A mais fantástica experiência emocional e sensorial do ano, Cisne Negro vai literalmente evocar qualquer emoção.
Aronofsky simplesmente criou mais uma obra-prima. O filme caminha para o ápice da experiência avassalarora e assombrosa daqueles que navega entre ser emocionante e terrível ao mesmo tempo. Olha que eu nunca pensei que pudesse ser extraida uma história tão interessante e emocionante em um filme de Balé. Mas corrigindo-me, Cisne Negro não é um filme sobre balé, e o esporte é apenas um pano de fundo para a experiência angustiante e tenebrosa proporcionada pelo filme.
A começar do lugar de onde foi tirada a história. O diretor, também roterista junto com Mark Heyman, trás o seu mundo cru, ferroz e real do Conto de Fadas alemão, O Lago dos Cisnes. Na trama, o autor da peça (Vincent Cassel) quer trazê-la novamente ao palco, mas desta vez numa forma mais ferroz, agressiva e sensual. É necessário todo o entendimento da fábula para que possamos entender a decadência da personagem: Uma garota virgem, pura e doce, está presa no corpo de um cisne, o Cisne Branco; ela deseja a liberdade, mas apenas o amor verdadeiro poderá desfazer o feitiço. Seu desejo é quase atendido na forma de um príncipe, mas antes que eles possam consumar o amor, a devassa irmã gêmea, o Cisne Negro, o envolve e seduz o príncipe. Devastado, o Cisne Branco se joga de um penhasco, morre e na morte, encontra a liberdade.
Essa é a base de todo o terror psicológico do filme. As fantasias, o surrealismo e as visões não são gratuitas e tudo é sincronizado pela fábula. Nina (Natalie Portman) é a escolhida para viver ambos os Cisnes, o papel que ela tanto almejava. Começamos então a acompanhar uma trajetória que no início era apenas de superação mas que ao longo do percurso consegue fazer qualquer um segurar a respiração, nos levando numa viagem ao inferno junto com a personagem. Aronofsky utilizou do que aprendeu com suas obras-primas anteriores com o inabalável O Lutador e o horror cerebral e incrivelmente perturbador Réquiem para um Sonho, e criou um filme que você simplesmente não será capaz de desgrudar os olhos.
Com uma montagem beirando a perfeição, que nos prepara desde o início para as arrebatadoras sequências finais e Diga-se de passagem, são as cenas mais angustiantes filmadas pelo diretor desde Réquiem. O trabalho de direção é digno de todos esses elogios que vem recebendo durante a temporada. Aronofsky simplesmente consegue nos causar sensações inexplicáveis através de sua câmera. Seja pelos seus closers perfeitos, ou pelos giros em volta de Nina. Ele faz questão de focar todos os flagelos da personagem; até mesmo provocar angústia naquelas cenas de ensaio onde os pés de Nina são focado. e este se torna o filme mais mindfuck do diretor desde Pi. A tensão aqui não é provocada com sustos, mas com situações assombrosas, que chega até mesmo nos pregar algumas peças.
Cisne Negro é a perfeita junção de coisas positivas. Aronofsky consegue de forma cruel e incrivelmente bem manejada, manipular nossas emoções como poucos. Nina é aquela típica pessoa que é capaz de tudo para chegar a perfeição e a história do Lago dos Cisnes caiu como uma luva para os planejamentos do diretor. E não pense que as coisas acontecem gratuitamente ou de forma esquemática. Se entrarmos fundo na história veremos que tudo acontece gradativamente e sem pressa. Nina no começo é aquela jovem santa, ou seja, um Cisne Branco, mas aos poucos, quando o dia da apresentação se aproxima, o Cisne Negro começa a se manifestar e ela já fica mais maliciosa, mais agressiva, e com mais sede da perfeição. Tudo é baseado no Conto dos Cisnes, e o diretor encaixa cada situação, cada momento e cada dificuldade de Nina dentro desta fábula, passando assim, sua mensagem. Não lembro de filme melhor que mostrasse o quão ruim podem ser as consequências da busca pela perfeição. Só mesmo Aronofsky.
Com um elenco de primeira, onde cada um tem seu espaço, incluindo Vincent Cassel e Barbara Hershey (a mãe de Nina). Mas a surpresa que tive foi com Winona Ryder, que apresentou um das cenas mais marcantes do filme. Mila Kunis também sensacional e sua presença no filme é marcante. Principalmente na tão falada cena de amor entre sua personagem e Nina. Maravilhosa cena, por sinal. Misturando prazer e tensão ao mesmo tempo. Sem contar a espetacular Trilha Sonora de Clint Mensell que deixa mais uma marca.
E agora, deixo a parte mais assombrosa para o final: A Atuação de Natalie Portman. O filme é completamente dela. Ela brilha como nunca e interpreta aqui o grande personagem de sua carreira. Chuta bundas de todas as possíveis concorrentes do Oscar. Muito difícil, mas muito mesmo, uma atriz encarnar um personagem como ela fez aqui. Ela traduz perfeitamente o que é a experiência física, emocional e sensorial. Suas expressões de sofrimento, chega a doer até em nós. Nina enfrenta todo tipo de dificuldade nos treinos. Nós vivemos tudo isso com ela. Ela consegue nos passar seu medo e insegurança tão perfeitamente que suas alucinações tornam nossa experiência tão angustiante quanto a dela. Além de ter que interpretar os dois Cisnes, o Negro e o Branco, a sensual e a meiga, a cruel e a piedosa, a atirada e a tímida, ela transmite um mudança de caráter espetacular.
No fim, resta aplaudir assim como todos os espectadores do grande espetáculo, uma obra deliciosamente delirante, recheada de cenas primorosas, muito mais assustadoras que muitos filmes de terror, inclindo a seqüência final não menos que espetacular. De maneira arrepiante e diferente, Aronofsky mostra-nos que, por vezes, na tentativa de conseguir o que queremos, corremos o risco de perder uma parte de nós que pode não ser capaz de voltar, e não percebemos o quão desesperadamente precisamos dela. Ele sempre fará o público pensar sobre o que está sendo mostrado e o que está realmente acontecendo.
Assistir os filmes do Aronofsky é sempre uma experiência memorável, e dificilmente esquecerei do dia em que assisti Cisne Negro. Nos créditos finais, é como soltar a respiração e tomar o fôlego novamente.
It was Perfect!
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