O acaso é mais frequente do que imaginamos, ou ele pode servir para mostrar a interveção de algo divino? Grosso modo, Magnólia parece brincar com as duas possíbilidades. Só um Diretor com imensa capacidade, como o é P. T. Anderson para alçar voô tão alto desses "dilemas" sob conflitos do cotidiano da sociedade moderna (ou pós-moderna, pra quem preferir). Magnólia reafirma aquilo que já é praxe: A virada para o séc. XXI foi o período mais frutíferos em bons filmes da história de Hollywood.
Começando no prólogo, que serve mais como exemplo do narrador do que viria, três narrativas de mortes que envolveram coincidências bizarras, pra lá de tragi-cômicas e que são uma espécie de lendas urbanas, parecem apontar para um sentido de que os acasos no filme parece querer provar um paradoxo: as coincidências apontam uma espécie de predestinação. Sugerindo que por trás dessas coincidências existisse uma "força maior", uma ordem reguladora.
Em seguida, somos levados através de várias histórias onde as situações de seus personagens estão sempre se cruzando. Frank T. J. Mackey (Tom Cruise) é uma espécie de apresentador de programa de orientação sexual para homens em busca de um domínio sobre a mulherada. Frank é filho de Earl Partridge (Jason Robards), um velho produtor de programas de TV, com câncer e à beira da morte, cuidado por seu enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman). Linda Partridge (Julianne Morre) é a esposa de Earl, ela havia se casado com o coroa apenas pelo dinheiro deste, mas ao vê-lo em seu leito de morte se arrepende do que fez, enchendo-se de culpa por ter traído várias vezes o produtor com outros homens, ela chega a propôr ao advogado que cancele de alguma forma a sua parte da herança. Jimmy Gator (Philip Baker Hall) é um velho apresentador do programa "O que as crianças sabem", onde adualtos competiriam contra crianças. Stanley Spector(Jeremy Blackman) é o menino gênio que está há semanas no programa, sem errar uma, e a duas semanas de bater o recorde estabelecido por Donnie Smith (William H. Macy), que tornou-se um frustado ao crescer. Há ainda também a figura do polícial Jim Curring (John C. Reilly) que ao fazer uma vistoria a mando de vizinhos na casa de Claudia Melora Walters), filha de Jimmy Gator. Isso, o roteiro de Anderson vai trabalhando cada personalidade com extrema perspicácia, através de arrojadíssimos recursos de Montagem, Filmagem, incluondo sempre no decorrer do processo a fantástica Trilha Sonora, que é colocada ao mesmo tempo em que os personagens dialogam, detalhes que não deixam as mais de 3 horas de filme cansativos, recursos que entram em cena no momento necessário. Dizem que para escrever o Roteiro de Magnolia Anderson inspirou-se nas músicas de Aimee Mann, uma cantora amiga sua, para contar esse instigante dia de nove pessoas de Los Angeles.
Um filme cheio de tramas e personagens tão complexos exigiria muito do Diretor, algo que Anderson soube dominar com maestria, sem decepcionar ao conjunto de fãs do Diretor que já tinha demonstrado seu diferencial em 97 com Boogie Nights - Prazer sem Limites. Anderson além dos belos movimentos de câmera e dos abundantes closeups, utiliza muito das longas e complexas tomadas. Destaque-se uam semelhante as de Pulp Fiction, onde ele mantém sua câmera fixa no interior da cozinha de Claudia enquanto esta conversa com o policial Jim na sala, ou na hora em que o diretor acompanha vários personagens enquanto estes caminham pelos corredores da emissora de televisão - um brilhante uso de steadycam.
Dito isso, outro aspecto que eleva o nível de força de Magnolia são as interpretações. Todos estão impecáveis, o que prova que Anderson conseguiu explorar ao máximo a habilidade de seus atores. Diante de tão boas interpretações, o destaque fica mesmo por conta de Tom Cruise, que reafirma seu talento como ator, tanto na situação onde ele aparece como o apresentador machista arrogante, ou quando o vemos como o filho que pensava odiar seu pai. Hoffman faz um papel raso, mas está seguro, Julianne Moore, também está bem, mostrando todo o desespero que estava passando a sua personagem (houve até alguns que disseram que ela está chorando demais), os outros atores cumprem como já dito, com seguranças seus papéis.
Técnicamente a todo um estilo bem arrojado, tanto que esse estilo de Ediçao de cenas vem até ganhando a simpatias de algumas produções mais recentes, como prova o oscarizável Crash - No Limite e Babel.
Nesse sentido, a Trilha Sonora está belíssima, a música Save Me, Escrita e interpretada por Aimee Mann, a mencionada amiga de Anderson, concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original.
Todos esses elementos já são componentes de um bom filme, todavia, o que eleva Magnolia ao patamar de Obra-Prima é a poéticidade presente nos últimos 30 minutos, me abstenho de entrar em maiores detalhes, mas cabe adiantar que nas entrelinhas desse filme de Anderson, o diretor mostra o quão gênio é, a cena dos sapos faz um paralelo com passagens do Antigo Testamento, passagens essas, que ajudam demais a explicitar grande parte das angústias dos personagens, é uma espécie de ritual, onde o autor sugere, provoca quem assiste e, ainda mais, Magnolia é um desses filmes em que temos de assistir mais de uma vez para reforçarmos ou entendermos seus significados, veremos que o Diretor foi deixando pistas que contêm toda uma relação com a cena final. Algo incrível, coisa de gênio.