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Críticas

Massacre da Serra Elétrica, O

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Talvez a melhor palavra para definir "Massare da Serra Elétrica" seja aterrorizante, não pela profusão de sangue, violência explícita e gratuita, mas pela atmosfera bizarra e convincente que Tobe Hooper ("Poltergeist, o Fenômeno") criou neste clássico do cinema de horror.

Primeiramente, é importante salientar que o orçamento para o primeiro longa do diretor era baixíssimo, míseros 140 mil dólares (e arrecadou fantásticos 40 milhões). Mas não se engane! Hooper em nenhum momento quis ser trash, ele leva o filme com demasiada seriedade. E por isso mesmo, surpreendeu a todos lançando a continuação do filme, uma excrachada comédia assumida e sangrenta.

"Texas Chain Saw Massacre" foi filmado em 16 mm, o que prejudica bastante a plástica da produção. Por isso o diretor foi esperto ao iniciar o filme com uma narração documental, ou seja, permitindo de certo modo um "amadorismo" na técnica. Tática usada sabiamente bem mais tarde em "Bruxa de Blair".

A história se inicia com cenas de corpos exumados de um pequeno cemitério do texas, em início, com flashs na escuridão de corpos em decomposição, e, logo depois, corpos profanados ao ar livre. Por conta disso, cinco jovens vêm à cidade verificar se seus ancestrais haviam sofrido com o agora famoso maníaco.

Leatherface (Face de couro) aparece mais de meia hora depois do início do filme. Notadamente um imbecial, guiado por instintos primitivos e manipulado por todos os membros de uma família (!) insana. Não perdendo tempo em usar sua marreta e serra "elétrica" e pendurando uma jovem pelo pescoço em um gancho. Assumindo assim, lugar de honra entre os ícones do terror moderno, como Michael Myers ("Halloween"), Freddy Krueger ("A Hora do Pesadelo") e Jason Voorhees ("Sexta-Feira 13").

Não há muito mais a acrescentar no seguimento da trama. É basicamente isso mesmo, uma história simples (como na esmagadora maioria do cinema do horror), porém, chocante e diferente do que se vê hoje em dia. Aposto que você nunca esquecerá da cena em que a família "convida" uma jovem para uma refeição de linguiças produzidas com carne humana e corpos em diferentes etapas de decomposição. Bom apetite.

Por fim, é indispensável criticar o desleixo e o descuido da distribuidora do filme no Brasil, já que a serra elétrica, na verdade, é movida a combustível líquido. Permitindo assim as quase intermináveis cenas de perseguição por floresta e estrada. Infelizmente, isso acontece ainda, envergonhando quem gosta também de horror e tem cérebro. Custava assistir ao filme?

Críticas

Ela é o Cara

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Existem três aspirantes à atrizes teens na atualidade que eu gostaria de destacar por possuírem um público cativo: Hillary Duff (que também insiste como cantora), Amanda Bynes, e a agora não mais escalada para filmes juvenis - por sua vida conturbada e recheada de escândalos - , Lindsay Lohan.

O que as três têm em comum, além de uma legião de fãs adolescentes? Seus filmes fracos e ingênuos.

Voltando a atenção à Amanda Bynes, por ser a protagonista deste folhetim cômico que tem como título "Ela é o cara", vale destacar que de todas essas musas teens citadas e que se aventuram no mundo do cinema, Amanda Bynes é a única de quem se pode extrair alguma coisa quanto à atuação.

Calma lá! Não estou dizendo que ela é uma boa atriz, nem sequer a qualifiquei como tal. Ela é simplesmente uma estrela adolescente. Porém, diferente de suas "rivais", ela é esforçada e naturalmente carismática.

A primeira vez que vi Amanda foi num seriado que passava no SBT em 2002, "What I Like About You". Suas caretas constantes e ar de moleca já eram notáveis nessa comédia pastelão.

Quanto a sua filmografia, esta é curta, entretanto, seus filmes têm tornado-se mais constantes. Ela parece hoje tomar o espaço que Lohan deixou, já ameaçando o de Hillary Duff.

Até participar de um filme de maior expressão hollywodiana ao lado de grandes nomes no famigerado musical "Hairspray", ela conseguiu.

No entanto, "Ela é o cara (She's the Man)" foi o filme de maior sucesso em sua carreira. Mas a má notícia é que nem assim ele escapou de ser uma película de roteiro risível, com atuações caricatas.

Como dito, o roteiro é degastado, sem criatividade, infestado de clichês baratos e a trama um tanto surreal - ideia reforçada graças à caracterização horrível de Amanda como rapaz, com certeza proposital para estimular os risos.

