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Críticas

Hellboy II - O Exército Dourado

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Um bom filme que supera em tudo o seu antecessor.

Eu sou sempre suspeito quando falo de filmes adaptados dos quadrinhos.Na maioria das vezes gosto,pelo menos razoavelmente deles,mesmo que não sejam obras-primas,ou que sejam sempre clichês.E pra este HELLBOY II:THE GOLDEN ARMY,tenho uma boa impressão,pois este supera e muito outros filmes do gênero em quase todos os aspectos.

Sua abertura é fantástica.Resumidamente de uma forma extremamente convincente vemos o Dr.Bloom contar uma história mitológica para seu achado,o ainda jovem menino demônio:Hellboy.Depois de contada a história do livro é quase que essencial para que todo o resto do filme se desenvolva.

Este HELLBOY II nos traz a mesma turma de antes(só que com um único personagem faltando:John Myer,interpretado por Rupert Evans no filme anterior).A história mesmo não sendo um mar de originalidade é simpática e nos convida direto para a trama sem se esforçar muito,como já dito no parágrafo anterior:a abertura é fantástica!Logo depois dessa aberturasinha em um tipo de curta metragem de animação,já somos tragos ao "mau",por assim dizer:O príncipe Nuala.E é justamente por causa dele que boa parte da trama se desenrola,pois ele quer trazer a paz de volta ao seu povo(elfos)que viveram a vida inteira em guerra com os humanos pela posse da "terra" ,e que depois de algum tempo acabaram entrando em desespero e mandaram um velho ferreiro ,que se dispoz a fabricar um exército inteiro de "super soldados",e sendo assim ordenado pelo rei dos elfos,o ferreiro o constrói.Depois disso uma trégua é estabelecida por muito tempo até que o "mau" tenta quebrá-la.

Pode parecer simples,mas por incrível que pareça a história ate que é um pouco complexa em meio a sua filosofia.Mas Guilhermo Del Toro desta vez está mais seguro,e conduz a trama muito bem,ainda tem seus defeitos aqui e aculá,mas o resultado final acaba sendo uma diversão de primeiríssima.

Os atores estão mais à-vontades para se abrir mais e se divertir mais com seus personagens.Detalhe a maquiagem de quase todos leva horas pra ficar pronta,se não ficar feliz com o papel a coisa fica feia.Não tem nenhum destaque em si,pois todos desta vez exerceram uma característica que ainda vinha sendo trabalhada no filme anterior.

O roteiro,como a maioria dos roteiros de adaptações comete muitos furos e erros,mas que desta vez são corrigidos pelos acertos,principalmente se tratando do enredo principal,ou um dos: o amor.E é basicamente nesse tema de pano de fundo em que o filme se baseia.E é com esse tema que temos muita diversão,e a cena mais engraçada de todo o filme.Traduzindo:os erros são superados pelos acertos.Um roteiro irregular,mas que se concerta com o tempo.

A direção está bem mais segura,ainda mais depois de ter varias indicações em seu trabalho anterior:O LABIRINTO DO FAUNO,Guilhermo Del Toro está melhor,mas nem por isso excelente.Cometes muitos erros de narrativa e alguns de condução simples ,mas ele tem um pequeno problema que um outro diretor muito famoso tem:faz filmes bons,só que na maioria das vezes estes são superados por seu aspectos técnicos.

Um desses aspectos técnicos é a fotografia.Simples mais sempre exata nos momentos certos.Em horas escuras está sempre muito boa,e em horas clara muito bem iluminada.Ótima.

Os figurinos estão,não consigo encontrar outra palavra,então vou entrar no clichê mesmo:estão simplesmente divinos,ou se preferir demoníacos.Evoluíram e muito do primeiro filme pra cá.Muita gente pode não perceber ,mas até o sobretudo sempre fiel do Hellboy está mudado e muito melhor do que antes.Uma melhora grande está por conta do figurino de Abe sapiens,A nova roupa,além de deixá-lo mas "estile",também proporciona melhor movimentação ao ator.A conquista dessa área fica por conta das roupas do reino dos Nuala e do mercado de trolls,incríveis roupas são constituídas a partir da excelente maquiagem.

A maquiagem.Que maquiagem, uma das melhores, se não for a melhor que já vi.Aviso já,que acho que ela merece o oscar.Cada detalhe, cada textura, cada cor, cada movimento, nossa, é de arrepiar, ainda mais depois de ver todos os atores sendo colocados "dentro "das maquiagens.Agora pra compor uma das melhores/maiores cenas já vistas no quesito "monstros",ou criaturas bizarras,só a melhor das maquiagens poderia conseguir isso,e ela consegue.O mercado de trols é magnífico,cada "criatura" é criada com um pouco de carinho e sendo assim,muito bem feita.Maravilhosa.Cada personagem está perfeito.

Um filme com ótimos momentos,destaque para as cenas do já citado e famoso mercado de trolls,e a minha preferida ,a cena do monstro de planta,a mais bela cena do filme na minha opinião,é sensato dizer que HELLBOY II :THE GOLDEN ARMY foi sim uma das melhores diversões desse ano.

Críticas

Reis da Rua, Os

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Os Reis da Rua não traz um pingo de originalidade ao gênero policial, mas mesmo assim é uma boa experiência, que conseguiu me deixar várias vezes com os olhos grudados na tela, ansioso pelo desenrolar (previsível, é verdade) da história.

