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Críticas

Meu Marciano Favorito

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A chegada do século XXI parece ter despertado nos produtores americanos uma espécie de levantamento da herança deixada pelo mesmo. Assim passou-se a trazer para as grandes telas os seriados que embalaram as gerações antigas as catadupas. Para citar alguns: A Feiticeira de Nora Ephron - 2005( baseada em série produzida entre 1964 e 1972), As Loucas Aventuras de James West de Barry Sonnenfeld - 1999 (baseado em série produzida entre 1965 e 1969) e Starsky & Hutch - Justiça em Dobro de Todd Phillips – 2004 (baseado em série de tv de 1975 a 1979). Todas as citadas naufragaram em sua tentativa de resgatar o espírito daqueles tempos, sendo que as duas primeiras citadas foram verdadeiras bombas – Starsky e Hutch não deixa de ser também uma bomba, só que de proporção menor.

Assisti “Meu Marciano Favorito” meio ressabiado. Afinal as citações acima bastam por si só para explicar tamanho receio. Não posso dizer que sai completamente satisfeito com o que eu vi, mas não é possível classificar o filme como uma “bomba”. A série no qual foi inspirado, da qual pude assistir uns três episódios era simpática. O filme em si acerta ao procurar manter a linguagem ingênua. A questão que talvez venha decepcionar o público que conhecia a série é o recheio de efeitos especiais, possíveis devido à tecnologia atual, e também por se tratar de um produto destinado as grandes telas (ou seja aquilo que era apenas sugerido com trucagens simples, que instigava a imaginação de quem assistia é desnudado). Os poderes incomuns que o tio Martin possuía na antiga série (ele era telepata, possuía duas antenas retráteis, podia ficar invisível e movia objetos com o dedo) é acrescido de outros: uma roupa com consciência própria, pílulas que transformam sua aparência a semelhança de outros extraterrestres.

De toda forma o filme possuí seus bons momentos. A cena inicial é um primor. Uma sonda espacial trava diante de um montículo em Marte; a NASA festeja o sucesso alcançado por tal feito – atrás do montículo existia uma enorme cidade futurista, a qual eles ficam privados de conhecer e acreditam assim ser Marte desabitado. A questão levantada é profunda. É uma alegoria que nos faz pensar: Estaríamos dotados da capacidade de entrar em contato com outros seres. Não falo aqui da questão intelectual ou de progresso tecnológico. Seríamos dotados da capacidade de auferir através de nossos sentidos seres que talvez se utilizem de outros que não conhecemos. Ainda que essa não seja a proposta do filme, a cena inicial possibilita tal questionamento, ou pelo menos critica nossa pequenez diante do Universo.

Outros bons momentos são aqueles em que o traje de Martin interage com os habitantes da Terra. Ao dotá-lo da capacidade de pensar por si só, e ao dar-lhe uma personalidade próxima da de uma criança, a ingenuidade da antiga série é ressuscitada.

Os atores dão conta do que lhe foi confiado: Christopher Lloyd cria um Tio Martin que convence e remete na sua aparência aquele vivido por Ray Watson (o anterior era contudo mais comedido – Talvez a necessidade de dar conta de uma série em pouco menos de duas horas cause uma aceleração do todo). Jeff Daniels se presta a ser um mero coadjuvante, tal qual fora Bill Bixby na série original. Daryl Hannah e Wallace Shawn nada acrescentam ao filme com os personagens que não existiam na série original. Christine Ebersole vive a Sra Brown, mas o personagem não possui a dimensão que desempenhava na antiga série.

O resultado final diverte, mas fica aquém do original que o inspirou. Serve como uma pálida homenagem, despertando assim a curiosidade para que se conheça a série antiga

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Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

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Embora desponte com uma abertura incrível e bem construída este filme de Indiana é só mais um filme para levar fãs e jovens para o cinema (ou locadora). Devo admitir que não sou fã dos filmes do Indiana (embora seja de seus criadores), mas gostei de vários dos longas dele (principalmente do último... mas já está na hora de revê-lo). Talvez seja esta distância temporal entre seus filmes que tenha um efeito menos instigante ao final deste longa.

Harrison Ford encara novamente seu eterno personagem e não desaponta e corresponde as características que o tornaram um ícone “semi-mundial” e herói americano. A apresentação dos personagens é ótima e cheia de glamour, como com Cate Blanchett a vilã-mor do filme ou com o jovem Shia LaBeouf . Mas todas as qualidades visuais e narrativas mostradas no inicio do longa vão aos poucos se deteriorando ao longo da projeção. É justamente com o final da “aventura” nos Estados Unidos que o filme começa a ter atitudes clichistas ao extremo. Infelizmente George Lucas e Steven Spilberg não conseguiram transformar uma estória simplista em um bom filme para se assistir (o que conseguem na maior parte das vezes). Parece que a vontade de produzir mais uma aventura para o herói Indiana se sobrepôs a muitas qualidades destes dois mestres do cinema. Situações totalmente previsíveis acompanham as “tramas” do filme. Quem acha que vai se surpreender com grandes reviravoltas é algo bem distante e que passa bem longe deste longa, o que resume tudo a diversão e pipoca.

