7+ | A anarquia natalina do cinema
Um breve comentário antes dos filmes.
Jack Frost (jack Frost, 1997). Fonte: Alternate Ending, 2014
O que é tradicional? Acerca do que nos acomete ao fim de ano quando ficamos nos tremendo esperando a ceia de natal, eu cito o historiador Eric Hobsbawm em seu material a Invenção das Tradições, para servir de entrada de como nutrimos filmes que avacalham o natal e como assim são anárquicos, onde subvertem o tradicional humano. E por camadas de sensibilidade coloridas e difusas tratam o Natal com alegria e comunhão, enquanto as obras malditas estupram esses ritos tão sacralizados do seio familiar. Para Hobsbawm o homem passa pelo caráter de invenção de tradições e como tal, isto é sacramentado pelo tempo, por repetições e idiossincrasias próprias de cada povo que se conurbam dialeticamente em questões macrossociais que são açambarcadas pelas mais variadas sociedades. Hobsbawm explicita:
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com um passado histórico apropriado. HOBSBAWM. P. 9 (2012) [[1]].
Há um simbolismo latente a mais no Natal ocidental por ser uma apropriação cristã famosa por demais, por ter em si a comemoração do nascimento do seu salvador e a isto se soma a força tácita dos ritos envolvidos que trazem a reboque tanto o abraço dos seios estatais, familiares e privados outros nessa cizânia assim, como seu montante dentro das forças do capital. São elementos que se abraçam nesta famosa confraternização que, como o próprio autor aponta, existe nela o fato das canções natalinas sendo entre as primeiras a serem transformadas e incorporadas nas igrejas, assim ganhando apoio popular através de cantores de várias estirpes. O Natal tem uma carga simbólica feroz por demais, e como tal passa por diversas transformações e resistências dentro de si que se entrelaçam poderosamente numa manutenção viva de uma crença popularizada altamente carregada. E em eternas repetições. Obviamente, um evento desta envergadura causa os mais variados êxtases e conflitos, que desde o abraçar familiar do primeiro quanto a exclusão econômica do segundo se fazem viver a plenos pulmões para aqueles que do evento se regozijam ou daqueles outros que não querem nada mais do que mais um motivo pra encher a cara somente. Diante dessa fama, a molecagem anárquica de se inventar um cidadão vestido de papai Noel para aterrorizar uma galera, ou subverter um rito através de uma nova versão, se fazem presentes no cinema. É uma nova abordagem de aproveitamento destes ritos. Usando-os e acanalhando-os sempre que possível.
Eis que o velhinho se lasca. Segundo Claude Levi Strauss (STRAUSS, 2013) [[2]], “Dijon aguarda a ressurreição do Papai Noel assassinado ontem no átrio da catedral. Ele ressuscitará hoje às 18 horas, na prefeitura.” E assado na frente da criançada por uma turma revoltada que queria rejeitar o bom velhinho usando o nome Cristo pra isso. Com apoio da Igreja. O autor afirma em seu artigo sobre o Natal de 1951, onde estes cidadãos da cidade de Dijon, França, se revoltaram com a constante presença do Papai Noel frente ao maior descaso com os presépios tradicionais em escolas. Um dos muitos motivos desse acontecimento (existem vários outros que apontam origens de assimilação de costumes, mesmo com a França já tendo um certo crescimento cultural nessa direção) seria decorrente da presença dos EUA mais pesadamente na cultura francesa no pós-guerra, em decorrência das políticas estadunidenses de reconstrução europeia via Plano Marshall. Como teria assim afirmado o Levi Strauss:
há muitos americanos na França, os quais comemoram o Natal à sua maneira; o cinema, os digests, os romances e também algumas reportagens da grande imprensa tornaram conhecidos os costumes americanos, e estes gozam do prestígio atribuído à potência militar e econômica dos EUA. STRAUSS (2013)
1951, Dijon, França, 250 crianças queimam um manequim do Papai Noel na catedral St. Sainte-Bénigne; Foto Original Le Parisien. Fonte: Ensinar História, 2015.
