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Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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A série Harry Potter angariou muitos fanáticos pelo mundo. No Brasil, as histórias do bruxinho se tornaram um fenômeno e seus livros vendiam como água nas prateleiras das lojas. Um fenômeno inexplicável, talvez. Há quem odeie todo o drama da escritora J.K Rowling, ache tosco, medíocre, chato. Eu falo como um desses aficionados, que leu todos os livros e era daqueles que os comprava logo quando vinham para cá, assistia o filme assim que entrava em cartaz... só faltava ir ao cinema vestido de Alvo Dumbledore ou Sirius Black. Brincadeiras à parte, acho que posso dizer, ou aconselhar, que antes de criticar, tentem ao menos ler os livros, e quando digo isso, incentivo a dar uma olhada além do primeiro exemplar (Harry Potter e a Pedra Filosofal), que é de longe o menos interessante de todos (pelo menos para mim).

Fui ao cinema ontem (17/07) e tenho alguns pontos relevantes que merecem destaque (positivo e negativo). O longa tem um início muito bom, com os Comensais da Morte vagando pela cidade de Londres e destruindo parte dela - os efeitos especiais aqui podem ser considerados de primeiríssima qualidade, justificando o montante de dinheiro investido. O clima sombrio permeia a história, que é muito bem construída e dirigida. No novo trabalho, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", notamos que o diretor David Yates evoluiu junto com a série, e abandonou aquela veia mágica e fantasiosa demais para dar contornos mais dramáticos ao filme. Aliás, ele sabe dosar e empregar o drama nas horas certas.

Um dos focos do diretor e do roteirista (Steve Kloves) foi concentrar parte da história nos romances dos protagonistas. Ou seja, o namoro entre Harry Potter e Gina Weasley ganha bastante destaque, assim como o amor ainda confuso de Hermione Granger por Ron Weasley. A vida amorosa do trio, como já dito, vira pauta em determinados momentos, e isso ajuda a quebrar o gelo da pesada trama, como se as descobertas dos jovens adolescentes aliviassem um pouco da responsabilidade que carregam consigo. Confesso, no entanto, que algumas vezes o excesso de cenas desse tipo me entediou, mas longe disso ser um grave problema.

Outro ponto forte do sexto filme da série é o roteiro. Steve Kloves foi muito inteligente ao adaptar o livro, o que é uma das tarefas mais difíceis a se fazer. Ele corta partes desnecessárias e agrega apenas os fatos mais relevantes. É claro que um trabalho cinematográfico nunca contará com todos os elementos de uma obra literal. Temos que compreender que tratam-se de artes distintas, cada uma com uma característica especial. É claro que faltam alguns trechos que poderiam ser tranquilamente lembrados, como um desenvolvimento maior da parte em que Harry descobre quem é o verdadeiro príncipe ou mesmo como Dumbledore conseguiu o anel (a Horcrux) de Voldemort. Tudo isso passa em branco e poderia ser retratado, mas é compreensível, já que Steve Kloves escolheu muito bem as passagens que virariam filme, e obviamente isso nunca agradará a gregos e troianos.

Para finalizar a cadeia de qualidades, é muito gostoso ver como evoluiram os atores com o passar dos anos. Harry Potter é um trabalho que se estende desde 2001, e na época, os jovens atores nem sequer eram adolescentes ainda. O tempo fez com que aprendessem algumas artimanhas, técnicas, e hoje eles atingiram considerável maturidade cinematográfica, dando mais do que nunca vida aos seus personagens. Quanto ao elenco mais experiente, destaque sempre para Alan Rickman e seu sarcástico Severus Snape e para Helena Bonham Carter com uma das personagens mais divertidas do longa - a perversa e maluca Bellatrix Lestrange (alguém associou ela com a Marla de "Clube da Luta" ou só eu mesmo?). Merece ressalva também o sempre experiente Michael Gambon na pele de Alvo Dumbledore e o jovem Hero Fiennes-Tiffin, que interpreta o lorde das trevas aos 11 anos - ele está simplesmente macabro.

"Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é de longe o melhor filme da série. No entanto, ainda é recomendado apenas para quem já foi introduzido nesse mundo mágico, pois caso contrário, nenhum gancho foi feito para situar os marinheiros de primeira viagem. Para quem já conhece essa fantasia de cor e salteado, o longa é um prato cheio, com uma bela história, ótimos cenários, um figurino belíssimo e uma fotografia sombria bem interessante. David Yates dessa vez acertou em cheio e deixou o espectador com água na boca para a próxima sequência, que deverá chegar aos cinemas já no ano que vem. Vale lembrar que o último episódio da série, "Harry Potter e as Relíquias da Morte", será dividido em duas partes, o que significa mais dinheiro para os cofres dos produtores e mais detalhes para os aficionados - vale a pena esperar.

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Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi feito muito mais para os fãs do que para o espectador comum, que não leu os sete livros da saga de J. K. Rowling. Apesar do fato de que muito da história desta sexta parte ser perfeitamente compreensível para o espectador comum, muito do que é dito e detalhado só fará sentido para os fãs. E da mesma forma, só o fã sentirá falta de algumas coisas que foram ceifadas pelo roteiro. Outro fato que denota essa preferência pelo fã incondicional do bruxo é o amadurecimento da trama. Quem leu os livros teve praticamente dez anos da sua vida com a companhia de Potter, Rony, Hermione e cia. As crianças que pegaram no exemplar de A Pedra Filosofal em 2000 hoje são adolescentes perto dos 18 ou mesmo adultos, como é o meu caso. Logo, sentimentos de melancolia e paixão ficam mais latentes para o espectador que já conhece a saga mais a fundo. Partindo dessa premissa, os produtores ousam em certos detalhes, o que impede até mesmo que crianças assistam a este filme, já que a classificação etária do Ministério da Justiça é de 12 anos - correta, diga-se de passagem.

