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Críticas

Amor para Recordar, Um

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Algumas pessoas das quais conheço que assistiram "Um amor pra recordar", de forma uníssona, classificam o filme como lindo. Logo de cara são levadas pelo romantismo desregrado, e de antemão apresentam o veredito positivo, sem ao menos ponderarem algumas questões importantes.

Apesar de eu assistir a toda e qualquer comédia romântica lançada (sem saber o porquê...), não sou fã de nenhum gênero que beira o romance.

Essa quase aversão se dá pelos seguintes motivos: falta de originalidade no roteiro e excesso de "glicose" no contexto em geral; problemas que imperam nesse estilo de filme.

Parece que a maioria deles é produzido pelo mesmo diretor, em que os personagens se assemelham, os desfechos e as situações são similares, e tudo flui sempre da mesma forma...

E isso acontece porque esses tipos de filmes vão se baseando mesmo uns nos outros. O diretor do filme, Adam Shankman, provavelmente deve ter usado o filme "Doce Novembro" como parâmetro e inspiração, afinal, "Um amor pra recordar" mais parece sua versão teen.

E se tratando de Adam Shankman, julgando por sua trajetória cinematográfica, ele está se tornando mestre em dar vida à obras clichês.

O filme tem um roteiro ingênuo (em todos os sentidos), prognosticamente dramático, que abusa de todo e qualquer recurso para comover a platéia - e consegue!

A questão é que mesmo contendo um pieguismo explícito, e um grande embate de opiniões entre críticos e público, não é uma tarefa simples avaliar essa película.

Mandy Moore, uma musa teen, dona de uma voz mezzo aveludada, e de um repertório adocicado, protagoniza essa projeção.

Não é novidade vermos cantoras se aventurando como atrizes em Hollywood. Assim elas só comprovam ao público que não erraram quanto a seguir a vocação musical. Todavia, afirmo que entre ver as interpretações deprimentes de Mariah Carey, Britney Spears e Jennifer Lopez (essa é a mais insistente), Mandy foi a menos decepcionante. Diria até que entregou uma atuação segura e satisfatória para o nível do roteiro.

O filme relata a estória de uma jovem de comportamento introvertido e puritano que, é isolada e rotulada de "nerd" em seu meio escolar por seu jeito alienado de agir e vestir. Em contrapartida nos deparamos com seu par romântico, totalmente rebelde e popular.

A idéia trivial do romance é exatamente fazer com que o personagem Landon Carter, vivido por Shane West, passe por uma transformação idiossincrática para adaptar-se ao perfil da mocinha-esteriótipo rejeitada.

Como o filme é voltado para um público específico - adolescentes - é tolerável a simploriedade da proposta, porém, a forma com que é conduzida, incomoda um pouco.

Na verdade, um filme para ser bonito, inspirador e emocionante, não necessita usar os mesmos artifícios para alcançar tais resultados.

Entre alguns pontos fracos do filme está a personalidade de Landon que, passa por uma verdadeira metamorfose, numa rapidez descomunal. Além do amor quase instatâneo dos dois, um tanto forçado. Mais rápido que esse só o de Kate Winslet e Leonardo Dicaprio no superestimado "Titanic".

Se não fosse o descuidado desenrolar dos fatos e a edição primária, o filme funcionaria melhor.

Como já foi antecipado pela crítica de Daniel Dalpizzolo o fim da estória, falarei abertamente sobre alguns fatos.

A personagem de Mandy tem uma doença irreversível, o que abre espaço para a dramaticidade desmedida. Nisso entram em cena os esteriótipos, o romance fácil, a reviravolta brusca das situações e o clima excessivamente melancólico que, aborrecem um pouco. Entretanto, a projeção conseguiu apresentar atuações e um desfecho acima da média em comparação as películas de outras cantoras, como já foi supracitado. Nos deparamos aqui com uma maturidade que normalmente não encontramos nesse tipo de filme, por isso, "Um amor pra recordar" pode ser determinado como o melhor filme estrelado por uma cantora. E um dos motivos foi que a realização do projeto não se limitou em divulgar a imagem de Mandy Moore, e sim, apresentou uma trama.

Quanto as interpretações, confesso que gostei de Peter Coyote como o pai de Mandy no filme. A posição racional, áustera e conservadora de um pai protetor e líder religioso, ficaram muito bem definidas por sua performance. A cena dele com a filha no hospital é de uma emoção gratuita, porém, tocante!

Mandy, como já citei, também não desagradou, até me surpreendeu. Já os coadjuvantes em geral não se saíram bem, assim como o próprio par romântico de Mandy, Shane West.

