnuts (roscas) no shopping center local. Por isso, ele, esporadicamente, precisa se caracterizar de rosca gigante, realizando o trabalho de panfletagem para divulgar o local. O que simplesmente é culminante em seu declínio social.

Constantemente avacalhado pelo irmão mais velho, e superado pelo irmão mais novo, Ian, ainda virgem, resolve atravessar o país em busca de uma loira que ele conheceu num site de relacionamento.

Iludido com a idéia de iniciar-se sexualmente com ela, ele, juntamente com Lance, e sua melhor amiga Felicia, interpretada pela fisicamente perfeita Amanda Crew, parte em busca da Srta. Tasty (codinome virtual da loira).

É exatamente nesse ponto do roteiro que é inevitável não reportá-lo à "Eurotrip - Passaporte para a Confusão".

As loucuras pelo meio do caminho são óbvias, porém, a participação de James Marsden como Rex, o irmão mais velho de Ian, é o que acelera mais a trama.

Rex, otário, bruto e ironicamente homofóbico (assista para entender), sai à procura do irmão, por conta de seu carro Pontiac GTO Judge de 1969 que, Ian pegou sem pedir, para impressionar seu contato da net.

Durante a viagem nesse Road Movie, o trio se depara com várias situações bizarras, tendo como a principal uma comunidade Amish, retratada aqui de forma exagerada e subjetiva. Tem até uma ponta do grupo de rock, Fall Out Boy, se apresentando para eles.

O diretor Sean Anders consegue dar um ar desprentensioso à essa comédia, porém, não consegue fugir dos clichês e do desfecho prevísivel, inferindo em um romance barato.

Apesar de ser um filme estritamente adolescente - tanto em sua concepção quanto em seu público alvo - , o filme tem muitas cenas engraçadas, mesmo possuindo uma linguagem depreciativa, mesclada a um amontoado de nudez desnecessária.

Há duas cenas de risada gratuíta, porém, marcantes no filme pra mim: uma é a cena em que Ian cheira o dedo do irmão mais novo (alusão à superioridade sexual do caçula) com direito a um diálogo cômico; a outra é de Ian ajudando uma jovem bêbada, aspirante a Amish, que vibra sempre que ouve a palavra "Rumspringa" - nome dado a uma festa tradicional deles que, foi reproduzida aqui em forma de bacanal. São dois episódios bobos, mas que me fizeram gargalhar.

Confesso, o filme podia ser melhor, mas vale assistir descompromissadamente... frisando, longe do público infante.

O resultado é razoável, mesmo considerando o fato de seu roteiro ser uma costura de vários filmes do gênero.

O destaque do longa vai para o protagonista que, pode se tornar figurinha fácil nesse tipo de filme, e para a participação de Seth Green, como um sarcástico Amish – eu sei, é redundante remeter o adjetivo "sarcástico" à figura de Seth Green, mas foi necessário...

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Caçador de Pipas, O

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[Filme de Marc Foster acerta nas cores mas peca pelo formalismo]

Adaptação do best-seller homônimo de Khaled Hosseini, Caçador de Pipas tem sua história centrada na infância do menino Amir (Zekiria Ebrahimi) , um garoto mimado e com dom para escrever contos. Seu melhor amigo é Hassan (Ahmad Khan Mahmoodzada), filho de um empregado do pai e seu fiel protetor. Companheiros inseparáveis, o maior divertimento deles é empinar pipas pelas ruas de Cabul, no Afeganistão.

Enquanto Amir possui a habilidade de cortar a pipa dos adversários, Hassan é exímio na tarefa de encontrá-las. Durante uma competição, a amizade dos dois é abalada quando Hassan é violentado por garotos de uma etnia rival.

Em vez de defendê-lo Amir assisti a tudo escondido.Seu constrangimento e sentimento de culpa logo se transformam em aversão ao amigo. O rompimento da amizade torna-se um problema secundário quando a União Soviética invade o país. Amir e seu pai refugiam-se nos Estados Unidos.

