Lupas (823)

Singelo, lindo (visualmente e narrativamente) e inspirador, nos mostra porque a animação é um dos estilos cinematográficos mais mágicos e poderosos da sétima arte. De fato, a gentileza pode mudar o mundo.

Parker Finn quebra a maldição das sequências ruins de filmes de terror sobrenatural (O Exorcista 2, O Grito 2, O Chamado 2, etc) e entrega uma obra que amplia o escopo do original, sem perder a sua essência, com momentos inspirados e de pura tensão. Naomi Scott ajuda bastante, numa atuação repleta de nuances, visceral e intensa (que com a mudança de cenário para os bastidores da fama das estrelas do pop, proporciona situações no mínimo intrigantes para sua protagonista).

A fábula social de Francis Ford Coppola pode não se aprofundar em seu discurso político, porém se sai melhor quando se foca na defesa da criação artística (autoral e apaixonada), entregando um épico ambicioso, visualmente impecável, intrigante e complexo, contando ainda com um grande elenco. Apesar de excêntrico e demasiadamente pessoal, é um dos filmes mais originais dos últimos anos, mostrando que o cineasta ainda tem muito a oferecer, contrariando o que diziam os mais céticos.

Visualmente gracioso, com personagens carismáticos, uma bela mensagem sobre união contra todas as adversidades e um senso de humor malicioso que somente a Dreamworks sabe fazer, "Robô Selvagem" é o melhor trabalho do estúdio desde Como Treinar o Seu Dragão (2010). Belo, divertido, inteligente e tocante, conta ainda uma trilha sonora belíssima. "Você pode ser mais do que foi programado para ser".

Mais fiel às HQs (a participação de Mike Mignola no roteiro contribuiu bastante nesse sentido), bem dirigido (considerando o baixo investimento) e com uma boa atuação de Jack Kesy como Hellboy. Deixando o aspecto blockbuster das adaptações anteriores de lado, essa nova versão está muito mais próxima de uma produção independente de terror sobrenatural, com a ação reduzida à poucas locações. Uma pena que provavelmente não será tão assistido quanto merecia.

Todd Philips merece crédito pela ousadia na desconstrução da obra anterior, seja na narrativa ou estilo, numa pegada ainda mais lúgubre e melancólica. Uma pena que sua inexperiência com musicais tenha comprometido o resultado, com números avulsos e que não se integram organicamente à narrativa, dando uma impressão de estagnação aos eventos retratados. Ao menos continua tecnicamente soberbo e com atuações acima da média (Phoenix e Gaga). Mas tinha potencial para ser bem mais do que isso.

Essa prequência aproveita-se das "pontas soltas" do original para existir, porém a ausência de Roman Polanski é sentida, ficando longe da sua construção minimalista, atmosférica e aterrorizante. O bom elenco (sobretudo Julia Garner) ajuda a atenuar o aspecto genérico e caça níquel que produções como esta costumam ter, mesmo rendendo-se à clichês, jump scaries e correria na reta final. Não é ruim, porém é esquecível, diferente do remake de Suspiria lançado em 2018 (do qual dialoga, por sinal).

Um retrato sensível e honesto sobre uma família disfuncional, que não aceita o modo de vida da "família tradicional" imposto pela sociedade, mesmo que no processo muitas cicatrizes (físicas e emocionais) acometam seus integrantes. Somos todos imperfeitos e talvez o segredo seja saber disso e fazer o seu melhor, sem perder sua identidade no caminho. Naomi Watts e Brie Larson estão ótimas, mas é de Woody Harrelson o verdadeiro espetáculo, num dos melhores desempenhos da sua carreira.

Lanthimos retorna às suas raízes para explorar a natureza humana em toda a sua complexidade, lidando com temas socialmente sensíveis, como misantropia, abuso e dependência emocional, contando com o apuro técnico esperado e um elenco afiado e em perfeita sintonia. Como toda antologia, os segmentos oscilam em qualidade, mas aqui ao menos são sempre curiosos, subversivos e relevantes ao conjunto apresentado.

Ti West emula Hitchcock, De Palma e Argento para entregar o capítulo mais ambicioso da franquia, com uma recriação de época impecável de uma Hollywood oitentista assombrosa e moralmente decadente, num momento de grande tensão social e paranoia midiática. Mia Goth está brilhante como sempre, mas vale destacar também as boas atuações de Kevin Bacon e Elizabeth Debicki. Maxxxine pode soar menos coeso que os dois anteriores, mas oferece uma experiência bastante satisfatória aos fãs do gênero.

Lee Isaac Chung sabe filmar, conferindo aos tornados um fascínio quase mítico, além de construir personagens humanos críveis e com uma relação mais natural. Mesmo sendo menos memorável que o original, é uma sequência competente, divertida, bem produzida e cientificamente mais precisa. A trilha sonora harmônica e os efeitos visuais fotorrealistas merecem destaque também.

Uma pena constatar que a pouca sutileza que restara ao filme original foi para o espaço aqui, numa sequência que está mais preocupada em doutrinar do que em contar uma boa estória. Excessivamente panfletário, burocrático, conservador, confuso e moralista (pelo menos reconhece isso), "Nosso Lar 2" só não é um desperdício criativo completo pelo bom elenco (sobretudo Fábio Lago e Rafael Sieg, que conferem alguma profundidade aos seus personagens) e a trilha sonora decente.