Além destas situações que são pequenos detalhes (ou falta de criatividade do roteirista), como por exemplo a “ajuda” do personagem de John Hurt, que em alguns momentos demonstra uma “loucura verdadeira” em outras um “retardamento extremo” e depois “uma sabedoria questionável”. Entediante como disse Silvio Pilau, a vilã do filme nada mais é do que uma peça necessária a trama simplesmente para conduzir nosso herói até a questão principal do filme. Ela embora como disse no início muito bem interpretada (pela excelente Cate) se torna ao longo da trama um clichê assumido de uma caricatura socialista ao extremo. Situações de brigas e lutas gratuitas, como quando estão em carros, e personagens se digladiam montados em dois veículos em movimento, o que muito bem poderia ser resolvido com uma pequena freada do veiculo dos “vilões”. Estas cenas têm suas qualidades de criatividade, resultam em risadas sadias mas nada mais do que isso. E sim os russos são vis, cruéis e apenas estão no filme para sofrerem nas mãos de Indiana e exemplificarem quão vilões eram. Existem cenas que beiram atitudes de desenho animado, caretas e piadinhas rasas. O filme parece perder de muito de sua grandiosidade, pois temos de engolir várias cenas e ações que soam um tanto forçadas. Para nós brasileiros, então. A cena das formigas beira o ridículo e o que dizer dos macacos-pregos, que dão uma de Tarzan em plena floresta e ajudam os moçinhos contra os russos. Outro ponto é a própria floresta. Em um momento necessitam de “caminhões de poda” e depois estão em alta velocidade perseguindo-se em plena floresta fechada. Além de vários errinhos de estrutura, como: quem são os mortos dentro do templo. O final como já comentado é caótico, não temos nenhuma idéia do que está acontecendo, nem porque razão esta acontecendo e quando vemos já acabou.

Suportando todos estes tropeços, temos um filme mediano que é ao menos bem interpretado e visualmente belo. Quem é fã que assista com um pé atrás, quem não é, não comece por este filme, e quem já tentou e nunca conseguiu ser, deixe este filme na prateleira da locadora.

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Central do Brasil

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Central do Brasil é um de nossos filmes melhor reconhecido mundo afora, seja pelo fato de ter ganhado o Urso de Ouro na Alemanha, seja pelas indicações a Melhor Filme Estrangeiro e Fernanda Montenegro para Melhor Atriz no Oscar de 1999, mas acima de tudo, Central do Brasil serviu para legitimar o cinema realista feito no Brasil como o nosso "gênero por excelência". O que por um lado pode indicar certo cunho moralista de filmar o real, pode não na opinião de quem escreve o presente comentário, indicar certa tendenciosidade a mostrar o grotesco de forma bela, com objetivos comerciais, o simples fato de que nossas mazelas seriam uma forma de agradar ao público estrangeiro, já que alguns esperariam realmente isso vindo de um país de Terceiro Mundo como o nosso. Fato é que hoje somos sim conhecidos mundo afora por produzirmos filmes que se destaquem nesses aspectos, a pouco espaço para produções um tanto "abstratas", "simbólicas", cinema no Brasil é sinônimo de realidade, de protesto.

Em Central do Brasil, o diretor Walter Salles peca de fato no roteiro, no sentido em que se criam situações-problema apenas com o real objetivo de mostrar as mazelas, ou a cultura do interior de nosso país, sem que diretamente esteja ligado à história de Dora e Josué (prova disso, é a bela cena, mas sem nenhuma ligação com a história de nossos personagens, em que Josué - Vinícius de Oliveira - se perde no meio de uma procissão em uma das cidades que ele e Dora - Fernada Montenegro - passavam em sua jornada em busca do pai de Josué, pois fica a questão: até onde a cena serve para explicitar as dificuldades de Dora em levar o menino, ou para mostrar a cultura do local - fato que o estrangeiro adora? Alguns poderiam dizer que se trata das duas coisas. Eu, achei a filmagens de habitantes da própia região um tanto desnecessária).

Já a Direção de Meireles é sublime, ele própio dá o tom sentimental a obra, ponteando com as belas atuações de seus atores, exprimindo o sentimento exato, tirando do grotesco, do casual, embora, como já dito às vezes exagerando um pouco, as comoventes histórias que compõem a Central do Brasil. Revelando dois Brasis, um que é ponto de fuga para uma enormidade de pessoas - O sul, terra dos sonhos e de oportunidades, ou de decepção e fim da linha pra uns, ou o Norte - a terra marcada por religiosidade e assolada pela seca e pobreza.

As atuações são memoráveis, até os coadjuvantes Marília Pêra, Otavio Augusto e Othon Bastos, sim e Matheus Nachtergale está convincente como Isaías, o carioca Vinícius de Oliveira, então com 13 anos, interpretaria sem sombras de dúvidas seu mais intenso papel. Não a como não se comover com a história do guri Josué, que perde sua mãe, Ana, em um acidente no Rio de Janeiro e contará com a ajuda de Dora, professora aposentada que para completar a renda da casa escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil, porém nunca as entrega.