Já Hassan e a família permanecem em Cabul onde enfrentam a transição do governo soviético para o regime talibã. Quando se torna adulto, Amir ( a esta altura vivido por Khalid Abdalla, de Vôo 93) vira um escritor de sucesso. Prestes a se casar, ele recebe uma carta que o obrigará a retornar para a terra natal e encarar o seu passado.

Para quem não leu a obra de Hosseini - que é o meu caso-, fica difícil dizer se a história poderia ou não ter sido mais bem ambientada. Quem acompanhou a transposição do livro para o cinema diz que o diretor Marc Foster - para o bem ou para o mal da classificação indicativa- pegou leve com as passagens mais espinhosas do enredo original. De um modo geral Caçador de Pipas é um filme simpático, coeso e acadêmico; com arestas bem aparadas, mas sem identidade.

É estranho assimila-lo com trabalhos anteriores de Foster como A Última Ceia, Em Busca da Terra do Nunca e Mais estranho que a ficção, muito mais ousados e inspiradores. Com um texto burocrático e tipicamente feito sob encomenda, o roteiro assinado por David Benioff ( do incipiente Tróia) parece que vai no piloto automático. Ou seja, não encanta, porém não decepciona.

Em termos de produção, o filme é eficiente. Tem uma fotografia primorosa que capta bem as cores quentes da China Ocidental, usada como cenário para obter um clima fidedigno com a realidade de Cabul. Louvável também foi o empenho dos produtores em rodar a primeira parte do filme no dialeto dari.

Além disso, nada mais do que um mero exercício de autorepetição das grandes produtoras: adaptar best-sellers em tempo hábil para se tornarem filmes financeiramente viáveis e artisticamente rasos.

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Persépolis

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[Animação adulta utiliza o humor para desarmar as agruras de um regime autoritário]

Durante a infância, a quadrinhista Marjane Satrapi viu de perto as agruras sofridas por seus familiares nas mãos da monarquia Xá do Irã. Mais tarde, sentiu na pele a ascensão da cruel e sanguinária revolução islâmica, período em que foi obrigada a deixar país para garantir sua sobrevivência.

Com uma biografia trágica como essa, a escritora poderia muito bem ter criado uma obra triste e amargurada quando resolveu contar a história de sua vida. Em vez disso, publicou Persépolis, uma cativante -e até bem-humorada- autobiografia contada a partir de histórias em quadrinhos, onde a família e os amigos são expostos em primeiro plano e a tragédia é usada apenas como pano de fundo.

Publicada em 2002, a graphic novel tornou-se um sucesso em diversos países, tornando inevitável sua adaptação para o cinema. O resultado saiu em 2007 através de uma aclamada animação dirigida pelo estreante em longas Vincent Paronnaud. Marjane também assina a realização.

Indicado e ao Oscar e ao Globo de ouro da categoria, Persépolis sagrou-se vencedor do prêmio Cesar além de faturar a estatueta do júri especial de Cannes. O filme faz recortes da vida da protagonista; da criança curiosa e observadora até a adolescente petulante e intransigente, que ouvia discos do Iron Maiden e promovia bate-boca com professores em sala de aula. Sua conduta contestadora é apoiada pelos pais, profundo detratores do radicalismo e das leis religiosas do governo do Irã.

Quando membros da sua família passam a ser perseguidos e mortos, ela muda-se a contragosto para Europa. Longe de casa, lida com alguns preconceitos e decepções amorosas e sofre pela falta da avó, sua melhor amiga, e da mãe- dublada pela belle de jour Catherine Deneuve.

Da biografia de Marjane às questões políticas e culturais do país, tudo é composto pelo diretor com um realismo impressionante. Basicamente, Persépolis é um filme sobre como os muçulmanos mais sensatos sentem-se deslocados dentro do seu próprio país. Idéia que é claro foi repudiada pelo governo iraniano que enviou à França uma nota oficial criticando o conteúdo “anti-islâmico” do longa.

Ao contrário da HQ, cuja ilustração é toda em preto e branco, a animação intercala imagens coloridas e em P&B. Destaque ainda para participação de Sean Penn e Iggy Pop na dublagem em inglês.

