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Críticas

Donnie Darko

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Donnie Darko é muito mais do que um amontoado de cenas belissimamente gravadas, é muito mais do que um roteiro bem amarradinho (mesmo não parecendo à primeira vista), Donnie Darko não é apenas mais um filme inteligente a se assistir e a se desvendar.

Donnie Darko é um universo. Um universo criado na mente de um adolescente do final dos anos 80. Até que ponto esse universo fica recluso à mente de Donnie é uma questão muito mais complexa do que supostamente possa parecer, tudo foge do controle quando seus devaneios colocam em risco a integridade sua e das pessoas que o cercam.

Donnie (Jake Gyllenhaal) é um jovem que é acometido por crises de sonambulismo e esquizofrenia, e, quando acordado certa noite, é avisado por um coelho gigante que o mundo acabará em 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos. Então uma contagem regressiva se inicia e a cada novo momento coisas acontecem que fazem com que Donnie acredite que há algo de errado e que a profecia possa ser de fato real.

O filme começa quando o jovem Donald (Donnie) Dako acorda em mais um de suas crises de sonambulismo e parece entender que algo aconteceu, ou que vai acontecer quando olha para o horizonte. Na cena inicial já temos uma palhinha da trilha sonora inspiradíssima (e inesqucível) do filme. A trilha é usada em outros momentos para a apresentação das personagens em planos de câmera rápidos e em momentos chave do filme (utilizada com a mais perfeita coerência diga-se de passagem).

O diretor e roteirista Richard Kelly que aqui faz seu primeiro trabalho, consegue criar uma atmosfera de mistério e suspense sem perder em momento algum a humanidade para com suas personagens.

O universo criado em Donnie Darko é tão abrangente que vai muito além da esquizofrenia, do medo, das paixões, das relações familiares, do suspense, do crime, de questões metafísicas, de viagens no tempo, de sacrifícios. Donnie Darko é um universo maior do que tudo isso junto. Apenas assistindo (e dependendo até mais de uma vez) para se entender o quão grandioso é.

O elenco está completamente impecável. Jake Gyllenhaal é sem dúvidas lunático (isso é um elogio). As questões políticas, estão lá, o conservadorismo de uma época (a estória se passa no ano de 1988), o confronto entre realidade e ilusão, entre ciência e religião, tudo está abrangido pelo universo de Donnie.

Muito desse universo pode passar despercebido em primeira instância tamanha a riqueza e sutileza de detalhes. Há personagens de passagem apenas visíveis sem fala alguma, que simplesmente parecem que estão ali sem propósito algum, mas que tem sim, e estão ali para fazer elo com acontecimentos importantíssimos do filme. Por isso uma segunda, talvez uma terceira análise não seja pouco.

Algo magnífico criado pelo estreante Richard Kelly são os diálogos. Cito aqui sem comprometer a surpresa e nem estragar a magnitude de nenhum por exemplo: a conversa sobre os Smurfs, a conversa de Donnie com o professor, todas as conversas com a psiquiatra e a principal, o sussurro de “Vovó Morta” ao ouvido de Donnie.

Compreender o universo do filme não é fácil, mas é um deleite a parte a cada lacuna preenchida. Cada cena vista, cada emoção sentida. Donnie Darko não basta apenas ver, tem que sentir.

É um filme imperdível para todos aqueles que não julgam o cinema apenas como um bom passatempo, ou um passatempo descompromissada de final de tarde. Se Donnie for visto com essa intenção certamente será detestado porque não será entendido. Agora, para quem gosta de colocar a massa cinzenta para funcionar e sabe apreciar a originalidade e qualidade, é sim, imperdível.

Donnie Darko é uma obra única, incomparável e inesquecível.

Cellar door!

Críticas

Harry Potter e a Pedra Filosofal

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O início da era Harry Potter foi em 2001. Naquela época, já sabiamos que cada livro teria seu respectivo filme, o que nos livra daquela ideia de longas feitos com o único objetivo de ganhar mais e mais dinheiro (sobram exemplos nesse caso). A história do bruxinho, que teve os pais assassinados e foi deixado na casa dos tios (trouxas), é contada nesse primeiro capítulo de forma bem completa e interessante, embora também tenha seus erros - o que é normal, já que adaptar um livro como esses, adorado por milhares de pessoas, nunca será das tarefas mais fáceis.

Steve Kloves, roteirista da série, faz um primeiro trabalho com bastante competência. O principal aspecto, ao meu ver, foi se apegar completamente à história original. Assim, Kloves consegue agradar tanto aos aficionados que reclamam das partes cortadas quanto os que nunca sequer ouviram falar do bruxinho mais famoso do mundo - que têm a chance de se interar sobre os principais eventos da trama. O que ajuda os iniciantes é o tamanho do longa; quase duas horas e quarenta foram mais do que suficientes para explicar muita coisa, embora passagens importantes mereciam um maior aprofundamento: "Quem é especificamente Lord Voldemort?", "E aquele dragão do Hagrid, o Norberto?". Alguns desses detalhes ganham novas perspectivas nos próximos episódios, mas é possível que os marinheiros de primeira viajem fiquem ligeiramente confusos.

Para os já calejados fans da série, vale a pena se deliciar com os diálogos - alguns deles idênticos aos do livro ("cabelos ruivos, vestes de segunda mão... você deve ser um Weasley"). No entanto, se o roteiro merece aplausos por ser fiel à obra literal, é difícil dizer o mesmo do diretor Chris Columbus. Alguns cortes excessivamente rápidos prejudicam o andamento da trama, que é mal dirigida em muitas passagens e no final pouco emociona. A batalha de xadrez vencida por Ron Weasley tinha tudo para ser a mais bonita, rica e divertida, mas sob a tutela de Columbus se tornou apenas uma cena legal. O mesmo podemos dizer do encontro entre Harry Potter e o Lorde das Trevas, que era para ser empolgante, aterrador; no entanto, é monótono, chato.