Todavia, falar de Central do Brasil é falar da interpretação de Fernanda Montenegro, uma das atrizes mais respeitadas de nosso país, que por seu papel foi indicada ao Oscar. Vendo hoje, acredito que foi até injustiça ela não ter trazido a estatueta pro Brasil, tá certo que ela concorria com grandes atrizes ao prêmio, mas fica aquela ponta de injustiça: primeiro, por que ela coloca a alma por completo em sua personagem; segundo: seu papel era sem dúvida o mais denso, mais mutável durante a película, mas cheio de condicionantes e ricos em interpretações.

Tecnicamente o destaque fica pela sensível Fotografia de Walter Carvalho (Cazuza - O Tempo não Pára e Amarelo Manga), além da categorica Trilha Sonora de Jaques Morelenbaum e Antonio Pinto, como também a Edição de Felipe Lacerda e Isabelle Rathery.

Enfim, Central do Brasil é um dos mais reconhecidos filmes brasileiros, um drama humano e real, com uma boa direção, boas interpretações que serviu para passar seu papel é cinema de qualidade, de vivacidade, "engajado",sério e direto.

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Perfume - A História de um Assassino

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Diga-se de passagem: Perfume - A História de um Assassino do Diretor Tom Tykwer é uma pequena jóia relativamente desconhecida, anti-convencional, com muito charme, bela fotografia, mas que, acima de tudo, firma-se devido ao grande talento demonstrado pela direção de Tykwer.

Um dos filmes mais caros já feitos na Alemanhã, com um orçamento de € 50 milhões (algo em torno de US$ 65 milhões), Perfume é inspirado no livro de mesmo nome, que obteve grande sucesso, tanto que o autor, Patrick Süskind relutou por vários anos em conceder os direitos autorais (o livro foi publicado em 1985, vendeu mais de 15 milhões mundo afora, sendo traduzido para mais de 45 idiomas, o autor só veio a comercializar seus direitos autorais em 2001)

Ambientado na suja Paris do século XVIII, o filme conta a história de Jean-Baptiste Grenouille (o inglês Ben Whishaw), desde seu difícil nascimento, sua ida para um orfanato, sua venda para um dono de curtume (e aí, um traço interessante e simbólico, que o eleva a um tom meio épico: sempre quando Grenouille saia da vida de uma pessoa, essa morria, com todos, desde seu difícil nascimento, quando ao verem que sua mãe teria queria o abandonar, as pessoas ao lado de sua barraca de peixes - sua mãe trabalhava em uma fétida feira - delatam a infeliz que é prontamente executada na forca).

Esses primeiros anos de Grenouille são habilmente contados, sem perder muito tempo, mas nos passando na medida exata o perfil de nosso protagonista, uma pessoa de poucas palavras, mas de um dom olfativo fora do comum.

Em seguida, Grenouille já adulto acaba por conseguir a admissão do perfumista falido "Mestre Giuseppe Baldini", interpretado por Dustin Hoffman. Certo dia, ao perambular pelas ruas de Paris, Grenouille encanta-se com o cheiro do corpo de uma moça, que acaba matando-a acidentalmente, todavia, a partir desse dia, Grenouille descobrirá seu verdadeiro sentido de viver: descobrir como preservar o cheiro da coisas.

Depois que seu mestre Baldini diz ser incapaz de ensinar-lhe a melhor técnica para tal empreitada, Grenouille segue os conselhos do mesmo e parte para a serena região de Grasse, a "Meca dos Perfumes" nas palavras do narrador da história, na voz de John Hurt.

Nesse outro instante, Grenouille na ânsia por descobrir esses segredos, e meio que em busca de um "perfume perfeito" em todas as notas e acordes, passa a usar uma técnica a para de extrair o perfume de corpos humanos, nesse instante, entra em cena o Grenouille serial-killer.

Após vários assassinatos, o grande temor se instaura na pequena Grasse, o toque de recolher para damas vira lei, cogita-se o auxílio de tropas da capital Paris. Diante desses acontecimentos, Antoine Richis (Alan Rickman) vê o perigo de que uma das próximas vítimas ser sua bela filha Laura (Rachel Hurd-Wood).

Dito isso, nas últimas cenas do filme, parece que a capacidade simbólica e embriagante de um raro perfume, tão indescritível quanto o perfume encontrado na tumba de um determinado faraó egípcio, como nos é contado no filme, nos leva a cenas com nenhuma resposta definitivas. O perfume que antes era a motivação para ardilosas ações de tão frio e calculista serial-killer como o era Grenouille, tornar-se-á motivação para as mais mirabolantes sensções de libido, ao mesmo tempo em que gera o perdão das pessoas pelas mais truculentas das ações. Nesse instante, o fibnal extremamente surpreendente faz do vilão um herói, saldado por todos, aquele que leva o amor para as pessoas, que sensibiliza os meio de defesa repressoras que não permitiam um mínimo julgamento se quer.

Pontuando tão ardiloso tema, afinal, haveria uma situação histórica à seguir, uma certa fidelidade ao livro do qual o filme se baseia. Para isso, é extremamente gratificante o trabalho da direção de Tom Tykwer ( Corra Lola Corra e Paraíso). Sua direção imbui na medida exata a contrução de seu protagonista, principalmente dele. Tanto é, que falha em caricaturar demais seus personagens secundários (a impressão que fica é que atores como Alan Rickman e Dustin Hoffman servem apenas para dar mais notoriedade ao filme apenas por sua presença).

