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Críticas

Primeira Noite de um Homem, A

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A categoria e o estilo de Mike Nichols se resumem neste filme, onde o diretor exprime todo o seu talento e sua maestria em orientar de maneira excepcional tanto o elenco quanto o andamento do roteiro.

"Mrs.Robinson, você está tentando me seduzir?"

Esta frase corresponde ao quinto lugar entre as 100 melhores já ditas no cinema de todos os tempos, segundo uma votação realizada em 2007 pela revista Premiere. Essa e outras partes de diálogos afiadíssimos e contagiantes fazem do roteiro de Buck Henry e Calder Willingham algo ainda mais extraordinário e inédito. De uma forma completamente diferente de contar uma história a partir do ponto de vista de um recém-formado universitário. Neste caso, o jovem é Dustin Hoffman, que vive com fidelidade o personagem do livro de Charles Webb, Benjamin Braddock. Pedido, sem caber o que fará da vida depois da formatura, ele se vê completamente estasiado com a sua festa, mais parecida com homenagem de seus pais, ao filho que acabara de receber o diploma da faculdade. Apático e confuso, ele é seduzido por uma amiga de sua família, Mrs.Robinson, uma mulher bem mais velha que ele. Depois de ceder às tentações da mulher de um dos sócios de seu pai, Benjamin inicia meio que contrariado um romance com a mulher, até que a filha dela, Elaine, volta em férias da universidade e passa a mexer com o coração do rapaz.

De uma forma inédita e muito convincente, o roteiro de A Primeira Noite de um Homem passou por uma boa "viagem" antes de começar a ser rodado. Quando o produtor, Lawrence Turman leu o livro The Graduate, de autoria de Charles Webb, ele ficou encantado e disse ter se identificado com o personagem principal. Não perdeu tempo e decidiu fazer daquela história, que segundo ele, fantástica, um filme e comprou os direitos da obra por um preço muito baixo e acessível. Como precisava de um diretor, logo pensou em Mike Nichols, que na época tinha acabado de finalizar sua carreira como comediante e ingressava no mundo do teatro. Nichols, que aceitou imediatamente, partiu junto com Turman em busca de uma distribuidora para o que futuramente viria a ser um filme, mas durante dois anos, a única palavra que ouviu das pessoas foi "não". Mas as suas chances mudaram definitivamente quando Elizabeth Taylor, atriz no auge da época o convidou para dirigir o filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, que lhe rendeu seu segundo Oscar e a primeira indicação a Nichols. Foi o suficiente para o diretor ganhar o apoio de Joseph E. Levine, da Embassy Pictures. Com diretor e distribuidora resolvidos, ainda faltava um roteirista para poder finalmente dar sequência ao projeto de filmar o livro que conquistou Turman. Foi quando Calder Willingham escreveu o primeiro teste para o roteiro, que acabou não agradando nem a Turman, nem a Nichols. Eles chamaram então Buck Henry, que criou ao lado de Mel Brooks, o sucesso que um dia se chamaria Agente 86. O roteiro foi tão convincente e até mesmo cômico, que o produtor e o diretor resolveram juntar o de Henry e o de Willingham e ver no que daria.

Enfim, roteiro pronto, faltava agora uma das coisas mais importantes ou segundo Mike Nichols, a coisa mais importante que é a escolha do elenco. Foi difícil encontrar o ator certo para Benjamin Braddock. A produção ouviu centenas de rapazes, mas quem foi que mais agradou aos exigentes jurados foi mesmo o inexperiente e ainda desconhecido talento de Dustin Hoffman. Ele, pessimista, achou que seu teste havio sido um verdadeiro fiasco, mas foi o que mais se saiu bem, melhor inclusive que atores renomados na época como Robert Redford, que acabou desisitindo do papel, Anthony Perkins e o insatisfeito Charles Godrin, que pedia um salário maior que a distribuidora tinha a lhe oferecer. Enfim, Hoffman foi realmente o escolhido, e com mérito, mas ainda faltava a escolha do restante do elenco. Para interpretar Mrs.Robinson, Mike Nichols disse sempre ter em mente Anne Brancoft, mas acabou entrevistas outras várias atrizes antes de convidá-la como Ingrid Bergam, Shelley Winters, Deborah Kerr, Lana Turner, Susan Hayward, Eva Marie Saint e até mesmo Ava Gardner, mas quem acabou ficando definitivamente com o papel, marcante do cinema foi mesmo Brancoft.

Custando apenas US$3 milhões, A Primeira Noite de um Homem arrecadou mais de US$600 milhões em todo o mundo e, em valores reajustados com a atual moeda americana, ocupa a 18ª posição entre as maiores bilheterias da história, e como se isso não fosse muito, também é dono do mérito de ser o 17º melhor filme já feito desde a criação do cinema, segundo o AFI. O longa também recebeu sete indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, mas acabou levando somente a de Melhor Diretor para Nichols, que viu sua carreira deslanchar depois do sucesso inacreditável que o filme fez ao redor do mundo, que também levou Dustin Hoffman a um patamar artístico antes nunca esperado e ter dado a Anne Brancoft a fama eterna até mesmo depois de sua morte em decorrência de um câncer uterino, em 2005. Katherine Ross também teve a sua carreira afetada e sua indicação ao Oscar, assim como Hoffman e Brancoft levou a atriz a participar de importantes filmes como Butch Cassidy e Donnie Darko.

Agora, para analisar o melhor possível de cada departamento do filme, vou dividir este comentário em alguns parágrafos entitulados, a fim de facilitar a leitura.

