um mergulho lento e angustiante nas privações, nas ausências brutais criadas pela ditadura, qualquer ditadura, cujos fantasmas nunca deixam de nos espreitar. Fernanda Torres emociona sem soltar uma lágrima sequer. indicações e premiações são mais que merecidas

não sei se a revelação final existe na graphic novel, mas, como em toda reviravolta sem vergonha alla deus ex machina, ela faz a trama parecer um grande embuste. em muitos momentos, o filme parece nada mais que uma passarela para Charlize Theron, que tenta tão desesperadamente ter um ar de femme fatale que beira à canastrice. ainda assim tem estilo, com a trilha sonora como maior destaque

muita coisa surge na pressa, mas a trama é bem trabalhada por Villeneuve, mestre em traduzir materiais originais complexos na grande tela (“O Homem Duplicado” e “A Chegada” são ótimos exemplos). suas quase três horas se justificam e ampliam os horizontes do universo ao mesmo tempo que dão espaço para os conflitos das personagens florescerem

o sangue é guache, sim. e se esparrama aos montes nas cenas, várias que não fazem sentido (quem diabos é o assassino da primeira estudante?). o jogo de luzes despudorado se contrastando enquanto falas cafonas e atuações canhestras se intercalam. e, pasmem, é dessa tosquice que emerge sua beleza, significância e, sobretudo, seu legado