A chegada do século XXI parece ter despertado nos produtores americanos uma espécie de levantamento da herança deixada pelo mesmo. Assim passou-se a trazer para as grandes telas os seriados que embalaram as gerações antigas as catadupas. Para citar alguns: A Feiticeira de Nora Ephron - 2005( baseada em série produzida entre 1964 e 1972), As Loucas Aventuras de James West de Barry Sonnenfeld - 1999 (baseado em série produzida entre 1965 e 1969) e Starsky & Hutch - Justiça em Dobro de Todd Phillips – 2004 (baseado em série de tv de 1975 a 1979). Todas as citadas naufragaram em sua tentativa de resgatar o espírito daqueles tempos, sendo que as duas primeiras citadas foram verdadeiras bombas – Starsky e Hutch não deixa de ser também uma bomba, só que de proporção menor.
Assisti “Meu Marciano Favorito” meio ressabiado. Afinal as citações acima bastam por si só para explicar tamanho receio. Não posso dizer que sai completamente satisfeito com o que eu vi, mas não é possível classificar o filme como uma “bomba”. A série no qual foi inspirado, da qual pude assistir uns três episódios era simpática. O filme em si acerta ao procurar manter a linguagem ingênua. A questão que talvez venha decepcionar o público que conhecia a série é o recheio de efeitos especiais, possíveis devido à tecnologia atual, e também por se tratar de um produto destinado as grandes telas (ou seja aquilo que era apenas sugerido com trucagens simples, que instigava a imaginação de quem assistia é desnudado). Os poderes incomuns que o tio Martin possuía na antiga série (ele era telepata, possuía duas antenas retráteis, podia ficar invisível e movia objetos com o dedo) é acrescido de outros: uma roupa com consciência própria, pílulas que transformam sua aparência a semelhança de outros extraterrestres.
De toda forma o filme possuí seus bons momentos. A cena inicial é um primor. Uma sonda espacial trava diante de um montículo em Marte; a NASA festeja o sucesso alcançado por tal feito – atrás do montículo existia uma enorme cidade futurista, a qual eles ficam privados de conhecer e acreditam assim ser Marte desabitado. A questão levantada é profunda. É uma alegoria que nos faz pensar: Estaríamos dotados da capacidade de entrar em contato com outros seres. Não falo aqui da questão intelectual ou de progresso tecnológico. Seríamos dotados da capacidade de auferir através de nossos sentidos seres que talvez se utilizem de outros que não conhecemos. Ainda que essa não seja a proposta do filme, a cena inicial possibilita tal questionamento, ou pelo menos critica nossa pequenez diante do Universo.
Outros bons momentos são aqueles em que o traje de Martin interage com os habitantes da Terra. Ao dotá-lo da capacidade de pensar por si só, e ao dar-lhe uma personalidade próxima da de uma criança, a ingenuidade da antiga série é ressuscitada.
Os atores dão conta do que lhe foi confiado: Christopher Lloyd cria um Tio Martin que convence e remete na sua aparência aquele vivido por Ray Watson (o anterior era contudo mais comedido – Talvez a necessidade de dar conta de uma série em pouco menos de duas horas cause uma aceleração do todo). Jeff Daniels se presta a ser um mero coadjuvante, tal qual fora Bill Bixby na série original. Daryl Hannah e Wallace Shawn nada acrescentam ao filme com os personagens que não existiam na série original. Christine Ebersole vive a Sra Brown, mas o personagem não possui a dimensão que desempenhava na antiga série.
O resultado final diverte, mas fica aquém do original que o inspirou. Serve como uma pálida homenagem, despertando assim a curiosidade para que se conheça a série antiga