A busca incessante do homem pela vida eterna. Este deve ser um dos meus filmes de Ficção Científica preferidos.
Ficção Científica pode não ser considerado um dos gêneros mais atrativos para o grande público, ainda mais quando envolve um tema complexo e de difícil entendimento. Uns odeiam e outros amam. Tirando como exemplo a obra – prima de Stanley Kubrick 2001 – Uma Odisséia no Espaço, outros mais recentes como Donnie Darko, e até mesmo Pi,o primeiro filme de Darren Aronofsky. Mas não posso negar que o gênero é um dos maiores sugadores de inteligências do cinema. Não é tão fácil encontrar por aí filmes de Ficção Científica burros. A maioria apresentam grande inteligência, levantando debates, opiniões, e sempre trazendo renovação, tanto de narrativa quanto de premissa.
E Fonte da Vida faz parte desse tipo de filme. Mesmo sendo cancelado pela Warner após dois anos de produção, Aronofsky decide levar o filme adiante, com a metade do orçamento antigo, atores e cenários trocados. E aqui, Aronofsky constrói seu filme mais complexo, apresentando 3 histórias, aparentemente diferentes, mas que estão interligadas. Uma do século 16 (o conquistador) , outra do século atual (o cientista), e a outra do século 26 (o astronauta).
Ele usa e abusa de todas as fórmulas e criatividade para se mostrar original e uma nova visão cinematográfica. Sua direção e o modo de como resolveu contar a história do filme, o leva a ser um dos diretores mais originais e diferenciados da atualidade, pelo seu filme mais complexo, mais anormal e mais inteligente. As 3 histórias por mais que pareça diferentes, apresentam a mesma idéia conectada numa história só. Percebam o modo como as histórias mudam de época. O diretor sempre procura um modo de interligar a história para que esta não siga um corte gratuito. Como quando Izzy chama seu marido Tommy para acompanhá-la até lá fora, e quando seu rosto vira, já estamos em outra época na qual o personagem fez o mesmo gesto.
Hugh Jackman interpreta os 3 personagens, sendo que o cientista é o personagem central, na qual Izzy, sua esposa, está com câncer. O diretor sempre soube absorver o máximo de seus atores, vide Ellen Burstyn em Réquiem para um Sonho, na qual sua atuação pode ser encontrada facilmente na lista das melhores de todos os tempos. Outro exemplo é Mickey Rourke que foi praticamente retirado do túmulo para estrelar O Lutador. E aqui não é diferente. Jackman soube segurar o peso dos 3 personagens muito bem ainda que não tenha atuado excelentemente. As emoções são transpostas sem muito esforço e consegue envolver qualquer um. Destaque para a cena em que ele se fura com a caneta, ou então a cena final, onde ele percebe, o que ele sempre estava procurando.
Fonte da vida é uma verdadeira obra-prima, super inteligente, que aborda os sentimentos humanos acerca da vida eterna. E a ambição do homem em querer resposta e ter controle de tudo. Tommy acredita na ciência, e que até para a morte tem solução, e que ela é apenas uma doença, que tem a sua cura. E Izzy acreditava na morte, onde até dizia no seu livro que: “A morte é o caminho para o sublime”. Toda essa busca, levou Tommy a acreditar que não existe a vida eterna e que só pederiam ficar juntos através da morte. E em ambas as épocas os personagens encontram uma única verdade. O conquistador ao virar planta e encontrar a luz, e o cientista, que agora é o astronauta, ao ver a árvore morrer e seguir em direção à estrela. A vida eterna não pode existir. A morte é inevitável. É um daqueles filmes que levantam opiniões. E assistir mais uma, duas ou três vezes não seria uma má idéia. Os minutos finais são uma loucura só. A narrativa se torna mais difícil de compreender, as cenas desconexas confundem, e as épocas se entrelaçam rapidamente. Mas é só ficar ligado nas entrelinhas que a mensagem será captada e entendida.
Percebe-se também todo capricho da obra, onde Aronofsky abriu mão de efeitos computadorizados na maioria das cenas. As cenas da espaçonave é de fazer os olhos brilharem. Aliás, a espaçonave é mais um comprovante da visão e criatividade do diretor. Esqueça portas automáticas, ou aqueles roupões brancos de astronautas, a espaçonave aqui é uma bolha transparente cheia de brilho e luminosidade, com uma árvore dentro. claro, também não posso esquecer da Trilha sonora composta pelo maravilhoso Clint Mansell, mesmo compositor da Trilha de Réquiem. E é incrível como as trilhas de seus filmes sempre consegue uma importância dentro da obra. Ela nunca passa despercebida. Ao término, vem a satisfação de contemplar algo brilhante e inteligente, além de nos fazer parar e pensar sobre todas as conseqüências que os personagens vivenciaram. Coisa que Aronofsky já é mestre. Quem assistiu Réqueim, ou Pi ou O Lutador facilmente percebe isso.
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