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Críticas

Pecados Íntimos

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Se há um filme que realmente chocou na premiação do Oscar de 2007, esse filme foi "Pecados Íntimos", de Todd Field. Mesmo sem estar na categoria de Melhor filme, disputou em várias categorias contra o bonitinho "Pequena Miss Sunshine, o maravilhoso "Babel" e o esquisitíssimo "Os infiltrados" e não se destacou, perdendo em todas

as categorias que competiu. Talvez isso tenha acontecido pelo fato dos juízes não terem olhado para os personagens de forma diferente, de forma mais densa do que a superficial mostrada em boa parte da obra.

Kate Winslet, interpreta Sarah, típica dona-de-casa americana, que cuida da casa, da filha, do marido e não demonstra ter ambições ou desejos. Um dia, ela começa a frequentar uma piscina pública junto de outras mães, que até pouco tempo, eram donas-de-casa devotadas igual a ela. Com a chegada de Brad, personagem de Patrick Wilson, as mães começam a se alterar e alimentar um fetiche pelo homem, mas apenas da boca pra fora. Quando Sarah e Brad se beijam, as mesmas mães que desejavam Brad começam a linchar Sarah, que até então se sente apenas como uma mãe que ultrapassou as barreiras reservadas as donas-de-casa da vizinhança, mas no fundo é bem mais que isso. Sarah não demonstra arrependimento e se sente cada vez mais realizada, mais completa, mostrando o "Pecada Íntimo" que estava escondido na sua vida comum e pacata. Daí pra frente, o título do filme em inglês "Little Children" se torna bem sugestivo, Sarah começa a perseguir Brad e se exibir para Brad, usando biquinis mais ousados e passando uma imagem sexy e superficial. Como se fossem crianças que não conheceram a vida ainda e querem conhecê-la sem ver consequências.

Já Brad, é o maior "Little Children" de todos, por mais que em todas suas aparições no filme, queira provar o contrário. Casado com a sempre ocupada Kathy, Brad que é desmpregado ocupa a posição de dono-de-casa, cuidando dos afazeres domésticos e cuidando da filha. Ao conhecer Sarah, percebe que possuem desejos em comum, o desejo de encontrar uma liberdade reprimida por casamentos infelizes e deveres domésticos. Brad vê em Sarah, uma mulher muito diferente da sua, uma mulher que não possui nem de longe a mesma beleza que a sua e que acaba sendo tudo que ele queria, uma certa relação que o fizesse voltar no tempo em que ele ainda podia flertar com outras mulheres, jogar futebol, voltar no tempo em que tinha mais liberdade do que trancado em uma casa com uma criança e uma esposa

Com a chegada de Ronnie um pedófilo recém saído da prisão, a vizinhança entra em desespero e começam a temer pelos seus filhos. O mais incrível é a forma que o diretor posiciona Sarah e Brad em relação à isso, os protagonistas vêem em Ronnie alguém que superou esses desejos reprimidos e partiu para a ação, e foi punido por isso. Os dois também começam a agir em prol de seus "Pecados Íntimos" e passam a se encontrar sem compromisso, e sem preocupações externas, seja filhos, marido ou reputação é apenas realização sexual e ponto, sem ser necessário largarem o "American Way of Life" para se entregarem ao amor.

A chegada de Ronnie é como um pavio para todas as realizações dos "Pecados Íntimos". Richard,o marido de Sarah começa a fantasiar com uma modelo de um site pornográfico e liberta suas vontades se masturbando na frente do computador, sem sentir o mínimo de culpa e também não largar o seu estilo de vida tipicamente americano. O filme toda tenta mostrar o quão distantantes estão Sarah e seu marido, mas do mesmo jeito que Sarah realiza uma fantasia superficial de se assemelhar com uma modelo de maiôs comprando seu pruduto, Richard decide comprar uma calcinha de sua musa, para que a masturbação se torne mais real.

A trama é narrada de um jeito meio infantil, como se o narrador fosse um contador de histórias, como se todos os protagonistas estivessem retrocedendo emocionalmente, até se tornarem as crianças que querem um brinquedo e fazem de tudo para conseguí-lo.

Já o pedófilo, é ao contrário de todos os personagens, ele já retrocedeu e foi atrás de seus desejos reprimidos, agora ele está se tornando adulto novamente, tendo que arranjar emprego e se adaptar a sociedade. Há uma cena em que ele vai a um encontro e tudo corre bem, mas chega uma hora em que ele se masturba na frente de sua companheira e a ameaça se denunciá-lo, tudo o u que ele fazia quando abusava das crianças. Ronnie percebe que se tornou uma "Little Children" incurável, incapaz de mudar.

A mãe de Ronnie, única pessoa que defendia o pedófilo, entra em uma discussão para proteger o filho e acaba tendo um infarte, só aí Ronnie vê as consequências da realização de seus desejos. Em uma cena muito inesperada, Ronnie corta os próprios genitais e é encontrado agonizando por Aaron, o mesmo homem que discutiu com a sua mãe, repetindo que era o único jeito de ele se curar, o único jeito de não fazer mal a mais ninguém à sua volta, mostra que ele quer voltar a ser criança, voltar a não ser um adulto que tem desejos reprimidos, quer ser uma criança que não descobriu nada, que não tenha desejos carnais e que seja tratado como tal.

Ao mesmo tempo que Ronnie decide reiniciar suas descobertas de forma trágica, Brad percebe que conhecer Sarah trouxe de volta seus desejos e decide ir mais a fundo , mostrando claramente a mensagem do diretor sobre Brad,que foi uma criança enrustida o tempo todo, e ao querer se libertar, faz isso de forma acelerada subindo em um skate pela primeira vez na vida, sem saber andar, o que termina em um hospital, que há pouco tempo havia recebido Ronnie.

Depois desse climax, o filme acaba, foi esse o pecado do diretori. Quando o diretor vai além do que esperávamos, ele decide encerrar o filme e deixar as conclusões para nós mesmos. Esse fim vago seria até mais interessante se não tivesse mostrado o que aconteceu a Ronnie e Brad, o que levanta várias dúvidas. Talvez o diretor tenha passado uma mensagem na hora em que Kathy vê Brad na maca, o tamanho da infantilidade que ele havia feito e o trata como tal, alisando seu cabelo e dizendo: "Tudo vai ficar bem!" Mas esse final não convence.

O diretor também pecou em certo momento do filme, ter deixado personagens interessantes como Richard e Aaron e dar mais atenção aos personagens que estavam em situações mais caóticas, como Ronnie, que mesmo sendo tratado pelo diretor do mesmo jeito que a vizinhança o tratava, sendo evitado, acaba dando um espetáculo de interpretação nas cenas finais, contribuindo apenas para sua indicação ao Oscar, mas deixando o filme impactante e vago demais.

Outra personagem é a própria Kate Winslet, que perde seu magnetismo com o espectador rápido demais, deixando a personagem que inicialmente era tão incrível, em uma adulta acomodada e que desisitu de ser uma "Little Children", preferindo adequar-se a uma vida que os outros personagens tentaram abandonar.

Mas o filme é bem original, confuso e interessante, só perde a linha em seu desfecho inesperado demais.

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Desejo e Reparação

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Briony logo de início, confessa: “eu deveria ter escrito um romance; as peças são ruins porque a obra, para se realizar, depende da ação dos outros”.

Misturando Fotografia, Iluminação e maneira de filmar próximo do estilo de Kubrick, com a nova influência de roteirização inglesa - não à toa parece muito com "As Horas", nesse quesito - Desejo e Reparação é uma ótima alternativa ao cinema contamporâneo, onde seu diretor - extremamente inspirado - filma com parcimônia e talento às ações que se inserem no filme e nos faz refletir sobre atos passados que, de certa forma, influenciam uma vida toda.