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Nosferatu: O Vampiro da Noite

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[Um pequeno histórico sobre o vampirismo]

Desde que o escritor irlândes Bram Stocker, popularizou lá no século 19 o mito literário do vampiro, o cinema nunca mais parou de caracterizá-lo nas telas. Embora não seja o livro pioneiro do vampirismo, Drácula foi um divisor de águas no imaginário popular desse ser mitológico que sacia a fome e a solidão alimentando-se de sangue humano. A primeira referência cinematográfica à criatura de Stocker se deu no início das experimentações no cinema, precisamente em 1922.

Na época, o cineasta F.W. Murnau, sem ter os direitos autorais em mão, se apossou dos elementos de Drácula e mudou o nome do vampiro para Nosferatu – A Sinfonia do Horror. O filme revolucionou o cinema e tornou-se um dos expoentes do expressionismo alemão, caracterizado por uma narrativa onde permeiam o uso de sombras e o contraste de cores.

Ao tingir de azul as lentes preto-e-branco da câmera, Murnau imprimiu um tom ainda mais opaco à película, obtendo assim o teor soturno que precisava para sua obra. Max Schreck, o intérprete de Nosferatu, é assustadoramente bizarro. Dá pra se dizer que o cara incorporou de corpo e alma o personagem.

Uma figura tão assombrosa que despertou a imaginação de Elias Merhige que na década de 90 lançou A Sombra do Vampiro, filme que lança a suspeita de que Schreck, de fato, era um vampiro de verdade. Oito anos após Nosferatu, o conde Drácula aparecia legalmente pela primeira vez nas telas, interpretado por Bela Lugosi. Umas décadas depois e chegamos à série de filmes do vampiro protagonizados por Christopher Lee.

Voltando do túnel do tempo, vamos perceber que o vampirismo continua com sua popularidade em alta no cinema. A diferença é que hoje eles não são mais tão assustadores e sendo vistos até com certa condescendência em determinadas produções. Filmes como Helsing, Blade e Anjos da Noite ainda colocam humanos e vampiros no front, mas as séries Buffy, Angel e Supernatural e o sucesso do filme Crepúsculo deram uma nova leitura a essas criaturas, mesmo que ainda exista o conflito.

[Nosferatu de Werner Herzog]

Após a era do expressionismo alemão no cinema, um novo movimento só apareceu no país europeu na década de 70, onde diretores como Werner Herzog, Win Wenders e Reiner Fassbinder fortaleceram a nova geração chamada novo cinema alemão. Com a idéia de fazer uma ponte entre essas duas fases, Herzog comandou em 1979 a refilmagem de Nosferatu. Não diria que o cineasta melhorou a obra original, mas sem dúvida trata-se de um trabalho bem representativo. Há diferenças conceituais, de ritmo e de gênero entre os dois filmes. Enquanto o original se reveste na teatralidade do cinema mudo para contar uma história de horror, o longa de Herzog é um suspense atmosférico ambientado sob matrizes góticas.

Nosferatu – O Vampiro da Noite abre com uma compilação de imagens em enquadramentos fechados de animais e criaturas bizarras. Um morcego dá um rasante na tela e desperta Lucy Harker (Isabelle Adjani) de seu pesadelo insinuante. Mesmo consolada pelo marido Jonathan (Bruno Ganz), logo se percebe que a visão se constitui num evento premonitório na vida do casal. Enviado a Transilvânia para tratar da compra de um imóvel, Jonhatan é apresentado a conde Drácula (Klaus Kinski), um aristocrata recluso e soturno.

Contrariando as advertências do povoado local e sem dar muita atenção a um livro que fala da estranha criatura que habita a região, o agente imobiliário não teme as lendas em torno do castelo de Drácula e encaminha a negociação com seu proprietário. Logo ele se vê vítima do vampiro que o mantém prisioneiro no castelo.

