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Críticas

Katyn

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Indicado ao Oscar 2008 de melhor filme estrangeiro, essa produção polonesa descreve em relatos fragmentados o terrível massacre ocorrido na floresta aos arredores de Katyn, em que foram mortos de 15 a 22 mil poloneses, em grande parte oficiais poloneses, em 1940.

Prá quem nunca ouviu falar desse relato histórico, o diretor Andrzej Wajda procura manter a dúvida até as cenas finais, sobre quem teriam sido os assassinos: Os alemães? Tudo leva a crer, pois o método de execução nazista da SS era dar tiros na cabeça do adversário.

Os corpos só foram encontrados em 1943, dando início a partir daí de a busca de quem seria a culpa desse grande massacre, onde até a Cruz vermelha participa massivamente em busca de repostas, exumando cadáveres e colhendo provas de documentos e objetos pessoais das vítimas. Sem pressa, Wajda vai desenvolvendo seus personagens em meio à busca de respostas e de suas dores pela inesperada notícia do acontecimento. Alguns só querem enterrar seus mortos, outros resistem em aceitar a atrocidade, alguns culpam o próprio Estado polonês de encobrir a verdade do que teria realmente acontecido.

Como um quebra-cabeça que vai sendo montado, as peças finalmente vão se encaixando e ao completá-lo, ficamos conhecendo o que realmente se passou naquele trágico dia na floresta dos arredores de Katyn, numa das sequências mais fortes que o cinema moderno mostrou nos últimos anos. Não é poupado nenhum detalhe, tudo é finalmente esclarecido.

O filme mostra claramente que o crime não ocorreu somente em Katyn, mas depois também, na omissão da verdade, onde os parentes das vítimas não tinham direito de saber quem eram os culpados, mesmo que o mal já havia sido feito.

Há cenas memoráveis, entre elas:

Um oficial aparece na casa de uma mulher que está sempre em busca de notícias de seu marido, ele diz estar levando conservas, mas logo descobrimos qual o seu verdadeiro papel ali. Esse mesmo oficial acaba sendo posteriormente um dos personagens mais dramáticos de todo o filme.

Uma mulher vende seus cabelos prá comprar uma lápide em memória do irmão morto, mas a Igreja nega o pedido, sob pressão, pois o padre dali havia sido "levado" no dia anterior, o que a faz perceber que a partir daquele momento ela será mais uma vítima dos opressores.

Um jovem que teve seu pai morto, rasga um cartaz de propaganda de guerra e se refugia com uma jovem recém conhecida pelos telhados da cidade, ele marca um encontro no cinema pro dia seguinte, mas nada o faria crer que tudo acabaria em fatalidade.

Porém, o que é mais memorável é a revelação dos culpados, todo o cinismo em se esconder algo de propoções gigantescas como se aquilo tudo pudesse ficar mesmo oculto prá sempre.

Como Roman Polanski desmacarou um pedaço do drama vivido pelos poloneses durante a Segunda Guerra, centrando-se na história real do pianista Wladyslaw Szpilman e sua luta prá sair vivo de todo aquele terror, o diretor polonês Andrzej Wajda desenterra outra história trágica envolvendo aquele povo.

Um filme a ser visto e estudado, somando-se a inúmeras outras produções que não se inquietam em mostrar os horrores do Holocausto.

Críticas

Curioso Caso de Benjamin Button, O

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"Meu nome é Benjamin, Benjamin Button, e eu nasci em circunstâncias incomuns...".

Depois de muita porrada em "Clube da Luta" (1999), de uma aventura espacial com um alien babão em "Alien 3"(1992) e de assassinatos seriais em "Se7en" (1995) e "Zodíaco" (2007), David Fincher retornou recentemente com uma obra fabulosa e dramática, "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), claramente diferente dos seus filmes anteriores.

Diferente pois aqui não vemos violência e suspense. Não. Vemos, nesta duradoura obra que ostenta quase três horas de duração, um "conto de fadas" que mistura drama, reflexão, mensagens, amor e uma leve pitada de comédia. Também vemos efeitos especiais maravilhosos, como o rosto de Brad Pitt velho, adulto e novo. Há, sim, clichês e defeitos, como o fato da história ser narrada em um diário e de se passar em tempo real, do furacão Katrina. Mas o saldo final é positivo, e os clichês devem ser deixados de lado.

Brad Pitt retorna à atuação sob a direção de David Fincher pela terceira vez. Aqui, ele interpreta Benjamin Button, um homem que curiosamente nasceu "velho", com cataratas, cegueira, rugas, pouca flexibilidade de pele, e doenças comuns em idosos. Tão horrível era sua aparência quando bebê que seu pai não quis ficar com ele, e o largou aos pés de uma escada de um asilo, junto com míseros 18 dólares. Para os médicos, o pobre bebê estava destinado a morrer com poucos dias de vida. Mas ocorreu o contrário: Benjamin aos poucos foi rejuvenescendo, envelhecendo ao contrário. Todos ganham novas rugas com o passar dos dias, menos ele.

E o filme também vai andando, criando várias "subtramas" ao longo da projeção, dividindo assim o filme em quatro partes. Uma dessas subtramas é a personagem Daisy, que Benjamin conhece no asilo em sua "infância-terceira idade". Ambos se identificam de cara. Mas aí Benjamin cresce, e tem de partir. À pedidos da amiga, ele manda, ao menos, um postal de cada lugar que vai, mantendo uma amizade a distância.