1. A direção impecável de Mike Nichols.

Não é preciso babar mais o ovo de Nichols ainda para comprovar a alguém como o talento do diretor americano é surpreendente. Ele conseguiu o feito de controlar um roteiro ágil e direto, com cenas memoráveis e intocáveis sem apelar para baixarias nem procedimentos vulgares. Nichols pôde, a partir de uma história completamente livre de estereótipos, utilizar métodos de câmera ainda nunca vistos, com golpes de imagens absolutamente hilárias e simples, mas tão bem feitas que beiram à perfeição. Truques e uma fotografia colorida e cheia de novas técnicas garantem ao máximo o bom aproveitamento de cada cena do filme, que são dirigas a partir de um tom de classe antes nunca visto atrás das câmeras. Outro mérito do diretor, que não sejamos egoístas, não é só dele, é o fato de conseguir extrair uma das atuações mais elogiadas do cinema, de um ator jovem, de 30 anos mas ainda inexperiente, e que conquistou a todos que o assistiram. O Oscar de Nichols foi merecido e muito valorizado em sua carreira no futuro, que abriu muitas portas para ele.

2. As atuações impagáveis de um elenco que "fala somente pelo olhar".

2a. Dustin Hoffman:

A trajetória de vida de um ator famoso é bem mais interessante quando vista de perto. E se observarmos como Dustin Hoffman chegou ao estrelato e à fama vamos ver que ele sim, tem história de vida pra contar. Primeiro que ele jamais teria feito esse papel no cinema não fosse a indicação certeira que Buck Henry fez dele. Segundo, que se ele nunca tivesse feito esse papel no cinema, talvez ele não seria o ator renomado e experiente que ele é hoje. E terceiro, ele certamente não teria dois Oscars básicos em casa para vislumbrar em sua estante sempre que adentra em seus aposentos. Como Benjamin Braddock, o ator surpreendeu não só pela sua infinita capacidade de criar um personagem bem mais rico que o que está no livro, mas também em suas expressões, que misturam sentimentos diversos, que poderia jurar que ele está realmente sentido naquele exato instante da filmagem. Amor, paixão, liberdade, confusão, apatia pela vida, tudo se passa pelo rosto de Hoffman que parece, a cada papel, dar vida a uma personalidade diferente dele, ainda não revelada. Em 'A Primeira Noite de um Homem' não é diferente, o ator dá o máximo de si, e o resultado? A indicação ao Oscar de Melhor Ator, que somaria com mais seis no futuro e o Globo de Ouro de Melhor Ator Revelação.

2b. Anne Brancoft

A eterna Mrs.Robinson não é "só" a "eterna Mrs.Robinson" coisa nenhuma. Uma atriz experiente, que antes de morrer de câncer, deixou um Oscar de Melhor Atriz em casa, para enfeitar e lembrar a sua fantástica carreira no cinema. Por O Milagre de Anne Sullivan, em uma memorável interpretação, Brancoft se consagrou definitivamente pela história do cinema. Mas deve ser por "The Graduate" que ela ficou conhecida como a mulher dos olhos. Essa espécie de apelido se refere a uma passagem no filme que aqui estou comentando, na qual ela aparece em um close e sem dizer uma única palavra, ela simplesmente "diz" com os olhos. Depois, a câmera vai se afastando e ela finalmente fala o que já era esperado e de certa forma, compreendido pelo espectador. Por este filme, ela também recebeu sua indicação ao Oscar, e certamente teria vencido, não fosse Katherine Hepburn em uma interpretação pra lá de excelente, mas nem tão melhor assim, em Adivinhe Quem Vem para Jantar.

2c. Katherine Ross

Apesar de uns gritinhos, aqui, outros gritinhos ali, Ross simplesmente mostra todo o seu talento no papel de Elaine Robinson. Uma de suas melhores e mais marcantes cenas envolvem uma na qual ela está sentada de costas para uma stripper, enquanto ela dança sobre a sua cabeça e Benjamin ignora-a. Outra cena, que pra mim é uma das mais brilhantes do filme, é a cena final, na qual Ross e Hoffman estão sentados no ônibus (ela, vestida de noiva), que acabaram de fugir do casamento, e por incrível que possa parecer, eles só dão risada e quando param, não trocam uma única palavra. Nesta cena, não só Hoffman mostra a que veio, como Ross também prova ser uma atriz subestimada, e embora jovem, sabe fazer um papel muito bem, um papel muito além de uma mocinha, que foge com o amante do casamento.

3. A trilha: The Sounds of Silence by Simon & Garfunkel.

"Hello darkness, my old friend,

Ive come to talk with you again,

Because a vision softly creeping,

Left its seeds while I was sleeping,

And the vision that was planted in my brain

Still remains

Within the sound of silence."

As trilhas sonoras fazem muita diferença na hora de editar um filme e com certeza, este 'A Primeira Noite de um Homem' não seria a mesma coisa não fosse as escolhas inteligentíssimas do departamento musical na hora de optar por quais canções iriam para a montagem final. The Sounds of Silence da dupla Simon & Garfunkel é talvez, a mais bela e correta canção do filme. Aparendo primeiramente no começo do filme, onde mostra Benjamin Braddock em uma espécie de esteira no aeroporto, enquando aparecem os créditos iniciais embalados pela música. Com pouca diversidade, mas com canções muito interessantes, a trilha acabou se tornando um marco do filme, e assim como em Pulp Fiction - Tempo de Violência, ela tem uma importância significativa para toda a produção.

"...In restless dreams I walked alone

Narrow streets of cobblestone,

neath the halo of a street lamp,

I turned my collar to the cold and damp

When my eyes were stabbed by the flash of

A neon light

That split the night

And touched the sound of silence."

'A Primeira Noite de um Homem' é um belo filme, com detalhes minuciosos e perfeitos que fazem toda a diferença, mas este não é um filme difícil de se acompanhar, mas sim uma obra ágil e livre de clichês, mesmo com cenas que já foram vistas em outros lugares, não tropeça um único segundo, a não ser por algumas cenas que se mostram arrastadas demais, mas fora isso, o filme se torna agradabilíssimo e uma comédia romântica inesquecível e até mesmo polêmica. A cena final, que fora cortada em Portugal devido ao regime militar (que não queria os jovens fazendo coisas erradas), inclui quando Benjamin aparece no vidro da Igreja onde Elaine está se casando e ele bate com força, gritando o nome dela. Nesta cena, muitos dizem que foi um reflexo aparentemente de Jesus Cristo na cruz, e por isso, o filme foi alvo de críticas por parte da Igreja e pessoas vinculadas aos meios religiosos. Um retratado fiel tanto ao modo de viver dos anos 60 como uma aula de como se fazer cinema com o mestre Mike Nichols, que dirige o filme como um verdadeiro mestre, onde tudo é belissimamente caprixado, desde a fotografia diversa até as hilárias e inusitantes cenas. Um filme memorável, um verdadeiro marco do cinema, que jamais será esquecido.