Infiltrado num navio cargueiro, Drácula ruma para Wismar, na Alemanha, na companhia de ratos abrigados em caixões. Seu objetivo é encontra-se com Lucy, com quem espera selar seu destino.Antes disso, porém, espalha a peste negra pelo navio, matando todos os tripulantes da embarcação. Em pouco tempo a doença infesta a cidade.

Enquanto isso, Jonhatan consegue escapar do castelo e retorna a cidade com o livro que ensina a aniquilar a criatura. Lucy então tenta persuadir o Dr. Van Helsing para eliminar Drácula. Acontece que a racionalidade do cientista o repele a agir conforme as crendices do livro do vampiro.

Ao contrário da obra de Stocker e do filme de Murnau, o vampirismo de Herzog não é visto como algo horripilante. Está mas para trágico. Acima de ser uma criatura assustadora e má, o Drácula/Nosferatu de Klaus Kinski é também um ser abatido; emocionalmente fragilizado. Que sufoca as pessoas que ama. Incapaz de controlar suas ações desacertadas. Representando o pragmatismo científico, o Dr. Van Helsing passa longe do estereótipo do caçador de vampiros. É apenas um velho pesquisador, alinhado ao ceticismo. Que reluta em doutrinar seus atos baseado em crendices.

Embora não seja sua grande obra, Werner Herzog fez de O Vampiro da Noite um trabalho magistral. Uma obra reflexiva, com ritmo lento e poderoso, onde o cineasta desfia suas temáticas com uma originalidade agradavelmente perturbadora. As cores frias e o paisagismo gótico das imagens são frutos de um excelente trabalho de fotografia de Jörg Schmidt-Reitwein.

O roteiro adaptado pelo próprio diretor é até mais consistente que o texto original, onde a frigidez pálida e recatada do casal é embocada assim como toda a cidade pela infestação carnal do vampiro e seus ratos, que acabam corrompendo o homem. Visto por essa forma, é até possível fazer uma leitura de Drácula/Nosferatu como um anti-herói, aquele que faz as pessoas transcenderem a pureza.

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Jurassic Park - Parque dos Dinossauros

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Excelentes efeitos especiais, ótimas atuações e uma composição inspiradíssima de John Williams são os ingredientes de um clássico, de um dos melhores filmes de todos os tempos.

Na época de seu lançamento, Jurassic Park ficou conhecido por ter sido o filme dos dinossauros mais realistas do cinema até então. Mas a genialidade do filme vai muito além dos dinossauros. Ela está nos detalhes. A começar pelo logotipo do filme. A ossada de Tiranossauro rex junto da tarja "Jurassic Park" deixou (e ainda deixa) um mágico suspense no ar, de que animais extintos seriam, depois de dezenas de milhões de anos, trazidos novamente à tona naquele parque. Tenho certeza que Steven Spielberg não colocou um dinossauro vivo no logotipo porque, se assim fosse, tiraria o gosto de suspense. Outra grande sacada de Steven foi ter utilizado o mesmo logotipo para caracterizar o próprio parque do filme (pode-se observar que ele aparece em várias passagens do filme, em bonés dos personagens, camisas, nos carros, e etc). Ou seja, Spielberg logo de cara deixa claro que o centro das atenções no filme seriam o parque e os animais jurássicos que ele teria.

A cena do braquiossauro, aos 20 minutos de filme, aproximadamente, é encantadora. É a primeira vez que um dinossauro aparece no filme. O semblante emocionado dos personagens, principalmente o de dr. Grant, com a música de John Williams no fundo, ajudam a engrandecer este momento.

Uma parte que considero muito importante no filme é a da explicação de como os dinossauros foram trazidos à tona novamente, depois de milhões de anos. Segundo o filme, homens escavaram o solo em busca de mosquitos fossilizados em âmbar, que picavam dinossauros há até 65 milhões de anos atrás. Estes mosquitos sugavam o sangue dos dinossauros para se alimentar, e pousavam na seiva, que endurecia e fossilizava os mosquitos. Quando um mosquito fossilizado era encontrado por algum escavador, os cientistas extraíam o sangue do "estômago" do mosquito para dar início ao reconhecimento da seqüência genética de um dinossauro. Como o sangue era muito velho, ele trazia falhas na seqüência genética do DNA, e os cientistas completavam a seqüência com um trecho de DNA de rã. Apesar de sabermos que é impensável conseguir clonar dinossauros na vida real através do que foi feito no filme, esta explicação deixa os dinossauros do filme ainda mais realistas. Os dinossauros não apareceram ali por mágica, têm uma explicação científica para estarem ali.