O roteiro foi escrito por 3 pessoas: Kurt Wimmer (responsável pelo excelente Equilibrium, mas também pelo péssimo Ultraviolet), Jamie Moss (que nunca ouvi falar) e James Ellroy. Opa, esse é conhecido. Ele contribuiu na criação de filmes como A Dália Negra, A Face Oculta da Lei, e é claro, Los Angeles - Cidade Proibida, uma obra-prima, diga-se de passagem. Eis o problema. Comparar esse Os Reis da Rua com L.A. - Cidade Proibida é de uma injustiça sem tamanho.

David Ayer ficou encarregado da direção e até fez um bom trabalho, principalmente nas cenas de perseguição e de tiroteios, só que ele raramente foge do padrão, realizando um trabalho burocrático na maior parte do tempo.

Bom, vamos ao enredo: Tom Ludlow (Keanu Reeves) é um detetive que passa por algum problema pessoal. Isso fica evidente com a boa sequência inicial, que mostra Tom iniciando o dia vomitando no banheiro e indo até uma loja comprar três pequenas garrafas de vodka. Ele segue uma pista e consegue sozinho solucionar um caso de sequestro envolvendo duas gêmeas. O problema é que ele resolve o sequestro de uma maneira nada usual, indo contra as regras de conduta da polícia e produzindo defuntos em excesso. Seu chefe, o capitão Jack Wander (Forest Whitaker, com uma atuação um tanto exagerada, mas competente ), não economiza esforços para abafar o caso, evitando que Tom receba punições por seus atos.

Ok, ficam evidentes os dois assuntos principais que o filme quer mostrar: O corporativismo de um departamento de polícia, que protege seus membros mesmo quando eles cometem crimes e também a corrupção que faz parte da vida de grande parte dos policiais. São assuntos interessantes, é verdade, mas que já foram trabalhados antes e de maneiras bem mais satisfatórias, como em L.A.- Cidade Proibida que já citei aqui. Pelo menos há um diálogo honesto que retrata muito bem esse clima: "Não importa o que acontece e sim o que está escrito". Quer dizer, se você tiver um bom contato no jornal da sua cidade, você não ficará com a imagem abalada após algum ato falho.

Tom faz parte de toda essa corja, mas o assassinato de um antigo parceiro o faz investigar as coisas de uma maneira mais profunda. Aí está um dos defeitos do filme. Em nenhum momento eu consegui aceitar essa rápida passagem de Tom do lado corrupto para o lado que quer fazer o bem. O bom é que essa investigação é sempre interessante, nos apresentando personagens verdadeiramente perigosos que podem fazer com que o detetive não chegue a uma conclusão. Um dos melhores momentos do filme se dá justamente durante investigação, quando Tom e o seu novo parceiro perseguem um suspeito a pé pelos guetos e becos da cidade, culminando com um fim um tanto peculiar para o suspeito.

O filme perde a força pois permite que o seu final seja adivinhado antecipadamente. Também faltou um pouco mais de desenvolvimento do personagem principal. O motivo das suas constantes bebedeiras é revelado, mas não explicado, o que é uma pena, já que havia potencial melhorar o enredo.

Enfim, Os Reis da Rua é bacana e consegue prender a atenção na maioria do tempo, mas não possui nada de especial que evite que em breve ele seja esquecido.

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Vídeo de Benny, O

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A genialidade que perturba

A crítica social e a análise psicológica são os dois principais pilares de sustentação da obra de Michael Haneke. O primeiro está presente de forma poderosa em filmes como Código Desconhecido (2000) e O Tempo dos Lobos (2003). Já o segundo carrega títulos marcantes como A Professora de Piano (2001) e Caché (2005). Talvez o grande diferencial de uma produção anterior, O Vídeo de Benny (1992), a segunda de sua filmografia, seja a forma inteligente como o diretor soube unir esses dois elementos.

Aqui, narra-se a história de um adolescente (Arno Frisch) que mantém uma relação distante com os pais, interpretados por Angela Winkler e Ulrich Mühe, este em sua primeira parceria com Haneke – mais tarde, faria O Castelo (1997) e Violência Gratuita (1997). O jovem passa a maior parte do tempo sozinho em seu quarto escuro, alimentando o vício em televisão e vídeos, violentos em sua maioria. Em um final de semana em que os pais viajam, Benny leva para casa uma garota (Ingrid Stassner) que acaba de conhecer. Após mostrar a ela suas imagens favoritas, do abate de um porco, acaba matando-a com a mesma pistola de ar comprimido usada contra o animal.

A questão social está evidente. Fica claro que o comportamento agressivo do rapaz é diretamente influenciado pela espetacularização da violência na mídia, e pela negligência dos pais. Porém, ainda que visível, o problema aparece apenas por trás. O que o filme busca, em primeiro plano, é mergulhar fundo na mente de Benny. Por isso, a maior parte dele se dedica a seguir os passos do jovem.

Mais do que as cenas de violência, o que realmente espanta na exploração desse universo confuso é a frieza: no relacionamento da família, na postura de Benny após o assassinato, na reação dos pais quando descobrem o ocorrido, na atitude do garoto no desfecho final. A frieza é o ponto visceral, brilhantemente explorado pelo diretor, e o que faz desta uma produção forte e envolvente como poucas conseguem ser.