Hilárias são as situações desta primeira parte da trama. A inocência típica de crianças e velhos em Benjamin é cômica. A sátira na cena da igreja idem. Mas há um destaque para o "velho senhor dos raios", que aparece desde o início, fazendo-nos rir muitas vezes, com sua conversa de "já te contei que fui atingido por um raio sete vezes?", e em seguida aparecendo um flash-back em preto e branco de seus tempos joviais, sendo atingido por um raio em diferentes situações. Impossível não rir.

Porém, o tempo passa. As nossas gargalhadas que antes ecoavam na sala de projeção agora são substituídas por risadas tímidas e sorrisos, pois entra em cena o drama e o amor.

Benjamin trabalha em um navio, ao mesmo tempo em que se envolve secretamente com Elizabeth Abbott (Tilda Swindon) em um hotel, nos proporcionando várias cenas romanticas e pervertidas. Mas subitamente este caso amoroso termina quando Elizabeth se manda do hotel. Não demora muito para esta segunda parte do filme encerrar-se, pois chega a Segunda Guerra, e Benjamin deixa de trabalhar no navio, que fora atacado.

A comédia, até então, já estava mais ausente. Agora, entrando a terceira parte, a comédia some e dá lugar para o drama e o amor. Chamemos esta parte de... "Daisy".

Enfim, Cate Blanchett! Demorou, mas chegou. Sim, sua personagem estava desde o início: a ruivinha bonitinha do asilo, amiga de Benjamin em sua infância. Porém, Blanchett só aparece após uma hora e tantos minutos de projeção. Ela é agora uma talentosa bailarina. Temos Pitt e Cate contracenando, com muita química e simpatia. Atuações adoráveis.

No primeiro encontro da dupla, Daisy tentou, sem sucesso, seduzir Benjamin. A diferença de aparências ainda era grande: ela com vinte anos e ele aparentando sessenta. Com a recusa de Benjamin, Daisy frustra-se. Consequentemente, nós também, pois, quando finalmente parecia que veríamos as cenas amorosas, aquilo acontece.

Com algumas reviravoltas, Cate arrepende-se de ter respondido tão bruscamente Benjamin e agora vai à sua procura. E, de uma vez por todas, o amor entra em ação. É inegável a química entre o casal. Tudo está nas mil maravilhas. Diante de namoros, Cate engravida, e constituem família. Uma vida normal.

...Normal?

Mesmo tendo nascido velho e rejuvenscendo com o passar dos anos, Benjamin não pode escapar do tempo, e a situação começa a piorar. Como seria ter um marido que, há alguns anos, tornaria-se um adolescente, e posteriormente uma criança? Como seria para a mulher ter de cuidá-lo e cuidar do bebê ao mesmo tempo? A situação se inverteu. Antes, Cate era uma garotinha e Benjamin um velho. E agora, Benjamin está perto da juventude, e Cate aderindo inconvenientes cabelos grisalhos e rugas. A relação teve de ser cortada.

Percebemos então, na quarta e última parte, perto do fim, que há um outro personagem, vital para "O Curioso Caso...", e que estava presente desde o início: O tempo. Ninguém escapa ao tempo. Nada dura para sempre. Não há como voltar atrás. Temos de aceitá-lo. E Benjamin Button também.

"Você pode ser tão louco como um cão raivoso com o rumo que as coisas tomaram. Você pode jurar, maldição ao destino, mas quando ele chega ao fim, você tem que aceitar."

Com muitos efeitos especiais e um tema interessante, recheado de qualidades, "O Curioso Caso..." encerra-se repleto das mensagens e reflexões, capazes de fazerem lágrimas escorrerem no rosto de quem assiste. O relógio que corre ao contrário foi ideal para o desfecho, uma referência à vida de Benjamin. Os clichês são ignorados diante da riqueza desta obra. David Fincher soube dirigir seu filme com delicadeza e precisão, firmando-se como um dos grandes diretores da atualidade. Acertou no suspense, na ação, e recentemente... no drama.

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Frost/Nixon

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O que poderia ser um amontoado de falácias políticas imbuidas de cansativos jogos patrióticos, acaba sendo habilmente orquestrado por Ron Howard, que faz do filme uma sagaz luta onde um episódio político americano é pano de fundo para um caloroso duelo retórico. O galês Michael Sheen toma o filme pra si e se mostra um dos grandes atores saídos do Reino Unido atualmente. Frank Langela não fica por menso e entrega ao espectador um personagem complexo, às vezes atraente, às vezes um inescrupuloso presidente capaz de tudo pra se manter no poder.

O interessante é que Ron Howard acaba julgando seus personagens como mero espectador, embora o filme caminhe para que Nixon, literalmente, escorregue e assuma suas besteiras, Howard faz desse propósito algo difícil, quase impossível nas mãos do reporter-playboy Frost. Howard nos joga naquele mundo, nos bastidores daquele feito político de Frost: fazer com que o presidente que a três anos tinha renunciado devido a inumeros escândalos envolvendo seu governo. Um marco no Jornalismo que é transformado em um interessante duelo.

Michael Sheen a pouco interpretara Tony Blair em a Rainha, pouco reconhecido pelo seu ótimo trabalho, o ator chega com a convicente atuação como David Frost e acaba por ser esquecido, mais uma vez, pelo Oscar, isso considerando seu personagem enquanto coadjuvante da figura maior a ser julgada, o ex-presidente Nixon.

