Alice # Lewis Carroll + Tim Burton + 3D
“A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível.“
Eu fiz questão de ver a ‘Alice no País das Maravilhas‘, de Tim Burton, em 3D. Para mim, que amo a estória de Lewis Carroll, batia uma curiosidade de ver quais seriam os efeitos com essa tecnologia. Comigo, já ia em como seria a queda na toca do coelho. E Tim não me decepcionou. Fez mais! Além da que me fez mexer da cadeira, a do final é um presente a nossa sensibilidade. Diria até, ao nosso lado romântico. Volto a essas cenas mais adiante.
Lewis Carroll era um contador de estória da sua época. Mas com as que ele mesmo inventava na hora. Foi assim que nasceu ‘Alice no País das Maravilhas‘. Ele a criou para entreter a pequena Alice e suas irmãs durante uma viagem. Depois, incentivado por amigos, imortalizou a estória colocando-a em livro. Sendo adulto, aproveitou a estória para criticar as convenções sociais. Também para homenagear amigos, e ironizar os inimigos com alguns personagens. O que leva a estória ter pelo menos dois tipos de leitura: uma, pelo olhar infantil, e a outra, por um olhar adulto.
“Puxa! Como tudo está tão estranho hoje! E ontem as coisas estavam tão normais! O que será que mudou à noite? Deixe-me ver: eu era a mesma quando acordei de manhã? Tenho a impressão de ter me sentido um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima questão é “Quem sou eu?” Ah! esta é a grande confusão!“
Contando o porque de amar essa estória. Ela leva a criança a não perder a sua essência, a sua individualidade num mundo tão cheio de convenções. Por conta disso, aproveito sempre para incentivar os Profissionais com mais acesso as crianças, que levem-nas a conhecerem ‘Alice no País das Maravilhas’. Ela também mostra de maneira ímpar o ser verdadeira, mas compreendendo que terá que controlar essa qualidade. Escolhendo bem as palavras antes de proferi-las. Porque as diferentes ocasiões, até mesmo as situações diárias, exigirá uma postura para cada uma. E é ai que terá que ter discernimento até para não perder a sua autenticidade. Mesmo que o momento leve a aceitar algo contrário a sua própria natureza, tendo ciência do que está se passando ali, não a torna cúmplice. Mais! A faz compreender que se há falha de caráter, é da outra pessoa, não dela.
Se a personagem Alice já possui uma grande importância no universo infantil, eu não vejo nada contra dela adentrar no universo mais adulto, deixando de ser uma menininha, tendo mais idade. E foi o que Tim Burton fez. Ele literalmente cresceu a Alice. Ele faz uma pequena ponte, logo no início, com a pequena Alice. Com ela e seu pai sendo confrontados a cerca da imaginação de ambos. Alice, pelos sonhos constantes. Seu pai, por possíveis sócios em seus negócios. Ela, criança, com receio de estar perdendo a razão. Enquanto o pai dela, quem o vê como lunático, são aqueles que tentava motivá-los a abrir seus horizontes. Enfim, pai e filha, são podados pela sociedade. O ‘Siga as regras, e seja feliz!‘, é cruelmente castrador.
Tim Burton depois dá um salto de 13 anos nessa sua versão. Alice, junto com a mãe estão a caminho de uma festa num palácio de um nobre da corte. Não sabendo do real motivo, intui que está entrando num túnel escuro. O que a faz ficar arisca. Ficando mais suscetível a captar os sinais que a vida nos dá, mas por conta de seguir tão cegamente as convenções, eles nos escapa. Mesmo que coincidentemente era procurada pelo Coelho Branco, só após pedir um tempo, é que Alice vai atrás dele.
Sem poder contar com os conselhos do pai, já falecido, Alice pede um tempo para pensar. Ela se vê brutalmente em confronto com o destino que escolheram para ela. Era castrador demais. Fútil! Falso… É quando mergulha fundo na sua inconsciência. Como um balanço da vida. Como um processo de Individuação, numa linguagem junguiana. Alice se deixa levar, indo atrás do Coelho Branco. Que lhe mostra as horas. Como a dizer que o tempo está passando. O tempo é outro fator salutar nessa obra de Lewis Carroll. Por mostrar como ocupar o tempo de vida. Fazendo o que gosta. Sendo você mesmo. Não mudando até sua aparência física, só para agradar alguém. A sociedade, ou quem se vê num tipo de trono, praticamente exige que todos percam a sua individualidade.