Os diálogos também são rasos tanto quanto a performance amadora do elenco.

E para incrementar, como par romântico de Amanda, temos Channing Tatum ("Ela dança, eu danço") comprovando que como ator, ele é um bom dançarino - o termo é batido, mas se tratando de quem é, está de bom tamanho.

Sendo assim, estamos nitidamente diante de mais uma típica comédia americana que apela algumas vezes para tombos, tropeções e feições faciais forçadas para implorar algumas risadas. Tudo isso em situações exageradas e irreais, acompanhadas de personagens esteriotipados, complementada por um adocicado casal previsível e sem química.

Agora, para que fiquem pasmos, mesmo com tantos pontos negativos, a diversão proporcionada pelo filme não é de todo afetada.

Afirmo que mesmo não sendo nada criativo, nem original, o filme não merece ser de todo descartado, tudo porque em alguns momentos ele diverte bastante com sua leveza e simploriedade. E isso tudo se deve exclusivamente à performance de Amanda, afinal, foi aqui a sua representação mais burlesca, com direito as suas excessivas e peculiares momices.

E não estou citando isso como algo negativo... Viola, sua personagem, tem um "Q" de charme, e de quebra, entrete, justamente por seu comportamento incomum.

Concluindo, sem sombras de dúvida, "Ela é o cara" é de longe campeã no gênero comédia besteirol sem noção, mas como eu disse anteriormente, ainda assim garante uma boa diversão no melhor estilo pipoca, podendo ser até elogiado pela falta de apelações sexuais em sua trama - o que não é comum em comédias de temática jovem.

Críticas

Outros, Os

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"Os Outros", com certeza, foi um dos melhores filmes da carreira de Nicole Kidman.

As produções das quais ela participa nem sempre são sucesso de público, ou blockbusters, mas sua atuação é sempre um show à parte - e com essa personagem não foi diferente.

Aqui ela é Grace, é uma dona de casa áustera, firme, solitária e mãe de dois filhos, que vive em um ambiente sombrio, enclausurada em uma mansão escura em meio aos anos 40, sob os efeitos da segunda guerra mundial - para onde foi seu marido convocado, até então sem dar notícias.

Apesar da inevitável comparação que sofreu com o clássico "O Sexto Sentido" de Shyamalan, e a indiferença da crítica na época, o filme consegue ser tenso, assustador e inovador. Por isso, particularmente, este é o meu filme preferido de Nicole.

Apesar de seu final ter realmente uma semelhança com o inesperado desfecho do sucesso protagonizado por Bruce Willis e Halley J. Osment, a mesma sensação de imprevisibilidade é sentida aqui.

O universo de "Os Outros" é tão lúgrube, escuro e pavoroso que, o espectador fica hipnotizado ao ver como Grace se mantém lúcida e racional ao deparar-se com "fenômenos paranormais" que ameaçam a ela e a seus filhos.

O filme não utiliza uma vez sequer artifícios comuns do gênero, como sangue, mortes ou mutilações. Limitado exatamente a narrativa de suspense, o filme é um tanto lento, mas nada cansativo. A atenção se volta à trama que, conseguiu carimbar uma das cenas mais assustadoras da história do cinema, como a da menina vestida de noiva, supostamente possuída por algo.

As crianças não são um primor de interpretação, mas quero frisar que a atriz mirim Alakina Mann (Anne), conseguiu compor bem o seu papel. Os pequenos atores não foram meras crianças bonitinhas que estavam ali para protagonizar cenas melodramáticas descartáveis.

A escuridão foi utilizada na tonalidade certa. O ambiente gótico proporciona o desconforto com a situação. A dúvida e o medo presentes no olhar de Nicole, durante os acontecimentos, são imprescindíveis para o envolvimento do público.

A forma com que a história se desenrola, o clima asfixiante da casa que não pode ser aberta, nem ter exposição de luz devido a uma doença das crianças, e como tudo isso é resolvido no fim, é o que torna "Os Outros" um suspense de primeira. Nem sempre é necessário abusar de efeitos especiais e mortes explícitas para conseguir criar pavor no espectador.

Talvez se lançado numa época mais distante de "O Sexto Sentido", o filme teria conseguido mais reconhecimento, o que seria mais justo.

Se todos os filmes que se inspiram em algum sucesso fossem desse nível, só teríamos que agradecer.

Utilizar um recurso que deu resultado e explorá-lo sob outra ótica para conseguir originalidade tanto quanto, é um feito que somente "Os Outros" conseguiu com tanta classe.