Ele não chega a ser canastrão, mas a meu ver, ele errou feio em limitar sua representação à "caras e bocas" (mais bocas... reparem no "bico" constante do ator). Parecia mais uma tentativa desesperada do ator em querer transmitir uma imagem de galã, o que soou nada convincente.

A cena em que ele transtornado no carro tenta esboçar um choro, ficou confusa. Não dá pra se saber ao certo o que ele estava tentando expressar. Sua feição trasmitia qualquer coisa, menos tristeza.

Agora, dentre os outros comentários e críticas que li a respeito do filme, esses citaram que a estória vai ganhando uma atmosfera maniqueísta no terceiro ato (o da doença revelada), o que pra mim não foi um erro como apontaram, já que a protagonista era religiosa e filha de um reverendo, ou seja, a crença dela seria explorada.

E sobre o triste e irredutível desfecho, ao contrário do que muitos acharam, foi pra mim satisfatório; melhor que a conclusão batida do "felizes para sempre", afinal, se é um amor pra recordar, evidentemente não tinha escapatória para a mocinha.

A trilha sonora é extremamente romântica e composta obviamente por algumas canções de Mandy como, "Only Hope" que ela interpreta no filme, e "Cry" que é a canção carro-chefe. São músicas melosas, mas suportáveis até. Para o filme ficaram sob medida.

E como última observação, eu não pude deixar de reparar na fotografia fosca. Ficou com um aspecto de filme independente... não... amador é a melhor colocação. Não sei se faltou investimento, mas deixou a desejar nesse quesito.

Concluindo, o filme não tem consistência, possui enredos requentados, e é totalmente moldado à risca com as fórmulas de filmes típicos, entretanto, afirmo que o filme, ainda assim, emociona, cativa e traz até alguns questionamentos interessantes... Paradoxo? Contraditório? Eu sei. Mas é verdade!

Ironicamente tenho que concordar com a maioria... o filme é bonito! Insisto... ainda que analisando meticulosamente o mesmo, e descobrindo mais falhas entre tantas, o filme continua sendo, inexplicavelmente, bonito.

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Dia de Cão, Um

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Sidney Lumet possui um talento explendoroso como diretor. Algo que chama atenção em algumas de suas obras é o fato de se abordar temas em que a ambientação é praticamente a mesma durante a maioria do tempo; ou seja, sua habilidade lhe propicia grandes obras com espaços e ambientes reduzidos.

Seu melhor trabalho nesse formato é o clássico "12 Homens e uma Sentença", de 1957. A história gira em torno de um julgamento em que 12 jurados tem que decidir o veredicto de um caso aparentemente óbvio. Aqui, Lumet gasta os pouco mais de 90 minutos da trama em uma sala fechada - que passa uma sensação inquietante e caustrofóbica. O mérito de Lumet, então, é conseguir mantêr o ritmo e instigar o espectador durante todo o tempo.

O mesmo modelo - com suas devidas diferenças - é adotado no posterior "Um Dia de Cão", de 1975. Na trama, baseada em fatos reais, três criminosos planejam um assalto a banco em um dia quente e sufocante na cidade de Nova York. No entanto, mal sabem eles o inferno que está para acontecer conforme as coisas começam a fugir do controle.

Com um roteiro ágil, "Um Dia de Cão" consegue segurar o espectador do início ao fim. Por mais que o ambiente seja o mesmo por quase todo o longa, em nenhum momento ele se torna desinteressante e muito menos chato - o que é um excelente mérito. Destaque também para as subtramas, que aqui são muito bem construídas e reveladoras - o filme vai muito além de um simples assalto a banco sem propósito nem fundamento.

Os personagens - pelo menos o principal - têm seus conflitos e personalidade muito bem trabalhados, o que ajuda no desenvolvimento da trama em si. Aqui, um ponto de apoio importante é o alto nível dos diálogos - que foram tratados com muito cuidado. Para incrementar, o que dá aquele toque especial é a atuação do elenco, sobretudo de Al Pacino e John Cazale. Pacino se destaca como um homem cheio de conflitos, por vezes confuso e deslumbrado com toda a situação, mas com pulso firme para tomar suas decisões e fazer suas exigências. John Cazale - conhecido pelos papéis no clássico "O Poderoso Chefão" -, por sua vez, nos brinda com um desempenho excelente - que muito me lembrou Anton Chigurh - personagem interpretado por Javier Barden em "Onde os Fracos Não Têm Vez".