Se "Harry Potter e a Pedra Filosofal" fica devendo em alguma coisa (e fica!), a culpa passa longe de ser dos garotos. Ainda jovens, nem adolescentes, meros meninos recém-saídos da infância, eles fazem um trabalho muito interessante. Longe de ser admirável, é verdade, pois nessa época ainda tinham muito o que aprender, mas bem determinados e carismáticos. Emma Watson consegue fazer uma Hermione Granger perfeita: transmite toda sua chatice e convencimento do primeiro episódio com propriedade. Daniel Radcliffe e Rupert Grint, por sua vez, também demonstram talento, nada de mais, mas promissor. No primeiro filme ainda vemos que Alan Rickman cai como luva na personagem do enigmático Severo Snape - pra mim o melhor da série!

"Harry Potter e a Pedra Filosofal" tem ótimos momentos, contudo, nada merecedor de grandes ressalvas. O clima, que nos episódios posteriores é mais sombrio e adulto, aqui ainda é infantil, direcionado mais para os jovens do que propriamente para os mais velhos. O figurino é belíssimo, assim como em toda a série, além de uma trilha sonora que embala o longa de maneira muito gostosa. Os efeitos especiais têm ótima qualidade, justificando a quantia milionária investida. Por fim, A Pedra Filosofal é um excelente início na saga do bruxinho Harry Potter; tem seus erros, como já era de se esperar, mas no final, seu saldo é positivo: agrada aos fans mais experientes e também aos que querem se iniciar nesse maravilhoso mundo de fantasia.

www.moviefordummies.wordpress.com

Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Amadurecimento é a palavra que define esse último filme da série de Harry Potter.

A série contava com características muito infantis, nos dois primeiros filmes podemos ver finais felizes, mas J.K. Rowling escreveu a série sem comprometer seu fim desde o primeiro filme, o resultado acabou sendo o amadurecimento dos personagens e das histórias dos filmes, a criatividade de J.K. Rowling em criar mais personagens, mais locais, mais magias e um crescimento fenomenal na qualidade das histórias foram sem dúvida uma das melhores adaptações de um livro para um filme.

O Enigma do Príncipe é uma obra-prima. No começo eu pensei que o filme só seria bom, mas ele acabou sendo mais, muitos podem pensar que estou exagerando sobre o filme, mas está nota 10.0 vem de várias características não só do filme, mas da série inteira.

Nos primeiros filme vemos que em nenhum momento foi confirmada a morte por inteira de Voldemort, e isso acabou me deixando bem interessado em saber como seriam os próximos filme, o que pode ser feito para incrementar mais da história de Harry Potter? Simples, criar mais do que podemos ver, amadurecendo os personagens.

O amadurecimento

É comum pensar que continuações em que os personagens vão crescendo poderemos esperar o crescimento físico e mental dos personagens, mas em Harry Potter foi muito diferente, pois os personagens não só cresceram de acordo com a idade e a mentalidade, mas o que cresceu foi a variação e inteligência do filme, que na minha opinião, a cada filme de Harry Potter que fosse lançado deveriam mudar a faixa de etária para o filme, o que é bom porque o filme acaba se tornando uma adaptação mais fluída e deixa os que não são fãs do bruxinho mais interessados em ver os outros filmes. O amadurecimento gera um roteiro, direção e atuações tão variadas que acaba beneficiando equipe de produção do filme.

O roteiro

Escrito por Steve Kloves com a difícil tarefa de adaptar uma história que para se tornar um filme é preciso eliminar cenas desnecessárias e pontuar fatos que podem deixar a história mais relevante quanto a produção de um filme. Imagino Steve Kloves lendo diversas vezes o livro, cheio de rabiscos para tentar enxergar a história como um filme. A persistência de Steve Kloves no roteiro foi muito corajosa e árdua, crédito para o roteiro e roteirista por sua dedicação.

A direção

Como no último filme, a direção coube a David Yates que dessa vez usa paradoxos de flashbacks e incrementa efeitos visuais tão diferentes do que os outros que podemos ver em outros filmes, Yates conseguiu perceber esse tal amadurecimento e dar um salto gigante a ponto de fazer uma obra-prima das adaptações de filmes de magia.

Os atores

J.K. Rowling tinha tanta certeza de que seu livro seria adaptado para algum livro que sabia que além de seus personagens crescerem e amadurecerem, ficaria facíl para os atores se instalarem de acordo com o filme. O amadurecimento dos atores sobre os personagens é uma coisa que já estava crescendo a muito tempo, mas agora chegamos ao auge desse amadurecimento que chegou ao ponto final, pois ainda teremos mais dois filme e estes seram os mais complicados para os atores, pois estarão que estar no mesmo estilo neles que são divididos em parte 1 e parte 2, O Enigma do Príncipe nos dá uma idéia de como vão ser as atuações desses atores nas Relíquias da Morte.

Conclusão

Finalmente, um Harry Potter que chegou ao status de obra-prima, agora podemos esperar ansiosamente as continuações que ao meu ver seram outras duas obras-primas.

Críticas

Não Estou Lá

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And I'm also hesitating by temptation lest it runs

Which it don't follow me

But I'm not there, I'm gone

I'm Not There

A vida e os sucessos de Bob Dylan retratados com inteligência, originalidade e assiduidade por seis diferentes atores, em um trabalho de reconstrução de época impecável sob uma direção ousada de Todd Haynes.

Bob Dylan. Eis um nome que entrou definitivamente para a história da música por meios contraditórios. Entretanto, é um nome de respeito, pois o homem que lhe criou contribuiu e muito para a formação de estilos musicais de época diferenciados, que vão além do rock, do country, do pop e elevou o status do estilo “folk” para o topo das paradas. Dylan, com seu jeito único, ficou conhecido como um cantor de inúmeras facetas, uma contradizendo a outra. E foi com o intuito de biografar nas telonas, a vida de sucessos e polêmicas desse ícone musical, que Todd Haynes acabou transformando o título de uma canção em nome de filme. Não Estou Lá, tradução literal da música que antecede essa análise, é um filme poético sem exagerar nas suas filosofias. Seis atores interpretam o mesmo personagem em épocas diferentes da vida, exprimindo seus sentimentos e pensamentos. E para fazer da forma mais interessante possível, Todd Haynes resolveu diversificar, seja nos próprios atores, na fotografia, seja no roteiro. O diretor fez o quis e com competência, resultando em um dos melhores filmes de 2007.