E aqui o preço é bem cobrado no sequestro cultural. A resistência acaba por se vingar torrando em fogo cristão o Papai Noel. Este troço já se configura numa amostragem do que o natal representa além de falsas alegrias, cores em profusão, enchimento de saco familiar (a bebedeira do natal, por outro lado – reiterando –, é joia), frescuras e rezas avulsas de uma turma que quer expiação após passar o ano melando a vara. O natal, como toda comemoração metida a tradicional, parte de um pressuposto simbólico divulgado e proeminentemente enfiado à fórceps nas sociedades sob a égide das mais variadas esferas. Ou seja, o natal é simbolicamente violento, e como tal, merece ser dignamente esculhambado. Na frente da criançada e tudo (apesar de que a motivação da turma de Dijon era por proteção cristã ainda mais tradicional).
Ritos são processos de obediência e ordenança, a serem seguidos mediante o que é imposto tradicionalmente e sub-repticiamente por repetição. Os compromissos da mistificação. A quebra disso? A intimidação do Papai Noel pode vir através da reversão. O Papai Noel vira Saturno Devorador de criancinhas. Vamos mexer nesse velho vermelho. Os ritos servem como estratégias para lidarmos com a nossa existência numa conjuntura humana, assim como uma forma de controle para lidarmos com o pós-morte. O que diabos vem depois? Porque existimos? Estas condicionantes buscavam ser respondidas através de deidades que eram trabalhadas através de ritos humanos ali criados. Religiões e o escambau. E no natal, as crianças são colocadas em posição de obediência para serem premiadas e caso não o façam, premiação não ganham, quiçá são até castigadas. O velho morde assopra – depois alopra – dos ritos. As questões de recebimento de boas coisas passam por esta relação vida e morte com a qual sempre tivemos problemas para lidar, e por isso recorremos a rituais difusos para que este aporte nos anestesie. Levi Strauss sobre isso explicita:
Sem dúvida, há uma grande distância entre a prece aos mortos e a prece repleta de conjurações que, todos os anos e cada vez mais, dirigimos às crianças – encarnação tradicional dos mortos – para que, acreditando no Papai Noel, elas consintam em nos ajudar a acreditar na vida. STRAUSS (2013)
Portanto faz um sentido cultural (sacana) que o cinema use a morte para implicar ao natal outra configuração, já que o mesmo lida com vida e morte. Ora é uma inquirição de sacanagem e aproveitamento. E o natal moderno não seria feito de tal maneira? A questão do sequestro narrativo das tradições é algo crasso de quaisquer sistemas político-econômicos para que estes possam impor suas regras. E foi pela cultura. E é aí que entra o cinema. O corno do bom velhinho que foi de símbolo natalino torto para muitos, e acabar-se-ia por ser um dos carros chefes de toda uma estrutura simbólica de venda de artefatos ligados ao fim de ano – que, como tal, proclama uma tradição de responsa, e assim deve ser obedecida. Portanto a figura marota paternalista do bondoso gordo velho vermelho filantropo é um símbolo de júbilo sorridente (com gastos a rodo) do fim de ano, e nada mais anárquico e agressivo do que pegar o figura e tornar o mesmo – e seus asseclas e peculiaridades natalinas ligadas a ele – um símbolo de violência e destroço, abrindo um leque para que culturas outras, com suas características natalinas próprias, se utilizem do estrago que pode ser feito com vísceras e sangue. Tradicional. Inventado. Repetido. Executado. Assado. Natalino.
E dentro da citada molecagem buscamos aqui, com a participação dalguns comparsas, estabelecer uma listinha de filmes miseráveis que tratam de sacanear o natal e aproveitando-se dele para se vender através de morticínio e bizarrices. Assim como é acreditar que um velho gordo barbudo vai vir trazer presentes pra uma garotada iniciada desde cedo a ser consumista desenfreada, mas este fim só ocorre mediante a quietude anual dos infantis for apresentada.