"Goodbye, Benjamin"

Críticas

Amadeus

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O consagrado diretor Milos Forman ( responsável por filmes como “Um Estranho no Ninho” e “O Mundo de Andy” ) recriou todo o ambiente palaciano ostensivo da época clássica vienense ( para isso as tomadas foram gravadas em Praga, o figurino e a maquiagem remontam a tal época ), lugar onde reis e imperadores exerciam o papel de mecenas ao “patrocinar” o trabalho de músicos, pintores e artistas em geral.

Do modo como a narrativa discorre, podemos ver tudo a partir da visão de Salieri - enraivecido com Deus por ter concedido uma benção maior à um moleque brincalhão – enquanto conversa com o padre e com o espectador.

Não sei se foi proposital, mas o centro do filme fora ligeiramente deslocado para a figura de Salieri, um músico italiano cujo trabalho estava a serviço do imperador de Viena, porém sua música fora subestimada e quase esquecida perante as inovações do prodigioso garoto. Salieri admirava profundamente as obras de Mozart, muitas vezes incompreendidas pelo público. Fato este que motiva o músico italiano a nutrir um sentimento de inveja para com o dom do compositor austríaco, pois aquilo era tudo o que ele sempre quisera e sempre pedira à Deus, mas Ele nunca o escutara e preferira abençoar com aquela enorme habilidade musical um jovem desregrado. Essa ambígua dualidade de sentimentos confere um ar de sutileza ao personagem brilhantemente interpretado por F. Murray Abraham; pois mesmo alimentando uma inveja mortal pela música do concorrente, acabava se rendendo à genialidade de tais melodias.

Sob minha interpretação, Forman tentou humanizar o já divinizado Mozart. Ele conseguiu mostrar um Mozart beberrão, bastante brincalhão, beirando o caricato e dono de uma risada um tanto exagerada que, ao ter seus interesses contrariados, liberava toda a sua fúria na forma de arrogância e petulância responsáveis por “inflar” o seu ego. Diga-se de passagem, a inteligência exacerbada é sempre precursora de uma arrogância sem limites.

O Mozart que nasceu com uma capacidade intelectual esplendidamente superior a meros mortais – capaz até de possuir ligações com o inconsciente coletivo da espécie humana – aqui é retratado como alguém que desde cedo recebeu os incentivos certos por intermédio de seu pai, que não era um gênio, porém fez com que o cérebro do filho fosse estimulado na melhor fase de aprendizagem da vida : a infância. Isso mostra que crianças que nascem com um intelecto avançado, só conseguirão desenvolvê-lo se existir estímulos externos, principalmente por parte dos pais e de pessoas próximas. Fato que quebra aquele errôneo pensamento de que os grandes gênios já nascem sabendo de tudo.

O roteiro explicita o impacto que as obras de Mozart causaram ao grande público que não se acostumavam com suas técnicas inovadoras. Toda grande mente que se encontra à frente de seu tempo em uma posição de vanguarda, sempre é discriminada por pessoas de visão curta. Mas o tempo se encarrega de imortalizá-los.

O filme é fruto do casamento de idéias esplêndidas compondo um roteiro bem organizado; uma impecável direção de arte; uma trilha sonora tão grandiosa, que chega a se transformar em um importantíssimo integrante da trama; personagens esféricos e bem desenvolvidos graças ao brilhantismo das atuações. Tudo isso culmina em uma arrebatadora obra prima comandada pela batuta de Milos Forman – que aliás, se tornou um dos “monstros sagrados” do cinema mundial e um dos maiores no ramo da cine-biografia.

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Rede de Mentiras

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Ridley Scott construíu uma sólida carreira como cineasta. Apesar de nunca ter vencido um Oscar, ele é conhecido por bons filmes e alguns clássicos, como "Alien: O Oitavo Passageiro", "Blade Runner: O Caçador de Andróides" e mais recentemente o premiado "Gladiador".

Nos últimos anos, Scott iniciou um parceria de sucesso com Russel Crowe, parceria essa que lhe rendeu o Oscar de melhor ator por "Gladiador". Os dois ainda trabalharam juntos no competente "O Gângster" e no recente "Rede de Mentiras" - em 2009, Scott dirigirá Crowe mais uma vez no drama "Nottingham".

Confesso que assisti o mais novo filme de Ridley Scott com um pouco de ansiedade. Depois de assistir "O Gângster" - que é um bom filme apesar de alguns defeitos - fiquei esperançoso quanto à nova trama, que além de contar com o já falado Russel Crowe, também tem o ótimo Leonardo DiCaprio como personagem principal; prato cheio para o espectador.

Gostaria muito de dizer algo positivo, mas, infelizmente, os dois atores principais são o único ponto forte de "Rede de Mentiras". O filme já erra no seu enredo principal e na ideologia equivocada e tendenciosa. Mais uma vez o palco é a guerra norte-americana contra o terrorismo, assunto que virou muito comum em hollywood nos últimos anos. Os americanos, bonzinhos por natureza, e o mundo árabe, escória da humanidade - é essa a impressão que temos na maioria desses fimes; "Rede de Mentiras" não foge à regra.

Como se não bastasse a falta de criatividade em se tratando de um tema já batido, a trama de Ridley Scott ainda peca em outros pontos. O roteiro é ruim, a história por si só já é pouco interessante e ainda é embalada por músicas típicas do Oriente Médio - o que torna o filme ainda mais chato e maçante. Além de tudo, não há a mínima construção dos personagens; pouco se sabe quem é Roger Ferris (Leonardo DiCaprio) e Ed Hoffman (Russel Crowe); parece que foi tudo feito com tanta pressa que acabou faltando tempo para se criar uma personalidade para os personagens - lamentável.

