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Críticas

Batman - O Cavaleiro das Trevas

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O ano de 2008 ficou marcado por duas unanimidades americanas. Uma na vida real: o presidente Barack Obama. Outra na ficção, com Cavaleiro das Trevas, filme que consolida a visão realista do homem-morcego criada por Christopher Nolan. É praticamente um consenso que este segundo filme da nova franquia Batman sagrou-se o melhor blockbuster do ano. Vou além: é o melhor blockbuster desde O Retorno do Rei.

Chris Nolan sempre gostou de escrever os roteiros de seus próprios filmes. Em de Cavaleiro das Trevas contou com a colaboração do irmão Jonhatan. O texto fez render um filme de duas horas e meia. Embora longo, não é cansativo e tampouco raso como a maioria dos filmes de super-herói. Aprovado em Batman Begins, Christian Bale está ainda mais a vontade na pele do Bruce Wayne.

Após submeter-se ao calvário que concebeu o renascimento do personagem, nessa nova etapa ele oculta-se na faceta de um playboy descompromissado, interessado apenas em mulheres e grandes jantares. O mordomo Albert (Michael Caine) o projetista Lucius Fox (Morgan Freeman) e o inspetor Gordon (Gary Oldman), seus fiéis escudeiros, continuam com ele. A promotora Rachel Dowes foi substituída por Maggie Gillenhaal que se saiu um pouco melhor que a antecessora Katie Holmes.

Na nova aventura, Batman ganha um novo aliado para combater o crime organizado de Gotham City: o promotor de Justiça, Harvey Dent (Aaron Eckart). Obstinado pelo prestígio e, sobretudo, por justiça, ele surge como uma nova esperança da população para acabar com a violência e a corrupção da cidade.

Enquanto Harvey Dent não é visto como o herói sem máscara que o Bruce Wayne deseja, civis inexperientes vestem-se de Batman e tentam fazer justiça com as próprias mãos. No outro extremo, os criminosos buscam estratégias para acabar com o homem-morcego.

Nesse cenário de caos generalizado é que surge o Coringa (Heath Ledger), a grande atração do filme. Ao contrário dos outros criminosos de Gotham que buscam o dinheiro e o poder, ele figura-se como um tipo perturbado, interessado apenas em ver o circo pegar fogo. Todas as suas ações buscam desestabilizar Batman. Quando percebe que a estratégia não funcionará tão facilmente, ele passa a investir no promotor que não possui o mesmo suporte emocional do super-herói.

Das tantas qualificações atribuídas a Cavaleiro das Trevas, o que mais chama atenção é o seu equilíbrio. O roteiro poderia desvencilhar-se na preguiça e rechear o filme com seqüências de ação e efeitos especiais. Ou então exacerbar a construção psicológica dos personagens e esterilizar o ritmo do filme. Em vez disso, os irmãos Nolan conseguiram convergir ação e consistência e produzir uma grande obra.

Outra virtude de Cavaleiro das Trevas é a qualidade do elenco. A trinca Bruce Wayne, Harvey Dent e Coringa duelam em alto nível. No fim, a mística do vilão faz com que Heath Ledger ofusque os seus concorrentes. O Oscar póstumo de ator coadjuvante já era carta marcada. E nesse caso o coringa do baralho tem nome e sobrenome.

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Críticas

Vicky Cristina Barcelona

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[Woody Allen dirige comédia com beleza e sarcasmo em terras latinas]

Woody Allen sempre foi um sacana pervertido. Em seus melhores filmes há sempre um componente lascivo do autor presente no cotidiano dos personagens. Em Vicky Cristina Barcelona, Javier Bardem pode até não ser o seu alter ego, mas traz consigo algumas obsessões e a lábia esperta do diretor.

No fundo, no fundo, ele bem que gostaria de cortejar a voluptuosa Scarlett Johansson e dar uns pegas na Penélope Cruz, como nos tempos áureos já fez com Mia Farrow e Diane Keaton. Como não tem mais cacife pra isso, coloca em outros atores a sua motivação. Mais condizente ainda com ele é o personagem chamado Doug -interpretado por Chris Messina- careta, certinho, intelectual e um tanto rabugento; que representa o lado mais racional de Allen.