A cena da aparição do Tiranossauro rex se consagrou como uma das mais marcantes da história do cinema. O suspense que envolveu os personagens, principalmente Lex e Tim, e o tremor dos 3 copos dentro do carro deram um ar de expectativa a mais para o momento da aparição do dinossauro mais importante do filme. A aparição da cabeça daquele dinossauro cuja ossada compunha o logotipo do filme sem dúvidas foi o clímax.

A parte final da aventura no parque, em que o T-rex ataca os velociraptores que iam devorar os personagens do filme, apesar de mentirosa, é genial. No momento em que o dr. Grant, a dra Sattler e a Lex e o Tim são cercados pelos três raptores, um dos raptores inicia o ataque ao dr. Grant. Nesse momento, ao som da segunda parte da música de John Williams, o T-rex morde o raptor. Os outros dois raptores partem para atacar o T-rex, mas este consegue vencer a batalha. Por fim, cai um cartaz do museu central na frente do T-rex, onde estava escrito "Do tempo em que os dinossauros dominavam a terra". Um fim de aventura apoteótico.

O finalzinho do filme também me agradou muito. O rosto hipnotizado de John Hammond enquanto ele olhava para a sua bengala, que tinha em sua ponta um mosquito fossilizado em âmbar, foi de muito bom gosto. A cena em que Grant aparece com Lex e Tim dormindo em seu ombro, também.

O nome do filme em português, "Parque dos dinossauros", contribuiu para boa divulgação que o filme teve, mas eu não gostei dele. Seja lá quem tiver decidido que seria esse o nome, este acabou por tirar o bom gostinho de suspense do espectador antes do filme, e o suspense era uma intenção de Steven Spielberg.

Para terminar, concluo dizendo que Jurassic Park é um filme único. Um filme que foi um divisor de águas na história do cinema, durante muitos anos o maior sucesso de bilheteria da história, tendo sido superado depois de quatro anos por Titanic. Como dizia o seu anúncio, uma aventura que esperou 65 milhões de anos para ser concebida.

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Disque M para Matar

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O filme de Alfred Hitchcock que eu mais esperei para ver não é a experiência de vida única que eu estava à espera. No entanto, é um filme excelente.

Já sabia mais ou menos o que iria acontecer na parte inicial do filme, graças à sinopse, e já tinha conhecimento que o filme contém uma das cenas mais famosas de todos os filmes do mestre (admitindo que a cena do chuveiro em Psicose é a mais famosa), em parte porque tive a infelicidade de ver um bocado dessa cena por acidente, um dia, enquanto procurava algo para ver na televisão. Quando, mais tarde, soube que era de um filme do mestre, vi-me na obrigação de o ver. E vi-a com outros olhos, sem dúvida.

Passo a descrever-vos a experiência que foi, para mim, ver este filme:

Nos minutos iniciais, fiquei a ver cenas parecidas com as de algumas novelas. Mas isso não era problema, pois as novelas antigas são as melhores: diálogos bem construídos e personagens sérias que não falam como se o que estivessem a viver o fim do mundo, e sim como se estivessem num teatro. Fiquei, portanto, a apreciar a essência dos filmes antigos, incluindo o som, a cor…até as legendas!, enquanto a “parte que interessa” do filme não chegava. Tudo delicioso de se ver.