Negativamente fica o Roteiro escrito pelo própio Tykwer, em parceria com Andrew Birkin (roteirista de O Nome da Rosa, e que contribuiu para o tom mais próximo dos diálogos da obra literária, fato que vemos presentes tanto em Perfume quanto em O Nome da Rosa), além de Bernd Eichinger (A Queda: As Últimas Horas de Hitler), tal roteiro escorrega no sentido que prevalece um estilo de narração intrinsecamente literário que por vezes acaba travando à narrativa.

Todavia, tecnicamente o filme é primoroso, destaque para a Fotografia de Frank Griebe (Paris, Eeu Te Amo, e Corra Lola, Corra) seja quando o enfoque é a podridão das ruas pober de Paris, seja na bucólica Grasse, na segunda parte do longa.

A Edição de Alexander Berner (que lhe valeu um German Film Award de Melhor Montagem) também não fica por menos. Seja no início com cortes rápidos, ou na cena em que vemos as coisas que o bebê Grenouille consegue cheirar com seu senso de olfato fora do comum. Um estilo meio videoclipe que serve pra passar a medida do poder do olfato de Grenouille.

A Trilha Sonora composta pelo própio Diretor Tykwer em parceria com mais dois músicos é espetacular, sensível em todos os pontos, além de muito bem colocada. Outro destaque fica pelas ótimas locações, além do pontual figurino sob a assinatura de Pierre-Yves Gayraud, fato que serve pra elevar mais ainda a qualidade da ambientação do filme.

Em suas atuações, vemos um protagonista bem interpretado pelo inglês Ben Whishaw ( Não Estou Lá), suas expressões faciais na medida, sua dinâmica em levar o personagem diante de tantas modificações ao longo da trama, a maneira como ele expressa a psicopatologia/talento de seu personagem o faz o grande destaque do filme, sem dúvidas. Os outros atores têm em seus papéis certos secundarismos excessivo, não se constrói em quanto si própios, servem apenas para delinear as vivências de Grenouille, são personagens fracos, pessoas que se vêem domadas diante do poder que tem Grenouille.

Enfim, Perfume é um dos primeiros filmes a mexer com um dos sentidos que não estão diretamente ligados ao ambiente cinematográfico, vindo de um livro quase que impublicável, o filme revela-se como ótima surpresa, nos revelando que pode-se sim, com talento, passar uma idéia de determinado sentido enfocando outro, com o uso da boa técnica de outro, nesse emaranhado de misturas, Perfume - A História de Um Assassino nos leva em uma viajem sentimental e impactante.

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Deus e o Diabo na Terra do Sol

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“Onde houver um cineasta disposto a filmar a verdade, e a enfrentar os padrões hipócritas e policiarescos da censura intelectual, aí haverá um germe vivo do Cinema novo. Onde houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe do Cinema Novo. Onde houver um cineasta, de qualquer idade ou de qualquer procedência, pronto a por seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo, aí haverá um germe do Cinema Novo. A definição é esta e por esta definição o Cinema Novo se marginaliza da indústria porque o compromisso do Cinema Industrial é com a mentira e com a exploração”.(Glauber Rocha)

Um Brasil oprimido, faminto, injustiçado, milenarista e religioso. Um Brasil retomado sob suas feridas. Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma espécie de "cordel falado" onde Glauber Rocha desabafa toda sua personalidade na tela, onde ele não apenas se prende a crítica feroz, como também abre espaço para inovar ante os filmes comercializáveis. Deus e o Diabo na Terra do Sol continua sim merecendo a fama de melhor filme brasileiro de todos os tempos. Glauber Rocha é sim o grande nome do cinema nacional. É, portanto, um filme cada dia mais atual, porque nos mostra a ânsia de um povo, não apenas o sertanejo, mais todo o brasileiro, de um dia o "Sertão virá mar", de um Brasil mias justo.

Deus e o Diabo na Terra do Sol é uma espécie de grande jornada das esperanças de um povo representadas na figura do simples vaqueiro Manuel. Sua jornada se inicia quando devido à empaces com um fazendeiro da região, Manuel se sente lesado e mata o cangaceiro. Em seguida, tendo sua casa atacada por jagunços daqueles, ocasião onde sua mãe acaba morrendo, Manuel decide sair pelo sertão junto de sua esposa. Esperançoso com seu destino, Manuel encontra o líder milenarista Sebastião. As pregações de Sebastião revelavam uma tradição crescente no Nordeste Brasileiro de então: A Formação de Lideranças (vide o exemplo de Antônio Conselheiro em Canudos) baseadas na fé. Tais líderes eram basicamente contra o estabilishment da época: A República faziam provissões apocalípticas, além de uma idéia bem definida sobre um Juízo Final.

Após impaces com sua mulher, cética quanto à eficácia do santo Sebastião, aparece na trama à figura de Antônio das Mortes (Maurício do Valle) que é pago pela igreja a mando dos coronéis da região, incomodados com Sebastião. Das Mortes então decide exterminar todos os seguidores do santo e ao própio.