Frank Langella faz o papel de sua vida e embora mais magro e menos antipático que o verdadeiro Nixon, consegue impor ótimos gestos, na maneira correta, no momento exato. É um papel seguro, mais que poderia o deixar longe do real personagem caso a atuação de Langella fosse marcada por exageiros.

Tecnicamente o destaque da película fica por conta da bem trabalhada Edição, que realmente dita o ritmo do filme, não o deixando cansativo, muito pelo contrário. Uma Trilha Sonora bem colocada, que serve pra aumentar o tom de suspense que beira certas cenas.

Se a entrevista original já compõe um interessante quadro de análise para estudantes de política, sociólogos, juristas, etc, esse filme de Ron Howard não fica por menos, deglutina a uma parcela do público - é, de fato, necessário um conhecimento prévio sobre os acontecimentos, ao meu ver - uma intricada entrevista onde um dos personagens principais da política americana no período da Guerra Fria é julgado, por Frost e por você.

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Milk - A Voz da Igualdade

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Gus Van Sant explora de maneira convencional um duro período de afirmação dos direitos dos gays na sociedade, ao mesmo tempo que reitera o tom de luta pela causa. Sean Pean mostra-se seguro e sagaz em um papel que poderia-o jogar no puro lugar comum ou caricaturá-lo ao extremo. Sobra emoção, embora o filme se preze mais ao tom de homenagem, sem colocar algo de novo no circuíto.

Vencedor do Oscar de Roteiro Original, Milk - A Voz da Igualdade basicamente difere bastante da possibilidade de inovações presentes na categoria de Roteiro Original. Visto talvez como o "melhor" entre os candidatos, talvez tenha sido este o real motivo de seu prêmio.

A Direção de Gus Van Sant, tido como um diretor de filmes "alternativos", mas bem premiados, principalmente fora dos EUA, é segura, ele sabe exatamente o que qeur, pra que caminhos levar seu filme, muito embora tirando o caráter moral do filme sua condução pode ser considerada das mais fáceis das que concorreram ao Oscar - talvez as que realmente mais me encantaram foram Boyle e Ron Howard, justo por causa da dificuldade em transmitirem a idéia de seus filmes.

Milk é um bom filme de se assistir, são personagem sociais densos, Gus Van Sant tratou de explorá-los substancialmente nesse sentido, de maneira que o Harvey Milk pessoa é bem explorado apenas no início da trama. O que mais importa ali não é a figura Milk, mas o que ele, junto com seus correligionários lutam, a mensagem em prol dos direitos da causa gay àquela época.

As atuações do filme precisavam do apoio de atores relevantes, seguros do que poderiam tirar dos seus papéis. Nesse sentido, o trabalho de Sean Pean no filme o lança a um patamar a muito trilhado em sua carreira, repleta de atuações seguras. Outro destaque fica por conta de James Franco, jovem conhecido dos filmes do Homen Aranha - o filho do Duende Verde. Em uma atuação segura, ele rouba certas cenas pra si, equiparando-se ao protagonista, Pean, em segurança, um nome sem dúvidas esquecido no Oscar. Por seu turno, Josh Brolin mostra-se um ator limiado em um personagem confuso, excetuando-se um cena em que ele está alcolizado, vê-se uma atuação apagada de um ator que carece de muito ainda pra provar. O outro destaque fica pelo interessante ator Diego Luna, mexicano que emerge no cenário de filmes menos badalados.

Tecnicamente o filme prima pela boa ambientação. Vemos uma bela Fotografia de época, boa Trilha Sonora, além de um interessante apuro na escolha de figurinos.

De ritmo tradicional, Milk escorrega em uma correria política presente no meio do filme que o torna meio repetitivo. Inegávelmente, por outro lado, é a presença da personalidade de Harvey Milk, lider carismático e decidido, humano, ao menos essa foi a intensão passada por Gus Van Sant em um filme interessante de se ver. Recomadado.

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Mulher Faz o Homem, A

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Frank Capra mais uma vez traz uma história fantástica que tem como pano de fundo a denúncia contra a injustiça e em prol da preservação da lealdade política, da verdade e, acima de tudo, da honestidade.

Jefferson Smith, interpetado pelo brilhante James Stewart (de quem falarei depois), é um sujeito que veio de raízes humildes e sai de Jackson City, uma cidade pequena, para assumir o posto de um senador que acabara de morrer. Nessa cidade, ele é o chefe dos escoteiros e por isso tem apoio das crianças. Graças a esse auxílio, Hubert Hopper (Guy Kibbee) que já estava em dúvida na escolha de quem assumiria o lugar do senador, acaba sendo estimulado por seus filhos (em uma cena realmente sensacional) para decidir por Smith.

Smith é um indivíduo inocente e que acaba recebendo apoio de senadores corruptos, como Joseph Harrison Paine (o inesquecível Claude Rains, de "Casablanca"), por sua popularidade e por causa de uma antiga amizade que Paine havia tido com seu pai. No entanto, essa inexperiência faz com que ele passe por situações de constrangimento público e de vergonha perante os demais senadores, que chegam a desacreditar de seu potencial. Até que ele planeja o desenvolvimento de um projeto, no qual seria a criação de um acampamento para jovens, e recebe os préstimos de sua secretária Clarissa Saunders (Jean Arthur, que já havia trabalhado com Stewart em "Do Mundo Nada se Leva"). Ao apresentá-lo para o Senado, Paine já articula o afastamento de Smith, pois o acampamento atingiria as terras que seriam utilizadas na construção de uma represa para Jim Taylor (Edward Arnold), que prometia pagar altas propinas a Paine em troca do possível desvio e represamento das águas de Willet Creek.