Em suma, "Um Dia de Cão" é mais uma obra-prima do genial diretor Sidney Lumet. Ao meu ver, ainda inferior à "12 Homens e Uma Sentença", mas tão angustiante e bem climatizado quanto. Com o longa, Lumet conseguiria na época sua terceira indicação ao Oscar. Ao longo de sua carreira, o diretor foi indicado por quatro oportunidades ao prêmio da academia, mas bateu na trave em todas elas. Em 2007, Lumet deu provas de que ainda pode dirigir em alto nível ao apresentar a trama "Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto", que conta com um ótimo elenco, encabeçado por Philip Seymour Hoffman.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Crepúsculo

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Decididamente moldado para não produzir nenhuma inovação, trama (ou sub-trama, tamanha é a falta de profundidade dessa primeira jornada da bela e puberdiosa jovem envolta de vampiros) direcionada a deixar lacunas - até obvias demais, que praticamente chegam a narrar o roteiro da provável continuação. Crepúsculo, embora seja mais maduro que os demais do gênero, implode ante a falta de força da Direção, do roteiro incoeso, da Fotografia quase unicolor cansativa e da aborrecente Trilha Sonora, desproporcional e até bizarra. Ganha pontos devido a sua maturidade, ao mesmo tempo que perde ao não se aprofundar tanto no que acerta.

Isso mesmo, Crepúsculo é um filme adolescente aparentemente maduro: os personagens na flor da puberdade descobrem amores e potenciais acasaladores, todavia é tudo muito fantasioso, muito casto. Claro, não deveria beirar a apelatividade das comédias teens, o que afastaria o seu público alvo - jovens descobrindo a sexualidade sob o olhar prudente de seus pais conservadores.

Adaptação do best-seller de Stephenie Meyer, roteirizado por Melissa Rosenberg, e dirigido por Catherine Hardwicke, o filme foi obviamente, meticulosamente marketingzado para faturar, e muito, tanto quanto o livro, que vendera aos bocados.

A história conta de uma adolescente, Isabela Swan - que bizarramente exige ser chamada de Bella - que vai morar em outra cidade, onde seu pai - separado de sua mãe - mora. Indo pro colégio, a menina se apaixona por um pálido e misterioso jovemk, Edward - com aquele topete e seus trejeitos eu o considero mais excêntrico que Edward Mãos de Tesoura. O tempo passa e Bella persebe coisas estranhas sobre Edward, coisas que inclusive poderiam vir a colocar a sua vida em risco, o cara era um vampiro. Tarde demais, a semente do amor fecundara no coração da jovem que agora, decide ir até o limite para ficar junta do vampirão Edward.

Embora a direção de atores seja falha, a protagonista, Kristen Stewart, um pouco mais nova do que esse que os escreve, demostra bastante potencial, sendo verdadeiramente o único destaque da película, a única personagem razamente desenvolvida, ou seja o filme é dela e ela segura bem os designos que lhe aprouveram.

Tecnicamente o filme não se destaca em absurdamente nada. É uma produção que não se equipara de forma alguma a de qualquer um Harry Potter - esse artísticamente belo e injustiçado nesse quesito, como de praxe. A Trilha Sonora é chata de dar dó, e a Fotografia do filme não sia do tom azul escuro.

Crepúsculo é obvio a manter a fórmula da nova onda de castidade de alguns romances teens, apela a alguns clichêsinhos básicos, mas mantém-se como uma experiência ainda válida para o público afim do gênero, para quem espera algo mais delicado e melhor tratado enquanto cinema nesse gênero - um dos poucos e atuais exemplos é Juno, embora seja totalmente diferente de Crepúsculo - pode ficar esperando mais um milagre acontecer, o segundo filme vem aí, quem vota não?

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WALL·E

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A Pixar está para a animação assim como Michael Phelps está para as piscinas. Desde que a empresa foi criada na década de 90, a rotina tem sido a mesma. Eles lançam um bom filme, nos deixam embasbacados e mal dá tempo pra rasgar todos os elogios e lá vêm eles com outra obra-prima.

Não se trata apenas de esbanjar talento, o estúdio de John Lasseter gosta mesmo é de desdenhar a própria capacidade de superação. Só assim pra explicar Wall-E, longa da Pixar que se vale da estética sci-fi e linguagem do cinema mudo para contar uma história de amor com ecos de consciência ecológica.