OS MALDITOS FILMES
Natal Diabólico (You Better Watch Out aka Christmas Evil aka Terror in Toyland, 1980). Fonte: IMDB
NATAL DIABÓLICO (You Better Watch Out aka Christmas Evil aka Terror in Toyland, 1980) de Lewis Jackson
Como boa ferramenta para expor (mesmo que nas entrelinhas) problemas e críticas sociais, por que o cinema haveria de deixar quieta uma data tão especial quanto essa? Nosso (anti) herói Harry presencia em sua infância uma cena perturbadora para uma criança na noite de Natal. Anos mais tarde, ironicamente, ele trabalha numa linha de produção de brinquedos. Ás vésperas da celebração, conhecemos melhor o adulto e alguns de seus transtornos, que decide não só ser o Papai Noel de que a cidade precisa, como também uma espécie de justiceiro: sejam bons meninos e meninas para que possam ser beneficiados; mas se forem maus podem sofrer as consequências. O problema da sociedade são os adultos, ao não acreditarem ou não levarem a sério o espírito natalino. Benditas são as crianças, pois estas podem aprender o valor da obediência, do respeito. Mas se os pais não permitirem que o espírito de Santa Claus sirva para orientá-las, talvez mereçam ser punidos não é mesmo? Harry sofre zombarias e desprezo dos outros adultos. Somente os pequenos o compreendem. Não será somente uma típica noite de Natal...
Krampus: O Terror do Natal (Krampus, 2015) Fonte: Fangoria, 2019
KRAMPUS: O TERROR DO NATAL (Krampus, 2015). De Michael Dougherty
Da euforia consumista em câmera lenta pornográfica que culmina numa briga pré-adolescente até a exibição de um trecho de Um Conto de Natal na TV da cozinha, o filme mostra desde o início a sua referência ao conto de Charles Dickens dos fantasmas que aparecem para atormentar um velho avarento que perdeu o espírito do natal. Mas a entidade desse filme, o Krampus (criatura da mitologia europeia pré-cristã), não aparece para ensinar, ele aparece para punir. Apenas para isso e esse é o prazer da deformada criatura. O filme troca a lição de respeito ao “espírito natalino” pelo puro sadismo do personagem título. Não há o que aprender, apenas uma criatura monstruosa (a “sombra do Santo Nicolau”) que usa da perda de fé no Natal de crianças para se divertir invadindo suas casas e destruindo suas famílias.
Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night - 1984). Fonte: Coolidge Corner
NATAL SANGRENTO (Silent Night, Deadly Night - 1984). De Charles E. Sellier Jr.
Já sentimos a proposta do filme desde a abertura, onde uma explosão de sangue em formato de cartoon toma conta da tela e depois dá lugar a uma trilha sonora de gelar a espinha. Quase que de imediato ao término da abertura, somos colocados no carro com um casal pegando a estrada com seus filhos, um bebê de colo e seu outro filho de 8 anos chamado Billy, enquanto escutam e cantarolam canções natalinas a caminho de visitar um familiar muito debilitado de saúde. E tudo do filme já é entregue logo no início: testemunhamos um homem vestido de Papai Noel cometer um crime muito violento, logo em seguida corta para o parente adoentado tendo uma conversa reveladora com Billy, onde este lhe conta que o Papai Noel é uma figura a ser temida e não adorada como de costume. Mais tarde, na estrada, essa família se encontra com o homem vestido de Noel e são brutalmente assassinatos e tudo testemunhado pelo jovem de 8 anos que consegue escapar. Os anos passam e mostram um Billy atormentado e encarnando o Papai Noel no Natal dez anos depois, tendo como objetivo mostrar que a figura sempre glorificada é na verdade um degenerado e uma ameaça à todos durante as festividades de fim de ano. E o filme segue essa linha com o único objetivo de desnudar a inocência dessa época do ano onde, usa sua figura mais icônica para promover uma matança sórdida e avacalhar de vez com o espírito natalino, e que culmina em um clímax brutal e inesquecível mudando os natais na telona para sempre. Pulem o segundo filme que não faz jus ao primeiro e vão direto para o terceiro, do grande Monte Hellman – Corrida Sem Fim (Two-Lane Blacktop, 1971), que se diverte e explora todas as possibilidades abertas pelo primeiro filme da saga.
