Lupas (822)

Sangue, suor e lágrimas são a síntese desse épico indiano megalomaníaco, vibrante, emocionante, maniqueísta, colorido, mágico, honesto, cultural e com um senso de diversão de dar inveja à Hollywood. Que elenco maravilhoso, números musicais contagiantes, cadência narrativa e direção enérgica, onde nota-se a paixão de todos os envolvidos. Filmaço.

Guillermo del Toro apresenta sua visão única para o clássico literário de Carlo Collodi, sendo bastante fiel ao seu tom mais sombrio, maduro e melancólico, além de apresentar um contexto político inédito sobre o fascismo de Mussolini do período em que a trama se passa. Tecnicamente primoroso, eleva o padrão de qualidade das animações em stop motion à um novo patamar, contando ainda com uma belíssima trilha sonora de Alexandre Desplat. A melhor animação do ano.

Junto com Speak No Evil, o filme de horror social mais angustiante e perturbador do ano. Mostra como monstros são ocultados por máscaras sociais em "pessoas de bem", com "brincadeiras" e "comentários sem maldade", que podem resultar em verdadeiras tragédias. O experimento de "direção em tempo real" só torna tudo ainda mais desconfortável, indigesto e assustador.

Ainda que seja menos original que o filme anterior, "Desencantada" justifica sua existência ao apresentar uma interessante desconstrução de seu universo e personagens, com uma Amy Adams em estado de graça e divertindo-se com as novas facetas de sua personagem. As canções são mais presentes também (sendo cativantes e espirituosas na maior parte do tempo) e sua trama dialoga bem com questões contemporâneas, sem parecer muito panfletário ou moralista.

Filmaço, talvez o retrato mais cruel, degradante e realista de um ambiente de guerra desde Vá e Veja (1985). Mostra como esse tipo de conflito transforma jovens inocentes, sonhadores e idealistas em seres desumanos e traumatizados, talvez para o resto da vida.

O trabalho mais minimalista, introspectivo, belo e melancólico do Gaspar Noé, acostumado à filmes gráficos, polêmicos e subversivos. Dario Argento e Françoise Lebrun em grandes atuações, num retrato que confunde-se entre ficção e realidade. Vortex é como um espelho distorcido que vai ficando cada vez mais nítido com a passagem do tempo, ao qual estamos todos condenados.

O filme mais perturbador e atmosférico do ano.

Belo, sensível e tocante, "Eduardo e Mônica" encanta e emociona com uma estória simples e envolvente (baseada na música de Renato Russo), amparada por ótimas atuações de Gabriel Leone e Alice Braga (apaixonantes). Daqueles filmes que nos fazem acreditar que a vida ainda vale a pena.

Um thriller de sobrevivência envolvente e político, que critica o fascismo contemporâneo crescente da população "dita de bem", contando ainda com um grau de tensão razoável e uma atuação convincente de Chay Suede. O cinema nacional precisa de mais filmes despretenciosos e diferenciados como esse.

Presta uma homenagem à clássicos do slasher como "Sexta-Feira 13" e "Acampamento Sinistro" ao mesmo tempo que fala com o público atual, apresentando uma representividade exemplar, algo cada vez mais presente em produções do gênero. Vale destacar também a presença de Kevin Bacon e de um elenco de jovens atores que não comprometem o filme, assim como de Anna Chlumsky (de Meu Primeiro Amor) que andava meio sumida. Como terror, é morno e genérico demais, mas consegue entreter.

A repercussão negativa da crítica especializada deve-se muito mais aos bastidores caóticos do que ao filme em si. Da "mise in scene" impecável (que ressalta o visual artificial daquele lugar idílico), a presença de Florence Pugh (sempre ótima) no elenco, até o tema social relevante, "Não Se Preocupe, Querida" é facilmente um dos filmes mais curiosos e divertidos do ano.

Barbarian é tão atmosférico, assustador e divertido, como raramente se vê em produções do gênero. São três estórias que se mesclam para lidar com temas contemporâneos como: relações afetivas, decadência urbana (e moral) e mudanças nas relações de gênero, que resultam numa das experiências mais insanas, bizarras e aterrorizantes do ano. Quanto menos você souber sobre o filme, melhor será sua experiência, acredite.