Ousado, inteligente, criativo, transparente. Dessa vez não estou falando da ousadia, inteligência, criatividade e transparência de Bob Dylan, mas sim, em uma franca tentativa de exprimir em poucas palavras o que significa a direção de Todd Haynes, não só pra mim, mas como para o filme em si. Acontece que o lugar-comum do roteiro linear fica de lado para um retrato muito mais aprofundado de um artista de talento absurdo, cujas determinações alcançam o limite poético do sentido da vida. O comandante pensou em todos os detalhes para escrever, junto com Oren Moverman, um roteiro que estivesse à altura daquilo que representou e continua representando a música de Bob Dylan tanto aos jovens, como para o mundo em si. Portanto não é de se espantar que 'Não Estou Lá' deixa de ser uma simples biografia para ser uma verdadeira poesia, estereotipada talvez, mas com os méritos de uma obra-prima. O trabalho do mesmo diretor de Longe do Paraíso inova e capricha nos mais importantes detalhes. Desde a fotografia variada, tanto no preto-e-branco como em cores vivas, porém poentes até a reconstrução de época impressionante, que deixa os anos 60 e 70 em um retrato perfeito daquilo que realmente foi. Os fatos que garantem as sequências do filme são inseridos na tela despreocupadamente, mas sem falhas, com vivacidade única e fidelidade.

Na verdade, o que deixa o longa ainda mais interessante, partindo do pressuposto que o leitor não ache somente a vida de Bob Dylan interessante o suficiente, são as atuações. Como já foi mencionado, seis atores interpretam o cantor em fases de sua vida onde ele aparecia fisicamente e moralmente alterado.

Marcus Carl Franklin – Woody Guthrie

A infância e o nascer do ícone

Eis o primeiro Dylan. Interpretado aos dez anos de idade pelo menino negro – pausa para reflexão: negro? Não, Bob Dylan não sofre de vitiligo – Marcus Carl Franklin é nessa época o ícone ainda aspirante a cantor, mas que viaja em vagões de trens, entretendo os outros que ali lhe fazem, sem outras opções, companhia, com seu velho e inseparável violão. Demonstrando ser nada além de um menino inocente e sonhador, apesar de suas atitudes e modos de falar dizerem exatamente o contrário, o aqui denominado Woody carrega a sua maleta do violão com as inscrições: ESSA MÁQUINA MATA FASCISTAS!, comprovando justamente a impressão que ele passa aos espectadores. O jovem menino, agora me referindo ao ator, faz um trabalho invejável a muitos veteranos, ou será que eu deveria dizer, canastrões? O fato é que Franklin é um retrato simples do homem complexo que viria a ser interpretado em ordem aleatória, mas tardiamente por:

Christian Bale – Jack Rollins

O Dylan folk-singer

Nessa altura da história estamos em meados dos anos 60, e Dylan é o mais novo símbolo da esperança jovem da época. Abusando do estilo “folk”, Bale interpreta mais uma faceta do cantor norte-americano. Apesar de recusar o rótulo de “cantor de protesto”, as suas canções gravadas nessa época tornaram-se clássicas desse tipo de música. Só para não deixar passar em branco, uma dessas imortais composições é ”Blowin' In the Wind”, que mais tarde tornaria-se um hino do movimentos dos direitos civis. Essa e outras músicas fizeram parte do segundo álbum do cantor, lançado em 1963, sendo o primeiro, em 1962. ”Masters of War” é mais um exemplo de canção que aborda temas sociais e políticos em uma linguagem diferente, poética. E Bale, com um trabalho de voz inimaginável, compõe o seu Dylan de forma coerente, ainda que o destaque do filme ainda esteja por vir.

Cate Blanchett – Jude Quinn

Retrato perfeito de uma das época mais conturbadas de Bob Dylan

E ela vem logo, imponente e estupenda como sempre. Cate Blanchett é de longe, a melhor de todos os atores que interpretam Dylan, agora com o nome de Jude Quinn. Nesta fase, tudo no filme é diferente, pois o cantor acabara de passar por um período de transição que custou muitos fãs da época do folk. Agora, com um estilo mais próximo do rock, o ícone deixou suas músicas “protestantes” de lado para compôr canções que tratam de temas sentimentais, como desilusões amorosas, amores perdidos, surrealismo, liberdade pessoal, usando um estilo que usa muito das influências passadas pela “poesia beat”. Ainda que chamado de “traidor” pelos tais fãs que o aclamavam pelo estilo de antes, atraiu novos olhares, incluindo os da crítica e são dessa época os álbuns que mais consagrariam Dylan na música, com hits que se tornariam mais tarde, clássicas de seu repertório. Como o verdadeiro e arrebatador Bobby, Cate Blanchett simplesmente arrepia em cenas onde o talento dela aflora todos os limites do conhecido e atinge um ponto altíssimo na sua carreira, em um trabalho perfeito pelo qual ela recebe (mais) uma indicação ao Oscar, perdendo injustamente, diga-se de passagem, para a atuação de Tilda Swinton em Conduta de Risco. Blanchett participa de um dos momentos mais interessantes do filme, quando ela dá a entrevista coletiva aos repórteres ingleses e na troca de farpas com o apresentador local, além de uma passagem única com os Beatles. Vale ressaltar que a fotografia comandada por Edward Lachman atinge mais uma vez a perfeição, com um preto-e-branco impecável, além do trabalho do restante da equipe de arte, que transforma cenários e vestimentas em um desfile de significância.

Ben Whishaw – Arthur Rimbaud

Alter-ego poético e sequência única dividida

Mais uma vez e somente com o preto no branco, a vida de Bob Dylan atinge aleatoriamente uma das fases mais descomunais de sua carreira. Ben Whishaw é coeso, o que menos aparece em 'Não Estou Lá', mas que apresenta lições de vida e reflexões consigo mesmo. É uma passagem simples, onde Haynes opta por transmitir ao público separadamente a alter-ego do cantor, de forma clara e poética, assim como o próprio fazia. Whishaw realiza o seu trabalho com maestria, ainda que sem brilho, a surpresa de vê-lo atuando representando somente no olhar em certas ocasiões, mais um ponto a favor do excepcional diretor.