Depois do ocorrido, entra em cena a figura do cangaceiro Corisco (Othon Bastos - um dos mais talentosos atores globais), o último dos cangaceiros, sobrevivente da emboscada que matou Lampião. Manuel chega a fazer parte do pequeno bando de Corisco, sendo por esse apelidado de Satanás. Chegamos então ao ponto final da trama, quando das Mortes deverá cumprir a missão de por fim a Corisco, nisso, Glauber nos encaminha para uma das melhores cenas da história do cinema brasileiro.

Glauber não apenas consegue fazer um Cinema Novo, que restringisse apenas ao vanguardismo, em Deus e o Diabo na Terra do Sol vemos sim cinema da melhor qualidade, com personagens extremamente bem construídos, com boas interpretações, com boa e situada Trilha sonora com todo o conhecimento por parte do Diretor da Linguagem fílmica, com toda um roteirização eficiente. Nesse sentido, o mérito fica mesmo a cargo da Direção e Roteiro de Glauber. Um desses gênios que tem total domínio sobre a situação do filme, que dirige e roteiriza com liberdade seus filmes.

Pra compor tão genial empreitada, necessitava-se de atores corajosos, igualmente habilidosos. Geraldo del Rey( Pagador de Promessas e A Idade da Terra), como o protagonista Manuel, demonstra toda um segurança ante seu personagem, passando a "inocência" de seu personagem na medida exata, ao mesmo tempo que acompanhando as continuações e mutações de seu personagem diante das querelas passadas no escaldante sol do sertão. Othn Bastos( Pagador de Promessas, São Bernado e Central do Brasil) defende com raiva e raça seu personagem emblemático. Ele é sim o ponto de equilíbrio da Terceira e última parte do longa. Abaixo da média dos dois anteriores, fica a interpretação de Maurício do Valle (Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro), como o matador Antônio das Mortes.

Pontuando com maestria, temos uma situada música, de Heitor Villa-Lobos, cantada por Sérgio Ricardo e com letras próprias do diretor.

Comentando uma obra de tão grande brilho e importância para a formação de nosso cinema, chegamos à conclusão de que Glauber Rocha, então com 23 anos, consolida-se enquanto diretor de personalidade, ao mesmo tempo em que futuros cineastas mirem-se nele como diretor, suas idéias para o cinema.

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Clã das Adagas Voadoras, O

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Clã das Adagas voadoras é uma junção de cores, formas, tradição, bela fotografia e uma boa história destrinchada por um bom diretor dirigindo os melhores atores de sua terra. Um filme que não se rende ao estilo de filmes orientais, seja nos romances, seja no estilo calculado de suas lutas.

Himou Zhang é inegavelmente um dos grandes nomes do atual cinema chinês, é inesquecível não destacar sua habilidade como diretor, sua capacidade criativa. Poucos conseguem ter tamanha capacidade em retratar/adapatar uma parte da história de se país, e ainda mais, sua perícia técnica faz de seus filmes um espetáculo para os olhos, seja nas sempre deslumbrantes fotografias, ou nos detalhados cenários, figurinos e principalmente as Trilhas Sonoras de seus filmes. Zhang é sim um ótimo diretor.

Clã das Adagas Voadoras se passa em uma época conturbada da história da China. A Dinastia Tang, em longíquos 859 d.C., tinha sua soberania ameaçada por um grupo de rebeldes de nome Clã das Adagas Voadoras, que roubavam dos ricos para distribuir aos pobres, essa situação é bem detalhada por um narrador no início do longa.

Diante dessa situação, dois soldados, Jim (Takeshi Kaneshiro) e Leo (Andy Lau) suspeitam que Mei (Zhang Ziyi) nova dançarina/funcionária da Casa de Peônias seja membro do clã. É então, os dois planejarão uma forma de prender a possível membro, e depois fojar um fuga da mesma de modo que essa - que era cega - os levasse até o chefe do clã, fato esse que elevaria o conceito dos dois soldados ao máximo, além de render-lhes uma boa recompensa.

Após esse "primeiro ato", somos levados a situações mais emocionais, que beiram mais o romance. Pois Mei, já em fuga, graças a ajuda do soldado Jin, que teria que fingir estar ajudando Mei, se vê em grandes perigos devido a ofensiva de soldados que ficaram em seu encalço a mando general da cidade. Fato é que Jim e Mei passam a viver um romence nessa peseguição, não um romance clichê, mas um romance de dúvida, onde só o tempo revelará se eles realmente se gostam, onde as situações adversas impedem essa relação, onde os lados não são iguais.

Em uma terceira parte do longa, o roteiro se enche de reviravoltas, onde as mais remotas possibilidades revelam o verdadeiro caráter dos que alí estavam, onde que engana será enganado. Culminando com um climax sensacional, pontuado por ótimas atuações.

Com relação as atuações, Clã das Adagas Voadoras não fica devendo em nada. Seja na bela e sempre eficiente Ziyi Zhang (Herói, Tgre e o Dragão e Memórias de uma Gueixa), seja nos atores Takeshi Kaneshiro (Anjos Caídos, Amores Expressos e Dor e Ódio) e Andy Lau (Golpe Sujo, Dias Selvagens e Os Senhores da Guerra).