É comum se ouvir dizer que os filmes de Haneke são apenas “para quem tem estômago”. O Vídeo de Benny é a prova maior de que a sentença não é exagerada. Mas aqui, o incômodo não toma base em seqüências regadas a sangue ou pancadas e, sim, na inteligente análise crítica de uma personalidade e, acima de tudo, de uma sociedade.

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Violência Gratuita

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Nem mesmo a maior das regras

Que Michael Haneke prefere passar longe dos formatos usuais, todos já sabem. Mas a audácia do cineasta alemão em seu clássico Violência Gratuita (1997) extrapola qualquer limite. Haneke quebra a mais sagrada regra do cinema, e da dramaturgia de maneira geral; o primeiro de todos os conceitos trabalhados em livros especializados e salas de aula é aqui desprezado por ele. O que Haneke faz é nada mais nada menos do que derrubar o chamado “quarto muro”.O termo é utilizado para designar a distância que deve(ria) ser mantida entre o filme e o espectador.

Aqui, Haneke chama sua audiência para dentro da situação retratada na tela. Mais do que isso, apela para uma cumplicidade entre ela e dois personagens específicos. A experiência seria agradável não fosse o papel cumprido por eles: assassinos que mantem refém uma família que acaba de chegar para uma temporada em sua casa de campo, humilhando-a e agredindo-a, sem uma razão aparente.

Um deles, interpretado pelo grande Arno Fritsch – o mesmo de O Vídeo de Benny (1993) -, é responsável por estabelecer a ponte entre as duas partes. Em um primeiro momento, vira-se para a câmera e dá uma piscadela. Depois, em uma situação de indecisão sobre o que fazer com os reféns, põe-se novamente de frente e pergunta: “O que vocês acham?”. Mais tarde, quando o pedem que acabe com o sofrimento, ele diz: “Mas vocês ainda não querem que o filme acabe, certo?”.

Nem a seqüência de cenas agressivas é tão poderosa quanto essa quebra. Haneke põe o espectador ao lado dos vilões e, assim, este assume parte da culpa pelo sofrimento dos reféns. E em um determinado momento, acontece o inverso: os assassinos assumem o posto de observadores da situação e até se mostram capazes de interferir na história – com o uso de um controle remoto, voltam no tempo e corrigem uma reação de uma das vítimas (tão abstrato que chegamos a recuperar a crença no real e uma ponta de decepção surge no peito).

A ousadia do diretor também aparece de outras formas – como, por exemplo, no longo take de uma das reféns tentando libertar-se das fitas que a prendem. Mas a ruptura, de forma tão apelativa, da linha invisível que historicamente separou a audiência da imagem projetada, é o que sustenta a obra. Sem ela, o enredo se perderia no senso comum. Violência Gratuita é a prova de que Haneke sabe o que faz.

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Professora de Piano, A

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O choque e o vazio

Dizer que A Professora de Piano (2001) é um título chocante é pouco. Mais do que isso, o clássico de Michael Haneke enoja, confunde e machuca. Falamos de um filme que não hesita em invadir uma intimidade asquerosa e nos desafia a compreender um comportamento violento e perturbado.

A magnífica Isabelle Huppert aparece aqui como Erika, uma talentosa professora do Conservatório de Viena. Aos 40 anos, vive com a mãe (Annie Girardot) e mantém com ela um relacionamento instável. Secretos são os seus deleites pela automutilação e o voyeurismo. Sua vida é transformada quando conhece Walter (Benoit Magimel), um jovem que tenta conquistá-la a todo custo.

Acusações de pura apelação pela imagem impressionável contra qualquer outro filme de Michael Haneke seriam injustas. É verdade que o diretor alemão sempre foi talentosíssimo ao unir a perturbação com a crítica social e a estrutura inteligente. Isso não se aplica ao filme em questão.

Aqui, a seqüência de episódios indigestos vai nos distanciando da personagem a cada minuto até chegarmos ao ponto de querermos nos livrar daquele universo demente. Quando a história termina, ficamos sem entender a razão. Nada há por trás do retrato intimista provocante – a não ser, um conjunto de excelentes interpretações (não é à toa que o casal protagonista foi premiado em Cannes).

O valor da obra está justamente aí, dirão alguns. Até pode ser. Talvez a intenção tenha sido essa mesma. Mas a pergunta que inevitavelmente fica no ar, quando colocamos este ao lado de outras produções hanekianas, é por que? O fato é que depois do revertério, o que o filme nos deixa é um doloroso vazio.

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Eu, Robô

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Ficções científicas um dia já tiveram inteligência e conteúdo. Basta nos lembrarmos de clássicos como "Metrópolis" (1927) de Fritz Lange "Laranja Mecânica" (1971) de Stanley Kubric. Mas essa época se foi, há muito tempo. Prefiro não comentar "Matrix", que respeito como um marco da década de 90, mas que vejo como um filme de efeitos especiais e uma premissa mal explorada. Quanto a este "Eu, Robô" (2004), muito pouco pode se dizer porque não há muito o que falar.

Personagens ralos, estereotipados e sem personalidade, bons efeitos especiais e uma história mediana mas inundada de clichês. Isso é "Eu, Robô". Se antes ficções científicas futuristas traziam consigo qualquer crítica a sociedade moderna, ou qualquer material para reflexão. É apenas um filme de ação estrelado por Will Smith para atrair multidões aos cinemas. Smith tem um talento dramático, é verdade, o qual ele pode comprovar em filmes como "Ali", "À Procura da Felicidade" e o novo "Sete Vidas", que ainda não estreou. Mas, pelo que parece, o público o recebe melhor em filmes de comédia ou baboseira como "Hitch", "As Aventuras de James West" e "M.I.B.", este último uma ficção científica que, se tem pouco conteúdo, ao menos consegue divertir.