Heath Ledger – Robbie Clark

Metido a ator, pai e amante

Não vou nem perder meu tempo explicando o porquê dos atores que interpretam o mesmo personagem no filme serem tão diferentes uns dos outros, e por assim ser, tão diferentes do próprio Bob Dylan. Acho que depois de tanto, foi possível perceber que mais do que nunca as aparências não importam no longa de Todd Haynes. Se já começa com uma criança negra interpretando o cantor nessa idade, não é de se espantar que uns ou outros não se pareçam fisicamente, nem em qualquer outro aspecto, que não seja o psicológico. Heath Ledger é um daqueles atores que fazem por merecer todos os elogios do mundo, como o fez nesse filme, mas recebe críticas por não ser parecido com Bob Dylan. Agora, isso não fez diferença alguma no final, fez? Eu acredito que não, uma vez que Ledger soube passar o lado pessoal do cantor americano, com o relacionamento fracassado que teve com Claire, as filhas do casal, e excursões aos sets de filmagens, sendo parte do roteiro uma cena na qual ela atua em um beco. Ledger é grosso quando deve ser grosso, sensível quando deve ser sensível, verdadeiro quando deve ser verdadeiro, logo Dylan quando deve ser Dylan, e portanto, acho que o físico de fato acabou não importando tanto quanto se imaginava.

Richard Gere – Billy The Kid

O isolamento do cawboy

E chegamos então ao último Dylan do filme, Richard Gere. Apesar da pouca afeição que tenho pelo ator, devo admitir que ele fez um trabalho surpreendentemente bom como o cantor, agora fazendo-se passar por um homem-comum, tentando defender a sua cidade e buscando nunca ser reconhecido. Vivendo com sua cadela, ele segue à risca uma das leis criadas por ele, que acabou servindo de contradição para a própria: Nunca crie nada. Você será eternamente perseguido por isso. E não é que é verdade, pelo menos nesse caso? Nessa fase, a cena na qual a menina morta tem seu caixão levantado, é uma das mais belas do filme, e uma das mais poéticas também.

Enfim, apesar da ordem cronológica que segue nessa diferenciada biografia de Bob Dylan, os fatos aparecem de forma documental, aleatória, mas nunca perdendo o fio da meada e o propósito, em um trabalho excepcionalmente bom em todos os detalhes. Na verdade, o rumo final que tomam as faces do cantor aparecem justamente no término do filme, apresentando entre outras coisas, o ícone que se entrega à religião ainda na fase responsável por Christian Bale, convertendo-se em um pastor. Desde as atuações importantes, à direção inteligente de Haynes, ao roteiro coerente dele e de Moverman, até a reconstrução de época belíssima. Não Estou Lá é um filme único e coerente, ainda que possua um ritmo um tanto cansativo, a trilha é, obviamente, encantadora e o texto de uma licença poética incrível. Excelente qualidade sonora e visual, como poucos.

Goodbye, my lady

Críticas

Estranhos, Os

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Liv Tyler, o único motivo para assistir ao filme.

Não eu não estou sendo ruim. Na verdade esse filme traz mais uma estória dessas que estamos acostumados a ver e que está recheado dos clichês do gênero. Logo ao começar é impossível não relembrar outro filme, com a mesma temática, "Temos Vagas". Estrelado por Kate Beckinsale e Luke Wilson, "Temos vagas" mostrou que filmes do gênero suspense ainda tem um pouco que seja a oferecer, porém voltemos para "Os estranhos". A semelhança entre os dois longas é enorme. Porém por incrível que pareça, este longa deixa muitas pontas soltas ao final da trama, apensar de criar mais tensão que o outro.

Um casal - sempre casais! - vão passar a noite em uma casa para comemorar o pedido de casamento. Chegando lá três estranhos começam a amendrontá-los com perseguições dentro a própria casa e seus arredores.

Bem, o que começa legal com o passar dos minutos torna-se enfadonho e cansativo. Explico. No começo os três estranhos parecem apenas quererem amendrontar o casal, e não matá-los de verdade, já que houve inúmeras oportunidades de matar tanto o noivo quanto a noiva, porém sempre eles desapareciam, apenas criando tensão no casal. Porém com o passar dos minutos isso torna-se cansativo e o espectador começa a se perguntar: "Qual o real motivo e interesse dos estranhos no casal principal?".

Outro erro do longa foi deixar muitas pontas soltas, vejamos algumas. Primeiro, logo no começo somos apresentados a um casal de namorados que passaram por uma suposta crise após uma festa de casamento, porém até o final essa crise não é esclarecida. Seria apenas por que ela rejeitou o pedido de casamento?! Segundo e principal erro, o motivo pelo qual os estranhos estavam matando-os. Parece apenas que eles mataram por brincadeira. E no final nos deparamos com a pérola e pior frase do filme, quando Krirsten pergunta por que eles estavam matando-os, uma das estranhas diz: "Por que vocês estavam em casa!". Isso fez o longa tornar-se uma película beirando ao rídiculo, afinal ninguém mata apenas por matar. Terceiro, se os estranhos queriam os matar por que não fizeram isso quando tiveram oportunidade durante o longa? Oportunidades não faltaram, e no final percebemos apenas que tudo isso foi apenas para dar tempo à produção, já que eles não tinham nenhum motivo aparente para estarem assassinando o casal principal.

Diante de tantos erros o que fica de bom é a atuação de Liv Tyler, que toma a frente dessa produção. A atriz demonstra está entregue ao personagem de corpo e alma, diferente de seu parceiro Scoot Speedman. Mas o filme não tem apenas erros, alguns elementos também foram positivos. Como por exemplo o longa não seguir o estilo apelativo e sanguíneo de tantos filmes atuais - "Jogos Mortais", "O albergue" e o péssimo "Viagem Maldita". Manter o foco no suspense também ajudou. E a trilha sonora serviu para criar tensão, e o incrível foi que usaram música country e ópera nas horas de mais suspense, deixando um clima nervoso no ar.

No final temos mais do mesmo, com um pequeno diferencial aqui, a beleza e talento de Liv Tyler.