Críticas

Pânico

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Hoje os filmes do gênero terror/suspense estão utilizando recursos bem similares, com certeza fruto de algum filme específico que obteve sucesso de crítica e público. O que vem acontecendo repetidamente. É só um filme alcançar sucesso que logo temos uma legião de sutis (ou nem tanto) plágios cinematográficos.

Quando foi lançado o primeiro filme da trilogia "Pânico", não foi diferente. Era inevitável não notar quantos filmes com a temática "adolescentes perseguidos por serial killers" estavam sendo lançados no mercado. E poucos eram os que alcançavam certa originalidade, como "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado". Inclusive, até os títulos dos filmes do gênero terror eram totalmente influenciados pelo termo "Pânico". Tudo se resumia à pânico, fosse em algum lugar ou por alguma coisa...

Dirigido por Wes Craven e escrito por Kevin Williamson, o filme ainda revitalizou o terror nos anos 90, utilizando um conceito que combinava cenas de puro suspense com diálogos que satirizavam os clichês dos filmes do gênero.

O longa em si não é nenhum marco, no entanto, tornou-se um clássico, baseando-se, é claro, na legião de fãs que gerou e na febre desencadeada entre os adolescentes, sem esquecer às ótimas críticas recebidas.

Ele não só inspirou vários títulos do terror na época com histórias semelhantes, como deu início a era dos filmes besteirol que exaustivamente o parodiavam entre outros sucessos.

Neve Campbel, a atriz mocinha da trilogia, praticamente deve sua carreira (limitada a esta saga) à "Pânico". Ela que virou musateen na época, chegou a ser indicada ao "MTV Movie Awards" três vezes por seu papel como a protagonista Sidney Prescott. Ganhou na segunda indicação em 1998.

Após isso, não teve nenhum papel expressivo, mas ela teve com certeza seus 15 minutos de fama bem aproveitados.

Parece que o diretor e roteirista do filme Wes Craven também não conseguiu emplacar mais nenhum sucesso como "Pânico". Até mesmo o nível de seus roteiros e temas cairam. Talvez seja o "carma" a se levar após dar vida a um grande sucesso.

Quanto à sinopse, esta se passa numa pequena e pacata cidade no interior do estado da Califórnia, onde um Serial Killer, fanático por filmes de terror, está assassinando brutalmente todos os jovens da cidade. Seu método é peculiar: primeiro ele liga para sua vitima e faz perguntas sobre filmes de terror; se a mesma errar, ele a mata com facadas. O problema é que ninguém sabe quem pode ser o assassino, já que ele usa uma máscara específica de fantasma.

E por tal, a obsessão do assassino concentra-se em uma jovem chamada Sidney Prescott (Campbel) por algum motivo de seu passado que envolve também sua mãe.

Bom, o filme seguindo essa premissa, conseguiu duas sequências não tão criativas como o original por utilizar basicamente a mesma fórmula nos três, mas independente disso, foi um sucesso tremendo. Talvez o filme de horror mais comentado em sua época.

E mesmo sem tanto "banho de sangue" ou um enredo psicológico, "Pânico" conseguiu deixar seu rastro e marcar uma geração.

Críticas

Drácula de Bram Stoker

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Pode-se considerar Drácula de Bram Stoker como o último grande filme de terror a que denominamos clássico. De uns quinze anos para cá, o que se vê são filmes de terror que mais se baseiam no susto do que no medo, e, por muitas vezes, esquece-se do enredo. Não é o caso deste filme, uma grande obra do já consagrado Francis Ford Coppola, o mesmo de O Poderoso Chefão. Algumas cenas nos lembram os memoráveis filmes de hitcock com um toque de Kubrick.

O grande fio que segura à obra é a narrativa do livro de Bram Stoker, o primeiro da civilização moderna a trazer a lenda de Drácula, tanto que Coppola colocou o nome do escritor no título do filme. Aqui se vê um Drácula diferente, mais humanizado, atormentado pela perda de um amor, culpando Deus pelo acontecimento. Aí se dá o rompimento com o lado celestial e a ligação com as trevas. Se se quer ver muita ação e mordidas de cabo a rabo do filme, como se tem visto nos últimos filmes vampirescos (lê-se Van Helsing, Drácula 2000, etc.) esqueça. Aqui se vê uma história de verdade, fortemente sustentada com fatos muito mais verossímeis do que as outras histórias.