Vicky Cristina Barcelona gira em torno de duas amigas que passam férias em Barcelona. Vicky (Rebecca Hall) é toda certinha. Viaja à Espanha para dar consistência à sua tese de mestrado. Cristina (Scarlett Jonhanson) é descolada e se afeiçoa facilmente por tipos não ortodoxos. Hospedadas na casa de uma tia de Vicky, elas acabam conhecendo o pintor Juan Antonio (Javier Bardem), recém divorciado da também artista Maria Helena (Penélope Cruz), por quem foi esfaqueado. Galanteador nato, ele convida as duas para um passeio. Vicky fica na defensiva, mas Cristina acaba cedendo às suas investidas.

Como ela adoece, o pintor volta assediar Vicky que tem uma recaída e acaba sendo conquistada. O triângulo amoroso termina com a chegada de Doug, noivo de Vicky. Quem também dá as caras é Maria Helena que reata com o pintor e dá início a um novo triângulo.

Com cores vivas, conversas sofisticadas e situações inusitadas, Woody Allen constrói um filme consistente e bem ilustrado pelo charme das locações espanholas. Além de melhorar seus filmes, sua tour pela Europa parece ter arejado a sua veia artística.

Embora não esteja no mesmo patamar de Match Point e ainda distante dos antigos sucessos, ao menos Vicky Cristina Barcelona é superior aos antecessores Scoop- O grande furo e O Sonho de Cassandra. A vantagem de Allen é que ele não precisa fazer um grande filme em relação a ele mesmo para ser um dos melhores do ano.

Críticas

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

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Assistir a filmes europeus tem lá suas particularidades. Algumas legais como humor negro, narrativa singular e um roteiro consistente, sem soar manipulativo ou maniqueísta. Outras nem tanto como verborragia, excesso de verossimilhança e mulheres de curvas eqüiláteras. O filme 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, agrega algumas dessas características, no que elas têm de pior e melhor. Durante as quase duas horas de projeção, a única piada que abrolha na trama é sobre comida, mas ela é tão cruel e indigesta a ponto de ultrapassar a barreira do humor.

Se um título de filme como esse fosse divulgado pela Dreamworks, a primeira coisa que imaginaríamos seria algo pomposo, tipo a contagem regressiva de um meteoro prestes a invadir a órbita terrestre com Will Smith salvando o planeta nos instantes finais. Mas como se trata de um filme romeno, a menos que se leia a sinopse, não se tem vaga idéia do está por vir.

Logo nas primeiras cenas já se pode notar de que não se trata de uma obra lá muito palatável. Num clima bem ao estilo Dogma 95, o filme tem muitas locações com luz natural, sem close-ups e nem trilha musical. O silêncio como forma suportar a angústia e desespero é uma das tônicas do filme que soa tão real a ponto de ser perturbador.

A história é centrada na estudante Otilia (Anamaria Marinca) e sua amiga Gabita (Laura Vasiliu) que dividem um quarto em uma república estudantil da Romênia. O ano é 1987, época em que tudo era racionado nos países do leste europeu. Obter bens de consumo como cigarros, chocolates só era possível por vias ilegais.

Num período em que o contrabando de produtos -incluindo anticoncepcionais- entra em escassez, Gabita acaba grávida. Sem condições de cuidar de uma criança ela decide abortar, prática que é ilegal no país. Para ajudar a amiga, Otília aluga um quarto de hotel e contrata um sujeito de codinome Sr. Bebe (Vlad Ivanov) para realizar o procedimento.

A partir daí, as minas que o diretor arma no início da trama começam a explodir. Ao saber que Gabita está com a gravidez adiantada -exatos 4 meses, 3 semanas e 2 dias - o clima fica tenso e ele aumenta o valor do serviço. Isso porque, a partir do quarto mês de gestação o crime deixa de ser aborto e passa a ser considerado homicídio pela legislação romena.