Nas mãos de outro estúdio, um filme como esse tinha tudo para dar errado. Mas estamos falando da Pixar. Da empresa que revolucionou a animação. Que sempre mostrou ter um talento incomum em humanizar o inanimado. Que nunca errou a mão em nenhum de seus projetos A única instituição do mundo capaz de dar vida e sentimento a brinquedos, carros e robôs e fazer isso parecer uma simples tarefa doméstica.

Escrito e dirigido por Andrew Stanton - o cérebro mais privilegiado da Pixar-, a saga do robozinho Wall-E, se passa num futuro distante, onde o lixo é a única matéria prima existente na Terra. Sua função é recolher e empilhar os dejetos deixados pela população extinta, atividade que desenvolve por séculos. Durante este tempo, Wall-E se dedica a colecionar os resquícios que sobraram humanidade. Entre as quinquilharias que encontra está o musical Olá Dolly!, com o qual passa a aprender sobre os sentimentos humanos .

A descoberta desse e de outros elementos faz com que o robozinho passe a ganhar personalidade própria, tornando-se cada vez mais sensível e independente. Seus dias de solidão acabam, quando conhece a Eve (ou Eva), um protótipo mais avançado de sua espécie que vaga pela Terra em missão secreta.

Até aí, o filme já tem 45 minutos. Durante esse tempo, toda narrativa da animação é expressa por imagens e sons, sem nenhum diálogo. É claro que o sujinho e solitário Wall-E se apaixona pela moderna e destemida Eve. Ao encerrar sua missão no planeta, que era a de encontrar indícios de vida vegetal, ela retorna para a nave misteriosa que a deixou na Terra.

Disposto a não perdê-la Wall-E se infiltra na espaçonave e dá início a uma incrível aventura pela galáxia. Lá dentro, ele descobre que os poucos sobreviventes da humanidade vagam a 700 anos num cruzeiro galáctico pelo espaço, enquanto buscam solucionar o problema da Terra.

A partir daí, multiplicam-se as referências cinematográficas do filme. Ao entrar na nave Axiom, Wall-E torna-se uma versão robótica de Charles Chaplin de Tempos Modernos, retrógrado, perdido e atrapalhado, tentando acompanhar o ritmo frenético da tripulação espacial.

Não é preciso muito esforço para constatar que o computador Auto, que controla a missão da Axiom, é citação explicita a HAL 9000 do filme “2001″. Há também referências de outros filmes de ficção como ‘Alien’ - Sigourney Weaver participa das dublagens - e ‘Guerra nas Estrelas ‘ - a voz dos protagonistas ficou a cargo do sonoplasta de Star Wars, Ben Burtt .

Mesmo com todas essas menções a filmes adultos, Wall-E também se conecta com o público infantil através de personagens engraçados, como a baratinha de estimação do protagonista e o robozinho M-O encarregado pela identificação de poluentes da nave. Entre o humor e a ficção, há também uma mensagem clara quanto à questão ecológica, na qual humanos obesos preferem se enclausurar dentro de uma máquina do que tentar cuidar do planeta.

Mesmo com todas essas temáticas, a trama central e os grandes momentos do filme estão centrados no casal Wall-E - Eve, com direito a todos os ingredientes de uma boa comédia romântica, salpicada por encontros e desencontros. É impossível não se sensibilizar com a cena onde eles dançam no espaço; tão sensível quanto o beijo de macarrão de A Dama e o Vagabundo. Só a Pixar mesmo pra fazer uma história de amor entre um PC e uma iMac.( Ok, foi péssima uma analogia…)

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Lutador, O

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Em certa altura do filme O Lutador, o personagem título Randy “Ram” Robinson, manda essa:

” Os anos 80 eram o máximo!”.

Ao proferir essa frase, Mickey Rourke fundiu a ficção com sua própria realidade. Não são poucas as semelhanças entre o protagonista do filme de Darren Aronofsky e o ator que interpreta o personagem. Na década de 80, lutadores de wrestle - a popular luta-livre - com sua montanha de músculos, levavam ao delírio adultos e crianças com suas peripécias e golpes de mentirinha.

Na mesma época, Rourke era apontado como um dos atores mais promissores de Hollywood. Tido como talentoso, atuou em filmes elogiados como Corpos Ardentes, Coração Satânico e O Selvagem da Motocicleta e emplacou o sucesso comercial Nove Semanas e Meia de Amor, numa produção marcada por atritos entre ele e a atriz Kim Besinger. Polêmico, disputou a socos com Sean Penn o papel do escritor Charles Bukowski em Barfly-Condenados pelo Vício, ironicamente o cara que lhe surrupiou o Oscar de melhor ator esse ano.