Tecnicamente, o longa matém a tradição de seu diretor de filmes belíssimos e bem cuidados. Seja na Fotografia espetacular de Zhao Xiaoding, que abusa do contraste de cores em seus cenários, bem como tanmbém, capta com maestria às belas paisagens da floresta onde passa grande parte do "segundo ato" do filme, ou na cena espetacular sobre a neve no climax do longa ( recebeu até um indicação - a única do filme - ao Oscar de 2005, não levando. Outros pontos de destaque ficam pelos belos Figurinos Emi Wada , mais um que deveria estar presente no Oscar, além da incrível Trilha Sonora. Negativamente fica o trabalho de Edição feito por Cheng Long , esticando demais certas cenas, efetuando cortes bruscos em algumas cenas de luta, algo extremamente perceptível.

Enfim, Clã das Adagas Voadoras é um bom filme, bem filmado e bem dirigido. Ratifica o status de grande diretor que o é Yimou Zhang, uma bela história, muito bem contada, levada muito bem pelo Roteiro de Zhang em parceria com Feng Li e Bin Wang. Um espetáculo para olhos e ouvidos, com belíssimas lutas incrívelmete contracenadas. Um filme que não se perde em suas origens, que vai ao passado em busca de uma bela história, cheia de brilhantísmo, com reviravoltas intrigantes,um filme que figura como um dos grandes trunfos de seu diretor, para lá de indicado.

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Indomáveis, Os

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Os Indomáveis optara por utilizar as verdadeiras "fórmulas" dos western, gênero em crescente desuso, e o resultado surpreende. Aliado a uma boa direção e com elenco exemplar, o filme pode não ser como muitos disseram: "O Melhor western desde 'Os Imperdoáveis'", mas satisfaz grande parte dos fãs do gênero, seja pelas ótimas tramas, seja por grande parte dos "valores" do faroeste americano se fazerem presente, e, principalmente, por transpor com mestria o "clima" do gênero, devido tanto às boas locações, quanto ao belo figurino.

No elenco faziam-se presentes atores do calibre de Russel Crowe, Cristina Bale e Ben Foster, na Direção James Mangold , diretor com bons filmes no currículo e em crescente ascensão.

Refilmagem de Galante e sanguinário, western lá da década de 50, no tempo em que o gênero era moda em Hollywood e tinha em John Ford seu representante máximo, 3:10 to Yuma recebeu uma tradução para o Português um pouco genérica e sem criatividade, e até sem um pouco de nexo com o desfecho da história.

A história trata do fazendeiro Dan Evans, interpretado por Christian Bale (os dois Batman de Cristopher Nolan, Não estou lá, além de um dos meus filmes favoritos - e pra mim, sua melhor atuação - O Operário). Atormentado com suas dívidas, fato que gera um desconforto em casa, pois seus filhos estão com fome e sua mulher não o "olha" mais; Evans certo dia tem seu celeiro queimado por um cobrador ele se depara com uma desesperadora situação, após o acontecido, seus sai com seus filhos William, interpretado por Logan Lerman (Número 23 e Efeito Borboleta) e Mark, interpretado por Benjamin Petry, para levar o gado para pastar. No caminho, algo mudaria suas vidas, o perigoso bandido Ben Wade, interpretado pelo talentoso Russel Crowe ( Gladiador, Uma Mente Brilhante e O Informante) e seu bando assaltando a uma diligência. O homem que fora roubado, Grayson Butterfield, Dalas Roberts ( A Casa do Fim do Mundo e Jonhy e June) decide oferecer a Evans uma recompensa em troca de ajuda para levar Wade, preso quando estava saindo de um hotel na cidade vizinha, para o trem das 3 e 10 com destino a prisão de Yuma. Só que até lá, vários acontecimentos tornaram tão missão um desafio tremendo, pois no encalço deles estará o bando de Wade, liderados por Charlie Prince ,Ben Foster(Alpha Dog) incrível.

Apesar de contar com vários elementos dos westerns tradicionais, a Direção de James Mangold (Garota Interrompida e Johny e June) em Os Indomáveis acrescenta novas experiências, como o fato de torcemos tanto pro herói tanto pro vilão, que se ajudam várias vezes, isso claro preservando e admirando os valores reciprocamente, os dois seguem seus designos, todavia, não deixam sua honra de lado, não agem com má fé com pessoas que julguem eles terem princípios e valores também.

As atuações são efetivamente muito boas, embora acredite que os coadjuvantes tenham se saído melhor que os protagonistas, principalmente Ben Foster, que faz o seu melhor papel, um jovem ator que ainda tem muito a crescer na carreira. Destaquem-se também as atuações da bela Gretchen Mol como Alice Evans, esposa de Dan, além da exemplar atuação de Peter Fonda como Byron McElroy, um homem de passado sombrio.

Tecnicamente o filme se destaca bastante, acredito que foram poucas as indicações que o filme recebeu ao Oscar: Som e Trilha Sonora, quesitos que eu não tinha achado nem os melhores da parte técnica.

O grande trunfo, é sem dúvidas, o realismo presente nos figurinos assinados por Arianne Phillips ( O Corvo, Identidade e Johny e June). Destacam-se também a excelente Direção de Arte de Greg Berry. Já a Fotografia de Phedon Papamichael ficou devendo um pouco, devia ter explorado um pouco mais a imensidão do lugar, certas cenas que poderiam ganhar um brilhantismo a mais diante de uma bela fotografia foram renegadas ao plano de cenários, o sol escaldante se faz distante do olhar das pessoas, salvado-se apenas poucas passagens, esse quesito pisou na bola ( o que chega a ser estranho por parte de um western)

Com um orçamento de aproximadamente 50 milhões de US$, Os Indomáveis não chega a dar novo ânimo ao gênero, e embora tenha conquistado uma bilheteria relativamente satisfatória, o filme passou meio despercebido. Todavia, é sim um bom filme, ágil, dinâmico e com uma boa história, vale a pena assistir.