Depois de muitas negociações, Sr. Bebe aceita a nova proposta mas vai embora, deixando os processos finais do aborto - que dura várias horas - serem realizados pelas duas amigas. Para piorar as coisas, Otília ainda terá que ir a um jantar na casa do namorado.

Mais do que discutir o aborto em si, 4 meses…desenvolve uma teia de temáticas em torno desse tópico que vai desde a questão ética até a responsabilidade do governo nas questões sociais. Filmes recentes já exploraram a questão aborto, seja na era contemporânea (Juno), ou na sociedade conservadora (O Segredo de Vera Drake). Nenhum deles, no entanto, é tão agonizante como esse. Somados os altos e baixos da narrativa, o produto final é um bom filme, mas não digerível a qualquer um.

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Sangue Negro

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[Épico de Paul Thomas Anderson mergulha no ego amargo de um magnata do petróleo]

Há algo de inquietante em Sangue Negro. A errante trajetória do magnata do petróleo Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é contata de maneira arbitrária e bastante enigmática pelo diretor Paul Thomas Anderson. Mesmo artisticamente fugaz às diretrizes de um épico, PT Andersom ostenta sua grandiosidade ao versar sob três pilares que moldaram a sociedade americana: o capitalismo, a igreja e a estrutura familiar.

Na adaptação livremente inspirada do romance Oil!, de Upton Sinclair, Plainview é a faceta lúgubre do empreendedor que busca o poder a qualquer custo. Na casca, um ser obstinado, visionário e bem-sucedido, mas por um dentro há um vazio, uma ferida mal curada que teima em não cicatrizar.

Depois de descobrir petróleo em suas terras no Novo México, ele passa a prospectar em outras regiões e amplia seu território país fora. Como estratégia de negócio, adota o filho de um funcionário morto, apoiando-se sob a égide do “homem de família”.

Durante suas andanças, recebe a pista de uma região fecunda em petróleo em Little Boston, na Califórnia. Lá conhece Eli Sunday (Paul Dano), pastor fervoroso tão bom na lábia quanto Plainview. Na inauguração dos poços de petróleo, ambos batem de frente. O conflito de egos é um prenúncio de tumultuadas disputas de poder. É inevitável: haverá sangue!. De culpados e inocentes. E desse entrave ninguém sai totalmente ileso ou em perfeito juízo.

Acima de ser um épico amargo sobre o nascimento de uma civilização poderosa, Sangue Negro leva na penumbra, inúmeras outras implicações. A mais forte delas é a ambivalência de Daniel Plainview, o homem sedento pelo poder e carente por afetividade. Sua trama é, ao mesmo tempo, a espinha dorsal e o termômetro da narrativa. A relação incongruente com o filho adotivo, suas polêmicas estratégias de desenvolvimento e o apego com o irmão recém descoberto dão margem a diversas interpretações que só aumentam a cada nova exibição.

Por essas e outras que Sangue Negro talvez seja um filme para a posteridade. Por mais laureado que tenha sido talvez ganhe um reconhecimento tardio, como aconteceu com o Cidadão Kane, filme que também retrata o universo cáustico de um homem de negócios.

Sem se reinventar ou se enquadrar às vértices da academia, PT Anderson manteve pulsante a linguagem e a dinâmica não ortodoxa de seus personagens. Apesar de não ter sido tão democrático com eles como foi em Magnólia ou Boogie Nights, pelo menos se mantiveram enveredados bem longe do previsível.

Daniel Day-Lewis é um cara de poucos filmes, mas quando resolve atuar dá pena dos seus concorrentes. Sua interpretação no filme é perfeita; irretocável. Quem também abrilhantou o filme foi Jonny Greenwood e sua envolvente trilha sonora. Por enquanto é cedo pra dizer se Sangue Negro está à frente do seu tempo. Mas nunca se sabe quando se trata de PT Anderson…

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Apenas Uma Vez

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[Filme irlândes cativa pela simplicidade e a voz afinada dos protagonistas]

Não é tão difícil nos apaixonarmos por um filme. Com Apenas uma Vez, foi amor à primeira vista. Como contar uma história simples, sensível e tocante em menos de uma hora e meia, na qual a gente se sente do começo ao fim emocionado?

