A carreira de um dos maiores astros do início do século XXI.
Norte-americano da pequena cidade de Owensboro, John Christopher Depp II nasceu em nove de junho de 1963. Hoje reconhecidamente um dos melhores atores em atividade, Johnny traz em seus personagens traços visíveis da sua forte e estranha personalidade. Com apenas 15 anos, o astro teve que viver fora dos padrões normalmente estabelecidos como convencionais pela sociedade, já que seus pais - o engenheiro John e da dona de casa Betty Sue - se divorciaram, fato que influenciou diretamente no seu isolamento físico e psicológico perante o mundo - ele, inclusive, chegou a assumir que nesse período experimentou drogas. Aos poucos, Depp conseguiu sair do inferno solitário no qual estava. Amante confesso de música - como guitarrista, fez parte do conjunto "The Kids", chegando até a tocar em público -, começou a trabalhar nas telonas quando tinha mais de 20 anos. Após conhecer o ator Nicolas Cage, por intermédio de sua ex-mulher, Johnny Depp entrou para o fascinante mundo da sétima arte, de onde, felizmente, nunca mais saiu.
Acompanhando uma amiga que ia fazer um teste de elenco para um filme de terror, o jovem Johnny acabou recebendo um inesperado convite, para também realizar o teste, do diretor do tal longa. Assim, de maneira ocasional, Johnny Depp estréia no cinema, em 1984. "A Hora do Pesadelo", de Wes Craven, era o nome do projeto. A trama é sobre um homem que, depois de molestar crianças na Rua Elm, foi queimado vivo pela vizinhança. Buscando vingança, ele retorna aterrorizando, através do sono, aqueles que o mataram. Johnny retornaria à franquia, reprisando seu personagem, somente no sexto episódio, fazendo apenas uma pequena ponta.
Todavia, Johnny Depp só se fez notar mesmo em seu terceiro filme, o premiado ''Platoon'', dois anos depois. O filme, de Oliver Stone, conta a estória do jovem idealista Chris Taylor (Charlie Sheen), que abandona a universidade e se alista espontaneamente para combater na Guerra do Vietnã. Com a convivência com os demais recrutas e com os oficiais que o cercam, porém, ele vai, a cada dia, decepcionando-se com o que vê.
O jeito rebelde de Johnny ganhou destaque na comédia "Cry Baby", de John Waters. Seu personagem, Wade "Cry-Baby" Walker, é um bad boy que é líder de um grupo que vive em Baltimore, na década de 1950. Cry-Baby acaba se apaixonando por Allison Vernon-Williams, fato que acarretará vários problemas com o ex-namorado de Allison. O sucesso do ator, no entanto, veio com o ótimo "Edward Mãos de Tesoura", seu primeiro trabalho com Tim Burton. Johnny Depp vive Edward - que tem tesouras no lugar das mãos, como o título sugere -, um jovem que reside sozinho em um castelo e que na verdade foi criado por um inventor (Vincent Price). Depois da morte do seu criador, ele vai morar na casa de Peg (Dianne Wiest), o que acaba tornando-o querido por uns, mas perseguido por outros. Repleto de ternura, o longa valeu a Johnny o prêmio de melhor ator dado pela Associação dos Críticos de Londres, além da sua primeira indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
Em 1993, Johnny interpreta Axel Blackmer - um funcionário público que mora em Nova York e é obcecado por peixes - no longa "Arizona Dream - Um Sonho Americano". Ele viaja ao Arizona para o casamento de seu tio (Jerry Lewis) e lá conhece Elaine (Faye Dunnaway), uma rica viúva que mora com a filha Grace (Lili Taylor). No mesmo ano, Johnny vive o excêntrico Sam no filme "Benny & Joon - Corações em Conflito", um jovem que parece ser a reencarnação de Buster Keaton. Pelo seu desempenho, Johnny Depp recebeu, pela segunda vez, uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
Ainda em 1993, Johnny atua em "Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador", do cineasta Lasse Hallström. Gilbert, um rapaz decepcionado com a vida, cuida de seu irmão autista Arnie (Leonardo DiCaprio) e de sua mãe extremamente obesa. Depois de conhecer e se apaixonar por Becky (Juliette Lewis), Gilbert terá que lidar com a problemática família ao mesmo tempo em que quer aprender os segredos da moça. No ano seguinte, Johnny, na sua segunda empreitada com Tim Burton, fez "Ed Wood", filme biográfico sobre o diretor que é considerado, hoje, como o "pior de todos os tempos". A estória é concentrada nos anos 50, quando Edward Wood (Johnny Depp) se envolveu com um bando de atores desajustados, incluindo o lendário Bela Lugosi (Martin Landau) em fim de carreira. Mais uma vez, Johnny Depp foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
Um ano depois, no sensual "Juan DeMarco", Johnny vive um homem de 21 anos que se diz o real Don Juan - o maior amante do mundo. Após sua fracassada tentativa de se matar, ele é internado em uma clínica, convencido por um psiquiatra (Marlon Brando, genial). O problema é que o convívio com o doente acaba mexendo com a sanidade do psiquiatra. Em "Tempo Esgotado", Johnny é o executivo Gene Watson, que acaba sendo raptado juntamente com sua filha. Os seqüestradores fazem uma exigência: ou Gene mata a governadora dentro de 75 minutos, ou sua filha será assassinada. O destaque do filme é que ele ocorre em tempo real, ou seja, cada minuto reproduzido em cena dura um minuto de verdade.