Nos anos 90, Mickey Rourke caiu no ostracismo e definhou, assim como a luta-livre. Nocauteado como ator, subiu aos ringues para lutar boxe, uma antiga paixão. O golpe foi ainda mais forte. As poucas lutas que travou na curta carreira foram suficientes para deformar a face, obrigando a fazer cirurgia plástica para recuperar o rosto.

Seu personagem em O Lutador é muito parecido com ele. Ex-campeão de luta livre Ram vive das glórias do passado enquanto trabalha num supermercado e ganha um dinheiro extra em pequenas exibições de wrestle com outros veteranos do esporte. Mesmo lutando em pequenos ginásios improvisados, o lutador mantém os velhos hábitos como tingir o cabelo e ir a sessões de bronzeamento artificial. Como se sonhasse com um retorno triunfal.

Nas folgas, vai a uma boate encontrar-se com Cassidy (Marisa Tomei), prostituta quarentona tão decadente quanto ele. Solitário tem uma única filha com quem tem uma relação nada amistosa. Um problema de saúde faz com que tenha que abandonar os ringues. Mas como poderá abandoná-lo se é ele sua única razão de viver?

Em seu trabalho mais acessível, Aronofsky nos coloca diante de um filme memoralista e ao mesmo tempo reflexivo. Quem também não fica por menos é o seu colaborador Clint Mansell que compõe uma trilha sonora comportada, bem longe do clima perturbador e experimental que desempenhou em Pi e Réquiem para um Sonho.

Legal também é a trilha musical embalada por Quiot Riot, Scorpions e Bruce Springsteen , num clima bem oitentista. Outra grata surpresa em O Lutador é a atuação relâmpago da atriz Evan Rachel Wood. Interpretando a filha de Ram, ela manda muito bem apesar dos poucos minutos em que aparece na tela.

Mesmo nas mãos de um realizador competente, o grande destaque do filme sem dúvida é Mickey Rourke. Na pele do seu wrestler, ele compõe um tipo contraditório, um gigante indefeso no século 21, que pode voar no ringue e se cobrir de sangue, mas é incapaz de ler sem usar óculos ou lembrar de um jantar. Com esse papel, Rourke pode agora finalmente levantar-se de um nocaute de mais de 15 anos. Nós, os espectadores, estamos ansiosos por sua próxima luta!

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Casamento de Rachel, O

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[Belas cores e sons de um casamento excêntrico e com tom dramático]

A atriz Anne Hathaway nem de longe é o mais belo rosto do cinema. Longe disso, até. Em compensação possui um lindo par de lábios. E foram eles que mais me chamaram a atenção durante a exibição de O Casamento de Rachel.

A expressividade do seu rosto e as caras e bocas da sua atuação improvisada deram um tom especial ao filme dirigido por Jonhathan Demme, um cineasta raro, que às vezes brinca de documentarista e agora resolveu dar uma de minimalista com uma câmera na mão, num longa maluco e de perfil independente, onde até escola de samba resolveu aparecer.

Para começar as esquisitices, o casamento do filme é de Rachel (Rosemarie DeWitt) mas a protagonista da história se chama Kim (Hathaway), a irmã caçula. Dependente química, ela acaba de sair de uma clínica de reabilitação onde esteve internada por nove meses para participar do casamento da irmã. Além da recuperação, ela convive também com uma tragédia familiar diretamente ligada a ela.

De volta pra casa, a garota se vê rodeada pela insegurança do pai. Para piorar, a residência está povoada de convidados. Rachel e seu noivo Sidney (Tunde Adebimpe), um músico havaiano, planejaram um casamento diferente com música ao vivo e apresentações artísticas. Ainda meio confusa, Kim começa a desabafar publicamente às pessoas seus problemas tentando ser o centro das atenções. Sua atitude provoca a irá da irmã. E daí para a lavagem de roupa suja do passado é um passo.

A tensão familiar cresce ainda mais com a chegada da mãe. E quando tudo se conspira para descambar num drama pesado, acontece a festa de casamento. Rock, jazz, hip hop, música eletrônica e até uma passistas de carnaval aparecem na festividade bizarra e multiétnica. Em meio a celebração problemas familiares são varridos para debaixo do tapete enquanto outros dão as caras revelando erros e incongruências de uma tragédia mal curada.

A brincadeira nada convencional de Jonhatam Demme rende um filme interessante que encontra no casamento e nas diferenças culturais curativos que ajudam a cicatrizar as feridas que todos nós acumulamos em nossa jornada. Indicada ao Oscar, Anne Hathaway dá um show de sensibilidade e expressividade.