Com uma maquiagem horripilante, Gary Oldman representa muito bem o papel de Drácula, e o local escolhido para representar a Transilvânia foi um dos melhores que já vi. O clima tenebroso mas humano sustenta a lenda como verdadeira. Anthony Hopkins é o eterno rival do antagonista, o doutor Van Helsing, que persegue a besta por toda a sua vida, e, enfim, está frente a frente com seu inimigo. Os pontos negativos ficam para Keanu Reeves, com papel secundário, mas ainda tímido, no início da carreira, e Winona Ryder, que não consegue convencer dando vida ao grande amor dracul. Mas a busca pelo encontro do amor, o desejo irresistível que as mulheres sentem ao pressentirem o grande vampiro ainda continua forte, e convincente.

O filme começa no século XV com a batalha entre o exército da Transilvânia e os turcos. Drácula vence a batalha, mas ao chegar em casa encontra a mulher morta, ela se jogou no rio porque recebera a falsa notícia de que o marido morrera na guerra. Sendo uma suicida, a igreja não concede o perdão à sua alma, o que causa a ira de Drácula que renuncia a Deus e a igreja.

Com um salto de praticamente quatrocentos anos chegamos a Londres do século XIX, onde Jonathan Harker (Keanu Reeves), um jovem advogado, é enviado à Transilvânia para fechar um contrato com o conde Drácula que queria comprar alguns terrenos na Inglaterra. Drácula vê a foto da noiva de Harker, e reconhece sua amada: a mulher tem os mesmos traços do seu antigo amor. Ele parte para Londres e deixa três vampiras encarregadas de sugar o sangue de Harker para que ele não escape. Depois de muitas tentativas, ele seduz Mina (Winona Ryder) que mesmo assim acaba se casando com Harker, que, por milagre, escapa da prisão vampiresca.

Mas, Dr. Van Helsing, encarregado de estudar a doença da irmã de Mina que fora mordida por Drácula, acaba por assumir a batalha e proteger Mina das garras do vampiro. Mas é inútil, ele já a seduzira e mordê-la e levá-la com ele é questão de tempo. Justamente na cena em que Drácula a transforma é que se tem uma atitude interessante. Vê-se o vampiro bem humanizado, que no momento em que vai dar o sangue a Mina para que então ela se torne eterna, ele entende o mal que está por fazer. Vai condená-la à eternidade, à busca insaciável por sangue. Mas mina quer se juntar ao amado, e se deixa transformar em vampira.

Contudo, em uma caça sangrenta, Van Helsing e seus ajudantes conseguem matar as vampiras e ferir Drácula, que aos pés da cruz, se fixa em Deus e pede para que Mina dê-lhe paz. A morte liberta Drácula da maldição, que, regenerado, descansa em paz.

Coppola, com uma visão impar sobre como retratar uma história, fecha o ciclo, como já dito, dos grandes clássicos de terror. Não se tem sustos, se tem, por vezes, medo. E um medo bem trabalho. Quem não se assustou com a vida própria da sombra de Drácula. Ou com a cena dele andando pelas paredes externas do castelo, ou com a cena em que Harker se barbeia e sangra, e Drácula sorve as gotas deixadas na navalha. A cena em que, no labirinto, ele seduz fogosamente a irmã de Mina, ou, voltando à cena em Harker se barbeia, a mão de Drácula tocando seu ombro sem que ele estivesse adentrado à sala. Drama? Terror? Suspense? Romance? História? Lenda? Um misto de tudo em uma boa história de Stoker & Coppola.

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De Olhos Bem Fechados

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Kubrick é realmente um diretor fora do comum. Um gênio. Daqueles que expande ao máximo o significado de seus filmes. De olhos bem Fechados é uma espécie de drama que utilza de um erotismo não vulgar pra nos revelar que nem todas as familias burguesas de hoje são perfeitas, pelo contrário, o casal Alice Harford (Nicole Kidman) e Dr. Bill (Tom Cruise) se revela longe de uma perfeição aparente, mostrando-se suscetíveis à tentações extra-conjugais, mesmo se amando, mesmo tendo uma linda filha de sete anos, mesmo sendo bem sucedidos estão sujeitos a um desgaste, digamos natural do casamento, os acontecimentos dos dias em que se passam o filme colocarão à prova o amor que essas duas pessoas sentiam um pelo outro.

Baseado no romance "Traumnovelle" de Arthur Schnitzler, o filme trata da história de Bill Harford, médico bem sucedido, casado com uma linda mulher, com a qual tem uma filha, a meiga Helena Harford . Após uma festa, algo passa a pertubar o sólido relacionamento do casal, diante disso, Alice confessa ter tido atração e fantasias sexuais com outro homem, ao mesmo tempo que questiona a fidelidade de Bill. Confunso, Bill vai atrás de um velho amigo de infância Nick Nightingale, por intermedio deste, conhecerá um mundo de fantasia, uma "seita bacânica" onde todos terão de ficar "de olhos bem fechados".