Se tivesse a oportunidade, faria essa pergunta ao diretor e roteirista John Carney. Esbaldando talento e sutileza, Apenas uma Vez pode ser visto como um filme musical ou simplesmente um drama. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Um músico de rua descrente de sua capacidade criativa conhece na Irlanda uma imigrante russa que sabe uma nota ou outra de piano. O filme não fornece o nome deles. A situação dos dois é parecida. Ambos estão financeiramente e afetivamente ruins. A amizade entre eles cresce. Inspirado pela amiga, o músico resolve gravar um disco e tentar a sorte em Londres, de onde saiu com o coração em pedaços.

Esse fiapo de história nos leva por uma jornada de emoções, sentimentos e belas canções. E como são belas! Bem à vontade em seus papéis, a dupla de músicos Glen Hansard e Marketa Irglová forma um dueto afinado. No filme, ele é um músico talentoso que gradativamente retoma sua confiança.

Já ela é uma pessoa inspiradora, e é aí que reside o seu grande talento. O relacionamento entre eles, embora afetivo, não é propriamente físico. A química se dá pela música e a forma como ela os regenera e faz cicatrizar antigos problemas.

Na cena onde eles tocam juntos pela primeira vez, a emoção é iminente. Sem grana disponível para alugar um estúdio, eles usam uma loja de instrumentos musicais para o ensaio. Timidamente, vão combinando acordes e tons de voz até atingirem o ápice entoando a música Fallen Slowly, vendedora do Oscar de melhor canção. O desfecho do filme pode até ser previsível, mas não menos emocionante.

Um filme devotado assim não aparece desde que Cameron Crowe demonstrou seu amor ao rock com Quase Famosos. Embora diferentes em forma e estrutura, esses filmes foram feitos com paixão por seus realizadores.

O mérito de John Carney foi ter se despreocupado em buscar uma pretensa criatividade, deixando sua câmera passear livremente com os protagonistas pelas ruas e subúrbios de Dublin. Essa despretensão conspirou a favor do filme. Os clichês - das músicas e dos diálogos sobre amores perdidos - trafegam simplórios pela trama, sem soar forçado como nas habituais comédias românticas.

Apenas uma Vez é uma forma minimalista e bela de se fazer cinema. Uma prova concreta de que um filme para ser romântico não precisa encerrar com o close de um beijo seguido de um “eu te amo”.

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Escafandro e a Borboleta, O

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[Julian Schnabel faz de uma história de superação o filme da sua carreira]

Adepto desde muito cedo ao mundo das artes, o diretor Julian Schnabel, diretor de O Escafandro e a Borboleta, não parece ter tido muita dificuldade de se ambientar à arte do cinema. Pintor de sucesso nos anos 80 largou os pincéis e as tintas para se dedicar a lentes e claqueta na década seguinte.

O talento artístico sucumbido pela tragédia foi a tônica de seus dois primeiros filmes. Em Basquiat levou às telas a vida e a morte do pintor Jean Michel Basquiat, artista promissor tutelado por Andy Warhol que teve a vida encurtada pelo vício na heroína. Depois veio Antes do Anoitecer, filme sobre o poeta Reinaldo Arenas, trabalho que rendeu a Javier Bardem sua primeira indicação ao Oscar.

Finalmente, veio o Escafandro e a Borboleta. No seu terceiro longa-metragem de ficção -realizou também documentários-, o fatalismo do protagonista prodigioso persiste na história real de Jean Dominique Bauby, ex-editor da revista Elle na França que sofre um derrame cerebral e fica com o corpo paralisado, exceto pelo olho esquerdo.

O acidente vascular devasta-o completamente. Graças ao apoio de uma fonoaudióloga aprende a se comunicar - uma piscada é sim, duas é não e são usadas para responder às letras que lhe são soletradas. Enquanto aperfeiçoa a técnica, Jean Do (Mathieu Amalric) alterna momentos de reflexão enquanto restabelece seus vínculos com a família e amigos. Enfraquecido pela doença, dedica seus últimos anos de vida a escrever um livro sobre sua história.

