Se há um filme que realmente chocou na premiação do Oscar de 2007, esse filme foi "Pecados Íntimos", de Todd Field. Mesmo sem estar na categoria de Melhor filme, disputou em várias categorias contra o bonitinho "Pequena Miss Sunshine, o maravilhoso "Babel" e o esquisitíssimo "Os infiltrados" e não se destacou, perdendo em todas
as categorias que competiu. Talvez isso tenha acontecido pelo fato dos juízes não terem olhado para os personagens de forma diferente, de forma mais densa do que a superficial mostrada em boa parte da obra.
Kate Winslet, interpreta Sarah, típica dona-de-casa americana, que cuida da casa, da filha, do marido e não demonstra ter ambições ou desejos. Um dia, ela começa a frequentar uma piscina pública junto de outras mães, que até pouco tempo, eram donas-de-casa devotadas igual a ela. Com a chegada de Brad, personagem de Patrick Wilson, as mães começam a se alterar e alimentar um fetiche pelo homem, mas apenas da boca pra fora. Quando Sarah e Brad se beijam, as mesmas mães que desejavam Brad começam a linchar Sarah, que até então se sente apenas como uma mãe que ultrapassou as barreiras reservadas as donas-de-casa da vizinhança, mas no fundo é bem mais que isso. Sarah não demonstra arrependimento e se sente cada vez mais realizada, mais completa, mostrando o "Pecada Íntimo" que estava escondido na sua vida comum e pacata. Daí pra frente, o título do filme em inglês "Little Children" se torna bem sugestivo, Sarah começa a perseguir Brad e se exibir para Brad, usando biquinis mais ousados e passando uma imagem sexy e superficial. Como se fossem crianças que não conheceram a vida ainda e querem conhecê-la sem ver consequências.
Já Brad, é o maior "Little Children" de todos, por mais que em todas suas aparições no filme, queira provar o contrário. Casado com a sempre ocupada Kathy, Brad que é desmpregado ocupa a posição de dono-de-casa, cuidando dos afazeres domésticos e cuidando da filha. Ao conhecer Sarah, percebe que possuem desejos em comum, o desejo de encontrar uma liberdade reprimida por casamentos infelizes e deveres domésticos. Brad vê em Sarah, uma mulher muito diferente da sua, uma mulher que não possui nem de longe a mesma beleza que a sua e que acaba sendo tudo que ele queria, uma certa relação que o fizesse voltar no tempo em que ele ainda podia flertar com outras mulheres, jogar futebol, voltar no tempo em que tinha mais liberdade do que trancado em uma casa com uma criança e uma esposa
Com a chegada de Ronnie um pedófilo recém saído da prisão, a vizinhança entra em desespero e começam a temer pelos seus filhos. O mais incrível é a forma que o diretor posiciona Sarah e Brad em relação à isso, os protagonistas vêem em Ronnie alguém que superou esses desejos reprimidos e partiu para a ação, e foi punido por isso. Os dois também começam a agir em prol de seus "Pecados Íntimos" e passam a se encontrar sem compromisso, e sem preocupações externas, seja filhos, marido ou reputação é apenas realização sexual e ponto, sem ser necessário largarem o "American Way of Life" para se entregarem ao amor.
A chegada de Ronnie é como um pavio para todas as realizações dos "Pecados Íntimos". Richard,o marido de Sarah começa a fantasiar com uma modelo de um site pornográfico e liberta suas vontades se masturbando na frente do computador, sem sentir o mínimo de culpa e também não largar o seu estilo de vida tipicamente americano. O filme toda tenta mostrar o quão distantantes estão Sarah e seu marido, mas do mesmo jeito que Sarah realiza uma fantasia superficial de se assemelhar com uma modelo de maiôs comprando seu pruduto, Richard decide comprar uma calcinha de sua musa, para que a masturbação se torne mais real.
A trama é narrada de um jeito meio infantil, como se o narrador fosse um contador de histórias, como se todos os protagonistas estivessem retrocedendo emocionalmente, até se tornarem as crianças que querem um brinquedo e fazem de tudo para conseguí-lo.
Já o pedófilo, é ao contrário de todos os personagens, ele já retrocedeu e foi atrás de seus desejos reprimidos, agora ele está se tornando adulto novamente, tendo que arranjar emprego e se adaptar a sociedade. Há uma cena em que ele vai a um encontro e tudo corre bem, mas chega uma hora em que ele se masturba na frente de sua companheira e a ameaça se denunciá-lo, tudo o u que ele fazia quando abusava das crianças. Ronnie percebe que se tornou uma "Little Children" incurável, incapaz de mudar.
A mãe de Ronnie, única pessoa que defendia o pedófilo, entra em uma discussão para proteger o filho e acaba tendo um infarte, só aí Ronnie vê as consequências da realização de seus desejos. Em uma cena muito inesperada, Ronnie corta os próprios genitais e é encontrado agonizando por Aaron, o mesmo homem que discutiu com a sua mãe, repetindo que era o único jeito de ele se curar, o único jeito de não fazer mal a mais ninguém à sua volta, mostra que ele quer voltar a ser criança, voltar a não ser um adulto que tem desejos reprimidos, quer ser uma criança que não descobriu nada, que não tenha desejos carnais e que seja tratado como tal.
Ao mesmo tempo que Ronnie decide reiniciar suas descobertas de forma trágica, Brad percebe que conhecer Sarah trouxe de volta seus desejos e decide ir mais a fundo , mostrando claramente a mensagem do diretor sobre Brad,que foi uma criança enrustida o tempo todo, e ao querer se libertar, faz isso de forma acelerada subindo em um skate pela primeira vez na vida, sem saber andar, o que termina em um hospital, que há pouco tempo havia recebido Ronnie.
Depois desse climax, o filme acaba, foi esse o pecado do diretori. Quando o diretor vai além do que esperávamos, ele decide encerrar o filme e deixar as conclusões para nós mesmos. Esse fim vago seria até mais interessante se não tivesse mostrado o que aconteceu a Ronnie e Brad, o que levanta várias dúvidas. Talvez o diretor tenha passado uma mensagem na hora em que Kathy vê Brad na maca, o tamanho da infantilidade que ele havia feito e o trata como tal, alisando seu cabelo e dizendo: "Tudo vai ficar bem!" Mas esse final não convence.
O diretor também pecou em certo momento do filme, ter deixado personagens interessantes como Richard e Aaron e dar mais atenção aos personagens que estavam em situações mais caóticas, como Ronnie, que mesmo sendo tratado pelo diretor do mesmo jeito que a vizinhança o tratava, sendo evitado, acaba dando um espetáculo de interpretação nas cenas finais, contribuindo apenas para sua indicação ao Oscar, mas deixando o filme impactante e vago demais.
Outra personagem é a própria Kate Winslet, que perde seu magnetismo com o espectador rápido demais, deixando a personagem que inicialmente era tão incrível, em uma adulta acomodada e que desisitu de ser uma "Little Children", preferindo adequar-se a uma vida que os outros personagens tentaram abandonar.
Mas o filme é bem original, confuso e interessante, só perde a linha em seu desfecho inesperado demais.