Passado algum tempo, Taylor lança em mãos do Senado provas falsas e não contundentes sobre Smith. No entanto, ao contrário do que todos pensavam, o jovem senador decide lutar contra toda essa imoralidade, por mais que em um momento queira desistir, o que não vai ao fim graças a Sra. Saunders - é aí que "A Mulher Faz o Homem".

Com Saunders ao seu lado, o guiando para tomar as atitudes corretas, em sua última oportunidade ainda com o direito de se pronunciar no Senado ele decide ir até o fim pela justiça. Passa incansáveis horas debatendo, lendo a Consituição Americana e defendendo a sua causa. Ainda que a imprensa fosse controlada pelos poderosos, Saunders chega a propor uma estratégia para que o povo de Jackson City saiba a verdade, o que no fim acaba sendo frustrado. Diante disso, após quase um dia falando em sessão no Senado, Paine apela para a chantagem emocional e o coloca perante cartas supostamente vindas de sua cidade natal e que demonstravam descontentamento da população - aquilo era uma farsa. Jeff Smith, cansado, não aguenta mais e acaba desmaiando. A partir disso, Paine, com a consciência pesada por fim acaba admitindo seus erros.

Realmente é preciso contar a história para analisá-la melhor. "A Mulher Faz um Homem" retrata algo que está presente na vida política de diversos páises e que pareça nunca se findar - a corrupção. Jefferson Smith é um exemplo de um político que parece que nunca existiu e que se existiu, não deixaram que pudesse fazer justiça. É ainda mais revoltante admitir que, na nação brasileira, talvez nunca tivemos a oportunidade de ver alguém como ele. Pelo contrário, a política sempre esteve infestada de Paines por todos os cantos. É isso que é mais precioso nessa obra-prima de Capra, fazer com que sonhamos e esperamos eternamente por um Jefferson Smith e, por esse motivo, torçamos pelo seu triunfo.

A escolha do ator foi perfeita. James Stewart, um dos maiores atores de todos os tempos, realmente dá uma performance que poucas vezes pôde ser vista no cinema. Observamos, ainda jovem, sua competência, tão revelada mais tarde com longas como "Núpcias de Escândalo" (no qual ganhou o Oscar de Melhor Ator), "A Felicidade Não se Compra", "Janela Indiscreta", "Um Corpo que Cai" e "Anatomia de um Crime". Indicado ao Oscar por esse papel, não levou a estatueta aquela vez por possuir concorrentes de peso naquela noite: Clark Gable por Rhett Butler, de "E o Vento Levou"; Laurence Olivier por "O Morro dos Ventos Uivantes"; Robert Donat por "Adeus, Mr. Chips" - este último levou o prêmio, estranho que parecia ser o menos cotado para o prêmio.

Frank Capra se consolida outra vez como um dos maiores cineastas de todos os tempos, por sempre nos trazer filmes que tentem incentivar os valores morais que parecem perdidos na sociedade.

Uma última declaração: " Queremos Jefferson Smith para presidente!!"

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Entre os Muros da Escola

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Um filme não-linear e realista, porém superestimado e cansativo.

Entre os Muros da Escola foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes ano passado, o filme conta a história do cotidiano de uma escola francesa. Uma escola típica, como outra qualquer, onde a indisciplina beira ao caos e os alunos tomam conta das aulas da maneira que bem entendem. Se "Entre Les Murs" for visto desta maneira pode ser considerado um filme pretencioso, realista e um misto de documentário e doses extras de tarja preta. O filme também pode ser interpretado por muitos como uma obra-prima do cinema atual francês, onde a realidade tem prioridade máxima e o bom gosto do diferenciado roteiro beira à perfeição. Foi com este pensamento que fui levado à sala de cinema onde o longa de Laurent Cantet estava sendo exibido e para meu azar e puro desprazer, encontrei como resultado um filme cujas objetividades explícitas ficaram frias e um tanto distantes do espectador, revelando-se um roteiro livremente inspirado na obra de François Bégaudeau (ao qual o livro se fez completamente desnecessário), tornando um retrato fabuloso em seu íntimo a respeito das diversidades cosmopolitanas da França do século XXI e todas as diversas culturas que lá encontramos.

Em seu todo, podemos concluir que bastaria alguém colocar uma câmera dentro de uma sala de aula e filmar tudo o que ocorre lá dentro. A impressão que passa, é que tudo naquela escola é desordeiro e por mais árduo que seja o trabalhos dos esforçados e pobre-coitados dos professores, hoje em dia a educação não é mais a mesma, a partir do momento que você possua um conhecimento prévio a cerca do que a escola representou nas décadas passadas. Durante todo o longa parece que o espectador é mais um dos presentes em uma reunião de professores no final do dia, cansativa e penosa.

Mas muito bem, apesar dos apesares, o filme não é uma catástrofe por completo, felizmente ainda restam vestígios de Cantet quando o mesmo dirigiu e escreveu A Agenda. Por mais que seja difícil acompanhar este filme, o diretor francês se mostra um cineasta sem maneirismos e com apelo objetivo muito maior que alguém poderia supor. Sua mente pode ser inteligente o bastante para criar algo criativo, mas que no todo não satisfaz alguém psicologicamente despreparado para mais de duas horas sentado em uma cadeira, que mal sabia ter que encarar uma aula de francês com legendas em português.