A história é a seguinte: após os acontecimentos de A Ordem da Fênix, Voldemort está à solta, assim como os Comensais da Morte. Pessoas estão desaparecendo ou sendo mortas. A linha tênue que separa o mundo trouxa do mundo bruxo acaba sendo rompida, como no ataque à ponte suspensa em Londres (uma das melhores cenas de ação de todos os filmes da saga). Dumbledore precisa da ajuda de Harry Potter para descobrir como acabar definitivamente com Voldemort. Para isso, eles precisarão mergulhar - literalmente - na história do menino Tom Riddle, que se tornou anos mais tarde o bruxo das trevas mais perigoso que já surgiu. A dupla vai atrás do ex-professor Horácio Slughorn, que é convencido a voltar para Hogwarts. Ele guarda importante lembrança para ajudar Alvo e Harry em sua empreitada. Potter ainda vê-se às voltas com um misterioso príncipe, antigo proprietário de seu livro de poções, e acompanha as aventuras românticas de Hermione, Rony e dele próprio, que não esconde mais a sua atração por Gina, irmã de Rony. Para completar, Draco Malfoy é incumbido de cumprir importante missão.

O roteiro de Steve Kloves, que retorna a esta sequência, tem praticamente dois pontos de partida: um deles acompanha a jornada de Potter e Dumbledore para perscrutar o passado de Tom Riddle, além de focalizar Draco, a quem foi confiada uma missão do Lorde das Trevas. O outro ponto é marcado pelo clima romântico que paira sobre os heróis da trama. Os hormônios estão aflorando cada vez mais nestes adolescentes de 16 anos. Potter apaixona-se por Gina, enquanto Hermione não esconde sua atração por Rony que, por sua vez, acaba "ficando" com a espevitada Lilá Brown. Destes pontos, ambos têm suas peculariedades e seus defeitos. Mas ambos acabam tendo mais virtudes que sobressaltos e garantem um resultado excepcional. Kloves, entretanto, subtraiu em seu roteiro passagens importantíssimas para o entendimento dos próximos filmes - como uma das sequências na Sala Precisa e quando um importante personagem é assassinado. Só quem é fã, entretanto, vai perceber essas subtrações.

Ainda sobre esses dois pontos, a história que gira sobre a epopéia de Potter e Dumbledore nos permite conhecer um pouco mais de Tom Riddle/Lord Voldemort. Apesar dos sinais, o diretor de Hogwarts não percebeu que o menino no orfanato seria um futuro algoz. Também podemos descobrir como Voldemort se tornou tão poderoso e como é tão difícil matá-lo: sua alma está divida em horcruxes, objetos que contém uma parte da alma e que permitem, em síntese, a imortalidade do vilão. O clima melancólico toma conta dessa parte. O pânico latente pela ascenção de Voldemort é sensível pelos espectadores e está presente na face e na ação de cada personagem do núcleo. Já o ponto romântico mostra o quanto cada personagem cresceu. Se antes Rony e Harry temiam as garotas ("prefiro enfrentar um dragão", disse Potter no quarto filme), agora elas é que vêm até eles. Rony não percebe o amor que Hermione nutre por ele e acaba envolvendo-se com Lilá Brown - quase que sem sua própria iniciativa. Podemos ver uma Hermione mais sensível, que já não pensa tanto nos livros e agora sofre por amor. Amor este que o roteiro não explica como e por que surgiu. Já Harry está cada vez mais atraído por Gina, o que é recíproco. Sentimos uma química espetacular entre os personagens, o que permite completa empatia - apesar de que Harry não se sente mal por causa do sentimento que nutre pela Weasley, ao contrário do que é citado no livro.

O filme tem cenas memoráveis, como a destruição da ponte em Londres, as sequências na penseira e toda a parte que se passa na caverna, assim como a sequência final. As cenas de quadribol estão excelentes, embora não passem do habitual. Os efeitos especiais evoluem a cada filme e aqui eles são espetaculares. A fotografia é a melhor de todos filmes, usando tons em cinza, chumbo e azul. Isso transmite maior melancolia para o público e aprofunda o clima sombrio da trama. A direção de arte segue excepcional e os figurinos continuam lindos.

O trio central tem boas atuações e de certa forma, talvez seja a melhor em oito anos. Daniel Radcliffe conduz Harry com muito mais força e seriedade. Rupert Grint mantém Rony como o bobo da corte e o protagonista de várias cenas hilárias. Mas Emma Watson é a bola da vez. Sua atuação é notável e emocionante. Simplesmente perfeita. Bonnie Wright, na pele de Gina, está incrível. A atriz é linda e transmite um sopro de vida e de amor para a história. Tom Felton, como Draco, tem atuação memorável, já que ele ganha muito mais destaque e mais carga dramática. A turma de mais idade também está muito bem. Michael Gambon conduz Dumbledore como nunca antes visto. E é certo que Richard Harris não teria a compleição física adequada para as cenas que Alvo protagoniza. Alan Rickman está excelente como Snape, em sua melhor participação na saga. O balbuciar demorado de suas falas é incrível. Helena Bonham Carter volta à pele de Belatrix e não decepciona, empregando mais loucura a seu personagem (mas convenhamos, seu figurino está igual ao usado em Sweeney Todd). O nome do filme, no entanto, é Jim Broadbent. Na pele de Horácio Slughorn, Jim faz a melhor atuação da película, dando a vaidade e a petulância necessárias à composição de seu papel. Simplesmente perfeito.

O Enigma do Príncipe, enquanto livro, é um dos exemplares mais complexos, repleto de detalhes que ajuda na compreensão do último tomo. O filme não segue tanto essa linha, mas tem a correção de empregar os detalhes certos nas cenas certas, como na caverna e na penseira, apesar de certos cortes. Se o roteiro de The Deathly Hallows I e II não furar em relação ao que apresentou neste filme, perfeito, aplaudirei de pé. Caso contrário, não me cansarei de criticar a ousadia de Steve Kloves. No mais, a saga de Harry Potter chega à sua sexta parte com maestria. Segue a tendência: o segundo filme foi melhor que o primeiro, sendo que o terceiro superou o segundo, sendo superado pelo quarto e após, pelo quinto. Agora, O Enigma do Príncipe supera seu antecessor. A série está chegando no clímax e desde já, estamos todos ansiosos pelo final, que só chegará às telas em 2010 e 2011. Nessa balada, as duas últimas produções atingirão o ápice, a perfeição.

