Lupas (330)
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Cruzando seus personagens com números musicais burlescos e uma aventura revolucionária, Louis Malle dá vida a um filme, na mesma medida, divertido e bonito. Todo o elenco de coadjuvantes é consideravelmente carismático, mas o grande destaque vai para a sintonia em que se encontram Jeanne Moureau e Brigitte Bardot, uma dupla que nunca se deixa ofuscar e encontra seu brilho tanto nos palcos, seminuas e dançantes, quanto empunhando armas no meio dos bombardeios, promovendo a destruição com classe.
Victor Tanaka | Em 20 de Abril de 2020. -
Foi o primeiro filme que vi com os irmãos Marx e nem precisei fazer muito esforço para discernir quem eram eles em meio ao elenco: o filme faz questão de forçar a graça dos três personagens, alongando suas cenas mesmo quando elas não estão tão divertidas. O enredo, apesar de promissor, intercala momentos ótimos com instantes bobinhos e de solução fácil. Mas há momentos de grande valor. A longa sequência em que Sig Ruman tenta sem sucesso arrumar suas malas é certamente o ponto alto do filme.
Victor Tanaka | Em 19 de Abril de 2020. -
Michael Powell opta por colocar o medo como objeto da narrativa, possibilitando que ele seja discutido, pensado, manuseado e vestido pelos personagens. Os instantes mais tensos culminam sempre com sua exploração imagética, por meio das faces de pavor que preenchem os enquadramentos. Em contraponto, o visual não se constrói absolutamente em tom sombrio: em diversas cenas nos defrontamos com cores berrantes nos figurinos e elementos do cenário. Powell tinha, afinal, um gosto artístico bem refinado
Victor Tanaka | Em 19 de Abril de 2020. -
A chave surrealista é justamente o ponto em que a narrativa, que já vinha se desenvolvendo com dificuldades, se perde: quando finalmente as esquisitices e singularidades dos personagens acertam o tom, tudo é abruptamente substituído por delírios e metáforas fracos e óbvios, que representam de forma pouco inspirada os medos e anseios em torno do amadurecimento. Por fim, um desfecho frio finaliza a trama, que não termina sem se posicionar como coming of age clichê tampouco como experiência surreal
Victor Tanaka | Em 13 de Abril de 2020. -
Em poucos minutos, cumpre sua premissa de divertir com seu humor nonsense e exagerado, parodiar a estrutura dos filmes de super-heróis e, com base nesses pilares, entregar muito sangue e mortes criativas. Daí decorre uma busca por vingança empolgante, valorizada por cenas de ação ambientadas na sujeira e no submundo da cidade e da academia, cenário principal do filme. Por outro lado, decai conforme as sequências pouco inspiradas envolvendo o prefeito e toda a cidade tomam o primeiro plano.
Victor Tanaka | Em 13 de Abril de 2020. -
Apesar da revelação final nada sutil que, aliás, já se esperava desde o desencadeamento de tragédias que se sobrepõe a uma delicadeza predominante, há de se concordar que o filme constrói com progressiva beleza o amor e o estranhamento de duas garotas em torno de um passado em comum, que vem irrompendo do casarão e da torre assombrada como os verdadeiros fantasmas. Marnie é, de fato, uma personagem curiosa e intrigante no comportamento enigmático e doce e em sua própria concepção visual.
Victor Tanaka | Em 09 de Abril de 2020. -
O romance maluco de Raymond Queneau cresce admiravelmente sob as lentes de Louis Malle, que promove um circo ininterrupto pelas ruas de Paris. O nonsense de alto nível, os recursos visuais cartunescos, os cortes abruptos de câmera e multiplicidade de vozes à favor do caos são algumas das estratégias que enriquecem esse jogo imprevisível de peraltices infantis e desequilíbrios dos adultos. Lá pelas tantas seu formato se desgasta, mas finda dignamente.
Victor Tanaka | Em 05 de Abril de 2020. -
A excelente Julie Christie se projeta em cenários, quartos e salões que, mais do que confinarem caricaturas, núcleos sociais e tipos de uma sociedade moderna em evolução, se submetem ao processo de moldar e serem moldados pela protagonista, em um espelhamento continuamente interdependente. Além disso, a beleza daquelas filmagens e o ritmo estabelecido pelas dinâmicas sociais complementam o intrigante roteiro com uma pulsação de fervor e solidão, que o atravessa e o valoriza.
Victor Tanaka | Em 01 de Abril de 2020. -
Apesar de, na maior parte do tempo, não apresentar uma narração movida pela ação, constitui-se por uma composição climática (lindíssimas imagens e trilha sonora atmosférica), que sugere diversas histórias não contadas. Com isso, Wenders concretiza o que um de seus personagens, expressa: tirando-se a história, as "paredes da casa", expõe ao espectador aquilo que sobra, isto é, o espaço entre seus personagens, mas sem nunca deixar tal dinâmica resultar fielmente em mera e insossa realidade.
Victor Tanaka | Em 17 de Março de 2020. -
Ainda que seja seu objetivo contar uma história leve e totalmente entregue ao público adolescente, cai no erro de produzir situações infantilizadas demais (inclusive para filmes do gênero), vício que se expande da protagonista a todos os seus coadjuvantes e camadas narrativas. Por outro lado, provoca certa empatia a participação de Erasmo Carlos, bem como as divertidas críticas - ainda que superficiais - acerca das celebridades enquanto produto e suas narrativas estrategicamente fabricadas.
Victor Tanaka | Em 17 de Março de 2020. -
Entre uma ideia intrigante, que se inicia nos desencontros e coincidências que prometem ditar a condução da narrativa, e o final insosso, Louis Malle joga aos espectador lindas imagens de Jeanne Moureau pelas ruas da cidade e insere o grande foco da ação do filme sobre a insípida subtrama de um jovem casal em aventuras injustificadas.
Victor Tanaka | Em 17 de Março de 2020. -
A direção madura de Greta Gerwig opera de forma adequada a cada um dos planos temporais: as diferentes fotografias sempre exteriorizam a camada interna das personagens, os diálogos fervem e abrandam, e a atmosfera transita com facilidade entre as tempestades da adolescência e a necessidade de tomada de decisões da vida adulta. Além disso, cada atriz constrói com autonomia e independência seu próprio membro da família March, sem destoar do todo harmônico que as mantém interligadas.
Victor Tanaka | Em 10 de Fevereiro de 2020.