Ouvi dizer que a conversa entre Tony e Swann era muito longa. Pessoalmente, não achei. Aliás, vários filmes do mestre têm conversas deste género, e até gosto delas. E, pelo meio, lá tinha de aparecer o mestre, na fotografia da faculdade. Foi uma grande ideia. Mas voltando, achei a conversa bem ritmada, a explicar todos os pequenos pormenores de um crime muito inteligente. Para não falar no ambiente, que estava com pouca luz sem ser deprimente, talvez para nos dar a ideia de que se vai passar algo sinistro.

E depois, a cena por que tanto esperei. Magnífica. Uns quantos segundos parecem horas numa cena de muita adrenalina. Só me apeteceu apertar a mão ao mestre. Amei.

Depois disto, já não fazia ideia do que ia acontecer no filme. Sabia que Tony se ia aproveitar da situação, mas não sabia como. Quando o inspector veio, vi uma cena de investigação criminal à antiga. Uma cena boa, com diálogos de se lhe tirar o chapéu (vejam só a cena em que Margot explica porque atendeu o telefone de costas para a cortina), mas, na minha opinião, sem a mesma força das cenas anteriores. E foi pena terem abandonado o tal ambiente sinistro.

Esse, na minha opinião, foi o principal erro do filme: a investigação do crime tornou-se demasiado principal; o filme passou a basear-se quase apenas nela. Pensei que a investigação ia ser uma parte secundária do filme, como em vários filmes do mestre, e que o resto do filme consistiria em lamentações e conflitos entre os personagens.

Algum tempo depois, vejo uma cena assustadora e fascinante ao mesmo tempo, em que Margot olha nervosamente para a frente, a ver a justiça decidir o seu futuro, e a imagem vai ficando vermelha de vez em quando, para nos assustar ainda mais. Uma boa cena. Mas, a partir daí, deixei de ver Margot por um bom bocado. Isso foi um dos factores que, a partir daí, tornaram o filme menos bom. Outro foi o pedido de Mark a Tony, no qual Mark parecia que tinha adivinhado tudo. Por muito escritor de livros policiais que ele fosse, parecia que tinha lido o roteiro do filme!

Após esta estranha cena, acontece muita coisa: Mark encontra uma pasta cheia de dinheiro, confronta Tony e o inspector com ela, Tony, sempre esperto, inventa uma história (nessa parte, eu até torci por ele, porque não queria que o filme acabasse!), fazem uma confusão qualquer com as contas de Tony e, passado algum tempo, Tony vai-se embora e Margot volta. Aí, o inspector lá lhe conta o que ele e a polícia suspeitam. Explica porquê e como e, ao explicar como, vejo uma conclusão brilhante! Afinal, Swann fez uma coisa que só devia ter feito depois. Brilhante. Realmente, o mestre tinha jeito para crimes (quase) perfeitos e respectivas investigações. Depois de tudo isto, esperava que o filme terminasse com uma cena memorável e forte, como uma boa parte dos filmes do mestre, como Intriga Internacional.

Só mesmo o mestre para transformar uma pessoa a sair de casa e lembrar-se de uma coisa numa cena de suspense…foi uma maneira genial de “brincar” connosco. No entanto, foi muito menos excitante do que estava à espera, pelo que fiquei desiludido. Mesmo assim, foi uma boa cena, e a reacção de Tony quando foi apanhado é mesmo típica dos personagens dos filmes do mestre.

Saldo final: filme não extraordinariamente sensacional, mas excelente.

Pessoalmente, o que senti a ver Disque M para Matar foi tão bom ou melhor do que o que senti ao ver Janela Indiscreta. É um bom filme do mestre, mas para mim, em suspense, nada iguala Torrentes de Paixão.

Críticas

The Spirit - O Filme

0,0

Neste filme, Frank Miller, em sua primeira incursão como diretor no cinema - antes,havia co-dirigido trechos de Sin City - apresenta o que seria a sua versão do herói Spirit, clássica criação do gênio Will Eisner.

