Lupas (497)

Um filme sem roteiro baseado unicamente em participações especiais. Os únicos méritos aqui são Dafoe e Molina, ou seja, os méritos reais são de Sam Raimi. Pra quem reclamava do Homem Aranha emo dançando... Pelo menos era uma cena cômica por alguém que entendia de tom de cena. Watts não entende nem isso.

Um dos filmes mais divertidos de 2020 por conta da autoconsciência do que representa e quer alcançar. Que bom que alguma mente criativa de Hollywood ainda respira Demy, Minnelli e Powell/Pressburger. Misé-en-scene acima de tudo!

Drama de câmara de grupo chegando a consenso, feito um 12 homens e uma Sentença moderno. Falta sutileza na execução; mesmo narrativas gráficas sobre o assunto como The Handmaid's Tale são menos duras e artificiais e, apesar de se vender como ato de imaginação a partir do intertítulo, nunca é abstrato o suficiente. A sensação é de estar em um recital: cada linha aspira ser uma frase de efeito grandiloquente. Mesmo com boa montagem e atuações, a sensação é que a mensagem sobrepuja o filme.

É uma sensação curiosa assistir à versão de Elvis de Luhrmann tendo assistido a de Carpenter lançado dois anos após a morte do Rei do Rock. A abordagem de Carpenter foi psicológica, onde Elvis luta para ser o arquétipo do ídolo vivendo à sombra de seu gêmeo morto. Esse Elvis também é atormentado, mas pelos olhos do Coronel Tom Parker, é uma tragédia extravagante de uma alma pura condenada a enriquecer um demônio charmoso. Nunca é chato, mas o diretor é mágico de um truque só.

McDonagh se elevar acima de seu estigma (para mim) de "sub-Coen irlandês": apesar de compartilhar traços semelhantes ao apresentar o estranho universo das pessoas comuns, pelo menos sua alegoria dessa vez é mais madura, natural e menos expositiva. McDonagh aspira desde Na Mira do Chefe ser um artista do ennui, o violento desespero vindo do tédio, e esse é um de seus ápices dessa sua proposta. Alguns pontos ainda incomodam, contrastando a estranheza seca do início com o sentimentalismo do final.

Novo carnaval de excessos de Aronofsky, um de seus mais fracos, soando sem imaginação e amador. Elementos redundantes como sons grosseiros de mastigação, citações de livros clássicos e a escrita "sádica" da personagem de Sadie Sink pintam um quadro óbvio do cordeiro sacrificial redimindo demônios alheios. Sua falta de autoconsciência faz com que sua pretensa estética "impactante" não seja muito além de sensacionalismo simplista. Um milagre Fraser estar bem com um material tão ruim.

Como ficou claro em Um Cadáver Para Sobreviver e no clipe Turn Down for What, os Daniels são diretores em vibração inequívoca com os novos tempos: o filme é ansioso, intertextual, cinéfilo, frenético, grosseiro e nonsense, com Yeoh em estado de graça. Infelizmente, também é um passo maior que a perna: o terço final enfraquece, sério demais quando até então primava pelo deboche. O Scott Pilgrim que deu certo pra Academia deu errado pra mim; faltou o cinismo sem concessões de Edgar Wright.

Batman em busca de Bruce Wayne no mais psicanalítico e nuançado dos filmes do herói, longe da estetização abstrata das sombras interiores de Burton e as pretensões paladínicas que debatem ética pela cinética de Nolan. Tem influências claras, mas é feliz com voz própria ao falar de identidades quebradas usando máscara como fetiche/canal para debater os antagonismos identificados oprimidos pela selva urbana capitalista - nesse sentido, é mais Dragão Vermelho que Seven.

Interessante saber como a Prevent Senior foi criada.

Após um primeiro terço recheado de imagens singelas e quase delirantes, Klimov desmantela tudo na descida ao inferno sem concessões que fez a fama do filme. Evita-se o didatismo, mas o ponto é bastante direto: a encenação realista, a trilha monocórdica e a mixagem sonora dissonante e os muitos olhares vazios em direção à câmera tornam essa, senão a definitiva, uma das mais humanas e aterradoras impressões da guerra.

“I don't want to talk to you no more, you empty headed animal food trough wiper. I fart in your general direction! Your mother was a hamster and your father smelt of elderberries!"

Não é grandes coisas, mas a versão do diretor devolve certa dignidade ao filme. A história é um primo pobre de Alien com algumas obsessões temáticas particulares de del Toro, ainda que claramente "estrangulado" demais pelas pressões dos produtores. O grande trunfo do filme é na condução, o uso de cores, luzes e sombras, os movimentos de câmera, as associações criadas entre cortes, a preparação para o suspense e o olho clínico o do diretor para a violência e a repulsa.