A direção e roteiro de Kubrick, como de costume, demonstram-se extremamente segura, tanto na maneira calma como vai construindo a personalidade de seus personagens, e na forma como a história vai se encaminhando. Seu controle da situação nos encaminha para um final misterioso, onde todos - exceto o própio Bill - parecem ter alguma ligação com a tal "seita". Como explicar o olhar provocador da jovem e bela filha do dono da Loja de Fantasias, a mesma que orienta que Bill escolha determinado tipo de capa, que por coincidência era igual a dos membros da seita? E a prostituta? E a filha de seu paciente? Seriam essas pessoas também, assim como Victor Ziegler (o diretor Sydney Pollack), membros da seita?

As atuações são excepcionais, unicamente de Cruise e Nicole, entrosamento perfeito em todas as cenas. Destaque para a longa e dificílima cena em que após ter fumado maconha, Alice, numa brilhante atuação de Nicole, expõe algo inimaginável para Bill, sua atração por outros homens, algo que o deixará extremamente perturbado. Já Cruise revela toda sua qualidade principalmente nos instantes finais, quando se vê em uma complexa situação onde pode sua vida e de sua filha família ficar em risco.

Tecnicamente o filme é sensacional, sem meias palavras. Tanto na Fotografia serena de Larry Smith, com ênfase nas cores azul e vermelho, quanto nos belos Figurinos de cada membro da seita. Destaque-se também a ótima Trilha Sonora, que serve em certos momentos pra aumentar a sensação de dúvida e incômodo passados por Bill após a briga com sua esposa.

Enfim, De Olhos Bem Fechados fecha com categoria a brilhante filmografia de um dos mais talentosos diretores que já existiram, um homem que alçou os limites da linguagem cinematográfica a posições incríveis. É um bom filme, apesar de que não chega nem perto de dos três principais títulos do diretor: 2001 - Uma Odisséia no Espaço, Laranja Mecânica e Dr. Fantástico. Kubrick fecharia sim sua carreira, com mais uma obra-prima se estivesse vivo para terminar A.I.

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Cidade dos Amaldiçoados, A

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Um remake infeliz de "A Aldeia dos Amaldioçoados" (1960), o qual ainda não tive oportunidade de assistir mas que deve ser melhor do que o filme em questão. Não que eu não goste de refilmagens, muito pelo o contrário. Muitas delas quando bem pensadas e realizadas podem sair tão boas ou até superiores aos filmes originais, "O Homem que Sabia Demais" (1956), "Sete Homens e um Destino" (1960) e "Cabo do Medo" (1991) estão aí e não me deixam mentir. O próprio Carpenter já tinha feito um ótimo trabalho com uma refilmagem: "O Enigma de Outro Mundo"(1982), baseado em um filme de ficção dos anos 50 de Howard Hawks. Pena que dessa vez ele tenha errado a mão.

A premissa do filme promete um bom filme de suspense/terror estilo "O Bebê de Rosemary". Em Midwich, cidadezinha do interior dos Estados Unidos, todos os habitantes e animais do local são acometidos por uma espécie de desmaio ou sono profundo, como se uma força invisível tivesse cercado a cidade criando um limite e todos que dele passassem entravam em um estado de inconsciência. Numa velociade espantosa, uma equipe de cientistas do governo liderada pela Dra. Susan Verner (Kirstie Alley) é mandada para analisar o caso, só que antes que eles chegassem a alguma conclusão, essa "força" se dissipa deixando atrás de si um rastro de confusão, algumas mortes, como a do homem que caiu sobre a churrasqueira e morre queimado (bizarro!), e 10 mulheres grávidas ao mesmo tempo. Pelas condições incomuns em que ocorreram, os cientistas passam a acompanhar e estudar as gestações delas e no dia do parto todas são levadas a uma tenda especial onde tem seus bebês.

A princípio as 9 crianças (uma aparentemente morreu no parto) se pareciam com todas as outras

, mas a medida que crescem vão dando sinais de uma terrível diferença: elas tem poderes paranormais, como o controle da mente, levando as outras pessoas a fazer coisas que não querem, até a auto execução, botando em risco a vida dos próprios pais.

Como mencionei antes a idéia é boa, mas na hora da execução...

Para começar o roteiro devia ser reescrito. Situações que não levam a lugar algum; diálogos são despropositados, quando não risíveis; várias subtramas, como a do garoto paranormal que não tem seu "par" e a da marido que se sente traído por que a mulher engravidou mesmo ele estando um ano fora de casa, não acrescentam nada a história principal e só fazem atrapalhar, a personagem Dra. Verner é simplesmente inútil, se tirassem ela do filme não ia se perder nada... Enfim, uma sucessão de erros e clichês que fazem perder a objetividade do filme.