Críticas

De Repente, Califórnia

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Antes de mais nada, uma denúncia: a tradução de Shelter para ‘De repente Califórnia’ é um crime linguístico e cinematográfico. Passa a impressão de uma aventura sobre ondas com adolescentes desvendando histórias de um amor fácil e juvenil. Traduzir ao pé da letra (Shelter quer dizer ‘abrigo, refúgio’ em inglês) seria mais honesto com a trama e com o espectador.

Bem, depois de passada a má impressão, nos vemos diante de um belo filme, tanto pela delicadeza das atuações e dos detalhes bem pensados, quanto pelas cenas de praia, pôr do sol, horizonte e oceano. A temática delicada – que não deveria ser tão delicada nestes dias modernos, mas infelizmente ainda o é - trata da descoberta da homossexualidade de Zack (Trevor Wright), jovem surfista de cidade pequena. A transição já seria difícil por si só no que diz respeito à aceitação da família e de si próprio, em um universo preconceituoso em que os meninos são educados desde cedo a agir ‘como machões’. Porém, some a isto tudo os fatores escassez de dinheiro, família desestruturada e responsabilidades precoces, que você entenderá a complexidade de Shelter.

O filme fez sucesso em festivais de cinema gay (por aqui, no Mix Brasil 2007), mas entrou no circuito comercial por mérito próprio. O time de atores não é muito famoso – mas são todos belíssimos, vale lembrar - e é o primeiro longa de Jonah Markowitz (ele já dirigiu curtas e foi diretor-assistente de arte em Rocky Balboa e Apha Dog). É verdade que a inexperiência deixa certas falhas; a repetição em excesso de cenas românticas dá um tom de apelação novelística, e cortes descuidados provocam uma transição brusca de cenas. Mas nada de grave. O conjunto constitui uma bela história de amor, seja para gays ou heteros, e a luta por um lugar ao sol da personagem principal traduz a realidade de jovens do mundo todo.

Quando entrou em cena ”O Segredo de Brokeback Mountain”, os mais conservadores caíram pra trás com a novidade – ninguém imaginava que estaria vivo pra ver cenas de sexo entre Heath Ledger e Jake Gyllenhaal. Já na comunidade gay, a conquista: o romance ‘diferente’ chegou à academia e arrebatou 3 estatuetas, transformando anos de ódio e preconceito em poeira. Méritos à parte, ainda faltava alguma coisa: os casais gays não teriam direito a um final feliz? Pois bem, Shelter é a alternativa para quem vive longe das fazendas de Brokeback, de realidade menos rústica e mais plural. Os dramas de Zack não são nunca subestimados, mas há a presença do bem sucedido Shaun (Brad Rowe) para dar apoio em horas difíceis que se desvendam – pasmem! – superáveis.

O filme trata exatamente da frágil linha que separa a persistência da desistência, mostra como é difícil se libertar da inércia em nome de amores proibidos ou de sonhos profissionais. O pobre Zack se vê preso à cidade enquanto todos os amigos desertam para fazer faculdade, pois precisa sustentar a família e cuidar de um filho que não é dele (seu sobrinho, interpretado pela gracinha-mirim chamada Jackson Wurth). O tédio vai se mostrando aos poucos infelicidade com uma vida nada atraente, e os desencantos do jovem se transformam em expressão artística, proporcionando bons desenhos e grafitagens com base na cenografia. O surf aqui representa muito mais do que manobras aventureiras sobre águas, e se traduz perfeitamente (e olha eu reclamando do título de novo) como um refúgio de toda aquela vida pacata e irrelevante.

Shelter é um filme daqueles que não promete muito, mas cumpre. Não é chocante nem reacionário, pois apresenta gradativamente aqueles garotos do surf – nem machões, nem afeminados - até que aceitemos seu amor sem estranhamento. Também acerta na escolha da trilha sonora (um surf music leve e relaxante), nas atuações impecáveis e na trama bem costurada. É, acima de tudo, um lindo romance, que chegou de mansinho defendendo uma causa da qual todos nos tornamos adeptos após assistir.

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Encantada

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Discretamente, Amy Adams é o destaque de Encantada, que como um conto de fadas contemporâneo, é bonitinho, mas bobinho.

Pra quem cresceu assistindo à animações da Disney, voltar àquela época com um filme parecido, porém moderno, poderia ser uma experiência muito mais prazerosa do que se imaginava. Acontece que 'Encantada' possui todo aquele esquema de um típico conto de fadas. Gisele é uma moça que vive na terra de Andalasia, com os passarinhos cantantes, criaturas mágicas e ogros. Quando ela finalmente encontra o príncipe encantado dos seus sonhos, a rainha malvada do mundo mágico a manda direto para a vida real, onde passa a viver na tumultuada Manhattan de hoje em dia. Perdida em um lugar completamente desconhecido e usando roupas extravagantes para os executivos, ela conhece Robert, um advogado divorciado. Ele tem uma filha, Morgan, que vai acabar servindo para unir os dois, que logo acabam se apaixonando. Gisele, entretanto, não pode se envolver com ele pois já está comprometida com o príncipe encantado, aquele dos seus sonhos, que também está vindo para Nova York.

A proposta do filme é até interessante, mas com o passar dos minutos a história vai perdendo a “magia” e acaba se transformando em mais uma comédia romântica ambientada em Manhattan. Não fosse pela graça única de Amy Adams, o filme poderia vir a ser algo ainda mais cansativo, e as sucessivas cenas musicais, onde ela sai cantando pelo Central Park, convoca passarinhos para arrumar a sua cama e limpar a casa, ajudam mais ainda para essa sensação de desagrado. Isso sem falar da passagem do baile, clichê que só ela. Na verdade, a sátira que o filme apresenta como um todo é bem melhor que as que estamos acostumados hoje em dia. Entretanto, não é tudo o que se poderia esperar.