Em um outro lado, talvez o melhor de "The Class", é que o filme mostra com muita facilidade (e um dos momentos que mais rendem lucros ao diretor) o choque de culturas que a França mostra a face com muita veracidade, seguindo uma linha tênue. Africanos, árabes e franceses deshonrados convivendo diariamente dentro de uma sala de aula pareceria algo muito superficial alguns anos atrás, mas para os dias de hoje tudo isso é perfeitamente explicado pelos grandes contrastes que o mundo presencia e causa todos os dias. Antes fossem somente os preconceitos, Entre os Muros da Escola faz jus ao título original (praticamente o mesmo). Nunca se viu a França toda reunida dentro de uma pequena e desorganizada sala de aula, todos convivendo com/sem harmonia e demonstrando todos os seus pontos de vista. O único porém deste retrato bastante fiel, é justamente o "bastante", sendo o filme fiel até demais a uma sala de aula, tornando tudo árduo de ser assistido. Afinal de contas, a escola é um lugar que no fundo todos tivemos de frequentar e todo mundo está cansado de saber que nem sempre é agradável acompanhar uma aula, sendo, como eu disse, essa a pura sensação ao ver o filme francês.

E em termos narrativos, muita falação. Falação demais eu diria, sem saber nunca do lugar-comum, ao não ser em cenas onde o contraste de culturas é perfeitamente explícito. Diálogos rápidos e confusos nos mostram exatamente o trabalho de professores de escolas públicas (bem diferente da realidade brasileira), que parecem querer nos envolver nas suas próprias discussões. E resta a pergunta: será que se Cantet e Robin Capillo tivessem adaptado de maneira fiel o livro de Bégaudeau, o resultado seria melhor, ainda mantendo o mesmo diagnóstico de culturas? Talvez, mas para quem não leu o livro como eu, fica difícil opinar, portanto vou me abster a falar do roteiro um pouco mais. Na verdade um roteiro mais parecido com um esboço, porque boa parte dos diálogos parecem ter sido improvisados tamanha a veracidade nas entonações, e realmente foram. Está mais para uma gravação de um ensaio dramático, mas veio a calhar, uma vez que as interpretações (ou transposições) seguiram a linha do "bom, ok".

E falando nelas, eis outro ponto interessante do filme. Todos os "atores" interpretam eles mesmos, literalmente. O professor François (o próprio escritor do livro) e os alunos, todos têm o mesmo nome da vida real e isso certamente ajudou para a sensação do realismo. Ou seja, não existem atores, a partir do nome propriamente ditos, e sim talvez aspirantes a atores, que executam o seus respectivos papéis de maneira correta, sem grandes momentos, mas sem dúvida, um dos trunfos do filme e mérito do modo de filmar de Cantet, o elenco.

Enfim, "Entre Les Murs" é um filme um pouco abaixo do mediano, pois se torna extremamente penoso acompanhá-lo até onde a Palma de Ouro e a indicação ao Oscar lhe fariam merecer. Sem seguir uma linha linear de enredo, o filme acabou sendo mais uma vítima do senso comum. Extremamente bem idealizado, mas nem tão bem executado.

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Última Parada 174

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"Última Parada 174" ganhou destaque ao ser indicado como o longa brasileiro nas seletivas do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009. Algo que inicialmente gerou estranheza, já que quando isso aconteceu, pouca gente sequer sabia da existência do filme - quiçá o tinha visto. Felizmente, a trama do diretor Bruno Barreto foi precocemente descartada, alvo de muitas críticas aqui no Brasil e no resto do mundo.

Baseado na fatídica tragédia do ônibus 174, no Rio de Janeiro, quando o jovem Sandro do Nascimento fez uma série de reféns e provocou um dos maiores alardes da história da TV brasileira, o filme, que também é inspirado no competente documentário "Ônibus 174", do diretor José Padilha, conta a história do acontecimento sob uma ótica distinta da que foi relatada pela imprensa de todo o mundo.

Na época, jornais, rádios e TV massificaram o acontecido e fizeram com que o caso repercutisse internacionalmente. Contando os fatos de uma forma parcial - algo reprovável - a imprensa sequer deu voz à família do jovem sequestrador - que sumiu de foco poucos meses após sua morte no carro da polícia. Depois de cair no esquecimento, no ano passado, o filme "Última Parada 174" reviveu a tragédia; dessa vez, nada de depoimentos de reféns ou policiais se desculpando pelos erros ou tiros dados ’sem querer’. Barreto traz a história de Sandro do Nascimento - aquela mesma que poucos chegaram a conhecer.

No entanto, o diretor e o roteirista, Braulio Mantovani - o mesmo de "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" -, optam por apresentar a história de Sandro também de uma forma parcial - da mesma maneira que fez a imprensa pelo lado contrário. Sendo assim, eles humanizam o jovem e tentam justificar suas atitudes pelos diversos problemas sofridos na infância. É verdade que quando garoto ele teve poucas oportunidades, o que contribuiu para ele entrar desde cedo no mundo do crime. Também é citada a passagem da covarde chacina da candelária, quando policias cariocas mataram seis menores e dois maiores no centro histórico do Rio de Janeiro - parte essa que é muito pouco aprofundada e merecia muito mais cuidado por parte dos produtores.

