Lupas (799)

Uma aula sobre como abordar um tema social delicado e fundamental. O trabalho de câmera classudo de Legrand eleva ainda mais um material já poderoso, com personagens densos e discussões profundas e que escapam totalmente de simplificações.

Mantém o mesmo clima do longa anterior do diretor, que agora se aprofunda sobre términos, destemperos e desilusões nos relacionamentos, além de voltar ao tema da infidelidade. A curta duração faz bem ao filme. Simpático.

O tema não é novo e o início do filme leva a crer que será mais do mesmo - o que não ocorre. Um belo retrato sobre uma personagem e de um turbilhão emocional congelados nas tradições e numa cultura que não recepcionam seus sentimentos.

Nicchiarelli extrai tudo o que pode da excelente performance de Trine Dyrholm, apontando todos os olhares e atenções para a carga emocional poderosa da personagem. Uma cinebiografia exemplar, que dialoga com temas corriqueiros dos fantasmas da fama.

É de uma sabedoria ímpar em estrutura narrativa. Uma intrincada dobradura, pacientemente e aos poucos desvendada pelo espectador, em meio a um uso cirúrgico de flashbacks, diferentes perspectivas e diálogos profundos e abalizadamente filosóficos.

Sim, é a reciclagem de ideias de muitos outros trabalhos, principalmente Feitiço do Tempo e Pânico, mas uma reciclagem bem feita, nivelada em sua veia cômica que não deixa o ritmo cair em momento algum. Jessica Rothe aproveita todas as oportunidades aqui.

É divertido embarcar nessa jornada colorida de Godard pela quebra dos paradigmas do cinema convencional, com comentários ácidos ao esquematismo de Hollywood, representações simbólicas da ideia de liberdade e momentos de efervescência política. Filmaço.

O ambiente fechado, sujo e aterrorizante; a câmera passeando por aqueles corredores estreitos e pela angústia de homens fadados a um destino desconcertante. Um belíssimo exemplar de cinema sensorial, ainda que um tanto longo.

Sim, é longo, mas é delicioso acompanhar a jornada contada por Leone, que funciona tanto como "filme de máfia" quanto como algo muito mais profundo e reflexivo sobre relações humanas e a sistemática estadunidense. E que trilha sonora de Morricone...

O caso de Kubrick é tão peculiar que um filme seu, dito irregular, é ótimo, em vez de excelente. A primeira parte e o ato final são geniais por motivos diversos e que se complementam - trilha impecável, trabalho de câmera memorável e uma mensagem forte.

Talvez seja demais pedir para um suspense do início dos anos 2000 não ter um plot twist, mas aqui esse recurso chamativo era totalmente dispensável. A trama já tinha força suficiente por si só. Ou pelo menos poderiam ter feito só um...

São doses cavalares de narração e white people problems, o que torna difícil a relação com o filme e demonstra falta de inventividade narrativa e é uma pena, pois a segura atuação de Stiller e o argumento poderiam resultar em algo menos sessão de terapia.