"Eu, Robô" nem isso consegue. É uma bobagem sem precedentes e totalmente previsível, tamanho é o uso de clichês. No futuro, robôs serão usados pelos humanos como auxílio no dia-a-dia. Inteligentes, fortes, racionais e leais. Mas o que não garante que um dia essas supermáquinas se rebelem, numa revolução à la "Exterminador do Futuro"? Simples: são as Três Leis da Robótica, implantadas em seu cérebro artificial através de um chip. Elas garantem que o robô protegerá a vida de um humano acima de sua própria. Graças a isso, esses auxiliares ganham o respeito, admiração e carinho de todos os homens, mulheres, crianças e idosos do mundo.

Mas não de Del Spooner (Smith), um policial que faz tudo do seu jeito, que tem aversão aos robôs e as "modernidades do mundo moderno" graças a um evento traumático, mas ele logo se revelará parecido com a criatura que odeia tanto (será um dejá vu ou simplesmente um personagem extremamente clichê sem conteúdo algum?). Mas que Spooner se segure! Um renomado cientista da empresa fabricante desses robôs, com uma ligação com Del no passado (clichê!) acabou de morrer num caso onde se leva a crer que ele foi assassinado. E o meliante seria Sonny, um protótipo da nova linha de robôs que será lançada em breve, mas que parece conseguir, de alguma forma, driblar as Três Leis, e assim conquistar o mundo, oprimir os seres humanos e coisa e tal. Alguém na empresa está envolvido nisso e, quanto mais Spooner investiga, mais atentados à sua vida acontece. Inovador, não? Acho que não.

Tudo acima descrito foi torturosamente copiado, resultando em um clichê irritante. Claro que ninguém acreditará em Spooner, claro que a trama terá um final bombástico (no pior sentido da palavra) e claro que o detetive terá um par romântico, tão chato e sem personalidade quanto ele (personagem de Bridget Moynahan, que é tão importante que nem lembro de seu nome, está ali só porque é bonitinha). Ainda mais, é claro que Spooner vai se tornar amiguinho de Sonny, o robô. Acredite, não estou entregando nada que importe ou que não seja óbvio logo nos primeiros minutos.

Se a história é ruinzinha, as atuações nem se fala. Com personagens tão ruins, não poderia se esperar alguma coisa disna de Oscar, mas não há nenhum esforço de nenhum lado. O único que convence e que ganha alguma simpatia do publico é, beja só, Sonny, o robô que almeja ter a alma e os sentimento de um humano. Ironicamente, o resto das atuações estão robotizadas, no piloto automático. O título "Eu, Robô" não seria mais apropriado!

Os efeitos especiais, esses sim estão muito bons. As cenas de ação são excelentes e as expressões dos robôs são magníficas. Fora isso, não há nada de bom no filme. Muitos relevam seus inúmeros erros pelo fato deste ser um filme-pipoca. Mas, para mim, seu roteiro ruim e a canastrice gritante nas atuações falam mais alto. Se quer só se divertir, pense em algo com mais qualidade tipo "M.I.B.", ou se quer algo mais sofisticado e inteligente, aposte em "Minority Report", mas é melhor passar longe, bem longe deste aqui.

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Magnólia

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O acaso é mais frequente do que imaginamos, ou ele pode servir para mostrar a interveção de algo divino? Grosso modo, Magnólia parece brincar com as duas possíbilidades. Só um Diretor com imensa capacidade, como o é P. T. Anderson para alçar voô tão alto desses "dilemas" sob conflitos do cotidiano da sociedade moderna (ou pós-moderna, pra quem preferir). Magnólia reafirma aquilo que já é praxe: A virada para o séc. XXI foi o período mais frutíferos em bons filmes da história de Hollywood.

Começando no prólogo, que serve mais como exemplo do narrador do que viria, três narrativas de mortes que envolveram coincidências bizarras, pra lá de tragi-cômicas e que são uma espécie de lendas urbanas, parecem apontar para um sentido de que os acasos no filme parece querer provar um paradoxo: as coincidências apontam uma espécie de predestinação. Sugerindo que por trás dessas coincidências existisse uma "força maior", uma ordem reguladora.

Em seguida, somos levados através de várias histórias onde as situações de seus personagens estão sempre se cruzando. Frank T. J. Mackey (Tom Cruise) é uma espécie de apresentador de programa de orientação sexual para homens em busca de um domínio sobre a mulherada. Frank é filho de Earl Partridge (Jason Robards), um velho produtor de programas de TV, com câncer e à beira da morte, cuidado por seu enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman). Linda Partridge (Julianne Morre) é a esposa de Earl, ela havia se casado com o coroa apenas pelo dinheiro deste, mas ao vê-lo em seu leito de morte se arrepende do que fez, enchendo-se de culpa por ter traído várias vezes o produtor com outros homens, ela chega a propôr ao advogado que cancele de alguma forma a sua parte da herança. Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é um velho apresentador do programa "O que as crianças sabem", onde adualtos competiriam contra crianças. Stanley Spector(Jeremy Blackman) é o menino gênio que está há semanas no programa, sem errar uma, e a duas semanas de bater o recorde estabelecido por Donnie Smith (William H. Macy), que tornou-se um frustado ao crescer. Há ainda também a figura do polícial Jim Curring (John C. Reilly) que ao fazer uma vistoria a mando de vizinhos na casa de Claudia Melora Walters), filha de Jimmy Gator. Isso, o roteiro de Anderson vai trabalhando cada personalidade com extrema perspicácia, através de arrojadíssimos recursos de Montagem, Filmagem, incluondo sempre no decorrer do processo a fantástica Trilha Sonora, que é colocada ao mesmo tempo em que os personagens dialogam, detalhes que não deixam as mais de 3 horas de filme cansativos, recursos que entram em cena no momento necessário. Dizem que para escrever o Roteiro de Magnolia Anderson inspirou-se nas músicas de Aimee Mann, uma cantora amiga sua, para contar esse instigante dia de nove pessoas de Los Angeles.