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Fuga de Alcatraz

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Um filme simples direto, que relativamente se exclui de fazer uma análise parcial da situação de reclusão dos presos de Alcatraz, da situação política da época, do que o povo achava da prisão, o estilo adotado pelo diretor Don Siegel fica mais próximo de uma simulação dos fatos, bem ao estilo "Linha Direta" da Globo.

Inicialmente, somos levados para dentro da prisão de Alcatraz, "A Rocha" para uns, uma prisão impossível de fugir. Acompanharemos a real história de Frank Morris (Clint Eastwood), um preso destemido e perigoso, já que estava sendo mandado para aquele local.

Logo nos primeiros dias, Morris tem problemas com um preso que ansiava por manter relações sexuais com ele, o que acabou fazendo-o parar na solitária (tenho a impressão de que todo preso Hollywoodiano passa pela Solitária).

Morris também arranjando alguns amigos após sair da Solitária, com esses, planejará suas fugas de tão ondeável local. Isso, só será possível graça aos planos arquitetados por Morris, que por sinal, possuía um Q.I. acima da média.

Na levada de caso tão conhecido, Siegel, diretor que tinha no currículo uma boa parceria com Eastwood em Two Mules for Sister Sara (Os Abutres Têm Fome), faz sua direção segura, sem muitas pretensões, beirando algo mais "fiel" à história.

Nesse sentido, o Roteiro poucas vezes dá espaço na construção da mentalidade de alguns personagens, é até relativamente simples, o nome da trama já o deixava até relativamente "previsível". O poder ficaria, portanto, nas dificuldades que Morris e seus amigos iriam passar para fugir da prisão, já que nem bem conhecemos suas pessoas, nem sabemos ao certo por que estão eles ali, se são realmente culpados, ou não.

As atuações também são discretas, Clint faz um homem calado, frio e ao mesmo tempo, destemido perante toda aquela situação. Os coadjuvantes não são também, muito exigidos, já que seus papéis servem mais de complemento ao de Morris.

A quase ausência de Trilha Sonora deixa um silêncio meio perturbador no filme, o que serve pra intensificar o seu suspense, fato que é intensificado pela eficiente Edição, que contribui para algumas cenas angustiantes (até previsíveis) pelas quais Morris passa nos momentos finais de sua fuga.

Enfim, a importância de Escape from Alcatraz fica mais no seu sentido de "documento", seu retrato da cadeia, embora discreto, serviu para que futuros filmes abordando o tema o vissem como um dos espelhos, a organização da trama orquestrada pela mão firma da Direção de Siegel faz dele um bom filme, um entretenimento ligeiro, que não pede muito esforço para refletir de quem o assiste, mesmo assim, bem recomendado.

Críticas

Lady Jane

0,0

Filme noir? Talvez na aparência, mas falta-lhe de essência. Uma história de vingança? Talvez em certo momento. Mas não seria melhor vê-lo como uma história sobre a perda das ilusões?

Muriel (Ariane Ascaride), François (Jean-Pierre Darroussin) e René (Gérard Meylan) quando jovens se assemelhavam a Robin Hood. Roubavam dos ricos e distribuíam a pilhagem entre os pobres habitantes de Marseille. O tempo passa e os ideais se arrefecem. Encontramos eles todos mudados, física e moralmente.

Muriel possui uma pequena loja onde vive de vender sapatos e perfumes, François repara embarcações pequenas e René vive da exploração da prostituição e de máquinas de pôquer. Eles formaram na sua juventude um trio inseparável e movido pelos mesmos ideais. Não sabemos o que os afastou. Quando Muriel tem seu filho raptado apela aos antigos companheiros, já que além de não possuir a quantia solicitada, necessita também de apoio.

Ao enfrentarem esse inimigo que se esconde nas sombras, surge paulatinamente a superfície as limitações da idade que avança inexoravelmente, os rancores guardados e os erros cometidos.

O que mais me surpreendeu no filme foi a maneira mais próxima da realidade com que a violência é tratada. Os tiros surgem, mas não exagerados como nos filmes policiais americanos. Os momentos de violência não são gratuitos. Tem uma razão de ser.

François é um homem que possui uma esposa que o ama e duas filhas. Apesar de viver numa aparente tranqüilidade, está inconformado. Receia a velhice, deseja retomar os tempos de outrora. Crê-se ainda desejado por Muriel. É o personagem mais cativante do filme, e também aquele que mais desperta piedade – Um velho adolescente que mergulha novamente nos prazeres da violência, esperando encontrar assim a juventude que se foi. René é o seu oposto. Tudo o descreve como o ser mais frio e distante. É alguém que se acomodou a vida, perdendo aquele desejo de transformar a realidade em algo melhor. Arrumou um cantinho e nele permaneceu usufruindo de uma realidade que outrora possivelmente o enojava (entre outras coisas é um cafetão de uma jovem mulher). Quanto a Muriel, ela em si não é digna de pena. Começa a compreender que está colhendo os frutos que plantou. Seu personagem é o de alguém que morreu antes de parar de viver (quem a colocou nessa situação, sente prazer com isso e deseja que ela continue agonizando. Eis o motivo pelo qual o socorro médico é chamado).