Melhor trabalho em toda a carreira, Julian Schnabel conseguiu o feito de aliar criatividade visual com um trabalho realista e com capacidade de emocionar. A câmera subjetiva utilizada para mostrar o ponto de vista do personagem é um dos pontos fortes da narrativa. Com ela sentimos a aflição, o desespero e até a própria dificuldade do personagem em se conectar com o mundo.

Além da concepção artística, outra virtude do filme é a qualidade técnica da produção. O trabalho de fotografia é primoroso e não podia ser diferente já que por detrás das lentes está o fotógrafo polonês Janusz Kaminski que trabalhou em diversos filmes de Steven Spielberg, entre eles A Lista de Schindler e o Resgate do Soldado Ryan.

Mais do que uma bela lição de vida, O Escafandro e a Borboleta é uma comprovação de que a estética do cinema é inesgotável. Assim como os bons realizadores. É uma pena que Schnabel tenham começado tão tarde na sétima arte. Mas é uma dádiva saber que ainda há tempo para nos brindar com muitos outros filmes.

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Onde os Fracos Não Têm Vez

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Muito tempo passou desde 1984, ano da elogiada estréia de Ethan e Joel Coen com o filme Gosto de Sangue. De lá pra cá, a dupla ganhou mais dinheiro, mas prestígio e alguns fios de cabelos brancos. O que não mudou foi a cabeça deles ainda inspirada por uma contumaz obsessão pelo mórbido.

Se com Fargo os irmãos Coen marcaram território na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas , com Onde os Fracos não Tem Vez eles urinaram com vontade sob o tapete vermelho e nas quatro carecas douradas que faturaram em 2008 no Oscar. .

Embora tenham levado pra casa os melhores prêmios da festa, não foi preciso fazer nada de diferente do que faziam há mais de vinte anos para se consagrarem. Basicamente há dois tipos de filmes dos irmãos Coen: as comédias mais “leves” que iniciam numa boa e repentinamente, lá pela metade do filme, começam a pegar fogo.

Dessa vertente situam-se Na Roda da Fortuna, O Grande Lebowsky e o recente Queime depois de ler. Já outros como Fargo e Gosto de Sangue possuem um verniz mais pesado com dimensões mais bizarras e apelo apurado ao grotesco.

Onde os Fracos não Tem Vez faz mais o gênero desse segundo grupo. O filme é encabeçado por Josh Brolin (Planeta Terror) é Llewelyn Moss, um ex-combatente do Vietnã que durante uma habitual caçada pelas terras áridas do Texas encontra acidentalmente uma maleta de dinheiro cercada por cadáveres.

Em vez de chamar e polícia, ele fica com o dinheiro, mas comete um erro quando deixa de liquidar um traficante xicano, sobrevivente do massacre. Ao tentar reparar a falha, passa a ser perseguido por Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino da pior da espécie e que fará de tudo para recuperar o dinheiro.

A caçada com ares de gato e rato resulta num banho de sangue. Sempre um passo atrás da pilha de corpos está o xerife Ed Bell, homem da lei desacreditado que não entende a violência e a crueldade que se instaurou no condado nos últimos tempos. Marcado por momentos e situações singulares, o filme é bem conduzido, seja na parte técnica - fotografia, montagem e edição de som - ou na concepção artística, com um roteiro impecavelmente adaptado e direção inspirada.

Boa parte da trama gira em torno desses três personagens - um homem comum, um homem da lei e um fora da lei- e suas diferentes motivações. Como em todos os filmes dos Coen, os personagens vão gradualmente perdendo o controle dos seus destinos. O desfecho em aberto é menos um recurso dramático e mais um deboche dos diretores.

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Amor para Recordar, Um

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Algumas pessoas das quais conheço que assistiram "Um amor pra recordar", de forma uníssona, classificam o filme como lindo. Logo de cara são levadas pelo romantismo desregrado, e de antemão apresentam o veredito positivo, sem ao menos ponderarem algumas questões importantes.

Apesar de eu assistir a toda e qualquer comédia romântica lançada (sem saber o porquê...), não sou fã de nenhum gênero que beira o romance.