Um filme cheio de tramas e personagens tão complexos exigiria muito do Diretor, algo que Anderson soube dominar com maestria, sem decepcionar ao conjunto de fãs do Diretor que já tinha demonstrado seu diferencial em 97 com Boogie Nights - Prazer sem Limites. Anderson além dos belos movimentos de câmera e dos abundantes closeups, utiliza muito das longas e complexas tomadas. Destaque-se uam semelhante as de Pulp Fiction, onde ele mantém sua câmera fixa no interior da cozinha de Claudia enquanto esta conversa com o policial Jim na sala, ou na hora em que o diretor acompanha vários personagens enquanto estes caminham pelos corredores da emissora de televisão - um brilhante uso de steadycam.

Dito isso, outro aspecto que eleva o nível de força de Magnolia são as interpretações. Todos estão impecáveis, o que prova que Anderson conseguiu explorar ao máximo a habilidade de seus atores. Diante de tão boas interpretações, o destaque fica mesmo por conta de Tom Cruise, que reafirma seu talento como ator, tanto na situação onde ele aparece como o apresentador machista arrogante, ou quando o vemos como o filho que pensava odiar seu pai. Hoffman faz um papel raso, mas está seguro, Julianne Moore, também está bem, mostrando todo o desespero que estava passando a sua personagem (houve até alguns que disseram que ela está chorando demais), os outros atores cumprem como já dito, com seguranças seus papéis.

Técnicamente a todo um estilo bem arrojado, tanto que esse estilo de Ediçao de cenas vem até ganhando a simpatias de algumas produções mais recentes, como prova o oscarizável Crash - No Limite e Babel.

Nesse sentido, a Trilha Sonora está belíssima, a música Save Me, Escrita e interpretada por Aimee Mann, a mencionada amiga de Anderson, concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original.

Todos esses elementos já são componentes de um bom filme, todavia, o que eleva Magnolia ao patamar de Obra-Prima é a poéticidade presente nos últimos 30 minutos, me abstenho de entrar em maiores detalhes, mas cabe adiantar que nas entrelinhas desse filme de Anderson, o diretor mostra o quão gênio é, a cena dos sapos faz um paralelo com passagens do Antigo Testamento, passagens essas, que ajudam demais a explicitar grande parte das angústias dos personagens, é uma espécie de ritual, onde o autor sugere, provoca quem assiste e, ainda mais, Magnolia é um desses filmes em que temos de assistir mais de uma vez para reforçarmos ou entendermos seus significados, veremos que o Diretor foi deixando pistas que contêm toda uma relação com a cena final. Algo incrível, coisa de gênio.

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Tempos Modernos

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Charles Chaplin produziu, dirigiu, atuou e compôs as músicas da trilha sonora dessa grandiosa pérola. O cinema de Chaplin lançou base para as primeiras técnicas cinematográficas e anteviu mazelas da sociedade pós-moderna em plena década de 20; como o trabalho alienado, a mecanização do trabalhador que tem seus interesses subjugados pelo sistema, e até a L.E.R. ( Lesão por Esforço Repetitivo ). E pasmem, ele fez todas essas críticas sem falar nenhuma palavra sequer durante o filme.

Logo na cena inicial, o filme já mostra à que veio quando compara a massa de trabalhadores amontoados seguindo para as fábricas com um rebanho de ovelhas. Comparação esta que nitidamente faz alusão a um dos fundamentos da filosofia de Sócrates : A Conduta de Ovelha.

O roteiro se utiliza de um ideal latino muito utilizado pelo dramaturgo português Gil Vicente : “È rindo que se corrige os costumes.” Partindo de tal princípio, surge um personagem caricaturesco e divertido que vai protagonizar e denunciar, de forma cômica, a sofrida e precária vida dos trabalhadores fabris.

O personagem identificado apenas como um trabalhador fabril ( Não há nenhum indício que revele o verdadeiro nome do protagonista ) caracteriza perfeitamente o trabalhador fordista, especializado o bastante a ponto de conhecer apenas uma etapa da produção e desconhecer o produto final. Ele fica preso às clássicas esteiras inventadas na fábrica de Henry Ford e o único momento de “descanso” é o almoço, porém vimos como os empresários tentam minimizar o tempo do almoço para maximizar a produção. Com jornadas de trabalho elevadíssimas, o trabalhador é levado a condições extremas. Tal fato é materializado no filme quando o trabalhador fabril, esgotado do trabalho, chega a ter uma crise nervosa.