O roteiro do filme é algo brilhante, sensível, bem trabalhado diante das possibilidades da trama. A história começa em 1935, numa rica propriedade rural inglesa, onde vivem a matriarca e suas duas filhas – Cecilia, a mais velha, e a jovem Briony, de 13 anos.Lá também vive Robbie, filho da empregada da propiedade que fora educado em Cambridge com a ajuda do falecido patrão.Cecília e Robbie tem uma aparente atração, mas não sabem eles se são correspondidos, apenas Briony percebe que eles se gostam, e, justamente, ela que fará algo capaz de mudar decididamente à vida de Cecília e Robbie.

A leveza como a direção de Joe Wright nos encaminha a descobrir intensas surpresas é incrível, algo raro no visceral cinema contemporâneo. Para isso, contribue sobremaneira a sensibilíssima Trilha Sonora, vencedora do Oscar de 2008. Salve-se também, a linda iluminação no fundo da maioria dos planos que é aplicada por Wright - algo bem parecido com o estilo de Kubrick, sem dúvidas. A Fotografia também lembra o grande mestre autor de Laranja Mecânica, ora a leveza de um Barry Lyndon - a propiedade rural -, ora Nascido para Matar - o campo de batalha no Norte francês.

Interessante como Wright coloca a Segunda Guerra em seu filme, não como algo que fosse ocupar o filme com batalhas destoantes da leveza inicial - como no sentido inverso fez Cold Mountain, e o faz grande parte dos filme sobre. A guerra em Desejo e Reparação é simplismente mais um empecilho que afasta concretização de um grande amor, embora não seja o único.

Mais brilhante ainda foi como o diretor estraiu tão boas atuações de seus atores, mirins e adultos. O grand edestaque ficou mesmo com as três atrizes que interpretaram Briony, Saoirse Ronan, que fazia ela com 13 anos chegara a receber uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante, merecida. Romola Garai, Briony aos 18, também não fica por menos, e, confesso, cheguei a achar que seria ela a indicada. A experiente Vanessa Redgrave, já oscarizada anteriormente, brilha no pouco tempo que participa do filme interpretando Briony já idosa, revelando-se em uma entrevista, passando a limpo seus atos anteriores.

Keira Knightley e James McAvoy seriam aqueles que menos poderia se esperar, e se superam, com atuações sem exageros, os dois mostram firmeza e entrosamento em seus personagens, ditam o ritmo do filme com suas eficientes atuações.

Tecnicamente muito bom, Desejo e Reparação é um dos melhores filmes feitos recentemente, sensível e bem trabalhado, que não apela para fórmulas prontas, que não uza de efeitos dantescos para atrair/fugir do que mais interessa na história: ela em si.

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Harry Potter e a Câmara Secreta

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Após o enorme sucesso de público do primeiro filme (Harry Potter e a Pedra Filosofal), a série de J. K. Rowling foi às telas de cinema mais uma vez um ano depois, desta vez com o título de “Harry Potter e a Câmara Secreta” (“Harry Potter and the Chamber of Secrets”, 2002) e com praticamente a mesma equipe que levou a primeira aventura aos cinemas. Grande parte dos erros foi corrigida, mas o que vemos na segunda parte da milionária série ainda não é exatamente o que se pode esperar.

Depois de um conturbado primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry (Daniel Radcliffe) mostra-se preocupado por não ter recebido notícias de seus amigos de escola durante as férias. Preso em seu quarto, Harry recebe a visita de Dobby, um elfo doméstico, que tenta a qualquer custo impedir que Harry volte à escola, alegando que há grandes conspirações envolvendo sua morte. Claro que a criatura não obtém êxito, e Harry, ao voltar para Hogwarts, depara-se com um grande mistério. Alunos estão sendo atacados e petrificados e, pela inscrição em sangue que se encontrava no local do primeiro ataque (”A Câmara Secreta foi aberta. Inimigos do herdeiro… cuidado!”), os mais antigos no castelo acreditam que a Câmara Secreta foi reaberta e seu segredo mortal foi libertado novamente. E, junto com isso, surge o temor de que, assim como na outra vez, uma pessoa seja morta pelo monstro da câmara. Harry, Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) dedicam grande parte de seu tempo para desvendar o mistério, o que os leva a desvendar segredos de um passado que não morreu com o tempo.

Este segundo filme da milionária série, até por manter diretor e roteirista, é bastante parecido com o primeiro. O clima de mistério e suspense aumenta, mas poderia ter sido mais bem explorado pelo falho diretor Chris Columbus (em sua despedida da série). Já a magia e a “inocência” contidas em “… a Pedra Filosofal” continuam muito presentes, até porque essa história é ainda infantil se comparada aos filmes que vêm em seguida. Outro fator que se manteve praticamente intacto foi a direção de Chris Columbus, que permanece bastante burocrática. O diretor não muda nada do roteiro e o filme continua sem ter um toque pessoal do diretor. O roteiro, mais uma vez escrito por Steven Kloves supera bastante o primeiro, tanto pela maior presença de elementos de ação quanto pela menor preocupação em apresentar lugares e pessoas. Kloves mostra-se mais adaptado à série e consegue transmitir com sucesso o que Rowling escreveu em sua obra. No entanto, o roteirista erra em estender demais a história, pois um livro de 287 páginas não precisa de 161 minutos para ter sua história contada. Isso acaba deixando a trama, por vezes, com o ritmo desacelerado demais, deixando o espectador cansado e entediado. Mas não dá para negar que Columbus tenha culpa, já que as cenas muito grandes e algumas vezes sem ação têm um dedo do diretor, assim como seus cortes inesperados e, novamente, o caráter episódico.

Mais uma vez, a parte visual é a que merece maior destaque. Se “Harry Potter e a Pedra Filosofal” foi indicado ao Oscar em 3 categorias, é de total injustiça que este não tenha sido em nenhuma, já que a direção de arte, o figurino (categorias que renderam indicações a “… a Pedra Filosofal”) e os efeitos especiais estão melhores que o primeiro. O jogo de quadribol é infinitamente superior ao retratado no primeiro filme, e o cenário da cena final é espetacular, assim como é a seqüência do vôo do carro até Hogwarts. Nos efeitos especiais, não há vestígio do bizarro trasgo mostrado no primeiro filme. Dobby é extremamente verossímil e bem feito, assim como as aranhas da floresta proibida (sobretudo a aranha maior, Aragogue) e o enorme basilisco. O figurino é bastante parecido com o primeiro, mas há uma sensível melhora, até pelo fato de que o orçamento ficou mais gordo para este filme (estimado em mais de 100 milhões de dólares). Por vezes parecido com o de filmes de época, o figurino de “Harry Potter e a Câmara Secreta” acerta sempre, desde os uniformes de quadribol até as roupas cotidianas dos alunos. A parte sonora do longa também é excelente e a trilha sonora é bastante parecida com a do primeiro. Os efeitos sonoros acertam por não serem abusivos e descrevem quase que com excelência o que se passa na tela.

