"Cuidado, Cuidado! O Grande Dragão Verde senta à sua porta. Eles devora garotinhos, rabos de cachorrinhos e grandes lesmas gordinhas"
Essa frase ficará na sua cabeça por um bom tempo, e toda vez que você se lembrar dela, certamente você sentirá uma tremenda vontade de rir. Não se sabe o que se passava na cabeça de Edward D. Wood Jr. ao criar tantas tosqueiras presentes na sua filmografia. ''Glen ou Glenda" apesar de não ter toda uma bizarrice técnica como nos outros filmes do diretor, apresenta quase a mesma bizarrice ao apresentar um argumento que mais parecia uma biografia-documentário. Sim, Edward tinha mania de se travestir. E parece que usou este filme pra pedir a compreensão da humanidade. Por vezes foi contrangedor.
A tentativa de Edward em se tornar um diretor humanitário, ao mostrar ao mundo os problemas e as dificuldades do travestismo vão por água abaixo, pois seu filme, que fala sobre travestis, foi diferente do que realmente era pra ser. ''Glen ou Glenda" foi o único filme que Edward não produziu, assim sendo, a produção do filme ficou por conta de George Weiss. Toda idéia começou quando a notícia de uma Cirurgia de Mudança de Sexo de uma das primeiras travestis a fazer esse tipo de cirurgia, ganhou manchetes nos jornais nos EUA em 1952. Interessado em lucrar com o fato, George financia o filme, mas o resultado não foi o encomendado. E então surgi um filme que fala sobre o travestismo ao invés da Cirurgia.
Glen ou Glenda | Alan ou Ann
Após o suicídio de um travesti, o inspetor Warren busca informações com um psiquiatra que entende bem do assunto do travestismo, ele é o Dr. Alton, que começa então, a narrar a história de Glen pra que o inspetor conheça um pouco do assunto. Glen é um homem, mas que tem a mania de se travestir (usar roupas do sexo oposto). Ele está prestes a se casar, e carrega um grande dilema: Ter de contar toda a verdade para a noiva. Logo após terminar de contar a história de Glen, o Dr. Alton conta uma outra história, diferente e bem mais grave que a de Glen. Trata-se de Alan que tem a mesma mania. Depois de servir às Forças Armadas, descobre ser um Pseudo-Hermafrodita ( reúne os caracteres dos dois sexos). Então terá de escolher fazer a cirurgia e se tornar mulher, ou continuar como ''homem''.
"Glen ou Glenda'' se resume a essas duas histórias. Dois tipos diferentes de travestis: um que tem a opção de escolher, pois possui os dois órgãos e o outro que é homem mas tem mania de travestimento. Na história temos um cientistas que abre o filme falando sobre os humanos, comparando e filosofando as formas de vida. O roteiro escrito pelo próprio Edward, por muita das vezes, chega a ser persuasivo. Com frases científicas a afim de explicar o fenômeno do travestismo. Com várias narrações em off, o diretor vai montando um roteiro achando que seria taxado como um ''Gênio humanista" por promover o entendimento da sociedade com os travestis.
Chega até mesmo misturar as explicações científicas com as relacionadas à Deus:
Se o criador quisesse que voássemos, nos criaria com asas. (Não precisaríamos de aviões)
Se o criador quisesse que rodeassemos os campos, nos criaríamos com rodas (Não precisaríamos de carros)
Se o criador quisesse que fóssemos menina, teria nos feito menina
Se o criador quisesse que fóssemos menino, nos teria feito menino.
E ainda no final: ''Mas e as centenas de Glens com menos sorte no mundo?"
- Pensem espectadores, pensem! Exclama Edward.
As atuações beiram mesmo o ridículo. Bela Lugosi, famoso por interpretar o conde Drácula na década de 30, fez aqui uma atuação digna de Cid Moreira, até mesmo em narrar uma parte da história. Não sei se foi por medo ou por inonia mas Edward escondeu seu nome dos créditos do filme, percebe-se nos créditos finais que Glen/Glenda foi interpretado por um tal de Daniel Davis. As incenações pareciam peça teatral de escola, sem profundidade alguma, parecia que estavam com a folha do roteiro em mãos lendo simultaneamente.
Edward fazia seu filmes com baixíssimo custo, talvez seja por isso que ele tenha poupado contratar pessoas para acrescentar o elenco. Usando várias vezes imagens de arquivo sem nenhum motivo, como por exemplo, na cena famosa onde a face do cientista é sobreposta por aqueles animais, sem aparentemente nenhum motivo. E a cena dos ataques da Guerra afim de mostrar que o personagem estava lá. Percebe-se na cena em que Joe e Jack, em uma narração off, (sim eles não aparecem no filme, o que aparece são apenas imagem de arquivo de uma fábrica em atividade) falam sobre a manchete sobre o travestismo que acabara de sair nos jornais. Outra cena que faz parte do repertório do filme é a cena do suposto sonho de Glen, longos 10 minutos numa cena onde os desejos de Glen são mostrados, parecendo mais um surrealismo de quinta, com direito a diabo com chifre de plástico e máscara de Dia do Halloween e tudo mais.
Considerado um dos piores filmes de todos os tempos, confesso que já vi filmes bem piores, e que tal afirmação não seria justa mesmo sendo um filme ruim. Vale mais pela curiosidade de poder viver a experiência de ter assistido um filme do cineasta considerado o pior diretor de todos os tempos. E apesar de seus filmes serem feitos ''de qualquer forma'' sem se preocupar com a parte técnica e produção, Glen ou Glenda é mais falho no argumento que poderia ser um pouco mais analisado e estudado do que na estrutura técnica do filme, sendo que Glen ou Glenda não necessita totalmente de tal tratamento como em seus outros filmes.
O filme é horroroso mesmo, e o texto chama a atenção de vários aspectos que justificam essa ideia.
O mais bizarro é saber que Wood acreditava estar fazendo algo de qualidade... 😲