Num filme democrático, onde os personagens aparecem e desaparecem da trama, ela impressiona pela capacidade de estampar suas emoções no rosto. No festival de cores que é O Casamento de Rachel, é a força a inspiração – do diretor, do roteiro e da atriz – o seu brilho mais forte.

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Rio Congelado

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[Imigração ilegal é pano de fundo neste drama familiar]

Primeiro trabalho da estreante Courtney Hunt, Rio Congelado é a típica produção independente que dá certo por optar pelo enredo simples e a naturalidade das interpretações aliada ao improviso. Indicado a dois Oscars e vencedor do prêmio do júri de melhor filme em Sundance, o filme retrata a questão da imigração ilegal e, talvez indiretamente, também mostra os reflexos da crise imobiliária nas famílias americanas. Dois problemas, um velho e outro novo, enfrentado pelos Estados Unidos.

O cenário da história se dá na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, no gelado Estado de Nova Iorque. Eddy (Melissa Leo) é mãe de família dedicada aos seus dois filhos. Quando consegue juntar dinheiro suficiente para quitar a casa é roubada pelo marido viciado em jogo. Na tentativa de encontrá-lo conhece T.J (Charlie Dermontt) uma indígena que transporta imigrantes ilegais do Canadá aos Estados Unidos através da reserva Mohalk, sob a qual a polícia local não tem jurisdição.

O primeiro encontro entre as duas mulheres é marcado por animosidades. Enquanto Eddy quer dar a seus filhos um novo lar como presente de Natal, T.J. pretende recuperar a filha que vive com a cunhada por não ter condições de criá-la. Como precisam do dinheiro por motivos parecidos, acabam trabalhando juntas. Para isso terão que enfrentar a travessia diária do rio congelado St. Lawrence. Um palco de dificuldades e tragédias se colocará diante delas.

Apesar de se esgueirar no sestro do dramalhão apelativo, Courtney Hunt consegue encontrar o equilíbrio na narrativa, aliando os habituais maneirismos dramáticos (como os close-ups em olhos lacrimosos, por exemplo) com o improviso da câmera em movimento.

A improvisação dos atores é outro ponto forte na trama que dá credibilidade ao inferno astral dos personagens. A indicação de Melissa Leo a Melhor Atriz pela Academia não foi nenhuma novidade para quem assistiu o filme. Ela é o filme! Sua interpretação provavelmente toca mais fundo nas mulheres provedoras, que cuidam sozinhas do sustento da família.

De tudo que se vê em Rio Congelado, o desfecho é certamente o que há de mais esquemático no filme. Nada que atrapalhe o impacto que esta produção de baixo custo tem sobre o espectador.

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Foi Apenas um Sonho

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[Winslet e Di Caprio atuam em drama sobre as armadilhas de uma relação]

É difícil imaginar uma relação entre casais sem discussão e atritos. Mais difícil ainda é acreditar que uma vida de sonhos aprisionados possa ir adiante. O que é um casamento onde a felicidade dá lugar ao marasmo? Como é possível ser feliz vivendo uma rotina que sempre detestou? Essas questões complexas permeiam a atmosfera de Foi Apenas um Sonho, último trabalho do diretor Sam Mendes (Beleza Americana).O filme é uma adaptação do livro homônimo publicado em 1961 pelo escritor Richard Yates.

Onze anos após o sucesso de Titanic, a dupla Leonardo de Caprio e Kate Winslet repete a parceria interpretando os protagonistas do filme, Frank e April Weeler. Na vizinhança da rua Revolutionary Road, subúrbio de Connecticut, o casal Weeler chama atenção pela beleza e são vistos como pessoas distintas e especiais. Na intimidade, porém, vivem uma relação distante e apagada, bem diferente da intensidade sentida por eles no início da relação.

Enquanto Frank procura em outra mulher a emoção que não sente mais em casa, April remoe em pensamentos nostálgicos a vida que sempre sonhou mas que jamais teve a oportunidade de desfrutar. Ele tem um emprego burocrático que detesta. Já ela trocou a fracassada carreira de atriz pela desconfortável vida de dona-de-casa.

Quando a crise da relação chega ao ápice, a separação iminente é substituída por um plano futuro. Para salvar o casamento e terem a vida que sempre sonharam, April sugere uma mudança para Paris. A cidade iluminada se encarregará de elevar as ambições perdidas e a prosperidade revitalizará a relação.