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Fim dos Tempos

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Shyamalan entrega ao público mais um suspense de boa qualidade, que ainda com seus defeitos, é capaz de provocar tensão e excelentes cenas categóricas do diretor.

Fim dos Tempos é o típico filme que a crítica mundial cai em cima, e por ser inferior à obras-primas como O Sexto Sentido e A Vila, o público também cai matando. Afinal, o que se esperar de um filme do diretor americano M. N. Shyamalan, um dos mais conceituados cineastas do suspense na atualidade? Lógico que filmes como A Dama na Água, que dizem ser um de seus tropeços, tenha ajudado a sujar a imagem do diretor, que parece ter sido mal compreendido desde que lançou seu trabalho seguido daquele que lhe rendeu a indicação ao Oscar, ignorando Corpo Fechado. “The Happening”, dizem por aí, seria mais um de seus equívocos como profissional do cinema. Mas que tipos de argumentos sustentam essa tese? Muitos ignoram o fato que o filme possui cenas de suspense de dar frio na espinha, assustadoras e por que não, absurdas? Qual seria o proposito de se filmar uma história onde pessoas começam a se matar de uma hora para a outra, cuja única explicação para tais situações catastróficas seria unicamente a fúria da natureza? Ser levado a sério? Eu acho que não, apesar do final. Afinal de contas, como já foi dito, o diretor sempre trabalhou com situações absurdas, que fogem muito do provável, mas que podem perfeitamente ter um sentido. 'Fim dos Tempos', então, é tipicamente um filme de Shyamalan, com cenas próprias do diretor e situações que ele adora explorar, e como ninguém, dirigir. Agora, para tudo há uma explicação, e essa definitivamente não é mais uma frase batida que se ouve por todos os cantos. Pelo menos, nesse último filme do diretor lançado nos cinemas, tudo tem uma explicação convincente, é só tentar entender e conseguirá.

Mas o que o filme nos tem a oferecer em sua sinopse é, por mais estranho que possa parecer, simples. Vejamos, o longa trata de uma catástrofe, onde, segundo especialistas, uma substância tóxica está provocando sintomas estranhos nos seres humanos, que enlouquecem, perdem a noção de orientação e começam a falar coisas sem sentido, antes de cometerem suicídio. Certo, já é absurdo. Mas não é exatamente isso que Shyamalan que passar ao público? No meio de todo esse caos, encontra-se Elliot Moore, um professor de ciências que junto com sua esposa e a filha de seu melhor amigo, que parte para buscar a esposa e fica ao cuidado do casal, têm que fugir para longe da área onde o “veneno” paira nos ares.

É inegável que os clichês estão presentes, mas sempre por algum motivo, já que o filme não se perde em discussões causadas por eles, até porque não há espaço para chamarem tanta atenção, devido à curta duração do longa. E talvez seja esse um dos poucos, porém graves problemas de 'Fim dos Tempos'. Apesar da atmosfera tensa que mais uma vez o roteiro de Shyamalan traz, os personagens são mal trabalhados, e como de praxe, o final previsível. O interessante é que não se trata de um dos pouco inspirados suspenses de hoje de em dia. Trata-se de mais um trabalho de um diretor que realmente sabe fazer cinema, e não vai ser dessa vez que ele vai se deixar iludir com situações sem graças, já que a todo momento o filme causa tensão, medo e a sensação da perda de algo.

Agora, se o filme tem mais problemas, e certamente os tem, eles se encontram nas atuações. E é realmente lastimável que um ator do calibre de Mark Wahlberg, que é um bom intérprete, esteja tão inexpressivo como nesse trabalho. E não é só, na verdade ele dos males é o menor, pois seu melhor amigo Julian, interpretado pelo péssimo John Leguizamo, é pior ainda, principalmente quando está do lado da também ruim Zooey Deschanel. Ashlyn Sanchez, a menina Jess, parece não servir para nada no filme, mas de que adiantaria uma história onde um homem e uma mulher em crise no casamento têm que fugir da morte, a reconciliação momentânea? Uma criança, de fato, é mais um clichê, mas um empurrão para que o filme seguisse com o mínimo de sentido.

Antes de comentar um final que para muitos foi decepcionante, é interessante dizer que uma mensagem batida nunca foi tão original, ainda que macabra. Será possível que um dia a natureza nos fará pagar pelos nossos erros? Afinal de contas nem foi tão surpreendente que o filme terminasse daquele jeito, já que o mínimo de atenção prestada no longa já dava para adivinhar que se tratava da natureza, tentando se proteger das ações humanas impensadas. Inclusive existe um diálogo no próprio filme, bem antes do final, que falam justamente disso. Shyamalan, como ninguém, soube dirigir seu filme até o fim, deixando o que seria a mensagem de consicência global bem melhor que poderia ser, e mais uma vez, provando ser aquele diretor das tais cenas categóricas.

Um fator que ajuda muito o clima de suspense constante e inquebrável de 'Fim dos Tempos' é a trilha poderosa de James Newton Howard, que junto com as cenas, formam uma dupla capaz de provocar medo, a partir da originalidade. A fotografia, dando foque ao verde, é por vezes mal compreendida, onde as cores vivas estão presentes em um filme cujo tema principal é a morte. Mais um acerto. A montagem deixa as cenas ainda mais interessantes, como a da arma no chão, usada para vários suicídios.

Enfim, Fim dos Tempos é talvez o trabalho de Shyamalan que foi o mais massacrado de todos. E a meu ver, injustamente. Ele mais uma vez, produz, dirige e escreve um filme aterrorizante, com uma história absurda, mas divertida. Uma obra interessante de ser conferida, e quem sabe, melhor apreciada.

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Retrato de Dorian Gray, O

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Esta grandiosa produção da Metro de 1945 contém todos os elementos clássicos que fizeram a fama deste grande estúdio.

