"My name is Benjamin, Benjamin Button. And I was born under unusual circumstances"
Demasiadamente extenso, O Curioso Caso de Benjamin Button é uma mistura de clichês e maneirismos com um plano de fundo acima da média, simplesmente brilhante.
Pra quem aprecia os trabalhos do diretor americano David Fincher, vai ter uma surpresa com "The Curious Case of Benjamin Button", que pode ser agradável para alguns, desagradável para outros. E não é à toa. Fincher, que já foi responsável por obras magníficas como Clube da Luta, Seven e os ótimos e mais recentes O Quarto do Pânico e Zodíaco com certeza vai estranhar a mudança repentina de um trabalho para este último. Com um tema bem mais leve e suave que os seus outros projetos sangrentos e tensos, o filme recebeu cinco indicações ao Globo de Ouro e é um dos fortes concorrentes ao Oscar 2009, principalmente nas categorias técnicas. E é justamente nesse ponto que O Curioso Caso de Benjamin Button acerta em cheio. Apesar do brilho que a equipe técnica transmite com a sua competência extraordinária, o filme possui defeitos dignos de um trabalho completamente estereotipado.
A história é fascinante. Benjamin Button é um homem que nasceu, como ele próprio disse, sobre circunstâncias incomuns. Essas tais circunstâncias se referem ao fato dele ter nascido velho, com catarata, artrose e várias características típicas de quem está à beira da morte. Apesar de os médicos já terem alertado que ele morreria logo, Benjamin não passa a envelhecer mais ainda, mas o contrário, a cada dia parece mais jovem. Ele vive com Queenie, uma mulher de um asilo que o acolheu quando ele foi largado recém nascido em sua porta. Lá, ele viveu sua "infância", sem poder sair para brincar com outras crianças e sem poder andar, mas falando normalmente. Com o passar dos anos, ele conhece Daisy, uma menina inteligente e logo passam a ser amigos. Apesar de terem praticamente a mesma idade, ele certamente aparenta ter uma idade suficiente para alcançar a avó da menina. Os anos vão correndo, o tempo vai passando, as pessoas vão envelhecendo, menos Benjamin, que ganha mais vitalidade, apetite sexual, cabelo e músculos torneados. Quando reencontra Daisy e suas idades são compatíveis, eles iniciam um romance, eterno enquanto dure.
A temática de O Curioso Caso de Benjamin Button é um dos pontos altos de toda a narrativa. O modo como o tempo é explorado, o fato de duas pessoas não poderem se amar porque suas idades não serão iguais para sempre, tudo é belissimamente retratado pelo trabalhoso roteiro de Eric Roth, que também escreveu o clássico dos anos 90, Forrest Gump - O Contador de Histórias, do diretor Robert Zemeckis e os ótimos O Informante e um dos melhores filmes de Steven Spielberg, Munique. Roth, infelizmente, caiu em desgraça ao misturar tantos plágios e clichês baratos em um roteiro de 160 minutos de duração (tempo excessivamente longo, especialmente para tantos clichês como neste caso). O fato é, existem muitas semelhanças entre este e Forrest Gump, inclusive a relação entre o personagem principal e outros que viveram ao seu redor, assim como também, entre o personagem e situações históricas, como a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Roth, que foi extremamente competente em seu primeiro trabalho, foi infeliz neste, já que tantas passagens e reflexões, em sua maioria sobre o fator determinante da história, o tempo, foram arbitrárias em relação à história em si, sem acrescentar nada ao contexto original, somente aprimorando diálogos e apelando, em algumas ocasiões, para o sentimentalismo.
Neste ponto, David Fincher também errou. Em meio a essa mudança drástica de "temperaturas", vamos dizer assim, o diretor se perdeu e comete erros dignos de um principiante. A duração já é um exemplo disso, uma vez que grande parte da duração de cada cena é devido à diálogos facilmente descartáveis, que acabam por arrastar certas partes até o momento seguinte. Vários minutos poderiam ter sido cortados da montagem final, não fosse Fincher e suas manias meneirísticas, sustentadas por argumentos fracos e uma história dificílima de ser adaptada para o cinema. O conto de F. Scott Fitzgerald, rico em detalhes, foi vítima dessa adaptação fiel, fiel até demais, diga-se de passagem. Cada detalhe, detalhes às vezes sem a menor utilização e de fácil exclusão, que entraram para o filme já finalmente montado.
E Fincher erra ainda mais além do abusar da sensibilidade do roteiro. Ele apela para clichês risíveis, como o fato da história d eBenjamin ser narrada a partir de um diário e haver uma pessoa em seu leito de morte envolvida na narração, além do off de Brad Pitt, completamente perdido em certas ocasiões em que o silêncio é a melhor saída. Cenas redundantes, além de envolverem o furacão Katrina na história, não se deram por satisfeitos e usaram e abusaram da história de amor impossível. Ou seja, é tudo uma sucessão de clichês, apesar da história fantástica, original da cabeça de Fitzgerald.
