Lupas (67)

É um filme que causa estranheza. Ao final, ainda é difícil saber exatamente como a história de um moldurista alemão se cruza com a de um gãngster (?) americano. Mas a peculiaridade da narrativa se traduz num grande filme, pulsante e cheio de detalhes.

Começa a se perder no terço final e o desfecho é bem confuso, mas é muito relevante como retrato imediato do que aconteceu neste mês, tão singular na história de um país que é igualmente distinto.

...B.B., o ápice desta humanidade. Na ânsia de criar planos e cenas memoráveis, há deslizes. Em seus melhores momentos, é deliciosamente kitsch, mas também cheio de sentimentos reprimidos e aflições do passado. É assim o épico tarantinesco.

Reverenciando um zilhão de influências da sua vida cinéfila, Tarantino constrói seu filme mais pessoal. A vingança de Beatrix Kiddo talvez seja o melhor exemplo de humanidade em qualquer um de seus filmes, e o encontro com...

Mais sóbrio, Tarantino orquestra com muita habilidade e coesão sua homenagem ao blaxploitation, e mesmo menos apegado à estética extravagante de seus filmes, consegue criar uma obra apaixonada que transmite todo o amor do diretor pelo cinema.

O cume da primeira fase tarantinesca é também o ponto mais alto de sua carreira. Quando as marcas experimentadas em Cães de Aluguel foram alçadas em ousadia e precisão, ao construir o que é, talvez, o filme americano mais influente da década de 1990.

O maior êxito do filme é, mesmo sem tomar partido de maneira clara (numa eventual discussão sobre descriminalização do aborto), humanizar as duas protagonistas, de modo que nos envolvamos com elas e compreendamos seus dramas, sem maniqueísmos.

As transições entre o passado e presente nem sempre são tão naturais, e por vezes tudo o que o filme precisa é que a história se desenvolva logo, mas em Cães, Tarantino já mostra segurança e ousadia, numa estreia que caracteriza o elementar do seu cinema.

Ofuscado à época por conta de sua ousadia. Aqui, são focadas as urgências e dramas do antagonista, e ao incitar curiosidade, Powell faz com que encaremos o espelho. "Scoptophilia. The morbid urge to gaze." Não seria isto, em grande parte, o Cinema?

O cowboy no tempo dos arranha-céus. Que filmão, bicho.

A piada vai perdendo a graça à medida que o filme parece mais atuado, mas é em Spinal Tap que eu penso quando a palavra "mockumentary" vem à cabeça, portanto, é um marco, além de possuir algumas gags absolutamente hilárias.

Haneke explora uma mente perturbada como poucos. Só falta um pouco de clareza e contundência às observações que o filme faz sobre as "disfunções" do mundo moderno.