Mesmo com uma série de graves problemas e sem grandes perspectivas de ascenção social, nada justifica matar e promover o sofrimento de outras pessoas - como ele fez em momentos de sua trajetória. Aos defensores do comportamento do garoto, vale retratar as passagens de sua convivência com a mulher religiosa que tentou colocar um rumo em sua vida. Algumas metáforas batidas também rodeiam o longa, como quando ele parte rumo ao centro da cidade em uma espécie de barco, e, ’sem querer’, seus livros caem na água, indicando que os estúdos foram deixados para trás.

O elenco em si tem bom desempenho, especialmente de Michel Gomes e Marcelo Mello Jr., que interpretam o Sandro na fase adulta e o Alê monstro respectivamente. No mais, o filme de Bruno Barreto é burocrático e cheio de falhas. Daqui alguns anos, muita gente ainda lembrará do epísodio com o ônibus no Rio de Janeiro; contudo, a trama que tentou construír uma história verídica sob um ponto de vista diferente, será facilmente esquecida. Em pensar que esse foi o filme brasileiro que disputou as seletivas do Oscar - dessa vez o Brasil apresentou um candidato muito fraco, infelizmente.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Che

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[Primeira parte do longa de Soderbergh, Che- O Argentino mostra uma visão comedida do guerrilheiro]

Ao lançar Che, no 61° Festival de Cannes no ano passado, o diretor Steven Soderbergh foi enfático ao defender a imagem do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara no filme:

“Conheço bem a argumentação dos que são anti-Che e sei que qualquer quantidade de barbaridades que incluíssemos nesse filme não seria suficiente para satisfazê-los”.

[Ficha Técnica]

Com quase cinco horas de duração - 4h28 do filme e um intervalo de 30 minutos entre suas duas partes - o filme dividiu opiniões. Uns acharam o longa chapa branca. Soderbergh teria feito uma abordagem simpática do guerrilheiro argentino estrelado por um astro de Hollywood, o americano de descendência porto-riquenha Benicio Del Toro. Outros gostaram, sobretudo pela adaptação fiel na língua espanhola.

No lançamento para as salas comerciais, Che foi dividido em duas partes pela distribuidora Warner. A primeira parte, intitulada O Argentino, mostra a participação de Che na Revolução Cubana (1959) intercalado com o discurso do guerrilheiro na ONU, em 1964. A segunda parte Guerrilha ilustra os 341 dias que ele passou na selva boliviana, treinando guerrilheiros, até sua morte, em outubro de 1967.

Com um orçamento de US$ 60 milhões (R$ 98,9 milhões), o filme ganhou locações na Espanha, Bolívia, México, Porto Rico e nos EUA. E teve participação brasileira no longa. O ator brasileiro Rodrigo Santoro deu vida ao guerrilheiro Raúl Castro, irmão do ditador Fidel Castro.

[O Castelhano]

Che - O Argentino se apega nas raízes da revolução no início dos anos 50 e se desenvolve até sua maturidade com o estopim da Revolução Cubana, em 1959. Motivados pela tomada do poder de Fulgencio Batista em Havana, com o apoio dos Estados Unidos, um grupo de jovens cubanos ligados aos ideais marxistas começa a idealizar um golpe de estado. Refugiado no México, o pequeno grupo tem como líder o jovem advogado Fidel Castro(Demián Bichir). Figura entre eles o médico argentino Ernesto “Che” Guevara.

Do tipo calmo, semblante sério e voz flexível, Che é ainda um novato na luta armada quando ruma de barco para Cuba em 26 de novembro de 1956. Acompanhado por Fidel e seus seguidores, ele se embrenha na mata e passa a incrustar na mente dos camponeses e jovens os ideais da revolução. Na medida do possível, procura não recrutar menores de idade e analfabetos – e quando o faz tenta alfabetiza-los.

Ao lado dos irmãos Fidel e Raul e do combatente Camillo Cienfuegos (Santiago Cabrera), os principais líderes da Revolução, Che passa a conquistar a simpatia do povo cubano. Assediados pela truculência do exército de Batista, os moradores de vilarejos vão pouco a pouco se aliando aos rebeldes, seja como informantes ou no campo de batalha.

A revolução adentra para as cidades que cedem espaço aos rebeldes. Mesmo com muitas baixas, o exército de Fidel avança nas batalhas até a derrocada do regime de Fulgêncio, em 1° de janeiro de 1959.

[Revolução]

Nessa primeira parte da trajetória de Che Guevara, Soderbergh leva a risca os acontecimentos históricos da Revolução Cubana. Retratando com cores fortes a selva cubana, o cineasta reconstrói o ambiente de conflitos instaurados na ilha caribenha. Um deles foi a batalha de Sierra Maestra, onde Batista emanou uma ofensiva de 10 mil homens para acabar de vez com o movimento. As cenas de batalha entre exército e rebeldes são filmadas em planos abertos, sem grandes malabarismos de câmera. A simplicidade gera uma noção realista aos tiroteios.

Contrastando com as cores fortes de Cuba, as cenas do discurso de Che na ONU surgem aleatoriamente na trama em preto e branco. Há quem diga que isso foi uma maneira do diretor demonstrar sua simpatia com o revolucionário no ambiente hostil em que se meteu e onde foi duramente criticado por outros chefes de estado. Acredito que não, que foi apenas um recurso de estilo, até porque a entrevista verídica foi registrada dessa maneira. Um recorte interessante dessa passagem de Guevara nos EUA foi o encontro dele com o senador McCarthy, um dos principais críticos do comunismo, responsável pela prisão de muitos compatriotas, incluindo pessoas influentes do cinema.