O diretor Albert Lewin cercou-se, cuidadosamente, dos melhores técnicos da época para apresentar este extraordinário conto lúgubre repleto de citações filosóficas e simbólicas, a começar pelo texto inicial de Omar Khayyan (que abre e fecha o filme).

A partitura dramática de Herbert Stothart, com seus acordes comoventes, oferece a tonalidade certa que, esta extravagante história pede.

Dorian Gray é um jovem burguês da alta sociedade inglesa que tem seu retrato pintado por um amigo. Após ouvir as amoralidades ditas por Lord Henry Wotton; Gray deseja, de corpo e alma, trocar de lugar com a pintura. Ou seja, ele permaneceria jovem e bonito, enquanto o retrato envelheceria. O desejo é atendido mas após um incidente trágico amoroso, Gray assume um comportamento grosseiro e áspero transportando seus pecados, doenças e agressividade para a pintura.

Dorian Gray é, quase como, um alter ego de Oscar Wilde. Um almofadinha mesquinho, preocupado apenas com o seu umbigo, juventude e beleza. Como é notório, Oscar Wilde era um homossexual não assumido que despejava nos textos todos seus impulsos sexuais reprimidos, apresentando personagens ambíguos e inseguros. O filme reflete muito bem estas incertezas, pois os personagens masculinos estão constantemente admirando-se e trocando elogios sobre suas aparências.

A adaptação é fiel ao extremo e os personagens refletem a imagem desta ambigüidade sexual. O filme é narrado em off, por Lord Henry Wotton (George Sanders), uma espécie de colunista social do período Vitoriano na Inglaterra de 1886. É ele quem analisa e apresenta os personagens, impregnando o texto com tiradas sarcásticas e cheias de ironia.

Albert Lewin dirigiu apenas 6 filmes em sua carreira, mas atuava como produtor e supervisor de produção e de roteiros, o que facilitou transportar toda a complexidade da história de Oscar Wilde para as telas. Ele consegue transmitir sensações e sentimentos e apresentar os vários personagens, com um simples e econômico movimento de câmera. Como exemplo deste virtuosismo assista a cena onde o irmão de Sybil, James Vane, (Richard Fraser) aparece. Em um primeiro plano, Lewin expõe o ciúme e a preocupação do personagem sem dizer uma única palavra. Outras analogias são fartamente utilizadas ao longo do filme, como a borboleta presa por Lord Henry Wotton. Ao segurar o inseto, Wotton manifesta sua preocupação ilusória em segurar a juventude e a beleza.

A fotografia prateada de Harry Stradling Jr. (Uma rua chamada desejo, Suspeita) é outro mérito. Trabalhando com um belíssimo jogo de sombras, ele modifica a luz ao longo da história, causando um certo mal-estar a platéia. Há um interessante uso do Technicolor quando o retrato aparece por quatro vezes. O efeito é impressionante.

O elenco é primoroso. Hurd Hatfield encarna Dorian Gray com tamanha convicção e elegância, que nunca mais conseguiu livrar-se do estigma do papel. George Sanders, como o influente Lord H. Wotton, é eficaz quando desempenha papéis de homens prepotentes e arrogantes, como neste caso. Angela Lansbury, como a angelical Sybil Vane, em seu terceiro papel, é outro destaque. Com a fragilidade de um rouxinol assustado, Angela transmite a humilhação e insegurança de Sybil com muita sensibilidade.

O Retrato de Dorian Gray é uma obra prima clássica do cinema, que merece todos os elogios possíveis. E acima de tudo é uma história atualíssima que fala da eterna preocupação humana em manter-se jovem a qualquer custo.

Nota 9,5

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Dogville

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Resolvi assistir a Dogville pela ótima crítica alcançada aqui no próprio cineplayers. E de fato essa produção é fantástica, muito sutil em suas críticas e ironias desferidas contra, não somente, aos E.U. A (ao jeito americano de viver), mas também ao capitalismo de um modo geral e ao próprio ser humano. Como mencionou algum participante aqui do site (não me lembro quem) Dogville está aberta a várias interpretações. Realmente está; assim como toda obra literária (refiro-me às de qualidade) está suscetível a variadas construções de sentidos. No entanto, é válido lembrar que o texto (nesse caso o filme) literário é uma janela aberta pela qual se podem vislumbrar várias paisagens, porém ele não é uma janela escancarada. Explico-me. Dogville é sim passível a várias interpretações, mas não a qualquer interpretação. Digo isso justamente pela possibilidade de compreender essa produção, mesmo sem saber do caráter antiamericano do seu diretor Lars Von Trier bem como ao período histórico ao qual Dogville faz mencão: E.U. A, pós-depressão de 1929.

De início, Dogville já se mostra bastante diferente das produções cinematográficas tradicionais. Ela é essencialmente teatral. Não há um cenário propriamente dito, todo o desenrolar da narrativa é destrançado sobre um grande palco no qual existem apenas desenhos que representam as casas da cidadezinha de Dogville e alguns objetos como mesa, cama e cadeira. Cabe ao espectador imaginar as construções e as paisagens com o narrar da produção. Assistir a Dogville é como ler um livro e projetar, imaginativamente, as paisagens, ruas, becos e casas narradas em cada página.

O filme começa com a narração de John Hurt que nos avisa que a história constará de um prólogo e será dividido em nove capítulos. O tom que Hurt imprime à sua narrativa é algo fenomenal no filme e faz de sua atuação, mesmo não aparecendo, importante peça para a composição de Dogville.

Grace (Kidman) chega à pequena Dogville fugida de gângsteres que a persegue. Logo é acolhida por Tom (Paul Bettany) o qual manifesta grande interesse por Grace. No entanto, para Grace ser aceita e acolhida em Dogville é necessário que se faça uma consulta a todos os moradores (o que é perfeitamente possível uma vez que a cidade tem em torno de 20 habitantes mais as crianças) e somente alcançando maioria dos votos Grace poderá permanecer refugiada em Dogville. Após a votação, a permanência de Grace é aceita em troca de pequenos serviços que ela deverá prestar aos moradores de Dogville. Inicialmente a bela fugitiva acha justo essa condição e passa a procurar afazeres para ajudar os moradores de Dogville, que, a princípio, não encontram muita coisa para Grace fazer.