As atuações, assim como no primeiro filme da série, são em alto nível. Daniel Radcliffe está mais maduro como Harry Potter e sua atuação condiz com o momento pelo qual passa seu personagem. Rupert Grint está mais à vontade como Rony Weasley e sua comicidade está mais acentuada; já Emma Watson continua com suas expressões exageradas, mas nada que atrapalhe sua exibição perante as câmeras. O elenco adulto é praticamente perfeito, com um Alan Rickman mais uma vez inspirado como o Professor Snape e com Robbie Coltrane em ótima sintonia com seu personagem, Rúbeo Hagrid. Temos também um Richard Harris fenomenal no último papel de sua carreira, mais uma vez como um Alvo Dumbledore imponente e aparentemente cansado; e Maggie Smith com sua constante elegância como a Professora Minerva McGonagall. Kenneth Branagh mostra-se cômico com seu Gilderoy Lockhart, o famoso (e charlatão, diga-se de passagem) professor de Defesa Contra as Artes das Trevas; sua atuação é segura e o ator é naturalmente engraçado. Jason Isaacs aparece pela primeira vez na trama como Lucio Malfoy (pai de Draco Malfoy), e, com um papel curto e importantíssimo, o britânico não deixa a desejar.

Apresentando uma melhora com relação ao primeiro filme da série, “Harry Potter e a Câmara Secreta” continua com um menor número de erros em relação aos acertos, mas fica a sensação de que falta algo a mais. Chris Columbus, em sua despedida da série, faz um trabalho mais correto, mas ainda não consegue levar o mundo de Rowling com total sucesso para as telas. É um bom filme, mas, ao final, fica o gostinho amargo de que poderia ter sido bem melhor.

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Crepúsculo

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Nunca tinha visto um filme de terror com vampiros antes de ver este filme. Não é para menos; de todas os monstros que há, os vampiros parecem-me os mais limitados. Tudo o que têm de assustador são os dentes, enquanto outras feras têm também garras, rugidos, veneno, etc; são muito vulneráveis: são derrotados por alho, cruzes, água-benta, um martelo e uma estaca e até pelo Sol; são parecidos com os humanos; e, o pior, não comem humanos, apenas os mordem.

Os vampiros são um monstro que não inspira particular terror. São, no fundo, um monstro totó. Gostam de sangue, mas isso também os apreciadores de cabidela, e eu não tenho medo deles. Não podem apanhar sol, como as crianças que têm a pele leitosa. Têm medo de alhos, que é das fobias mais maricas que uma pessoa pode ter. E morrem se lhes espetarem uma estaca de madeira no coração. Olha que idiossincrasia tão gira. Ao contrário do que acontece com o resto de nós, os vampiros não duram muito se lhes empalarem o coração. - Ricardo Araújo Pereira, humorista

Bem, mudei um bocado de ideias com este filme. Os vampiros, aqui, são mais assustadores do que possa parecer. As cenas mais assustadoras deste filme mostraram-no. A ideia que aquilo que nós pensamos que são humanos podem, a qualquer altura, mostrar uns horríveis caninos afiados e morder-nos transformando-nos em vampiro ou matando-nos é bastante arrepiante. Eu sei que a ideia do filme não é bem ser um terror, e sim mostrar um romancezinho do género Romeu e Julieta, mas acreditem, mesmo sem querer, este filme consegue assustar.

Ainda em relação aos vampiros, tenho ouvido muitas críticas aos seres sobrenaturais deste filme. Queixam-se que são vampiros muito diferentes, que sugam sangue de animais, que não dormem em caixões nem saem só a à noite, e acima de tudo, que brilham ao Sol em vez de virarem pó. Bem, não sei porquê tanta implicância. Isso, na minha terra, chama-se “inovar”. A meu ver, Crepúsculo mostra-nos que os vampiros, à semelhança de outros seres extraordinários, não são bem como o Homem os descreve. Afinal, cada filme mostra um mundo diferente, que para ele é verdadeiro. Bem, supondo que o mundo real era como o mostrado neste filme, os vampiros existiriam, mas seriam diferentes daquilo que o Homem contava. As coisas são contadas de uma maneira, mas isso não quer dizer que seja realmente assim. Pode ter sido de outra maneira. Mas isso não deve tirar credibilidade a quem o diz.

O que eu quero dizer é: não é por as coisas estarem mal contadas que estão totalmente erradas!

O filme cumpre a sua função de entreter até a cena em que Bella conhece Edward. A partir daí, vai ficando cada vez mais profundo. Como alguém já disse, este filme tem (entre outras) uma boa qualidade: a tensão que há entre os actores principais (e também entre Bella e os secundários), tanto antes como depois de Bella descobrir que Edward é um vampiro. Essa tensão é arrepiante, e garante ao filme uma característica que o difere de outros filmes de romance: o casal principal passa mais tempo assustado um com o outro do que em sintonia. Infelizmente, essa tensão também acaba por se tornar um defeito, visto que há tanta durante o filme todo, que este fica com drama a mais. Na minha opinião, devia haver tensão, mas não tanta. Deviam dar mais tempo ao casal para fazer as coisas com mais normalidade, havendo, por uma vez, um ambiente que não fosse pesado, para poderem explorar outras coisas curiosas provenientes da convivência com vampiros. Resumindo: deviam ter tido mais tempo para, por exemplo, jogar basebol!

O filme tem ainda outros pontos positivos, como a fotografia, que por vezes apresenta belas paisagens de montanhas e que, melhor ainda, é sempre escurecida, para dar um ar tenso e sinistro. Combinou perfeitamente com o que se passou no filme. Há ainda a trilha sonora. O filme aparece de vez em quando com músicas que posso classificar como sendo intensas. Inclusive, quando o filme acabou e começaram a passar os créditos, eu queria puxar para a frente para ver o elenco, mas, pura e simplesmente, não consegui, porque as músicas acertaram-me em cheio e deixaram-me de olhos vidrados a olhar para o ecrã. Grandes músicas! Destaco ainda algumas cenas de acção que usaram recursos como a câmara lenta, e tornaram-se maiores de que seriam sem eles.

Crepúsculo é um filme que, sem querer, tem tudo: terror, acção, drama, romance e momentos de diversão. Com vários momentos inspirados, para mim, consegue ser mais do que um filme descartável. Não liguem às críticas e elogios exagerados que há aos montes por aí; vejam e tirem as vossas conclusões.

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Inimigos Públicos

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Falar mal dos Estados Unidos é sempre um prazer, apesar de também ser um clichê.

Ainda que depois, seguindo a tradicional receita de bolo, a ordem seja estabelecida pela neutralização dos fatos.

Afinal, não se pode deixar as pessoas pensarem que o mal é o bem e o bem é o mal. É preciso esclarecer bem quem é quem nessa história.

Eu pergunto: Quem é o bem e quem é o mal?

Você sabe?

Eu não sei...

Digamos que para se viver de maneira adequada e, no mínimo, harmônica é necessário compreender desde cedo, sem precisar recorrer a La Rochefocault, que não existe a divisão bem e mal. Em todos nós e em tudo há um pouco dos dois, em alguns casos há muito de um ou de outro, o que não costuma ser bom, mas, isso é uma outra história.

O cenário é os Estados Unidos no auge da criminalidade causada, sobretudo, pela Depressão. É óbvio que quando o diretor Michael Mann pensou em executar o longa não havia pensado que, estaríamos passando por uma situação semelhante. Não há tanta criminalidade quanto antes, afinal o mundo mudou e as iniqüidades acompanharam as transformações, já que são um produto direto de cada época. No entanto, fato é que vivemos, sim, um momento muito semelhante à Depressão de 1929. Menos pior, é verdade, mas ainda assim a segunda maior crise da era capitalista.