Esse trabalhador especializado ao extremo denuncia como o trabalho é capaz de robotizar o ser humano a ponto de reduzi-lo a uma mera engrenagem da máquina. E no curiosíssimo episódio em que a máquina traga o operário para suas “entranhas” - ao invés de esmagá-lo - ela o conduz à um passeio, onde lhe apresenta todas as outras engrenagens.

A sociedade sócio-economicamente desigual é representada de forma caótica, com um número exorbitante de desempregados e famintos. Estes, por sua vez insatisfeitos, vêem nas manifestações e nas greves uma maneira para questionar o sistema capitalista autoritário que devora os mais fracos.

Chaplin finaliza a produção colocando um lampejo de esperança na mente dos espectadores a respeito da nossa realidade – por mais dura e perversa – sempre deve ser encarada com um sorriso no rosto enquanto se segue adiante em busca de melhores oportunidades. Essa mensagem fica clara quando o trabalhador e garota ( Interpretada por Paulette Goddard ) conversam à beira da estrada e depois caminham em frente por uma estrada infindável, metaforicamente, a estrada da vida.

Perseguido pela movimento que combatia comunistas proposto pelo senador Joseph McCarthy denominado de “Caça as bruxas”, Chaplin foi obrigado a mudar-se dos Estados Unidos para a Inglaterra. Ele era acusado erroneamente de veicular ideologias comunistas em seus filmes. Decerto ele simpatizava com algumas idéias socialistas, porém não defendia o comunismo, apenas criticava o capitalismo.

“Tempos modernos” é um filme emblemático, que não só marcou a década de 20, como toda a história do cinema. É nele que o polivalente Charles Chaplin demonstra todo o seu infinito talento, desde o domínio de todas as fases de confecção de longas e curtas metragens até uma incrível amostra de seus dotes de patinador. Por isso Chaplin tem um lugar garantido no hall dos melhores diretores do mundo e é respeitado até hoje por sua criatividade, seu senso crítico, seu talento e carisma perante a câmera.

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Malena

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Giuseppe Tornatore é mais lembrado pelo clássico "Cinema Paradiso" de 89, filme dirigido e roteirizado (ao lado de Vanna Paoli) por ele. Menos conhecido e lembrado, Tornatore também dirigiu e roteirizou (agora com a parceria de Luciano Vincenzoni) o filme "Malena", que relata de forma comovente e suave a primeira paixão de um rapaz e seu amadurecimento.

A história se passa na Sicília, ao sul da Itália. É 1941, e o país acaba de entrar na Segunda Guerra Mundial. Enquanto todos os adultos do vilarejo estão em alvoroço e com os ouvidos grudados ao rádio, Renato (Giuseppe Sulfaro), um rapaz de 13 anos, pouco liga para tudo isso. Logo, sua vida iria mudar, mas a guerra pouco o influenciaria. A primeira grande novidade é que Renato ganha de seu pai uma bicicleta, e agora ele poderá andar com ela por toda a cidade com seus amigos. E é graças a eles que o menino conhecerá a personagem-título: Madalena, a quem todos chamam de Malena (Monica Belucci), uma bela, misteriosa e sensual mulher. Filha do professor surdo da escola, seu marido foi convocado para a guerra, deixando-a a mercê dos homens da cidade, que a desejam tão ardosamente que começam a desrespeitá-la. Isso provoca a inveja e a ira das mulheres do lugar, que passam a humilhá-la e maltratá-la.

Mas o sentimento que Renato cultiva por Malena é diferente. Ele não só sente por ela uma atração sexual, mas algo maior e mais complexo. Logo, sua paixonite platônica toma os ares e características de um amor mais denso: devoção, obsessão, desejo, dor, ciúme e ódio. E Renato sente tudo isso sem nunca ter falado com sua musa inspiradora. Na verdade, o amor do rapaz começa por uma imagem, pela beleza e sensualidade de Malena. Ao poucos, quando começa a vigiá-la, ele vai conhecendo a personalidade da moça, e o quão solitária (e apaixonada pelo marido) ela é. Esse seu amor só faz aumentar e ele passa a protêge-la dos comentários e ações maldosas das outras pessoas. A devoção de Renato e seu amor não consumado é o ponto chave desse filme.

A direção de Tornatore consegue idealizar Malena para o espectador, da forma como Renato a vê. Por isso, toda a vez que ele se aproxima dela, nós não apenas vemos mas também sentimos o seu nervosismo. Ficamos tão ansiosos como ele. A locação é linda e muito bem fotografada por Lajos Koltai. E a trilha sonora de Ennio Morricone (também de Cinema Paradiso) está perfeita, merecidamente indicada ao Oscar.

As atuações também são muito boas. O estreante Giuseppe Sulfaro, que ganhou o papel após sua tia enviar uma foto sua, está ótimo, conseguindo levar o filme muito bem como o protagonista, o sentimental e apaixonado Renato. Ele nunca parece piegas ou exagerado. Passivo ante alguns acontecimento e ativo perante outros, ele dá o tom certo ao personagem. Monica Belucci, lindíssima, não tem muitas falas. Sua atuação é mais sublime, ela usa mais os olhos para revelar o que se passa com sua Malena: toda a tristeza e solidão da personagem estão descritas em seu olhar. E a sensualidade, é claro, está presente.