Já em "Donnie Brasco", Johnny é um agente do FBI que usa o nome de Donnie Brasco para infiltrar-se entre os mafiosos. Um criminoso mais velho, interpretado pelo grande Al Pacino, toma-o sob sua tutela, ensinando-lhe os caminhos da máfia. Entretanto, ao colocar sua vida pessoal em xeque, ele põe sua missão em risco. Em outro projeto, dirigindo, escrevendo o roteiro e atuando - como o índio desempregado Raphael -, denominado "O Bravo", de 1997, Johnny Depp só veio ratificar toda sua versatilidade.
No ano seguinte, o ator aparece no drama "Medo e Delírio", de Terry Gilliam. Adaptado do livro de Hunter S. Thompson, o filme fala sobre a busca pelo tão famoso "Sonho Americano" por parte do jornalista Dr. Thompson (Johnny Depp) e seu advogado (Benicio Del Toro), dois sujeitos meio pirados que chegam a Las Vegas para cobrir o Mint 400, uma corrida de motos no deserto. Em 1999, Johnny é dirigido por Roman Polanski em "O Último Portal", longa baseado no livro El Club Dumas, do escritor Arturo Perez-Reverte. Ele vive Dean Corso, um especialista em livros raros contratado por um milionário de Nova York que tem uma imensa coleção sobre ocultismo e um especial interesse em "Os Nove Portais Para o Reino das Sombras", livro este que, segundo a lenda, foi co-escrito pelo próprio Satanás.
Em "Enigma do Espaço", Johnny interpreta o astronauta Spencer Armacost, o qual retorna de uma problemática missão no espaço e anuncia que vai se afastar da carreira para passar mais tempo com a esposa Jillian. Após engravidar, Jillian acha que há algo de estranho no marido, e começa a pensar que a criança que carrega no ventre pode ser de outro mundo. No mesmo ano, Tim Burton dirige Johnny Depp no seguro "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça". Em 1799, o detetive Ichabod (Johnny Depp) é enviado a uma pequena cidade para a investigação de alguns assassinatos em que todas as vítimas encontradas estavam sem cabeça. Baseado em um conto de Washington Irving sobre a lenda de Ichabod Crane e o Cavaleiro sem Cabeça, a película faturou o Oscar de Melhor Direção de Arte.
Logo depois, Johnny Depp aparece em "Antes do Anoitecer", que conta a vida de Reynaldo Arenas (Javier Bardem), desde sua infância pobre até seu exílio em Nova York. Depois de ser educado com a Revolução Cubana e premiado nacionalmente por seu trabalho, o escritor Reynaldo Arenas termina sendo preso e, posteriormente, exilado de seu país natal. Além de Depp e Bardem, Olivier Martinez e Sean Penn estão no elenco do filme. Em seguida, Johnny surge em "Por que Choram os Homens?", como o cigano Cesar. Ele se relaciona com Suzie (Christina Ricci), uma jovem que adentra o mundo do teatro após conhecer um famoso cantor de ópera, em plena Segunda Guerra Mundial.