A idéia de dar um passo maior que a perna é vista como absurda pelos amigos e colegas de trabalho do casal. O futuro triunfante que almejam faz com que se esqueçam do presente. A sucessão de erros de Frank e April começa a inviabilizar a vida perfeita pretendida.

Nesse emaranhado de dificuldades e decisões precipitadas, a única pessoa que parece entendê-los é o vizinho John Givins (Michael Shannon). Recém chegado de um hospital psiquiátrico, ele tem uma sinceridade desconcertante e os faz enxergar o âmago da vida de mentiras que os repele a admitir um casamento falido. A pessoa errada dizendo a coisa certa sobre o que parece certo mas está errado. Ou o errado é o certo? É complicado…

Indicado a três Oscars, incluindo a pulsante e meteórica performance de Shannon, Foi Apenas um Sonho é um drama pesado sobre as armadilhas de uma relação. Assim como em Titanic, a química da dupla Di Caprio- Winslet funciona bem na tela. Só mesmo dois astros em grande fase para compor com excelência e naturalidade as longas discussões que travam no filme.

Sam Mendes faz um trabalho discreto numa narrativa direta e elucidativa, sem curvas intrincadas onde as respostas embora óbvias não são fáceis de admitir. Um bom filme, mas não inesquecível. Com alguns cortes, poderá fazer sucesso na Sessão da tarde daqui uns cinco anos.

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Dúvida

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[Mistério abala comunidade religiosa em filme que encabeçou quatro indicações de elenco no Oscar]

Na superfície ornamentada da sacristia da igreja St. Nicholas, no Bronx, o padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman) declama seu sermão com palavras macias e serenas: “O que vocês fazem quando não têm certeza de algo?”. Estamos em 1964, ano seguinte à morte do presidente John Kennedy, a quem o pároco utiliza como metáfora para exemplificar o estado de desorientação que por vezes sentimos. Seu rosto revela feições harmoniosas na medida em que desfaz os nós de sua parábola sobre o sentimento de dúvida, tópico principal do seu discurso.

Em meio ao sermão, um vulto negro se levanta e anda na direção do padre. As botas lustrosas espocam no chão em passadas pesadas e onipotentes. Quase ao pé do altar, a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep) ouve a oratória de queixo erguido e olhar de reprovação contida. O rosto impetuoso não esconde a frustração.

Com esse prelúdio de seres opostos podemos pressentir a atmosfera de conflito que virá em Dúvida, segundo trabalho do há muito tempo oscarizado diretor e roteirista John Patrick Shanley. O filme destacou-se na cerimônia do Oscar por arrebatar cinco indicações, quatro delas nas categorias de atuação.

Meryl foi indicada a melhor atriz e Hoffman a ator coadjuvante, enquanto Viola Davis e Amy Adams se enfrentaram no prêmio de atriz coadjuvante. A outra indicação foi pelo roteiro adaptado de uma peça de teatro escrita pelo próprio cineasta.

O epicentro da polêmica abordada no filme se dá na escola da paróquia, onde a irmã Beauvier imprime aos alunos e professores um regime mão de ferro .“Lamento terem permitido canetas-tinteiro aqui na escola. Hoje em dia é tudo do jeito mais fácil”, pragueja ela para uma professora. Padre Flynn tem idéias moderadas e tenta aos poucos fazer a diretora adaptar-se aos novos tempos. As idéias progressistas do pároco e seus sermões nada convencionais perturbam a religiosa devota.

E quando irmã James (Amy Adams) levanta suspeita dele num suposto caso de abuso sexual a um aluno, irmã Beauvier encontra o bote certeiro para expulsá-lo da paróquia. Aí é que as interrogações se salientam sobre nossa cabeça. Será que o padre, tão bonzinho e dedicado, é realmente o culpado? Ou a diretora, mais simpática do que uma bacia de roupa suja, é paranóica e se apega em convicções cegas?

Embora o conflito travado entre os religiosos na trama se passe nos anos 60, a questão reflete um problema atual do sacerdócio católico: a pedofilia. Shanley, que no currículo de diretor tem apenas Joe contra o Vulcão, conseguiu em feito notável em 1987. Com o roteiro que escreveu para Feitiço da Lua , ajudou a cantora Cheer a ganhar o Oscar de Melhor Atriz.

Em Dúvida, o grande mérito do texto é impor uma dinâmica de mistérios e incertezas nos personagens. O menino que sofre o abuso, por exemplo, demonstra o oposto do rancor quando vê o padre. A mãe do garoto (Viola Davis) talvez saiba a verdade, mas prefere ser obtusa em relação ao assunto. A irmã James, por sua vez, ora acredita ora duvida do que aconteceu.