No filme, por conta da Rainha de Copas ter uma cabeça grande, seu séquito incorporam em suas próprias aparências, um aumento de uma parte física. Só para cair nas graças desse que se julga superior. Por outro lado, que prazer é esse em ter sempre em torno de si, um bando de bajuladores? De quase uma cópia de si mesmo. Quase, porque a eles nem é dado o direito de contestar, de terem opinião própria. Uma coisa é o respeito a uma hierarquia. Outra, é negar-lhes o direito de subir por seus próprios méritos. Se está capacitado, deve ter chance de mostrar o seu valor. É assim, em Família, numa Empresa, num Grupo, na vida como o todo.
A Rainha de Copas não admitia ser contestada. Sua arrogância, prepotência, a afastara até da sua irmã. Fez mais, roubou-lhe a Coroa Imperial. As duas irmãs, podem simbolizar algo inerente em nós. Mesmo exacerbando, mostram o lado bom e o mal. Como lidar com isso em si mesmo? Canalizando o poder destrutivo em ponderando mais, por exemplo. Pesando os prós e os contras. Fazendo um planejamento. Ter uma base forte, mesmo que seja por um caminho novo. Assim, a probabilidade de dar errado, diminui. E mais, ela pode ser atribuição do outro lado, o mais emocional. Mais romântico. É! Razão e Emoção lado a lado, e não em pé de guerra. Estão vendo como podemos colocar até os nossos “defeitos” contribuindo para o nosso engrandecimento? E sem perda de tempo.
Seria o Chapeleiro Maluco a nossa criança interior?
Fiquei pensando no porque desse personagem: um chapeleiro. Claro que na época de Lewis Carroll, o uso de chapéus era até exigido socialmente. Mas viajando um pouco… O chapéu possui várias referências simbólicas e reais. Uma delas, seria a do Mágico, que sempre tem uma surpresa vinda de dentro dela. Bem, surpresa para os outros. Porque se tirarmos algo de nosso cérebro, a surpresa estaria em, mais do que fazer, estaria em como fazer, como agir. O que vai depender do momento, do que exige a situação. Acontece que uma criança não vai muito pela razão, mas mais pela emoção.
O Chapeleiro gosta de criar chapéus, mais que um simples adorno, ele mostraria um pouco do que vai na mente de cada um. Independente se chocará ou não. Uma maneira de simplificar a vida. Como é feito pela criança. Ela só ficará preocupada com a opinião do outro, por gostar desse outro. Receber dele um bem querer. É quando exigirá de si mesmo seguir certas regrinhas. O Chapeleiro meio que cumpre o ritual do chá, mas subvertendo tudo. Ele até, passa por cima da mesa, para ir ao encontro da Alice. Feliz. Querendo-a ao seu lado.
Claro que o Chapeleiro exacerba um ‘Não siga as regras, e seja feliz sendo você mesmo!’ Essa quebra da rotina, nos leva de volta a infância. Num jeito meio desnudo do que a vida adulta nos impõe. É o prazer de viver em plenitude. Alice junto a ele, vai aos poucos trazendo à tona a sua verdadeira essência. Mas ambos passarão por duras provas. Que em vez de afastá-los, reafirma o bem querer que sente um pelo o outro. É o verdadeiro valor da amizade. E que é bem mais incondicional, quando se é criança. Onde, quando se tem uma essência pura, aceita-se as diferenças sem questionamentos. Sem exigência.
“Vejam só, tantas coisas estranhas tinham acontecido ultimamente que Alice começara a pensar que muito poucas coisas eram na verdade realmente impossíveis.“
Exigências! Desde que os homens se organizaram em uma sociedade, se fez necessário criar certas regras. Para coibir certos abusos. Não deixando de assim terem um certo controle do povão. Alguns, cumprem cegamente essas regras. Até por um certo egoísmo. Outros, por comodismo, por pensar que é o melhor a fazer. Há também quem siga as convenções sociais, mas sem querer envolvimento afetivos. Mas claro que, no geral, as regras tem como base o poder de punir quem cometa um crime. Nessa estória, a Rainha de Copas vem para mostrar os que, estando no poder, só pensam no seu próprio bel-prazer. Onde governam com dois pesos, duas medidas.
Bem, se Tim Burton resolveu contar essa estória em 3D… Na cena onde Alice toma chá com o Chapeleiro Maluco, e outros convidados, há um efeito que me fez mexer na cadeira. Foi um susto gostoso. De querer rever.
Quando eu assisti ‘Avatar’, vi, acredito eu, um dos primeiros trailers deste filme. Talvez por estar ainda em produção… É que deixou uma impressão de muita escuridão, de algo mais tenebroso. Confesso que ao vê o Gato de Cheshire, ele me assustou. Cheguei a pensar que o filme cairia um pouco para o Gênero Terror. Essa impressão só se desfez assistindo enfim ‘Alice no País das Maravilhas’, de Tim Burton. Filme esse que eu amei. Mas ainda em relação aos Trailers, embora goste de chegar nas Sessões a tempo de vê-los, alguns nos leva a ter outras impressões. O que leva a não dar muito créditos a eles. E, assistindo “Alice’, além de ter gostado muito, eu gostei do Gato Risonho do Tim Burton, muito embora o que continuará eternizado em minha memória cinéfila, será o da Animação da Disney. E o filme nem é tão escuro como no primeiro Trailer.