Outro ponto que achei absolutamente sem sentido é o relacionamento que envolve o personagem de DiCaprio e a atriz Golshifteh Farahani, que interpreta Aisha - uma médica local. Totalmente clichê e fora de contexto, o pseudo-relacionamento esfria completamente a já defasada e incorreta trama - fazendo com que o espectador se aborreça ainda mais com o produto.

Ridley Scott peca em seu novo filme e nos traz uma trama vazia de conteúdo e sem a mímina graça. DiCaprio e Crowe salvam o filme, o que ainda assim não torna "Rede de Mentiras" um produto recomendável. O pior de tudo é que um assunto que deveria ser tratado com tanto cuidado e no mínimo promover uma reflexão por parte do espectador, acaba se tornando fútil e pretensioso do jeito que é. Sem dúvidas um dos filmes mais decepcionantes que vi ultimamente.

www.moviefordummies.wordpress.com

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Chumbo Grosso

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Uma ótima sátira moderna aos filmes de ação!

Depois de parodiar com muita inteligência os filmes de zumbi e criar uma das melhores comédias dessa década com "Todo Mundo Quase Morto", o roteirista/diretor Edgar Wright e o roteirista/ator Simon Pegg voltam ao mundo cinematográfico com essa divertidíssima sátira aos filmes de ação, no estilo daqueles protagonizados pelo Stallone, Steve Segal, Bruce Willis(God!), Chuck Norris e afins.

O filme acompanha a história de Nicholas Angel (Simon Pegg), o melhor e mais dedicado policial de Londres, do tipo que decora os manuais de regras e coleciona prêmios e recordes dentro da academia de polícia. Sua grande competência atrai a inveja de seus colegas e superiores que o "promovem" a sargento de Sandford, uma pequena aldeia do interior da Inglaterra, onde não ocorre um homicídio há 20 anos. Em suma, um lugar aparentemente normal e supertranquilo, para frustação de Angel, acostumado a rotina agitada de investigações da cidade grande e que agora tem de enfrentar casos tão difíceis como o desaparecimento de um ganso ou um furto de biscoitos de um supermercado.

Mas o instinto policial de Angel é mexido com a ocorrência de vários acidentes estranhos e violentos na cidade. Ele desconfia da ocasionalidade de tais acidentes e passa a investigar os fatos por conta própria, indo de encontro as determinações das forças locais. A investigação o leva a descobertas sobre a personalidade verdadeira dos supostamente gentis de Sandford e o envolve em uma trama de mistério e bizarrice.

O que resulta desse enredo mirabolante é um filme híbrido de comédia, mistério, ação e até um pouco de horror slasher, finalizando com um tiroteio homérico, uma digna homenagem ao final de "Butch Cassidy". Esse formato mistureba é muito difícil de ser conseguido com qualidade e sucesso, podendo descambar facilmente para uma confusão caricata e sem-graça, o que graças ao talento dos seus realizadores não acontece.

O ponto forte do filme é o seu roteiro. Ele é ótimo e consegue acertar onde muitos roteiros de outros filmes satíricos erram: o equilíbrio entre o cuidado dado as piadas executadas e a história a ser contada. Os roteiristas(Wright e Pegg) conseguiram

criar uma história(bem) original e ainda a encheram de ótimas piadas e sutilezas deliciosas. E como esse é um filme de referências aos thrillers de ação,

os clichês do gênero não podiam faltar: os tiroteios, as explosões, as perseguições a pé ou em alta velocidadade, a munição interminável, as one-liners espirituosas e idiotas, todos estão presentes e sendo parodiados muito bem. Um exemplo disso é o policial bobão Danny(o ótimo Nick Frost), um fã de filmes de ação que vive importunando Angels com perguntas como "É verdade que existe um ponto da cabeça de uma pessoa que se você atirar ela explode inteirinha?"e outras questões tiradas de filme de ação como "Bad Boys","Duro de Matar" e "Máquina Mortífera", todos citados no filme.

Outro ponto de apoio do filme é a direção de Edgar Wright. Repetindo o estilo vibrante de seu filme anterior, ele utiliza cortes rápidos e bem-pensados para acelerar a narrativa e "pular" partes desnecessárias, como uma viagem longa ou a saída de uma pessoa de casa para o trabalho. Essa montagem veloz e jovem conta a favor do filme, pois além de se encaixar muito bem com a história de ação encobre algumas falhas da película, como a duração um tanto demasiada e algumas partes morosas.

Como já era esperado de um filme dos criadores de "Todo Mundo Quase Morto"(quem já o viu sabe o porquê), a trilha sonora é incrível.Composta em sua maioria de pérolas do rock britânico, ela é muito boa e ajuda a construir a narrativa, um recurso que particularmente me agrada muito.Por exemplo, em uma cena do filme na qual os policiais estão investigando um incêndio misterioso, um dos personagens passa de carro ouvindo "Fire", música de Arthur Brown.

Depois de todas essas qualidades do filme, ainda temos um elenco poderoso. Além de Simon Pegg, ator cômico que dá de dez a zero em qualquer Adam Sandler e Ben Stiller da vida, e de Nick Frost, temos Bill Nighy (grande ator britânico), Timothy Dalton (o ex-007), Jim Broadbent (o Harold Zidler de Moulin Rouge) e participações especialíssimas do diretor de "Senhor dos Anéis" Peter Jackson e de Cate Blanchett.

Além de ser uma competente paródia de filmes de ação, Chumbo Grosso é uma ótima comédia, uma das melhores dos últimos tempos, pode-se dizer. Sua única falha talvez seja a sua duração um pouco estendida para a proposta do filme. Mesmo assim, palmas para a dupla Edgar Wright e Simon Pegg, que eles conrtinuem fazendo filmes tão divertidos e inventivos como esse e "Todo Mundo Quase Morto"

Críticas

Curioso Caso de Benjamin Button, O

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Um filme brilhante que abusa de certos cliches, mas nem por isso cai nos erros comumentes do genero.