É mister salientar que o filme também aborda outro assunto: o amadurecimento de Renato. A paixão avassaladora por Malena faz o rapaz mudar seus conceitos sobre a vida, o faz reparar em outras coisas, o faz ver o quanto a vida (e as pessoas) pode ser dura e injusta, e também o faz ver a crueldade da guerra. Além, é claro, de que Renato começa a ter suas primeiras descobertas sexuais. Esse amadurecimento do personagem é simbolizado por coisas banais: quando ele começa a se sentar na cadeira do barbeiro e não mais no banquinho ou quando o começa a usar calças, que naquela época era símbolo de amadurecimento do homem.

"Malena" é uma belíssima história de um amor não consumado, de uma devoção única e de uma obsessão natural aos apaixonados. A descoberta do amor e do amadurecimento. Um excelente trabalho de Tornatore!

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Amnésia

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“você não quer a verdade, cria a sua própia(...) um quebra-cabeça que você nuca solucionará.”

Em 1999, duas produções de baixíssimo orçamento conseguiram excelentes bilheterias e caíram na graças de uns, tornando-se ícones cult da época: Sexto de Sentido, do Diretor estreante M. Night Shiamalan e a Bruxa de Blair. O que acabou por deixar certa expectativa sobre qual seria o próximo filme a repetir essa façanha lá na terra do Tio Sam: filme independente que surpreendesse aos grandes estúdios e aplacasse uma boa bilheteria, só que mais que isso, esse filme precisaria ser algo que fizesse o espectador pensar o tempo todo, um filme que acima de tudo fizesse com que as pessoas queimassem vários neurônios para acompanhá-lo, e eis que surge Memento (Amnésia) de um diretor recém chegado no circuito comercial: Cristopher Nolan.

O grande trunfo de Nolan foi ter conseguido fazer com que uma trama aparentemente simples fosse tão brilhantemente contada devido ao fluxo de narrativa invertido. Cada ação do protagonista é mostrada sem que se saiba o motivo que o levou aquela situação. Uma cena termina onde a antecessora começou. Com isso, a cada cena, desvenda-se um mistério e cria-se outro. Enquanto vamos regredindo na história, vamos conhecendo as pessoas que interagem com o protagonista, em um primeiro momento reputando-lhes confiança, todavia, logo em seguida, com uma nova cena descobrimos uma outra intenção dessa pessoa para com o protagonista que coloca-nos em posição de cheque quanto ao seu caráter.

A história trata de Leonard Shelby, ou Lenny( Guy Pearce de Los Angeles - Cidade Proibida, Conde de Monte Cristo e Máquina do Tempo) um homem que, impulsionado pelo desejo de vingança, tenta descobrir quem estuprou e matou sua esposa Catherine, todavia, sua “condição” (perda de memória recente, causada pelo assassino na hora em que ele Leonard, tentava salvar sua esposa) não o permite memorizar o que aconteceu naquela fatídica noite, dificultando sua investigação. Em sua busca, surgem algumas pessoas com o suposto intuito de ajudá-lo, mas que na verdade agem em benefício próprio, tentando ao seu modo, tirar proveito da situação: Natalie, habilmente interpretada pela bela Carrie-Anne Moss( de Chocolate e da Trilogia de Matrix), é namorada de Jimmy Grantz, traficante que também está envolvido nos recentes acontecimentos da vida de Leonard; Teddy(Joe Pantoliano de Imério do Sol e Matrix)diz ser um detetive encarregado do caso e tenta ajuda-lo informalmente.

Diante de sua falta de memória, Leonard estruturar-se-á, através da rotina, seu condicionamento, de modo a seguir seus objetivos, mas vive sem eixos ao qual se apoiar: ele apóia-se em suas fantasias, pistas criadas por ele próprio, lembranças incertas, notas que foram rasuradas por ele próprio sob influência da daqueles que supostamente queriam o ajudar, tudo isso, como forma a criar sua realidade e assegurar um modo de convívio consigo mesmo. Nessa busca insana por vingança, Leonard criará as pistas que lhe convier, um enigma inacabável. O detetive Teddy mente, mente assim como também o fazem os outros, mas não sabemos até que ponto, todavia parece ser ele o que tem um maior compromisso com a verdade em sua revelação final, quando ele afirma que Leonard já havia matado o suposto assassino de Catherine, sua esposa. Leonard vangloriar-se-á do método que utiliza para achar o assassino de sua esposa, baseando-se apenas nos “fatos” e “fontes”, já que a memória sua e dos outros é “traiçoeira”, ao mesmo tempo em que cria esses fatos, como a placa do carro do assassino, que ele inventa, conscientemente, e depois não se lembra que é uma invenção. Estruturando sua vida, mimetizando os “fatos” ele acredita que conseguirá o condicionamento que Sammy Jankis (um homem investigado por Leonard – que antes da perda de memória era trabalhava em uma empresa de seguros- e que também teria tido um problema de memória como o seu): “Hábito e rotina tornam minha vida possível. Eu tenho um motivo. Sammy não. Ele deveria aprender por meio da repetição.”

A Direção de Nolan, seu Roteiro baseado no livro homônimo de seu irmão Jonathan, aliado a espetacular Montagem empreendida por Dody Dorn( será o Montador de Austrália, o foi de Exterminador do Futuro 2, Insônia e os Vigaristas) nos levará através desse labirinto que se tornou a vida de Leonard, recorrendo a cenas em preto-e-branco para diferenciar os tempos da narrativa, confundindo o espectador: tais cenas são intercaladas com outras em cores e mostram os momentos que antecedem o assassinato do traficante Jimmy Grantz, por Leonard, quando este estava em um quarto de hotel, fazendo tatuagens que seriam sua mimetizes seus memoriais dos “fatos”, e conversa por telefone com alguém, sobre sua história.