Essa quase aversão se dá pelos seguintes motivos: falta de originalidade no roteiro e excesso de "glicose" no contexto em geral; problemas que imperam nesse estilo de filme.

Parece que a maioria deles é produzido pelo mesmo diretor, em que os personagens se assemelham, os desfechos e as situações são similares, e tudo flui sempre da mesma forma...

E isso acontece porque esses tipos de filmes vão se baseando mesmo uns nos outros. O diretor do filme, Adam Shankman, provavelmente deve ter usado o filme "Doce Novembro" como parâmetro e inspiração, afinal, "Um amor pra recordar" mais parece sua versão teen.

E se tratando de Adam Shankman, julgando por sua trajetória cinematográfica, ele está se tornando mestre em dar vida à obras clichês.

O filme tem um roteiro ingênuo (em todos os sentidos), prognosticamente dramático, que abusa de todo e qualquer recurso para comover a platéia - e consegue!

A questão é que mesmo contendo um pieguismo explícito, e um grande embate de opiniões entre críticos e público, não é uma tarefa simples avaliar essa película.

Mandy Moore, uma musa teen, dona de uma voz mezzo aveludada, e de um repertório adocicado, protagoniza essa projeção.

Não é novidade vermos cantoras se aventurando como atrizes em Hollywood. Assim elas só comprovam ao público que não erraram quanto a seguir a vocação musical. Todavia, afirmo que entre ver as interpretações deprimentes de Mariah Carey, Britney Spears e Jennifer Lopez (essa é a mais insistente), Mandy foi a menos decepcionante. Diria até que entregou uma atuação segura e satisfatória para o nível do roteiro.

O filme relata a estória de uma jovem de comportamento introvertido e puritano que, é isolada e rotulada de "nerd" em seu meio escolar por seu jeito alienado de agir e vestir. Em contrapartida nos deparamos com seu par romântico, totalmente rebelde e popular.

A idéia trivial do romance é exatamente fazer com que o personagem Landon Carter, vivido por Shane West, passe por uma transformação idiossincrática para adaptar-se ao perfil da mocinha-esteriótipo rejeitada.

Como o filme é voltado para um público específico - adolescentes - é tolerável a simploriedade da proposta, porém, a forma com que é conduzida, incomoda um pouco.

Na verdade, um filme para ser bonito, inspirador e emocionante, não necessita usar os mesmos artifícios para alcançar tais resultados.

Entre alguns pontos fracos do filme está a personalidade de Landon que, passa por uma verdadeira metamorfose, numa rapidez descomunal. Além do amor quase instatâneo dos dois, um tanto forçado. Mais rápido que esse só o de Kate Winslet e Leonardo Dicaprio no superestimado "Titanic".

Se não fosse o descuidado desenrolar dos fatos e a edição primária, o filme funcionaria melhor.

Como já foi antecipado pela crítica de Daniel Dalpizzolo o fim da estória, falarei abertamente sobre alguns fatos.

A personagem de Mandy tem uma doença irreversível, o que abre espaço para a dramaticidade desmedida. Nisso entram em cena os esteriótipos, o romance fácil, a reviravolta brusca das situações e o clima excessivamente melancólico que, aborrecem um pouco. Entretanto, a projeção conseguiu apresentar atuações e um desfecho acima da média em comparação as películas de outras cantoras, como já foi supracitado. Nos deparamos aqui com uma maturidade que normalmente não encontramos nesse tipo de filme, por isso, "Um amor pra recordar" pode ser determinado como o melhor filme estrelado por uma cantora. E um dos motivos foi que a realização do projeto não se limitou em divulgar a imagem de Mandy Moore, e sim, apresentou uma trama.

Quanto as interpretações, confesso que gostei de Peter Coyote como o pai de Mandy no filme. A posição racional, áustera e conservadora de um pai protetor e líder religioso, ficaram muito bem definidas por sua performance. A cena dele com a filha no hospital é de uma emoção gratuita, porém, tocante!

Mandy, como já citei, também não desagradou, até me surpreendeu. Já os coadjuvantes em geral não se saíram bem, assim como o próprio par romântico de Mandy, Shane West.