Benjamim Button viveria sua vida normal se nao fosse por um unico problema: ele nasce com todos os problemas de um idoso de 80 anos e com o passar do tempo ele rejuvenesce ate se torna uma pequena criança.

Bem, quem lê uma sinopse como essa apesar de achar interessante pode ficar confuso, ate porque se trata de um assunto ja bastante usado pelo cinema americano: O tempo. Ainda mais quando se tem que contar uma estoria de um homem que "envelhece" ao contrario, talvez por isso alguns diretores (Spielberg, Spike Jonzie, Gounldry...) resolveram não assumir a responsabilidade de levar uma estoria tão complicada aos cinemas. Porem uma dupla resolveu dar vida ao projeto, foram eles: o roteirista Eric Roth e o diretor David Fincher.

Quem esta acostumado ao estilo Fincher de dirigir seus filmes, talvez irá se decepcionar com esse longa, ja que aqui nao ha presença de sangues e nem conflitos psicologicos.

David Fincher opta por dar asas a um projeto que de inicio parecia ser simples, mas que se for bem analisado nas entrelinhas na verdade é bem grandioso. Nesse longa ele tem todo um cuidado ao contar a estoria, alem tambem de conseguir nos transportar (claro, com a ajuda tecnica do filme) ao tempo em que o longe se passa.

Já Eric Roth assume uma responsabilidade e tanto ao escrever o roteiro. Na verdade ele erra bastante em alguns pontos, como os cliches mostrados de forma exacerbada, ou ate mesmo não esclarencendo pontos pequenos, mas que nos fazem falta. Com respeito ao tempo de duração do filme (2h30), alguns podem se assustar, mas não se enganem nada aqui é desperdiçado ou apenas escrito para ganhar tempo, tudo tem uma ligação, ou lição que nos faz entender o real sentido de algumas coisas na vida. É o exemplo da personagem de Tilda Swinton, que de começo me pareceu desnecessario, mas que perto do final, nos faz aprender uma regra de ouro.

Na verdade a grande atração tambem fica por conta da parte tecnica. A direção de fotografia é maravilhosa. A trilha sonora caminha lado-a-lado com a perspectiva do filme. Mas a grande atração é a maquiagem que é estupenda, fato explicado devido a grande importancia dado ao tempo no longa.

Com respeito as atuações, são boas. Brad Pitt, bem nunca fui muito fã dele, mas aqui ele se entrega ao personagem, pena que ele continua fazendo caras e bocas para manter a fama de galã, atitude totalmente desnecessaria aqui. Já Cate Blanchett, o que falar, sou fã declarado dessa maravilhosa atriz, nesse filme ela se entrega mais uma vez ao personagem que é uma dançarina, engana-se quem pensa que ela é apenas o par romantico de Pitt, sua personagem nos passa um valor moral mais do que digno. Sem falar que em algumas cenas de dança ela se supera fazendo passos que so quem faz dança a certo tempo consegue realizar (eu que ja fiz dança, assino embaixo). Destaques tambem para Tilda Swinton e tambem para Taraji P. Henson, que faz a mae do Button. Alem do que todos os personagens nesse longa nos dão a liçao de algo ou nos passa algum aprendizado. Nada aqui é por acaso.

Um grande concorrente ao Oscar, mas creio que os cliches o impessam de levar muitas estatuetas, talvez limitando-se apenas as categorias tecnicas. O que é uma pena!

Um filme que nos ensina lições valiosas. Lições que nós como humanos deveriamos levar para sempre conosco.

"Alguns nascem para nadar"

"Alguns nascem para ser artistas"

"Alguns nascem para ser mãe"

"Alguns nascem para a musica"

"Alguns nascem para a dança"

"Nunca desista do seu sonho, por mais impossivel que ele pareça de se realizar!"

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Kill Bill - Volume 2

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Até inícios dos anos 1990, Quentin Tarntino era praticamente um desconhecido do mundo do cinema. Eis então, que surge este talentoso diretor, nos brindando com o ótimo "Cães de Aluguel". Depois deste, foram só acertos: o fantástico "Pulp Fiction", o cômico "Jackie Brown" e, finalmente, seu projeto mais ousado, "Kill Bill". Pensado inicialmente para ser um único filme, o projeto foi dividido em 2 partes, e não dá para saber qual delas é a melhor.

Na parte 2, a "Noiva" (Uma Thurman), cujo verdadeiro nome é finalmente revelado, continua em busca da vingança que já havia iniciado na parte 1. Após exterminar Vernita Green (Vivica A.Fox) e O-Ren Ishi (Lucy Liu), além de dezenas de outros personagens, ela vai atrás dos outros três responsáveis pela perda de sua filha e seu coma de quatro anos: Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Daryl Hannah) e, é claro, Bill (David Carradine).

O filme é absolutamente genial. Neste, Tarantino abusa mais do estilo western, mas as cenas de artes marciais presentes no filme anterior continuam neste. A vida da "Noiva" anteriormente ao massacre, seu relacionamento amoroso com Bill e o seu treinamento marcial são minunciosamente trabalhados pelo diretor. O destque fica para as cenas de treino com o mestre Pai-Mei (Gordon Liu), personagem que produz um efeito cômico, mas é de vital imprtância para a trama. Quanto as lutas, o ponto alto é o duelo entre a Noiva e Elle Driver, fantástica.

E "Kill Bill" não é só um filme de ação. Os diálogos de Tarantino estão afiados como sempre. A seqüência final é altamente filosófica, e mostra como os personagens de Uma Thurman e David Carradine se odiavam, mas ao mesmo tempo se amavam! E os atores estão relamente extraordinários. Thurman no melhor papel de sua carreira, Carradine na sua melhor forma, Daryl Hannah compondo uma vilã odiosa e Michael Madsen competente como sempre. Destaque para a participação de Michael Parks como o pai de Bill; na seqüência anterior, ele havia interpretado o xerife Earl McGraw. Até Samuel L.Jackson faz uma ponta como o tocador de órgão na Igreja.

