Lupas (330)
-
O primeiro longa de Ocelot é simples, mas possui sinais consistentes de criatividade. A apropriação de elementos culturais de matriz africana resulta na articulação entre um retrato despido de adornos e a exploração do misticismo presentes em histórias locais que circundam tais cenários. Destaque para o visual original, principalmente a composição das criaturas mágica, cabendo a uma delas, o espião, um papel essencial, que coroa a representação de poder e controle representados pela vilã.
Victor Tanaka | Em 04 de Maio de 2019. -
Os vestígios ditatoriais que resistem na democracia alemã são materializados na figura militarizada que, aqui, constitui o porta-voz do fascismo reprimido e também o próprio denunciado. Apesar da excelente substância de análise, o assunto é denso demais para ser tratado em tão pouco tempo, e aqui toda essa matéria histórica e social acaba sendo sugerida de forma menos corrosiva do que se poderia. A frase final deixa um gostinho de quero-mais.
Victor Tanaka | Em 29 de Abril de 2019. -
Em poucos minutos, Agnès Varda se concentra sobre um instante bem preciso de um caso muito específico e, daí, extrair os principais pontos da dinâmica de funcionamento dos Panteras Negras e uma exemplificação - sempre atual - da arbitrariedade das forças públicas em relação ao negro na história dos Estados Unidos. Aliando imagens ricas a depoimentos curtos e inspiradores, um bom documento que ajuda a reconstruir visões de quem testemunhou esse grupo político de perto ou até fez parte dele.
Victor Tanaka | Em 29 de Abril de 2019. -
Patricia Arquette, duplamente fascinante e fantasmagórica, é o ponto-chave para se entender o espelhamento entre os protagonistas das histórias, bem como a projeção de seus dramas internos na fronteira opaca entre delírio e realidade. A confusão mental de Bill Pullman também transborda do personagem e se materializa no cenário e nos jogos de luz, que criam atmosferas dignas de um filme noir e corredores aterrorizantemente escuros, mesmo dentro da própria casa, como a perturbada psique humana.
Victor Tanaka | Em 29 de Abril de 2019. -
O drama que vai se construindo no decorrer do filme, e que leva à já explorada questão da impotência do ser humano diante do tempo, quebra a agilidade bonita, criativa, divertida e, principalmente, com ar de despretensão que se projeta até a metade da narrativa, enquanto o romance entre o casal nasce e se ramifica. Infelizmente, tais ramificações crescem demais, levando o filme todo a uma dimensão que, ainda que bonita e levemente comovente, não resguarda o frescor original e excitante de antes.
Victor Tanaka | Em 29 de Abril de 2019. -
Durante a primeira hora, muita bagunça, gritaria e excessos. Kusturica demora a acertar o tom, que ocorre com a introdução da personagem de Natasa Solak: o equilíbrio entre as piadas, o drama e o romance operam no resto do filme um clima bem agradável.
Victor Tanaka | Em 08 de Abril de 2019. -
Predominantemente coeso (algumas sequências destoantes poderiam ser podadas), indiscutivelmente bonito e dá vida a um escopo de personagens originais e delicadamente excêntricos, que vivem em consonância com a crise e a melancolia que os atravessam.
Victor Tanaka | Em 08 de Abril de 2019. -
O sobrenatural nunca deixa a esfera da opacidade, relegado a um segundo plano inexplicado. Na superfície, o terror decorre do drama da família, e acompanhamos o processo de constituição de uma figura que social e historicamente reconhecemos como bruxa.
Victor Tanaka | Em 01 de Abril de 2019. -
Peele joga com o próprio gênero: conecta elementos comuns ao filme de terror à camada crítica da obra; constrói cenas realmente tensas que convivem com um humor muito apropriado; e traça uma relação multíplice e suspeita entre a protagonista e seu duplo.
Victor Tanaka | Em 31 de Março de 2019. -
Idealizado ao redor da crueza e da dura realidade, destoam os contrassensos e algumas soluções suspeitas. Apesar disso, há cenas excelentes aqui, que chocam e incitam. E Javier Bardem é a alma do filme, reunindo toda a carga de violência que o atravessa.
Victor Tanaka | Em 28 de Março de 2019. -
O roteiro e a direção usam a inverossimilhança e a artificialidade a seu favor, unindo ao ar cômico e triste um exagero quimérico, resultando na sua distinção dentre comédias românticas igualmente genéricas, mas que se conduzem de forma real demais.
Victor Tanaka | Em 27 de Março de 2019. -
A teia complexa de relações que se tece durante duas horas ao redor do espelhamento dos protagonistas acompanha o crescimento da atmosfera, que atinge seu ápice, com direito a banho de sangue e rápidos plot twists, quando ambos finalmente se cruzam.
Victor Tanaka | Em 25 de Março de 2019.