Marinheiro de primeira viajem, o estreante Joel Edgerton faz de o Presente uma opção agradável no meio de tantos filmes enlatados do gênero suspense. Apesar de todos os cacoetes de sua obra, o todo compensa pelo fato de não alcar vôos maiores.
Começamos com uma história intrigante. Simon e Robyn, recém-casados, o primeiro (Jason Bateman), aliás, muito bem no papel, começam a receber presentes. Não de qualquer tipo, mas sempre um envolto por laços de um vermelho bem vibrante. Não que isso importe, mas a marca do emissor é sempre esta. Estamos falando de Gordo, antigo colega de classe de Simon, o qual procura se reaproximar do amigo e de sua esposa, planejando uma visita na residência nova do casal. Logo de cara, nas cenas iniciais do filme, somos introduzidos na bela e muito bem arquitetada casa de subúrbio que servirá de pano de fundo para os acontecimentos seguintes. Contemporânea, abarrotada de vidros, sua concepção é moderna, ao permitir proveito quase total de luz natural. Edgerton, nesse ponto, mesmo abdicando de ângulos mais ousados, usa de toda a sutileza nas cores para criar um clima de sossego e paz, típico de bairros mais afastados do centro. Talvez um silêncio que será preenchido por muito muito barulho não muito breve.
Algumas características psicológicas das personagens podem ser delineadas no primeiro terço do filme, como os problemas psíquicos de Robyn e sua dependência absurda de tomar remédios para controlar a ansiedade e os delírios que costuma ter em suas recaídas. Simon parece um homem extremamente tranquilo e tolerante até demais. Tudo começa a mudar, porém, quando este começa a ser perseguido de uma forma não muito agradável pelo ex-colega. Gordo (Edgerton) começa a frequentar a casa dos dois, espionando a casa, olhando sempre para os pertences dos donos do local. Age de forma estranha quando perguntado do que faz da vida ou se possui filhos. Sua expressão é quase nula, seu olhar é atento, porém parece um cara calculista, observador de sua vítima.
Os encontros ocorrem, coisas começam a sumir da casa de Simon e Robyn, mais presentes chegam, cartas também. Nelas, o principal conteúdo é acerca da troca de carinho. Acontece que Simon não pediu nada daquilo e, 25 anos depois, começou a achar esquisita a tentativa de aproximação de Gordo, uma vez que este era tachado de solitário na escola por professores e funcionários. O diretor australiano Joel Edgerton caminhou bem no sentido de apresentar o principal modo de pensar de cada carta do baralho para que depois pudesse misturar tudo no liquidificador. O ritmo lento do filme contribui, ao mesmo tempo que o prejudica. Por um lado, serve de preparo para o terreno de acontecimentos, por outro enrola e deixa situações mal explicadas. O passado de Robyn, personagem muito enfocada na história, sequer é explicado. Mesmo assim, com direção no piloto automático, O Presente tem um grande mérito. Mesmo nas mãos de um inexperiente, várias cenas de susto compensam pelo medo que proporcionam. Não são arrepios fáceis, mas gradativos, com o terror aumentando sem pressa.
Não há abuso por parte de Edgerton, muito menos ousadia, sua postura aqui é comedida. Como na balança de dois pratos, Edgerton preferiu ser generoso com os dois lados e acabou ficando no ponto de equilíbrio. Tratando de temas como bullying e existencialismo, o diretor, mesmo no seu filme mais suave, consegue pincelar mostras de que terá um belo futuro. Na construção da história, o cineasta sempre nos colocou longe da história, quando pensávamos que estávamos dentro. A fotografia, serena, contribui no sentido de fazer da história mais um drama do que um suspense. A ausência de trilha sonora própria de thriller marcou negativamente. Só há uma cena em que a trilha é realmente assustadora e abusa dos graves como em nenhum momento até aquele na película.
Com direito a final surpresa mal elaborado, jogando informações excessivas na cara do espectador, O Presente tem o trunfo de sua atmosfera, alguns momentos chegam a atordoar, o clima de urgência e desespero no filme ocasionam na ofegância. Não se trata de um filme barato de serial killer manjado, mas sim um drama revestido em suspense, como foi O Lenhador, longa com Kevin Bacon. Referenciando até Apocalypse Now, Edgerton consegue explorar temas interassente, mesmo que ainda preso no lugar comum. Ponto para o australiano, precoce, mas que já realiza seu primeiro trabalho em Hollywood, escrevendo e dirigindo seu primeiro longa com dignidade.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário