A série Harry Potter angariou muitos fanáticos pelo mundo. No Brasil, as histórias do bruxinho se tornaram um fenômeno e seus livros vendiam como água nas prateleiras das lojas. Um fenômeno inexplicável, talvez. Há quem odeie todo o drama da escritora J.K Rowling, ache tosco, medíocre, chato. Eu falo como um desses aficionados, que leu todos os livros e era daqueles que os comprava logo quando vinham para cá, assistia o filme assim que entrava em cartaz... só faltava ir ao cinema vestido de Alvo Dumbledore ou Sirius Black. Brincadeiras à parte, acho que posso dizer, ou aconselhar, que antes de criticar, tentem ao menos ler os livros, e quando digo isso, incentivo a dar uma olhada além do primeiro exemplar (Harry Potter e a Pedra Filosofal), que é de longe o menos interessante de todos (pelo menos para mim).
Fui ao cinema ontem (17/07) e tenho alguns pontos relevantes que merecem destaque (positivo e negativo). O longa tem um início muito bom, com os Comensais da Morte vagando pela cidade de Londres e destruindo parte dela - os efeitos especiais aqui podem ser considerados de primeiríssima qualidade, justificando o montante de dinheiro investido. O clima sombrio permeia a história, que é muito bem construída e dirigida. No novo trabalho, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", notamos que o diretor David Yates evoluiu junto com a série, e abandonou aquela veia mágica e fantasiosa demais para dar contornos mais dramáticos ao filme. Aliás, ele sabe dosar e empregar o drama nas horas certas.
Um dos focos do diretor e do roteirista (Steve Kloves) foi concentrar parte da história nos romances dos protagonistas. Ou seja, o namoro entre Harry Potter e Gina Weasley ganha bastante destaque, assim como o amor ainda confuso de Hermione Granger por Ron Weasley. A vida amorosa do trio, como já dito, vira pauta em determinados momentos, e isso ajuda a quebrar o gelo da pesada trama, como se as descobertas dos jovens adolescentes aliviassem um pouco da responsabilidade que carregam consigo. Confesso, no entanto, que algumas vezes o excesso de cenas desse tipo me entediou, mas longe disso ser um grave problema.
Outro ponto forte do sexto filme da série é o roteiro. Steve Kloves foi muito inteligente ao adaptar o livro, o que é uma das tarefas mais difíceis a se fazer. Ele corta partes desnecessárias e agrega apenas os fatos mais relevantes. É claro que um trabalho cinematográfico nunca contará com todos os elementos de uma obra literal. Temos que compreender que tratam-se de artes distintas, cada uma com uma característica especial. É claro que faltam alguns trechos que poderiam ser tranquilamente lembrados, como um desenvolvimento maior da parte em que Harry descobre quem é o verdadeiro príncipe ou mesmo como Dumbledore conseguiu o anel (a Horcrux) de Voldemort. Tudo isso passa em branco e poderia ser retratado, mas é compreensível, já que Steve Kloves escolheu muito bem as passagens que virariam filme, e obviamente isso nunca agradará a gregos e troianos.
Para finalizar a cadeia de qualidades, é muito gostoso ver como evoluiram os atores com o passar dos anos. Harry Potter é um trabalho que se estende desde 2001, e na época, os jovens atores nem sequer eram adolescentes ainda. O tempo fez com que aprendessem algumas artimanhas, técnicas, e hoje eles atingiram considerável maturidade cinematográfica, dando mais do que nunca vida aos seus personagens. Quanto ao elenco mais experiente, destaque sempre para Alan Rickman e seu sarcástico Severus Snape e para Helena Bonham Carter com uma das personagens mais divertidas do longa - a perversa e maluca Bellatrix Lestrange (alguém associou ela com a Marla de "Clube da Luta" ou só eu mesmo?). Merece ressalva também o sempre experiente Michael Gambon na pele de Alvo Dumbledore e o jovem Hero Fiennes-Tiffin, que interpreta o lorde das trevas aos 11 anos - ele está simplesmente macabro.
"Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é de longe o melhor filme da série. No entanto, ainda é recomendado apenas para quem já foi introduzido nesse mundo mágico, pois caso contrário, nenhum gancho foi feito para situar os marinheiros de primeira viagem. Para quem já conhece essa fantasia de cor e salteado, o longa é um prato cheio, com uma bela história, ótimos cenários, um figurino belíssimo e uma fotografia sombria bem interessante. David Yates dessa vez acertou em cheio e deixou o espectador com água na boca para a próxima sequência, que deverá chegar aos cinemas já no ano que vem. Vale lembrar que o último episódio da série, "Harry Potter e as Relíquias da Morte", será dividido em duas partes, o que significa mais dinheiro para os cofres dos produtores e mais detalhes para os aficionados - vale a pena esperar.
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