O gênero musical teve seu ápice décadas atrás, com produções charmosas, músicas e letras originais e muita dança. Depois, infelizmente, caiu no esquecimento. Os filmes musicais, então, eram classificados como "chatos", "bobos", "para crianças" e até "bregas".
No início da década de 2000, entretanto, o diretor Baz Luhrmann, que já dirigira a versão moderna e mediana de Romeu e Julieta e o ingênuo mas simpático "Vem Dançar Comigo", recuperou do ostracismo esse gênero com um filme visualmente espetacular, com atores charmosos ou/e em ascensão e com regravações de músicas pop-rock.
"Moulin Rouge - Amor em Vermelho" não foi um sucesso estrondoso de bilheteria, mas conseguiu o respeito do público e crítica, ganhou admiradores, ressucitou oficialmente o gênero musical e, assim, abriu as portas para outras produções cheias de cantorias como "Chicago" (vencedor do Oscar), "Sweeney Todd- O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet", "Hairspray" etc. Recebeu também uma indicação de Melhor Filme no Oscar de 2002 ("Uma Mente Brilhante" ganhou).
A película tem como pano de fundo Paris (cenário perfeito para um romance) de 1899. Trata-se de uma cidade que está fervilhando de novidades. Tudo por causa de uma revolução artística denominada Boemia, onde seus idealizadores pregam a diversão, o ócio e, sobretudo, o amor verdadeiro e mais puro. É nessa cidade cheia de sonhadores que surge Christian (Ewan McGregor). Ele é um jovem inglês que, contrariando as vontadees de seu pai, decide virar um escritor boêmio, dedicando-se a escrever sobre o amor, tema que ele pouco conhece.
Mal chega à cidade, Christian acaba conhecendo um grupo de atores que o convence a escrever uma peça para eles nomeada "Espetacular Espetacular", a ser encenada no Moulin Rouge, o famoso night club da cidade, freqüentado por aristocratas e pobres, jovens e velhos, à procura de bebida, música, diversão e mulheres. É nesse lugar frenético que Christian conhece Satine (nicole Kidman), a cortesã (eufemismo para prostituta) mais desejada do Moulin Rouge. Ele não só conquista o emprego como também o amor de Satine. Mas eis que surge a personagem do duque (Richard Roxburgh), uma figura engraçada, mas que deseja ardosamente Satine. Como será ele o financiador da peça, para liberar o dinheiro, o Duke exige como condição que Satine passe a ser apenas dele. Muitas cores, roupas e cenários exuberantes, música e dança acompanham essa história de amor, paixão, desejo, ciúme e obsessão.
O filme é um grande musical muito bem-feito. Como não poderia ser esquecido, o visual do filme salta aos olhos dos espectadores. Paris é retratada como uma cidade coloriada, cheia de luzes e detalhes, e o prédio de Moulin Rouge é o principal. O quarto de Satine é fantástico. Os figurinos também são maravilhoso e cheios de luxo. Tudo é feito para nos lembrar da época e do charme dos cabarés.
A história é enxuta: trata-se de um romance que precisa vencer os obstáculos do caminho. Essa simplicidade é um trunfo, pois trata-se de um musical. Querendo ou não, filmes do gênero não conseguem desenvolver um roteiro muito complexo já que ainda precisa de tempo para os números musicais. Ficaria confuso e cansativo. Escolher uma trama simples, mas desenvolvê-la bem, foi uma ótima escolha do filme. Porque é isso que ele faz: ele desenvolve a história. É um caso de amor, sim, mas ele tem começo, meio e fim bem marcados e nunca superficiais. Tudo ali é aprofundado. É usado até mesmo um recurso metalingüistico, pois a peça "Espetacular Espetacular" acaba por retratar o romance entre Christian e Satine, e é alterada conforme o romance dos dois prossegue.
As atuações ali estão muito boas, com destaque para Ewan McGregor. Além de cantar muito bem (quem diria que Obi-Wan Kenobi sabia cantar) ele se mostra bem à vontade no papel do jovem, romântico e idealista Christian. Até Richard Roxburgh está bem, criando um antagonista (o Duke) não sombrio mas bobo e engraçado, ao passo que é sério também. Só quem parece destoar um pouco ali é Kidman. Ela está linda, sim, e canta muitíssimo bem. Mas sua Satine é muito exagerada e em algumas vezes ela beira ao ridículo. Ainda sim, Nicole faz um bom trabalho.
As músicas do filme chamam a atenção por uma coisa: praticamente nenhuma das músicas (com exceção de uma ou outra) são originais. tratam-se apenas de regravações de sucessos pop ("Material Girl", "Roxanne", "Like a Virgin" e até mesmo "Lady Marmalade") ou de outros musicais de sucesso ("The Sound of Music" de "A Noviça Rebelde"). Isso para mim foi um pouco decepcionante.
"Moulin Rouge" ganhou os Oscar (merecidamente) de Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte. Conseguiu também tirar do esquecimento o gênero musical para um retorno triunfal. Lindo, colorido, exuberante e charmoso, "Moulin Rouge" é um dos melhores musicais já feitos e com uma bela história de amor. Uma amor em vermelho, claro.