Com o desenrolar da trama, que é muito bem construída e possui uma excelente gradação, os afazeres de Grace vão aumentando, e se antes não havia o que fazer, a certo momento do filme há tantas tarefas que Grace praticamente nem dorme e se desdobra em mil para dar conta de olhar os filhos de Vera (Patrícia Clarkson), ajudar na colheita de maças, cuidar da filha de deficiente de uma das moradoras, ajudar na lojinha da cidade dentre tantos outros afazeres. Todas essas tarefas são executadas sem receber salário (o que ocorrerá mais tarde).

Nesse momento do filme é interessante fazer uma interlocução entre o sistema capitalista e a exploração a que Grace passa sofrer por parte dos moradores de Dogville. Só como exemplo de ligamento a que propus, menciono um dos pilares do marketing, que é o de criar necessidades, e isso é muito bem abordado em Dogville em uma cena na qual a própria Grace diz que para um lugar que não havia tantas necessidades ela está trabalhando muito. Como um dos pontos fortes do filme são diálogos bem montados e impactantes, esse certamente faz parte desse conjunto de estratégias que, simultaneamente, critica, ironiza e age cinicamente frente ao capitalismo.

Outro ponto marcante nessa produção são os estupros sofridos por Grace. Estes assumem não somente o significado literal e strictu do verbo estuprar, mas uma significação múltipla, pois Grace (e nós) somos diariamente estuprados por esse sistema capitalista no qual estamos inseridos ao ponto de não conseguirmos conceber outro sistema de organização sociofinanceira.

Dogville também aborda o homem enquanto ser individual, regado por desejos e vontades vastas e variadas e como ele faz de tudo para alcançar o seu objetivo sem se preocupar com o próximo. Ironicamente, o único que não abusa de Grace é próprio Tom, o qual ela afirmava amar e vice-versa. Mas esse detalhe é ínfimo se comparado ao desfecho de Dogville que assume um tom macabro e super irreverente. Vejo até um tom religioso cristão nos diálogos finais entre Grace e seu pai, aliás uma ironização ao discurso cristão no que tange à misericórdia divina em relação ao homem. Vemos, inicialmente, Grace pedindo a seu pai para ter misericórdia daquela gente (o mesmo que Jesus Cristo pediu a Deus quanto fora crucificado), mas logo em seguida, somos arrebatados por um final impressionante como uma resposta à pergunta: Misericórdia para que? O homem é ruim por natureza, já teve muitas chances para se tornar um ser bom e não merece mais nenhum fio de misericórdia.

Finalmente, a última cena do filme vem fazer uma comparação entre o homem e um cão, ou melhor, ela coloca homem e cão em patamares distintos, pois o cão Moises é posto acima do homem a partir do momento que se torna o único ser digno de misericórdia na pequena Dogville. Penso também que Dogville é uma metonímia de nossa sociedade, pois a produção toma uma amostragem do todo (a sociedade) para poder representá-la de maneira nua e crua, mostrando como o homem pode estar abaixo de um cão sarnento que briga por um osso descarnado. Em suma, Dogville é uma representação do chamado mundo cão onde vivemos dia após dia.

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Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Levando-se em consideração os filmes antecessores, este até que tem bastante coisas boas. Apesar de que ainda acho os dois primeiros legais, perto dos outros três que achei adaptações pra lá de péssimas. Mas bem, na sexta parte, muito ainda foi sacrificado com certeza, mas parece que houve um cuidado maior com detalhes importantes da história.

Tudo continua muito acelerado, mesmo o filme sendo longo. Mas os crimes continuam. Excessivas partes querendo mostrar o afloramento dos hormônios das personagens chegam a irritar. No livro tem essas passagens é verdade, mas é bem mais sutil e bem mais interessantes diga-se de passagem. A magia muitas vezes é deixada de lado para impor simplesmentre a "química da situação". Harry Potter marcando encontros amorosos com um trouxa em um metrô (!?) essa foi ridícula. Primeiro que isso não existe na estória original, segundo que destoa de todo o universo criado por J.K. Rowling e terceiro que esse tempo gasto com besteira poderia ser utilizado para contar outras partes importantes ou aprimorar algumas.

As menções ao príncipe mestiço são rápidas demais e não chegam a envolver o espectador sobre a verdadeira importância de quem ser o verdadeiro príncipe mestiço e qual o verdadeiro poder deste e do livro que Harry tem em mãos, e quando se é revelado a questão, fica apenas como algo explicativo, não tendo o impacto necessário para o entendimento de todo o enredo que fará ponte com a próxima parte da história.

Claro que há muitas falhas ainda, mas estas já mais sutis do que nos filmes anteriores. Em contrapartida há a excelente direção de arte na Escola. O figurino sempre bem aproveitado, apesar de que a partir do terceiro filme instalou-se uma "modernidade excessiva" nos protagonistas. Harry Potter não é moderninho para se vestir, uma que na casa de seus tios não havia possibilidade e quando na "toca" (casa dos Weasley) não há finanças que permitiriam custear isso. De onde vem essa influência moderna não se sabe.

Uma ou outra cena clichê, como quando Harry sai da toca para perseguir Belatrix doem na alma, afinal, com tanto a se explorar precisa cair na desgraça do clichê mais batido que existe!?

Bem, mas apesar de deslizes os filme tem suas qualidades também. Direção de arte como citei acima, efeitos (obviamente) e um amadurecimento na direção, mesmo que ainda as vezes comprometido.

Outro ponto positivo é com certeza Helena Bonham Carter como Belatrix. Limplesmente lunática, perversa e descontrolada (exatamente como J.K. Rowling a consebeu). Uma das melhores atrizes em cena, que melhor vive sua personagem e dá um gás a mais para as subtramas (mesmo que as vezes pouco aproveitada).

Queria destacar as cenas na caverna que realmente são excelentes. Ali sente-se a magia de Harry Potter, o poder do bem e do mal e a sequência mais bem trabalhada e produzida de todo o filme.