Ele não chega a ser canastrão, mas a meu ver, ele errou feio em limitar sua representação à "caras e bocas" (mais bocas... reparem no "bico" constante do ator). Parecia mais uma tentativa desesperada do ator em querer transmitir uma imagem de galã, o que soou nada convincente.

A cena em que ele transtornado no carro tenta esboçar um choro, ficou confusa. Não dá pra se saber ao certo o que ele estava tentando expressar. Sua feição trasmitia qualquer coisa, menos tristeza.

Agora, dentre os outros comentários e críticas que li a respeito do filme, esses citaram que a estória vai ganhando uma atmosfera maniqueísta no terceiro ato (o da doença revelada), o que pra mim não foi um erro como apontaram, já que a protagonista era religiosa e filha de um reverendo, ou seja, a crença dela seria explorada.

E sobre o triste e irredutível desfecho, ao contrário do que muitos acharam, foi pra mim satisfatório; melhor que a conclusão batida do "felizes para sempre", afinal, se é um amor pra recordar, evidentemente não tinha escapatória para a mocinha.

A trilha sonora é extremamente romântica e composta obviamente por algumas canções de Mandy como, "Only Hope" que ela interpreta no filme, e "Cry" que é a canção carro-chefe. São músicas melosas, mas suportáveis até. Para o filme ficaram sob medida.

E como última observação, eu não pude deixar de reparar na fotografia fosca. Ficou com um aspecto de filme independente... não... amador é a melhor colocação. Não sei se faltou investimento, mas deixou a desejar nesse quesito.

Concluindo, o filme não tem consistência, possui enredos requentados, e é totalmente moldado à risca com as fórmulas de filmes típicos, entretanto, afirmo que o filme, ainda assim, emociona, cativa e traz até alguns questionamentos interessantes... Paradoxo? Contraditório? Eu sei. Mas é verdade!

Ironicamente tenho que concordar com a maioria... o filme é bonito! Insisto... ainda que analisando meticulosamente o mesmo, e descobrindo mais falhas entre tantas, o filme continua sendo, inexplicavelmente, bonito.

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Dia de Cão, Um

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Sidney Lumet possui um talento explendoroso como diretor. Algo que chama atenção em algumas de suas obras é o fato de se abordar temas em que a ambientação é praticamente a mesma durante a maioria do tempo; ou seja, sua habilidade lhe propicia grandes obras com espaços e ambientes reduzidos.

Seu melhor trabalho nesse formato é o clássico "12 Homens e uma Sentença", de 1957. A história gira em torno de um julgamento em que 12 jurados tem que decidir o veredicto de um caso aparentemente óbvio. Aqui, Lumet gasta os pouco mais de 90 minutos da trama em uma sala fechada - que passa uma sensação inquietante e caustrofóbica. O mérito de Lumet, então, é conseguir mantêr o ritmo e instigar o espectador durante todo o tempo.

O mesmo modelo - com suas devidas diferenças - é adotado no posterior "Um Dia de Cão", de 1975. Na trama, baseada em fatos reais, três criminosos planejam um assalto a banco em um dia quente e sufocante na cidade de Nova York. No entanto, mal sabem eles o inferno que está para acontecer conforme as coisas começam a fugir do controle.

Com um roteiro ágil, "Um Dia de Cão" consegue segurar o espectador do início ao fim. Por mais que o ambiente seja o mesmo por quase todo o longa, em nenhum momento ele se torna desinteressante e muito menos chato - o que é um excelente mérito. Destaque também para as subtramas, que aqui são muito bem construídas e reveladoras - o filme vai muito além de um simples assalto a banco sem propósito nem fundamento.

Os personagens - pelo menos o principal - têm seus conflitos e personalidade muito bem trabalhados, o que ajuda no desenvolvimento da trama em si. Aqui, um ponto de apoio importante é o alto nível dos diálogos - que foram tratados com muito cuidado. Para incrementar, o que dá aquele toque especial é a atuação do elenco, sobretudo de Al Pacino e John Cazale. Pacino se destaca como um homem cheio de conflitos, por vezes confuso e deslumbrado com toda a situação, mas com pulso firme para tomar suas decisões e fazer suas exigências. John Cazale - conhecido pelos papéis no clássico "O Poderoso Chefão" -, por sua vez, nos brinda com um desempenho excelente - que muito me lembrou Anton Chigurh - personagem interpretado por Javier Barden em "Onde os Fracos Não Têm Vez".