Francisco "Chico Flag" Bandeira
A loucura e a violência que se propagam durante o filme pela visão do pequeno Billy após ver seus pais assassinados pelo Papai Noel, deixou rastros perturbadores. É bem interessante como a cada Natal no Orfanato e educação severa e violenta que recebe da madre o afeta, voltando a tona toda visão do crime em flashbacks. Engana-se quem acha que o mau do Billy nasceu após as mortes. Antes de tudo seu avô no sanatório fala que é castigado quem é mau para o Papai Noel. A ambiguidade do seu caráter é revelada. Geneticamente a violência já estava nele desde o início. Eu gosto de ver como Charles E. Sellier Jr. constrói a relação criança/Papai Noel e como eles entendem que as boas crianças recebem presentes, enquanto as más recebem castigo, as afetando assim. Ainda mais quando quem castiga é o bom velhinho que é símbolo de bondade e realizações. Sexta feira 13, Halloween e agora Natal como datas comemorativas que ficaram marcadas no gênero Slasher, mas entre todos assassinos certamente o Papai Noel é o que menos esperavam ver. Silent Night, Deadly Night é um clássico slasher dos anos 80 que faz valer o título de clássico onde foi censurado após 6 dias de exibição e termina como começou, uma criança traumatizada por ver a morte de um parente e nascer a violência dentro dela que estará prestes a explodir.
All Through the House (All Through the House, 2015). Fonte: Halloween Love Blog, 2016
ALL THROUGH THE HOUSE (2015). De Todd Nunes
Deve ser o filme que o John Carpenter faria se o seu feriado favorito fosse o Natal e não o Halloween e se ele tivesse passado a por algum trauma no estágio fálico em sua infância.
A ideia de ver um Papai Noel macabro sair por aí com uma tesoura de jardim matando sub galãs sarados e modelos voluptuosas sedentos por uma chance de curtir o Natal com um pouco de sexo é interessante, mas Todd Nunes é tão óbvio nos simbolismos que vão do assassino correndo por aí com sua arma como uma extensão de sua virilha, até duas lésbicas sendo mortas pouco antes de usarem um consolo no plot twist, este, que poderia ser um charme a mais para o longa, fica bem óbvio (assim como também é bem óbvia a mensagem ao vermos por aí machões ostentando carros tunados ou armas, claro). Mas eu admito que me rendo àquela tomada em POV remetendo a cenas bem comuns na indústria pornográfica com o vilão segurando a tesoura na altura do rosto da vítima que está ajoelhada em frente a sua virilha. Mesmo um podrão gore pode ter suas críticas sociais finas!
Noite do Terror (Black Christmas, 1974). Fonte: FILMGRAB
NOITE DO TERROR (Black Christmas, 1974). De Bob Clark
Noite do Terror, dirigido por Bob Clark - conhecido por comédias juvenis, como: Uma História de Natal (A Christmas Story, 1983) e Bebês Geniais (Baby Geniuses, 1999) – é um clássico canadense de terror natalino, e, sem dúvidas, é um filme acessível, à maioria, pela sua narrativa objetiva; pois, assistimos esperando exatamente o que será entregue e, de fato, entrega. Na trama, às vésperas do natal, há uma fraternidade habitada por universitárias, uma se prepara para visitar a família e passar o feriado com eles, as restantes passarão na fraternidade. Porém, a paz das garotas chegará ao fim quando um assassino em série começa a atormentá-las.
O longa funciona essencialmente como um precursor do subgênero slasher. A grande maioria dos elementos que tanto gostamos nessa subcategoria aparecem nessa obra, como o curto período de tempo fílmico, onde o antagonista dizima grande parte do elenco feminino em um ambiente claustrofóbico, em um roteiro simples e sazonal. Inspirado em vários assassinatos ocorridos no Canadá durante o natal, a película foi massacrada pela crítica e teve uma péssima bilheteria, mas, assim como vários outros filmes dos anos 70 e 80, houve uma revisão sobre sua qualidade e, hoje, há até um status de cult.
A direção de Clark funciona muito bem neste estilo, é bem gostoso de se assistir, pois o diretor faz um feijão com arroz bem satisfatório e de fácil aceitação; tanto por conta do ritmo sempre muito bem acentuado quanto pela sua narrativa trivial, que muitas vezes beira o banal, mas sempre com uma exímia transparência. Albert J. Dunk, diretor de fotografia, e Carl Zittrer, compositor da trilha sonora, fazem também um excelente trabalho; Dunk, com sua câmera na mão em momentos aterrorizantes ou lentes subjetivas em momentos mais sóbrios e Zittrer com sua música muito alucinante, fazendo com que toda a atmosfera do filme fique tensa. O porém, entretanto, é a atuação. Todos os atores e atrizes caem na galhofa - tão comum dos anos 70 - e, de certa forma, não dá para levar muito a sério; entretanto, como cult, isso acaba se tornando um charme a parte.