Em "Chocolate" - longa que recebeu 5 indicações ao Oscar -, novamente sob a direção de Lasse Hallström, Johnny volta a interpretar um cigano. Vianne (Juliette Binoche) se muda com a filha para uma cidade rural da França e abre uma loja de bombons e chocolates. Todavia, ela enfrenta oposição: é mãe solteira, trabalha aos domingos e prepara doces que fazem qualquer um ceder à gula. Alguns moradores planejam expulsá-la da cidade, temendo que ela desordene a moral do lugar. Tem início, então, um embate entre os conservadores e os que desejam os saborosos chocolates.
No outro ano, Johnny está no suspense "Do Inferno", dos irmãos Hughes. Ele é Frederick Abberline, um investigador da Scotland Yard que deve desvendar vários assassinatos em série contra prostitutas - casos que podem ter ligação com o temeroso Jack, o estripador. O longa é baseado na história de Alan Moore e Eddie Campbell sobre o mítico assassino. Baseado em uma história real, "Profissão de Risco" traz Johnny na pele de George Jung, traficante de drogas que logo se torna o principal importador de cocaína do Cartel de Medelin, comandado por Pablo Escobar. O filme conta a ascensão e queda de Jung. Dois anos depois, em "Era uma Vez no México", terceiro filme da trilogia do diretor Robert Rodriguez, Johnny é um corrupto agente da CIA, que contrata El Mariachi (Antonio Banderas) para se envolver num golpe de estado e, a partir daí, manipular a política do local a favor dos norte-americanos.
A grande verdade é que Johnny sempre fez filmes difíceis de atrair o grande público. Contudo, o ator consegue tal feito ao interpreta seu personagem mais conhecido e, por isso mesmo, ovacionado pela massa: o pirata Jack Sparrow, no filme "Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra" - primeiro longa de uma trilogia que posteriormente surgiria. Na trama, o excêntrico pirata Jack Sparrow tem seu navio saqueado e roubado pelo capitão Barbossa (Geoffrey Rush) e sua tripulação. Após invadir e saquear a cidade de Port Royal, Barbossa leva consigo Elizabeth Swann (Keira Knightley), a filha do governador. Interessado em recuperar a sua embarcação, Sparrow recebe a ajuda de Will Turner (Orlando Bloom), um grande amigo da moça que parte em seu encalço. Além da indicação ao Oscar de Melhor Ator, Depp foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
De forma bem diferente, Johnny Depp interpreta o renomado escritor escocês de peças teatrais J.M. Barrie, no bonito "Em Busca da Terra do Nunca". O filme retrata o modo como Barrie escreveu a estória de um grupo de meninos que moravam em um mundo de fantasia e que não queriam crescer - o resultado foi o clássico da Literatura infantil, Peter Pan. No mesmo ano, Johnny está na pele do escritor Mort Rainey, em "Janela Secreta" - mais um suspense baseado numa obra de Stephen King. Depois de flagrar sua esposa com outro homem, Mort decide se isolar em uma cabana à beira de um lago, em busca de tranqüilidade. Porém, lá aparece John Shooter (John Turturro), um estranho caipira que o acusa de plágio, tornando sua vida um inferno.
Em um trabalho nada digestível, mas interessantíssimo se o espectador resolver mergulhar no drama, Johnny se doa para interpretar a vida real de John Wilmot, o 2º Conde de Rochester, em "O Libertino". Ele é um rebelde devasso e, ao mesmo tempo, um gênio literário da restauração inglesa do século XVII. Wilmot é convocado pelo rei Charles II a escrever uma peça - a questão é que ela precisa ser magistral, a fim de impressionar a corte francesa. Apaixonando-se pela atriz Elizabeth Barry, Wilmot passa a querer transformá-la em uma profissional de sucesso nos palcos londrinos. Wilmot, com sua inteligência subversiva, termina por escandalizar a sociedade da época.
Sendo dirigido pela quarta vez por Tim Burton, em "A Fantástica Fábrica de Chocolate" Johnny Depp assume o papel do fantástico Willy Wonka, dono da maior fábrica de doces do planeta. Wonka decide realizar um concurso mundial para escolher um herdeiro para seu império, sorteando cinco crianças - entre elas, Charlie Bucket. Os garotos, então, ganham uma visita guiada pela singular fábrica de chocolate, que não era visitada por ninguém há 15 anos. Utilizando cores, músicas e situações inusitadas, o longa garantiu mais uma indicação de Johnny Depp ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
Ainda em 2005, e novamente com Tim Burton, Depp dubla muito bem a animação "A Noiva Cadáver". Ele empresta sua voz a Victor Van Dorst, um jovem que está prestes a se casar com Victoria Everglot. Contudo, acidentalmente Victor faz os votos de noivado para a pessoa errada, a Noiva-Cadáver, que o leva para conhecer a Terra dos Mortos. Querendo desfazer o ocorrido para poder se casar com Victoria, Victor, aos poucos, vai percebendo que o mundo dos mortos é bem mais animado do que o meio vitoriano em que nasceu e cresceu.