Considerando um certo amadurecimento da adaptação, mesmo com alguns escorrgões aqui e ali e uma certa mutilação na composição de algumas personagens (entendível até por se transpor tanta coisa em pouco tempo, 2:30 ainda é pouco para se traduzir tudo que há na obra original) Harry Potter e o Enígma do Príncipe é a melhor das adaptações até agora, mas ainda não é algo pra ficar marcado na lembrança, talvez (embora eu acho meio difícil) a última adaptação (dividida em duas partes) possa fazer isso, mesmo que eu duvido que sequer chegue perto da magia da obra original.

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Beleza Americana

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"...é difícil ficar bravo quando há tanta beleza no mundo."

Beleza Americana é uma flor que se parece com uma rosa, só brota nos EUA, não tem espinhos e não tem cheiro, ou seja, artificial.

Uma bela família. Um pai, uma mãe, uma filha, dois carros, vizinhança pacata e uma qualidade de vida bem avaçada. Lindo não é? Olhe mais perto.

O roteiro de Alan Ball é muito caótico, mas é real em vários aspectos, Ball devia ter assistido vários filmes sobre famílias americanas, mas decidiu contrariar tudo o que era visto no cinema e criar personagens mais engraçados, irônicos, mas acima de tudo infelizes.

Lester Burnham(Kevin Spacey) é um homem que trabalha escrevendo para uma revista, mas é abusado no trabalho pelo seu chefe e possui uma família que o odeia, mas quando conhece uma amiga de sua filha(Mena Suvari), é seduzido por sua beleza. Ele decide largar o emprego e viver seu resto de vida intensamente, mas sua mudança de vida causa uma modificação naqueles que o cercam, quanto a moralidade de cada um.

A história acabou com vários roteiristas que planejavam escrever de forma clichê a caracterização dos subúrbios americanos, mas Ball além de querer acabar com roteiro clichês queria uma história com uma qualidade muito boa e também quis mostrar ao mundo inteiro a realidade da América por dentro: homofobia e infelicidade são mostradas de formas irônicas e dramáticas no maravilhoso roteiro de Alan Ball. Outra coisa interessante sobre Ball é que ele é homossexual e decidiu mostrar além da infelicidade dos americanos, como a homossexualidade é vista no subúrbios.

As atuações podem ser consideradas uma das melhores já vistas em toda a história do cinema, pois vemos as características de cada personagem e que são tão diferentes, mas que se parecem tão próximos um do outro. A atuação de Spacey foi a vencedora do Oscar de 2000 e nos mostra como um homem infeliz parte para uma mudança onde vê que uma volta por cima de uma pessoa causa muitas mudanças para os outros que estão próximos.

Uma coisa muito interessante do filme é que ninguém cita como é a vida nas cidades, a concentração nos subúrbios é tão eficaz e dedicada que nós faz esquecer existem cidades nos EUA e nos prendem só naquela realidade.

A fotografia de Conrad L. Hall é muito bonita, ele utiliza reflexos e sombras para caracterizar cada cena transmitindo os sentimentos dos personagens, cada cena está usando reflexos e sombras em situações de felicidade, aflição e até o clímax do filme fica mais interessante com o uso das técnicas cinematográficas de Hall.

Há cenas que são tão belas e poéticas que nos fazem ver que nosso mundo tem pouca emoção e que a beleza está naquilo que nós falamos que é artificial. As cenas de Ricky gravando a filha de Lester, o vídeo do saco de plástico e quando ele grava a pomba morta no chão, essa última cena passa rápido, mas percebemos que até o que está morto é cheio de vida para aqueles que podem ver que há tanta beleza no mundo.

O final do filme é muito poético, a análise de Lester sobre sua vida que passou tão rápido, mas que marcou todos aqueles que o cercavam e fez muita falta para aqueles que o achavam inútil e que se ele se fosse não iria fazer falta nenhuma.

Alan Ball quis passar para aqueles que achavam a América um lugar perfeito para se viver. Muitos acham que este é um filme que é só para os americanos, mas que na verdade é mais para o resto do mundo do que para os EUA, é um filme que é para todos que consideram os EUA um país perfeito, quanto à economia vemos que não falta nada para ninguém, mas que apesar de terem tudo eles, não possuem nada.

Olhem mais de perto, mas quem quer continuar longe?

Críticas

Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto

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“Que você esteja no paraíso meia hora antes que o diabo saiba que você está morto”

Sidney Lumet construiu uma carreira sólida em seus longos anos como cineasta e teve seu auge de meados dos anos 1970 até o início da década de 1990. A partir daí, continuou a emplacar bons filmes - talvez sem a mesma genialidade de outrora, mas sempre com qualidade indiscutível, o que marcou sua trajetória no cinema norte-americano. Acho até injusto seu nome ser pouco lembrado entre os grandes gênios da sétima arte, já que ele provou por diversas vezes ser uma grande figura, além de ser mais um daqueles renegados pela acadêmia. Nunca venceu um Oscar, embora tenha sido lembrado em quatro oportunidades – uma pena.

Mesmo sendo um senhor octogenário (Lumet completou recentemente seu 85º aniversário), ele mostra que ainda é competente o suficiente para nos entregar uma obra madura, complexa e muito bem construída. Falo aqui de "Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto" - título que à primeira vista pode até assustar pelo tamanho, embora seja excelente, muito bem escolhido e extremamente criativo.

A história, contada quase que inversamente, nos coloca logo de cara diante de um assalto a uma joalheria. Em pouco tempo somos apresentados aos personagens e descobrimos que o tal lugar assaltado era nada mais nada menos do que a loja dos pais dos criminosos. O enredo, que vai se construindo aos poucos e agregando novos elementos à trama, nos leva a uma empreitada angustiante em busca das consequências do ato de dois filhos desesperados. O mais velho (Philip Seymour Hoffman), viciado em heroína e infeliz no casamento, e o mais novo, atolado em dívidas com a ex-mulher e cheio de compromissos com a filha pequena. Vemos aqui um panôrama semelhante com "O Sonho de Cassandra", recente filme de Woody Allen; as coincidências, no entanto, param por aí.