Então fica combinado assim, do princípio ao fim, que Melvin Purvis (Christian Bale) é o bem e John Dillinger (Johnny Depp) é o mal. Ainda que algumas vezes o diretor tente nos mostrar o quanto o maior ladrão de bancos de todos os tempos é boa praça, ele não consegue de desprender da moral e dos bons costumes. O filme é fantástico, quero afirmar, pela fotografia que é linda, pela história contada, que é simplesmente incrível, pelo mérito de estreiar no momento em que estréia, pelo figurino, cabelos e maquiagem impecáveis.

Um capítulo à parte, é o protagonista Dillinger, charmoso, inteligente, carismático. O que o filme mostra de maneira enviesada é que ele era um ídolo, uma espécie de herói americano.

Duas perguntas: Ele não era um assaltante? Como um assaltante pode ser amado?

Pense na crise hoje, imagine a condição daqueles que eram de classe alta e passaram a pertencer à classe média e os de classe média, que passaram a ser de classe baixa. Agora, imagine que você sabe, ou pensa que sabe, quem é o culpado. Então, vem alguém tão irritado quanto você, mas com um pouco mais de atitude, e rouba o culpado e sai rindo por aí, zombando daquele que tomou o seu dinheiro.

Esta era, basicamente, a estrutura sobre a qual se construía o amor por um bandido. Uma espécie de Robin Wood do modernismo.

Uma frase do filme: “As pessoas se importam muito com o lugar de onde viemos, quando só o que importa é o lugar para onde se vai.”

De origem modesta, Dillinger cresceu sem mãe, que morreu quando ele tinha três anos e cresceu apanhando de um pai severo. Um belo dia, resolveu fazer justiça com as próprias mãos, o Estado tem o dinheiro, que está no banco. Logo, ele resolve roubar o banco.

Talvez ele esteja muito mais para Raskolnikov, protagonista de Crime e Castigo de Dostoievski, do que para Robin Wood. Um misto dos dois? Pode ser, afinal, ele não tinha o comprometimento ideológico de Raskolnikov e nem o protagonista de Crime e Castigo tinha o garbo e elegância de Dillinger.

Convenhamos que pouca gente roda uma cena de ação como Michael Mann, se com Miami Vice ele perdeu a mão, com Inimigos Públicos ele retoma suas seqüências de ação de maneira espetacular.

Uma das melhores cenas do filme é aquela em que o Inimigo Público número um dos Estados Unidos entra na cadeia e dá uma olhada no gabinete da polícia construído especialmente para pensar em como prendê-lo. Fala com os policiais e ninguém percebe que se trata dele.

O melhor Batman, na minha modesta opinião, de todos os tempos, Christian Bale, está perfeito no papel que exige a mesma frieza do cavaleiro das trevas. Se aqui ele pode sair à luz do dia, sua falta de expressão é a mesma daquela usada por ele durante a noite.

Marion Cottilard, a maravilhosa intérprete de Edith Piaf em Piaf – um hino ao amor, apesar de estar em um papel bem menor, está muito bem como a amada do bandido galã.

Não vemos no filme grandes indagações, o protagonista não parece ter um leitmotiv. Mas quem disse que tudo tem que ter?

Dillinger me causa a mesma sensação que uma frase de uma das personagens de Clarice Lispector: “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”

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Kill Bill - Volume 1

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Sabe quando você vê um filme e nem precisa esperar subir os créditos para identificar quem é o diretor? Quentin Tarantino é um desses caras, de talento único e estilo facilmente reconhecível. Fazem parte do seu extenso repertório os roteiros nada lineares e banhos de sangue bem abundantes. Nesse ponto, aliás, Tarantino não decepciona os sanguinários de plantão, e mesmo seus personagens mais inspiradores passam por maus bocados. Algumas vezes o excesso de sangue jorrando das veias toma lugar das visceras escapando dos corpos, o que de certa forma até suaviza o conteúdo da trama; e vou mais além: no caso de "Kill Bill", essa brincadeira com o sangue torna o filme até mais divertido, com uma ótima pitada de comédia.

Como todos sabem, o trabalho recebeu inúmeras críticas por ser dividido em duas partes (Volume 1 e Volume 2). Tarantino foi acusado de mercenário, de só pensar no dinheiro, disso e daquilo… particularmente eu penso no contrário. Em um único longa, o diretor teria que fazer muitos cortes para condensar uma obra de mais de três horas em pouco mais de 120 minutos. Seria um trabalho árduo e sacrificante, pois eliminar determinadas passagens deve ser das tarefas mais incômodas para um profissional desse tipo. Assim, o cineasta teve liberdade dentro da produtora, a Miramax, e pôde fazer o que queria: dois longas, completos, sem muitos cortes. Há quem diga, no entanto, que desta maneira "Kill Bill – Volume 1" ficou sem um final decente. Mais uma vez eu penso diferente, pois afirmar isso é o mesmo que recriminar todos os filmes que possuem uma sequência – "Senhor dos Anéis", por exemplo.

Na parte técnica, o longa é exemplar; deveria servir de exemplo para muitos profissionais iniciantes. Tarantino sabe brincar com efeitos de luz, sombra, cores… uma legítima aula de como se fazer cinema. Falando nisso, basta lembrar da cena em que a sempre bela Uma Thurman luta contra uma centena de pessoas (ou quase isso!). O efeito em preto e branco ali usado serve praticamente para suavizar aquele conteúdo excessivamente violento e deveras exagerado – integrante do mundo particular de Quentin Tarantino. Antigamente, esse tipo de recurso servia para que os filmes pudessem passar pela censura, pois sem isso alguns deles jamais seriam aprovados. É com essa brincadeira de referências que o diretor baseia a maior parte de seus trabalhos, inclusive sua obra-prima: "Pulp Fiction".

A saga da noiva heroína (ou anti-heroína, como preferir) que busca se vingar dos seus ex-companheiros tem um roteiro e uma montagem bem semelhantes às cultuadas tramas antecessoras do cineasta. Há quem diga que em "Kill Bill" a ordem dos fatores pouco importa e que se a história fosse contada com linearidade nada seria mudado. Está errado quem fez esse tipo de julgamento, pois basta uma breve analisada com bom senso para que as dúvidas sejam completamente dissipadas. Com linearidade, o filme teria seu ápice muito cedo e um final pouco emocionante – justamente por isso que Tarantino optou pela montagem fora de ordem.

Falando nisso, os 20 minutos finais, que envolvem a já citada luta de Uma Thurman contra os membros da Yakuza, são simplesmente eletrizantes e muito bem dirigidos. A violência nua e crua dos primeiros capítulos dá lugar a um toque mais artístico, mais refinado, fazendo com que o espectador se renda à beleza daquelas pessoas se degladiando, se mutilando, sem que essas cenas se tornem chocantes ou estarrecedoras. Tudo isso ganha forte auxílio de uma belíssima fotografia. Aliás, a parte artística do longa é primorosa, desde os recursos técnicos até o anime que introduz a personagem interpretada por Lucy Liu, que é de uma estética impressionante e extremamente violenta – até mais do que o próprio filme.

"Kill Bill" é uma das primeiras obras-primas dos anos 2000, ao lado da trilogia de J.R.R Tolkien e do gângster "Os Infiltrados" (entre outros). Contribuem para isso a inteligência de Quentin Tarantino, o desempenho pungente de Uma Thurman, um elenco inspirado e uma história envolvente. Tudo isso aliado a uma trilha sonora muito gostosa e adequada - uma das características do diretor. Além disso, o segundo volume mantêm o nível do primeiro episódio, o que é um pouco raro nos dias de hoje. E só para finalizar, uma atriz local pouco conhecida me despertou bastante interesse e achei seu trabalho muito interessante; trata-se da japonesa Chiaki Kuriyama, que dá vida à terrível Gogo Yubari e garante uma das melhores cenas de luta do longa.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Exorcista, O

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Que belo dia para um exorcismo!