O desfecho distribuiu pistas para os dois lados para onde a verdade potencialmente se enverga. E aí está um grande mérito do filme. O dualismo dúvida versus certeza, tolerância versus ceticismo travado pelos protagonistas é uma pedrada que escurece o lago de soluções idealizadas pelo espectador. E como o padre Flynn antecipa no seu primeiro sermão: “A dúvida pode ser um elo tão poderoso e sustentável como a certeza”.

Em Dúvida, a intenção de Shanley como cineasta é das melhores, mas sua inexperiência atrás das câmeras ofusca um pouco o resultado. Já as atuações de Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman são tão grandiosas quanto inverossímeis. Embora dêem um show de interpretação vemos de mais os atores e de menos seus personagens. É o que se pode chamar de incongruências do talento…

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Valsa com Bashir

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[Documentário de animação expõe os horrores de uma guerra. Ou será animação documental? ]

Até onde pode chegar a insensatez humana? A indagação exposta pelo diretor e roteirista Ari Folman no filme Valsa Com Bashir é na verdade uma pergunta retórica. A resposta tem um tom amargo e reflete as escoriações de uma consciência mutilada pelos horrores da guerra. Movido pelo sentimento de culpa, o cineasta isralense usa a animação para realizar seu desabafo autobiográfico da terrível experiência vivenciada no Líbano em 1982, no episódio conhecido como massacre de Sabra e Shatila.

Estima-se que mais de três mil refugiados palestinos tenham sido mortos pela milícia libanesa cristã em retaliação a morte do líder Bashir Gemayel, ocorrida em uma explosão durante a Guerra do Líbano (1975-1990). O genocídio contou com o fuzil amigo do exército israelense, sob o endosso do então Ministro da Defesa, Ariel Sharon. Folman estava lá. Mas não lembra de nada…

[Brilho eterno de uma mente sem memórias]

Tudo começa numa mesa de bar onde um amigo seu desabafa sobre o estranho pesadelo que vem tendo há dois anos e meio e se repete todas as noites. Nele, aparecem 26 cães que rodeiam sua casa em busca de vingança. Segundo ele, trata-se de uma recordação do primeiro dia de ocupação de Israel num campo de refugiados palestinos em Beirute, onde o ex-combatente alega ter lutado com Folman.

Acontece que o protagonista/diretor não lembra absolutamente nada. Logo após a conversa com o companheiro do exército, aparecem alguns flashbacks que embaralham ainda mais suas reminiscências do passado. Na tentativa de resgatar outras lembranças e saber a verdade sobre si, ele busca o auxílio de um terapeuta.

Aí vem um outro dilema. Será aquilo tudo aconteceu de verdade? O terapeuta sugere que suas lembranças podem ter origem em “buracos negros” da mente que associados a outras imagens não relacionadas com sua vida, acabam criando uma memória forjada do passado. Ou seja, a participação na guerra pode ser fruto da sua imaginação combinado com o equivoco do amigo. Maculado pela dúvida, Folman segue o encalço de outros personagens do conflito para saber a verdade dos acontecimentos e sua responsabilidade no incidente.

E nesse processo cognitivo de recuperação da memória é inevitável ele tenha que se deparar com a realidade da guerra. E afinal, ele participou do genocídio? A resposta fica para o espectador que assistir ao filme. Até onde pode chegar a insensatez humana? Essa, a questão primordial de Valsa com Bashir, dá pra responder: não há limites. A guerra, assim como a inveja, é uma merda mesmo… A 2° guerra mundial pode ter terminado há décadas, mas no lugar dela existem outros guetos de Varsóvia espalhados pelo mundo…

[beleza de concepção!]

A inusitada combinação de documentário com animação, é um diferencial importante em Valsa com Bashir. Mas o mérito não está na idéia em si, que não passa de um mero recurso de estilo. O triunfo de Folman está mesmo é no apelo visual das imagens. Mais do que apenas ilustrar o off das entrevistas feitas por ele com os ex-combatentes e testemunhas do massacre, o longa tem o poder de sobrepor o realismo à despretensão que se espera de uma animação, mesmo que direcionada a adultos.

Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e vencedor do Prêmio Cesar na mesma categoria, Valsa com Bashir estende seus méritos além da mensagem pacifista. Pois é também uma autocrítica, não só a Israel, mas a todos os países - sejam eles católicos, judeus ou muçulmanos- que com suas ações egoístas e precipitadas fazem do Oriente Médio um inferno.

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