As atuações são outro ponto fraco, tanto dos adultos como das crianças. Estas estãos horríveis(no mal sentido da palavra), deveriam ter visto "A profecia" (1976) ou "O exorcista" (1973) para aprenderem como uma criança pode dar medo. Kirstie Alley, que já fez bons papéis, está muito canastrona. Cristopher Reeve mediano, nem de longe lembra o brilhantismo que mostrava na série clássica de Superman, pena que este tenha sido seu último papel no cinema antes do acidente que o deixou tetraplégico. E Mark Hammil, o Luke de Star Wars, bom, nem se pode falar bem ou mal dele pela participação que ele tem no filme.

"A Cidade dos Amaldiçoados só não é uma perda total por causa da direção de John Carpenter, que apesar de ser inferior em comparação a maestria vista em seus grandes filmes, como "Halloween" e "Eles Vivem", guarda momentos de genialidade que valem ser vistos como a cena em que as crianças saem de suas casas e chegam ao celeiro onde vão morar, numa linda tomada usando cinemascope. No final, é um filme bem ruinzinho, só recomendado para quem é muito fã do Carpenter.

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Vida é Dura: A História de Dewey Cox, A

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Nesta última década, o cinema vem sendo "massacrado" por comédias absolutamente sem graça, a maioria paródia de outros filmes, que arrastam milhares para perderem seu tempo e dinheiro nas grandes salas. Entretanto, em 2007, um ótimo filme, cheio de potencial e com um roteiro inteligente, acabou saindo direto em DVD: "A Vida é Dura: a história de Dewey Cox".

O filme conta a vida de Dewey Cox, de sua infância problemática até se tornar um astro de Rock. Desde a morte do irmão, em uma circunstância absolutamente inusitada,acompanhamos Cox cantando na escola primária, se casando, tendo vários filhos com sua primeira esposa, usando drogas, orgias, até o seu declínio e reviravolta. Em geral, todos os elementos que companham a vida de um super-star. Esta é a grande sacada de "A Vida é Dura": ele é, em si, uma brincadeira com todas estas figuras da músicas que vemos por aí.

Há muitas ironias e referências no filme. Dos astros de rock problemáticos e de vida conturbada, aos empresários extravagantes (no filme, judeus!), à televisão (que adora colocar "fichinhas carimbadas" no ar mesmo em programas de baixíssima qualidade), e ao próprio cinema. Nos últimos anos, várias cinebiografias vêm sendo lançadas e atingindo um grande sucesso, vide "Ray" e "Piaf - um hino ao amor". É bom prestar atenção também nas "participações" de Elvis Presley em um show e dos Beatles num templo de meditação na Índia (!)

O grande trunfo desta comédia é tratar tudo isto com muito humor. Muitas piadas são absolutamente desnecessárias, mas a maioria delas funciona. Muito disso se deve ao talento que John C.Reilly impinge ao seu personagem. O ator já vinha demonstrando competência em filmes como "O Aviador" e "Chicago" (por este recebeu uma indicação ao Oscar de melhor ator ator coadjuvante). Em "A Vida é Dura", Reilly está muito divertido no papel de Cox, interpretando o artista desde os 14 anos (!) até os 71. O elenco de apoio também ajuda bastante, mas é praticamente ofuscado pela atuação do ator principal, que recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator em Comedia/Musical por seu desempenho.

Também merecem destaque os números musicais. São todos muito bem conduzidos pelo diretor Jake Kasdan. Alguns são no mínimo hilários, como a campanha que Cox promoveu para defender os anões, sátira aos movimentos criados por grandes artistas como Michael Jackson e uma das grandes sacadas do roteiro do próprio Kasdan e de Judd Apatow. O ator John C.Reilly solta a voz, e se sai muito bem em todas as canções, especialmente "Walk Hard", que dá título ao filme.

Enfim, um ótimo filme, uma brincadeira com os clichês da música e de Hollywood. Uma pena que filmes como esse não sejam muito valorizados pelas distribuidoras do Brasil e acabem saindo direto em vídeo, enquanto produções de qualidade muito duvidosa acabam indo parar nas salas de cinema.