Líder comunista, orador carismático, soldado médico e estrategista de guerra. Soderbergh trata de expor todas essas facetas de Ernesto Guevara. Sem cair na mitificação e sem pegar pesado com o lado frio do guerrilheiro. É bem verdade que o diretor sublima demasiadamente o lado tenro de Che, nos momentos em que ele cuidava de doentes e moldava sua retórica com palavras positivas para elevar a moral do exército. Por outro lado, as lentes também nos mostram seus momentos de fúria e de retaliação onde ele ofende com desprezo os combatentes que desistem da causa e pune com a morte os desertores. Mas, como o próprio cineasta definiu, é pouco para os que estão acostumados a vê-lo como um sociopata assassino.

Embora tenha seu lado chapa branca, Che – O Argentino também dá umas alfinetas sutis nas utopias da luta armada. Para quem conhece os desdobramentos da Revolução Cubana após o embargo econômico dos Estados Unidos dá pra perceber que o diretor mencionou no filme algumas promessas de campanha mal cumpridas do futuro regime. Como na cena onde Fidel promete a Che que a revolução não será colonizada por nenhum outro país. Acontece que após a retaliação dos americanos, Fidel foi correndo buscar apoio da União Soviética de quem se manteve refém até a queda do regime em 1990. E de lá pra cá, pouca coisa mudou lá no seu quintal em Havana. E se mudou, foi para pior…

O ator Demián Bichir, aliás, incorporou muito bem o ditador. Na primeira cena, onde é apresentado a Guevara, ele domina as discussões numa mesa de jantar, sem deixar os outros falar. O jeito falastrão e os gestos destemperados do cubano são bem orquestrados pelo intérprete mexicano. Já Rodrigo Santoro aparece pouco no filme mas não faz feio emulando as feições discretas do irmão mais novo de Fidel. Quanto a Benício Del Toro não há muito o que falar. Ele é genial, um dos melhores atores de hollywood e mesmo não fazendo a melhor performance de sua vida incorpora sem exageros o mito que carrega seu personagem. Sua atuação está no mesmo nível do filme: no mínimo, satisfatória.

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Críticas

Louco Apaixonado, Um

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[Simon Pegg inferniza o mundo das celebridades numa comédia engraçada, mas que em momentos tenta ser o que não é]

É muito fácil chamar a atenção das pessoas com um filme engraçadinho, carregado de sarcasmo e referências cinematográficas e com uma subtrama romântica pra segurar o público adolescente na poltrona. O que não é fácil é fazer com que esse filme seja original e não um pastiche.E sem que para isso tenha que perder a graça. A comédia How to Lose Friends and Alienate People – no Brasil, porcamente traduzido pra Um Louco Apaixonado- consegue contornar essa mediocridade das comédias pastelão e encontrar espaço no enredo para uma trama amorosa sem explorar necessariamente as fórmulas românticas.

Sem explorar nenhum tema excêntrico ou inusitado , o filme tem como premissa o mundo das celebridades. Sua fonte, o livro de memórias homônimo de Toby Young que conta como passou cinco anos em Nova Iorque tentando virar editor da revista Vanity Fair para em seguida chutar o balde das estrelas e personalidades com seu humor ácido e pernicioso. Para interpretar o jornalista britânico nada melhor que um típico glutão da terra da rainha. O nome que estrela essa brincadeira é o de Simon Pegg. do impagável Todo Mundo Quase Morto. A escolha não poderia ter sido melhor.

Humorista de primeira, Pegg sabe como ninguém aliar gags físicas com humor refinado. No filme, seu personagem Sidney Young é um jornalista inglês que sempre devotou as celebridades do cinema de forma tão amarga quanto fascinada. Filho de atriz, o papparazi é dono da revista picareta Post Modern Review, que se presta a satirizar e meter o dedo na ferida dos famosos. Sem mais nem menos, Young é convidado por Clayton Harding (Jeff Bridges) para trabalhar na Revista Sharps – evidentemente a Vanity Fair. Grande admirador do trabalho do editor americano, ele parte imediatamente para Nova Iorque para buscar tudo aquilo que sempre idealizou. Sucesso profissional, financeiro, social e sexual tudo isso faz parte do seu sonho. O que ele não imaginava é que para obter esses fins teria que mudar a filosofia dos seus meios.

Como todo mundo sabe, a mídia e a imprensa americana têm uma forma de trabalhar totalmente oposta ao da britânica. Enquanto na Inglaterra os jornalistas saciam os tablóides com a vexação pública das celebridades, os periódicos norte-americanos optam por uma cultura de contemplação das estrelas. Acontece que Young não consegue se enquadrar a esse sistema de bajulação em troca de ascensão profissional. Sorte dele, ter a companhia de Allison Olsen (Kirsten Dunst), colega de redação que aos poucos tenta adequá-lo ao emprego, mesmo que o próprio não tenha muita vontade disso. O problema é que ele bate de frente com Lawrence Maddox (Danny Houston), chefe da sua seção que não tolera seu jeito grosseiro. Pra piorar, apaixona-se pela atriz do momento Sophie Maes ( a cada vez mais linda Megan Fox). Confusões com atrizes, junkies, um cachorro morto e um travesti são as ranhuras de sua caminhada às avessas pelo sucesso.

