Lupas (330)
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O filme que recolocou os Estúdios Disney de volta no mapa das animações é cheio de personalidade e transborda liberdade criativa, principalmente no que diz respeito à concepção dos personagens, aos excitantes números musicais e ao emprego do humor - elementos básicos da infalível fórmula mágica da produtora. O deslize vem nas sequências finais, que constituem um clímax atropelado, avesso à sensibilidade que vinha se desenhando, e que boicota o esperado apogeu daquela vilã realmente fascinante.
Victor Tanaka | Em 07 de Agosto de 2019. -
Um filme que, por dar uma nova roupagem a personagens já bem conhecidos, acerta ao focar no amadurecimento das relações, explorando afetos e abalos, em vez de criar invenciones narrativas que anulariam a justificativa sincera da obra. Podemos observar, logo, um humor simples prosperando, uma naturalidade guiando a construção da figura da criança e, por fim, um cuidado estético orbitando a recriação do universo de Mauricio de Sousa, do qual decorre a um material cinematográfico visualmente lindo.
Victor Tanaka | Em 07 de Agosto de 2019. -
Um filme que, como seu personagem, significa muito dizendo pouco. Os problemas sociais aproximam ou afastam os personagens sem grandes falatórios; e os sentimentos deles são expostos em imagens, olhares e música. Cito como exemplo a cena em que um dos personagens, ao dar play na canção "Hello, Stranger," da Barbara Lewis, consegue exprimir, sem dizer uma só palavra, tudo o que carregava dentro de si, coroando a cena mais linda e emocionante do filme, já perto de seu desfecho.
Victor Tanaka | Em 21 de Julho de 2019. -
A maior estratégia do filme para chegar ao posto de obra de arte é, principalmente, refletir em todos os seus vértices a concepção artística que se tece nas falas e no pensamento dos personagens. Assim, ao articular uma história lindíssima, emoldurada pelos belos cenários parisienses e pela música deleitosa, à artificialidade gritante dos personagens, forjando uma natureza própria, suspende a realidade de forma estranha, convidando o leitor a assistir a uma fabricação explícita da arte.
Victor Tanaka | Em 17 de Julho de 2019. -
Petra Costa articula o tom intimista e pessoal de seu cinema com a esfera pública; sua habilidade de leitura de imagens retoma gravações e momentos diversos de anos passados para demonstrar que tudo, de algum modo, sempre esteve latente; o aspecto de thriller não poderia ser mais acertado ao apontar para o banditismo que continua vindo à tona a olhos vistos. Se não acrescenta nada de realmente inovador à nossa percepção, consegue ligar os pontos de forma ágil, comovente e com linguagem simples.
Victor Tanaka | Em 20 de Junho de 2019. -
Considerando que atualiza o clássico conto com uma protagonista moderninha, cai no erro de não só perder tempo demais com discursos repetitivos sobre o amor (que se materializam principalmente na figura entediante do galã), mas o faz com mais insistência que as próprias versões inteiramente românticas de Cinderela! E tendo em vista o público-alvo, seria mais interessante ter focado nas coadjuvantes femininas e na mensagem de autenticidade e independência que, em algum momento, se desenhou ali.
Victor Tanaka | Em 16 de Junho de 2019. -
Almodóvar não se priva de usar os mais perturbadores recursos narrativos para dar vida a uma obra fundamentalmente macabra, cujo desenrolar, por si só, choca e incomoda. Aqui, seu trabalho estético se revela mais sóbrio, mas ainda assim exibe sua marca, principalmente na vestimenta muito característica de determinados personagens. O grande destaque técnico fica para a violenta trilha sonora, que golpeia o espectador ao proporcionar, para cada cena, um exagero fascinante.
Victor Tanaka | Em 16 de Junho de 2019. -
Almodóvar expõe aspectos de sua vida em uma narrativa que, como era de se esperar, se divide em diversas camadas estruturais conectadas de forma inteligente e abusa de elementos ficcionais que elevam o drama e o vazio dos personagens sem nunca, desta vez, chegar ao tom por vezes patético que se desenhava em trabalhos anteriores. Pedro Banderas, desde sua caracterização e de seu aprimorado trabalho corporal, consegue dar forma à melancolia e à crueza que o personagem representa.
Victor Tanaka | Em 16 de Junho de 2019. -
Apesar de não trazer absolutamente nada de novo e desenvolver as relações entre os personagens da forma rasa e automatizada, consegue, ainda assim, provocar levemente quando ironiza, através dos "icebergs" e do funcionamento falsamente ético das instituições religiosas, os discursos deterministas e os malabarismos psicológicos utilizados até hoje para justificar as causas da homossexualidade.
Victor Tanaka | Em 26 de Maio de 2019. -
Em vez de colocar os holofotes sobre os terrores do nazismo, Truffaut transpõe para as telas os ecos e as sombras que decorrem das tensões políticas do respectivo momento histórico e se projetam nos palcos, intensificando-se nos bastidores. E quem melhor para lidar com essa matéria histórica pela ótica de um artista do que um dos maiores artistas da França?
Victor Tanaka | Em 11 de Maio de 2019. -
Uma história de autodescobrimento marcada por símbolos diversos e muito plurais - narrativas, objetos, lugares, música, gatos -, que organizam de forma charmosa e harmônica a variedade de sentimentos, sonhos e dramas que irrompem de cada personagem.
Victor Tanaka | Em 11 de Maio de 2019. -
Acredito que a experiência do livro deva ser, de alguma forma, mais completa. Nas telas, o formato mudo e reduzido ao essencial resulta em um curta, de alguma forma, charmoso, mas que vale mais pelo experimentalismo do traço do pelo objetivo de se produzir algo a mais.
Victor Tanaka | Em 11 de Maio de 2019.