E, nos aspectos técnicos , o filme é praticamente perfeito. A trilha sonora continua fantástica, e tem uma importância ainda maior do que na parte 1. Direção de arte e figurinos continuam precisos, e a fotografia fantástica. Além do mais, Tarantino mostra saber como fazer as tomadas certas; é só prestar atenção no foco que ele dá aos olhos dos personagens em uma cena entre Uma Thurman e Michael Madsen. Fantástico!

Enfim, as duas partes de "Kill Bill" devem ser assistidas como um filme só. Ambos constituem uma única experiência, criativa e fantástica, Uma homenagem de Tarantino aos gêneros que ele gostava, mas acima de tudo, um grande favor ao cinema. Que venha o próximo deste grande diretor, e que ele nos surpreenda mais uma vez!

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Rebobine, Por Favor

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Embora demore para engrenar, Rebobinbe por favor é um belo trabalho de Michael Gondry, um filme que escancara a hipocrisia de boa parte daquilo que achamos belo. Crítica contundente ao espírito comercialesco de Hollywood, que serve para ratificar, sendo ele um exemplo claro disso, de que um bom filme se firma enquanto idéia, e não enquanto produção milionária.

Originalissímo, o roteiro de Gondry infelizmente peca no início da trama, chegando a dar um tom meio bizarro ao filme, todavia, após 30 minutos de filme o roteiro começa a se encaixar, o resultado é que o filme fica extremamente cativante e escancara de vez seu proposito crítico.

A história trata de um mecânico, Jerry (Jack Black) que tem seu corpo magnetizado certo dia, devido a isso, Jerry acidentalmente "apaga" todo o conteúdo dos VHS da locadora em que seu amigo Mike (Mos Def) trabalha. Pensando em uma solução para a locadora, os dois decidem filmarem remakes das fitas desejadas pelos clientes, processo denominado por eles de "suecagem". A partir de então, aventura e bastante sucesso com a vizinhança farão parte do dia-dia de Jerry e Mike.

Carregados por boas doses de Jazz em uma periferia americana, untados de sucessos de bilheterias conhecidas do público em geral, o filme tmbém ganha força por causa das ótimas e cômicas atuações de seus atores. É um filme simples, mas com uma idéia incrível.

Infelismente o tom de humor é ausente devido a inabilidade de seu diretor em gerir tal empreitada, todavia, nos momentos em que o filme carrega um tom mais dramático, repetindo os acertos de sua obra-prima Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, Gondry consegue transpôr boas doses de dramatização, pricipalmete no final do longa.

Jack Black faz um bom trabalho, super à vontade em um papel que encixou perfeitamente em sua limitação dramática, isso óbvio em outros trabalhos seus. Danny Glover é uma presença de respeito na película, assim com Sigourney Weaver, cumprindo com categoria seus papéis. Todavia a grande surpresa fica mesmo por parte de Mos Def, rapper-ator que atua surpreendentemente muito bem, não é um atorexcepcional, todavia, bem dirigido em um filme importante, em um papel que exija dele, Def pode vir a cair nas graças de muitos críticos e diretores, já que seu carisma é inegável com o público.

Quanto a Gondry, apesar de uns acharem o contrário, ele se mostra um diretor, digamos, "independente" da aura "mitológica" do talentoso Charlie Kaufman. Seu filme é extremamente original, e embora seja uma comédia de péssimas piadas, o filme ganha pontos devido a excelente mensagem de seu conteúdo.

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P.S. Eu Te Amo

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A princípio, fora dos padrões convencionais das comédias românticas, "PS. Eu te amo" inova ao mostrar a continuidade póstuma de um amor, o que é uma conquista em uma era em que o piegas impera.

Seu roteiro, feito para emocionar quem o assiste, não se define ao certo por drama ou comédia romântica, embora acerta em cheio ao mesclar ambos os gêneros, fazendo assim o espectador limpar as lágrimas após iniciar um ligeiro sorriso.

Hillary Swank ("Menina de Ouro") e Gerard Butler ("300") protagonizam este romance como um casal simpático que, logo de início no filme dão um vislumbre de sua relação entrosada, com direito a briguinhas banais finalizadas na cama, sendo um tempero à parte na convivência dos dois.

O romance como o atrativo da estória não é necessariamente palpável aqui, o desenrolar é por meio de cartas que Holly, personagem de Swank, recebe ao decorrer do filme enviadas misteriosamente por seu marido Gerry (Butler), falecido de câncer logo no início.

Após o enterro de Gerry, inconsolável e perdida, Holly, recebe como presente em seu aniversário uma fita de áudio de Gerry, contando a noticia de que ela receberá correspondências suas. Ao prever antes que a sua doença culminaria em morte, Gerry se preparou para surpreender Holly com as tais cartas, para que após seu falecimento ela viesse as receber. O mais interessante é que a estória é cuidadosamente conduzida, evitando qualquer morbidez aparente à trama.

Simples assim, o filme é isso, um enredo apaixonante sobre uma recém jovem viúva amparada por cartas de seu saudoso marido, que tem como intenção fazer com que ela se firme em seus propósitos, reaprendendo a viver sem a presença dele, curtindo tudo que ela ama e que deixou pelas circunstâncias.

Não parece ser a mais convencional narrativa romântica, mas pode acreditar, o filme não se perde e consegue, com drama e humor na dose certa, atingir uma beleza poética.

Ver Hillary Swank como alguém feminina, bem vestida, tendo crises fúteis e peculiares como qualquer mulher normal, não é uma tarefa fácil. Ela não está em sua melhor forma no quesito atuação. E sua paixão por Gerry não é a mais convincente (já não é o caso de Gerard Butler), mas ela não faz feio.

Gerard, ainda com a imagem de Leônidas bem vívida, conseguiu encarnar um homem divertido, romântico e apaixonado. A carga emocional do casal se pendurou basicamente na pessoa dele.

Não escapando também de ter sutis derrapadas e alguns clichês, "P.S. Eu te amo", ainda assim, está longe de ser apenas mais um superficial "água com açúcar" cinematográfico, e isso se deve a sua beleza, conteúdo e profundidade. O que é perceptível até nos diálogos, tão reflexivos a ponto de não correrem o risco de cair no descaso.