Considerado um dos mais assustadores da história, O Exorcista é um terror sinônimo de obra-prima, fato raríssimo nos dias de hoje.

Na época do lançamento nos cinemas, “The Exorcist” foi um verdadeiro estouro de bilheteria e polêmicas. Paramédicos eram chamados nas salas de cinema para atender pessoas que ficavam eventualmente histéricas ou desmaiadas. O trailer original fora banido de algumas exibições por ser considerado macabro demais. Oito mortes aconteceram durante as filmagens do filme, de forma não-explicada. Processos chegavam à Warner Bros. quase todos os dias. Esse era o clima de 1974, quando o filme dirigido por William Friedkin estreou nos cinemas mundiais. Afinal de contas, o longa escrito por William Peter Blatty, baseado na obra de sua autoria, causava revolta e um medo que nunca havia sido provado antes pelos espectadores.

Cenas de suspense e terror inimagináveis com a crescente tensão aterrorizante marcou época e pessoas, que nunca mais se esqueceram da jovem Regan Teresa MacNail possuída pelo demônio em seu quarto na casa de Georgetown, Washington. Talvez tão angustiante quanto ver a menina vomitar algo verde (sopa de ervilha) no rosto das pessoas, sejam as tentativas frustradas e desesperadoras da mãe Chris, uma atriz de cinema, em entender o que poderia estar havendo com a filha e o que a fazia agir daquela forma tão estranha. Depois de apresentar sintomas absurdos, como convulsões, acessos de agressividade e a pronúncia de palavrões frequentes fizeram-na visitar médicos, psiquiatras, que nada conseguiram fazer para solucionar o problema e o mistério da até então provável doença de Regan. Chris, agora em estado de absoluto desespero, está convencida de que sua filha está agindo sob a força de algo muito poderoso e sobrenatural, já que a garota tem piorado dia após dia, apresentando uma força descomunal, e sendo capaz de levitar e fazer movimentos esquisitos com o corpo. A atriz então decide chamar o padre Damien Karras para examinar a sua filha, uma vez que ele também atua na área da psiquiatria. Karras vive um momento de duvidosa descrença religiosa, traumatizando com a recente morte da mãe. Quando ele assiste a uma confissão da menina, que diz ser o próprio demônio, também se convence que se trata de um autêntico caso de possessão, e vai ao encontro de seus superiores da Igreja, a fim de conseguir a permissão para fazer um exorcismo. Com a licença concedida, ele vai receber a ajuda do experiente Padre Lankester Merrin, que estava a pouco trabalhando como arqueólogo no Iraque e já havia feito exorcismos anteriormente.

Ainda que seja um pouco massivo e até mesmo decepcionante para o espectador ansioso por cenas primorosas de horror, o começo do filme nada se parece com um início típico de uma obra do terror, muito pelo contrário. A sequência do Iraque, onde o padre Merrin faz escavações, poderia ter sido facilmente excluída do roteiro final, apesar de ter sido nesta parte que a imagem de uma figura demoníaca chamada “Pazuzu” tenha sido descoberta no meio das ruínas da cidade de Nineveh, próximas à fronteira com a Síria. Nessa cena, a música sinistra e a fotografia sufocante serviram pelo menos de introdução para os minutos seguintes mais macabros que eu já vi em um filme de terror na minha vida.

O diretor William Friedkin realiza aqui um ótimo trabalho. Responsável pelo comando do único filme do gênero que fora indicado no categoria de Melhor Filme do Oscar na história, ele soube além de comandar as cenas de horror inspiradíssimas, dirigir o elenco a ponto de ficarem todos na exatidão perfeita que o livro, no qual o longa é baseado, sugerira. Na verdade, a direção dos atores talvez tenha sido o principal motivo pelo qual ele recebeu tantos elogios por esse trabalho. Afinal de contas ele não só deu palpites na música, na fotografia, nos cenários, como também quis inovar e ousar em todos os pontos, a fim de deixar o filme com o aspecto macabro ideal perante a sua vontade e bom gosto. E isso transpareceu também nas atuações, especialmente quando nos referimos a Linda Blair, em uma atuação chocante e inesquecível. Para ser sincero não sei dizer quem foi o principal causador da interpretação e da caracterização monstruosa de Regan MacNail. Lógico que a atriz tem seu mérito, e muitos por sinal. Mas Friedkin foi inteligente o suficiente para fazer as escolhas corretas e transformar aquele rosto novo em uma figura verdadeiramente demoníaca, fazendo jus ao seu significado. Blair tem uma forma tão convincente de agir quando sua personagem está possuída que fica difícil crer que a atriz tenha somente 14 anos de idade, mas não se engane. Por mais magnífica que a atuação possa parecer, a voz de Regan, grave e assustadora como se fosse a do demônio, não pertence a ela. Mercedes McCambridge disse que teve de comer ovos crus, beber muito álcool e fumar vários cigarros para compôr a voz que Friedkin julgava ideal. Ele, que havia trabalhado mais de 150 horas na voz da menina, desistiu e passou a bola para a atriz de A Grande Ilusão, que mais tarde viria a processar a equipe do filme por não ter colocado o seu nome nos créditos finais. Na verdade, esse pequeno mais importante detalhe, custou o Oscar de Blair, que indicada na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, era considerada a favorita antes do anúncio de quem era a verdadeira voz. A jovem intérprete perdeu na cerimônia para uma atriz ainda mais jovem, Tatum O´Neal, que saiu a grande vencedora da noite por Lua de Papel.

Ellen Burstyn, mais uma vez soberba, quase que não fica com o papel de Chris MacNail. Ela havia dito que só aceitaria interpretar a atriz mãe da criança possuída se não fosse obrigada a dizer: “Eu acredito no diabo”, frase que estava no roteiro pronto e que fazia parte de um de seus diálogos. Antes, Shirley MacLaine e Jane Fonda, tal como Audrey Hepburn estiveram cotadas para atuar no filme. Entretanto, Burstyn realizou o seu trabalho de forma excelente, mostrando com clareza o desespero de uma mãe, que não sabe o que está havendo com a filha. O trabalho duro virou doloroso quando a atriz bateu as costas violentamente contra a cama do quarto de Regan, quando ela, possuída, afasta a progenitora para longe. Burstyn soltou um grito de dor, que foi usado na edição final do filme.

Quem também faz um trabalho admirável é Jason Miller, ator proveniente do teatro, ele atua principalmente com o olhar melancólico. Jason é Damien Karras, o padre psiquiatra que acabara de perder a mãe, e se sentia culpado pelo modo como a deixou. Seu personagem é sem dúvida, o que contém maior carga dramática e sem dúvida, exigia um trabalho ainda mais esforçado por parte dele e de Friedkin, que teria que evitar caso o drama de Karras tomasse conta do clima de terror, que deveria prevalecer durante todo o filme, até mesmo quando o roteiro está longe do quarto de Regan.

Falando em roteiro, que o escreveu foi William Peter Blatty, que astutamente adaptou o livro de sua autoria, transformando-o em filme, vencedor do Oscar na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Seu texto se preocupa com os detalhes mais macabros, em um começo quase sem falas até a cena do exorcismo final, a melhor do filme. As sequências são assustadoras e Blatty é capaz de deixá-las mais aterrorizantes na tela do que talvez, na obra em si. A escolha do próprio autor do livro para escrever o roteiro não poderia ser mais acertada.