Ano passado, Johnny Depp voltou a interpretar o cômico e escrachado pirata Jack Sparrow, em "Piratas do Caribe: O Baú da Morte", que acabou tendo um sucesso estrondoso de bilheteria. Na textura, o capitão Jack Sparrow descobre que tem uma dívida de sangue com Davy Jones, capitão do "Holandês Voador", um grande navio fantasma. Jack poderá ter sua alma amaldiçoada, caso não cumpra o trato feito com Davy. Para sair dessa emboscada, ele contará com a ajuda de seus amigos: Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley), que se preparam para casar. Pra variar, Johnny Depp foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia/Musical.
Em 2007, "Piratas do Caribe: No Fim do Mundo", a última parte da trilogia Piratas do Caribe, estreiou. Johnny Depp retorna com seu divertido Jack Sparrow. Só no Brasil, o longa foi lançado em 769 salas, com 679 cópias - a maior abertura de um filme da Disney no país. No enredo, o lorde Cuttler Beckett (Tom Hollander), da Companhia das Índias Orientais, detém o comando do navio fantasma "Flying Dutchman". O navio, agora sob o comando de James Norrington (Jack Davenport), tem por missão vagar pelos sete mares em busca de piratas e matá-los sem compaixão. Com o propósito de combater Beckett, Will Turner (Orlando Bloom), Elizabeth Swann (Keira Knightley) e o capitão Barbossa (Geoffrey Rush) precisam reunir os Nove Lordes da Corte da Irmandade. No entanto, falta o capitão Jack Sparrow, um dos Lordes. Eles partem para Cingapura, na intenção de conseguir o mapa que os conduzirá ao fim do mundo, o que possibilitará que Jack seja resgatado. Mas, para conseguir tal feito, eles precisarão enfrentar o pirata chinês Sao Feng (Chow Yun-Fat). Ansiosamente aguardado, "Piratas 3" parece não repetir o mesmo sucesso dos filmes anteriores. Ao menos, Johnny Depp continua mantendo sua sempre excepcional atuação.
Atualmente, Johnny Depp termina de rodar, em Londres, o seu próximo filme: o musical da Broadway "Sweeney Todd". E adivinhe que é o diretor da película? Acertou. Tim Burton comanda o longa, o qual traz Depp no papel do barbeiro Benjamin Barker, que, após ser injustamente expulso de Londres e ver sua esposa e sua filha caírem em desgraça, retorna adotando o pseudônimo de Sweeney Todd, a fim de se vingar. Ao lado da quituteira Mrs. Lovett (Helena Bonham Carter), Todd bola um plano macabro: assassinar seus clientes na cadeira do barbeiro, ao passo que ela usa os restos mortais para assar tortas que viram a sensação de Londres. Veja o que Johnny falou sobre o projeto: "Bem, faço qualquer coisa que meu amigo Tim Burton me peça. Também se trata de um brilhante trabalho do compositor Stephen Sondheim. Por fim, é um enorme desafio, pois cantar num musical é uma arena pela qual nunca transitei antes. Um homem de 43 anos entrando em estúdio para gravar pela primeira vez é muito estranho, e não recomendo".
Mostrando que pode interpretar com extrema facilidade qualquer tipo de figura, desde adolescentes rebeldes e mocinhos, até ciganos, escritores e piratas, Johnny Depp é um verdadeiro camaleão de Hollywood. Com um carisma intrínseco a sua personalidade, que só colabora com o vínculo fortíssimo que seus personagens criam com o espectador, Johnny consegue realçar ainda mais sua presença em cena, expressando, em cada fotograma, a colossal competência na arte de atuar de um grande ator.
"Talvez a melhor maneira de descrever meu trabalho é compará-lo com um grande ensopado feito com as sobras de comida do dia anterior."
Johnny Depp.