Ao longo do trabalho podemos notar algumas particularidades que possivelmente vieram de obras mais antigas. Uma influência clara, ao meu ver, vem do clássico "Rashomon", de Akira Kurosawa. O fato de relembrar as histórias por perspectivas distintas resgata à memória o clássico japonês, assim como no mais recente "Ponto de Vista", que aborda uma narrativa bastante parecida. Aqui, o roteiro assinado por Kelly Masterson cria uma montagem nesse mesmo estilo: trabalhosa, ousada e inteligente. Lumet também pode ter trazido elementos de Quentin Tarantino, especialmente de "Cães de Aluguel" - desde como contar a história sem linearidade até a fuga de carro após tudo dar errado. Ou seja, pode-se dizer que o roteiro é pouco – ou nada – original, mas ainda assim é construído de uma maneira interessante.

Ou vai dizer que é possível assistir o longa sem aquela pontinha de ansiedade em desvendar logo o final? O clima tenso é todo caprichado, e conta com uma ajudinha especial da trilha sonora, que dá aquele toque especial nas principais horas - principalmente quando o drama esquenta. O diretor nos coloca diante de algo inusitado, tenta nos propor um julgamento moral dos personagens – afinal, há algo mais imoral e fora dos costumes do que roubar os próprios pais? Ainda que Lumet tente justificar a atitude de seus personagens (e aqui acho que ele errou), em nenhum momento sentimos pena deles, e a cada cena que vemos tudo piora, como uma grande bola de neve, uma avalanche incontrolável. O desencadeamento dos acontecimentos nos leva a um final terrível, dramático, e após subirem os créditos, lembramos de que todo ato desenrola diversas consequências – ruins ou boas -, assim como na vida real.

O drama exige muito da competência de seus atores, e acho que aqui ninguém ficou devendo. Destaco Marisa Tomei, que aos 44 anos parece estar no auge de sua forma e se especializando em papéis considerados sexys: alguém se lembra da stripper interpretada pela atriz em "O Lutador"? Pois é, quase lhe rendeu um Oscar. Aqui ela faz outra mulher bastante atraente, e vai muito bem, obrigado. Ethan Hawke, apesar de caricato em alguns momentos, também nos rende boas cenas, e no resumo da obra ele é um dos melhores do filme. Philip Seymour Hoffman é o mesmo de sempre, embora sem brilhantismos dessa vez; é um bom personagem, nada mais. Quem merece um destaque final no elenco de apoio é o veteraníssimo Albert Finney, que nos passa todo o rancor e desprezo de um pai desgostoso, incrédulo.

"Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto" é um filme complicado, que aborda temas complexos como a ganância das pessoas. Fica a mensagem de que ser excessivamente ambicioso e querer dar o passo maior do que a perna pode trazer problemas inimagináveis, e nós, reles mortais, somos provas vivas disso, afinal, quem nunca caiu do cavalo ao tentar algo maior sem ter capacidade para tal? Recomendo esse trabalho de Sidney Lumet, assim como indicaria a grande maioria de seus longas de olhos fechados.

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Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Após uma longa espera, Harry Potter e o Enigma do Príncipe estreia nos cinemas com muito mais a oferecer que os filmes anteriores.

Dois anos após Harry Potter e a Ordem da Fênix desembarcar nos cinemas mundiais, os fãs da série do bruxo mais famoso do mundo podem finalmente curtir o sexto filme e conferir o que se fez com o livro, agora sendo adaptado. Se nos cinco longas anteriores a decepção foi inevitável, é bom que fique bem claro que a série não se esquivou dos cortes. Muito do que estava na obra de J.K. Rowling foi ignorado, ou pelo menos empurrado para a sétima e última parte da aventura de Harry Potter. Mas para a minha surpresa, e para a de outras pessoas, as escolhas feitas pelo roteirista Steve Kloves e pelo diretor David Yates foram mais do que bem sucedidas e não afetaram a história em momento algum. Os fãs, como eu, podem até ficar um pouco decepcionados pelo corte dos que seriam os minutos finais do filme, mas se formos parar pra pensar, tudo foi acertado e cortado de forma inteligente. Este, na verdade, é um dos vários pontos do filme que evoluiram drasticamente, em relação aos trabalhos anteriores.

De fato, o longa todo é uma evolução inqualificável, e é sem sombra de dúvidas, o melhor filme da série até agora. E destaca-se o diretor David Yates, consagrando-se o melhor que já passou pelo cargo desde o lançamento do primeiro filme nos cinemas. Seu trabalho é excelente, organizando cortes, incluindo cenas inéditas, dirigindo os atores, assim como a arte deslumbrante. Yates optou por uma mudança drástica de clima em relação ao quinto filme, que também dirigiu. Apesar da atmosfera sombria, o humor está lá, com presença constante, liberando risadas nos momentos mais propícios, sem exageros e erros na edição. Aliás, para esse tom mais sombrio, Yates quis uma fotografia mais escura também, privilegiando uma mistura de preto com cinza e azul, mantendo o filme com uma aparência mais madura. Enquadramentos profundos, cores sombrias, tudo propicia um a sequência ainda melhor que as expectativas.

Entretanto não é só Bruno Delbonnel que fotografa bem 'Harry Potter e o Enigma do Príncipe', a direção de arte de Stuart Craig nunca esteve tão bela e magnífica. Com detalhes que realmente importam, o trabalho do desenhista de produção mantém-se no capricho e nas cores escuras, com um uso mais preferencial do chumbo, da madeira e do dourado, causando um contraste perfeito com a fotografia bem empregada. Jany Tamime esboça figurinos interessantes, com uma atenção ainda que especial e única a cada personagem, que contém uma característica predominante das vestimentas arrojadas. Dumbledore, por exemplo, usa sempre uma roupa extravagante, com um azul cintilante que muitas vezes pode ser confundido com o cinza. Enfim, tudo avançou em termos de produção, o que inclui também a sonoplastia e os efeitos especiais, que embora não apareçam tanto, eles não se fazem necessários, uma vez o amadurecimento da história em si, com destaque para o romance entre os personagens, ciúmes e confusões, sentimentos típicos de adolescentes vulneráveis aos hormônios.