Mas ninguém é mais perfeccionista que William Friedkin. O diretor se preocupou com os mais absolutos detalhes e fez o que pôde para deixar tudo perfeito. As cenas do quarto de Ragen, quando está possuída parecem normais, mas quando se sabe o quanto foi gasto nos cenários daquele único aposento, fica claro porque que o filme recebeu a indicação ao Oscar de Melhor Direção de Arte. Foram construídas três camas diferentes, cama uma com sua utilidade. Para deixar a respiração gélida dos personagens, quatro aparelhos de ar condicionado foram escondidos no cenário, e todos funcionavam simultaneamente em temperaturas absurdas que chegavam a 40°C negativos. A única luz da cena vem de um abajur ao lado da cama, dando a sensação de um lugar ainda frio e macabro. O diretor também optou por uma maquiagem mais específica. Ele encomendou a Dick Smith três tipos de transfiguração: a demoníaca para o rosto de Regan, a de envelhecimento para Max Von Sydow, que teria que aparentar ser mais velho do que era na época e a de efeitos especiais, que serviria também para o demônio.

Friedkin também se superou no trabalho de som. A sonoplastia é brilhante, o melhor quesito técnico do filme. Além dos efeitos especiais que fizeram a garota levitar diversas vezes e o trabalho da maquiagem, os sons (vencedores do Oscar), são criativos e curiosos. Por exemplo, quando a cabeça da menina gira 360°, o som foi feito a partir de uma carteira de couro circundando um microfone. Na cena do demônio deixando o corpo e Regan, vinham na verdade de um rebanho de porcos indo para o abate.

Para fechar a explicação do trabalho do diretor William Friedkin é bom ressaltar que ele optou por inovar de uma forma diferente. Como não dar um pulo da cadeira, quando em cenas de tensão aparece do nada o rosto pálido de uma criatura de olhos vermelhos e dentes podres? De forma subliminar (ou não), Friedkin optou por frisar esses momentos em objetos da casa, deixando tudo ainda mais assustador. Vale comentar também que o diretor pediu diversas vezes a um reverendo que benzesse os locais de filmagens, para que todos os membros da equipe e do elenco ficassem mais tranquilos.

O Exorcista é pra mim, a obra-prima máxima do terror. Cenas inesquecíveis, o crescente clima de suspense, um diretor perfeccionista e inteligente e uma história apavorante marcaram para sempre aqueles que tiveram a oportunidade de ver o filme. Recomendadíssimo para todos os amantes do cinema e de filmes de horror, menos os cardíacos, por razões óbvias.

Críticas

Gente como a Gente

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"Alguns filmes nós assistimos, outros nós sentimos" - slogan de Gente Como a Gente.

Depois de ter visto "Touro Indomável" eu fui checar a página do Oscar dos Cineplayers, mas para minha surpresa o vencedor do Oscar de melhor filme era Gente Como a Gente, isso me deixou curioso e então fui atrás do filme e agora posso dizer o que eu vi nesse filme.

Robert Redford começou sua carreira atuando, mas no fim dos anos 70 ele decidiu dirigir um filme e esse filme foi Gente Como a Gente que deu o início ao estilo de drama familiar.

A história é sobre uma família que perde seu filho mais velho causando um impacto muito grande sobre a família, pois o irmão mais novo estava presente quando seu irmão morreu, e se culpa por sua morte, após sua tentativa se suicídio ele passa por tratamentos psiquiátricos em um hospital, mas ele não conseguiu superar a morte do irmão e começa a ter problemas de relacionamento com sua mãe e pai.

A história é vista hoje como um clichê. Mas esse daqui possui sua originalidade, pois expõe o problema de cada personagem de forma que o público entenda que não é uma história vazia com personagens sem sentimentos e isso um ponto muito bom do filme que é original até o fim, aliás o seu final é bastante interessante por tocar a segunda parte de cada personagem e despertar o que eles haviam esquecido.

É claro que para criar um drama familiar com personagens vivos e ativos, uma tarefa muito difícil é encaixar atores que estejam preparados para tal desafio. E no elenco contamos com Donald Sutherland, Mary Tyler Moore e Timothy Hutton nos elenco protagonista. Donald Sutherland vive Calvin que depois de perder seu filho mais velho acaba sentindo que sua família começa a se separar em dois lados, seu filho mais novo e sua mulher, sendo assim ele vive o personagem que precisa consertar sua família para que tudo volte ao normal. Mary Tyler Moore vive Beth, mulher e mãe da família que apesar de ser persistente e amar seu marido ela não acaba se dando bem com seu filho mais novo, mas ela não se esforça para tentar se dar bem com seu filho, sendo assim temos a nossa vilã. Timothy Hutton vive Conrad que depois de testemunhar a morte de seu irmão mais velho se vê como culpado da mesma. As atuações estão muito boas e podemos dar um destaque a Timothy Hutton que com apenas 19 anos mostrou que seu futuro no cinema podia acabar se tornando um dos melhores atores dessa geração, mas não foi bem assim que aconteceu. Sentimos que estamos vendo uma família de verdade quando esse elenco de peso consegue viver de forma tão positiva o filme, pois pelas características de cada personagem citado podemos observar que não é qualquer ator que poderia fazer estes papéis tanto que contamos com dois atores veteranos para fazer os papéis principais.

O roteiro foi escrito por Alvin Sargent que se baseou no livro de Judith Guest que nesse filme escreveu um lindo roteiro, possui uma dedicação para criar os personagens, uma caracterização bem semelhante que foi usada em Beleza Americana que é um filme mais poético, mas Gente Como a Gente trata mais sobre um impacto sobre uma família após uma tragédia que realmente fez a família revelar suas vulnerabilidades e defeitos, todo mundo tem defeitos e vulnerabilidades, mas depois que algo sério acontece e que muda suas vidas para sempre começamos a expor tudo isso porque nesse momento é o que mais precisamos ver quem realmente somos e tentar aprender com nossos defeitos que escondemos das outras pessoas. Eu não li o livro, mas posso dizer que o filme teve uma boa adaptação.

A direção de Redford é simples, não é ruim, mas não é merecedora de um Oscar. Lembre-se minha foi 8.0, não 10.0. Justamente pelo fato da sua direção ter ganho o Oscar de Melhor Diretor, mas devia ter sido pelo prestígio que ele estava tendo na época.

Vulnerabilidade familiar é o tema retratado carinhosamente no filme, mas todos temos defeitos e vulnerabilidades, pois afinal o filme mostra gente, gente como a gente.

Críticas

Vanilla Sky

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‘’David, Open your Eyes’’

Assim começa esse remake muito bem sucedido da obra de Amenábar, ‘’Abre los Ojos’’. Dinâmico e acessível, aborda uma questão ampla sobre a linha tênue existente entre o sonho e a realidade, e como alguém pode se perder sem o discernimento apropriado.

Somos transportados para o mundo de David Aames Jr (um Tom Cruise inspiradíssimo), um playboy que herdou a fortuna de seu falecido pai e vive sem compromissos com a vida. O filme começa com uma gravação no despertador, com a voz de Julie Gianne (Cameron Díaz), com quem mantinha uma relação estritamente carnal, o que afeta profundamente a personagem, que nutre um sentimento maior por David. Sofia (Penélope Cruz) surge na trama, no aniversário de David, e os dois se apaixonam e vivem momentos que dizem sobre o real valor da vida (‘’Cada minuto que passa é uma chance de virar o jogo’’). Julie, desconcertada pelo que está acontecendo, oferece uma carona a David e causa um grave acidente com o carro, tirando a própria vida e desfigurando David.

