Lupas (1003)

O tema é oportuno (ainda que seja óbvio o nexo entre a violência do esporte e os danos aos jogadores), mas o maniqueísmo do roteiro, os falsos momentos de suspense, a direção quadrada, e o tom geral de ufanismo, fazem o filme sucumbir quase por completo.

Custa um pouco a começar, o que faz o filme se arrastar na 1a metade. Mas o nível de porralouquice continua em alta, e no meio daquela metralhadora giratória de piadas, ainda há espaço pra se falar sobre diversidade e preconceito. Zoeira das boas.

Ron Howard se vira nos 30, mas o roteiro encavala missões espaciais em sequência, com personagens mal desenvolvidos, que não aproveita a mitologia da série (o encontro de Han e Chewbacca é morno), e nem se liga à cronologia da saga. "Star Wars" genérico.

Só uma grande amizade com Lorenz explica a opção de Eastwood - num mal dia como ator - aceitar um projeto tão insosso como esse. Pra piorar, a relação pai/filha e a doença do protagonista são manjadas e mal exploradas. Adams e Timberlake se viram nos 30.

Um mar de clichês: o herói com um passado misterioso, os vilões malvadões, a menina desprotegida, e um jeito estiloso de filmar a violência. Se "Um Dia de Treinamento" era clichê, ao menos tinha energia. "O Protetor" é natimorto. Denzel está acima disso.

Julia Roberts, sem fazer muito esforço, coloca o filme no bolso, e a autoironia até que funciona de vez em quando, mas a falta de química do casal central e a perda de fôlego no terço final, prejudicam o resultado. Bonitinho, mas ordinário.

A melhora na 2a metade, quando os macacos tomam conta da bagaça, não esconde os vários problemas da 1a: narrativa apressada, personagens incoerentes, sem motivação e função (a namoradinha), e a falta de carisma e talento de James Franco. Desequilibrado.

Difícil dizer o que é pior: a direção preguiçosa, o desperdício do elenco (Damon perdido e Wigg sem função), a falta de graça da 1a metade, ou a bizarra mensagem ambientalista da 2a. Payne, em seu pior filme de longe, atirou em Kaufman e acertou em Crowe.

Espécie de primo pobre de "A Chegada" e "Alien", mas sem a profundidade do primeiro e a tensão do segundo, "Aniquilação" funciona mais nos momentos reflexivos e menos nos clichês do gênero. Garland, sim, pensa grande, mas como cineasta ainda está devendo.

Mesmo sem aprofundar os temas do feminismo e homossexualidade, Dayton/Faris se saem bem na troca do mundo indie por um filme de maior ambição e escala: belos enquadramentos, captura do zeitgeist dos anos 70, e elenco inspirado. Melhor do que eu esperava.

Allen alia a espetacular luz de Storaro, uma trama densa (inspirada em Eugene O´Neill), uma Kate Winslet inspirada, e, sobretudo, uma mis-en-scene menos preguiçosa, e faz seu melhor filme em anos (o que, a rigor, nem quer dizer muita coisa). Digno.

Por trás do debate sobre o uso de armas nos EUA, há um thriller político meio rasteiro, mas que ganha pontos pelos diálogos rápidos (ao estilo Sorkin), um trama atraente (o twist final me pegou em cheio), e uma Jessica Chastain dominatrix. Acima da média.