Apesar de todos os problemas no roteiro e na desorientada direção de Fincher, em algo pelo menos o diretor acerta. A arte é uma das mais belas e completas dos últimos anos, com cada setor competente ao extremo e ofuscando as interpretações. Desde a direção de arte perfeita do trio Kelly Curley, Randy Moore e Tom Reta , sob o comando do desenhista de produção, Donald Graham Burt até a fotografia diferenciada de Claudio Miranda, a maquiagem de cinco horas de Brad Pitt e Cate Blanchett é o que mais chama a atenção visualmente. Um trabalho realmente impecável também do Departamente de Efeitos Visuais, que conseguiram (não sei como), diminuir o tamanho de Pitt daquele jeito, uma verdadeira proeza cinematográfica. Alexandre Desplat, um dos mais respeitados compositores de trilhas para o cinema da atualidade é o responsável pelas belas faixas musicais de O Curioso Caso de Benjamin Button. O filme é uma verdadeira exposição e desfile de cenários e personagens interessantíssimos ambientados em uma das mais charmosas cidades norte-americanas, Nova Orleans. Antes, o palco para os acontecimentos desta "curiosa" história seria Baltimore, mas a pedido dos produtores, o diretor Fincher e o roteirista Roth decidiram se mudar para o local onde o furacão Katrina devastou uma cidade inteira. Infelizmente, essa mudança de cenário causou em um clichê assustadoramente ridículo.
É interessante notar na narrativa de Benjamin Button o modo como o tempo é visto, e de quantas formas diferentes alguém pode avaliar o que o tempo causa nas pessoas. Embora algumas cenas tenham sido infelizmente mal sucedidas ao embromar tantas falas e reflexões sobre esse tema tão cansativo, outras passagens são muito aproveitáveis. Uma das poucas cenas em que a narração de Button se mostrava necessária, o tempo tem o seu melhor ponto de vista avaliado. Por culpa (ou não) de pessoas comuns, pessoas que não estão ligadas diretamente aos protagonistas e coadjuvantes do filme, alguns fatos aconteceriam ou poderiam deixar de acontecer. Na cena em que Daisy é atropelada, por exemplo, a narração mostra diversas situações em que, se caso alguma coisa não tivesse acontecido, ou seja, se uma mulher não tivesse esquecido seu casaco dentro de casa, o resultado de suas ações, que dariam continuidade às pessoas que estariam ligadas ao atropelamento de Daisy, talvez tivesse evitado que o taxi a tivesse atingido em cheio. São simples ações do nosso dia a dia, que podem fazer toda a diferença em qualquer momento que seja. Essa reflexão é talvez, a mais bem construída do roteiro e merece uma atenção especial à discussão a cerca se existe realmente o destino ou se tudo é predeterminado, de uma forma ou de outra.
Em o que se diz respeito às atuações, todos convencem, mas ninguém brilha. Não há sinal de uma interpretação memorável, mas todos estão dignamente à altura de seus nomes. Portanto, não se deixe enganar que Brad Pitt tem o melhor papel de sua vida. Em Clube da Luta, pode estar muito melhor do que neste, depende do seu ponto de vista. O fato é que Pitt é realmente um ator de coragem, que está determinado a fazer com que seja mais conhecido por seu talento, não por sua aparência física. Por enquanto, ele precisará se esforçar muito mais para conseguir tal feito. Quanto à intérprete de Daisy, não são necessários quaisquer comentários. Todos já conhecem o talento imenso que Cate Blanchett usufrui, e sua beleza é somente um ponto a mais para a atriz. Taraji P. Henson está bem, igualmente, mas não se destaca e devo dizer que uma indicação ao Oscar seria demasiadamente injusta a essa altura do campeonato. Mas o filme também possui participações de um elenco bastante conhecido, como a nova Sabrina, Julia Ormond em um papel pequeno, mas muito importante.
Excessivamente longo, com belas imagens e orquestrado por uma trilha suave e genial, O Curioso Caso de Benjamin Button é um filme completamente diferente daqueles que David Fincher está acostumado a dirigir e este talvez, tenha sido o principal problema. A você, que é fã de Fincher, não vá ao cinema achando que vai encontrar mais um filme sobre pancadaria, sangue, lutas e muito menos cenas de tensão extrema. Este é um filme suave, com perspectivas muito mais artísticas do que qualquer outra coisa. E não se engane, não é porque o diretor mudou de temática que ele se sai melhor neste do que em qualquer outro filme, muito pelo contrário. Este é sim, bem inferior aos seus anteriores. Mas que tem o seu charme, um charme técnico, e que deve ser respeitado.
- How old are you?
- Seven, but I look like older.
- Are you sick?
- They sad I was gonna dye soon but, maybe not.