A partir desse momento o filme se transforma em uma espécie de cartas fora de ordem. A edição das cenas permite que o filme seja interpretado de diversas formas, enquanto um perturbado David é esmiuçado por um psicólogo, Mccabe (Kurt Russell). Mistura-se o sonho com a realidade e à medida que o filme passa algumas cenas tomam outro significado em função dos diálogos entre as personagens.

Cameron Crowe entranha em um lado obscuro da mente humana... até que ponto o ser humano, em plena sanidade de suas faculdades mentais pode discernir a realidade externa da sua própria realidade (imaginação)? Até onde os nossos sentimentos e sensações podem interferir na nossa concepção de realidade externa?

Com a temática exposta, é interessante traçar um paralelo com o argumento do sonho de Descartes: para o filósofo, que questionava todo o conhecimento obtido através de suas próprias percepções, não há como discernir as impressões obtidas durante o sono e quando se está acordado. Portanto, se as percepções são ilusórias, um corpo pode não só ter uma forma diferente do que é apresentada na realidade em que compreendemos, mas simplesmente não existir. Será que toda a trama do filme não nos remete a um complexo sonho da personagem principal?

A trilha sonora é impecável, deixando explícito o que a personagem sente em cada momento, e com um elenco mais do que inspirado leva a um ótimo resultado. O tema de Nancy Wilson é repetido em diversas formas no filme, de acordo com as sensações de David, assim como são ouvidas músicas de artistas como Bob Dylan e Radiohead.

Um filme altamente reflexivo... com uma história totalmente acessível, deve ser visto e revisto de mente aberta, de forma a aproveitar ao máximo a experiência das múltiplas interpretações.A cena final só expande o leque das formas que pode-se entender essa obra, e que dependerá de como cada um enxergou o desenvolvimento da história.

http://cinemaboteco.blogspot.com

Críticas

Malvada, A

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Considerado para sempre como um ícone do cinema, “All About Eve” é uma obra irônica, com personagens manipuladores, rostos marcados e um diretor consagrado. Um filme grandioso sobre rivalidade, ambição e mentira.

Vocês sabem tudo sobre Eve. O que pode haver que vocês ainda não saibam?

Apesar de essa ser a fala dirigida ao público que Addison DeWitt, no momento que Eve Harrington sobe para pegar a sua estatueta no prêmio Sarah Siddons, o espectador de fato nada sabe sobre a tal Eve, e como haveria de saber? Tudo o que está exposto na tela é um discurso infalível e uma homenagem daquela que logo se percebe ser a mais importante cerimônia de premiação do teatro americano, além de um rosto humilde da atriz revelação cuja carreira meteórica despencou as grandes divas dos olhos da mídia, e as mesmas, que se limitam a ficar olhando desgostosas ao sucesso que a jovem e talentosa intérprete usufrui no momento. Dentre as inúmeras citações que a narração em off de DeWitt apresenta de forma cordial e solene, estão Karen Richards, seu marido e dramaturgo Lloyd Richards, o diretor Bill Sampson, o produtor Max Fabian e a grande estrela, ou melhor, “a estrela de verdade” Margo Channing, atriz teatral. Até aquele momento tudo o que o espectador realmente sabe sobre a atriz a ser consagrada naquela noite é que sua carreira atingiu o auge mais rápido do que qualquer um poderia sequer imaginar. A história de Eve, mostrada a partir de um flash-black, vai surpreender, chocar e fazer crescer a revolta do espectador, que ao final, terá assistido a uma obra-prima como poucas, única e por mais que o roteiro diga o contrário, sincera onde a decadência, o preço pela fama, as mentiras, a ambição e as intrigas esperam triunfantes pela revelação final.

O título original do longo dirigido por Joseph L. Mankiewicz fora escolhido pelo produtor Darryl F. Zanuck, a partir da frase destaca logo acima. Antes, o roteiro assinado pelo mesmo homem que dirigiria o filme dava o nome para a produção de “Best Performance” ('Melhor Atuação', na tradução livre), já que se baseava em um conto publicado na revista Cosmopolitan. Seu conteúdo trazia à tona a história da atriz austro-húngara Elisabeth Bergner que segundo reportara à escritora Mary Orr, havia contratado uma grande fã sua como assistente pessoal, na década de 40. De acordo com a própria atriz européia, a jovem moça que a adorava acabou por boicotar a sua carreira, transformando-se em uma estrela do dia para a noite. Sem querer dizer o nome da “solapadora”, Orr se viu obrigada a apelida-la de Eve, batizando a história com o título The Wisdom of Eve. Mankiewicz, com o intuito de adaptar o conto, trocou os nomes dos personagens, criou outros assim como novas situações, e como seu projeto inicial seria relatar o enredo de uma atriz em fase de decadência, aprofundou a personagem que substituiria o nome de Bergner, chamando-a de Margo Channing. Depois de muitas mudanças feitas pelo diretor e roteirista, alguns a pedido do produtor Zanuck, muitos atores e atrizes de grande renome foram cotados para os papéis do filme.

Na verdade, uma das poucas intérpretes que manteram-se no projeto desde o início foi Thelma Ritter, veterana atriz do cinema e uma das quatro mulheres indicadas ao Oscar pelo seu trabalho no longa. Bette Davis surgiu como opção depois de atrizes como Barbara Stanwyck, Susan Hayward e Marlene Dietrich recusarem e Claudette Colbert ter sofrido um acidente e machucado as costas antes mesmo do início das gravações. Segunda a própria Davis, nomeada ao prêmio da Academia pela personagem Margo Channing, o trabalho no filme proporcionado a ela por Mankiewicz salvou sua carreira do limbo, conforme disse em uma entrevista datada de 1983. Antes de Anne Baxter surgir como alternativa para o papel de Eve Harrington, Jeanne Craine fora a escolhida, mas engravidou e perdeu a chance, dando oportunidade para Baxter, que receberia a indicação ao prêmio do Oscar. Para Bill Sampson, Ronald Reagan e John Garfield foram opções, mas quem ficou com o papel foi Gary Merrill e Nancy Oliver esteve cotada para atuar como Karen Richards, personagem que ficaria mais tarde com Celeste Holm, outra indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante na cerimônia do Oscar. Antes que o premiado ator George Sanders fosse o escolhido para interpretar Addison DeWitt no filme, Jose Ferrer foi uma das opções fracassadas. Quem também não participaria do filme, não fosse pela resistência de Mankiewicz, seria Marilyn Monroe, que segundo afirmava o produtor Zanuck, ela só seria capaz de fazer comédias. No final das contas ficou a cargo dela fazer a Srta. Caswell em 'A Malvada'.

Talvez por conta dos recordes que o filme conquistara na cerimônia do Oscar em 1950, batendo a obra-prima máxima de Billy Wilder, Crepúsculo dos Deuses na categoria de Melhor Filme e Diretor, arrematando seis prêmios dos quatorze que disputava, número que seria atingido somente 47 anos depois por Titanic, ou então pelo sucesso que fez com o público, o prêmio fictício do início (e fim) de 'A Malvada' virou realidade em 1952, quando Joseph L. Mankiewicz e mais um grupo de amantes por teatro criaram um prêmio semelhante, incluindo nas estatuetas entregues. As próprias Bette Davis, Anne Baxter e Celeste Holm já saíram agraciadas do prêmio.

O filme tornou-se muito conhecido entre a mídia e o público até anos depois de seu lançamento nos cinemas. Ainda que no mesmo ano da criação do prêmio de Mankiewicz, uma versão do filme fora adaptado para o rádio, em 1970 estreou o musical Applause da Broadway, vencedora do Tony, onde Anne Baxter seria a intérprete de Margo Channing.