As interpretações estão, na medida do possível, boas. Amy Adams, logicamente, foge e vai além de adjetivos mínimos, sendo ela o que filme tem de melhor para oferecer. Patrick Dempsey está mais uma vez com um papel feito para o número de seu colarinho: grande demais para alguém do seu limitado talento. Eu particularmente, não gosto de seu trabalho, de pura inexpressividade e um carisma desnecessariamente exagerado. Outro que está lá, mas é melhor que não estivesse é James Marsden, que apesar de seu papel, pouco aparece, em mais um erro da direção de Kevin Lima, ao qual foi tratar daqui a pouco. O filme também possui outras estrelas conhecidas, como a sempre fantástica atriz Susan Sarandon em um papel que jamais deveria ter pego, pois simplesmente não extrai nada do seu talento, e Timothy Spall, que está bem, pelas poucas vezes que apareceu também. Aliás, “Enchanted” conta com uma narração, para decidir não fugir do típico clichê de contos de fada, que ficou a cargo da excelente voz de Julie Andrews, cujo salário poderia ter sido evitado.

Agora, Kevin Lima dirige com insegurança, apelando para os clichês em um filme que, ao meu ver, deveria fugir deles. Lima está acostumado com filmes infantis como O Natal de Eloise, figurinha certa nas sessões da tarde natalinas, e 102 Dálmatas, assim como a animação Tarzan. O diretor definitivamente não foi o responsável pelo pouco que agrada em 'Encantada', cujos méritos encontram-se na proposta do roteiro, na atuação de Amy Adams e em algumas inspiradas canções da dupla Alan Menken e Stephen Schwartz.

O roteiro por outro lado, só acerta, como já foi dito, na sua proposta. O texto erra em deixar uma história de graça infantil, singela, em um filme com cenas de humor banhadas a uma batida mensagem do amor, não dando enfoque necessário aos personagens principais e privilegiando cenas musicais, que dão a impressão de já terem sido vistas em algum lugar.

Encantada serve como diversão para a criançada e para adultos dispostos a encarar mais um conto de fadas, querendo relembrar a infância ou aproveitar uma comédia simples, sujeita à cenas de amor e canções interessantes, como as indicadas ao Oscar So Close, Happy Working Song e a única que merecia uma nomeação That's How You Know. Ainda assim é bom conferir, afinal de contas, é bobinho, mas serve como diversão.

Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Dois anos após A Ordem a Fênix, as adaptações cinematográficas do bruxinho mais famoso do mundo chegam à sexta parte com "Harry Potter e o Enígma do Prìncipe".

Eis a situação: Voldemort ressurgiu e está solto. Ele e seus seguidores estão mais poderosos a cada dia. Finalmente houve interação entre o mundo dos bruxos e o mundo dos trouxas, como nos é mostrado logo no início, na cena em que Comensais da Morte atacam uma ponte suspensa de Londres (que, mesmo sendo muito boa, nota-se a primeira falha do filme: os cidadãos simplesmente desaparecem enquanto a ponte é destruída). Dumbledore recorre à Harry para aprofundar-se no passado obscuro de Tom Riddle - futuramente conhecido como Voldemort. Eles convencem Horace Slughorn a voltar à Hogwarts para lhes ajudar nesta missão. Harry encontra um caderno sujo e velho, com anotações de um indivíduo misterioso que se entitula "Príncipe Mestiço". O Lorde das Trevas confia uma missão a Draco Malfoy. Em meio disso tudo, os hormônios dos personagens já adolescentes estão à mil: Harry está apaixonado por Gina Weasley; Rony envolve-se com Lilá Brown, o que não agrada Hermione Granger, que por sua vez não esconde seu interesse por Rony.

Este é o filme mais sombrio e lúgubre da cinessérie. Notamos isto logo nas primeiras cenas, em uma Londres cinzenta.

O roteiro de David Kloves é bem ousado. Cortes e alterações foram feitas - não que isto seja alguma novidade, uma vez que é o que geralmente ocorre em adaptações cinematográficas. Porém, Kloves soube captar a ESSÊNCIA para deixar a história impactante e atraente. São 153 minutos envolventes e bem trabalhados. Não seria muito aconselhável que levassem as criancinhas para a sala de projeção, pois de fato há cenas pesadas que não as agradariam muito. Portanto, a classificação etária do Ministério da Justiça, de 12 anos, é justa.

A fotografia, assim como os efeitos especiais, estão perfeitos. Harry Potter sempre foi um show visual.

Houve uma evolução nas atuações. Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson abandonaram as caretas exageradas e atuaram de uma forma mais competente e madura, mostrando melhor as emoções dos personagens. O destaque deste trio vai indiscutivelmente para Rupert Grint, o Rony Weasley, que roubou a cena em suas situações e expressões hilárias.

Michael Gambon conduz Dumbledore firmemente e eficientemente, embora, na minha opinião, até hoje não tenha a serenidade e a "postura" do personagem apresentado nos livros de J.K. Rowling que o diferencia dos demais (Nas duas primeiras partes da saga, era Richard Harris quem o interpretava. Infelizmente, veio a falecer. Entretanto, hoje em dia, provavelmente ele não teria a compleição física necessária). Jim Broadbent nos surpreende com uma interpretação excepcional do professor Horace Slughorn. Maggie Smith (professora Minerva McGonagall), que apareceu por míseros minutos - ou até segundos - em A Ordem da Fênix, teve um pouco mais de destaque - o que é bom, visto que ela é uma excelente atriz. Alan Rickman continua dando um show como o professor Severo Snape, com muito cinismo e seriedade. Risadas histéricas e maléficas e muita loucura fazem com que Helena Bonham Carter, mesmo aparecendo pouco, roube a cena como a louca Comensal da Morte Bellatrix Lestrange. Também nota-se uma evolução com Tom Felton (Draco Malfoy), que conduziu muito bem o seu personagem, o qual sofria uma grande carga emocional.

Ah, é claro que eu não poderia deixar de mencionar Hero Fiennes-Tiffin, atuando como Tom Riddle aos 11 anos. Uma grande revelação: com seu pouco tempo em cena, é capaz de gelar espinhas com um olhar frio e penetrante. Impossível não temê-lo na cena em que Harry vê uma lembrança, com Tom Riddle indagando à Slughorn sobre as Horcruxes - objetos onde guardamos pedaços de nossas almas, mas que é impossível de se fazer sem tirar a vida de alguma desafortunada pessoa. Suas feições e seu olhar, nesta sequênica, são tenebrosos.