Em suma, "Um Dia de Cão" é mais uma obra-prima do genial diretor Sidney Lumet. Ao meu ver, ainda inferior à "12 Homens e Uma Sentença", mas tão angustiante e bem climatizado quanto. Com o longa, Lumet conseguiria na época sua terceira indicação ao Oscar. Ao longo de sua carreira, o diretor foi indicado por quatro oportunidades ao prêmio da academia, mas bateu na trave em todas elas. Em 2007, Lumet deu provas de que ainda pode dirigir em alto nível ao apresentar a trama "Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto", que conta com um ótimo elenco, encabeçado por Philip Seymour Hoffman.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Crepúsculo

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Decididamente moldado para não produzir nenhuma inovação, trama (ou sub-trama, tamanha é a falta de profundidade dessa primeira jornada da bela e puberdiosa jovem envolta de vampiros) direcionada a deixar lacunas - até obvias demais, que praticamente chegam a narrar o roteiro da provável continuação. Crepúsculo, embora seja mais maduro que os demais do gênero, implode ante a falta de força da Direção, do roteiro incoeso, da Fotografia quase unicolor cansativa e da aborrecente Trilha Sonora, desproporcional e até bizarra. Ganha pontos devido a sua maturidade, ao mesmo tempo que perde ao não se aprofundar tanto no que acerta.

Isso mesmo, Crepúsculo é um filme adolescente aparentemente maduro: os personagens na flor da puberdade descobrem amores e potenciais acasaladores, todavia é tudo muito fantasioso, muito casto. Claro, não deveria beirar a apelatividade das comédias teens, o que afastaria o seu público alvo - jovens descobrindo a sexualidade sob o olhar prudente de seus pais conservadores.

Adaptação do best-seller de Stephenie Meyer, roteirizado por Melissa Rosenberg, e dirigido por Catherine Hardwicke, o filme foi obviamente, meticulosamente marketingzado para faturar, e muito, tanto quanto o livro, que vendera aos bocados.

A história conta de uma adolescente, Isabela Swan - que bizarramente exige ser chamada de Bella - que vai morar em outra cidade, onde seu pai - separado de sua mãe - mora. Indo pro colégio, a menina se apaixona por um pálido e misterioso jovemk, Edward - com aquele topete e seus trejeitos eu o considero mais excêntrico que Edward Mãos de Tesoura. O tempo passa e Bella persebe coisas estranhas sobre Edward, coisas que inclusive poderiam vir a colocar a sua vida em risco, o cara era um vampiro. Tarde demais, a semente do amor fecundara no coração da jovem que agora, decide ir até o limite para ficar junta do vampirão Edward.

Embora a direção de atores seja falha, a protagonista, Kristen Stewart, um pouco mais nova do que esse que os escreve, demostra bastante potencial, sendo verdadeiramente o único destaque da película, a única personagem razamente desenvolvida, ou seja o filme é dela e ela segura bem os designos que lhe aprouveram.

Tecnicamente o filme não se destaca em absurdamente nada. É uma produção que não se equipara de forma alguma a de qualquer um Harry Potter - esse artísticamente belo e injustiçado nesse quesito, como de praxe. A Trilha Sonora é chata de dar dó, e a Fotografia do filme não sia do tom azul escuro.

Crepúsculo é obvio a manter a fórmula da nova onda de castidade de alguns romances teens, apela a alguns clichêsinhos básicos, mas mantém-se como uma experiência ainda válida para o público afim do gênero, para quem espera algo mais delicado e melhor tratado enquanto cinema nesse gênero - um dos poucos e atuais exemplos é Juno, embora seja totalmente diferente de Crepúsculo - pode ficar esperando mais um milagre acontecer, o segundo filme vem aí, quem vota não?

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