Noite do Terror é, antes de tudo, um filme muito gostoso de se ver e vale muito a pena ser conferido por todos os cinéfilos que prezem por um bom filme de terror.
Jack Frost (Jack Frost, 1997). Fonte: Holiday Classics
JACK FROST (Jack Frost, 1997). De Michael Cooney
Não satisfeito em apresentar apenas seres humanos como vilões, o cinema foi ganhando ao longo do tempo um panteão extenso de criaturas monstruosas, espirituais, genéticas e espaciais que reivindicaram seu espaço no hall dos mais emblemáticos antagonistas da sétima arte, o que nos faria ainda presenciar o aparecimento de uma infinidade dos mais inusitados objetos inanimados do mal como carros, bonecos, tomates e até bonecos de neve. Este último é Jack Frost, um psicopata que após entrar em contato com um ácido e ter seu corpo derretido junto a neve, adquire poderes fantásticos que passam por uma força descomunal, se transformar em água e arremessar lanças de gelo. Com efeitos digno de produções B, nunca vemos o vilão em ação de corpo inteiro, embora seus movimentos inorgânicos em cima de um trilho garantirem a diversão. Mas o que faz essa produção ser um passatempo acima da mediocridade é a forma como não se leva a sério hora alguma, apresentando um par de personagens bizarros com atitudes nada convencionais como uma gangue chamada “os trenós negros”, e uma série de mortes inusitadas embaladas por uma trilha descontraída, digna de uma sessão em família. Pegando carona no deboche ininterrupto de vilões como Freddy Krueger e Chucky, Jack Frost também é um irônico e tagarela psicopata que merecia maior reconhecimento, com seu humor negro natalino sendo uma ótima pedida para uma sessão descompromissada.
Christmas Bloody Christmas (Christmas Bloody Christmas, 2022) Fonte: tumblr
CHRISTMAS BLOODY CHRISTMAS (Christmas Bloody Christmas, 2022). De Joe Begos
Aposta no esquema bagaceiro, misturando o já conhecido tom anárquico de filmes de terror usando o Natal como mote sarcástico e - quase inacreditavelmente - abraçado com O Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984) e Hardware – O Destruidor do Futuro (Hardware, 1990), este último é lembrado tanto pelas cores em profusão quanto pela câmera em movimento percorrendo ambientes fechados com seu robô assassino semi indestrutível. Aliás o abraço aos anos 80 aqui é crasso demais, desde o vício por locadoras de vídeo, lojas de discos e referências a outros filmes, em especial o material da saga Sexta-Feira 13 muito por conta de seu monstro Jason Voorhees – inclusive tem uma cena de estraçalhamento durante o ato sexual que lembra muito um destroçamento que o Jason causa no Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (Jason Goes to Hell: The Final Friday, 1993), no caso a cena da mulher partida ao meio enquanto faz sexo, neste filme substituída por um homem. Tem uma narrativa que me remete vagabundamente noutra figura controversa, que é o Rob Zombie, onde a fita aqui citada aproveita (e exacerba) do uso de palavrões diversos para manter o nível de comunicação como se assim fosse o padrão social – que o Zombie faz na maioria de seus filmes. Além das bizarras relações entre os personagens desde o sexo soft porn abrupto ou pelo discurso pop adolescente rebocando referências dos anos 80 a todo momento. Estica a baladeira em planos longos com diálogos do besteirol, na velha ideia de manter os personagens minimamente interessantes, mas que na verdade o intuito é fazer o filme completar a metragem de um longa. Uma verossimilhança própria desse tipo de fita.
Diverte pelo seu próprio despropósito conjuntural e por sua violência. Efeitos práticos e bonecos artesanais vagabundos completam o pacote aliados aos mais variados clichês do cinema slasher. Com divertido uso de cores com muito néon e trilha sonora rock. Uma beleza.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (org). A Invenção das Tradições. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
[2] O suplício do Papai Noel. Educação Pública, 2013. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/13/48/o-supliacutecio-do-papai-noel
7+ podia voltar a ser mais frequente.
Estou preparando 2 para estas próximas semanas. Bora pra cima.
Genial, Ted.