Visulamente, temos uma belíssima fotografia com tons escuros, muito semelhante a que foi utilizada no filme Sin City.O filme, em sua maior parte, passa-se em ambientes escuros ou a noite.Contudo, coma fotografia e os efeitos utilizados, até mesmo as poucas cenas a luz do dia no filme tem um certo tom soturno. A direção de Frank Miller lembra muito a utilizada por Robert Rodriguez em Sin City, bem como Tarantino em alguns lances. É interessante perceber alguns trechos claros em que o visual efeito "desenho animado" é percebido. Este é outro ponto muito interessante do filme,seu clima claro de histórias em quadrinhos.

A todo momento, o filme não passa um ar de realidade, é como um grande desenho animado ou histórias em quadrinhos. Tal técnica, contudo, deixa um clima muito divertido no filme.

As atuações são corretas, embora Samuel L.Jackson esteja um poco histrionico no papel de Octopus e Eva Mendes, apesar de exalar grande sensualidade, tem atuação apagada. Scarlett Johanson faz um papel atípico em sua carreira e se sai muito bem, assim como o novato Gabriel Macht, que recebeu a incubencia de dar vida a Danny Colt, o Spirit.

Tecnicamente e visualmente é um filme muito bom,com bela fotografia e bem dirigido. Contudo, prendendo-se um pouco na questão adaptação, o filme deixa a desejar. Para quem conhece o personagem- como é meu caso - o filme passa a impressão de que não é o Spirit que estamos vendo, mas sim apenas um herói qualquer. Os personagens estão descaracterizados em todos os sentidos. Ellen Dolan, que nas HQ´s é , em alguns momentos, uma mulher forte, está completamente insossa - culpa que é do roteiro, de autoria do próprio Miller. O comissário Dolan parece uma especie de J.Jonha Jameson para o Spirit quando, nas HQ´s não é nada disso, coopernado e ajudando o Spirit em muitas ocasões. Octopus, que nas HQ´s nunca mostra seu rosto e é sempre tão sério e soturno, está irreconhecível na interpretação de Jackson que acrescenta uma dose de humor que não existe no personagem original.

O próprio Spirit não parece com o original, lembra mais um Batman sem todos aqueles apetrechos do que um policial mascarado que é - de fato - o que ele realmente é.O fator de, no filme, ele contar com super-poderes é um agravante pois, nos quadrinhos, Spirit é um homem comum - com grandes capacidades atléticas, mas comum.

A violência exagerada e o clima "filme de ação de heróis" sõa outros aspectos que diferem muito das HQ´s. Nos quadrinhos de Eisner, a violencia não era tão presente nem tão pesada - chegá-se ao ponto de verem-se costelas fincadas em uma parede - e a ação não era tão presente. Nas histórias de Eisner pode-se perceber caracteristicas mais de uma crônica sobre a vida de uma cidade do que um "climão de super-herói". Central City não é tão violenta e suja como no filme. Assemelha-se a Gotham City no filme de Miller, quando na verdade é bem diferente.

A história é confusa e os personagens não são muito desenvolvidos - o que é de se espantar,haja visto a capacidade de Miller nos quadrinhos, onde é considerado um dos melhores roteiristas da História.

A nota vai apenas pelo ritmo imposto por Miller e pela fotografia de clima Noir. Para sua primeira incursão na direção, Miller se saí muito bem.Considerando apenas o filme, é muito bom, contudo, como trata-se de uma adaptação, um pouco mais de cuidado com os personagens seria essencial. Como adaptação é uma das piores que já vi, perdendo apenas para o insosso "Geração X".

É um bom filme de super-heróis,com bastante ação, mas não é, nem nunca será o Spirit. Will Eisner nunca aprovaria o que fizeram com seu clássico personagem. Ponto negativo para Miller,como roteirista em Hollywood.Não recomendo a fãs ou conhecedores do personagem. NÃO É O SPIRIT.

Críticas

Gomorra

0,0

O cinema sempre gostou de retratar os pontos fracos da sociedade e expô-los nua e cruamente. A arte brasileira, por exemplo, tem por costume retratar o cotidiano pobre e violento da vida nas favelas em meio ao tráfico de drogas. Quando a pauta é a África, temos como alvo a pobreza que assola o continente e os intermináveis conflitos étnicos entre as diversas tribos distintas. Na europa, no entanto, um dos assuntos preferidos dos cineastas é a máfia. Seja ela russa, como vemos em filmes como "Senhores do Crime", ou a famosíssima máfia italiana - conhecida em todo o mundo.