Primeiro longa-metragem na carreira, Robert B. Weide assina a direção mostrando competência e uma veia cômica sofisticada, mas que ainda pode ser lapidada. Dentre erros e acertos, a virtude maior do seu trabalho, foi não ter perdido o foco do humor quando a narrativa adentrou no romance. Mesmo que a aproximação entre Young e Allison seja um recurso matematicamente engendrado ao espectador, o cineasta consegue extrair uma abordagem simpática dessa situação. Para isso, contou com a qualidade dos protagonistas, principalmente de Pegg. Com ele, a gargalhada é garantida, além de render momentos impagáveis. Uma das cenas mais engraçadas é quando ele recebe o convite de Harding para trabalhar na sua revista. Achando que seria insultado pelo editor resolve ironizá-lo respondendo-lhe com uma frase famosa de James Stuart do filme Felicidade não se Compra. Também surgem referências a Grande Lebowski, Conair, Fritz Lang e ao filme A Doce Vida Metalinguagens que ora soam condizentes e em outras revelam pedantismo. Detalhes que não apagam a boa impressão de um trabalho acima da média para o gênero.

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Críticas

Sex Drive - Rumo ao Sexo

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A versão sem cortes de "Sex Drive" é simplesmente uma brincadeira escrachada do diretor e roteirista Sean Anders, juntamente com Jhon Morris, também roterista e produtor do longa que, consiste em adicionar mulheres e homens nus às cenas, sem nenhuma ligação com a estória. Simplesmente estamos assistindo ao filme e passa alguém nu na cena. O close, claro, nos seios e nos pênis.

Bom, esquecendo essa besteira por parte da produção, o filme conta a estória de Ian, interpretado pelo desconhecido, porém, carismático Josh Zuckerman.

Ian, tem o perfil convencional do nerd virgem, que contrabalança sua personalidade entre a ingenuidade e a perversão sexual.

Ian, tem um melhor amigo, Lance, um tipo super sacana que desperta o interesse da mulherada. O curioso é que Lance, interpretado pelo cheinho e também pouco conhecido Clark Duke, foge ao esteriótipo de beleza adolescente. O que gera menos clichê ao batido perfil do personagem garanhão.

O roteiro segue a mesma fórmula que desde os anos 80 é explorada: jovens aventurando-se em busca de sexo casual.

O estilo de comédia do precurssor "Porki´s", ressucitado nos anos 90 por "American Pie", é exatamente a base para o desenvolvimento de "Sex drive".

Além dessas comparações, "Sex drive" tem um estilo bem similar ao de "Eurotrip - Passaporte para a Confusão". Entretanto, diante de tanto cotejo, a aventura de Ian, ainda assim, tem uma certa peculiaridade.

Ian, trabalha numa espécie de lanchonete que vende donnuts (roscas) no shopping center local. Por isso, ele, esporadicamente, precisa se caracterizar de rosca gigante, realizando o trabalho de panfletagem para divulgar o local. O que simplesmente é culminante em seu declínio social.

Constantemente avacalhado pelo irmão mais velho, e superado pelo irmão mais novo, Ian, ainda virgem, resolve atravessar o país em busca de uma loira que ele conheceu num site de relacionamento.

Iludido com a idéia de iniciar-se sexualmente com ela, ele, juntamente com Lance, e sua melhor amiga Felicia, interpretada pela fisicamente perfeita Amanda Crew, parte em busca da Srta. Tasty (codinome virtual da loira).

É exatamente nesse ponto do roteiro que é inevitável não reportá-lo à "Eurotrip - Passaporte para a Confusão".

As loucuras pelo meio do caminho são óbvias, porém, a participação de James Marsden como Rex, o irmão mais velho de Ian, é o que acelera mais a trama.

Rex, otário, bruto e ironicamente homofóbico (assista para entender), sai à procura do irmão, por conta de seu carro Pontiac GTO Judge de 1969 que, Ian pegou sem pedir, para impressionar seu contato da net.

Durante a viagem nesse Road Movie, o trio se depara com várias situações bizarras, tendo como a principal uma comunidade Amish, retratada aqui de forma exagerada e subjetiva. Tem até uma ponta do grupo de rock, Fall Out Boy, se apresentando para eles.

O diretor Sean Anders consegue dar um ar desprentensioso à essa comédia, porém, não consegue fugir dos clichês e do desfecho prevísivel, inferindo em um romance barato.

Apesar de ser um filme estritamente adolescente - tanto em sua concepção quanto em seu público alvo - , o filme tem muitas cenas engraçadas, mesmo possuindo uma linguagem depreciativa, mesclada a um amontoado de nudez desnecessária.

Há duas cenas de risada gratuíta, porém, marcantes no filme pra mim: uma é a cena em que Ian cheira o dedo do irmão mais novo (alusão à superioridade sexual do caçula) com direito a um diálogo cômico; a outra é de Ian ajudando uma jovem bêbada, aspirante a Amish, que vibra sempre que ouve a palavra "Rumspringa" - nome dado a uma festa tradicional deles que, foi reproduzida aqui em forma de bacanal. São dois episódios bobos, mas que me fizeram gargalhar.

Confesso, o filme podia ser melhor, mas vale assistir descompromissadamente... frisando, longe do público infante.

O resultado é razoável, mesmo considerando o fato de seu roteiro ser uma costura de vários filmes do gênero.

O destaque do longa vai para o protagonista que, pode se tornar figurinha fácil nesse tipo de filme, e para a participação de Seth Green, como um sarcástico Amish – eu sei, é redundante remeter o adjetivo "sarcástico" à figura de Seth Green, mas foi necessário...

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