Lupas (103)

O roteiro ascendente e, muitas vezes hiperbólico, somado ao pessimismo de Billy Wilder, metaforizam perfeitamente a necessidade humana de espetáculo - somente o show nos importa.

Mesmo com o extremo carisma dos Goonies, perde-se muito com a chegada de um terceiro ato convencional e tão preso aos lugares comuns, diminuindo toda a fantasia inicial.

Em uma ótima referência ao mito da caverna de Platão, John Carpenter consegue deixar as pessoas confusas e não entenderem seu propósito. Somos divididos, como no filme, entre aqueles que querem enxergar e aqueles que não querem deixar de ser alienados.

É verdade que há mais do que a luta de um jovem baterista em busca de prestígio. Mas, ainda que presentes críticas como à solidão, ao perfeccionismo e à arte subestimada, Whiplash nunca abdica da pieguice para tratar de temas tão complexos.

Catástrofe completa, onde nada está isento de problemas, com um roteiro absurdo, atuações desastrosas e direção de péssimo gosto. Não é pior porque infelizmente existem outros, mas, com certeza, chega bem perto.

Tim Burton esbarra no mesmo pecado de muitos daqueles que adotam a storytelling narrativa: ainda que peculiar, carismático e muito belo, Peixe Grande nunca deixa a superfície. Paradoxalmente, proporciona-nos uma perfeita metáfora final de encher os olhos.

Resultado de superioridade que se encontra em cada detalhe - na onipresença da trilha sonora, no roteiro brilhante, nas autações e diálogos memoráveis, na icônica e inesquecível cinematografia. Para ser assistido e aplaudido de pé até os créditos finais.

Os clichês de sempre estão aqui maquiados de azul e disfarçados pela quantidade absurda de CG.

Basear-se em várias histórias paralelas que se interligam passando a fazer sentido é uma saída pobre, forcada, apelativa e fácil demais para tentar dar significado a um roteiro vazio.

Eis aqui, enfim, o fracasso de Darren Aronofsky. Ainda sim, consegue superar algumas limitações e apresentar uma obra acima da média para o gênero, dentro das contradições bíblicas, é claro.

É assustadora a sua atual relevância quase um século depois. A política não clama apenas por ideais, mas por coragem para nos libertar daqueles que tentam, e muitas vezes conseguem, deturpá-la.

A sutileza ao tratar de um tema tão delicado talvez seja o seu maior atributo. Por outro lado, a superficialidade torna-o completamente inócuo - não chega a convencer em momento algum.