Uma pena que, nesta trama tão sombria e bem elaborada, o destaque tenha demasiadamente caído para o romance juvenil dos personagens. Não que isto seja necessariamente um defeito. Afinal... adolescentes e jovens estão com o amor pairando sob suas cabeças, e os bruxinhos não são excessão. No entanto, o roteiro esqueceu de enfocar um pouco mais o núcleo principal - VOLDEMORT. Algumas lembranças que apareciam na narrativa de J.K. foram até mesmo cortadas do filme.

Enfim... uma direção amadurecida de David Yates, um roteiro ousado mas eficiente de David Kloves, atuações soberbas, fotografia e efeitos especiais espetaculares e um clima sombrio necessário, fazem deste "Harry Potter e o Enígma do Príncipe" provavelmente o melhor de todos. Seu saldo final é positivo e causa boas expectativas para a sétima e última parte desta saga: As Relíquias da Morte - que, na verdade, será dividido em duas partes. Resta a nós aguardar o fim que se aproxima.

Críticas

Janela Indiscreta

0,0

Aqui jazem os ossos quebrados de L.B. Jefferies.

Ora, mas se não é o mestre do suspense!

Não há surpresas, não há incredulidade. Janela Indiscreta não passa de mais uma obra-prima que vai direto para a conta do cineasta inglês Alfred Hitchcock, comprovando aquilo que todos já sabiam: um dos diretores mais geniais e completos do cinema nunca entregou um trabalho tão original e magistral (com o perdão da rima) como esse.

É fácil entender o quão gigantesco, mas ao mesmo tempo simples, “Rear Window” consegue ser, ainda mais com Sir Alfred por trás das câmeras. Não tem grandes cenas do suspense, nem uma música esquemática e muito menos assassinatos macabros, espionagem e suspeitas. Não, eu não enlouqueci. Sei muito bem que o filme tem tudo isso e mais um pouco, mas não da forma como era antes, ou pelo menos da forma como ficou conhecido o suspense depois de Hitchcock. 'Janela Indiscreta' abusa e usa da originalidade de um roteiro primoroso de John Michael Hayes, tanto no desenvolvimento dos personagens como em situações curiosas que mostram de uma maneira diferente e divertida o cotidiano das pessoas, aproveitando para apresentar os outros personagens, ainda que não tenham uma participação ativa no longa, ajudam-o a se tornar um trabalho muito mais interessante e excelente.

E para ser atrativo, Hayes escreveu uma história, que a meu ver, é humildemente brilhante. E ela conta como Jeff (James Stewart), um jornalista que começa a suspeitar que um de seus vizinhos de frente está envolvido no assassinato da esposa, uma mulher inválida. O filme já começa impressionando. As persianas do apartamento de Jeff vão se abrindo, em uma analogia perfeita aos cinemas daquela época, cujas cortinas revelam a telona de baixo para cima. E a câmera vai mostrando a visão que ele tem da sua janela. Como diz o próprio título, de forma totalmente indiscreta, o repórter fotográfico tem uma vista panorâmica para as janelas dos vizinhos, observando sempre que pode as suas atividades. Ao contrário do que possa parecer, Jeff não é um personagem vagabundo, que passa o dia inteiro sentado em sua cadeira, xeretando a vida alheia. Na verdade, ele é um personagem digno de pena, pois foi vítima de um acidente de trabalho no qual quebrou a perna, e está terminantemente proibido e até mesmo, incapacitado de se locomover. Para piorar ainda mais sua situação, sua perna quebrada coça, ele tem que apelar para a ajuda de uma colher de madeira, sempre disposta ao seu lado. E como se não bastasse, está um calor simplesmente infernal, e o pobre coitado com a perna engessada há três semanas, enquanto os vizinhos dormem de roupas íntimas, janelas abertas ou então, na varanda de seus apartamentos. Jeff recebe a visita constante de Stella, a sempre magnífica e por coincidência, em papéis de empregada doméstica Thelma Ritter, que com seus diálogos retos e sinceros, que a atriz sabe fazer como ninguém, garante as risadas dos espectadores. Além da também indiscreta empregada, o jornalista tem um relacionamento com a belíssima Lisa Carol Freemont, interpretada pela futura princesa de Mônaco, Grace Kelly. Ela, que pretende dar um passo além da perna quebrada de Jefferies no namoro, é atenciosa, trabalhadora e bem vestida. E é em mais um dos dias que Jeff passa sem fazer nada por causa de sua perna, e já que o calor está mais uma vez, insuportável, ele não vê outra saída para se distrair, que não seja vigiar os vizinhos, a fim de ter um pouco de diversão. E é nesses olhares para fora da janela, que ele vê uma mulher do andar de baixo, sozinha, que se veste elegantemente para receber alguém, que ela finge estar lá. Uma bailarina, que recebe a visita de vários homens e fica ensaiando os seus paços de lingerie, um casal de recém-casadas, um vizinho pianista que sempre fá festas, um outro casal que tem um cachorro, e um vendedor ambulante, que é casado com uma mulher doente. Em uma das quentes noites que ele não consegue durmir, ele percebe que a esposa dele sumiu, do nada, enquanto o homem fazia diversas viagens para fora do apartamento durante a madrugada. Cismado com o que quer que tenha acontecido, Jeff passa a suspeitar que esse homem misterioso tenha assassinado a sua mulher, e cortado-a em pedaços, desfazendo dela aos poucos.

Depois de me alongar muito contando a sinopse do filme, e me exaltando quase a ponto de contar detalhes mais do que importantíssimos, vou passar a analisar o trabalho genial de Hitchcock. O diretor inglês tem um desempenho simplesmente perfeito e ousado. Abusando da originalidade, ele comanda as cenas com maestria e todas ficam, além de divertidas, com um misto de tenso generalizada no ar. Durante o filme todo, a câmera simplesmente não sai de dentro do apartamento de Jefferies. E justamente por isso, permitiu a Hitchcock uma jogada inteligente com a fotografia, com a música e com a montagem, permitindo situações inusitadas. A luz da noite que entra pelas janelas do apartamento do protagonista é tão intensa como a luz do dia, e o jogo com as sombras e a penumbra da uma sensação de calor até pra quem está assistindo.