Quem também merece elogios é a trilha sonora que é simplesmente condizente. Uma seleção bem escolhida, com destaque para "Same Mistake" de James Blunt, que teve seu momento hit.

Kathy Bates, mesmo sempre em papéis coadjuvantes, consegue incorporar otimamente a mãe de Holly. Quanto ao restante do elenco, a meu ver, foi um erro escalar como amigas de Holly, Lisa Kudrow (a eterna "Phoebe") e Gina Gershon (pura canastrice). Ambas sem química, não convencem e tornam-se dispensáveis. Lisa, por exemplo, apesar de maravilhosa no gênero comédia - julgando por seu ótimo desempenho no icônico seriado "Friends" -, está totalmente perdida no filme.

Enfim, com um ar sofisticado e literalmente emotivo, o filme é belo em sua essência, conseguindo por si só trazer boas lições sem parecer apologia direta.

A palavra "qualidade" é com certeza um dos adjetivos mais propícios para definir "PS. Eu te amo" (frase com que o personagem Gerry termina suas cartas para Holly).

Diversão em meio a emoção é o que oferece esse belo filme. Ótima pedida para quem está amando.

Críticas

Mamma Mia!

0,0

Neste século XXI, estamos assistindo à volta do gênero musical, que ficou meio adormecido nas décadas de 1980/90. Esta volta começou com o fantástico "Moulin Rouge-Amor em Vermelho", em 2001, e daí em diante surgiram boas produções como "Chicago", "Hairspray- Em Busca da Fama", "Dreamgirls" e "Sweeney Todd". E, em 2008, chegou aos cinemas um musical inteiramente com músicas do grupo ABBA.

O filme, adaptado de uma peça homônima, tem um roteiro bem fútil: Sophie (Amanda Seyfrield), que vive em uma ilha grega junto com sua mãe Donna (Meryl Streep) está prestes a se casar e, ao ler um diário secreto da mãe, descobre que pode ter três possíveis pais: Sam (Pierce Brosnan), Bill (Stellan Skarsgaard) e Harry (Colin Firth). Então, ela traça um plano e convida os três para irem à ilha (sem Donna saber) e assim descobrir qual deles é seu pai.

Apesar da premissa ser ruim, Mamma Mia! consegue envolver o espectador e, sem dúvidas, diverte. Pyillida Lloyd, egressa do teatro, tem uma direção esperta, especialmente nas cenas musicais. As coreografias são muito interessantes, com algumas poucas exceções. Em aspectos técnicos, o filme se sai bem; somente em alguns momentos a fotografia parece um pouco exagerda e fica muito artificial.

Grande parte do sucesso de Mamma Mia! se deve ao esforço do elenco. Nenhum dos atores é cantor, e tiveram que se esforçar muito para interpretarem as difíceis músicas do ABBA. Meryl Streep se destaca, como de costume. Apesar de não interpretar uma personagem complexa, a atriz mostra seu talento nas enas musicais, especialmente quando interpreta "Slipping from my fingers" e, principalmete, "The Winner takes it all", gravada ao vivo em cimda de um penhasco. Também merecem destaque Julie Walters e Christine Baranski, que vivem respectivamente Rosie e Tanya, que juntamente com Donna formavam o grupo "Donna e as Dínamos". Ambas interpretam muito bem canções como "Chiquitita" e "Dancing Queen". Amanda Seufrield destoa um pouco no conjunto do elenco feminino, mas sua voz doce acaba compensando sua falta de talento.

Quanto ao elenco masculino, não recebe muito destaque no filme. Colin Firth e Stellan Skarsgaard apenas cumprem seus papéis com exatidão. Destaque quando ambos interpretam, juntamente com Pierce Brosnan, "Our Last Summer". Já Brosnan, que já provou ser um bom ator, está absolutamente canastrão. Isso sem contar sua voz, que quase destrói canções como "SOS". Também é bom destacar a fraca interpretação de Dominic Cooper, o noivo; a sorte é que ele aparece pouco.

Enfim, como entretenimento Mamma Mia! funciona muito bem. É muito difícil não se contagiar com as canções do ABBA, muito bem cantadas pelo elenco e dirigidas. É um bom filme, que cumpre aquilo a que se proõe: pura diversão. Infelizmente, não é uma obra-prima que ficará guardada em nossa memória, mas é uma garantia de aumentar o bom humor.

Críticas

Dama na Água, A

0,0

Desde o lançamento do “Sexto Sentido” que parte da crítica e o público vem se dividindo em relação ao cineasta M. Night Shyamalan. Todos esperam que ele repita a mesma fórmula que rendeu milhões de dólares nas bilheterias. Shyamalan não cederá a essa pressão. Ele possui muitas histórias ecléticas para contar e não será por convenção popular que mudará seu estilo. A Dama na Água (Lady in the Water, 2006), que chega ao circuito hoje, comprova mais uma vez a excelência de seu autor. O filme é com certeza um dos melhores do ano.

A história começa com uma fábula. Usando imagens animadas como se fossem pinturas em uma caverna, Shyamalan cria o pilar de sustentação de um conto de fadas num complexo de apartamentos em Filadélfia chamado de The Cove (se acrescentarmos um n no final torna-se coven, grupo de pessoas que seguem a Wicca). Depois dessa introdução conhecemos Cleveland Heep, uma espécie de zelador do complexo. Alguém tem usado a piscina à noite e Cleveland está determinado a descobrir quem é. Ele encontra Story, uma narf (uma ninfa da água), membro de uma civilização aquática conhecida como Blue World. Segundo a fábula de séculos atrás, narfs e humanos tinham uma conexão, mas perderam contato. Agora as narfs voltaram para salvar a humanidade de sua autodestruição. Para isso a narf precisa encontrar um escritor que esta sofrendo um bloqueio criativo. Desse encontro surgirão mudanças que levarão a paz mundial. Story encontra o escritor, mas para que os eventos aconteçam de forma positiva, Story precisa retornar a Blue World nas asas de uma águia gigante.