E talvez isso seja um fator que contribua para que as crianças fãs da série se sintam decepcionadas. A magia nunca esteve tão ausente como nesse filme, com os encantamentos de sempre, o roteiro privilegia o amor e um humor mais relacionado a ele. Mais essa mudança percebe-se no próprio cotidiano dos alunos de Hogwarts, onde somente uma aula é de fato mostrado, a que Harry ganha a poção de Felix Felicis, que por sinal é extremamente divertida.

Não poderia encerrar essa análise sem comentar o grau das atuações do renomado elenco. Jim Broadbent, que interpreta de forma impagável Horácio Slughorn, transforma um personagem amedrontado pelo passado em alguém fútil e perturbado, assim como Gambom, que faz de Dumbledore um homem carismático com uma dose extra de sensibilidade. Rickman e a arrogância já conhecida de Severo Snape está ainda melhor, assim como Maggie Smith, que recebe um pouco mais de atenção que no filme anterior, tem passagens magníficas. Julie Walters em seus dois minutos impressiona com um simples olhar e até mesmo Robbie Coltraine, em uma das menores aparições de Rubeus Hagrid na série, faz o personagem com seu talento usual, ou seja, mais uma vez bem feito. O trio principal porém, tem uma evolução de se deixar de boca aberta, sem exageros. Daniel Radcliffe está muito melhor do que se poderia supor, com diálogos onde está presente a ironia e o carisma de Harry Potter, ele se sai surpreendentemente bem. Emma Watson chora com facilidade e muda de vez a impressão que Hermione Granger deixou no quinto filme (de chata e mandona),a gora fazendo uma menina apaixonada, ciumenta (no limite do cômico) e divertida. Rupert Grint trabalha com expressões faciais, mas não se assustem, não são caretas. Seu trabalho como ator também evolui drasticamente, em mais um ponto que não sei como, Yates conseguiu converter ao seu favor.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe é o melhor de todos os filmes da série, disso não resta a menor dúvida. Com destaque para as atuações, um diretor muito menos falho e um roteiro superior, a arte mais uma vez surpreende, apesar da reciclagem feita com a trilha, onde Nicholas Hooper resgatou faixas de "Ordem da Fênix". O sexto é uma ótima sequência do fim que se aproxima, com direito a câmera ágil e cenas de humor inspiradas. Uma excelente diversão, que vale a pena ser conferida.

Críticas

Corpo que Cai, Um

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Alfred Hitchcock é muito mais do que o mestre do suspense, ele vai além, muito além, é um gênio, um mito, um dos maiores – talvez o maior – cineasta de todos os tempos. Sobram exemplos para provar sua excelência; a técnica apurada, a habilidade em criar um clima tenso mesmo com elementos simples, sem exageros. Hitchcock foi um marco da história do cinema, foi o melhor do gênero, imbatível. A música que sobe nos momentos certos, que aflige o espectador, a simplicidade evidente – muito pelo ano de seus filmes – que pode até passar por tosca numa época em que vemos efeitos especiais aos montes… mas e o conteúdo? Parafernalhas tecnológicas podem ajudar, porém, genialidade se destaca mesmo sem muitos recursos. É difícil ver um filme de suspense hoje em dia que se iguale a Hitchcock… arrisco a dizer que é quase impossível.

"Um Corpo que Cai" é considerado uma das obras-primas do diretor, pois conta com todos os elementos necessários para se criar um bom suspense. A história gira em torno de um ex-detetive da polícia que se aposentou após um acidente por consequência de sua vertigem (fobia/medo de altura) – a cena inicial em cima do telhado é uma das mais clássicas do cinema. Mesmo fora de combate, John Scottie Ferguson (James Stewart) é contratado por Gavin Elster (Tom Helmore) para vigiar sua esposa (Kim Novak), pois acredita que ela tem alguns problemas psicológicos e tendências suicidas. No entanto, o enredo sofre um revés quando os dois se apaixonam, e o que era para ser uma coisa simples se transforma numa trama bastante complexa.

Hitchcock usa muito bem a trilha sonora, que é primordial para criar a tensão entre as personagens. A habilidade em saber os momentos certos para colocar, aumentar ou diminuir a música é parte importantíssima no suspense - nem preciso dizer que ele faz isso com primor. O roteiro é amarrado, bem construído e envolvente. A cada minuto o espectador mergulha mais e mais fundo na história querendo desvendar o mistério; à princípio temos a total impressão de que o ex-detetive é paranóico, maluco, perturbado (assim como a mulher que ele está investigando). Depois, no final, tudo é desvendado com clareza, da melhor forma possível e sem deixar furos ou dúvidas para quem está assistindo. O cineasta parece brincar de detetive com o público e aos poucos vai criando um cenário cada vez mais instigante, mais complexo.

Na parte dos personagens, Hitchcock caprichou, pois os construíu e aprofundou perfeitamente. Vemos claramente o processo evolutivo do drama psicológico de Scottie Ferguson (muitíssimo bem interpretado por James Stewart) e também observamos Kim Novak excelente em seus dois papéis – especialmente no segundo, em que conseguiu ser muito convincente ao passar um misto de amor, medo e agonia. O elenco de apoio também executa seu trabalho com competência, e aqui destaco o desempenho de Barbara Bel Geddes na pele de Midge – aquela coadjuvante de extrema importância para a trama.

No final, "Um Corpo que Cai" vai além de um simples exercício de detetive por parte do espectador, é uma aula de bom cinema e de como construír um suspense psicológico e perturbador. O filme ainda mostra que a acadêmia é injusta e fazedora de média, pois o longa foi indicado somente para duas categorias secundárias no Oscar de 1959. Mas quem liga para isso, afinal? O trabalho de Hitchcock ficará marcado para sempre na história, independente de qualquer prêmio pomposo do cinema americano.

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