Enfim, depois de me apegar muito aos bastidores e preparativos de “All About Eve”, é hora de analisar o elenco. E que elenco! Pobre Claudette Colbert, mas até que seu acidente ajudou e muito para a imagem posterior do filme, já que Bette Davis é considerada uma das melhores atrizes da história do cinema e sua Margo Channing, uma personagem eterna. Comecemos por ela, então:

Bette Davis

11 vezes indicada ao Oscar e premiada duas vezes. As personagens de Bette Davis e seu carisma, brilho intenso e talento entraram para a história e ela, consagrada agora mundialmente e eternamente. Sua atuação em 'A Malvada' é considerada por mim, a melhor de todo o elenco. Davis exprime bem toda a grande estrela que representa Channing no filme, com suas posições corretas e gestos elegantes, a atriz do teatro é ao mesmo tempo detestável, fazendo-se passar por má, ainda que esse seja o papel de outra. A ironia, o egocentrismo e a arrogância de Margo são visíveis ao público, e ao mesmo tempo, uma mistura de caridade e compaixão aumentam ainda mais a profundidade da personagem, que a atriz sabe fazer como ninguém. Quando o longa começa, fica a expectativa para ver em ação a grande Bette Davis, e no momento que ela finalmente aparece, ouvem-se gritos daqueles que assistem: “É ela! Olha ela aí!”. Deslumbrante em todos os aspectos, os olhos de Bette Davis mais uma vez inundam a tela, ainda que em preto e branco, e causam impacto silencioso no espectador, que imagina o olhar compenetrado e venenoso invadindo o set de filmagem, onde todos, de fato, assistiram a mais uma interpretação magnífica da grande estrela do filme, que na verdade, nunca deixou de ser Bette Davis.

Anne Baxter

Manipuladora, bela e mentirosa. Ela interpreta Eve Harrington, a ardorosa fã de Margo Channing. Sua ambição de um dia se tornar um grande atriz do teatro, como o seu ídolo, mais a sua inocência e discrição levam o espectador a trocar os papéis assim que a personalidade verdadeira de Baxter é revelada. Aquela que o público pensava ser “a malvada”, passa a ser a vítima da história toda e vice e versa. Anne Baxter compõe sua Eve com perfeição, cuja humildade é transformada em arrogância da água pro vinho, lógico que de acordo com a coerência inegável do roteiro bem construído. A carreira surpreendente de iniciante já leva a antiga aspirante a atriz a receber o prêmio mais importante do teatro, que numa solidificação da imagem, conta como ela consegui tal feito, sendo que oito meses antes, ela era uma total desconhecida. Vale ressaltar que Baxter não exagera em momento algum, não se faz de coitadinha insuportável no início e nem vira uma mulher grossa , com o nariz sempre empinado. Ela faz tudo na medida do correto, mas com brilho de exatidão. Uma grande pequena atuação.

Celeste Holm

Outra atuação que mostra como a direção de Mankiewicz consegue ser exata em todos os aspectos, incluindo na coordenação do elenco. Holm é uma atriz menor que Bette Davis e Anne Baxter, mas sua atuação é suficientemente convincente pra manter o espectador satisfeito com sua performance. Ela, assim como todos aqueles que rodiavam Eve, sentem-se enganados e chocados quando a segunda cara da jovem fã é posta para exposição. Na verdade, o choque que a sua personagem, Karen Richards, compõe é muito devido ao fato de ter sido ela que levou Eve até o camarim de Margo Channing, que fez o que pôde para manipular as vontades do alvo de sua admiração. Celeste Holm, no entanto, é boa o bastante pra fazer Karen parecer alguém traído, elegante e prestativa, com carisma. Excelente atuação, ainda que oculta perante o brilho das protagonistas.

Thelma Ritter

Uma grande atriz pouco aproveitada. Talvez seja a melhor descrição de Thelma Ritter, atriz que garante as principais risadas de “All About Eve”. Ela não faz uma personagem importante, nem se destaca pela elegância nem nada. Seu chamativo mais interessante é o modo de falar, único, diretor e sincero, típico de Ritter. Assim como fez em Janela Indiscreta, ela oculta os grandes astros e estrelas do filme nos poucos minutos que está no ar. No filme de Alfred Hitchcock não foi diferente. O brilho incessante de James Stewart e a beleza inconfundível de Grace Kelly deram lugar para o sarcasmo de Thelma Ritter. Em cenas de 'A Malvada' ela chega a depositar todos os olhares para as suas expressões impacientes, que antes focalizavam sempre Bette Davis ou então, Anne Baxter. Em diálogos rápidos e inteligentes, os dela são os mais criativos, com tons cômicos que garantem os melhores momentos de descontração do longa. Infelizmente, o seu talento não fora tão bem aproveitado pelos diretores, que embora lhe dessem oportunidades de boas atuações, ainda que o mérito seja praticamente todo dela, a atriz quase sempre estava muito bem em papéis de empregada doméstica, desta vez Birdie Coonan, que por algum motivo, sua personalidade enquanto atriz lembrava uma.

George Sanders

A elegância e o charme de George Sanders certamente levaram o ator a receber o prêmio da Academia de Melhor Ator Coadjuvante. Sua atuação é excepcional, seja nos diálogos ou nos seus olhares captadores. O ator faz de Addison DeWitt um personagem ainda maior que Mankiewicz havia preparado para ele. Sua narração em off é certeira e correta, com inúmeras citações de dramaturgos antigos e atores e empreiteiras e diretores e produtores e casas de shows e teatros, o charme visceral entra em cena imponente. Não é de longe a melhor a atuação do filme, cujo brilho prende-se todo no talento do elenco feminino, mas a interpretação dele foi a única que rendeu o Oscar para o renomado elenco, entretanto, mais merecido impossível. Uma atuação cujo principal mérito corresponde à elegância e o respeito que ele impõe, sempre que entra em cena.

Posso resumir o trabalho dos outros atores como excelentes igualmente, já que não tenho muito mais o que falar do restante do elenco. Destaque apenas para a jovem e desconhecida Marilyn Monroe, que faz a menina Caswell de forma interessante e cômica. A atriz que mais tarde viria a cometer suicídio ainda teria tempo para fazer bonito em outros filmes, mais ainda com sua beleza estonteante. Quanto a Lloyd Richards, interpretado por Hugh Marlowe, faz seu trabalho com eficiência, mas não brilha tanto quanto os outros, sendo ele destaque a parte dos coadjuvantes, cujo mérito é ser somente um bom ator nos momentos propícios.

Mankiewicz dirige e escreve com primor nítido nesse seu trabalho mais encantador. A Malvada é uma obra-prima grandiosa em todos os aspectos. Os figurinos belos e visivelmente de grifes famosas, a fotografia escura e extremamente branca na luz, além da luxuosa direção de arte, com cenários de bastidores e que demonstra bom gosto na escolha dos objetos que enfeitam os cenários. No final, Mankiewicz deixa claro que a história parece que vai se repetir quando Phoebe aparece dentro do apartamento de Eve Harrington, fazendo o espectador reviver os momentos iniciais do filme, quando a personagem de Anne Baxter ainda era uma “ilustre desconhecida”.

Clássico único e eterno do cinema com um dos elencos mais formidáveis e brilhantes da história, onde a direção e roteiro caminham de mãos dadas para entregar ao público uma obra imortal dos anos dourados de Hollywood. Obrigatório, simplesmente imperdível.

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