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Fuga de Nova York

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John Carpenter é um dos realizadores mais influentes de sua geração. Diretor referência para outros como Quentin Tarantino e James Cameron, ele é autor de clássicos como "Halloween" e "Enigma de Outro Mundo". Seus filmes, tirando importantes exceções, em geral não tem boa recepção de crítica e público, mas possuem uma legião fiel de fãs ao redor do mundo; e é quase consenso entre eles que seu melhor filme, ao lado de "Halloween", é Fuga de Nova York.

Fuga de Nova York surgiu no filão de filmes muito em voga nos anos 70 e 80 do século passado que retratam sociedades futuristas e distópicas, onde os instrumentos de lei e ordem tentam debilmente reprimir o caos e o clima de violência reinante, como "Os Selvagens da Noite", "Mad Max" e até "Laranja Mecânica". A história do filme se passa no ano de 1997 e Nova York não é a mesma: devido aos elevadíssimos índices de criminalidade e violência que assolam o mundo a ilha de Manhattan foi isolada por um muro de 12 metros de altura e transformada em prisão federal, na qual todos os criminosos e marginais do páis foram colocados e da qual não há maneiras de escapar. Acontece que o avião que transportava o presidente dos Estados Unidos (Donald Pleasance) cai dentro da ilha.

Nesse momento entra em cena o único homem capaz de resgatar o presidente com vida das mãos dos bandidos prisioneiros liderados pelo temido Duke (o falecido compositor Isaac Hayes): o mercenário Snake Plissken. Trata-se de um dos personagens mais lendários do cinema. Com seu tapa-olho, estilo misterioso, humor cínico e frases espirituosas, ele se tornou um ícone dos anos 80 e da cultura pop, e até foi parar no mundo dos games (quem joga Metal Gear conhece bem ele).

Por chantagem do diretor do presídio (Lee Van Cleef, grande ator de westerns), Snake parte nessa missão em troca de sua liberdade e para garantir a sua cooperação, um detonador é implantado no seu tornozelo e explodirá em 24 horas!

Seguindo o roteiro básico de um bom filme de ação, Fuga de Nova York é uma grande aventura pós-apocalíptica que tem como maiores qualidades a competente cenografia e ambientação sombria e desolada de uma Nova York tomada por bandidos, com construções abandonadas, cenários sujos e ruas cheias de lixo, dignos de um autêntico filme B.

A fotografia é pesada e até incômoda de se ver, mas se adequa perfeitamente a proposta do filme.

E a direção, como de costume nas obras de Carpenter é muito boa, destaque para cena que Snake chega de planador na cidade, excelente. Mas a cereja no topo do bolo é a presença de Kurt Russel como Snake Plissken, no papel de sua vida. Os outros nomes do elenco são de primeira, mas seus personagens não são bem desenvolvidos. Isso, aliado a um vilão meio apagado e umas partes meio arrastadas levam o filme a não alcançar o brilhantismo.

Quando lançado Fuga de Nova York alcançou uma boa bilheteria, a melhor da carreira do diretor, e ganhou até uma sequência (Fuga de Los Angeles). Hoje em dia, ganhou ares de filme cult e admiradores em todo o mundo. Apesar de não ser a melhor da carreira de Carpenter(se quiserem ver o melhor do diretor assistam "Halloween" e "Eles Vivem") é um ótimo entretenimento oitentista e um excelente filme de ação.

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Ó Paí, Ó

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Apesar dos "apesares", o filme da diretora Monique Goldenberg é uma sopa de gêneros e mostra muito além da Bahia do carnaval e dos moleques de rua.

Em uma história bastante conturbada pelos problemas sociais, 'Ó Paí, Ó' mostra o cotidiano derradeiro do baiano extrovertido Roque (Lázaro Ramos) e de sua forma de levar a vida. Como cenário para uma história cheia de contrastes, a cidade de Salvador, mais precisamente o Pelourinho, um dos mais importantes e procurados pontos turísticos da cidade também é palco de muita diversão, alegria, sentimentos e características comuns dos baianos. Mas não é de carnaval, folias de rua, personagens trabalhadores com um sotaque nordestino carregado, comidas típicas e tradições, ou seja, do que atrai os turistas, que Salvador é feita, e talvez esse seja um dos mais poderosos trunfos do filme: mostrar a realidade, nua e crua.