A máfia na Itália se disseminou rapidamente a partir de meados do Século XIX. Com origem nos movimentos rurais, a que se tornou mais reconhecida a princípio foi a Cosa Nostra, originária da Sicília - sul do país. De fato, a Cosa Nostra se tornou famosa no mundo todo, embora tenha perdido um pouco de sua força nos últimos anos. A já citada máfia ganhou tamanha amplitude que acabou se espalhando em outros países - como a Austrália e o leste dos Estados Unidos. Inclusive, foi a ida de mafiosos italianos para a América do Norte que deu origem à clássicos como "O Poderoso Chefão" e "Os Bons Companheiros".

Atualmente, existem mais dois grupos muito conhecidos na Itália. A Ndrangheta - que também atua ao sul do país (Calábria) e é dita como a mais influente hoje em dia -, e a Camorra, que é a única delas originária de movimentos urbanos - a cidade de Nápoles, ao noroeste da bota. A Camorra, que é retratada no filme "Gomorra", possui uma estrutura que abrange cerca de 110 famílias e mais de sete mil afiliados. Entre os ramos, que variam de torturas a estelionato, figuram os tradicionais tráficos de drogas e armas.

Tudo isso é muito bem retratado no longa do estreante Matteo Garrone - que inspirou sua obra no livro-denúncia do jornalista Roberto Saviano. Saviano se infiltrou dentro da Camorra para escrever seu livro, coletou depoimentos e esmiuçou o cotidiano da violenta quadrilha. O árduo trabalho lhe rendeu diversas ameaças de morte e os mafiosos prometeram matá-lo até o final desse ano (2009). Ameaças deixadas de lado, o filme, apesar do excelente conteúdo denunciativo, tem uma série de problemas que merecem destaque.

O roteiro - que conta com uma série de colaboradores - opta por apresentar cinco histórias distintas dentro do dia-a-dia da máfia. Isso teóricamente deveria passar longe de ser um problema, já que obras recentes usam desse recurso e obtém resultados brilhantes - como o caso de "Babel" e "21 Gramas". No entanto, Garrone conduz a trama em um ritmo lento e tedioso, que chega a arrancar bocejos do espectador. É importante ressaltar que ele atenta para inúmeros detalhes, mas é fato que muitos deles poderiam ter sido deixados de lado, pois pouco acrescentam ao produto final. O detalhismo em excesso e as intermináveis cenas comprometem o ritmo do longa, que na primeira hora já se torna chato e cansativo. As cinco histórias, por sua vez, provocam desinteresse, e apenas duas delas deveriam ser tratadas com mais cuidado (A do garoto Totò e a dos dois jovens aspirantes a chefes do crime). Para mim, é realmente difícil de entender como "Gomorra" fez tanto sucesso na Europa e angariou prêmios disputados como o do Festival de Cannes.

Um ponto positivo, ao meu ver, foi desmistificar aquela figura imagética do mafioso - sempre bem arrumado, com terno impecável e com meia dúzia de capangas ao seu redor. Garrone consegue retratar a alta cúpula da máfia com realismo, sem aquela pompa que estamos acostumados a ver em grande parte das obras. Aqui, os chefes se vestem como todo mundo e deixam de lado aquela aura intocável de outros personagens do cinema. Talvez isso tire um pouco da graça, mas a veracidade também é algo a ser levado em conta.

Por fim, podemos analisar "Gomorra" sob dois pontos de vista diferentes. Se olharmos como filme, o longa é burocrático e pouco relevante para a história do cinema. No entanto, como denúncia, é um trabalho que todos deveriam assistir. A Itália passa longe de ser aquela que estamos acostumados a ver na TV - bonita, limpinha e com gente educada. A realidade do subúrbio napolitado é totalmente oposta; violência e pobreza se apresentam como carro chefe dessa obra irregular porém recomendada.

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