Perto do fim, as imagens em cores (que mostram os acontecimentos de trás pra frente) vão encontrando as em preto-e-branco (que obedecem a uma seqüência temporal). Na última cena em preto-e-branco, Leonard sai do quarto para encontra o pessoal Teddy no saguão do hotel em que estava ( que ao que parece era com quem ele conversava ao telefone) tira uma foto dele e recebe um endereço, indo depois a uma casa abandonada onde baseando-se em seus fatos, encontrará e matará Jimmy Grantz. Essa cena vai então se colorindo e dando lugar à última cena, que na verdade é a primeira da história, pois é nela que começa o filme.

Nolan vai lançando ao longo da trama elementos que deixam mais embaralhados ainda à trama. Há certo significado simbólico no fato de na casa abandonada, o piso esteja desfalcado de alguns azulejos, assim como no arquivo de Leonard estar faltando páginas. A alguns indícios que nos levam até a crer que a esposa de Leonard tinha algum envolvimento com o traficante, e que a casa abandonada onde o protagonista mata Jimmy é sua antiga casa. Explico: há uma cena em que Leonard vai entrando pela porta enquanto surgem cenas em cor da esposa andando pela casa, em seguida, Leonard fica diante de uma porta e novamente surge a imagem da esposa diante de uma porta idêntica a de Leonard. Em outro trecho, quando Leonard está prestes a matar o traficante e este lhe oferece dinheiro em troca da vida, aquele diz que não quer seu dinheiro. Jimmy então pergunta: “O quê então? O que quer de mim?” “Minha vida de volta”, responde Leonard. Durante esse diálogo, aparece uma ligeira cena colorida de mulher virando-se sentada em uma cadeira, a voz deles aparenta vir de um outro cômodo ao lado de onde estava sentada a mulher. Já em outra parte, Nathalie indica Leonard uma casa abandonada “onde um amigo fazia grandes negócios”.

Outro ponto interessante que se faz presente em Amnésia é posto em cheque à objetividade das provas de Leonard, como nos mostra os aparelhos usados por ele. As fotos tiradas por ele em sua Polaroid, não são nada objetivas: Natalie aparece distante e ensombrecida, quase irreconhecível; Teddy diz está mais magro em sua foto; a foto que teria sido tirada na hora em que Leonard teria matado o assassino da esposa não garante de forma alguma se teria sido realmente ele. Por outro lado, o que ele escreve nas fotografias também o é bastante subjetivo, assim como as tatuagens espalhadas pelo seu corpo, todos esses mimetizes escritos em momentos ambíguos, sob clara influência daqueles que desejam o ajudar em beneficio próprio.

A grande qualidade de Guy Pearce fez com que ele se encaixasse muito bem no papel de Leonard, soube retratar com brilhantismo toda a angústia do personagem. Carrie-Anne Moss está com o sarcasmo suficiente para sua personagem, sua interpretação em Amnésia chega a superar toda sua segurança demonstrada no antológico Matrix. Pantoliano está muito bem sobre aquele bigode ridículo (rsrsrs), mostra ser um bom ator coadjuvante, é dinâmico, ágil e encara bem seu personagem. Entre os outros coadjuvantes, Callum Keith Rennie(eXistenZ e Blade Trinity), como Dodd é o de menor destaque, o que se explica por seu papel. Destaque-se, por outro lado, a ótima interpretação de Harriet Sansom Harris, como a esposa de Sammy Jankis, muito segura em cenas emotivas, passando de maneira concisa emoção e nos comovendo com suas atitudes diante do problema de seu esposo.

Amnésia foi ao Oscar de 2002 concorrendo a duas categorias que soaram até obvias diante da qualidade demonstrada: Roteiro Original e Edição, não levaram nenhuma, para o primeiro, diante da concorrência, que também o eram de qualidade, acredito que foi injusto, no segundo até vá lá, a disputa era muito acirrada. Todavia, acredito que Anne Moss deveria estar entre as concorrentes a Atriz Coadjuvante.

A tradução do seu titulo para o português acabou destoando, de certa forma, o sentido real que teria a obra. Seria algo mais próximo de “memorando”, ou melhor, seria mais positivo manter o título em Inglês!!

Amnésia serviu não apenas para mostrar o quão talentoso era esse tal de Cristopher Nolan que estava chegando, serviu pra mostrar que ainda hoje em dia dá pra fazer cinema de qualidade, inteligente, inovador, que faz pensar, que o faz ter prazer em assisti-lo duas vezes seguidas. Um início brilhante de Nolan, o grande Diretor que tirou Batman das cinzas. Um diretor de talento, um dos grandes nomes da atual geração. Como bom fã de Kubrick, Nolan faz de seu Amnésia uma Quimera de proporção semelhante em dificuldade de entender, em encantamento a 2001- Uma Odisséia no Espaço do grande mestre, embora em sentido e estilo diferente. Amnésia atinge o status de obra-prima dos últimos dez anos, e reafirma a capacidade de se criar bons filmes com baixo orçamento (parcos 5 milhões de dólares), sem dúvidas um boa e grata surpresa, uma grande sensação de prazer, que o faz creditar o sentido de “arte” que é imputado ao cinema.

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