Agora com esse outro importante personagem: o Gato de Cheshire, ou, o Gato Risonho. Ao estampar o sorriso dele, Carroll nos mostra que a sociedade exige muito essa postura. Dificilmente alguém está afim de ouvir o drama de outra pessoa. Dai, mesmo passando por um período triste, em frente a alguém, estampamos um largo sorriso. Há também quem use o sorriso por subserviência. Como também para agradar alguém, mesmo a contragosto. Com o poder de sumir desse Gato, ele mostra que em algumas ocasiões, é a sensação mais desejada. Pois há horas que queremos sumir. De sair sem ser notada. E fiquei pensando no porque Tim Burton colocou os dentes do Gato, metálico. Talvez para ressaltar a falsidade que tantos adoram a sua volta. Como também por ter um comportamento falso.
Como eu comentei, a Alice se deu um tempo para pensar no futuro que queriam para ela. Por vezes, se faz necessário parar para um balanço na nossa vida. Eu, gosto de pensar que a nossa jornada, é como uma espiral. Assim, em vez de fechar um ciclo, que deixa a impressão de fazer tudo de novo, se nessa parada, tiramos lições, se retiramos cargas inúteis, estaremos alcançando sim, uma oitava maior. Nesse filme, temos para exemplificar, que mesmo percorrendo o mesmo caminho, será com um outro olhar. Pensem numa espiral. Ela vai passando perto, o que deixa até a impressão de dejà-vú. Mas tendo consciência do que fez, ou até do que deixou de fazer, colaborará para como agir dessa vez. Para então seguir em frente.
“O que não enfrentamos em nós mesmos, encontramos como destino.” (Carl G. Jung)
Também nessa parada, se faz necessário enfrentar aquilo que nos assombra. Se for o caso, matar, nos livrar de vez, de algo que não faz parte da nossa essência. De algo que nos foi imposto. Por outro lado, se é algo que está inerente a nós, essa morte vem para canalizar essa força destruidora numa benéfica ao nosso engrandecimento. São os defeitos e qualidades trabalhando juntos. Numa Individuação (Psicologia Analítica), se aprende a lidar com a própria Sombra.
Para Alice, matar o Jaguardart, era ir contra os seus próprios princípios. Para os seus amigos do País das Maravilhas, seria a libertação. Como o destino a elegeu para essa missão, para salvaguardar a vida deles, ela viu que não poderia abdicar. ‘Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.’ Ela não perpetuaria aquele círculo nefasto. Na quebra de um ciclo, renasceu.
Quem a incentivou mais, foi a Lagarta Azul. Sempre levando-a a pensar quem de fato era ela. Mostrando também a ela que não era fruto da imaginação essa morte. Essa passagem para uma nova fase de vida. Ela mesmo era um exemplo disso, ao encerrar um ciclo, renascia como borboleta. Se desde o início, questionou a verdadeira identidade da Alice, a Lagarta também cumpriu uma missão. Fazendo Alice crescer. Ver a vida com um novo olhar. Deixar de ser coadjuvante, passando a ser protagonista da sua própria vida.
“_Poderia me dizer, por favor, qual caminho eu devo seguir?
_Isso depende muito de onde você deseja chegar.“
Então, Alice volta a festa. Lá, todos a aguardavam. Segura do que queria fazer, ela se faz ouvir. E dessa vez, o seu recado – a sua verdade -, é dita mais nas entrelinhas. Mostrando maturidade. Pois seria perda de tempo tentar modificá-los. Alice, já sem medo da vida, vai para uma nova fase em sua vida. Levando como herança paterna, o idealismo, o lado aventureiro, o tino comercial. E uma fértil, e porque não, útil imaginação. Eram as bagagens mais preciosas que Alice levaria rumo ao futuro. Ou, até uma próxima parada…
E no final, Tim Burton nos presenteia com uma cena que entra para a História do Cinema em 3D, como o mais cativante Final. É emocionante! Um brinde a nossa sensibilidade. A nossa Alice interior. Grata, Tim Burton! Parabéns, por sua versão de ‘Alice no País das Maravilhas’. Eu amei.
As atuações estão ótimas. A Trilha Sonora é Perfeita. Não deixem de ver esse ótimo filme em 3D. Se dêem esse presente.
Por: Valéria Miguez (LELA).
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