Filmes nacionais realistas (e de qualidade) é o que mais se vê agora, vide os ótimos 'Cidade de Deus' e 'Tropa de Elite'. 'Ó Paí, Ó', obviamente, não chega aos pés desses dois, mas também não faz feio ao retratar subtemas tão comuns, como o preconceito, a prostituição, a religião de maneira sagaz e prática. A falta de condições melhores de vida, a violência, a pobreza, tudo é devidamente retratado neste longa nacional, mas não poderia deixar de ter, a extravagância e o bom humor baiano, marca registrada de um povo tão alvo de preconceitos racistas, mas que nem por isso deixaram de lutar na vida. Um dos momentos que mais causou impacto foi a cena em que o personagem Roque desabafa aos berros, uma tirada racista vinda de Boca (Wagner Moura), quando ele usa de comparações para demonstrar a sua raiva interior, de ser julgado por sua cor de pele e de não poder TER os mesmos direitos que os brancos têm, apesar de ter, como o prórpio Roque disse, dois braços, duas pernas, dois olhos, uma boca, de precisar dos mesmos remédios que os brancos, de precisar da mesma comida, de ter o sangue jorrado para fora do corpo quando são atingidos por uma bala.

O filme também aproveita para criticar o comportamento dos baianos durante as épocas de carnaval, sempre sendo julgados como encarnações do demônio pelos homens e mulheres devotos à Cristo, como é o caso de Dona Joana (Luciana Souza), uma espécia de síndica de um cortiço bem na ladeira do Pelourinho, que obriga seus dois filhos a andarem com suas bíblias nas mãos.

'Ó Paí, Ó' não é só feito de realistas problemas sociais em meio ao carnaval baiano, é engraçado por mostrar e abusar dos costumes dos moradores de Salvador, os sotaques, os xingamentos, o modo de se comportar, o jeito de levar a vida, tudo é motivo de festa para eles e nem seus piores problemas são capazes de abalar esse bom humor.

Falando-se de um povo animado e autoastral, deve-se falar também do excelente elenco aqui reunido para interpretar essas figuras. Roque é Lázaro Ramos, o sempre extrovertido e radiante ator Lázaro Ramos é um dos melhores do elenco, que tem um grande dote artístico, ele canta e dá seus gritos, nunca exagerado, somente o seu jeito baiano de ser, natural de ser. O elenco é em sua grande parte baiano, mas a atriz Dira Paes, que só aparece no filme após algum tempo tem suas raízes no Pará e o seco e razoável Stênio Garcia é natural do Espírito Santo. Já o ator, um dos melhores e mais completos do Brasil, Wagner Moura é soterapolitano, e está como sempre, soberbo, engraçado e eficiente ao extremo, de longe o melhor do elenco. Ele e Lázaro Ramos juntos formam uma dupla pra lá de talentosa. Em relação ao restante do elenco, todos estão muito bem, Luciana Souza é um destaque dos coadjuvantes. Até mesmo aqueles que fazem uma ou duas pontas no filme dão conta do recado, até porque estão interpretando praticamente eles mesmos, mas mesmo assim não deixam de fazer um trabalho bem feito, por mais danificado pelo casual que seja.

Monique Gardenberg, apesar de dirigir apenas seu segundo filme, não faz feio, muito pelo contrário, é competente o bastante para misturar gêneros, que vão desde a comédia espalhafatosa até a tragédia em um dos minutos finais e mais emocionantes do filme. Monique já sabe como comandar um elenco com afinco, agora só falta apelar menos para alguns estereótipos e trabalhar com um pouco mais de independência, livrando-se de momentos musicais inadequados e mostrando mais do Brasil para o mundo. Mas seu roteiro, baseado na peça teatral de Márcio Meirelles também constroi personagens interessantes como a Psilene, que foi para a Europa e logo o espectador percebe com que objetivo, ou sonho. Indiretamente, o problema da personagem vivida por Dira Paes é justamente o modo como as mulheres são enganadas quando chegam ao exterior, mas mesmo assim, não querem trocar a vida de luxo e passeios de avião pelo tão pouco que a Bahia oferece, mesmo se tiver que se prostituir pelo resto da vida.

Gostar ou não de 'Ó Paí, Ó' é de cada um. Tem aqueles que se sentem atingidos em cheio pelos problemas de um roteiro cheio de falhas e passagens banais, outros pouco se importam com tentativas fracassadas de fazer algo melhor e o que só lhe interessam é o que está por trás, as intenções de mostrar a realidade em meio à música, ao modo como os baianos são obrigados a levar a vida, com o medo de sair de casa, as drogas. E consegue passar a sua mensagem e é isso que mais interessa, sem contar o que já é farto de se repetir sobre filmes brasileiros. Este não mostra apenas um lado da vida baiana, a Bahia das tradições e dos costumes, das comidas típicas e dos sotaques carregados, das belas e incríveis paisagens, mas também mostra a Bahia da dificuldade, do preconceito, da violência, das drogas, da prostituição e da pobreza, enfim, a Bahia dos baianos, a Bahia que nos acostumamos a conhecer.

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