Os scrunts são bestas caninas de pele coberta de grama, que os ajuda a se camuflarem sem que os humanos percebam. Essas criaturas só existem para impedir que as narfs retornem ao seu mundo. Existem leis que previnem isso, mas tem um scrunt raivoso que não quer deixar Story retornar a Blue World. Scrunts podem ser impedidos por tartutics, criaturas que vivem nas árvores e parecem macacos. Tudo isso é explicado para Cleveland pela mãe de Young-Soon Choi, suas vizinhas. Inteligentemente, todas essas informações e outras mais são contadas pela mãe de Young-Soon Choi conforme vão surgindo dúvidas de como agir por parte de Cleveland. Shyamalan cria um verdadeiro quebra-cabeças que a cada cena uma nova peça é colocada. A trama consiste nas tentativas de Cleveland ajudar Story em seu objetivo. Ele acaba convocando vários auxiliares para sua tarefa. Essas pessoas também terão papel determinante na narrativa. Descobrir quem é quem é mais uma entre as ótimas sacadas de Shyamalan. Contar mais seria estragar as surpresas do roteiro.

Shyamalan mantém as coisas claras e concisas. Talvez seja seu filme mais simples. O suspense é genuíno e os sustos acontecem sem os habituais clichês. E pela primeira vez ele acrescenta bastante humor na história. Todos os elementos shyamalanianos estão aqui. Temas como fé, propósito, auto-conhecimento, espiritualidade e liderança. Até seus habituais personagens e suas características se fazem presentes. As figuras dramáticas de Shyamalan sempre recebem uma inerente responsabilidade de serem líderes no mundo. Seus deveres pesam e os assustam. Percebemos isso em Story. Ela questiona porque foi a escolhida para a ser a madame narf, a líder e porta-voz de seu povo. Ela não se acha a mais inteligente ou corajosa. Ela avança em seu caminho com apreensão e dúvida. Isso acaba dando uma dimensão de merecimento, importância e emoção no filme. Outra particularidade em seus filmes é o personagem ferido que é arrastado para enfrentar seus medos, superar suas feridas profundas e cumprir seu destino. Interessante que até a campanha de marketing da produção foi pensada. Eles deram muito mais atenção a bela narf. Na verdade a narrativa é sobre a luta de Cleveland em acreditar que ele esta vivendo um conto de fadas, sua tentativa frenética em se comportar com responsabilidade e sua realização que tudo isso o está levando para resolver um pesado sofrimento de seu passado.

No elenco temos o fantástico Paul Giamatti no papel de Cleveland Heep. Ele cresce a cada novo personagem. Seus olhos têm uma enorme expressividade. Todas as nuances necessárias estão lá. É de se imaginar quantos Oscar já teria ganho, se tivesse os padrões de beleza exigidos por Hollywood. Bryce Dallas Howard interpreta Story. Percebemos uma atriz em ascensão. Ela já tinha nos apaixonado em “A Vila” interpretando uma cega. Aqui ela tem uma tarefa ainda mais complicada. Por se tratar de um personagem misterioso, sua performance se concentra no olhar e em poucos gestos. Seu lindo rosto angular se encaixa com perfeição. Os coadjuvantes também cumprem com extrema habilidade seus papéis. Com destaque para Bob Balaban interpretando o crítico de cinema Mr. Faber. Fica claro que o personagem é uma provocação aos críticos que detonaram “A Vila”. Independente da afronta, realmente existe gente como Faber, que vive enamorado com seu intelecto e se julga o dono da verdade. Isso já seria motivo suficiente para incomodar os críticos. Mas Shyamalan deferiu o golpe de misericórdia quando se escalou como o escritor visionário que será o catalisador da salvação global. A crítica especializada norte-americana não perdoou e massacrou como pode o filme.

Polêmicas a parte, é inquestionável o talento de Shyamalan como diretor. Existem muito poucos cineastas (Steven Spielberg e Martin Scorsese entre eles) que a cada tomada consegue colocar a câmera no lugar mais interessante para o olhar do espectador. Aqui, ele encontra formas encantadoras de filmar um velho e pouco atraente prédio velho de apartamentos. Temos como exemplo, Cleveland recolhendo o lixo em três andares ou mesmo quando ele extermina um inseto sem mostrá-lo. Sua assinatura no suspense tem uma inclinação especial para cenas noturnas sombrias. Ele tem extrema habilidade em usar imagens sutis para criar cenas aterrorizantes, sem bombardear o público com personagens CGI. O trabalho de fotografia foi realizado pelo extraordinário Christopher Doyle.

O filme foi lançado erradamente como um típico produto do verão e não fez o sucesso sonhado nas bilheterias norte-americanas. As produções que costumam arrecadar milhões de dólares apresentam elenco estelar, fórmulas, romance, cenas nababescas de ação e efeitos especiais de última geração. Esses elementos você não encontrará em A Dama na Água. O resultado é um filme artístico vestido de conto de fadas. Como em seus trabalhos anteriores o que importa é a viagem e não o destino. E a jornada aqui é coberta de graciosidade e muita imaginação. Mas para se entreter com o filme é necessário deixar o cinismo na entrada do cinema e não perder tempo questionando o roteiro. Feito isso, o público será recompensado com uma experiência encantadora e mística.

É a mesma fé cega que impulsiona os personagens de Shyamalan. A história é uma fábula criada por ele para contar para suas filhas antes delas dormirem. E vale lembrar que fábulas não possuem comprometimento com a realidade. Pelo menos a mensagem é bastante real. Percebemos isso na piscina em formato de coração. Shyamalan quer nos dizer que as verdadeiras mudanças surgem do coração e na nossa habilidade de amarmos uns aos outros. Ao mesmo tempo ele mostra reportagens na TV sobre o Iraque, nos lembrando de como o mundo está violento. Ele acredita que todos têm um papel nessa vida, mesmo que não saibamos qual seja. E talvez nunca percebamos a influência de nossos atos de amor e carinho.

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