A ação do filme em si demora pra chegar, mas quando ela finalmente vem, é como um encantamento. Os caminhos conduzidos pelo roteiro até o momento do clímax são brilhantes e coerentes, deixando o espectador preso como nunca à sua cadeira. E como já foi dito, durante essa cena esperada tão ansiosamente pelo público, a fotografia é mais uma vez impecável, praticamente não revelando o rosto de um dos presentes, enquanto o outro está completamente envolto pela luz do luar, (in)tensa.

Agora, o filme é praticamente todo das atuações. James Stewart está mais uma vez radiante, carismático e perfeito. Um dos atores mais sublimes da história do cinema está simplesmente impagável, com modos de falar e de s comunicar que exprimem toda o seu sofrimento como incapacitado de andar, ele também dá um show como um homem amigo e inteligente, e que não tem nada de bobo. Uma interpretação humilde, mas extraordinária. Quem segue na mesma linha é a beldade Grace Kelly, além de ser um dos rostos mais lindos do cinema (dá pra perceber que o filme coleciona ícones da sétima arte), ela é charmosa, discreta, meiga, apaixonada e carismática, que na verdade, parece ser a característica dominante dos personagens de “Rear Window”. Além do casal, temos Thelma Ritter mais uma vez muito bem e Wendell Corey, como o detetive amigo de Jeff, que também está ótimo.

Janela Indiscreta é uma obra-prima única do cinema de Hitchcock, um suspense de primeiríssima qualidade, que merecer ser visto, revisto contínuas vezes. A sensação de se ver um filme como esse: tenso, divertido, interessante e original, é inexplicável.

Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

0,0

A série Harry Potter angariou muitos fanáticos pelo mundo. No Brasil, as histórias do bruxinho se tornaram um fenômeno e seus livros vendiam como água nas prateleiras das lojas. Um fenômeno inexplicável, talvez. Há quem odeie todo o drama da escritora J.K Rowling, ache tosco, medíocre, chato. Eu falo como um desses aficionados, que leu todos os livros e era daqueles que os comprava logo quando vinham para cá, assistia o filme assim que entrava em cartaz... só faltava ir ao cinema vestido de Alvo Dumbledore ou Sirius Black. Brincadeiras à parte, acho que posso dizer, ou aconselhar, que antes de criticar, tentem ao menos ler os livros, e quando digo isso, incentivo a dar uma olhada além do primeiro exemplar (Harry Potter e a Pedra Filosofal), que é de longe o menos interessante de todos (pelo menos para mim).

Fui ao cinema ontem (17/07) e tenho alguns pontos relevantes que merecem destaque (positivo e negativo). O longa tem um início muito bom, com os Comensais da Morte vagando pela cidade de Londres e destruindo parte dela - os efeitos especiais aqui podem ser considerados de primeiríssima qualidade, justificando o montante de dinheiro investido. O clima sombrio permeia a história, que é muito bem construída e dirigida. No novo trabalho, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", notamos que o diretor David Yates evoluiu junto com a série, e abandonou aquela veia mágica e fantasiosa demais para dar contornos mais dramáticos ao filme. Aliás, ele sabe dosar e empregar o drama nas horas certas.

Um dos focos do diretor e do roteirista (Steve Kloves) foi concentrar parte da história nos romances dos protagonistas. Ou seja, o namoro entre Harry Potter e Gina Weasley ganha bastante destaque, assim como o amor ainda confuso de Hermione Granger por Ron Weasley. A vida amorosa do trio, como já dito, vira pauta em determinados momentos, e isso ajuda a quebrar o gelo da pesada trama, como se as descobertas dos jovens adolescentes aliviassem um pouco da responsabilidade que carregam consigo. Confesso, no entanto, que algumas vezes o excesso de cenas desse tipo me entediou, mas longe disso ser um grave problema.

Outro ponto forte do sexto filme da série é o roteiro. Steve Kloves foi muito inteligente ao adaptar o livro, o que é uma das tarefas mais difíceis a se fazer. Ele corta partes desnecessárias e agrega apenas os fatos mais relevantes. É claro que um trabalho cinematográfico nunca contará com todos os elementos de uma obra literal. Temos que compreender que tratam-se de artes distintas, cada uma com uma característica especial. É claro que faltam alguns trechos que poderiam ser tranquilamente lembrados, como um desenvolvimento maior da parte em que Harry descobre quem é o verdadeiro príncipe ou mesmo como Dumbledore conseguiu o anel (a Horcrux) de Voldemort. Tudo isso passa em branco e poderia ser retratado, mas é compreensível, já que Steve Kloves escolheu muito bem as passagens que virariam filme, e obviamente isso nunca agradará a gregos e troianos.

Para finalizar a cadeia de qualidades, é muito gostoso ver como evoluiram os atores com o passar dos anos. Harry Potter é um trabalho que se estende desde 2001, e na época, os jovens atores nem sequer eram adolescentes ainda. O tempo fez com que aprendessem algumas artimanhas, técnicas, e hoje eles atingiram considerável maturidade cinematográfica, dando mais do que nunca vida aos seus personagens. Quanto ao elenco mais experiente, destaque sempre para Alan Rickman e seu sarcástico Severus Snape e para Helena Bonham Carter com uma das personagens mais divertidas do longa - a perversa e maluca Bellatrix Lestrange (alguém associou ela com a Marla de "Clube da Luta" ou só eu mesmo?). Merece ressalva também o sempre experiente Michael Gambon na pele de Alvo Dumbledore e o jovem Hero Fiennes-Tiffin, que interpreta o lorde das trevas aos 11 anos - ele está simplesmente macabro.

"Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é de longe o melhor filme da série. No entanto, ainda é recomendado apenas para quem já foi introduzido nesse mundo mágico, pois caso contrário, nenhum gancho foi feito para situar os marinheiros de primeira viagem. Para quem já conhece essa fantasia de cor e salteado, o longa é um prato cheio, com uma bela história, ótimos cenários, um figurino belíssimo e uma fotografia sombria bem interessante. David Yates dessa vez acertou em cheio e deixou o espectador com água na boca para a próxima sequência, que deverá chegar aos cinemas já no ano que vem. Vale lembrar que o último episódio da série, "Harry Potter e as Relíquias da Morte", será dividido em duas partes, o que significa mais dinheiro para os cofres dos produtores e mais detalhes para os aficionados - vale a pena esperar.

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