Em suma: A França nos traz um filme que possui o arcabouço do “noir”, mas que passeia pelo existencialismo de um Bergman. Sem a substância do primeiro, nem a profundidade do segundo. Não é um filme decepcionante no seu todo. Só que não cumpre tudo o que prometera.

Críticas

Procedimento Operacional Padrão

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Se você é cineasta e almeja um cobiçado prêmio cinematográfico importante e internacional, eis o roteiro, o "briefing" a ser seguido para a sua brincadeira se transmutar numa panacéia: pegue um punhado de gente oprimida, de preferência pelos EUA, mostre os opressores como o Diabo encarnado, e não importa que sejam minoria dentro de um contingente enorme de pessoas decentes e, finalmente, adicione muita truculência contra essa turba “inocente” excluída por suas convicções.

Pronto! Está a caminho o próximo Oscar, Cannes, Globo de Ouro ou...Grande Prêmio do Juri de Berlim. Prêmio que esta obra recebeu por supostamente mostrar de forma imparcial as atrocidades praticadas pelos soldados americanos durante a Guerra do Iraque. E estas atrocidades realmente ocorreram? Não resta dúvida. Porém, enquanto pouco caso foi feito das inúmeras vítimas dos iraquianos xiitas raivosos bombardeando e esquartejando jornalistas e militares, os pobres terroristas são mostrados como símbolo humanitário da "resistência pacífica". Quando matam as pencas, é "por defesa", quando os Americanos o fazem com apenas um deles, são monstros fascistas, sanguinários e reacionários comandados por um presidente não menos desalmado.

Aí reside o problema da obra de Errol Morris, cineasta por detrás da pérola. Ele reveste um documentário de imparcialidade, no entanto trata-se apenas de mais uma obra politicamente correta no melhor estilo "luta de classes hollywoodiana". Porém sobra um mérito, Enquanto o documentário não recebe uma narração firme e intromissão constante, como Michael Moore sempre fez nos seus manipulados trabalhos, tenta ser imparcial por permitir que os soldados narrem seus dramas de modo que o espectador seja transportado a verdade mais nua e crua impossível. É como se Morris dissesse: "Taí, eu não inventei nada, foram eles que disseram!". O que não deixa de ser de um cinismo delirante também, visto que recursos de edição podem arrancar quaisquer verdades de um contexto, mesmo as mais sórdidas. Mais chocante ainda é a forma como essas verdades sofrejam melodias suaves nos ouvidos de quem somente quer um pretexto pra mandar pedras nos EUA. Prova de que quando o cineasta finge não tomar partido da coisa, ela só tende a ficar mais abjeta na ânsia de enganar e trapacear.

Então o documentário é mentiroso? Não! de forma alguma. Essas torturas ocorreram e foram ultrajantes, porém quando comparamos as gulags russas, as grandes fomes ucranianas, os genocídios chineses de Mao Tsé-Tung, as atrocidades cometidas por Pol Pot, aos assassinatos de Cristãos no Oriente Médio e Extremo Oriente e, por fim, ao banho de sangue revolucionário propagado pelo ídolo das esquerdas histéricas, Che Guevara, a impressão que se tem é que a balança dos esquerdistas e comunistas é bastante desigual. Para eles, a direita matou e esquartejou, enquanto os mesmos são heróis libertadores do mundo moderno. Praticamente não existem documentários mostrando os atos genocidas dos maiores criminosos do planeta, (uma dica é o vergonhosamente desconhecido The Soviet Story de Edvins Snore ), todos pertencentes a esquerda, enquanto "monstros" de direita ganham forma todos os dias.

Mas porque isso acontece? Por que somos levados a achar que Guatánamo é um paraíso de monges oprimidos e não de terroristas assassinos? Por que

cremos que Abu Ghraib é uma desgraça, o maior crime cometido contra a humanidade desde o Holocausto? Por um motivo bem simples: Os EUA são o vilão da hora, e não importa que seja o país onde minorias formadas por árabes, judeus, negros, gays e latinos vivam melhor no Mundo, onde os presídios parecem hotéis, principalmente quando comparados aos nossos. A mídia, Hollywood e nossos professores de ciências humanas disseram que a América é ruim, então deve ser! E estes são os mesmos, que embora jurem não pertencer a nenhuma organização comunista, ocultaram e ocultam todas as atrocidades dos mesmos. Quando ,não raramente, fazem uma ode aos santarrões, em aberrações mentirosas como Diários de Motocicleta e Che, que são criticados pela esquerda por não serem suficientemente condescendentes.

A única pergunta que nos resta é: O que será do mundo quando a ONU e sua nova marionete, Barack Obama, estrangularem a América nesse processo de "diálogo" e "mudança"? Eu particularmente não sei, mas em breve teremos a delicada China, poluindo o mundo, e terroristas ditando as regras do admirável mundo novo.

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